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Revista Brasileira de Brazilian Journal of Functional Nutrition NUTRIÇÃO FUNCIONAL ano 18. edição 74 www.vponline.com.br ISSN 2176-4522 Aplicação da nutrigenômica na determinação do melhor tipo de dieta Uma revisão sobre os efeitos benéficos de fitoquímicos presentes em flores comestíveis Panorama do desperdício de alimentos no Brasil RECEITA Sopa imunoestimulante de cará-moela, gengibre e alho-poró 2 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Editorial A individualidade bioquímica é um pilar fundamental da nutrição funcional, que direciona condutas personalizadas para cada indivíduo. Esta edição traz uma revisão que tem como tema central a aplicação da nutrigenômica na determinação do melhor tipo de dieta, mostrando o impacto das variações genéticas nas nossas necessidades nutricionais individuais. Contribuindo para a atualização e prática clínica dos nutricionistas em relação às doenças crônicas não transmissíveis, duas revisões elucidam o papel da nutrição tanto na perda e manutenção do peso corporal, evitando o efeito sanfona ao considerar as variações endócrinas nas fases de perda de peso, quanto na tireoidite de Hashimoto, trazendo a importância do selênio na modulação desse desequilíbrio tireoidiano. Na área de fitoterapia funcional, esta edição conta com um artigo esclarecedor acerca dos efeitos da canela no diabetes mellitus, mostrando resultados promissores dessa especiaria como agente terapêutico coadjuvante principalmente para o diabetes mellitus tipo 2, em pacientes descompensados. As flores comestíveis são muito apreciadas na gastronomia por sua beleza, cores vivas e sabores marcantes. Os benefícios dessas flores vão além das características sensoriais, podendo ser promissores à saúde humana, e nesta edição você vai conhecer mais sobre algumas dessas flores comestíveis encontradas em nosso país. Com a chegada do inverno, torna-se essencial o suporte nutricional ao sistema imunológico. Na sessão de gastronomia, trazemos uma receita com propriedades nutricionais voltadas ao fortalecimento do sistema imune e que ainda valoriza a nossa biodiversidade: sopa imunoestimulante de cará-moela, gengibre e alho-poró. Recentemente foi lançada no Brasil a campanha Stop Food Waste Day, que teve como embaixadora a Dra. Valéria Paschoal. Na matéria jornalística desta edição, conheça mais sobre essa importante campanha e outras iniciativas contra o desperdício de alimentos, que é uma temática preocupante no Brasil e no mundo. Boa leitura! Dra. Valéria Paschoal Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional Dra. Lenita Salgado Presidente do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional 3 w w w .v po nl in e. co m .b r Expediente Conselho Editorial Ana Cláudia Poletto Nutricionista pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (2002) e mestre em Ciências, com ênfase em Fisiologia Humana pela Universidade de São Paulo (2006). Pesquisadora (doutoranda, desde 2007) do programa de Fisiologia Humana da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Fisiologia Endócrina, atuando nos temas: mecanismos transcricionais envolvidos na regulação da expressão do gene SLC2A4, sensibilidade à insulina, metabolismo lipídico, obesidade e diabetes mellitus. Ana Vládia Bandeira Moreira Nutricionista graduada pela Universidade Estadual do Ceará (1996), mestre em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (1999) e doutora em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (2003). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de Viçosa (MG). Coordenadora do Laboratório de Análise de alimentos e coordenadora do Projeto de extensão pró-celíaco. Ministra as disciplinas de Técnica Dietética na Graduação e Dietética Aplicada no Mestrado e Doutorado e Gastronomia Funcional na especialização na UFV. Andréia Naves Nutricionista e Educadora Física. Diplomada pelo The Institute for Functional Medicine (USA) em 2007. Editora Científica da Revista Brasileira de Nutrição Funcional. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Docente convidada dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Autora dos Livros “Nutrição Clínica Funcional: dos Princípios à Prática Clínica”, “Nutrição Clínica Funcional: Obesidade”, “Nutrição Clínica Funcional: Modulação Hormonal” e “Tratado de Nutrição Esportiva Funcional”. Colaboradora do livro “Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos Compostos Bioativos”. Membro do The Institute for Functional Medicine – USA. Coordenadora científica dos cursos de pós-graduação em Nutrição Esportiva Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Revista Brasileira de Nutrição Funcional - 2018 - edição 74 Indexação: Sumários (www.sumarios.org) e ESALQ (http://dibd.esalq.usp.br) Diretoras Responsáveis Valéria Paschoal e Andréia Naves Coordenação Científica Ana Beatriz Baptistella consultoriacientifica@vponline.com.br Neiva dos Santos Souza neiva.souza@vponline.com.br Jornalista Responsável José Maria M. Filho MTB – 19.852 - josemaria@vponline.com.br Revisão Ortográfica Lemuel Cintra lcintra@gmail.com Capa, Ilustrações e Editoração Bárbara Feracin Meira Ctp e Impressão A.R. Fernandez Pré-Impressão e Gráfica www.arfernandez.com.br comercial@arfernandez.com.br Redação, Publicidade e Administração VP Centro de Nutrição Funcional Associação Atendimento ao Associado Paula Gimenez - contato@vponline.com.br Fone/ Fax: (11)3582-5600 As condutas nutricionais preconizadas na Revista Brasileira de Nutrição Funcional devem ser supervisionadas exclusivamente por nutricionistas ou médicos especializados. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos anúncios, matérias e artigos assinados. A reprodução total ou parcial desta publicação só será permitida mediante autorização prévia. VP Centro de Nutrição Funcional Fone/ Fax: (11)3582-5600 contato@vponline.com.br www.vponline.com.br Revi sta B rasil eira de Braz ilian Jou rnal of F unct iona l Nu tritio nNUT RIÇ ÃO FUN CION AL ano 17. e dição 71 www .vpo nline .com .brISSN 217 6-45 22 Inte rpre tand o a dosa gem da v itam ina B 12 Nitr ato: sup leme ntaç ão, font es d ietét icas e efe itos na p erfo rma nce Série Agr oeco logia : Par te II A im port ânci a da s abe lhas para a ag roec olog ia REC EITA Tort inha de L egum es co m Taio ba Coordenação e Autores Re vis ta Br asi lei ra de Br azi lia n J ou rna l o f F un cti on al Nu tri tio n NU TR IÇ ÃO FU NC IO NA L an o 1 8. e diç ão 73 ww w. vp on lin e.c om .br ISS N 2 17 6-4 52 2 Pr ev en çã o e tr ata me nto da est ea tos e h ep áti ca pe los al im en tos Efe ito s d o e xe rcí cio na s r esp os tas mo lec ula res e h orm on ais qu e in du zem a l ipó lise Sé rie Ag roe co log ia - Pa rte IV Ág ua : R ec ur so fin ito vi tal à so br ev ivê nc ia da s p op ula çõ es e do pl an eta RE CE ITA Bo lin ho as sad o d e grã o-d e-b ico e es pe cia ria s cap a.in dd 1 02/ 07/ 201 8 12: 33: 34 4 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Coordenação e Autores Anna Cecília Queiroz de Medeiros Nutricionista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Experiência na área de Nutrição, com ênfase em Nutrição e metabolismo de nutrientes nos diversos estados fisiológicos. Fátima Aparecida Arantes Sardinha Nutricionista. Doutora em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas/USP. Mestre em Ciências Aplicadas à Pediatria pela UNIFESP/EPM. Especialista em Nutrição e Saúde Pública pela UNIFESP/ EPM. Docente convidadado curso de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Fernanda Serpa Diretora e Docente da Empresa Nutconsult. Nutricionista pela Universidade do Estado do RJ/UERJ. Título de residência em Clínica Médica no Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Docente convidada dos cursos de pós-graduação e extensão da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Mestre em Clínica Médica - IPPMG/UFRJ. Nutricionista Militar do Corpo de Bombeiros do RJ. Nutricionista Municipal do Hospital Souza Aguiar. Gilberti Hübscher Nutricionista. Mestre e Doutora em Fisiologia Cardiovascular pela UFRGS. Especialista em Gestão e Saúde pela PUC-RS, Gestão em UAN pela UNISINOS e em Saúde da Família pela ULBRA (RS). Docente convidada dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul e dos cursos de graduação em Nutrição e pós-graduação em Saúde e Trabalho da Feevale (RS). Membro do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF). Márcia Cristina Paiva Nutricionista, graduada na Universidade de Passo Fundo - RS. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e pós-graduanda em Fitoterapia Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Educadora em diabetes certificada pela empresa Medtronic Brasil de equipamentos médicos (Bombas de infusão de insulina). Atua em atendimento clínico em clínica de gastroenterologia em São José dos Campos - SP. Rosangela Passos de Jesus Professora Adjunta da Escola de Nutrição da UFBA (ENUFBA). Doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da USP. Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Nutrição Clínica Funcional, coordenadora do Ambulatório de Nutrição e Hepatologia do Hospital Universitário Prof Edgard Santos. Sandra Matsudo Médica Especializada em Medicina Esportiva pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Doutorado e pós- doutorado em Ciências pela Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Diretora Geral do Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul - CELAFISCS. Coordenadora geral do Projeto Longitudinal de Envelhecimento e Aptidão Física de São Caetano do Sul. Coordenadora pela IUHPE dos Cursos de Atividade Física e Saúde Pública - Agita Mundo. Professora Titular do Curso de Educação Física do Centro Universitário FMU. Editora Executiva da Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Autora dos Livros: “Avaliação do Idoso - Física e Funcional”, “Envelhecimento e Atividade Física” e “Obesidade e Atividade Física”. Valéria Paschoal Nutricionista. Mestre na área de Nutrição e Pediatria pela UNIFESP – EPM. Editora Científica da Revista Brasileira de Nutrição Funcional. Coordenadora científica e docente convidada dos cursos de Nutrição Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Diretora da VP Centro de Nutrição Funcional. Autora dos Livros “Nutrição Clínica Funcional: dos Princípios à Prática Clínica”, “Suplementação Funcional Magistral: dos Nutrientes aos Compostos Bioativos”, “Nutrição Clínica Funcional: câncer” "Tratado de Nutrição Esportiva Funcional" e "Nutrição & Sustentabilidade: alimentando um mundo saudável". Coordenadora da Comissão Científica do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF). Membro do The Institute for Functional Medicine – USA. Nutricionista do CSA Brasil (Community Supported Agriculture - Agricultura Sustentada pela Comunidade). Membro do conselho consultivo da CNTU (Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados). 5 w w w .v po nl in e. co m .b r Coordenação e Autores Lista de Autores Adriano Cavalcanti Nóbrega Nutricionista, especialista em Nutrição Clínica Funcional, especializando em Fitoterapia Funcional, Educador em Diabetes, membro da Sociedade Brasileira de Diabetes, professor dos cursos de pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional e Nutrição Esportiva Funcional da UNICSUL em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional, atende em consultório particular em Aracaju-SE. Ana Paula Souza Pereira de Siqueira Nutricionista graduada pela Universidade Federal de Juiz de Fora e pós-graduanda em Nutrição Clínica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Andrea Plothow Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário Católica de Joinville – SC. Mestrado em Imunogenética, Universidade Federal do Paraná – Curitiba – PR. Graduação em Biologia, UNIVILLE – Joinville - SC. Andreza Braulos de Mello Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário Católica de Joinville – SC. Estagiária em nutrição na Unidade Básica de Saúde Ulysses Guimarães. Camila Buttendorff Graduanda em Nutrição pelo Centro Universitário Católica de Joinville – SC. Camila Komatsu Nutricionista graduada pela UNESP-Botucatu. Mestre em Ciências Nutricionais pela UNESP- Araraquara. Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e Fitoterapia Funcional pela UNICSUL em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Pós-graduanda em Terapia Vibracional Quântica pela Uninter. Cíntia Milene Comelli Bussi Nutricionista Graduada pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Pós-graduada em Gastronomia – ênfase em gastronomia saudável – UNIVALI. Pós-graduada em Obesidade e Emagrecimento pela Universidade Estácio de Sá. Pós- graduada em Fitoterapia pela Faculdade do Meio Ambiente e de Tecnologia e Negócios, FAMATEC. Pós-graduanda em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul em parceria com a VP Centro de Nutrição Funcional. Atua em atendimento clínico nutricional em consultório e domiciliar. Realiza cursos e consultorias na área de gastronomia funcional. Daniela de Araújo Medeiros Dias Nutricionista. Mestre em Nutrição e Saúde pela Universidade Federal de Goiás. Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário UniCEUB. Fernanda Fontes Cohen Nutricionista formada pelo Centro Universitário UniCEUB. Pós-graduanda em Nutrição Clínica Funcional pela VP Centro de Nutrição Funcional em parceria com a Universidade Cruzeiro do Sul. Gabriela Fagundes Nutricionista formada pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). Mestre e Doutora em Ciências da Saúde/ Grupo de Pesquisa em Genética Toxicológica (UNESC). Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e Fitoterapia Funcional (UNICSUL/VP). Pós-graduanda em Nutrição Esportiva Funcional (UNICSUL/VP). Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Católica de Santa Catarina. Docente do curso de Medicina na Faculdade Estácio de Sá de Jaraguá do Sul. Docente dos cursos de Pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional e Fitoterapia Funcional da VP Consultoria Nutricional/ UNICSUL. Nathércia Percegoni Nutricionista pela UFV. Mestre em Bioquímica - UFV. Doutora em Ciências - Fisiologia Endócrina - IBCCF/UFRJ. Pós- doutora em Nutrição - INJC/UFRJ. Professora Adjunta III do Departamento de Nutrição - ICB/UFJF. Palestrante. Wagner Alessandro dos Reis Nutricionista formado pelo Centro Universitário Newton Paiva/BH. Especialista em Formação Pedagógica para Profissionais de Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-graduado em Nutrição Esportiva Funcional e Fitoterapia Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul. Pós-graduando em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul. Docente convidado do curso de pós-graduação da Universidade Cruzeiro do Sul. Docente da Escola Técnica Profissional de Nível Médio do SITIPAN – MG. Nutricionista e diretor do Espaço Wagner dos Reis. Personal Nutrition Funcional. Realiza palestras em empresas, escolas e academias. 6 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Índice7 25 41 52 18 33 48 Uma revisão sobre os efeitos benéficos de fitoquímicos presentes em flores comestíveis Uso da canela na prevenção e tratamento do diabetes mellitus Panorama do desperdício de alimentos no Brasil A importância do selênio nos níveis dos anticorpos antiperoxidase na tireoidite de Hashimoto Receita: Sopa imunoestimulante de cará-moela, gengibre e alho-poró Aplicação da nutrigenômica na determinação do melhor tipo de dieta Balanço hormonal e efeito sanfona pós-emagrecimento 7 w w w .v po nl in e. co m .b r Cíntia Milene Comelli Bussi Uma revisão sobre os efeitos benéficos de fitoquímicos presentes em f ores comestíveis A review about the beneficial effects of phytochemicals on edible f owers Resumo As flores são consumidas há centenas de anos para fins culinários e medicinais. Achados na literatura relatam uma composição nutricional interessante e a presença de compostos bioativos benéficos à saúde humana. Assim, este artigo objetivou apresentar uma revisão sobre a presença desses compostos em flores comestíveis. Devido à existência de uma vasta gama de flores comestíveis, para esta revisão optou-se por dar ênfase ao estudo de flores cultivadas e utilizadas no Brasil e que fazem parte da lista de flores permitidas para consumo na alimentação por órgão certificador, definindo a relação de flores a serem estudadas. A revisão da literatura foi realizada a partir de artigos pesquisados nas bases de dados BIREME, MEDLINE, LILACS, SciELO, publicados a partir de 1995. Verificou-se que as flores mais investigadas em estudos são capuchinha, calêndula e amor-perfeito. Embora quase todas as flores já tenham sido avaliadas em estudos, há necessidade de pesquisas que avaliem os benefícios das flores em sua forma fresca. A elaboração desta revisão permitiu verificar o grande potencial que as flores comestíveis possuem para serem mais utilizadas como alimentos. Apresentam um considerável conteúdo de compostos bioativos com diversos efeitos benéficos à saúde humana, que incluem atividades antioxidante, anti-inflamatória, hipolipemiante, diurética, hipoglicemiante, vasodilatadora. Palavras-chave: Flores comestíveis, compostos bioativos, nutrientes, antioxidantes, benefícios. Abstract Flowers have been consumed for hundreds of years for culinary and medicinal purposes. Findings in the literature report an interesting nutritional composition and the presence of bioactive compounds beneficial to human health. Thus, this article aims to present a review of the presence of bioactive compounds in edible flowers. Because there is a wide range of edible flowers, for this review we chose to emphasize the study of those cultivated and used in Brazil, which are part of the list of flowers allowed for use in food by the certifi- cation entity, defining the list of flowers to be studied. The literature review was conducted from articles found in databases BIREME, MEDLINE, LILACS, SciELO, published since 1995. It was found that the flowersmostinvestigated in studies are nasturtium, calendula and pansy. Although almost all flowers have already been evaluated in studies, there is need for studies assessing the benefits of flowers in their fresh form. The preparation of this review has shown the great potential that the edible flowers have to be more used as food. They offer a considerable content of bioactive compounds with several beneficial effects on human health, including antioxidant, an- ti-inflammatory, lipid-lowering, diuretic, hypoglycemic, and vasodilator activities. Keywords: Edible flowers, bioactive compounds, nutrients, antioxidants, benefits. l l 8 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Cíntia Milene Comelli Bussi A Introdução A flor é um ramo de crescimento determinado, localizado na porção terminal de um caule. Compreende um órgão altamente especializado das plantas angiospermas, com função reprodutiva visando à preservação da espécie. No grupo das angiospermas estão inseridas as espécies vegetais que possuem flores verdadeiras, mais evoluídas, e com maior potencial no que diz respeito à presença de compostos bioativos¹. As flores são consumidas há centenas de anos, e algumas características fazem com que elas possam ser interessantes ao paladar e encontrar seu espaço na culinária e alimentação humana: a textura, a presença do néctar – que é uma secreção adocicada e agradável ao paladar – e de óleos essenciais, que proporcionam um aroma diferenciado2,3. Na Antiguidade, as flores já eram utilizadas na culinária de povos como romanos, gregos, chineses e indianos, com finalidade alimentar e/ ou terapêutica4. O ato de comer flores era comum na Europa Medieval, quando muitas vezes o alimento tinha um papel medicinal e, também, um objetivo nutricional. Em registros antigos já foram encontradas receitas que utilizavam inclusive flores consideradas hoje perigosas5. Estima-se que a primeira menção do uso de flores na culinária data de 140 a.C. Os romanos cultivavam rosas, violetas e borragem para uso na cozinha. A lavanda era utilizada em molhos. Já na Idade Média, as flores eram utilizadas com a finalidade de embelezar os pratos; as flores da planta Althaea officinalis, da família Malvaceae, eram utilizadas como ingredientes de salada e apresentavam função de normalização do intestino. Na Inglaterra foram as rainhas que começaram a servir aos comensais pétalas de rosas cristalizadas. As flores também estão presentes desde longa data na alimentação de americanos nativos, como, por exemplo, a tribo Zuni, que é citada por sua afeição as flores de abóbora3,6. Ao analisar um panorama da história acerca do uso de flores comestíveis, percebe-se que foram amplamente utilizadas na Antiguidade, depois caíram em desuso por um longo período. Há alguns anos o uso de flores vem renascendo, em primeiro momento, com finalidade decorativa na alta cozinha. Esse interesse renovado do seu uso fomentou também o interesse de pesquisadores acerca do valor nutritivo e potencial fitoquímico de flores7. Embora exista uma vasta gama de flores com importante valor nutricional e elevado teor de compostos bioativos, seu consumo é pouco relevante na cultura alimentar brasileira. Há algum tempo as flores vem sendo usadas em restaurantes de alta gastronomia, e há um movimento de estimular seu uso em grande parte pela divulgação e incentivo no consumo das plantas alimentícias não convencionais (PANC), grupo no qual as flores comestíveis estão inseridas. Em adição à função nutracêutica, a introdução de flores comestíveis na alimentação diária pode influenciar positivamente o aspecto sensorial, por incrementar cores e texturas diferentes a preparações8. Pelo exposto, o presente trabalho objetiva apresentar uma revisão sobre compostos bioativos presentes em flores comestíveis e seus benefícios propostos à saúde. Metodologia Após levantamento prévio de dados da literatura, constatou-se a existência de uma vasta gama de flores comestíveis. Assim, optou-se, para este trabalho, por uma ênfase em flores cultivadas e utilizadas no Brasil. Para esta escolha, foi realizado contato com produtor de flores comestíveis de Santa Catarina para listar quais espécies de flores comestíveis contemplam sua lista de cultivo. A partir deste levantamento, foi definida a lista de flores a serem estudadas. A revisão da literatura foi realizada a partir de artigos pesquisados nas bases de dados do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informações em Ciências da Saúde (BIREME), MEDLINE, LILACS e biblioteca virtual SCIELO, publicados a partir de 1995. Para fundamentação deste trabalho, a pesquisa foi ampliada também para livros e documentos com lançamento a partir de 1995 sobre o tema flores comestíveis. A busca de artigos foi baseada nos descritores “flores comestíveis”, “compostos bioativos”, “antioxidantes”. Os descritores em inglês foram “edible flowers”, “bioactive compounds”,“antioxidants”. Resultados e Discussão Baseado no levantamento bibliográfico e com produtor catarinense de flores comestíveis 9 w w w .v po nl in e. co m .b r Uma revisão sobre os efeitos benéficos de fitoquímicos presentes em f ores comestíveisl orgânicas, certificado pela EcoCert (organismo de certificação credenciado pelo Ministério da Agricultura), foram listadas as flores que o produtor em questão cultiva, as quais estão na lista da EcoCert de flores permitidas para cultivo para consumo humano, com seu nome comum, científico e outros nomes populares pelos quais também são conhecidas (Tabela 1). Tabela 1. Lista de flores comestíveis cultivadas por produtor de Santa Catarina, permitidas pela EcoCert. Nome comum Nome científico Outros nomes populares Cebolinha Begônia Borago Capuchinha Amor-perfeito Calêndula Centáurea azul Impatiens Cravina Rosa Pelargônio Boca-de-leão Caliopsis Hesperis Crisântemo Rúcula Tulipa Allium schoenoprasum Begonia spp. Borago officinalis Tropaeolum majus Viola tricolor Calendula officinalis Centaurea cyanus Impatiens spp. Dianthus caryophyllus Rosa chinensis Pelargonium capitatum Antirrhinum L. Caliopsis elegans Hesperis matronalis Chrysanthemum spp. Diplotaxis tenuifolia Tulipa spp. Begônia tuberosa Borragem Agrião indiano, chaguinha Violeta Margarida dourada, escocesa Maria-sem-vergonha, beijo-de-frade, bálsamo-de-jardim, não-me- toque, beijinho, beijo-pintado e beijo-turco Cravo, craveiro Mini-rosa Gerânio Rúcula-doce, flor do crepúsculo Capuchinha (Tropaeolum majus) De sabor pungente e coloração que pode variar do amarelo ao vermelho, a capuchinha é umas das flores mais conhecidas e consumidas9. É originaria da América do Sul, particularmente Bolívia e Peru. Na medicina popular, a capuchinha é utilizada para desordens do rim e da bexiga, constipação, gripe, tosse, dores de garganta, cansaço crônico, desordens do sangue10,11. Silva et al.12 realizaram avaliação de diversas plantas não convencionais brasileiras e encontraram na capuchinha teores consideráveis de vitamina C e compostos fenólicos totais. No que diz respeito a compostos bioativos, já foi relatado por estudos que a capuchinha possui elevados teores de luteína, a qual está associada à saúde visual, e alguns trabalhos relatam especialmente a redução do risco de catarata e prevenção da degeneração macular13,14. Outros estudos mostram um potencial anti-inflamatório pela inibição de lipoxigenase e ciclo-oxigenase, embasando o conhecimento tradicional de efeitos positivos em dor, desordens do trato respiratório e bexiga15. O estudo de Platz et al.16 mostrou que a capuchinha possui boas quantidades de glicotropaeolina, um tipo de glicosinolato que se torna biodisponível para realizar seus efeitos já bem conhecidos de quimioprevenção. No estudo de Garzón17, no qual foram avaliados compostos fenólicos específicos em pétalas de capuchinha, foram encontradas boas doses de flavonoides como miricetina, quercetina e kampferol e antocianinas, as quais foram identificadas em maiores teores nas pétalas de coloração vermelha. Amor-perfeito (Viola tricolor) A Viola tricolor, popularmente chamada de amor-perfeito, é conhecida de longa data na história da fitoterapia e está bem documentada na Farmacopeia da Europa. Devido às suas propriedades anti-inflamatórias, é descrita como um remédio tradicional contra as doenças da pele – para o tratamento de escaras, prurido, úlceras, 10 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Cíntia Milene Comelli Bussi eczema e psoríase, por exemplo – e também é utilizada no tratamento de inflamação dos pulmões e do peito, tais como bronquite ou asma, além de ser utilizada com função diurética18-20. Possui um importante teor de flavonoides e outros compostos fenólicos e é considerada um fonte promissora de antioxidantes naturais21. Dentre os flavonoides encontrados no amor-perfeito destaca-se a rutina, a qual tem ação antioxidante, hipolipidêmica e anti-inflamatória22-26. Em outro estudo, realizado por Vukics et al.24, também foram encontrados outros flavonoides como kampferol, quercetina e luteolina em análises de amor-perfeito. No estudo de Sadeghinia27, que avaliou os efeitos do extrato de V. tricolor em células cancerígenas de frangos, observou-se um relevante potencial de compostos do amor-perfeito com ação quimiopreventiva por meio de apoptose e atividade antiangiogênica. Já Toiu et al.28, em seu estudo, dosaram a presença de carotenoides, onde 8 tipos foram encontrados em boas doses nas partes aéreas de amor-perfeito. Foram encontradas, também, mucilagens e saponinas, às quais é atribuído o efeito auxiliar da diurese. A propriedade anti-inflamatória da Viola tricolor é atribuída à presença de salicilatos, nos quais encontram-se cerca de 0,3% de ácido salicílico e seus derivados, bem como a presença de rutina29. Calêndula (Calendula officinalis) A calêndula, também conhecida como escocesa ou margarida dourada, possui flores que variam da cor amarela até alaranjada-escura, e suas pétalas contêm alto teor de carotenoides e óleos essenciais10. A calêndula é conhecida como açafrão dos pobres, por ser utilizada com finalidade colorante em pratos, semelhante ao açafrão. Os principais componentes da calêndula citados na literatura são triterpenoides e flavonoides. Várias propriedades benéficas têm sido atribuídas devido à presença desses constituintes, incluindo atividades anti-inflamatória, imunoestimulante, bactericida, antiviral, antiprotozoária e antineoplásica. O estudo de Miguel et al.30, que fizeram uma caracterização química de calêndula, encontrou considerável teor de flavonoides. O conteúdo de luteína na calêndula, citado por alguns autores, também faz dessa flor um alimento interessante como promotor da saúde visual, uma vez que a luteína está relacionada a benefícios como prevenção da catarata e da degeneração macular31-33. Efeitos hipoglicemiantes, inibidores do esvaziamento gástrico e ação gastroprotetora têm sido atribuídos à presença de calendossaponinas, glicosídeos e sesquiterpenos. Foi sugerida, também, a presença de substâncias na calêndula que estimulam o sistema imunológico, além de oferecer considerável teor de vitamina C34. O uso de calêndula não é recomendado por pessoas com hipersensibilidade conhecida a plantas da família Asteraceae/Compositae, assim como também não há segurança no uso para gestantes e lactantes35. Centáurea azul (Centaurea cyanus) O uso de centáurea tanto na culinária como medicinal é bastante antigo, e, segundo Roberts10, seu uso culinário se perdeu ao longo dos tempos. Em relação ao conhecimento empírico, a centáurea era utilizada para diversos fins: relatos históricos descrevem que, no século XII, monges na Inglaterra e depois também na Irlanda e França preparavam um vinho a base de centáurea utilizado para diversos fins, como problemas estomacais, doenças do rim e bexiga, tosse, produção excessiva de muco e gripe. Outros registros ainda fazem menção a benefícios na inflamação reumática e que possui antibióticos naturais. As flores de Centaurea cyanus são usadas na fitoterapia europeia para o tratamento de inflamações oculares menores36. A centáurea é originária da Europa, cresce como erva daninha nos campos de cevada e centeio, mas pode se desenvolver de forma selvagem em qualquer clima temperado. Possui flores de coloração azul, roxa e rosa. Para consumo, são utilizadas apenas as pétalas, pois o cálice é extremamente amargo37. Segundo Shiono, Matsugaki e Takeda38, sua coloração é resultado da presença de antocianinas e flavonas e da interação destas com minerais como ferro, magnésio e cálcio. O pigmento azul da centáurea é denominado de protocianina. Os estudos acerca da C. cyanus até o momento têm foco sobre os seus pigmentos, como citado anteriormente. Não foram encontrados estudos com o consumode centáurea propriamente dito, mas possivelmente seus benefícios residem na presença de flavonoides, como as antocianinas, que já possuem ações bem conhecidas, como a antioxidante e a anti-inflamatória39. A presença dessas substâncias provavelmente está relacionada aos diversos efeitos medicinais citados 11 w w w .v po nl in e. co m .b r Uma revisão sobre os efeitos benéficos de fitoquímicos presentes em f ores comestíveisl empiricamente, para a centáurea ser utilizada em tantas indicações. Begônia (Begonia spp.) A begônia é possivelmente originária dos Andes. Um grande número de espécies engloba o termo begônia, porém a espécie comestível é a begônia tuberosa, cujo nome científico é Begonia X tuberhybrida Voss. Da begônia é recomendado o consumo apenas das pétalas, e, mesmo assim, sem uso de grande quantidade, uma vez que contém ácido oxálico. De sabor levemente cítrico, na culinária é utilizada para ornar diversos pratos. Também pode ser preparada geleia, o que ajudaria a diminuir as quantidades de ácido oxálico3,5. Na literatura não foram encontrados estudos específicos ou registros sobre compostos e benefícios das pétalas de begônia. Impatiens (Impatiens spp.) Impatiens é um termo que reúne diversas espécies divididas em 2 gêneros. As flores de impatiens comestíveis incluem as espécies: Impatiens balsamina, conhecida popularmente como beijo-de-frade, bálsamo-de-jardim, não- me-toque ou beijinho; Impatiens hawkery, conhecida como beijo-pintado; e Impatiens walleriana, conhecida como maria-sem-vergonha ou beijo-turco3. Na medicina popular, a Impatiens balsamina é usada para tratar lombalgia, neuralgia, queimaduras40. Alguns estudos que avaliaram I. balsamina encontraram efeitos como ação antidiabética, prevenção de fibrose hepática e ação apoptótica de células de tumor bucal41,42.O estudo de Lim, Kim e Seo43 relata a presença de kampferol e quercetina em I. balsamina, e seu uso concomitante ao bactericida clindamicina melhorou a resposta ao tratamento da acne. Acerca das demais espécies de impatiens citadas nesta revisão, não foram encontrados estudos relatando presença de compostos benéficos à saúde humana. Borago (Borago officinalis) Borago officinalis, conhecido como borago ou borragem, é nativo das regiões mediterrâneas. Na Antiguidade era uma erva muito reverenciada como planta medicinal e alimento. Como uso medicinal, era utilizada para amenizar ansiedade e medo, para tosse e resfriados, bronquite e para facilitar a eliminação de muco10,44. Flores de borago contêm cerca de 30% de mucilagem e possuem compostos fenólicos. A capacidade antioxidante do borago já foi verificada em alguns estudos, bem como sua atividade anti- inflamatória45-47. Estudo de Renna et al.48, avaliando a presença de minerais em plantas selvagens, detectou boas doses de manganês e ferro no borago. Seu consumo em grande quantidade também pode apresentar efeito diurético49. Cebolinha (Allium schoenoprasum) As flores de cebolinha apresentam-se com coloração roxa, possuem um leve aroma de cebola e estão dispostas como uma inflorescência globosa. Na Europa, uma mistura de gengibre fresco e flores de cebolinha em um pouco de mel é um dos compostos preferidos para tratar tosse de forma natural3,50. Segundo Kucekova e Micek51, a flor de cebolinha contém compostos fenólicos com considerável ação antioxidante, testada in vitro em células viáveis. No estudo de García52, os principais compostos encontrados nas flores de cebolinha são os ácidos cafeico, ferúlico e sinápico. No mesmo estudo, verificaram que o extrato metanólico das flores de cebolinha apresenta uma importante atividade antiproliferativa. Tulipa (Tulipa spp.) As tulipas, assim como outros alimentos e ervas, estão presentes em alguns momentos da história da humanidade. Já eram cultivadas no Irã desde o século XIII. Durante a ocupação nazista, devido à falta de alimentos, as holandesas comiam flores e bulbos de tulipa – o bulbo, inclusive, era considerado um disruptor do ciclo menstrual3. As pétalas de tulipa possuem sabor adocicado, dependendo da variedade seu sabor remete a alface ou ervilhas, sendo de fácil utilização em saladas ou sanduíches5. Empiricamente, as pétalas de tulipa eram utilizadas como cataplasma para aliviar vermelhidão na face e também em cortes, escoriações, calos, calosidades, mordidas de insetos infeccionadas. Com respeito ao uso interno, acredita-se que o uso de um suco preparado com pétalas de tulipa auxiliava a amenizar sardas10. Pela literatura, parece que a tulipa foi muito mais utilizada na culinária – os registros datam do século XV – do que para fins medicinais. 12 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Cíntia Milene Comelli Bussi Poucos estudos têm sido realizados para investigação de compostos bioativos presentes nas pétalas de tulipa e seus benefícios. No estudo de Sagdic et al.53, a Tulipa spp., devido à presença de antocianinas, possui efeitos bioativos e citotóxicos, sendo que as tulipas com pétalas de coloração amarela e vermelha apresentaram efeitos mais citotóxicos às células de adenocarcinoma de mama, enquanto as de coloração rosa, roxa e laranja não apresentaram essa citotoxicidade. Cravina (Dianthus caryophyllus) Segundo registros históricos, a cravina já era utilizada por gregos e romanos e começou a ser cultivada pelos mouros em Valência no ano de 14603. Durante cerca de 2.000 anos, as pétalas de cravina foram utilizadas medicinalmente para aliviar nervosismo e ansiedade, para o tratamento de desordens nos rins e bexiga, doenças de pele como eczema e para constipação10. Nas comunidades indígenas do norte do Iraque, as pétalas de cravina são utilizadas com fins medicinais para tratamento de feridas, infecções de garganta e gengiva e distúrbios gastrointestinais54. De acordo com Abe et al.55, as cravinas de diversas cores possuem boa quantidade de antocianinas em suas pétalas. Estudo in vitro de Martineti et al.56 avaliou a ação de um extrato de pétalas de cravina, o qual possui alto teor de um flavonol (kaempferida), em células de câncer colorretal. A kaempferida triglicosídeo mostrou-se eficaz em bloquear a proliferação dessas células. No estudo de Mohamed e Al-Bayati55, foi avaliado o efeito bactericida de eugenol, presente no óleo essencial de pétalas de cravina, e constatou-se eficácia contra patógenos como B. cereus, L. monocytogenes e K. pneumoniae. Curir et al.57 atribuem à presença da substância kaempferida triglicosídeo a ação antifúngica da cravina. Rúcula (Diplotaxis tenuifolia) As flores de rúcula possuem um leve sabor apimentado e apresentam-se em forma de cruz, em colorações que variam do branco ao amarelo e, às vezes, rajadas com violeta3. Segundo a literatura empírica, as flores de rúcula possuem um bom conteúdo de vitaminas e minerais, inclusive potássio e sílica. Com finalidade medicinal, são utilizadas para dores, para tratar manchas de pele, para tosse em uma mistura com mel e como estimulante sexual10. Existem 2 espécies principais de rúcula que são citadas na literatura: Diplotaxis tenuifolia e Eruca vesicaria, ambas da família Cruciferae. No entanto, na lista de flores permitidas para produção para consumo humano, a espécie relatada é a D. tenuifolia. Em busca na literatura, os únicos artigos encontrados acerca das flores de rúcula datam de 1958 e não estão disponíveis para acesso. Alguns estudos já foram realizados sobre as folhas de rúcula de ambas as espécies, e, no geral, está bem elucidado que a rúcula é boa fonte de glicosinolatos, flavonoides, kaempferol e quercetina e apresenta um grande potencial em inibir o crescimento de células de câncer colorretal58-61. Segundo Pasini et al.62, a presença de glicosinolatos e compostos fenólicos tem um papel importante na determinação do sabor característico dessas espécies. Assim como as flores, as folhas também apresentam sabor levementepungente e possivelmente contenham algumas dessas substâncias. Crisântemo (Chrysanthemum spp.) O crisântemo apresenta-se com pétalas, que na verdade são lígulas, de diversas cores e com sabores que variam de suave a amargo. O crisântemo, há séculos, é extensamente utilizado na cozinha e medicina oriental. Na China, particularmente, é muito utilizado por diversas propriedades medicinais como tônico de sangue, como auxiliar na eliminação de toxinas, suave diurético e para desordens respiratórias10,63. Diversos compostos benéficos estão presentes no crisântemo, como luteolina, antocianinas, protocianidinas, ácido clorogênico, carotenoides, polissacarídeos, arabinolactanos. Diversos efeitos positivos são relatados devido à gama de compostos existentes, incluindo atividades antioxidante, antiangiogênica, antitumoral e anti- inflamatória, modulações da função endotelial e da função imunológica64-68. Considerando que os componentes do crisântemo são metabolizados pela microflora intestinal, Tao et al.69 avaliaram a microbiota de humanos e ratos após consumo de um extrato de crisântemo. Nesse estudo, 32 metabólitos foram detectados e identificados em amostras bacterianas intestinais humanas e de rato. A presença desses metabólitos indicou que as vias principais de conversão de flavonoides presentes em um 13 w w w .v po nl in e. co m .b r Uma revisão sobre os efeitos benéficos de fitoquímicos presentes em f ores comestíveisl extrato de crisântemo in vitro foram hidrólise, hidroxilação, acetilação, metilação, hidrogenação e desoxigenação. Nesse estudo observou-se que bactérias patogênicas tais como Enterobacter, Enterococcus, Clostridium e Bacteroides foram significativamente inibidas pelo crisântemo, enquanto probióticos comensais, tais como Lactobacillus e Bifidobacterium, tiveram seu crescimento moderadamente promovido. Ma et al.70 avaliaram a presença de compostos em crisântemo durante o seu desenvolvimento floral. Constataram que a presença de peróxido de hidrogênio, antocianinas, carotenoides e clorofila diminui consideravelmente conforme o desenvolvimento floral avança. Já os teores de açúcares, aminoácidos e vitamina C aumentaram significantemente com o avanço do desenvolvimento floral. A presença de ácido clorogênico e flavonoides é consideravelmente maior na fase 2, que é a fase de botão. A exposição aos raios UVB se mostrou um influenciador positivo na produção de compostos em todos os estágios da flor. Verificou-se que a presença de compostos se dá em várias fases do desenvolvimento da planta; entretanto, as fases 2 e 3, que são as fases de botão e estágio jovem da flor, são aquelas com maior teor de compostos bioativos. No estudo de Wu et al.71 também foi encontrado um maior teor de ácido clorogênico, luteolina e ácido quínico na fase inicial de abertura da flor. Boca-de-leão (Antirrhinum L.) A boca-de-leão é originária da Europa e foi uma planta muito cultivada desde a Idade Média. Até hoje a boca-de-leão é extensamente cultivada, em sua maioria com finalidade decorativa e em muito pequena escala com finalidade comestível, fato este que pode ser verificado ao realizar levantamento da literatura, na qual se encontra uma vasta gama de estudos acerca do Antirrhinum, que investigam fatores sobre floração, produtividade, genética; por outro lado, raros são os estudos sobre o consumo como alimento/erva e seus possíveis efeitos na saúde humana. Rop et al.72avaliaram a presença de compostos fenólicos totais, conteúdo de flavonoides totais e de minerais em diversas flores comestíveis. Em relação à boca-de-leão, encontraram teor de compostos fenólicos totais e teor de flavonoides totais de 3,49 g e 1,78 g por kg de massa fresca, respectivamente. Os minerais foram mensurados em mg por kg de massa fresca, sendo encontrados teores de fósforo (417,62); potássio (2861,83); cálcio (357,20); magnésio (172,02); sódio (87,74); ferro (4,38); manganês (5,73); cobre (1,62); zinco (8,89) e molibdênio (0,84). Na medicina popular, o gargarejo para feridas na boca é feito a partir das flores e poucas folhas, sendo considerado um excelente remédio mais para dor, cansaço e garganta irritada. Acredita-se que a presença de mucilagem, pectina, ácido gálico e conteúdo de resina sejam responsáveis por sua ação anti-inflamatória e calmante10. Hesperis (Hesperis matronalis) Hesperis matronalis é utilizada na medicina popular com função antimicrobiana73. A maioria dos estudos encontrados na literatura disponível tem um enfoque maior para investigação de genética, polinizadores e resistência no cultivo de hesperis, não sendo encontrados relatos de compostos bioativos e seus efeitos benéficos. Caliopsis (Caliopsis elegans) Também conhecida como margaridinha-escura, a caliopsis possui flores amarelas com mancha escura central. Com nome científico de Caliopsis elegans, a caliopsis permitida no Brasil para consumo foi encontrada na literatura também como Coreopsis tinctoria, a qual é alvo de muitos estudos acerca do seu potencial antioxidante e suas ações antidiabética e anti-hipertensiva3,74. Em sua composição apresentam-se compostos que incluem flavanoides, fenilpropanóis, sesquiterpenos e fitoesterois75. Estudo de Cai et al.76 demonstrou, em modelo animal, que o extrato de caliopsis utilizado durante 8 semanas apresenta atividade hipoglicemiante via inibição de alfa- glicosidase. Também houve melhoras nos níveis de triglicerídeos e sensibilidade à insulina. Yao et al.77 realizaram estudo com ratos com danos renais induzidos por diabetes, avaliando os efeitos do extrato da flor de caliopsis administrado durante 4 semanas. Houve inibição do processo inflamatório e da fibrinogênese e ativação do AMPK nos rins, confirmando efeitos protetores do extrato dessa flor em danos renais causados por diabetes. Jiang et al.67 investigaram efeito de decocção preparada com flores de caliopsis em tratamento de 4 semanas com ratos alimentados com dieta com alto teor de gordura, constatando uma melhora global 14 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Cíntia Milene Comelli Bussi do quadro de resistência à insulina. A atividade anti-hipertensiva da caliopsis já foi relatada em alguns estudos, sendo associada a diversos compostos fenólicos presentes na planta78. O principal mecanismo citado é a inibição da enzima conversora de angiotensina, bem como efeito vasorrelaxante, que envolve a inibição do influxo de cálcio através das membranas celulares79. Pelargônio (Pelargonium capitatum) Pelargônio é uma planta originária da África do Sul, apresenta-se com pequenas flores rosas ou brancas que possuem perfume e gosto de rosas, limão e laranja3,80. Além do Pelargonium capitatum, várias outras espécies de pelargônio ou gerânio, como é chamado no Brasil, são usadas para fim comestível. Para fins medicinais, as espécies mais citadas são o P. sidoides e o P. graveolens10,80. P. sidoides é bem conhecido por seus efeitos benéficos no tratamento de tosse, resfriados e fortalecimento do sistema imunológico81-83. P. capitatum é citado em alguns estudos pelo potencial antimicrobiano, baseado em investigações com o uso do óleo essencial84,85. Rosa (Rosa chinensis) Rosas são cultivadas desde a Antiguidade, com relatos de cultivo em 3000 a.C. na China e uso na culinária da Grécia e Roma antiga. Dentre as diversas espécies de rosas encontra-se a R. Chinensis, que é uma planta ornamental bem conhecida, e suas flores são comumente utilizadas na medicina tradicional chinesa, principalmente para desordens do ciclo menstrual e cólicas86,87. Cai et al.88, visando identificar compostos fenólicos, realizaram um estudo com extrato metanólico de flores secas de R. chinensis. Um total de 36 compostos fenólicos foram encontrados, dentre eles: taninos, flavonóis, antocianinas, galotaninos, elagitaninos, quercetina, kampferol, mono e diglicosídeos e cianidinas. Nesseestudo também foi avaliada a atividade antioxidante, com resultados que mostraram que compostos fenólicos dessa flor exibiram um potente efeito antioxidante. Os altos níveis de flavonoides e taninos hidrolisáveis são importantes princípios bioativos nas flores de R. chinensis. Xiong et al.89 avaliaram compostos fenólicos e capacidade antioxidante em 10 flores comestíveis comuns na China, dentre elas R. chinensis. Pelo método de avaliação FRAC (ferric reducing/ antioxidant capacity), a R. chinensis mostrou um potente efeito antioxidante. Qing et al.87 encontraram 12 flavonoides glicosídeos em R. chinensis, ressaltando que esses são os principais compostos responsáveis pela importante atividade antioxidante reconhecida de R. chinensis. Conclusão A elaboração desta revisão permitiu verificar o grande potencial que as flores comestíveis possuem para serem mais utilizadas como alimentos. Apresentam um considerável conteúdo de compostos bioativos com diversos efeitos benéficos à saúde humana, que incluem: atividades antioxidante, anti-inflamatória, hipolipemiante, diurética, hipoglicemiante, vasodilatadora, imunomoduladora e saúde visual. Embora a maioria dos estudos concentre suas investigações em alguma forma de extrato, o uso regular, mesmo que em pequenas quantidades, das flores frescas em receitas pode contribuir para adicionar esses compostos bioativos na alimentação diária. Juntamente aos benefícios funcionais, o aspecto sensorial confere visual atrativo e proporciona texturas e sabores diferentes às preparações. Assim, as flores podem ser utilizadas amplamente como matéria-prima para a elaboração de preparações alimentares, na gastronomia e em produtos nutracêuticos e, inclusive, como uma fonte de corantes naturais. Nesse contexto, conclui-se que as flores comestíveis representam uma categoria de alimento promissora para maior utilização na alimentação por suas características funcionais ou sensoriais. Ressalta-se a importância da realização de mais estudos com flores comestíveis em nível nacional, especialmente ensaios clínicos, fornecendo embasamento para a educação nutricional para a população, a fim de promover o consumo de flores comestíveis por meio de profissionais da nutrição, gastronomia e áreas afins. Referências 1. FILHO, C.F.D. Morfologia Vegetal. 2a ed. São Paulo: Funep, 2005. 2. JACOBS, M. Cooking with edible flowers. North Adams: Storey Publishing, 1999. 15 w w w .v po nl in e. co m .b r Uma revisão sobre os efeitos benéficos de fitoquímicos presentes em f ores comestíveisl 3. FELIPPE G. Entre o jardim e a horta: as flores que vão para a mesa. São Paulo: Senac, 2004. 4. GRAMP, D. & P. Edible flowers and leaves. USA: Createspace, 2013. 5. CREASY, R. The Edible Flower Garden. 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Em determinadas localizações do cromossomo (locus) pode haver variabilidade devido a mutações na sequência do DNA. Se a mutação é encontrada em uma frequência superior a 1% da população, denomina-se polimórfica, e esses polimorfismos podem atuar como marcadores genéticos. A aplicação destes conceitos à nutrição esclarece o impacto das variações genéticas individuais nas necessidades de um determinado nutriente para um determinado sujeito. Testes genéticos são utilizados para avaliações nutrigenéticas, e vários polimorfismos de nucleotídeos únicos podem ser determinados em um único teste, havendo posterior análise individual do resultado de cada polimorfismo ou avaliação conjunta com outros genes também envolvidos com a nutrição. O resultado é uma análise de como cada organismo metaboliza determinados nutrientes ou substâncias e aponta tendências, como, por exemplo, para obesidade. Isoladamente, não são suficientes para a personalização da alimentação e não substituem um tratamento médico ou recomendação nutricional, mas, sim, servem como ferramenta auxiliar na nutrição individualizada e de precisão. Palavras-chave: Nutrição, polimorfismos, nutrigenética, nutrigenômica. Abstract Genetics is a science that studies the transmission, alterations and expression of genes, and these studies have become possible through the Human Genome Project. Nutrigenomics has become part of a broader field, the nutritional genomics, which seeks to analyze the control of gene expression, interactions between genes and the environment. At certain locations of the chromosome (locus) there may be variability due to mutations in the DNA sequence. If the mutation is found at a frequency greater than 1% of the population it is called polymorphic, and these polymorphisms may act as genetic markers. The application of these concepts to nutrition clarifies the impact of individual genetic variations on the needs of a particular nutrient for a particular subject. Genetic tests are used for nutrigenetic evaluations, and several single nucleotide polymorphisms can be determined in a single test, with subsequent individual analysis of the result of each polymorphism or joint evaluation with other genes also involved with nutrition. The result is an analysis of how each organism metabolizes certain nutrients or substances and points out tendencies, such as to obesity. Individually, they are not enough for food customization and do not replace medical treatment or nutritional recommendation, but serve as an auxiliary tool for individualized and accurate nutrition. Keywords: Nutrition, polymorphisms, nutrigenetics, nutrigenomics. 19 w w w .v po nl in e. co m .b r Aplicação da nutrigenômica na determinação do melhor tipo de dieta D Introdução Desde o início do século XX, a genética geral se tornou uma promissora área da biologia moderna. Essa ciência conceitua-se pelos estudos da hereditariedade, que qualifica as características gênicas e fenotípicas de indivíduos e que podem ser transmitidas dos pais para os filhos, como, por exemplo, cor dos owlhos, cabelo, doenças1. O Proje to Genoma Humano fo i um empreendimento internacional para determinar a sequência completa do genoma humano, definido como a soma total de informações genéticas da nossa espécie. A genética médica se tornou parte de um campo mais amplo e busca aplicar uma análise em grande escala do genoma humano, incluindo controle da expressão gênica, variação gênica humana e interações entre os genes e o ambiente2. Estudada atualmente, a genômica nutricional procura fornecer conhecimentos de como os nutrientes afetam o balanço entre saúde e doença, alterando a expressão e/ou estrutura dos genes do indivíduo, e tem como objetivo desenvolver conhecimento que permita estabelecer um tratamento nutricional baseado no genótipo individual, mediante dois ramos principais: nutrigenética e nutrigenômica3,4. Muitos testes genéticos são baseados em polimorfismos de nucleotídeo único (single nucleotide polymorphism – SNP) de genes envolvidos com efeitos metabólicos ou nutrição.SNPs são variações que podem ocorrer numa sequência de DNA em uma porção significativa (mais de 1%) de uma população. São resultados de mutações, que se propagaram ao longo das gerações, sendo as mais frequentes formas de variações genéticas, representando 90% delas5. Análises dos testes genéticos revelam como cada organismo metaboliza determinados nutrientes (e.g.: ômega 3) e substâncias (e.g.: cafeína) e pode apontar tendências genéticas para a obesidade e para o desenvolvimento de intolerâncias alimentares (e.g.: lactose). Essas análises se apresentam como uma peça importante da orientação nutricional individualizada, uma vez que consideram as características metabólicas de casa indivíduo, porém isoladamente não são suficientes para a personalização da alimentação6. Dessa forma, este artigo teve como objetivo pesquisar sobre a relação das informações obtidas a partir das observações realizadas no contexto da genômica nutricional, com a possibilidade de utilizar essas informações na determinação do melhor tipo de dieta. Metodologia Para o levantamento de dados, foi realizada uma revisão bibliográfica por meio de pesquisa em livros e nas bases de dados SciELO, PubMed, SNPedia, com as palavras isoladas ou associadas: genética, polimorfismo, nutrigenética, testes genéticos, obesidade, FTO, MC4R, PPARγC1α, PPARγ, FADS1, CYP1A2, MCM6, MTHFR, HLA- DQ2 / HLA-DQ8, doença celíaca, intolerância à lactose, obesidade, GWAS. Os genes escolhidos foram aqueles com polimorfismos envolvidos com efeitos metabólicos e nutrição. Resultados Com o advento dos estudos de associação ampla do genoma (Genome-wide association study – GWAS), tem-se caminhado a passos largos no caminho do entendimento dos fundamentos genéticos da obesidade. Atualmente, sabe-se que as formas comuns de obesidade são poligênicas, com cada variante contribuindo com um pequeno efeito7. Uma vez que os efeitos dos diferentes loci envolvidos com alterações no índice de massa corporal (IMC) são pequenos, o risco genético normalmente é calculado para o indivíduo somando-se o número de alelos de risco dos vários loci envolvidos7. O primeiro locus com robustez estatística identificado com associação ao IMC foi do gene FTO, publicado em um GWAS. Uma meta- análise com dados de GWAS de descendentes de europeus corroborou a associação do FTO e identificou um outro sinal próximo ao gene receptor de melanocortina-4 (melanocortin-4 receptor – MC4R)7. O polimorfismo de nucleotídeo único (single nucleotide polymorphism - SNP) rs9939609 (substituição de uma timina - alelo T - por adenina - alelo A - risco) do gene FTO tem sido avaliado pela sua associação com o acúmulo excessivo de gordura. Também se avalia a interação desse 20 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Andrea Plothow, Andreza Braulos de Mello, Camila Buttendorff, Gabriela Fagundes polimorfismo com os demais fatores promotores do excesso de peso. Contudo, divergências entre resultados para diferentes grupos populacionais têm sido encontradas8,9. Atualmente, não se sabe ao certo como o alelo A do polimorfismo rs9939609 do gene FTO influencia no risco de obesidade, porém os mecanismos apontam para interferência no sistema de saciedade do sistema nervoso central, aumentando a ingestão de alimentos (hiperfagia) e reduzindo a sensação de saciedade10,11. Outro gene também envolvido com a obesidade é o MC4R, tendo as primeiras descrições sobre a associação entre MC4R e IMC sido publicadas em 1998 por dois grupos diferentes na mesma edição da revista Nature Genetics12,13. O gene MC4R é expresso principalmente no hipotálamo, onde neurônios POMC (pró- opiomelanocortina), situados no núcleo arqueado, são ativados pela leptina e pela insulina e produzem o hormônio estimulante α-melanócito (α-MSH). Este, por sua vez, ativa o receptor MC4R, resultando num sinal de saciedade14,15. Mutações no MC4R representam a alteração genética mais comum presente na obesidade humana de início precoce, e vários mecanismos moleculares pelos quais a perda de função (consequente de mutações no gene MC4R) leva a obesidade são possíveis: expressão de MC4R anormal na membrana, defeito na resposta agonista e alteração no transporte intracelular dessa proteína14,15. Embora seja de interesse o conhecimento da razão biológica (por exemplo: alteração da via da melanocortina) responsável pela maior suscetibilidade à obesidade em alguns indivíduos, ainda não existe terapêutica específica disponível. No entanto, o estudo molecular para detectar indivíduos elegíveis para tratamento pode tornar- se necessário em poucos anos, caso surjam fármacos específicos, tais como agonistas de MC4R15,16. Genes associados ao metabolismo energético e de carboidratos também podem ser avaliados em testes genéticos. A proteína codificada pelo gene PPARγC1α (peroxisome proliferator-activated receptor gamma coactivator 1-alpha) é expressa em altos níveis em tecidos metabolicamente ativos e está envolvida no controle do estresse oxidativo por meio da desintoxicação de espécies reativas de oxigênio, além de atuar na biogênese mitocondrial e na oxidação de lipídios e glicose17. A proteína codificada pelo gene PPARγC1α coativa pelo menos 30 fatores de transcrição envolvidos em vários aspectos do metabolismo energético celular e estase vascular17,18. O gene é expresso em tecidos com alta atividade metabólica, como coração, fígado, rim e tecido adiposo marrom, e poderia desempenhar um papel na regulação da pressão arterial por meio da interação com mineralocorticoides e receptores de estrogênio ou da destoxificação de oxigênio reativo19. Associações entre esse polimorfismo (rs8192678 G>A) e DM2, HAS, obesidade, dislipidemia, aptidão aeróbica e resistência à insulina têm sido amplamente relatadas20. O PPARγ (peroxisome proliferator-activated receptor gamma) é um membro da superfamília de receptores nucleares e um fator de transcrição ativado por ácidos graxos, prostanoides e tiazolidinediona (glitazonas), regulando a expressão de genes envolvidos na lipogênese e adipogênese, a sensibilidade à insulina, o balanço energético, inflamação, angiogênese e aterosclerose. Tem sido mencionado como um gene candidato para determinar o risco de síndrome metabólica e outras comorbidades21-23. Entre as variantes genéticas do PPARγ, o polimorfismo de nucleotídeo único rs1801282 C>G, também conhecido como Pro12Ala, foi o mais extensivamente estudado, sendo caracterizado pela substituição de uma prolina (CCA) por uma alanina (GCA) no códon 12 do exon B, devido à troca de uma citosina por uma guanina22. Resultados de meta-análises e estudos prospectivos mostraram redução no risco de DM2 variando de 21% a 27% para o alelo polimórfico alanina, provavelmente pela melhora na sensibilidade à insulina24-26. Em relação aos indivíduos obesos, as associações não são tão fortes, e, de fato, pesquisadores têm encontrado associação entre o alelo alanina e aumento, e não decréscimo, de peso em indivíduos obesos27. Em relação aos lipídeos, a capacidade de metabolização e absorção também apresenta importante componente genético, e tanto a dieta quanto a variação genética do gene FADS1 podem 21 w w w .v po nl in e. co m .b r Aplicação da nutrigenômica na determinação do melhor tipo de dieta coronariana30,32. A velocidade de metabolização de certas substâncias, como a cafeína, também é de interesse de estudo, e o gene CYP1A2 (Cytochrome P450 1A2) pode ser avaliado por teste genético para identificação do perfil individual do paciente33. O polimorfismo rs762551 (-163 C>A) gera aumento de atividade da enzima que participa da metabolização da cafeína. Indivíduos que carregam o alelo C são metabolizadores lentos de cafeína, enquanto que o alelo A indica rápida metabolização, ou seja, uma mesma quantidade de cafeína tende a ter efeito mais estimulante naquele indivíduo de metabolizaçãolenta33,34. Hoje em dia, ser fatores importantes que irão influenciar nas concentrações sanguíneas de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (PUFAs) e seus precursores28. A dessaturação de ácidos graxos é um processo chave na geração de precursores para a formação de eicosanoides anti e pró-inflamatórios, bem como LC-PUFA, que tem papéis chave no desenvolvimento cerebral e neuronal29. As proteínas codificadas pelos genes FADS1 e 2 (fatty acid desaturase) são membros de uma família de dessaturases ômega-3 e ômega-6, que atuam por meio da introdução de ligações duplas entre os carbonos e catalisam o passo final de formação dos ácidos eicosapentaenoico (EPA) e araquidônico30-32. A função biológica mais conhecida do FADS1 é a do ácido linoleico, que atua como uma enzima limitante da velocidade de metabolização de LC-PUFA, precursores de eicosanoides e outros mediadores importantes na participação de processos inflamatórios30,32. Está localizado em uma região cromossômica relacionada a uma variedade de doenças complexas como, por exemplo, doenças cardiovasculares, alterações no metabolismo desses ácidos em mulheres durante a gravidez e lactação, asma, atopia, osteoartrite e diabetes tipo 130-32. O polimorfismo do FADS1 (rs174547 C>T) pode atuar como um importante fator que irá contribuir para a variabilidade nos níveis de PUFA nos fosfolipídeos séricos e pode estar associado com o aumento de triglicerídeos e com a diminuição de colesterol HDL (high density lipoprotein – proteína de alta densidade), aumentando, assim, o risco para doença arterial coronariana30,32. certas doenças estão relacionadas com a ingestão de café, como diminuição da densidade mineral óssea e aumento do risco de hipertensão, ou ainda como fator protetor na diminuição do risco de cânceres e contra a doença de Parkinson34. A intolerância a produtos lácteos tem se tornado uma questão importante para a nutrição, e genes estão envolvidos na capacidade de síntese da enzima lactase até a vida adulta. Por muitos anos, o termo intolerância à lactose tem sido uma maneira de distinguir o uso e risco de produtos lácteos por pessoas de diferentes etnias, uma vez que há ocorrência de sintomas gastrointestinais agudos como inchaço, flatulência, dor abdominal, fezes moles e diarreia ou constipação naqueles que não têm persistência da atividade de lactase35,36. O SNP do intron 13 do gene da lactase LCT (LCT-13910 C>T ou rs4988235) é o mais prevalente entre os polimorfismos para o gene. Um indivíduo homozigoto para o alelo C é considerado intolerante à lactose ou lactase não persistente37. Diferente da maioria das variantes genéticas que apresentam consequências nutrigenômicas de perda de função, mutações no gene LCT resultam em persistência da lactase (PL), conferindo a habilidade de produzir a enzima lactase até a idade adulta38. Manifestações de desconforto intestinal podem ser devidas a outra condição que não a intolerância à lactose, como por exemplo, doença celíaca. Antigamente, a doença celíaca (DC) era considerada rara e limitada a crianças, porém atualmente estima-se prevalência de 1% (uma em cada 100 pessoas tem DC), sendo predominante em mulheres, na razão de 3:139,40. A DC apresenta base autoimune, multigênica, com genes que predispõem a autoimunidade, como alelos HLA (human leucocyte antigen) contribuindo com 36-53% de suscetibilidade41,42. A associação primária é com os genes HLA-DQ2 (DQA1⁎05/DQB1 02) e DQ8 (DQA1⁎0301/ DQB1⁎0302), e a presença dessas proteínas HLA é necessária para o desenvolvimento da DC, porém não suficiente para determinar que o fator ambiental (exposição às proteínas do glúten) gere resposta imune específica39,43. Cerca de 95% dos pacientes diagnosticados com doença celíaca apresentam HLA-DQ2, e 5% apresentam HLA-DQ8. Contudo, aproximadamente 20-30% de caucasianos 22 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Andrea Plothow, Andreza Braulos de Mello, Camila Buttendorff, Gabriela Fagundes saudáveis são HLA-DQ2 positivos, apontando para o envolvimento de genes não HLA40. Conhecer o genótipo HLA-DQ é importante para estabelecer o gradiente de risco, uma vez que a ausência dos alelos de risco DQ2 e DQ8 tem um valor negativo preditivo de 99%41,43. O ácido fólico é um nutriente cujo metabolismo envolve etapas dependentes de enzimas. Genes que sintetizam essas enzimas podem ser polimórficos e avaliados em testes genéticos. No organismo, para exercer seus efeitos como doador de grupo metil com importante papel no metabolismo de um carbono, atuando como coenzima na síntese de purinas e pirimidinas do DNA, síntese de RNA e proteínas, além da importância na produção de energia e adequada divisão celular o folato deve ser convertido em 5-metil-tetrahidrofolato pela ação da enzima metileno tetrahidrofolato redutase – MTHFR44,45. A MTHFR é o principal componente no metabolismo do folato, e seu gene está localizado no cromossomo 1 p36.3, havendo até o presente mais de 40 mutações pontuais identificadas, onde C677T e A1298C têm o maior significado clínico, podendo levar a redução de atividade da enzima, interferindo, assim, nos níveis de metilfolato46. O polimorfismo rs1801133 (C677T) tem como consequência a substituição de alanina em valina, o que resulta em uma enzima com 65% da sua atividade para heterozigotos e 30% para homozigotos do alelo de risco, estando associado com níveis elevados de homocisteína em indivíduos com baixo nível de folato no plasma46-48. A concentração plasmática de homocisteína pode ser influenciada tanto por fatores nutricionais, como concentrações de ácido fólico e vitaminas B6 e B12, quanto por fatores hereditários, em especial aqueles ligados às enzimas do metabolismo da metionina e da cisteína. Existem evidências que sugerem que a homocisteína possa estar envolvida na aterogênese e na trombogênese49,50. Polimorfismos em genes específicos, como o MTHFR, podem conferir uma base genética para riscos de doenças cardiovasculares. A homozigose para o polimorfismo C677TT está associada com o risco de doença arterial coronariana em diferentes lugares do mundo, como em Israel, na América do Norte e no Japão; contudo, não está ligada à China50. Discussão Nutrigenética é a interface entre nutrição e as informações genéticas de cada indivíduo, que explica o impacto das variações genéticas individuais nas necessidades ótimas de um determinado nutriente para um determinado sujeito. Por exemplo, dependendo das informações genéticas, um indivíduo pode se beneficiar de maneiras variáveis de certas vitaminas ou minerais, tais como ácido fólico ou ferro, entendendo que uma orientação dietética adequada a um indivíduo pode não ser adequada ao outro, ou pode até mesmo ser prejudicial51-53. Polimorfismos podem atuar como marcadores genéticos, já que são transmitidos associados a outros genes localizados na região cromossômica próxima a eles. Dessa maneira, se um gene próximo a um marcador causa uma doença, todos os indivíduos afetados na família recebem tanto o marcador como o gene causador da doença5. Os polimorfismos de interesse na nutrição podem ser analisados por testes genéticos, trazendo os conceitos da genômica nutricional para a prática clínica do profissional de nutrição, com resultados que auxiliam no embasamento da nutrição individualizada personalizada. Conclusões Vários SNPs podem ser determinados em um único teste genético, havendo posterior análise individual do resultado de cada polimorfismo ou avaliação conjunta com outros genes também envolvidos com a nutrição. Podem-se avaliar, por exemplo, polimorfismos de genes associados ao risco de desenvolvimento de sobrepeso/obesidade (FTO rs9939609 e MC4R rs17782313), genes associados ao metabolismo energético e de carboidratos (PPARγ rs1801282 e PPARγC1α rs8192678), genes associados à capacidade de metabolização e absorção de lipídeos (FADS1rs174547), gene associado à velocidade de metabolização da cafeína (CYP1A2 rs762551), gene associado com persistência da enzima lactase (MCM6 rs498823), genes associados com doença celíaca (HLA-DQ2, HLA-DQ8), gene associado com a metabolização do ácido fólico (MTHFR). 23 w w w .v po nl in e. co m .b r Aplicação da nutrigenômica na determinação do melhor tipo de dieta O perfil analisado em um teste não exclui a possibilidade da existência de outros marcadores associados à característica/condição analisada, e os resultados do teste não substituem um tratamento médico ou recomendação nutricional, mas, sim, servem como ferramenta auxiliar na nutrição individualizada6. Esse campo tem potencial para otimizar a saúde humana por meio de boas práticas alimentares e recomendações individualizadas de macro e micronutrientes norteadas pelas características polimórficas do indivíduo51. Referências 1. GRIFFITHS, Anthony J. F. Introdução à genética. 9a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 2. NUSSBAUM, R. ; MCINNES, R. R.; WILLARD, H. F.; THOMPSON, Margaret W. Thompson & Thompson: genética médica. 7a ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 3. KAPUT, J.; RODRIGUEZ, R. Nutritional genomics: the next frontier in the postgenomic era. Physiol Genomics; 16 (2): 166-177, 2004. 4. CRUZ, E.; MIER, G.M.; RIVERA, A.Z. Genómica nutricional: Perspectivas para el futuro. Rev Endocrinol Nutr; 13 (4): 190-196, 2005. 5. JORDE, L.B.; CAREY, J.; BAMSHAD, M.J. Genética médica. 4a ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 6.CONSELHO REGIONAL DE NUTRICIONISTAS – CRN-3. Parecer Técnico CRN-3 Nº 09/2015: Genômica Nutricional - Testes de Nutrigenética. São Paulo, 2015. 7. 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Entretanto, a busca por terapias alternativas que atuem na modulação anti-inflamatória é de fundamental importância para melhora da qualidade de vida dos doentes. Sabe-se que, na deficiência de selênio, algumas interleucinas não são inibidas pelas células T supressoras, o que resulta na estimulação de células T autorreativas e na produção de autoanticorpos. Assim, observa-se a importância desse mineral no curso da patologia. Apesar de muitos estudos mostrarem a redução dos níveis de anticorpo antiperoxidase com a suplementação de selênio, vários outros não apontam o mesmo benefício. Ainda assim, observa-se a modulação de parâmetros relevantes, os quais podem significar melhora na evolução da doença de Hashimoto. Palavras-chave: Doença de Hashimoto; tireoidite autoimune; autoanticorpos; selênio. Abstract Hashimoto’s thyroiditis is a disease defined as a chronic inflammation of the thyroid gland caused by an autoimmune process, which is conventionally treated with levothyroxine administration for hormone replacement. However, researches for alternative therapies that work on anti-inflammatory modulation are very important to improve the quality of life for those patients. It is known that, on selenium deficiency, some interleukins are not inhibited by suppressor T cells, stimulating the autoreactive T cells and the production of autoantibodies. Therefore, the importance of this mineral on the course of this pathology is observed. Despite of the fact that many studies demonstrate the reduction of the levels of anti-peroxidase antibody with selenium supplementation, many others do not show the same benefit. Nevertheless, the modulation of relevant parameters which can signal some improvement on the evolution of Hashimoto’s disease is observed. Keywords: Hashimoto disease; autoimmune thyroiditis; autoantibodies; selenium. 26 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Fernanda Fontes Cohen e Daniela de Araújo Medeiros Dias A Introdução A tireoidite de Hashimoto, também conhecida como tireoidite linfocitária crônica1, consiste em uma doença autoimune com etiologia e patogênese ainda não definidas completamente2. Essa doença é caracterizada por uma inflamação crônica da glândula tireoide2 iniciada com a ativação de células T auxiliares, as quais induzem a secreção de anticorpos pelas células B3 devido à produção excessiva de citocinas1. O anticorpo antitireoperoxidase (anti-TPO) é considerado o melhor marcador sorológico para estabelecer o diagnóstico dessa tireoidite, sendo detectado em aproximadamente 95% dos pacientes. Por sua vez, o antitireoglobulina (anti-TG) é menos sensível – positivo apenas em 60 a 80% dos pacientes – e menos específico do que o anti- TPO2. Na evolução da patologia, ocorre perda gradual da função da tireoide, acompanhada pela elevação do TSH (hormônio tireoestimulante). Enquanto T4 (tiroxina) e T3 (tri-iodotironina) apresentam-se normais, classifica-se como hipotireoidismo subclínico. Com a progressão da falência da glândula, o T4 diminui, instalando-se o hipotireoidismo clínico. O avanço da doença levará à baixa, também, de T3 e ao surgimento dos sinais e sintomas4, como constipação, bradicardia, anemia, oligomenorreia, retenção hídrica, perda de memória, depressão, entre outros2. O tratamento médico convencional é realizado pela administração de levotiroxina para reposição de T4, levando à normalização do TSH4. Uma vez que não existe modalidade específica de terapia para suprimir a destruição autoimune, o procedimento adotado é paliativo5. Assim, o desenvolvimento de terapias alternativas baseadas nos mecanismos conhecidos dessa patologia, no lugar de tratar apenas os sintomas, melhorará a qualidade de vida dos pacientes6. Dentre outros aspectos, a manutenção da função imune-endócrina, o metabolismo e a homeostase celular dependem do selênio7. As enzimas glutationa peroxidase e tiorredoxina redutase são selenoproteínas envolvidas na regulação do estado redox e na proteção contra o dano oxidativo. Além disso, a glândula tireoide contém mais selênio por grama de tecido do que qualquer outro órgão8. Na deficiência desse mineral, as células T supressoras não inibem a produção de algumas interleucinas, o que resulta na estimulação de células T autorreativas e na produção de autoanticorpos7. Aqueles pacientes com resposta imune ativada estão mais suscetíveis a essa deficiência9,10. No Brasil, o consumo alimentar de selênio varia de 18 a 139 μg/dia, a depender da região11. Possuindo menor concentração no solo, Mato Grosso e São Paulo são os estados onde se constata maior deficiência alimentar12. Sabe-se que a ingestão adequada desse micronutriente é importante para a manutenção da integridade funcional e estrutural da tireoide13. Entretanto, ainda são escassos os estudos que avaliaram o consumo de selênio na modulação inflamatória. Os artigos questionam a biodisponibilidade e a quantidade do consumo de alimentos fontes para que tenha a ação esperada. Dessa forma, faz-se necessário observar a dieta da população de modo a promover seu consumo apropriado, favorecendo o funcionamento ótimo do organismo e evitando o acometimento de patologias vinculadas a sua deficiência14. Estudos têm mostrado que a suplementação com selenometionina normaliza a liberação linfocitária de citocinas, inibindo a secreção de interferon gama (IFN-γ), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucina 2 (IL-2)15, e esse efeito é aumentado quando combinado com o tratamento com levotiroxina7. Sugere-se que essa regulação da secreção de citocinas diminua os níveis de anti- TPO15. Visto que esseanticorpo é o mais relevante marcador do Hashimoto, buscar mecanismos de modulação dessa resposta autoimune é de fundamental importância. Diante do exposto, este estudo teve por objetivo realizar uma revisão de literatura sobre o efeito do selênio nos níveis de anticorpos antiperoxidase na tireoidite de Hashimoto. Metodologia O presente estudo foi realizado por meio de uma revisão de literatura a respeito do tema mediante consulta à base de dados PUBMED. Na pesquisa, buscou-se publicações em língua inglesa, utilizando os descritores DeSC: Autoimmune Thyroiditis; Thyroiditis; Autoantibodies; Selenium. Foram 27 w w w .v po nl in e. co m .b r A importância do selênio nos níveis dos anticorpos antiperoxidase na tireoidite de Hashimoto aplicados os seguintes filtros: data de publicação no período de 2007 a 2017; e artigos cujo tipo de publicação não era revisão de literatura. Em princípio, foram obtidos 71 artigos. A análise de dados foi iniciada a partir da leitura dos títulos, resumos e artigos na íntegra. Selecionou-se publicações originais em humanos que avaliaram o efeito do selênio nos anticorpos antiperoxidase na tireoidite autoimune e que forneceram maior compreensão do tema proposto para esse trabalho. Foram excluídos da pesquisa: artigos de revisão; estudos de caso isolados; estudos ainda não concluídos; estudos em animais; estudos apenas em crianças, adolescentes e gestantes; publicações com classificação Qualis abaixo de B3; estudos realizados com pacientes com hipertireoidismo; estudos não realizados com portadores da tireoidite de Hashimoto; que não avaliaram os parâmetros de anticorpos antiperoxidase; que avaliaram exclusivamente o tratamento medicamentoso com levotiroxina; que avaliaram apenas o status de selênio nos indivíduos. Empreendeu-se uma leitura minuciosa e crítica dos artigos para identificação dos núcleos de sentido de cada texto e posterior agrupamento de subtemas que sintetizassem as produções. Resultados e discussão Foram elegíveis onze artigos de acordo com os critérios estabelecidos nesta revisão, conforme observado na Tabela 1. Destaca-se que foi verificada uma diferença na distribuição da população estudada, com maior prevalência de Hashimoto em pacientes do sexo feminino, estatística essa já apresentada em literatura2. Esse achado foi claramente observado em todas as amostras dos estudos avaliados, visto que os grupos de intervenção que incluíam ambos os sexos sempre apresentavam número bem mais expressivo de mulheres do que homens. Sabe-se que o alimento mais rico em selênio é a castanha-do-Brasil, com concentração registrada entre 8 e 126 μg/g11. Outras boas fontes alimentares são alguns peixes e frutos do mar, como ostras, atum, sardinha e merluza; miúdos, como rim e fígado; cogumelos; alfafa; cereais, como centeio e farinha de trigo integral; semente de girassol; espécies crucíferas, como mostarda, repolho, brócolis e couve-flor; e carnes em geral11,12,16,17. Tabela 1. Estudos que avaliaram o efeito do selênio no tratamento da tireoidite de Hashimoto, publicados entre 2007 e 2017 Estudo Estudo / Local População Resultados Conclusões Anastasilakis et al.18 De Farias et al.19 Esposito et al.20 Karanikas et al.21 Mazokopakis et al.22 Estudo prospectivo clínico (Grécia) Estudo randomizado, prospectivo (Brasil) Estudo randomizado duplo-cego (Itália) Estudo randomizado cego (Áustria) Estudo prospectivo (Grécia) n=86. Pacientes com HT, 57% com LT. 200 μg SeMet por 3 m (n=15); 200 μg SeMet por 6 m (n=46); ou placebo (n=25) n=55. Pacientes com CAT, com LT se necessário. 200 μg SeMet (n=28); ou placebo (n=27) por 3 m – 2 h antes ou após refeição n=76. Mulheres com HT. 166 μg l-SeMet (n=38); ou placebo (n=38) por 6 m n=36. Mulheres com AIT, utilizando LT. 200 µg Na2SeO3 (n=18); ou placebo (n=18) por 3 m – 2 h antes ou após uma refeição n=80. Mulheres com HT (37 em uso de LT). 200 µg l-SeMet por 12 m (n=40); ou 200 µg l-SeMet por 6 m + 6 m sem suplementação (n=40) ↓ TgAb (significativa, mas modesta em termos absolutos) ↓ TPOAb ↑ GPx1 ↑ Vascularização da tireoide ↑ T3L (grupo suplementado) ↓ T3L (grupo controle) ↑ Bem-estar ↓ TPOAb com suplementação ↑ TPOAb 4,8% com interrupção, mas 12,2% menor nos níveis basais Selênio em doses farmacológicas por 6 m não tem efeito clínico, hormonal e autoimune significativo na HT Selênio foi associado com a diminuição dos níveis de TPOAb em 6 m e com o aumento da vascularização da tireoide Sugere-se aumento de atividade das DIOs, induzido pela l-SeMet, pelo aumento do T3L Não houve diminuição significativa dos níveis de TPOAb e no padrão da produção de citocinas após a administração de Se Selênio gera redução de TPOAb, e a interrupção do uso provoca seu aumento 28 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Fernanda Fontes Cohen e Daniela de Araújo Medeiros Dias Esse mineral está presente no solo e entra na cadeia alimentar pelas plantas. Dessa forma, sua concentração em plantas e animais depende da composição do terreno onde é realizado o cultivo16,17. Em um estudo populacional, Wu et al.29 evidenciaram a diferença na prevalência de distúrbios na glândula tireoide entre regiões com suprimento baixo e adequado de selênio, como reflexo da presença desse micronutriente na alimentação proporcional à concentração do solo, que era diferente nessas áreas. Observou-se associação entre a deficiência desse mineral e o risco de doença29. Sendo o selênio constituinte importante de enzimas envolvidas na regulação hormonal da tireoide e na sua proteção dos ataques de radicais livres como em doenças autoimunes, a dieta deve garantir sua ingestão adequada16. Todavia, não foi possível encontrar estudos que façam a abordagem da terapia via alimento para modulação dos parâmetros relevantes para melhoria do quadro da doença de Hashimoto. Talvez isso se deva à dificuldade de estabelecer um padrão na concentração desse micronutriente, mesmo quando se considera apenas um alimento específico. Vale ressaltar que houve diferentes formas de intervenção em diferentes estágios de evolução da doença, pela heterogeneidade no uso ou não da levotiroxina. Além disso, nos trabalhos selecionados, resultados divergentes foram alcançados quanto ao efeito nos anticorpos antitireoperoxidase (anti-TPO). A literatura tem buscado alternativas no tratamento da tireoidite de Hashimoto com o intuito de modular o sistema imunológico e o processo inflamatório característico dessa patologia. Nesse sentido, verifica-se que alguns estudos avaliaram marcadores diretamente ligados ao mecanismo de defesa antioxidante, como a enzima da classe Estudo Estudo / Local População Resultados Conclusões Nacamulli et al.23 Nordio e Basciani24 Nordio e Pajalich25 Pilli et al.26 Pirola et al.27 Yu et al.28 Estudo prospectivo randomizado (Itália) Estudo randomizado prospectivo (Itália) Ensaio randomizado duplo-cego (Itália) Estudo randomizado (Itália) Estudo randomizado (Itália) Estudo randomizado (China) n=76. Pacientes com AIT, sem LT. Sem tratamento (n=30); ou 80 µg Na2SeO3 por 12 m (n=46) n=168. Pacientes com HT. 16,6 mg l-Semet (=83 µg Se) (n=84); ou 600 mg MI + 16,6 mg l-Semet (n=84) por 6 m – 2 h antes ou após refeição n=46. Mulheres com AIT sem LT. 83 μg SeMet (n=22); ou 600 mg MI + 83 μg SeMet (n=24) por 6 m – 2 h antes ou após refeição n=60. Mulheres com AIT, sem LT. Placebo (n=20); 80 μg Semet (n=20); ou 160 μg Semet (n=20) por 12 m n=192. Adultos com SH leve. 83 μg SeMet, após refeição, por 4 m (n=96); ou sem nenhuma ingestão (n=96) n= 60. Pacientes com TLC em uso de LT. Sem nenhuma ingestão (n=26); ou 200 μg Se, 2x ao dia, por 3 m (n=34) ↑ Ecogenicidade da tireoide ↓ TPOAb ↓TgAb ↓ TSH ↓TPOAb ↑ T4L ↓ TSH (MI + SeMet) ↓ TPOAb (42% com SeMet/44% com MI + SeMet) ↓ TgAb (38% com SeMet/48% com MI + SeMet) ↑ TPOAb(placebo) ↓ CXCL-9 e CXCL-10 (suplementados) ↓ TPOAb 31,3% restauraram o eutireoidismo ↓ TPOAb ↓ TgAb Doses fisiológicas de Se influenciam o curso da AIT A terapia de MI + Se é efetiva no tratamento da HT, restaurando o estado eutireoidiano daqueles com SH SeMet em pacientes no SH são melhorados ainda mais pelo cotratamento com MI; além disso, a terapia com MI reduz as taxas de TSH próximas às concentrações fisiológicas Sugere-se efeito protetor do uso do Se na progressão da doença Se pode restaurar o eutireoidismo em pacientes com hipotireoidismo subclínico decorrente da HT LT + Se resulta em melhores efeitos terapêuticos na prevenção da progressão da TLC Legenda: HT=tireoidite de Hashimoto / LT=levotiroxina / SeMet=selenometionina / m=meses / TgAb=antitireoglobulina / Se=selênio / CAT=tireoidite crônica autoimune / TPOAb=antitireoperoxidase / GPx1=glutationa peroxidase 1 / T3L=T3 livre / DIO=deiodinase / AIT=tireoidite autoimune / Na2SeO3=selenito de sódio / MI=myo-inositol / TSH=hormônio tireoestimulante / T4L=T4 livre / SH=hipotireoidismo subclínico / TLC=tireoidite linfocítica crônica 29 w w w .v po nl in e. co m .b r A importância do selênio nos níveis dos anticorpos antiperoxidase na tireoidite de Hashimoto da glutationa peroxidase GPx119, além de citocinas envolvidas na sinalização imunológica, como a IL-228. Ao verificar o impacto da suplementação de selenometionina no controle oxidativo, De Farias et al.19 encontraram que a elevação de selênio intracelular reduziu o dano provocado por espécies reativas de oxigênio pela elevação na expressão das GPxs. Também concluíram que o aumento da GPx1 auxilia na melhora do estado redox no tireócito, devido ao aumento da atividade da tiorredoxina redutase. Por sua vez, Yu et al.28 verificaram o efeito imunomodulador a partir da diminuição da IL-2 no grupo suplementado, revelando melhora no desequilíbrio da resposta Th1 (linfócito T auxiliar do tipo 1), o qual é predominante em pacientes com tireoidite autoimune. Como o desenvolvimento dessa doença envolve infiltração linfocítica, Esposito et al.20 resolveram analisar o efeito da selenometionina nas citocinas inflamatórias Th1 e Th2 em células T CD4+ e CD8+. Entretanto, não obtiveram sucesso na intervenção, seja nesses parâmetros, seja no anticorpo anti-TPO. Destaca-se que a deficiência de selênio pode estar relacionada com a ocorrência da tireoidite de Hashimoto19,22,25, visto que esse nutriente é essencial para síntese hormonal e defesa antioxidante7,14. Interessante salientar um achado de correlações positiva entre a concentração sanguínea de selênio e o T4 livre e negativa com o TSH28, sugerindo que a depleção desse mineral pode estar ligada à propensão ao hipotireoidismo em indivíduos suscetíveis e à progressão da doença. Corroborando com essa hipótese, De Farias et al.19 mostraram que, quanto menor a concentração de selênio antes da suplementação, maior foi o aumento na atividade da GPx1 na intervenção. Ao encontro desse achado, aponta-se que o quadro de repleção moderada desse mineral nos participantes pode ter refletido na diferença não significativa observada na atividade da GPx3 e na concentração da selenoproteína P depois de 6 ou 12 meses de intervenção26. Pode-se inferir que esse fato tenha contribuído para a ineficácia da suplementação na redução das taxas de anti-TPO nesse estudo. Dessa forma, é possível que o estado da reserva de selênio influencie nos resultados obtidos. Percebem-se efeitos positivos no anticorpo antiperoxidase em intervenções nas quais a dosagem utilizada de selênio é maior do que a dose diária recomendada de 55 µg10. Nacamulli et al.23 suplementou os pacientes com 80 μg de selenito de sódio. Já Yu et al.28, apesar de terem realizado estudo de curto prazo – 3 meses –, conseguiram êxito com dosagens diárias ainda maiores chegando a UL – 400 μg. Nos demais estudos com resultados favoráveis, a suplementação ficou na faixa de 80 a 200 µg, sendo essa dose maior predominante nos estudos de menor tempo de duração. Vale ressaltar que não foram reportados efeitos adversos no uso do selênio nas diversas doses e tempos de administração, com exceção do estudo de Mazokopakis et al.22 que apontou 3 pacientes (3,75%) com desconforto gástrico. Diante desses dados, uma dificuldade observada na comparação dos artigos é a falta de padronização no tipo de suplementação utilizada. Os estudos informam uso de selênio28, selenometionina18,19,25,26,27, l-selenometionina20,22,24 e selenito de sódio21,23. Outra falta de padrão ocorre no momento definido para a administração do selênio, o que prejudica no estabelecimento do que seria ideal. Um estudo orientou a suplementação duas vezes ao dia28, enquanto diversos outros prescreveram uma vez ao dia18,20,22,23,26. Por sua vez, Pirola et al.27 afirmam que a selenometionina era utilizada após refeição, ao passo que outros prescreveram duas horas antes ou após refeição19,21,24,25. Ponto interessante avaliado por Yu et al.28 foi a diferença dos resultados da suplementação em indivíduos eutireoideos e aqueles já com hipotireoidismo instalado. Quando comparados com os pacientes não suplementados, observou- se diferença significativa na redução do anti-TPO apenas naquele subgrupo de pacientes com redução na função tireoidiana, que provavelmente foi reflexo do estado de selênio desses indivíduos. De fato, os dados mostram que, antes do tratamento, sujeitos eutireoideos estavam com valores mais elevados desse micronutriente, favorecendo resultado mais positivo da suplementação naqueles com função tireoidiana prejudicada28. Mais do que efeitos nos parâmetros sanguíneos, alguns trabalhos demonstram melhora tanto no bem-estar de pacientes quanto na ecogenicidade da glândula tireoide23,27. Quadros de aparente remissão da doença também são apontados por resultados negativos de anti-TPO alcançados23. Em outro estudo25, observam-se níveis de anti-TG retornando para a normalidade, concomitantemente com a 30 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Fernanda Fontes Cohen e Daniela de Araújo Medeiros Dias normalização da ecogenicidade. Por sua vez, Pirola et al.27 demonstraram que um terço dos pacientes com hipotireoidismo subclínico decorrente da tireoidite autoimune restauraram o eutireoidismo com a suplementação de selenometionina. Vale ressaltar que Nordio e Pajalich25 conseguiram resultados positivos de forma mais expressiva no grupo com a suplementação combinada com myo-inositol (MI). Mais recentemente, Nordio e Basciani24 também realizaram estudo com essa mesma abordagem: todavia, no grupo de intervenção isolada com l-selenometionina, a única alteração significativa observada foi a melhoria do bem-estar24. Por outro lado, no grupo que utilizou o combo MI-Se, houve redução significativa nos níveis de TSH, anti-TPO e anti-TG, além de elevação do T4 livre e melhoria ainda mais proeminente no bem-estar24. Desse modo, vislumbra-se esse tratamento, talvez, como mais promissor e eficaz, sugerindo a busca por mais evidências que comprovem tais resultados. Uma questão levantada em alguns estudos é a manutenção do efeito benéfico com a retirada da suplementação. Apesar da queda de 15,5% das taxas de anti-TPO observada com 6 meses de intervenção, Mazokopakis et al.22 verificaram incremento de 4,8% nesses valores no grupo que interrompeu o uso de selênio. Não se sabe se, em longo prazo, as taxas retornam para os valores anteriores, mas é essa a tendência observada. Assim sendo, fica complicado estabelecer a eficácia dessa intervenção e a durabilidade dos seus efeitos. Fato curioso observado por Mazokopakis et al.22 foram os níveis basais maiores de anticorpos antiperoxidase em fumantes: promovendo a formação de radicais livres, o fumo onera mais a defesa antioxidante22, o que pode ter contribuído para essa estatística. Quanto aos parâmetros hormonaistireoidianos, algumas alterações pontuais foram observadas. Pirola et al.27 referiram que 31% dos pacientes tiveram seus níveis de TSH restaurados, ou seja, reduzidos à faixa de normalidade. Já De Farias et al.19 apontaram elevação do TSH, mas não atribuíram esse resultado ao efeito da selenometionina, e sim especularam utilização irregular de levotiroxina. Por outro lado, quando houve acréscimo de myo-inositol na suplementação25, verificou-se diminuição do hormônio tireoestimulante a níveis próximos de concentrações fisiológicas, resultado esse justificado pela melhora na sensibilidade a esse hormônio pela modulação via inositol exercendo papel de segundo mensageiro. Além das alterações no TSH, identificaram-se, também, mudanças nos hormônios tireoidianos. Um estudo demonstrou a redução do T4 livre acompanhada da elevação do T3 livre após 3 meses de intervenção20. Esse comportamento deve-se, possivelmente, ao aumento da ação das deiodinases, as quais realizam a conversão de T4 em T3. Apesar de não constarem os níveis séricos de selênio nos dados do artigo, sugere-se que os pacientes tratados eram deficientes nesse mineral pela depleção no solo da região. Curioso notar que o grupo placebo apresentou queda significativa nos níveis de T3. Assim, extrapolando a análise do referido trabalho, considerando a evolução da doença e a maior necessidade de selênio, supõe- se que houve queda na atividade das deiodinases no grupo controle, prejudicando o metabolismo tireoidiano. Dos trabalhos avaliados, alguns demonstraram que não houve diminuição significativa dos anticorpos antiperoxidase, mas foram observados outros aspectos que podem ser relevantes na melhora do quadro patológico. Pilli et al.26 sugeriram efeito imunomodulador da suplementação com selenometionina pelos resultados na redução de CXCL-9 e CXCL-10, citocinas pró-inflamatórias que podem amplificar a resposta autoimune, reforçando o efeito protetor do selênio na progressão da doença. Em contrapartida, outro estudo não encontrou alteração na CXCL-10 com a intervenção20. Os pacientes dos dois estudos não estavam em uso de levotiroxina, mas os envolvidos que haviam recém desenvolvido a tireoidite não apresentaram melhorias20. Assim, sugere-se a influência do grau de evolução da doença. Parece que o impacto positivo em CXCL-10 foi resultado da intervenção frente a um quadro patológico um pouco mais avançado. Diante do exposto, percebe-se a importância do selênio no tratamento da tireoidite autoimune. Ainda que os resultados não sejam conclusivos quanto ao seu uso efetivo na diminuição das taxas dos anticorpos antiperoxidase, parece que o impacto dessa intervenção pode trazer melhoras no quadro geral da doença, devendo ser considerada na terapia dos pacientes. Como limitação no estabelecimento da eficácia dessa abordagem, tem-se a fase da doença contemplada nos estudos. Deveria ser realizada 31 w w w .v po nl in e. co m .b r A importância do selênio nos níveis dos anticorpos antiperoxidase na tireoidite de Hashimoto pesquisa estratificando os pacientes pelo grau de evolução da patologia. Entretanto, até essa delimitação não é fácil de ser estabelecida pela própria complexidade envolvida, visto que esse distúrbio da tireoide ainda não tem patogênese definida de forma completa2. Outras limitações estão na dificuldade de estabelecer o grau de deficiência de selênio, ainda mais quando se consideram os níveis intracelulares. Além disso, um maior tempo de intervenção talvez trouxesse dados mais sólidos para avaliação de efeitos de longo prazo, e o tamanho da amostra envolvida poderia trazer dados mais consistentes se fosse abordado um quantitativo mais expressivo de pacientes. Apesar da definição desse parâmetro ter sido baseada no mínimo necessário para se obter resultados significativos, certamente uma amostra maior traria mais peso nas conclusões estabelecidas pelo estudo. Nesse sentido, existe um ensaio clínico sendo realizado por Winther et al.30 com 236 participantes em cada grupo (placebo e controle). Infelizmente, essa pesquisa ainda está em fase de análise de dados, não podendo compor, assim, esta revisão. Visto que, no escopo deste trabalho, se observaram resultados mais efetivos com a utilização do myo-inositol, sugerem-se mais pesquisas abordando esse composto, seja de forma isolada ou combinada com o selênio, em intervenções futuras, vislumbrando alternativas ao tratamento do Hashimoto. Faz-se necessário avaliar o comportamento dos marcadores com a retirada dessa suplementação, assim como já foi contemplado em alguns estudos apenas com selênio. Conclusões Os tratamentos alternativos vêm ganhando destaque, posto que a doença de Hashimoto é a tireoidite autoimune mais prevalente e que seu tratamento convencional deixa a desejar. Esses tratamentos estão sendo estudados de forma a modular a resposta imunológica e promover melhora da qualidade de vida dos pacientes, buscando preservar a glândula tireoide. Nesse sentido, observam-se diversos trabalhos abordando a utilização do selênio na tentativa de conter a progressão da lesão tireoidiana e promover a remissão da doença. Considerando que o anticorpo antiperoxidase é o principal marcador dessa tireoidite, esta revisão avaliou os efeitos do selênio nesse parâmetro. São necessários mais estudos para avaliar a real ingestão de iodo e selênio pela população brasileira, com a finalidade de evitar sua deficiência ou, ainda, seu excesso. Sugere-se que pesquisas sejam realizadas em outras bases de dados, bem como seja verificada a possível interferência de outros nutrientes ou substâncias alimentares na função tireoidiana. Conclui-se que ainda não há consenso quanto à diminuição do anti-TPO na administração desse micronutriente. Entretanto, a falta de padronização dos estudos realizados e das amostras envolvidas entra como fator limitante, visto que, mesmo sem estabelecer certeza da eficácia dessa terapia, vários trabalhos apontam benefícios, seja nos parâmetros dos anticorpos da tireoide, seja em outros marcadores inflamatórios que afetam a saúde da glândula e do organismo do paciente como um todo. Diante das análises realizadas, apesar de o efeito no anti-TPO ainda não estar bem estabelecido, sugere-se que o uso do selênio é benéfico na terapia de pacientes com Hashimoto, cabendo ainda ser esclarecida a dose ideal e a melhor forma de suplementação. Observa-se a necessidade de pesquisas futuras para avaliar a resposta ao tratamento dessa tireoidite com o impacto nos parâmetros relevantes, entre eles o anticorpo antiperoxidase, por meio do manejo de alimentos ricos em selênio. Referências 1. BROWN, R. S. Autoimmune thyroid disease: unlocking a complex puzzle. Curr Opin Pedriatr; 21 (4): 523-28, 2009. 2. CATUREGLI, P.; DE REMIGIS, A.; ROSE, N. R. Hashimoto thyroiditis: Clinical and diagnostic criteria. Autoimmun Rev; 13 (4-5): 391-97, 2014. 3. PEARCE, E. N.; FARWELL, A. P.; BRAVERMAN, L. E. Thyroiditis. N Engl J Med; 348 (26): 2646-55, 2003. 4. MARTINS, M. A.; CARRILHO, F. J.; ALVES, V. A. F. et al. 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À medida que os indivíduos perdem peso, travam uma batalha crescente contra as respostas biológicas que se opõem à perda de peso adicional. Esse processo pode ser dividido em algumas fases, que traduzem as alterações decorrentes de uma restrição energética em curso temporal: Choque, Adaptação, Resistência e Manutenção. Intervenções nutricionais baseadas nas alterações endócrinas que ocorrem em cada uma das fases do emagrecimento, de forma específica, podem representar melhores estratégias de perda e manutenção da perda de peso corporal, evitando o “efeito sanfona” vivenciado por muitos indivíduos. Palavras-chave: Obesidade, emagrecimento, hormônios, nutrição. Although a loss of weight may be achieved through a dietary restriction and/or the increase of physical activities, its maintenance is rare, leading to a recurring weight cycle related to the worsening of metabolic and cardiovascular conditions. The objective of this paper is to present nutritional strategies on weight loss and maintenance of the lost weight, through modulation of the major hormones involved in the weight loss process. Therefore, a narrative review of the literature was conducted in PubMed and LILACS databases. The terms used were: obesity, overweight, weight loss, weight maintenance, calorie restriction, metabolism, hormones, strategies, nutrition and diet. As the individuals lose weight, they fight an increasing battle against biological responses that oppose a further weight loss. This process can be divided into some phases, which reflect changes due to an ongoing energetic restriction. They are: Shock, Adaptation, Resistance and Maintenance. Nutritional interventions based on neurophysiological changes that happen in each of the weight loss phases, in a specific way, may possibly represent strategies on loss and maintenance of weight, avoiding fat rebound effect faced by many individuals. Keywords:Obesity, weight loss, hormones, nutrition 34 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Nathércia Percegoni e Ana Paula Souza Pereira de Siqueira A Introdução A obesidade continua sendo uma enfermidade de elevada prevalência, com consequências vasculares, metabólicas e psicossociais1-3. Embora a perda de peso possa ser alcançada por meio de restrição dietética e/ou aumento de atividade física, sua manutenção em longo prazo é rara e difícil, levando, frequentemente, ao ciclo recorrente de perda e ganhode peso corporal. Há uma contribuição genética para a determinação do peso de um indivíduo4, mas, em última análise, o estado estacionário do peso corporal é influenciado por diversos fatores, que se dividem em três categorias inter-relacionadas: homeostáticos, regulados pelo sistema neuro- hormonal; ambientais (ambiente obesogênico), que impacta as áreas cerebrais relacionadas ao sistema de recompensa; e comportamentais5. Há evidências de que a redução do peso aumente o apetite e a preferência por alimentos de elevada densidade calórica6,7. As intervenções visando perda de peso, em geral, são capazes de induzir uma redução de 9,5% em relação ao peso inicial. No entanto, um ano após as intervenções, apenas 54% desta perda é mantida8. São necessárias intervenções que possam manter o peso perdido e evitar e “efeito sanfona”, comum após o processo de emagrecimento. Metodologia Foi realizada revisão narrativa da literatura nas bases de dados PubMed e LILACS, além de livros-texto. Os termos utilizados na busca foram: obesidade, sobrepeso, perda de peso, emagrecimento, manutenção do peso, restrição calórica, metabolismo, hormônios, estratégias, nutrição e dieta. Foram incluídos artigos originais e de revisão, sem restrição de tempo de publicação. Fases da perda de peso As mudanças fisiológicas sobrepostas que ocorrem com a perda de peso ajudam a explicar o curso do tempo de emagrecimento mais frequente: perda de peso seguida de recuperação progressiva do mesmo9. Diferentes intervenções resultam em graus variáveis de perda de peso e recuperação, mas os cursos em tempo integral são semelhantes. À medida que os indivíduos perdem cada vez mais peso, travam uma batalha contra as respostas biológicas que se opõem à perda de peso adicional10. Tal processo consiste em um mecanismo de defesa orgânico, que visa manter os estoques de energia para possíveis situações de necessidade. Júnior11 propôs um modelo representativo das etapas envolvidas na perda de peso. A curva em formato parabólico (Figura 1) está dividida em três fases, que traduzem os processos neurofisiológicos decorrentes de uma restrição energética em curso temporal. São elas: Choque, Adaptação e Resistência. Neste texto será trabalhada ainda uma quarta fase: Manutenção. Figura 1. Curva de perda de peso. Peso Corporal 1ª fase Choque 2ª fase Adaptação 3ª fase Resistência Plato Tempo do Programa de Dieta Fonte: Adaptado de Júnior11. 35 w w w .v po nl in e. co m .b r Balanço hormonal e efeito sanfona pós-emagrecimento Fase 1 – Choque Nesta fase, os sistemas fisiológicos não são capazes de igualar o gasto ao consumo energético, principalmente quando há restrições severas, levando a uma perda de peso mais acentuada nos primeiros 15 dias, em média. Como característica, o início da curva de perda de peso apresenta uma inclinação negativa acentuada. As primeiras adaptações, iniciadas nesse período, envolvem a diminuição da termogênese induzida pela dieta (TID), da secreção e ação dos hormônios da tireoide (T4 e T3) e, consequentemente, do metabolismo celular11. Embora represente uma proporção relativamente pequena do gasto energético total (cerca de 10%), a TID é um componente importante do desenvolvimento e manutenção da obesidade, e qualquer restrição energética leva à sua redução12. Toda perda de peso resulta em perda de tecido metabolicamente ativo13. Os estudos referem-se à queda no gasto energético como termogênese adaptativa, e sugere-se que funcione para promover a restauração do peso corporal basal14,15. É provável que a magnitude dessas adaptações seja proporcional ao tamanho do déficit de energia, portanto é recomendado utilizar o menor déficit possível para promover perda de peso no início da intervenção nutricional16,17. A redução de peso resulta em modificações na homeostase dos hormônios tireoideanos18, caracterizadas pela supressão central do eixo hipotálamo-hipófise-tireoide e pela inibição da conversão periférica de T4 em T3, o que, por sua vez, pode levar à queda da taxa metabólica19. Mais recentemente, além do papel desses hormônios na regulação do gasto energético, tem-se estudado os seus efeitos na regulação do processo de fome- saciedade. A expressão reduzida do receptor tipo beta (TRb) no hipotálamo promoveu maior consumo alimentar e ganho de peso em camundongos. As possíveis causas da hiperfagia deveram-se à redução da expressão de pró- opiomelanocortina (POMC) e do gene associado à massa de gordura e obesidade (FTO), bem como ao aumento na expressão de neuropeptídeo Y (NPY) no hipotálamo18. Alguns compostos como toxinas, edulcorantes alimentares e pesticidas, além do consumo de brássicas e minerais como zinco, selênio e iodo, têm sido associados à função tireoidiana. Toxinas como bisfenol A (BPA) têm potencial para afetar a sinalização de hormônios tireoidianos (HT)20. A principal via de exposição ao bisfenol é a comida21. O BPA tem estrutura química semelhante aos HT e é capaz de se ligar aos receptores tiroidianos (TR), especialmente TRb, interrompendo a transcrição genética mediada por TR in vitro e in vivo22,23. Altos níveis séricos ou urinários de BPA estão positivamente correlacionados a obesidade, resistência à insulina e síndrome metabólica20. Os pesticidas organoclorados (OCs) também têm demonstrado atividade disruptora da tireoide. Em animais, os pesticidas OC podem afetar a desiodação de HT, interferir com a função do receptor de hormônio tireoestimulante (TSH) e se ligar aos receptores T3 e T4, alterando a expressão de genes mediada por HT24,25,26. Organofosforados, ditiocarbamatos e piretroides podem interferir com a função da tireoide, afetando o eixo hipotálamo- hipófise-tireoide27. A sucralose figura como o edulcorante mais associado aos efeitos interferentes na tireoide 29-32, reduzindo a atividade da tireoperoxidase (TPO) e do TSH e as concentrações plasmáticas de TH totais. Entretanto, ao mesmo tempo, aumentaria os índices de T3 e T4 livres33. Os nutrientes mais relacionados à atividade da tireoide são iodo, selênio e zinco. As necessidades individuais de iodo para garantir a síntese de T4 e T3 são pequenas34-36. De acordo com a OMS, 30,6% da população mundial apresenta insuficiência de iodo36. No Brasil, o estado nutricional de iodo geralmente é adequado37. Zinco e selênio são essenciais para a atividade das desiodases, necessárias para a interconversão de T4 para T338,39. Vários estudos relataram concentrações mais baixas de zinco no soro de indivíduos com excesso de peso, em comparação aos indivíduos eutróficos40. Alguns têm demonstrado redução significativa de T3 e T4 devido à deficiência de zinco, bem como um efeito inibitório sobre hormônios tireoidianos41,42, enquanto a suplementação apresentaria efeito oposto43,44. A deficiência de selênio é menos preocupante, pois a atividade das desiodases diminui apenas na deficiência grave desse mineral45-48. A ingestão dietética de vegetais da família das brássicas, que inclui brócolis, couve, nabo, rabanete e couve-flor, foi associada a efeitos adversos sobre a tireoide. Os efeitos da goitrina e dos tiocianatos presentes nessa espécie podem inibir a utilização de iodo pela tireoide49-51. Porém, o consumo de tamanhos de porções típicos na 36 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Nathércia Percegoni e Ana Paula Souza Pereira de Siqueira alimentação habitual corresponde às exposições em concentrações muito inferiores às necessárias para prejudicar a função da tireoide52. Fase 2 – Adaptação Na segunda fase da perda de peso, o gasto energético se adapta ao consumo. A perda de peso continua, porém a inclinação da curva é menor11. Os adipócitos com menor volume produzem menos leptina53, o que gera aumento do neuropeptídeo Y (NPY) e queda da resposta do sistema nervoso autônomo simpático (SNS). Outras adaptações incluem diminuição de esteroides sexuaise de HT e aumento de cortisol54-59. A dieta rica em lipídeos leva ao desenvolvimento de resistência central à leptina, provavelmente mediada pela inflamação hipotalâmica, levando à hiperfagia60. A dieta hiperlipídica reduz a expressão do receptor da leptina, aumenta a expressão de NPY e aumenta a proporção de NPY/POMC no hipotálamo. Dessa forma, dieta hiperlipídica não deve ser indicada nessa segunda fase do processo de emagrecimento. As tentativas de reduzir o peso corporal podem aumentar o estresse orgânico61. Cortisol elevado pode estimular o apetite, alterar o humor e o metabolismo periférico a favor do ganho de peso. Em geral, dietas com baixas calorias são menos estressantes que o estado de fome introduzido pelo jejum em curto prazo62. Muitos estudos têm sugerido que a dieta rica em gordura em humanos aumenta os níveis de cortisol e pode afetar negativamente a função cerebral63. Além disso, os indivíduos que praticam exercícios e dietas restritivas durante vários dias contendo menos de 10% da ingestão de energia proveniente dos carboidratos têm respostas maiores de hormônios do estresse (cortisol, epinefrina), além de aumento na produção de citocinas plasmáticas (IL-1a, IL-6, IL- 10), quando comparados aos indivíduos que fazem dietas com médias ou elevadas concentrações de carboidratos64- 66. Uma elevada ingestão proteica (4 g/kg) pode elevar as concentrações de cortisol67-71. Fase 3 – Resistência A terceira fase da perda de peso é denominada resistência, devido à completa adaptação dos sistemas fisiológicos à restrição energética. A taxa metabólica, o gasto energético de repouso e o gasto energético total são baixos. Aqui, a inclinação da curva de perda de peso é próxima a zero, pois consumo e gasto energético se igualam. O baixo consumo energético provoca a diminuição da termogênese, principalmente por redução na ação de T3, já explicitado anteriormente. Essa redução em T3 acontece progressivamente, à medida que o emagrecimento continua11. Quando a perda de peso é estagnada, a alternativa é promover um choque metabólico por modificação do estímulo. Isso pode ser alcançado pela prática ou alteração da atividade física11 ou por meio de estratégias nutricionais diferentes das praticadas até o momento. Em alternativa à restrição calórica diária, o jejum intermitente poderia constituir um “gatilho” para esse “choque metabólico”72-74. Em geral, o jejum intermitente e a restrição calórica constante têm resultados equivalentes na redução do peso corporal. Contudo, o jejum foi considerado superior na supressão temporária da fome75. Trepanowski et al.76 demonstraram que os dois tipos de dietas obtiveram resultados semelhantes em relação à aderência, perda de peso, manutenção de peso e melhoria nos indicadores de risco para doenças cardiovasculares em adultos obesos. Apesar disso, muitos especialistas propuseram que os regimes de jejum podem melhorar a composição corporal em indivíduos com sobrepeso77. Fisiologicamente, práticas de jejum podem predispor um indivíduo a comer em excesso ou compulsivamente78. Essa prática pode esgotar o triptofano, um precursor da serotonina, aumentando a probabilidade de compulsão alimentar em uma tentativa de restaurar seus níveis séricos79. Dessa forma, a prática de jejum pode ser prejudicial para indivíduos vulneráveis ao desenvolvimento de transtornos alimentares80. Indivíduos com transtornos alimentares aumentaram significativamente a ingestão de alimentos após um jejum de 14 horas81,82. Alguns componentes dietéticos podem potencializar a termogênese e estimular a biogênese mitocondrial via produção de tecido adiposo bege (TABE)83,84. Neste sentido, os componentes bioativos dos alimentos mais estudados em humanos são: a capsaicina e seus capsinoides análogos, chá verde e suas catequinas e curcumina. A capsaicina, presente nas pimentas vermelhas, possui capacidade de aumentar o gasto de energia e a oxidação da gordura, especialmente em altas doses (~10 mg/dia)85-87. Em estudos em animais, os capsinoides mostraram efeitos β-adrenérgicos8, 37 w w w .v po nl in e. co m .b r Balanço hormonal e efeito sanfona pós-emagrecimento e a capsaicina (20-200 mg/kg de peso corporal) aumentou a secreção de catecolaminas89. Mais estudos devem ser realizados, pois a ativação de receptores adrenérgicos pode desencadear efeitos adversos como taquicardia, hipertensão arterial e vasoconstrição, entre outros90. A suplementação diária de 200 mg/kg de curcumina, após a cessação da prática de exercícios físicos e restrição calórica, levou a melhoria na sensibilidade à insulina e no teor de gordura corporal e reduziu a corticosterona circulante84, 91. A suplementação de 800 mg de curcumina duas vezes ao dia foi tolerável, aumentou a perda de peso e promoveu a redução da massa gorda, bem como das circunferências da cintura e do quadril em humanos92. A curcumina induz marcadores específicos de TABE, podendo ser implicada nos processos de biogênese mitocondrial93. O chá verde94.95 também está associado à perda de peso. Tanto a mistura de catequina e cafeína quanto apenas cafeína foram capazes de aumentar o gasto energético em humanos, mas apenas a combinação de catequinas e cafeína resultou em aumento da oxidação de ácidos graxos96. Além das moléculas mencionadas, outros compostos bioativos dos alimentos e fitoquímicos estão sob invest igação como possíveis termogênicos. Porém, mais estudos em humanos são necessários. Fase 4 – Manutenção A manutenção do peso corporal pós- emagrecimento tem demonstrado ser mais difícil que a perda de peso97. Uma revisão sistemática realizada com estudos de manutenção de peso demonstrou que é necessária, basicamente, uma combinação de atividade física regular, restrição de energia e estratégias comportamentais para manutenção de peso em longo prazo, associadas à vigilância constante, naqueles indivíduos com predisposição ao ganho de peso8. As dietas com elevada concentração de proteínas (18-40% do valor energético total - VET), durante a fase de manutenção do peso parecem promover melhor manutenção do peso perdido88,99. Contudo, o efeito em longo prazo não é conclusivo na maioria dos estudos100. Uma metanálise evidenciou que o incentivo a uma menor ingestão de carboidratos (com ingestão de proteína de 25-60% do VET) favoreceu perda de peso e gordura corporal sem efeito na massa magra101. Por outro lado, Naude et al.102 compararam os efeitos de dietas hipocalóricas equilibradas com a distribuição de macronutrientes dentro da faixa recomendada (45 a 65% do VET para carboidratos, entre 10 e 35% para proteínas e entre 20 e 35% para gorduras) e dietas com baixo teor de carboidrato (< 45% do VET) e demonstraram perda de peso semelhante em ambos os grupos após 3 a 6 meses e 1 a 2 anos de acompanhamento. Em contrapartida às diferentes estratégias que podem ser empregadas para alcançar a perda de peso efetiva, estudos revelam que o nível de aderência dietética, em vez do tipo de dieta, é o principal preditor da perda e manutenção do peso103-106. Considerando-se todas as variáveis discutidas acima, não é possível simplificar a conduta nutricional apenas à distribuição de macronutrientes: outras variáveis como aceitação, palatabilidade, consumo de fibras, dentre outras, devem ser levadas em consideração107,108. Conclusão Durante o processo de emagrecimento, muitas alterações endócrino-metabólicas determinam diferentes fases da perda de peso. As intervenções nutricionais devem ser direcionadas para cada uma dessas fases, visando a manutenção de peso corporal sem “efeito sanfona”. Referências 1. LANDEIRO, F. M.; QUARANTINI, L. C. Obesidade: controle neural e hormonal do comportamento alimentar. Rev Ciênc Méd Biol; 10 (3): 236-245, 2011. 2. MUST, A. et al. The disease burden associated with overweight and obesity. J Am Med Assoc; 282 (26): 1523-1529, 1999. 3. FIELD, A. E. et al. Impact of overweighton the risk of developing common chronic diseases during a 10-year period. Arch Int Med; 161 (13): 1581-1586, 2001. 4. LENARD, N.R.; BERTHOUD, H. Central and Peripheral Regulation of Food Intake and Physical Activity: Pathways and Genes. Obesity; 16: 11-22, 2008. 5. GREENWAY, F. L. Physiological adaptations to weight loss and factors favouring weight regain. 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Desde a Antiguidade, vem sendo usada para fabricação de óleos voláteis, e a casca da madeira, como especiaria. As primeiras propriedades relatadas são sua ação antioxidante, seus efeitos antidiabéticos e ações antimicrobiana e antifúngica. O principal composto bioativo da canela ainda não está esclarecido: parece ser o cinamaldeído, porém outros compostos têm demonstrado ação. Os principais mecanismos sugeridos para a ação hipoglicemiante da canela são a redução do esvaziamento gástrico, inibição das enzimas α-glicosidase e α-amilase pancreática, aumento dos níveis GLP-1, ativação dos receptores da insulina, aumento da expressão gênica e maior translocação do GLUT-4, ativação do GLUT-1, redução da gliconeogênese e aumento da glicogênese, aumento da expressão de PPAR-α e PPAR-γ. Estudos in vitro e in vivo favorecem o uso da canela para o controle glicêmico, porém o “n” reduzido dos estudos e as evidências conflitantes, contraditórias e heterogêneas tornam a eficácia da canela questionável. Conclusão: há poucos estudos sobre a canela em DM1, sem efeitos significativos em humanos; em DM2, os efeitos são melhores em pacientes descompensados; no DMG, não é recomendado extrapolar os dados para humanos. A toxicidade da canela é baixa, e seu uso é seguro por até 4 meses, de acordo os estudos. Doses usuais (pó ou extrato seco): 500 mg a 6 g/dia. Palavras-chave: Cinnamomum, canela, diabetes mellitus. Abstract Diabetes is classified as a heterogeneous group of metabolic disorders characterized by hyperglycemia resulting from defects in insu- lin action, secretion, or both. In type 1 diabetes (T1DM), beta-pancreatic cell destruction leads to insulin deficiency. Type 2 diabetes (T2DM) is a result of defects in the production and action of insulin and in the regulation of hepatic glucose production. Gestational diabetes (GDM) is associated with both insulin resistance and its decreased production. Cinnamon is a spice obtained from several species of trees of the genus Cinnamomum, family Lauraceae, and in Greek it means "sweet wood". Since ancient times it has been used for the manufacture of volatile oils, and the bark of wood, as spice. The first reported properties are its antioxidant action, an- ti-diabetic effects and antimicrobial and antifungal actions. The major bioactive compound of cinnamon is still unclear: it seems to be cinnamaldehyde, but other compounds have shown action. The main mechanisms suggested for the hypoglycaemic action of cinnamon are gastric emptying reduction, inhibition of α-glycosidase and pancreatic α-amylase enzymes, increase of GLP-1 levels, activation of insulin receptors, increase in gene expression and greater GLUT-4 translocation, activation of GLUT-1, reduction of gluconeogenesis and increased glycogenesis, increased expression of PPAR-α and PPAR-γ. In vitro and in vivo studies favor the use of cinnamon for glycemic control but the reduced "n" of the studies and the conflicting, contradictory and heterogeneous evidences make the cinnamon efficacy questionable. Conclusion: there are few studies about cinnamon in T1DM, with no significant effects in humans; in T2DM, the effects are better in decompensated patients; in GDM, it is not recommended to extrapolate data to humans. The toxicity of cinnamon is low, and its use is safe for up to 4 months, according to studies. Usual doses (powder or dry extract): 500 mg to 6 g/day. Keywords: Cinnamomum, cinnamon, diabetes mellitus. Use of cinnamon in the prevention and treatment of Diabetes Mellitus 42 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Adriano Cavalcanti Nóbrega e Camila Komatsu DDiabetes mellitus é classificado como um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos caracterizados por hiperglicemia resultante de defeitos na ação da insulina, na secreção desta, ou em ambas. Tem sua classificação etiológica dividida em tipo 1 (autoimune ou idiopático), tipo 2, gestacional e outros tipos específicos. Há, ainda, duas categorias de risco aumentado conhecidas como pré-diabetes: a glicemia de jejum alterada e a tolerância diminuída à glicose1. No diabetes tipo 1 ocorre destruição das células beta-pancreáticas, levando à deficiência de insulina. Corresponde a 5-10% dos casos de diabetes e é mais comum em crianças e adolescentes. O tipo 1A (autoimune) apresenta intensa associação entre genética (associada ao sistema HLA classe II) e fatores ambientais, sendo os principais: infecções virais, hipovitaminose D, introdução precoce ao leite de vaca e interrupção precoce do aleitamento materno. Já o tipo 1B (idiopático) é a minoria dos casos de DM1, tem causa desconhecida e caracteriza-se pela ausência de marcadores de autoimunidade e pela não associação ao sistema HLA1. Já o diabetes tipo 2, que corresponde a 90-95% dos casos, é resultante de defeitos na produção e ação da insulina e na regulação da produção hepática de glicose (disfunção de células alfa) (Figura 1). Apresenta intensa associação entre genética e ambiente, é mais comum após 40 anos e está relacionada com sobrepeso/obesidade (achado comum ao diagnóstico)1. Figura 1. Sequência patogênica de eventos que levam ao desenvolvimento de resistência à insulina Fonte: Adaptado de: SBD1. Deficiência de Insulina Resistência à Insulina Hiperglicemia Pâncreas Fígado Tecido adiposo e muscular Produção hepática de glicose aumentada Captação de glicose diminuída Éconsiderada diabetes gestacional (DMG) qualquer intolerância à glicose apresentada pela primeira vez na gestação. É um dos agravos mais comuns nesta fase (1-14%; no Brasil, 7%), apresentando reversão pós-parto, porém com risco aumentado de desenvolver DM2 em 10-63% destas mulheres em 5-16 anos. Associa-se tanto à resistência à insulina quanto à menor produção desta (semelhante ao DM2)1. Em resumo, o DM2 apresenta produção insuficiente de insulina, baixa ação periférica, elevada produção hepática de glicose. O tratamento visa, portanto, a melhorar ou aumentar a produção de insulina, melhorar sua ação nos tecidos periféricos e reduzir a produção hepática de glicose. 43 w w w .v po nl in e. co m .b r Uso da canela na prevenção e tratamento do diabetes mellitus No DM1 há ausência de produção de insulina, portanto o tratamento visa à reposição deste hormônio (não há como melhorar ou aumentar a produção, uma vez que as células produtoras estão mortas). Importante salientar que é possível haver resistência à insulina não associada à etiopatologia do DM1, mas sim aos hábitos de vida, como sedentarismo, má alimentação, entre outros. O DMG apresenta tanto produção insuficiente de insulina quanto menor ação periférica. Nesse contexto, é importante avaliar os riscos teratogênicos de qualquer tratamento. Dados epidemiológicos apontam que, em 2015, havia 415 milhões de diabéticos no mundo, e a previsão para 2040 é que este número alcance 642 milhões2. Diabetes é uma doença complexa e multifatorial, necessi tando de t ratamentos conjuntos e complementares. Em geral, os pacientes apresentam baixa aderência aos tratamentos convencionais, seja porque são complexos, por riscos de hipoglicemias ou efeitos secundários, seja por crenças3. Estudos demonstram que pacientes diabéticos são 1,6 vezes mais propensos a aderir a tratamentos complementares e alternativos do que não-diabéticos4. Nesse contexto, ganha espaço a medicina integrativa, que combina medicina convencional com medicina complementar baseada em evidências3. Além disso, parte da população diabética não tem acesso aos medicamentos convencionais5. Todos esses aspectos justificam o estudo da fitoterapia aplicada ao diabetes. A canela é uma especiaria obtida de várias espécies de árvores do gênero Cinnamomum, família Lauraceae. Em grego significa “madeira doce”. Existem mais de 250 espécies identificadas, sendo 20 só na Índia. A C. cassia, conhecida como “canela chinesa”, é a mais estudada e comercializada; já a C. verum ou zeylanicum é conhecida como “canela verdadeira” ou C. ceylon, originária do Sri Lanka6. Desde a Antiguidade a canela vem sendo usada para fabricação de óleos voláteis extraídos das folhas e utilizados em sabonetes e perfumes, e a casca da madeira (pó, raspa, rama/pau), como especiaria, agregando aroma e sabor a alimentos e bebidas6. O óleo extraído das folhas e do caule é rico em eugenol, cinamaldeído, copane, cinamil-acetato e cânfora, sendo estes considerados os principais compostos bioativos da canela6. As primeiras propriedades relatadas foram sua ação antioxidante (melhorando o funcionamento celular por meio da ação do eugenol); efeitos antidiabéticos, através da ação potencializadora da insulina (cinamaldeído) e da própria ação antioxidante; ação antimicrobiana, conservando carnes; ação antifúngica em milho e contra salmonela em queijos, sendo conhecida, assim, como um conservante natural6. Verificando a ação hipoglicêmica do cinamaldeído, foi utilizado extrato da C. zeylanicum em ratos diabéticos (STZ), resultando em significativa redução da glicemia em jejum (GJ) e da hemoglobina glicosilada (HbA1c)7. A administração do óleo essencial extraído da C. ramulus, rico em ácido 2-metoxi-cinâmico, apresentou a maior concentração sérica do metabólito hepático do cinamaldeído8. Interessantemente, Anderson et al.5, utilizando extrato aquoso de canela, reportaram aumento de 20 vezes na ação da insulina em adipócitos sobrenadantes com glicose. O extrato utilizado era rico em compostos hidrossolúveis com efeitos antioxidante e insulin-like, sendo os principais: flavonoides, catequina e epicatequina (estes últimos os compostos bioativos). Nesse estudo, cinamaldeído, eugenol e 2-metoxi-cinamaldeído não apresentaram nenhuma ação insulin-like5. Em virtude dos diferentes resultados encontrados na literatura, Medagama afirma que “as evidências disponíveis acerca dos compostos ativos da canela continuam inconclusivas. Múltiplos compostos ativos em diferentes níveis da sinalização da insulina é provavelmente uma interpretação intermediária e segura enquanto evidências mais robustas surgem”9. Ainda segundo Medagama9, os principais mecanismos sugeridos para a ação hipoglicemiante da canela estão descritos na Figura 2. São eles: redução do esvaziamento gástrico, inibição das enzimas α-glicosidase e α-amilase pancreática, aumento dos níveis de GLP-1, ativação dos receptores da insulina, aumento da expressão gênica e maior translocação do GLUT-4, ativação do GLUT-1, redução da gliconeogênese e aumento da glicogênese, aumento da expressão de PPAR-α e PPAR-γ9. 44 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Adriano Cavalcanti Nóbrega e Camila Komatsu Shen et al.10 avaliaram os efeitos não insulinodependentes da canela em ratos induzidos ao DM1 e não tratados. Para isso, compararam grupo placebo versus grupo tratado com extrato aquoso de canela (CE) na dose de 30 mg/kg/dia por 22 dias. Houve redução da glicemia e nefropatia, aumento na regulação da UCP-1, aumento na translocação de GLUT-4 para a membrana no tecido adiposo marrom e músculo esquelético. Como conclusão, os autores afirmam que “a canela apresentou efeitos antidiabéticos independentes da insulina, pois aumentou a atividade mitocondrial e a captação periférica de glicose”. Altschuler et al.11 realizaram o primeiro ensaio com canela em pessoas com DM1. Em um estudo duplo-cego, placebo, randomizado, 72 indivíduos usaram 1 g de canela em pó ou placebo por 90 dias. Foram avaliados HbA1c, total de insulina utilizada ao dia e efeitos adversos (hipoglicemia). Nenhum benefício foi encontrado com o uso da canela em indivíduos diabéticos tipo 1. Em ratos diabéticos tipo 2, Babu et al.7 utilizaram 5, 10 e 20 mg/kg/dia durante 45 dias, comparando-os a ratos saudáveis e ratos diabéticos usando glibenclamida. Houve redução significativa (p<0,05) de GJ, HbA1c e colesterol Figura 2. Mecanismos moleculares pelos quais a canela exerce atividade hipoglicêmica FígadoWAT PPAR-α ACO PPAR-γ LPL CD36 GLUT4 Redução da Resistência à Insulina Canela Estômago 1. Atrasos no esvaziamento gástrico 2. Inibição da amilase pancreática 3. Inibição da glicosidase Pâncreas Intestino Delgado Glicose Célula 4. Melhora da fosforilação do receptor de insulina 6. Translocação do GLUT-4 para a membrana 5. Síntese do receptor GLUT-4 Aumento da atividade de PK Redução da atividade de PEPCK Aumento da síntese de glicogênio PK: piruvato quinase; PEPCK: fosfoenolpiruvato carboxiquinase; PPAR-gama: receptor ativado por proliferadores de peroxissoma gama; WAT: tecido adiposo branco; ACO: acil-CoA oxidase; GLUT-4: proteína transportadora de glicose-4; LPL: lipoproteína lipase; CD36: Transportador de ácidos graxos Fonte: Adaptado de: Medagama9. 45 w w w .v po nl in e. co m .b r Uso da canela na prevenção e tratamento do diabetes mellitus total (CT), aumento de insulina, glicogênio hepático e HDL-c, e normalização das enzimas ALT, AST, LDH com o uso da canela. Extrato aquoso de canela (CAE) nas doses de 200 e 400 mg/kg/dia foi ofertado a 42 ratos obesos e diabéticos versus ratos eutróficos e ratos obesos e diabéticos não tratados com CAE. Como resultado, verificaram-se efeitos antiobesogênico, antidislipidêmico, antidiabetogênico, antioxidante e hepatoprotetor do CAE12. Medagama9 avaliou 7 ensaios clínicos utilizandocanela em indivíduos diabéticos tipo 2. C. cassia, C. aromaticum e C. burmanii foram as espécies mais utilizadas (C. zeylanicum não foi utilizada em nenhum dos estudos). “N” variou de 25 a 137; a duração dos estudos, de 40 dias a 16 semanas; e as doses, de 500 mg a 6 g/dia. Resultado da análise: cinco estudos apresentaram melhora da GJ e/ou HbA1c, enquanto dois não apresentaram melhora do controle glicêmico. Leash et al.13 e Akilen et al.14, ambos em 2012, Allen et al.15, em 2013, e Costello et al.16, em 2016, publicaram revisões sistematizadas e meta-análises dos principais estudos sobre o uso da canela em diabetes. Leash et al.13 avaliaram 10 estudos com diabéticos tipos 1 e 2, num total de 577 participantes. C. cassia foi a espécie utilizada, em dose média de 2 g/dia por 4 a 16 semanas. O resultado foi inconclusivo para a glicemia em jejum; já para HbA1c, insulina e GPP, houve melhora, mas sem efeito estatístico. Leash et al.13, destacam os riscos de vieses moderados na maioria dos estudos. Akilen et al.14 investigaram 6 estudos com diabéticos tipo 2, num total de 435 pacientes, utilizando C. cassia (5 estudos com pó, 1 estudo com extrato), em doses de 1 a 6 g/dia por 40 dias a 4 meses. Para esses autores, houve redução significativa de HbA1c e GJ, entretanto em 2 dos 6 estudos aonde essa redução foi mais significativa (influenciando no resultado da meta-análise), o valor de HbA1c inicial foi mais alto. Allen et al.15, em 2013, analisaram 10 estudos totalizando 543 pacientes diabéticos tipo 2: 6 estudos com capsula ou pó de C. cassia; 1 estudo com C. cassia associada a zinco e cálcio; 1 estudo com C. Aromaticum; e 2 estudos sem descrição da forma de uso da canela. As doses utilizadas foram de 120 mg a 6 g/dia (extrato aquoso ou pó) durante 4 a 18 semanas. Houve redução significativa de GJ, CT, LDL, TG e aumento de HDL comparado ao grupo controle, sem efeito significativo na HbA1c. Como observações, os autores destacam que os dados foram muito heterogêneos para GJ, HbA1c, TG, CT, LDL; houve elevado risco de viés para os resultados da GJ, baixo risco para HbA1c; e as formas encapsuladas apresentaram melhores resultados comparados ao uso em pó. Os pesquisadores ainda compararam o efeito da canela com outras terapias: para o impacto na GJ, compararam canela com metformina (redução de 24,59 e 58 mg/dl, respectivamente) e com sitagliptina (redução de 16 e 21 mg/dl, respectivamente); para o impacto na LDL-c, compararam com a estatina (redução de 9,4 e 50 mg/dl, respectivamente); e para o TG, compararam com fibrato (redução de 29,6 e 50 mg/dl, respectivamente). O grupo apontou, ainda, que a cada estudo adicionado o impacto da canela na redução da HbA1c tornava-se menos evidente, enquanto para a GJ tornava-se maior. O perfil dos pacientes estudados, as doses e formas utilizadas e o tempo dos estudos revelaram forte influência nos resultados sobre a HbA1c. Mais recentemente, Costello et al.16, ao analisar 11 estudos com 694 pacientes diabéticos tipo 2 (em 10 deles foi mantido o uso da metformina) utilizando 120 mg a 6 g/dia de canela por 4 a 16 semanas, concluíram que os 11 estudos reportaram alguma redução na GJ, enquanto que a redução na HbA1c foi modesta. O mais importante da análise do grupo foi a observação de que os dados foram muito heterogêneos e os efeitos modestos tanto na GJ quanto na HbA1c. Em estudo conduzido com ratas gestantes diabéticas, o uso do cinamaldeído reduziu significativamente a hiperfagia e intolerância a glicose durante a gestação; reduziu, ainda, os níveis séricos de frutosaminas, CT, TG, leptina, TNF-α e malondialdeído (MDA), enquanto aumentou níveis de HDL, adiponectina, glicogênio hepático, glutationa-S-transferase, catalase, aumentou a expressão gênica de PPAR-γ e o número de fetos viáveis17. Todavia, esses dados não devem ser extrapolados para mulheres grávidas diabéticas, uma vez que não existem estudos demonstrando segurança. Quanto à toxicidade, Anand et al.18 e Medagama9 avaliaram os efeitos de doses elevadas em animais e humanos, respectivamente. Anand et al.18 demonstraram que o uso agudo por até 4 dias de C. zeylanicum em doses de 100, 200 ou 400 mg/kg em ratos não induziu a morte ou mudança comportamental e não gerou mudanças 46 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Adriano Cavalcanti Nóbrega e Camila Komatsu nas funções renais ou hepáticas, como se pôde ver através dos níveis séricos de ALT, AST, FAL, creatinina e bilirrubinas totais. Medagama9, ofertando doses de 400 mg/ kg (equivalente a 600 a 2.400 mg/kg) a adultos também não demonstrou riscos, parecendo o cinamaldeído não ter efeito tóxico mesmo 20 vezes acima da dose estimada, apresentando, portanto, margem de segurança elevada, ainda que os efeitos sejam contraditórios de acordo com as meta-análises apresentadas anteriormente. A C. cassia, em doses de até 6 g/dia, não apresentou evento adverso significante13. Todavia, em 4 ocasiões houve relato de erupção cutânea, urticária, náusea e hipoglicemia13. A C. cassia possui alto teor de cumarinas9, possivelmente, associado aos efeitos acima relatados. Embora os estudos clínicos com C. cassia não demonstrem efeitos adversos em curto prazo (< 4 m), os riscos com o uso prolongado são desconhecidos9. Considerações sobre os estudos apresentados9: • Estudos in vitro e in vivo favorecem o uso da canela (em pó ou como extrato seco) para o controle glicêmico; • “N” reduzido nos estudos em animais ou com humanos e as evidências conflitantes, contraditórias e heterogêneas tornam a eficácia da canela para o diabetes questionável; • O principal composto bioativo da canela ainda não está esclarecido: parece ser o cinamaldeído, porém outros compostos têm demonstrado ação biológica; • Estudos utilizaram canela isolada ou associada a tratamentos convencionais, podendo causar redução dos efeitos da canela ou competição entre as ações; • Melhora de controle glicêmico, lipidograma e composição corporal foram vistas em ratos diabéticos (STZ), mas não nos ratos saudáveis; • Em humanos, efeitos são mínimos quando o controle glicêmico está próximo do normal (GJ ou HbA1c), sendo mais significativos quando os valores de baseline são mais altos; • Para efeitos na HbA1c, é necessária duração mínima de 2 a 3 meses, mas muitos dos estudos utilizaram período menor em suas metodologias. Como utilizar a canela na prática clínica: • Todos os estudos clínicos randomizados, placebo-controlados, com humanos utilizaram C. cassia. A C. zeylanicum (“verdadeira”) possui menor teor de cumarina, porém não foi utilizada. Canela em pó foi a forma mais utilizada9; • Doses mais comuns: 500 mg a 6 g/dia, sempre junto às refeições, podendo dividir a dose total em 2-3 vezes ao dia9; • Decocção de canela em pau: colocar 2 a 3 ramos em 150-200 ml de água morna e deixar por 5 a 15 minutos; tomar 1 a 3 vezes ao dia; • Em preparações culinárias: bebidas, vitaminas, sucos, chás, cafés, chocolates, carnes, aves, canjicas, arroz doce, esfirras, quibes etc. Conclusões • Canela em diabetes tipo 1: há poucos estudos, sem efeitos significativos em humanos; • Canela em diabetes tipo 2: efeitos melhores em pacientes descompensados; • Canela em diabetes gestacional: não recomendado extrapolar dados para humanos; • Toxicidade: baixa. Cumarinas presentes na C. cassia podem exercer algum efeito nefro ou hepatotóxico em uso prolongado; • Tempo de uso: seguro por até 4 meses, segundo os estudos. • O uso da canela deve ser entendido como tratamento complementar. A base da prevenção e do tratamento do diabetes está no estilo de vida (sono, dieta, exercício, estresse). • A canela é uma das especiarias mais antigas e mais utilizadas na história da humanidade. Embora os estudos sejam controversos quanto ao seu efeito terapêutico no diabetes, seu uso é seguro, e seu impacto gastronômico justifica o estimulo à prescrição Referências1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES (SBD). Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes. SBD, 2015-2016. 2. INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION (IDF). Diabetes Atlas. 7th ed. IDF, 2015. 3. CRAMER, J.A. A systematic review of adherence with medications for diabetes. Diabetes Care; 27 (5): 1218-24, 2004. 4. GARROW, D. et al. 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Se necessário, acrescentar mais água até cobrir os vegetais e deixar cozinhar por mais 10 minutos. Adicionar o pimentão e o gengibre. Apurar o sal e deixar cozinhar mais um pouco, se necessário, até todos os vegetais ficarem macios e o caldo ficar bem espesso. Desligar o fogo e reservar. Em uma frigideira de aço inoxidável, aquecer brevemente o azeite restante e refogar o alho-poró com um pouco de sal até murchar e misturar a salsa fresca. Servir o alho- poró sobre a sopa em pratos individuais ou misturar na panela antes de servir. Observação: usar todos os vegetais orgânicos, podendo adicionar cogumelos, leguminosas ou alguma proteína animal. Modo de preparo: Sopa imunoestimulante de cará-moela, gengibre e alho-poró Sopa imunoestimulante de cará-moela, gengibre e alho-poró Rendimento: • 03 porções 49 w w w .v po nl in e. co m .b r Sopa imunoestimulante de cará-moela, gengibre e alho-poró Propriedades nutricionais da receita • O cará-moela (Dioscorea bulbifera L.), também conhecido como cará-do-ar, cará-voador, cará- aéreo, cará-traramela, cará-de-árvore e cará-borboleta, é um tubérculo aéreo, de formato globular, arredondado ou alado, da família Dioscoreaceae, a mesma dos carás (Dioscorea spp.), originário da Ásia e África1. Rico em carboidratos e com valores apreciáveis de tiamina, riboflavina, niacina, ácido ascórbico e vitamina A3, é considerado uma planta alimentícia não convencional (PANC)2, podendo ser encontrado nas regiões Sudeste e Nordeste do Brasil. Ainda, possui minerais como ferro, cobre, zinco, manganês, cobalto, molibdênio, vanádio, boro, cloro, iodo, bromo e sódio, além de carotenoides, alcaloides, glicosídeos, taninos, polifenóis, flavonoides e saponinas, em especial a diosgenina, que, em conjunto, exercem atividades antitumoral, antidiabética, antidislipidêmica, analgésica, antioxidante, anti-inflamatória, diurética, gastroprotetora, antimicrobiana, antifúngica e cardioprotetora e melhora do sistema imune4. Em ratos, a decocção de D. bulbifera melhorou significativamente as atividades das células Natural Killer, a quantidade de anticorpos de células B e a quantidade e proliferação de linfócitos T5; • A cenoura (Daucus carota L.) é fonte de vitaminas como as do complexo B, C, D, E, fibras e carotenoides como o alfa e β-caroteno6; • A abóbora moranga (Cucurbita maxima), nativa das Américas e cultivada em grande escala no Brasil7, é fonte de fibras alimentares, amido, vitaminas (A, B1, B2 e C), minerais (ferro, cálcio, sódio, potássio, magnésio e fósforo) e β-caroteno, assim como a cenoura8. O β-caroteno possui atividade fotoprotetora9 e contribui com a diminuição do risco de câncer de próstata10. Além disso, por ser precursor de vitamina A, este carotenoide está associado com uma melhora da resposta imune, sendo que uma alta concentração plasmática de β-caroteno foi associada com menor ocorrência de infecções respiratórias agudas em idosos11; • O gengibre (Zingiber officinale) é uma especiaria consumida no mundo todo, rica em vários compostos fenólicos bioativos, incluindo gingeróis, paradol e shogaols, que possuem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, antifúngicas, antimicobacterianas e anticancerígenas12. É eficaz e seguro para combater náuseas e vômitos no contexto da gravidez e quimioterapia13,14. Tem um papel no tratamento de distúrbios respiratórios, reduzindo a inflamação alérgica das vias aéreas, possivelmente pela supressão da resposta imune mediada por Th215. No estudo de Kawamoto et al.16, o 6-gingerol aliviou os sintomas de rinite alérgica por suprimir a produção de citocinas destinadas a ativação e proliferação de células T, o que causou o impedimento da ativação de células B e mastócitos; • O alho (Allium sativum) é fonte de compostos sulfurados responsáveis pelos seus efeitos hipolipemiante, antiplaquetário, antioxidante, hepatoprotetor, anticancerígeno e quimiopreventivo e melhora do sistema imunológico17. Em estudo, a suplementação de alho foi eficaz em fortalecer o sistema imunológico de pacientes com altaincidência de infecções oportunistas, internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI)18; • A cebola (Allium cepa) possui propriedades antioxidante, anti-inflamatória, diurética, hipocolesterolemiante, anticoagulante, antibacteriana e antifúngica19. Possui quercetina, um flavonoide com atividade estimuladora do sistema imunológico, que inibe a liberação de histamina e pode melhorar o equilíbrio Th1/Th2 e restringir a formação de anticorpos IgE específicos para antígenos20. Possui, também, outras substâncias imunomoduladoras como lectinas (Allium cepa Aglutinina)21 e fruto- oligossacarídeos (FOS)22. O reforço imunológico exercido pelo alho e pela cebola foram confirmados por Mirabeau e Samson23; 50 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Wagner Alessandro dos Reis • O alho-poró (Allium porrum) é uma rica fonte de vitaminas C, E, do complexo B, potássio, ferro e cobre, carotenoide, clorofila, glicosídeos e flavonoides24. Além disso, contém polissacarídeos específicos que exercem atividades imunoestimulantes consideráveis25; • O pimentão (Capsicum annuum L.) possui vitaminas, em especial a vitamina C, além de vitaminas A, B1, B2 e minerais como cálcio, ferro e potássio 26. Conforme a recente revisão de Rondanelli et al.27, a suplementação regular de vitamina C reduz a duração (8% em adultos e 14% em crianças) e a gravidade do resfriado comum. O pimentão possui, ainda, carotenoides pró-vitamina A (α-caroteno e β-criptoxantina)28 e outros carotenoides como capsantinas e capsorubina29. Muitos desses compostos estão relacionados com ações antioxidantes, antimicrobianas, antivirais, anti-inflamatórias e anticancerígenas30; • A salsa (Petroselinum crispum) é uma erva que possui compostos fenólicos, flavonoides, óleo essencial e cumarinas e exerce propriedades carminativa, diurética, antisséptica do trato urinário, anti-inflamatória e previne cálculos renais31. Além dessas funções, estudos mostram que a salsa, em especial o seu óleo essencial, pode exercer um importante efeito imunomodulador32,33; • O azeite de oliva extravirgem possui polifenóis e ácidos graxos monoinsaturados, os quais proporcionam proteção contra câncer, aterosclerose e doenças cardiovasculares34,35. Os polifenóis podem, também, modular o sistema imunológico humano e afetar a proliferação e a atividade de linfócitos, bem como a produção de citocinas ou outros fatores que participam da defesa imunológica36; • Por fim, a pimenta-do-reino (Piper nigrum) é uma especiaria muito utilizada na culinária, fonte de piperina, que exerce também efeitos imunomoduladores, além de efeitos anticancerígenos, antiasmáticos, hepatoprotetores, anti-inflamatórios, antimicrobianos e anti-úlcera37. Referências 1. SILVA, D.M.; SIQUEIRA, M.V.; CARRASCO, N.F. et al. Genetic diversity among air yam (Dioscorea bulbifera) varieties based on single sequence repeat markers. 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Indo na contramão do desperdício, que mostra que o mundo produz alimentos em quantidade mais do que suficiente, em várias regiões do mundo a fome continua afetando milhares de pessoas e permanece como um dos desafios de desenvolvimento mais urgentes. Dados da FAO mostram que uma em cada sete pessoas no mundo passa fome e, diariamente, mais de 20 mil crianças menores de 5 anos morrem em decorrência da desnutrição2. De acordo com a ONU, são várias as causas para o desperdício de alimentos: hábitos culturais das populações, falha na gestão e governança da produção e logística para distribuição de alimentos da terra à mesa, modelo agrícola que agride o meio ambiente, com consequências negativas para o solo, água, fauna, flora e a saúde das pessoas3. As perdas alimentares representam, ainda, um desperdício de recursos e insumos utilizados na produção, como terra, água e energia, além do aumento desnecessário das emissões de gases que causam o efeito estufa, uma vez que 25% das terras habitáveis são destinadas à produção de alimentos, a qual é responsável por 70% do consumo de água potável, 80% do desmatamento e 30% das emissões de gases2. O Brasil desperdiça cerca de 35% da produção agrícola e está na entre os 10 países que mais desperdiçam alimentos no mundo4,5. No pós-colheita é estimado que perdas de frutas e vegetais chegue a 45%; de cereais, a 30%; peixes e frutos do mar, a 30%; e carnes e produtos lácteos, a 20%6. As fases de manuseio e transporte são as maiores responsáveis pelo desperdício de alimentos no país, mas outros fatores também contribuem, como o abastecimento e comercialização, a produção no campo, a venda em supermercados e os próprios consumidores6. Com isso, reporta-se que 60% do lixo doméstico brasileiro era composto de restos de comida e sobras, e que o descarte de partes comestíveis de vegetais pode chegar a 30%4. Saiba mais sobre perdas e desperdícios de alimentos no mundo nos links abaixo: http://www.fao.org/docrep/016/i2697s/i2697s.pdf https://www.theweek.in/news/sci-tech/2018/06/09/award-winning-smart-drones-to-take-on-illegal- -fishing.html https://www.theweek.in/news/sci-tech/2018/06/11/AI-matching-human- intelligence-still-decades-away. html https://www.theweek.in/news/sci-tech/2018/06/12/ace-turtle-launches-ai-platform-for-omni-channel- -retail.html https://www.theweek.in/news/india/2018/06/15/monsoon-seen-slowing-indiaafter-strong-start.html https://www.youtube.com/watch?v=q3VFy0XlU7Y https://nacoesunidas.org/fao-recomenda-acoes-para-evitar-perder-um-terco-da-comida-no-mundo 53 w w w .v po nl in e. co m .b r Panorama global do desperdício de alimentos Novo Guia Alimentar para a População Brasileira No Brasil, várias são as iniciativas que orientam o consumo consciente e o combate ao desperdício de alimentos. O Ministério da Saúde lançou, em 2014, um importante instrumento que orienta o consumo de alimentos: o Guia Alimentar para a População Brasileira. Iniciativas brasileiras contra o desperdício de alimentos Guia Alimentar para a População Brasileira, lançado em 2014 pelo Ministério da Saúde. Foto: Rafael Bicalho - ASCOM/CNS O Guia diferencia alimentos de produtos alimentícios A publicação é um instrumento importante para combater a obesidade e o avanço das doenças crônicas no Brasil. Mais da metade da população brasileira está acima do peso. Dados da pesquisa Vigitel 2013 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) indicam que, atualmente, 50,8% dos brasileiros estão acima do peso ideal e 17,5% são obesos. Os percentuais são 19% e 48% superiores aos registrados em 2006, quando a proporção de pessoas acima do peso era de 42,6% e a de obesos era de 11,8%. O Guia orienta as pessoas a optarem por refeições caseiras e evitarem a alimentação em redes de fast food e produtos prontos que dispensam preparação culinária (‘sopas de pacote’, pratos congelados prontos para aquecer, molhos industrializados, misturas prontas para tortas). Outras recomendações são o uso moderado de óleos, gorduras, sal e açúcar ao temperar e cozinhar alimentos e o consumo limitado de alimentos processados (queijos, embutidos, conservas), utilizando-os preferencialmente como ingredientes ou parte de refeições. Na hora da sobremesa, o ideal é preferir as caseiras, dispensando as industrializadas. Preparação do alimento O novo guia também busca valorizar a culinária e indica o planejamento das refeições e interação social, com o envolvimento de amigos e família na elaboração da comida. “No Brasil e em muitos outros países, a transmissão de habilidades culinárias entre gerações vem perdendo força” admite Patrícia Jaime, coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde e responsável pela coordenação geral do projeto de elaboração do Guia Alimentar. “Por isso, o Guia Alimentar dedica uma parte importante de suas recomendações à valorização do ato de cozinhar, ao envolvimento de homens e mulheres, adultos e crianças nas atividades domésticas relacionadas ao preparo de refeições e à defesa das tradições culinárias como patrimônio cultural da sociedade”, enfatiza. 54 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Por: José Maria Filho – Jornalista Os dez passos para uma alimentação adequada e saudável: • Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação; • Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentose criar preparações culinárias; • Limitar o consumo de alimentos processados; • Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados; • Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia; • Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados; • Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias; • Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece; • Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora; • Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais; Fonte: Ascom/MS Acesse o Guia Alimentar para a População Brasileira na íntegra em: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/novembro/05/Guia-Alimentar-para-a-pop-brasiliera- Miolo-PDF-Internet.pdf Saber e Sabor – Publicação da Fundação Mokiti Okada traz novas técnicas dietéticas para o alimento orgânico e utiliza 100% do alimento nas preparações O grupo de alimentação natural da Fundação Mokiti Okada-SP, integrado pelo coordenador Luis Fernando Buck, as nutricionistas Maria Tereza Casulli e Thaís Yumi Kogachi, a engenheira de alimentos Cláudia Regina Valente e grupo de culinaristas voluntários, pesquisa há 14 anos e publica as receitas que são desenvolvidas na cozinha experimental, sempre utilizando alimentos da agricultura natural e orgânicos. Desse estudo nasce uma nova forma de cozinhar com alimentos orgânicos, pois ele tem um comportamento diferenciado do convencional. É uma excelente descoberta pela nova técnica dietética para o orgânico, pois se aproveita 100% do alimento. Sem fator de correção no preparo, seu rendimento é maior, e, consequentemente, o custo final da preparação também reduz significativamente, caindo o mito de que o alimento orgânico é mais caro do que o convencional. Nova tabela de fator de correção específica para o alimento orgânico com comparativo de rendimento e custos: Abóbora Rendim. Org. Rendim. Conv. R$/Kg Org. R$/Kg Conv. R$/Kg F. Corr. Org. R$/Kg F. Corr. Conv. Alface crespa Abóbora Couve-flor Couve-manteiga Cenoura Maçã Pepino 100% 93% 100% 100% 100% 100% 100% 67% 85% 78% 63% 89% 74% 87% 2,40 (maço) 4,20 9,35 12,80 5,50 7,90 4,30 2,46 (maço) 1,19 8,23 6,36 2,29 5,29 3,89 2,40 4,20 9,35 12,80 5,50 7,90 4,30 3,67 1,40 10,55 10,10 2,57 7,15 4,47 Rendim.= Rendimento; Org.= Orgânico; Conv.= Convencional; F. Corr.= Fator de Correção Fonte: Sabor & Saber – Fundação Mokiti Okada - Grupo de Alimentação Natural (www.fmo.org.br) 55 w w w .v po nl in e. co m .b r Panorama global do desperdício de alimentos região para região e também de acordo com a safra. O sistema da CSA baseia-se em atividades que visam aproximar agricultores e consumidores, de forma que possa ser constituída uma parceria direta entre eles. A CSA é uma instituição que incentiva a agricultura orgânica local, permitindo acesso a alimentos de boa qualidade com preço justo, o que fortalece o vínculo entre pequeno agricultor e consumidor7. A CSA ajuda a reduzir o desperdício de comida, pois oferece alimentos orgânicos e biodinâmicos que, por não conterem agrotóxicos e fertilizantes químicos, podem ser consumidos integralmente sem oferecer os riscos à saúde associados a essas toxinas. Saiba mais em: www.csabrasil.org Campanha Stop Food Waste Day contra desperdício de alimentos aconteceu simul- taneamente em mais de dez países O Brasil é um dos países da América Latina que participa de uma grande campanha internacional contra o desperdício de alimentos. A Stop Food Waste Day – Salve o Alimento! – teve seu Dia D em 27 de abril, em São Paulo. A campanha une forças com iniciativas que serão realizadas em mais de dez países, como Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, França, Alemanha, Espanha, Turquia, Japão e Austrália, em todos os continentes onde o Grupo Compass, maior empresa de serviços de alimentação e suporte do mundo, com atuação em mais de 50 países, está presente. No Brasil, a ação acontecerá por meio da GRSA|Compass, que é responsável pela alimentação diária de mais de dois milhões de pessoas em todo o país. A meta global é reduzir o desperdício de alimentos em 50% até 2030 nas operações do Grupo Compass. A nutricionista Dra. Valéria Paschoal (3ᵃ dir. para esq.) e o chef Renato Caleffi (1° dir. para esq.), embaixadores da campanha, com a equipe da GRSA Brasil e Le Majue Organique durante o dia D da Campanha Stop Food Waste Day Brasil no Le Manjue Organique, em São Paulo CSA – Comunidade que Sustenta a Agricultura: uma alternativa fantástica para combater o desperdício de alimentos e os danos ao meio ambiente A Comunidade que Sustenta a Agricultura é uma forma de produção alimentar agrícola que tem por objetivo fornecer alimentos frescos e sem agrotóxicos com um preço acessível, estimulando a agricultura familiar e a cultura orgânica e biodinâmica. A CSA conta com a parceria de produtores e da comunidade interessada na compra de suprimentos alimentares cultivados pela cultura biodinâmica. Os alimentos fornecidos variam de 56 Re vi st a Br as ile ir a de N ut ri çã o Fu nc io na l Por: José Maria Filho – Jornalista Stop Food Waste Day Brasil, fala das ferramentas mais eficazes de combate ao desperdício, desde a sustentabilidade do produtor até formas de aproveitamento total dos alimentos, partes não convencionais e como, por exemplo, as PANCs – plantas alimentícias não convencionais – podem contribuir para o combate ao desperdício e a melhora das condições nutricionais da população. http://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/174909/campanha-global-chama-atencao-para-o- desperdicio-d.htm Outro embaixador da campanha é o chef Renato Caleffi, sócio proprietário do restaurante Le Manjue Organique e especialista em gastronomia orgânica e funcional, pioneiro no assunto. Saiba mais em: VP Centro de Nutrição Funcional: www.vponline.com.br Campanha Stop Food Waste Day: Site mundial: http://www.stopfoodwasteday.com Site Brasil: http://www.stopfoodwasteday.com.br Vídeo institucional: https://www.youtube.com/watch?v=fzQ8t-7xRaU Mídias sociais: @stopfoodwastedaybrasil Referências 1. NAÇÕES UNIDAS DO BRASIL. FAO: 30% de toda a comida produzida no mundo vai parar no lixo. ONUBR, 2017. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/fao-30-de-toda-a-comida-produzida-no-mundo-vai-parar-no-lixo/>. Acesso em: 09/06/2018. 2. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Dia Mundial do Meio Ambiente 2013 reforça campanha contra o desperdício de alimentos. OMS/OPAS, 2013. Disponível em: <>. Acesso em: 09/06/2018. 3. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AGRICULTURA A ALIMENTAÇÃO (FAO). Perdas e desperdícios de alimentos na América Latina e no Caribe. FAO, 2017. Disponível em: <http://www.fao.org/americas/noticias/ver/pt/c/239394/>. Acesso em: 10/06/2018. 4. HENZ, G.P.; PORPINO, G. Food losses and waste: how Brazil is facing this global challenge? Hortic Bras; 35 (4): 2017. 5. GOULART, R.M.M. Desperdício de alimentos: um problema de saúde pública. Integração; 54 (1): 285-288, 2008. 6. BRASIL. EMBRAPA. Perdas e desperdício de alimentos. Disponível em: <https://www.embrapa.br/tema-perdas-e- desperdicio-de-alimentos/sobre-o-tema>. Acesso em: 14/03/2018. 7. VASQUEZ, A.; SHERWOOD, N.E.; LARSON, N. et al. Community-Supported Agriculture as a Dietary and Health Improvement Strategy: A Narrative Review. J Acad Nutr Diet; 117 (1): 83-94, 2017. No link abaixo você poderá ouvir uma entrevista completa concedida pela Dra. Valéria Paschoal ao Programa Noite Total da Radio CBN. A nutricionista, que é embaixadora da campanha Normas para Publicação de Artigos Científicos A Revista Brasileira de Nutrição Funcional publica artigos inéditos que contribuam para o estudo e o desenvolvimento da ciência da nutrição nas áreas de Nutrição Clínica Funcional, Nutrição Esportiva Funcional, Fitoterapia e Nutrição & Ciclos de Vida.São publicados artigos originais (inclusive estudo de caso), metanálise, artigos de revisão e receitas. Os artigos recebidos são avaliados pelo Conselho Editorial da revista. Os autores são responsáveis pelas informações contidas nos artigos. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Nutrição Funcional poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios que surjam no futuro. Ao autorizar a publicação de seus artigos na revista, os autores concordam com estas condições. Envio do artigo Enviar o artigo para a VP Centro de Nutricional Funcional, através do email neiva.souza@vponline.com.br, em arquivo editado com MS Word e formatado em papel tamanho A4, margem (superior, inferior, esquerda e direita) de 2,0 cm, espaço entre linhas de 1,5, Times New Roman, fonte tamanho 12 para o texto e fonte tamanho 7 para as referências bibliográficas. O tamanho máximo total do artigo é de 10 páginas, incluindo resumos, tabelas, figuras, esquemas e referências bibliográficas. Todos os autores citados no corpo do texto devem ser sucedidos por números que constam nas referências bibliográficas. Dessa forma, as referências devem ser relacionadas de acordo com a ordem de aparecimento no texto seguindo as normas da ABNT NBR6023/2002. Os números das referências inseridas no corpo do texto devem ser grafados em sobrescrito e sem espaço. Quando forem várias referências, separá-las por vírgulas sem espaço. Indicar o nome, endereço, números de telefone e fax, além do email e minicurrículo do(s) autor(es). Os autores deverão encaminhar apenas artigo que não foi publicado anteriormente em nenhuma outra revista. Apresentação do Artigo Deve conter o título em português e inglês, o nome completo sem abreviações de cada autor, palavras-chave para indexação em português e inglês, resumo em português e inglês com no máximo 300 palavras, texto com tabelas e gráficos, e as referências. O texto deverá conter: introdução, metodologia, resultados, discussão e conclusões. As imagens obtidas com “scanner” (figuras e gráficos) deverão ser enviadas em formato .jpg em resolução de 300 dpi. A receita deve apresentar: ingredientes, modo de preparo e propriedades funcionais atribuídas à receita. Deve conter no máximo 6 referências bibliográficas. Pacientes envolvidos em estudos e pesquisas devem ter assinado o Consentimento Informado e a pesquisa deve ter a aprovação do conselho de ética em pesquisa da instituição à qual os autores estão vinculados. Guidelines for Publication of Scientific Articles The Brazilian Journal of Functional Nutrition publishes previously unpublished articles which contribute to the study and development of the science of nutrition, in the areas of Functional Clinical Nutrition, Functional Sports Nutrition, Phytotherapy, and Nutrition & Life Cycles. Original articles (including case studies), meta-analysis, reviews and recipes are published. The articles received are evaluated by the journal’s Editorial Board. Authors are responsible for the information contained in their articles. Articles published in the Brazilian Journal of Functional Nutrition may also be published in the electronic (Internet) version of the journal, as well as in other media that might emerge in the future. By authorizing publication of their articles in the journal, authors agree to these conditions. Article submission Articles must be sent to VP Centro Nutrição Funcional at the email address neiva.souza@vponline.com.br, in a MS Word file formatted in A4 paper, 2.0 cm margins (top, bottom, left and right), 1,5 line spacing, Times New Roman font, size 12 for text and size 7 for references. Maximum article length is 10 pages, including abstract, tables, figures, diagrams and references. All authors mentioned in the text body must be followed by numbers also listed in the references. Thus, references must be listed in the order they appear in the text, in compliance with Vancouver norms. Reference numbers in the text body must be in superscript, without space. Several references in a row are to be separated with commas, without space. The name, address, telephone and fax numbers, email address and résumé of the author(s) must be provided. Authors may submit only articles not previously published in other journals. Article Presentation The article must include the title in English, the full (non-abbreviated) name of each author, keywords in English for indexation, abstract in English with a maximum of 300 words, text with tables and graphs, and references. The text must contain: background, methodology, results, discussion and conclusions. Scanned images (illustrations and graphs) must be submitted in .jpg format at a 300 dpi resolution. Recipes must include: ingredients, preparation instructions, and functional properties of the recipe. They must include a maximum of 6 references. Patients enrolled in studies and trials must have signed an Informed Consent Document, and the studies must have been approved by the research ethics committee of the institutions the authors are affiliated to.