Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Sores Aula 00 1 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Aula 00 - Perícia Contábil Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para CFC Prof. Arthur Leone e Prof. Andrey Soares Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Sores Aula 00 2 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Sumário SUMÁRIO .......................................................................................................................................................2 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................................ 3 SOBRE O CURSO ............................................................................................................................................ 5 CONSIDERAÇÕES SOBRE A COBRANÇA DA DISCIPLINA PELO CFC ................................................................ 8 NOÇÕES INICIAIS ......................................................................................................................................... 10 ORIGEM DA PERÍCIA.................................................................................................................................................... 10 CONCEITO ................................................................................................................................................................ 11 FINALIDADE DA PERÍCIA CONTÁBIL ................................................................................................................................ 14 CLASSIFICAÇÃO DA PERÍCIA CONTÁBIL ....................................................................................................... 16 PERÍCIA JUDICIAL ....................................................................................................................................................... 17 PERÍCIA EXTRAJUDICIAL .............................................................................................................................................. 17 ASPECTOS PROFISSIONAIS DO PERITO: PERFIL PROFISSIONAL .................................................................. 20 O PERITO DO JUÍZO .................................................................................................................................................... 21 O ASSISTENTE TÉCNICO .............................................................................................................................................. 28 TÓPICO EXTRA: PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A AUDITORIA E A PERÍCIA CONTÁBIL ............................... 32 QUESTÕES COMENTADAS PELOS PROFESSORES ....................................................................................... 34 LISTA DE QUESTÕES ................................................................................................................................... 47 GABARITO ................................................................................................................................................... 53 RESUMO DIRECIONADO .............................................................................................................................. 54 REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................. 58 Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Sores Aula 00 3 de 58| www.direçãoconcursos.com.br APRESENTAÇÃO Futuros Contadores, futuras Contadoras, sejam muito bem-vindos(as) ao nosso curso! Estamos dando início a um projeto extremamente audacioso: o de levar a você o nosso curso de Perícia Contábil e Ética para o Exame CFC, um material completo, objetivo e extremamente didático. Nosso objetivo é prepara-los(as) para o Exame de Suficiência do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). O conteúdo está totalmente de acordo com a Resolução CFC nº1.301, de 17 de setembro de 2010, que regulamenta a avaliação. Para nós, do Direção Concursos, ser bom não é o suficiente. Queremos ser os melhores, a referência nessa área que vem trazendo enormes desafios para essa categoria tão importante para o desenvolvimento do país. Podemos dizer que os Contadores estão para o Fisco assim como os Advogados estão para a Justiça. São essenciais nas respectivas áreas de atuação. Mas a seara tributária é apenas uma das várias faces dessa magnífica ciência. Por isso nossa atenção com essa classe tão importante para o país. Nosso curso é feito a quatro mãos. Dois professores que compartilham, além do conhecimento da área, da experiência em concursos públicos, e do cargo público – somos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil – também o ideal de ajudar outras pessoas a alcançarem seus sonhos na vida profissional, por meio de aprovações em concursos e seleções públicas. Apresentemo-nos: ARTHUR LEONE Meu nome é Arthur Leone e, como vocês, sou contador. Graduei-me em Ciências Contábeis pela UFBA. Atualmente sou Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil, concurso que fui aprovado no ano de 2002. Antes, passei por alguns concursos como Analista Tributário da Receita Federal, Auditor do ICMS-RO dentre outros. Também sou autor pela Editora Ferreira na área de auditoria e legislação tributária federal. Ahh!! Eu também já fiz o exame de suficiência! Sei como é importante “pegar” aquela carteirinha do CRC. Não é só uma exigência legal, é a coroação de um ciclo que se iniciou com a aprovação no vestibular para Ciências Contábeis. Estaremos juntos nessa empreitada! Qualquer dúvida, procure-me nas redes sociais: https://www.facebook.com/arthur.leone.79 https://.instagram.com/profarthurleone https://www.facebook.com/arthur.leone.79 https://.instagram.com/profarthur Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Sores Aula 00 4 de 58| www.direçãoconcursos.com.br ANDREY SOARES Meu nome é Andrey Soares. Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. Ocupo atualmente, o cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil (AFRFB), aprovado no concurso de 2014. Exerço ainda a função de Delegado da Receita Federal em Vitória da Conquista/BA. Até chegar a esse ápice profissional, vale destacar, percorri um longo caminho de preparação. Posso assegurar que, além da satisfação por realizar sonhos, o período foi de muito aprendizado. Carrego comigo uma experiência considerável em preparação para concursos públicos. Colecionei aprovações em diversos deles, com os mais variados níveis de dificuldades. Fui Investigador da Polícia Civil de MG por cerca de 9 anos, tendo sucesso ainda em concursos considerados “top”, como para a Polícia Federal (Escrivão) e Receita Federal (Analista Tributário e Auditor Fiscal). Alio-me a uma equipe extremamente preparada e reconhecida nacionalmente pela sua competência, a família Direção Concursos. É uma verdadeira honra fazer parte deste time, e de maneira muito especial, firmar essa parceria com o meu colega e amigo Arthur Leone. Quanto a mim, ao final da graduação, como requisito para obtenção do título, trabalhei incansavelmente para produzir uma pesquisa de qualidade, em um assunto que muito me agradava. Meu tema? “A Perícia Contábil nos crimes contra a administração pública - uma abordagem sobre a Perícia Criminal Contábil sob o crivo da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais no âmbito dos crimes de responsabilidade em licitações públicas”. Avaliado por uma banca extremamente exigente, consegui alcançar,empatado com outros dois colegas, a nota mais alta daquela turma: 97 pontos, de um total de 100. Sinto-me extremamente motivado a acompanha-los(as) nesse processo! Se desejarem, estou disponível ainda em outros canais. https://.instagram.com/profandreysoares https://www.facebook.com/andrey.soares.758 Feita essa contextualização, pedimo-los que nos conceda a oportunidade de mostrar a vocês, caros alunos, cara alunas, o porquê de tamanha autoconfiança e expectativa. Bem, continuemos falando agora de como será o nosso curso de Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional. https://.instagram.com/profandreysoares https://www.facebook.com/andrey.soares.758 Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Sores Aula 00 5 de 58| www.direçãoconcursos.com.br SOBRE O CURSO Iniciemos enfatizando que não temos qualquer intenção em formarmos, com este nosso curso, verdadeiros Peritos Contábeis, principal disciplina que abordaremos aqui. Queremos, sim, que vocês tenham acesso a um material dotado de conteúdo suficientemente completo e objetivo, proporcionando- lhes, assim, o conhecimento e a confiança necessários para fazerem e serem aprovados(as) na prova aplicada pelo CFC. Didaticamente falando, nosso curso será estruturado na forma de um verdadeiro ciclo, o que o torna uma arma interessante nessa batalha que os senhores e as senhoras irão travar nos próximos dias. Dessa forma, temos certeza de que ele será capaz de oferecer-lhes a máxima assimilação do conteúdo da disciplina. Eis uma representação gráfica que demonstra a nossa proposta metodológica: Até a publicação desta nossa aula demonstrativa, vale dizer, o CFC ainda não havia definido qual a banca que organizará o Exame1. Vamos trabalhar, portanto, com o que temos de editais e exames anteriores. Caso haja alguma alteração no decorrer de nosso curso, faremos as adaptações necessárias. É um compromisso nosso. 1 https://cfc.org.br/noticias/exame-de-suficiencia-2019-cfc-realiza-processo-de-licitacao-para-a-contratacao-de-banca- examinadora/ Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Sores Aula 00 6 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Daremos uma atenção muito especial à didática, de forma que até assuntos não muito agradáveis sejam facilmente assimilados. Isso justifica nossa escolha pela inserção de questões intercaladas com a teoria. Trata-se de uma metodologia que já provou ser vitoriosa, frequentemente utilizada por grande parte dos campeões em aprovações nos mais variados e difíceis concursos públicos do país. Humildemente, incluímo-nos nesse seleto grupo. Portanto, dizemos a vocês: a fórmula funciona! Além disso, comentaremos o máximo possível de questões, sejam elas de Exames passados, ou produzidas pela banca que organiza as atuais avaliações, ainda que voltadas para outros concursos; ou até mesmo de autoria de outras bancas, desde que as mesmas se relacionarem com os temas abordados. Faremos uso, ainda, de muitas representações gráficas e quadros-resumo, pois consideramos tais recursos ferramentas interessantes de memorização, contribuindo diretamente na resolução rápida de provas. Ao final de cada aula, apresentaremos a vocês o chamado Resumo Direcionado. Trata-se de mais um instrumento útil no processo de memorização do conteúdo. Mas não pararemos por aí. Além de tudo isso, apresentaremos a você, na medida em que avançarmos as aulas e conteúdo, o que intitulamos Teste de Direção. Trata-se de uma bateria de questões que servirão como uma ferramenta capaz de identificar as lacunas de conhecimento. Mais uma inovação da equipe do Direção Concursos que, temos, certeza, será um grande diferencial para as conquistas que nossos alunos alcançarão. Aliando nosso material, com todas essas ferramentas que disponibilizamos, mais a gama de recursos que já é tradicionalmente oferecida pela equipe Direção Concursos, somando-se ainda uma rotina planejada de estudos, com disciplina, foco e entrega, não terá questão de Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional que traga maiores dificuldades para a sua aprovação. Confiem no que estamos dizendo. Conseguiram compreender o quão grandioso é o projeto? Agora, peço licença aos senhores e às senhoras para apresenta-los(las) a divisão das nossas aulas: Aula Data Conteúdo do edital 00 14/2 Perícia Contábil: Definição, Classificação e Finalidade. Aspectos profissionais: Perfil profissional do perito. Legislação: legislação profissional vigente sobre a matéria. Competência técnico- profissional. 01 24/2 Aspectos técnico, doutrinário, processual e operacional: Perícia judicial e extrajudicial – planejamento, execução e procedimentos. Honorários Periciais. Quesitos. Indicação de assistentes. Termo de Diligência. Código de Processo Civil- CPC/2015 02 28/2 Teste de direção 03 6/3 Prova. Laudo Pericial. Parecer Pericial Contábil. Assuntos teóricos remanescentes. NBC TP 01 – Norma Técnica de Perícia Contábil. NBC PP 01 – Norma Profissional do Perito. 04 16/3 Aplicações Práticas de Perícia Contábil: Aplicações práticas relacionadas ao campo da perícia contábil, tais como: apuração de Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 7 de 58| www.direçãoconcursos.com.br haveres, dissolução de sociedades, inventários, prestações de contas, contratos financeiros, sistema financeiro de habitação e cálculos trabalhistas, entre outros. 05 21/3 Teste de direção 06 26/3 a) Ética Geral e Profissional: O conceito e sua inserção na Filosofia. Os campos de Ética e da Moral. As fontes das regras éticas. A Sociedade e a Ética. O papel da Contabilidade na sociedade. A Ética Profissional. b) Legislação sobre a Ética Profissional: Código de Ética Profissional do Contador. Normas Brasileiras de Contabilidade Profissionais. Possíveis alterações ocorridas ou inclusões até noventa dias antes da realização do Exame. 07 5/4 05 - c) Legislação Profissional e de Organização dos Conselhos de Contabilidade: Decreto Lei nº 1.040/1969 e alterações posteriores. Resolução CFC nº 1.370/2011 - Regulamento Geral dos Conselhos de Contabilidade e alterações posteriores. Decreto-Lei nº 9.295/1946 e alterações. Possíveis alterações ocorridas ou inclusões até noventa dias antes da realização do Exame. 08 10/4 Teste de direção Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 8 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Considerações sobre a cobrança da disciplina pelo CFC A partir da análise dos editais e provas passadas, com ênfase nas mais recentes, notamos uma média de 2 a 3 questões da disciplina em nossa prova. Foram cobradas 2 questões nos últimos certames, com destaque para a últimas provas, aplicadas no ano passado (2018-1 e 2018-2), mesmo número detectado nas edições de 2017. As duas provas aplicadas em 2016 (2016-1 e 2016-2), porém, haviam trago 3 questões cada uma. Tais números, aparentemente, não são tão significativos. Mas isso não corresponde à verdade dos fatos. As estatísticas mostram que 2 ou 3 questões podem sim, fazer a diferença, e derrubar inúmeros candidatos. O índice de erro envolvendo a disciplina na prova aplicada pelo CFC gira em torno de 41,79%2. Esses erros certamente contribuem para a absurda quantidade de candidatos – muitos deles bons, acreditamos – que vêm sendo derrotados pelo CFC. Só na prova2018-1, segundo dados estatísticos apresentados pela Consulplan3, foram reprovados, pasmem, quase 70% dos candidatos avaliados! Esse número teve um sutil decréscimo na prova 2018-2: pouco mais de 62% de reprovados, o que quase nada altera ao quadro de criticidade da situação. Os dados são alarmantes, em nossa opinião. Só não é mais absurda que aqueles vistos do “outro lado da avenida”, na prova da OAB. Lá, a média de reprovação dos egressos de Direito já alcançou a casa dos 80%, isso recentemente.4 Uma triste constatação, que demanda uma reflexão sobre o país que queremos, que seja dotado de uma educação capaz de formar bons profissionais. Mas, aqui, não vamos entrar nessa discussão. Nosso foco é outro. Talvez a falta de bons materiais, e de professores experientes em concursos públicos que se dediquem verdadeiramente a preparar os egressos do curso para a prova, tenham influenciado negativamente esses números vistos em relação ao Exame do CFC. Além disso, muitos alunos acreditam que o conteúdo estudado em sala de aula seja suficiente para a avaliação do CFC. Ledo engano. Aqui é outro mundo. Como numa batalha, é necessário conhecer o inimigo previamente, e se munir de armas e táticas capazes de garantir sua vitória. Mas não vamos encarar a banca como inimiga. Primeiro, porque ela não pretende eliminar candidatos. O que se almeja, com a prova, é medir a capacidade de o egresso atuar, com qualidade e competência, no mercado de trabalho. E isso é louvável, pois só dignifica e engrandece a profissão. Segundo, porque não se pode dizer que haja concorrência. Não há um número limitado de vagas, como nos concursos tradicionais, mas apenas a necessidade de um percentual mínimo de acertos no Exame. Portanto, você concorre, literalmente, com você mesmo, a partir do seu preparo. 2 Fonte: https://www.editora2b.com.br/blog/as-07-disciplinas-que-os-candidatos-mais-erram-no-exame-de-suficiencia- do-cfc, acessado em 14 jan. 2019 3 Fonte: https://cfc.org.br/registro/exame-de-suficiencia/relatorios-estatisticos-do-exame-de-suficiencia/ acessado em 14 jan. 2019 4 Fonte: https://brasiljuridico.com.br/artigos/absurdo-de-83-de-reprovao-na-1a-fase-xxvii-exame-da-oab, acessado em 14 jan. 2019 https://cfc.org.br/registro/exame-de-suficiencia/relatorios-estatisticos-do-exame-de-suficiencia/ Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 9 de 58| www.direçãoconcursos.com.br O que pretendemos, a partir das próximas páginas desta e das aulas seguintes, é contribuir para mudarmos essa realidade da Contabilidade no país. Assim, vamos oferecer uma abordagem abrangente e de fácil assimilação, voltada exclusivamente para o Exame do CFC. Isso tem que ser frisado sempre, pois o tempo e a objetividade são aspectos fundamentais na fase de preparação de candidatos que, em sua grande maioria, não dispõe de tempo para ficar procurando por um ou outro livro o que precisa ser estudado. Aqui, reuniremos tudo o que você precisa. Teceremos considerações sobre conceitos, características e finalidade da Perícia Contábil. Teremos, ainda, uma atenção especial com explicações envolvendo o profissional que atua na área, o Perito Contábil. Nesse contexto, falaremos sobre indicação e nomeação do perito, seus impedimentos, suspeições e deveres. Também suas responsabilidades, questões de cunho técnico e doutrinário. Abordaremos ainda o Laudo Pericial, sua estrutura, função e importância. Abordaremos a aplicação prática da perícia, além de uma abordagem especial sobre as normas que regem o tema, e muitos outros assuntos, sempre inspirados no último edital. Não percamos mais tempo. Vamos ao conteúdo que nos interessa em nossa aula demonstrativa. Avante! Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 10 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Noções iniciais Origem da perícia Sempre dizemos que, para conhecermos com a profundidade necessária alguém ou alguma coisa, o ideal é que comecemos procurando saber a sua origem. Essa metodologia dirá muito sobre o seu estado presente, bem como as perspectivas futuras. Com um ramo do conhecimento, não é muito diferente. Essa busca, portanto, precisa anteceder a abordagem que faremos sobre o conceito de perícia em si. Partindo dessa premissa, e tomando por base a melhor literatura, podemos dizer que a perícia tem sua gênese ligada à própria evolução da humanidade. Ora, quando o homem sai da sua essência animal para uma essência racional, surge a necessidade de comandantes e mediadores de conflitos. Faziam esse papel, normalmente, os que apresentavam maior experiência, ou poderio físico, atuando, ora como perito, ora como juiz, como legislador ou executor. Não raras vezes, atuavam em todos esses processos ao mesmo tempo. Para tanto, natural que procedessem ao exame da situação, coisa ou fato, o que nos traz à mente a estreita ligação com a perícia que hoje conhecemos.5 Os tempos evoluíram, e a necessidade de aperfeiçoamento da perícia foram ficando cada vez mais latentes, até chegarmos aos modelos atuais. No Brasil, especificamente, o progresso da perícia acompanha a evolução das normas jurídicas, no campo do Direito, notadamente os que regulamentam atos processuais, como o Código de Processo Civil (CPC) e o Código de Processo Penal (CPP). A mudança mais recente, da qual muito falaremos em nossas aulas, é a Lei nº 13.105/2015 - Novo Código de Processo Civil (CPC), em vigor a partir de 17/03/2016. Ela é a “bíblia” do perito contador judicial, aquele que atua nas perícias contábeis ditas do juízo. O CPP tem sua aplicação restrita ao campo criminal, a chamada perícia forense. Não podemos deixar de mencionar, claro, as Normas de natureza Técnica e Profissional, de autoria do Conselho Federal de Contabilidade. Dentro desse conceito, temos a NBC PP 01 – Norma Profissional do Perito e a NBC TP 01 – Norma Técnica de Perícia Contábil. Elas que elas, de forma específica, disciplinam a perícia de natureza contábil, objeto de nosso estudo. Terão, assim, um tratamento VIP (Visão Integral e Precisa ) em nossas aulas. Além de menções no decorrer do curso, teremos aulas específicas para cada uma. 5 ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Perícia Contábil. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2012 Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 11 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Conceito O conceito de perícia vem da própria etimologia da palavra. Advém do latim peritia, cujo significado nos remete ao que entendemos, em nossa língua pátria, como o equivalente a habilidade, destreza, vistoria ou exame, com caráter técnico, especializado e científico. Observando a literatura, vimos que são diversos os conceitos científicos e normativos atribuídos à perícia. A construção dessa definição tende a variar dependendo de quem a professa, sendo que muitos, nesse processo, acabam se valendo mais dos suas aplicações e respectivos resultados em detrimento do significado propriamente dito. Observemos a contribuição dada por Alberto (2017, p.3), transcrita abaixo: Perícia é um instrumento especial de constatação, prova ou demonstração, científica ou técnica, da veracidade de situações, coisas ou fatos. Analisada atentamente o termo junto à literatura mais respeitável do mercado, podemos dar também a nossacontribuição, trazendo uma definição que atenda aos objetivos da obra. Assim, podemos dizer que Fique atento!!! A perícia compreende o conjunto de procedimentos técnico-científicos que envolvem a análise sobre situações e fatos, no intuito de subsidiar a busca pela verdade encoberta, e que é objeto de eventual controvérsia entre duas ou mais partes. Vejam que a aplicação da perícia não está restrita ao campo da contabilidade, ainda que essa seja a mais conhecida. Muito pelo contrário, ela está presente nos atos e fatos da vida em sociedade, envolvendo os mais diversos ramos do conhecimento, como a engenharia, a física, a biologia, a química, entre outros. Não por menos desperta tanta atenção, sendo bastante valorizada no mercado profissional. A título de curiosidade, temos um outro tipo muito conhecido de perícia, frequentemente vista na fase investigativa da persecução penal, sendo voltada para a formação de prova em processos envolvendo crimes contra a vida crime contra a vida (perícia forense). Estamos falando da necropsia, uma espécie de perícia que é feita no cadáver, normalmente realizada no interior dos conhecidos Institutos Médico-legais (IML). Sua intenção primordial é colaborar na elucidação de ilícitos penais, apontando a verdadeira causa mortis (causa da morte) da vítima. Façam uma busca na memória de vocês, e temos certeza de que se lembrarão de filmes e seriados (especialmente aquelas policiais), em que aparecerão cenas envolvendo esse assunto. Viram o quanto ela é familiar? Pois é. Mas temos outros também bastante interessantes, como a balística (exame envolvendo o trajeto de um projetil, dentro e fora de uma arma de fogo), perícias de trânsito (dinâmica de acidentes envolvendo veículos e pessoas), a datiloscopia (exame das impressões digitais), entre outros. Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 12 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Mas não vamos nos dispersar. Afinal, nosso assunto aqui é restrito. Vamos dar atenção às definições de perícia que envolvem, de maneira particular, aquela aplicada no seio das Ciências Contábeis. Também aqui não há um consenso entre os autores sobre a melhor forma de definir o ramo do conhecimento contábil. Para tanto, vamos trazer a lição dada por Ornelas (2017, p.16), segundo o qual: Perícia Contábil inscreve-se num dos gêneros da prova pericial, ou seja, é uma das provas técnicas à disposição das pessoas naturais e jurídicas, e serve como meio de prova de determinados fatos ou de questões patrimoniais controvertidas. (grifamos) O saudoso e grande mestre Lopes de Sá (2017, p.03) também traz uma definição interessante. Para ele, Perícia contábil é a verificação de fatos ligados ao patrimônio individualizado visando oferecer opinião, mediante questão proposta. Para tal opinião, realizam-se exames, vistorias, indagações, investigações, avaliações, arbitramentos, em suma, todo e qualquer procedimento necessário à opinião. (grifamos) Guardem bem esses termos destacados acima, em forma de negrito. Eles englobam o conceito do que chamamos de Procedimentos Pericias. Teremos uma discussão sobre eles ainda em nosso curso, pois é assunto de grande relevância. Por ora, vale anotar que este mesmo autor ensina que a perícia contábil deve ser compreendida como uma tecnologia, uma vez ser ela a aplicação prática dos conhecimentos científicos. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC), observando as divergências na literatura, resolveu colocar “ordem na casa”, trazendo a sua própria definição. Nos termos da NBC TP 01, item “02”, temos que A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a levar à instância elementos de prova necessários a subsidiar à justa solução do litígio ou constatação de um fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. Vejam o quão abrangente é a definição dada pelo CFC. Para ficar mais fácil lembrarmos dela na hora da prova, vamos destacar os principais elementos que compõem a expressão, em forma de perguntas. Vamos fazê-lo a partir de uma representação gráfica. Observem: Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 13 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Figura 0.1 - Conceito de perícia contábil, segundo o CFC Ao longo do nosso curso, veremos como cada item acima destacado vai se encaixando no edital elaborado pela banca, a partir das orientações do CFC. Mas desde já precisamos abrir caminho para essa nossa compreensão esmiuçado um pouco mais sobre eles. 1) Conjunto de procedimentos técnico-científicos: significa que, para alcançar seu produto final (laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil) o perito se utilizará de técnicas e procedimentos científicos que fornecerão dados e informações capazes de subsidiar suas conclusões. 2) Destinados a levar à instância elementos de prova necessários a subsidiar à justa solução do litígio ou constatação de um fato: diversos são os interessados na prova pericial produzida pelo contador habilitado à essa função. Além das partes, temos o juiz, que formará sua convicção baseada, entre outros, nos elementos tragos pelo perito. Dirimirá, assim, a controvérsia instalada. 3) Mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil: representam o resultado final do trabalho do perito contábil, ou seja, é o seu produto. 4) Em conformidade com as normas jurídicas e profissionais: as normas jurídicas são aquelas, digamos, mais abrangentes, que não ficam restritas ao campo da contabilidade. Seria, por exemplo, os dispositivos que fazem referência ao tema contidos no Código de Processo Civil e no Código Civil. A normas profissionais, por sua vez, seriam, aquelas aplicáveis exclusivamente ao campo da contabilidade, produzidas pelo CFC. São dois os tipos: A Norma Brasileira de Contabilidade TP 01 (NBC TP 01), que será destrinchada mais a frente, é a norma que cuida da parte técnica, ou seja, tem a função de estabelecer o padrão de procedimentos, os conceitos doutrinários e as regras que deverão ser seguidas pelo profissional da contabilidade no desempenho da função ou atividade pericial. A Norma Brasileira de Contabilidade PP 01 (NBC PP 01), por sua vez, cuida do aspecto profissional. Isso quer dizer que é ela quem vai estabelecer as regras condicionantes para a atuação do contador na condição de perito. Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 14 de 58| www.direçãoconcursos.com.br A perícia contábil, portanto, tem seu campo de aplicação voltado para o patrimônio, objeto da ciência que a abarca. Seu foco são os elementos objetivos6 (também chamada de prova técnica), característica que se estende ao produto que dela advém, qual seja, o laudo pericial contábil ou o parecer pericial contábil. Para tanto, se vale de procedimentos e regras formalmente e legalmente estabelecidas, restritas ou não ao seu campo de aplicação. Finalidade da perícia contábil A finalidade da perícia, acreditamos, já ficou implicitamente descrita nos comentários feitos até aqui. Mas, para ficarmos mais seguros, expliquemos melhor o que pode ser compreendido nesse tema, numa abordagem que pode ser útil na resolução de questões de nossa prova: Fique atento!!! A períciacontábil tem como principal finalidade oferecer uma opinião, ou seja, fornecer informações fidedignas sobre atos ou fatos, a verdade encoberta, se revestindo, assim, como uma importante espécie de prova. Essas informações são baseadas em conhecimentos técnico-científicos, lastreadas ainda com a isenção e a independência que se esperada do perito, capazes de propiciar ao juiz e/ou partes interessadas a justa solução de uma controvérsia previamente instalada. Como parte da Ciência que dá nome à técnica, a perícia contábil tem no patrimônio (total ou parcial) de quaisquer pessoas (físicas ou jurídicas) seu objeto. Ela será utilizada para dirimir dúvida sobre pontos específicos, ou mesmo apresentar justificativas e argumentos sobre questões relativas ao seu objeto. Por meio dos princípios e procedimentos da contabilidade, enquanto ciência, ela busca apresentar a quem interessar a verdade real, mediante constatação, prova ou demonstração. Esse ponto foi objeto de uma questão cobrada pela Funiversa em 2010. Vejamos: 6 A título de curiosidade, esse tipo de prova (a objetiva) é, no direito, tido por muitos como que de grau de aceitabilidade diferenciado em relação às chamadas provas subjetivas. Isso, porém, não é regra ou determinação legal. O art. 182 do CPP, por exemplo, estabelece que a decisão do juiz não está vinculada estritamente ao laudo, podendo rejeitá-lo, inclusive, em sua totalidade. Mas a prática, porém, vai no sentido do afirmado. As provas subjetivas seriam aquelas advindas do testemunho ou da interpretação de pessoas, como é o caso dos depoimentos ou testemunhos num processo, por exemplo. Como um laudo pericial tem lastro científico, baseados em elementos materiais, teoricamente não são passíveis de erros um má-fé, sendo influenciado pela vontade ou do interesse de quem fornece a informação, como no caso das provas subjetivas. Para tanto, existem mecanismos que visam a garantir essa imparcialidade do perito, como os dispositivos que indicam os casos de suspeição ou de impedimento, que comentaremos mais à frente. Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 15 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Questões para fixar!! (Funiversa/Contador/CEB/2010) Assinale a alternativa que apresenta a tecnologia destinada à pesquisa de fatos patrimoniais, para a orientação do julgamento de questões, geralmente judiciais, ou seja, para esclarecer dúvidas ou ensejar argumentos. a) Auditoria. b) Fiscalização. c) Auditoria externa. d) Perícia. e) Laudo. RESOLUÇÃO: A principal finalidade da perícia contábil é levar à instância julgadora (nesse caso, considerando estarmos tratando da perícia judicial, que é grande maioria dos casos) elementos de prova para dirimir conflitos. Ela o faz por meio de procedimentos, observando os princípios de contabilidade, quando relativa a fatos e circunstâncias que envolvam o objeto da Ciência Contábil, ou seja, o patrimônio das pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas. Feitas, essas considerações, não resta dúvidas de que a questão apresenta em seu enunciado características aplicáveis à perícia. Resposta: D As informações são estruturadas na forma do chamado laudo pericial contábil ou num parecer técnico contábil (também chamado de parecer pericial contábil), instrumentos de que se vale o perito contador ou assistente técnico contador, respectivamente, no cumprimento de sua missão. A necessidade de um trabalho pericial contábil, como veremos mais adiante, pode se dar no âmbito judicial ou extrajudicial. Dentro desse escopo, ela poderá ser instada a contribuir na solução do impasse a partir de uma requisição judicial ou das partes interessadas. Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 16 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Classificação da perícia contábil O que será tratado nesse tópico é aplicável às perícias realizadas nos mais diversos campos de conhecimento inclusive, claro, àquela realizada na seara contábil. Alguns autores apresentam as divisões que veremos a seguir como tipos de perícia, e não como classificação propriamente dita. Para nós, porém, dentro do escopo que se apresenta essa obra, o que vale é o termo apresentado pela banca, para que não gere qualquer dúvida na hora da bendita prova. Nesse contexto, temos, basicamente, duas classificações: perícia judicial e a perícia extrajudicial. Poderíamos listar ainda a perícia arbitral entre essas espécies principais, como o faz parte da literatura. Afiliamo-nos, porém, à outra parte de autores, bem como ao próprio CFC7, que divergem desse entendimento, no sentido de que ela se revela, verdadeiramente, como um exemplo de perícia extrajudicial. Por esse motivo, inserimo-la como uma subespécie da mesma. Vejamos a representação gráfica abaixo: Figura 0.2 – Classificação da perícia É importante enfatizar, desde logo, que a perícia no campo da contabilidade, seja judicial ou extrajudicial, é de competência exclusiva do Contador registrado no respectivo Conselho Regional de Contabilidade (CRC). É o que dispõe a NBC TP 01, item 04. Outros requisitos também se farão presentes, como veremos no decorrer de nosso curso. 7 A NBC TP 01, item “5”, assim dispõe: [...] entende-se como perícia judicial aquela realizada sob a tutela da justiça. A perícia extrajudicial é aquela exercida no âmbito arbitral, estatal ou voluntária. Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 17 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Conheçamos o significado de cada uma delas: Perícia Judicial Como se presume pela simples leitura do nome, trata-se daquela realizada no âmbito de um processo, sob a tutela do Poder Judiciário. Sua aplicação dependerá, assim, de uma requisição da autoridade judiciária, sendo, então, nomeado por esta. Não é exigido do juiz o conhecimento profundo de todos as ciências existentes. Isso é humanamente impossível, não é mesmo? E quando falamos em contabilidade, aí é que as coisas ficam complexas, dadas as particularidades da nossa idolatrada ciência. Nesse contexto, pode e deve o julgador se valer de profissionais de sua confiança, que sejam capacitados técnico e cientificamente no objeto de lide. Só assim decidirá o juízo com a convicção necessária, sendo o seu veredicto dotado da fundamentação suficientemente imperiosa perante as partes. Sua principal fonte legal regente é o CPC. Temos, porém, outros diplomas legais que, normalmente de forma acessória, também são exigidos na realização dos trabalhos periciais judiciais. Entre eles, podemos destacar a Lei nº 11.101/2005 (Lei de Falências e de Recuperação Judicial). A depender do objeto, teremos ainda a legislação trabalhista, previdenciária, entre outros. Perícia Extrajudicial É a espécie que não está sob a tutela judicial, ou seja, ela é instalada no âmbito privado, entre duas ou mais partes, pessoas físicas ou jurídicas, sem a presença do juiz. Para sermos mais precisos, trata-se daquela perícia realizada no âmbito arbitral, estatal ou voluntária. Já tivemos uma questão de um concurso disputadíssimo que abordou esse assunto. Vamos analisa-la? Questões para fixar!!! (FCC/AFTE-PE/2014 - Adaptada) A perícia contábil, exercida sob a tutela da justiça comoa exercida no âmbito arbitral, estatal ou voluntária, é de competência exclusiva de contador registrado em Conselho Regional de Contabilidade. Certo ou Errado? RESOLUÇÃO: Pessoal, a questão não teve uma redação, digamos, digna de elogios. Mas conseguimos extrair a mensagem que ela quis transmitir, e é isso que importa. Como vimos acima, a NBC TP 01, lá no item “4”, estabelece que “a perícia contábil, tanto a judicial como a extrajudicial, é de competência exclusiva de contador registrado em Conselho Regional de Contabilidade. Na sequência, ela descreve quais as subespécies de perícia extrajudicial, Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 18 de 58| www.direçãoconcursos.com.br quais sejam, a perícia arbitral, a estatal e a voluntária. Assim, independentemente de quais espécies ou subespécies de perícia, se relativa a fatos ou circunstância que envolvam o objeto da Ciência Contábil, é condição básica que o profissional que for exercer a função seja contador devidamente registrado e regular junto ao CRC. Resposta: Certo. O perito, nesse caso, é nomeado pelas partes interessadas, a partir de um acordo prévio. Para isso, é basilar que o profissional detenha a confiança necessária dos interessados. O que se espera do mesmo é um trabalho imparcial, objetivo, e que apresente uma opinião sobre um fato que esteja gerando determinada controvérsia. Do lado do perito requerido, é fundamental que as partes estejam aptas a aceitarem os resultados eventualmente apresentados a partir dos trabalhos realizados. Um caso muito comum é a perícia realizada em meio a discussões sobre heranças e sinistros. Temos, ainda, aquelas envolvendo operações de reorganização societária (fusão, incorporação, transformação e cisão), passivo trabalhista, etc. A fim de evitarem o desgaste, a morosidade e o alto custo de um processo judicial, as partes acabam por contratar um perito para pôr fim a uma disputa, ou mesmo para subsidiar decisões. Vejamos, abaixo, as subespécies da perícia extrajudicial. Perícia Arbitral A perícia arbitral é aquela instalada sobre o controle da lei de arbitragem (Lei nº 9.307, de 23/09/1996). Nos termos do art. 1º do referido diploma, qualquer pessoa, desde que civilmente capaz, pode se valer da arbitragem para dirimir conflitos. Isso vale, inclusive, para a administração pública direta e indireta, conforme preconiza o § 1º da mesma lei. Sua demanda se funda, normalmente, a partir de alguma cláusula contratual, sendo condição para sua escolha a existência de controvérsia envolvendo os chamados direitos patrimoniais disponíveis, ou seja, aqueles bens e direitos dotados de algum valor econômico, e que podem ser livremente transacionados entre partes, pessoas civilmente capazes, seus titulares (doação, venda, transferência, troca, entre outros). Vale notar que as decisões tomadas sob a égide dessa lei têm eficácia equivalente àquela sentença proferida no âmbito do Poder Judiciário. Vale a pena a leitura da lei que rege o tema. Perícia Oficial ou Estatal É aquela realizada sob o controle de órgão de Estado. Figuram nessa lista as perícias administrativas realizadas no âmbito das famosas e frequentemente noticiadas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI); no curso de investigações das polícias judiciárias (Polícias Civis dos estados e Polícia Federal), intituladas perícias criminais, bem como do Ministério Público. Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 19 de 58| www.direçãoconcursos.com.br A perícia estatal ou oficial é conhecida também como semijudicial, uma vez ocorrer no âmbito do aparato do Estado, mas fora da tutela do Poder Judiciário. Gozam seus operadores (autoridades policiais, parlamentares e administrativo-tributárias) detém algum poder jurisdicional, ainda que relativo, se comparado à extensão do poder conferido às autoridades judiciais. Funda-se, assim, como um meio de prova nos ordenamentos institucionais usuários.8 Perícia Voluntária A perícia voluntária é aquela cuja contratação é feita de forma espontânea pelo interessado, ou de comum acordo entre as partes. Quando na seara contábil, podemos compreender essa subespécie de perícia como aquela contratada livremente entre as partes, onde o perito contador é instado a se manifestar no intuito de esclarecer, constatar ou certificar fatos ou circunstâncias discutidas, de interesse dos envolvidos, relativas ao patrimônio. A título de informação, segundo Muller, Timi e Heimoski (2017), é possível separarmos os ramos da perícia contábil ainda segundo as esferas do poder, quais sejam: Civil, Trabalhista, Criminal, Varas de Família, Varas de Falência e Recuperação Judicial e Varas de Falências Públicas e Execuções Fiscais e municipais, estaduais e federais. Mas não vamos nos aprofundar nesse tema, por não acreditarmos que os mesmos possam chegar a esse nível de exigência numa prova de Exame de Suficiência do CFC. 8 Alberto (2012). Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 20 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Aspectos profissionais do perito: perfil profissional Nessa segunda metade de nosso curso, abordaremos a parte inaugural da perícia em si; fase essa que envolve, invariavelmente, a nomeação do perito e a indicação do assistente técnico. Vamos abordar, em conjunto, o perfil de cada um desses profissionais e onde se enquadram nessa fase inicial da perícia judicial. Acreditamos ser essa a melhor didática, aquela que fornece ao aluno o melhor potencial de assimilação de um extenso conteúdo. Na seara contábil, perito é o contador regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade (CRC), que exerce a atividade pericial de forma pessoal, devendo, para tanto, ser conhecedor, por suas qualidades e experiências, da matéria periciada. É o que dispõe a NBC PP 01, lá no item “02”. Sua atuação técnica se dará, basicamente, sob duas modalidades ou formas. Quando nomeado pelo juiz ou por um Tribunal Arbitral, será chamado, como vimos, de perito judicial ou arbitral, respectivamente. Por outro lado, será assistente técnico nas situações em que for indicado pelas partes para exercer a função de representante das partes no processo. Podemos citar ainda a figura do perito oficial, ou seja, aquele que é investido na função, por lei, pertencente a órgão especial do Estado destinado, exclusivamente, a produzir perícias e que exerce a atividade por profissão. Lembrando que esse nome também é associado pela literatura e por alguns regulamentos ao perito judicial, o que pode trazer alguma confusão entre ambos. Em nossa obra, porém, para não haver esse conflito em nossas exposições, quando estivermos tratando do perito que seja nomeado pelo juiz, faremos referência aos termos “perito judicial” ou “perito do juízo”, combinado? A outra denominação (perito oficial ou, como é conhecido a maioria dos que se enquadram nessa intitulação, os peritos criminais), deixaremos para aqueles ligados, normalmente, aos institutos de criminalística e às polícias judiciárias dos Estados e da União. Lembrando que o foco desse curso, que se revela como o objeto do edital do CFC, é justamente a perícia judicial, ou seja, aquela que apresenta as figuras do perito judicial ou perito do juízo, além do assistente técnico. Figura 0.3 – Formas de autuaçãodo contador na função de perito Uma inovação traga pelo atual CPC, não presente nos anteriores, diz respeito à possibilidade de que a perícia seja realizada por órgão técnico ou científico. Portanto, pode o juiz, para o encargo, nomear uma pessoa Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 21 de 58| www.direçãoconcursos.com.br jurídica, e não apenas pessoas físicas. É o que se depreende, por exemplo, a partir da leitura do art. 156, § 1º daquele diploma legal. Faremos algumas menções a esses órgãos no decorrer do curso. Galera, pedimos MUITA ATENÇÃO aos assuntos que serão abordados nas próximas páginas. Eles andam perambulando com muita frequência pelas provas de concursos públicos que cobram a disciplina “perícia contábil”, o que não é e nem será diferente nas provas aplicadas CFC. Portanto, preparamo-nos com muito afinco e sagacidade. Vamos lá, com foco, força e determinação! O perito do juízo Nos termos do art. 156 do CPP, temos que o juiz será assistido por um perito sempre que a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. Ele será, então, escolhido e, logo após, requisitado pelo juiz presidente dos autos. A nomeação vem como um passo adiante, passando a atuar oficialmente no processo que se encontra sob a tutela do Poder Judiciário. Assim, será chamado perito do juízo ou perito judicial. O CPC – sempre ele – apresenta em seu art. 149 um rol exemplificativo (significa que podem haver outros) dos denominados profissionais auxiliares da Justiça. O perito está entre eles, ao lado do escrivão, do chefe de secretaria, do oficial de justiça, do depositário, do administrador, do intérprete, do tradutor, do mediador, do conciliador judicial, do partidor, do distribuidor, do contabilista e do regulador de avarias. Notem o grau de importância dada ao perito pelo diploma legal. Apesar de figurar numa lista que, num primeiro momento, transmite essa ideia, o perito do juízo não é, necessariamente, um funcionário público, mas também não está impedido de o ser. A realidade mostra, entretanto, que a grande maioria dos peritos judiciais se revela como um profissional liberal, sem vínculo direto com a administração pública. Há, entretanto, uma série de condicionantes para que antecedem essa escolha e posterior nomeação. Didaticamente, vamos dividir essas condicionantes em três tipos: condicionantes profissionais e cadastrais e legais, condicionantes ligadas ao conhecimento técnico-científico e condicionantes ético-morais. Realização da perícia (CPC) Profissional (pessoa física) Órgãos técnicos ou científicos (pessoa jurídica) Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 22 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Figura 0.4 - Nomeação do perito judicial – Resumo das condicionantes Condicionantes profissionais, cadastrais e legais O requisito básico para que o pretenso perito atue como tal é que ele tenha formação acadêmica e esteja legalmente habilitado e plenamente regular perante o conselho de classe correspondente (Conselho Regional de Contabilidade - CRC, no caso da classe contábil). É um processo que se inicia com a livre escolha por parte do magistrado, observando, porém, alguns requisitos, vistos abaixo. Sua indicação revela, portanto, uma relação de confiança da autoridade judiciária para com o profissional escolhido. Entrando agora no aspecto relativo aos requisitos a serem observados pelo juiz, notamos que o CPC, lá na altura do art. 156, destaca a necessidade de que tais profissionais passíveis de escolha pelo magistrado estejam previamente inscritos num cadastro a ser mantido pelo tribunal ao qual aquela autoridade esteja vinculada. Esse assunto vem sendo muito cobrado pelo CFC. Portanto, muita atenção. Segundo o mesmo dispositivo, conforme redação dos parágrafos seguintes, a inclusão de candidatos no citado cadastro passa uma consulta pública a ser feita pelos tribunais, através da rede mundial de computadores ou em jornais de grande circulação. Envolve, ainda, consultas diretas a universidades, conselhos de classe, Ministério Público (MP), Defensoria Pública (DP) e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A intenção é que essas instâncias façam indicações de profissionais ou de órgãos técnicos interessados. Deverá haver periodicidade na atualização da lista, a ser realizada também pelos tribunais, o que corresponde a avaliações e reavaliações constantes, considerando eventuais alterações na formação profissional dos inscritos, atualizações do conhecimento e da experiência dos peritos interessados. É possível ainda, segundo o CPC, haver nomeação de algum perito que não esteja inscrito no referido cadastro. Conforme se depreende da leitura do §5º do mesmo art. 156, essa faculdade se fará palpável na hipótese em que não houver, na localidade, inscritos no cadastro disponibilizado pelo tribunal. Entretanto, isso não afasta a necessidade de que o escolhido seja detentor de conhecimento necessário à realização da perícia. Nada mais natural, vocês vão concordar comigo. O assunto tem tanta relevância, estando presente com muita frequência em provas, que merece uma representação gráfica cuidadosamente e criteriosamente criada para o nosso curso. Observem: Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 23 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Figura 0.5 – Cadastro de Perito e Órgãos Técnicos ou Científicos No caso dos profissionais da seara contábil, além do contador estar devidamente registrado e regular perante o respectivo CRC, precisará ainda, nos termos da NBC PP02, se submeter ao chamado Exame de Qualificação Técnica (EQT) para Perito Contábil. Sua aprovação no exame garante sua inscrição no badalado Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC) do CFC. A NBC PP 02 entrou em vigor em outubro de 2016, passando a vigorar a partir de 2017. Antes de passarmos para o próximo subtópico, vejam essa questão cobrada justamente na primeira edição do EQT-PC, ocorrida em 2017: Questões para fixar!!! (CFC/Exame de Qualificação Técnica para Perito Contábil/2017) O Art. 156 do Código de Processo Civil - Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 - indica a necessidade de formação de cadastro de peritos mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado, como condição para a escolha do perito nomeado em um processo judicial. Prevê ainda o referido dispositivo legal outras condições. Acerca desse assunto julgue os itens abaixo e, em seguida, assinale a opção CORRETA. Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 24 de 58| www.direçãoconcursos.com.br I. Para formação do cadastro, os tribunais devem realizar consulta pública, por meio de divulgação na rede mundial de computadores ou em jornais de grande circulação, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a indicação de profissionais ou de órgãos técnicos interessados. II. Os tribunais realizarão avaliações e reavaliações periódicas para manutenção do cadastro, considerando a formação profissional, a atualização do conhecimento e a experiência dosperitos interessados. III. Na localidade onde não houver inscrito no cadastro disponibilizado pelo tribunal, a nomeação do perito é de livre escolha pelo juiz e deverá recair sobre profissional ou órgão técnico ou científico comprovadamente detentor do conhecimento necessário à realização da perícia. Estão CERTOS os itens: a) I e II, apenas. b) I e III, apenas. c) I, II e III. d) II e III, apenas. RESOLUÇÃO: Estou convicto de que, após nossa abordagem acima, podemos resolver essa questão com relativa facilidade. A partir de uma leitura atenta do art. 156 do CPC, e parágrafos correspondentes (1 ao 5º), é possível constatarmos que os três itens apresentam disposições verdadeiras em relação ao cadastro de peritos e órgãos técnicos ou científicos. Caso ainda não tenham sentido segurança, voltem ao nosso esquema que trata do assunto. Garantimos que não terão maiores dificuldades para acertar a questão sobre isso que tende muito a cair no próximo exame. Resposta: C Condicionantes ligadas ao conhecimento técnico-científico No quesito conhecimento técnico-científico, deverá o escolhido analisar sua aptidão em lidar com a matéria do processo que esteja levantando dúvidas nas partes e/ou no juiz. Para tanto, a partir da nomeação, terá livre acesso aos autos, mediante vistas, no próprio juízo ou tribunal. Ora, isso é basilar, não é mesmo? O que se espera do perito é justamente a opinião de um especialista no assunto de que se tem dúvida. Suas conclusões devem, assim, estar suficientemente embasadas técnica e cientificamente, o que deverá trazer a segurança necessária para o justo deslinde do que está em discussão. A ausência de conhecimento técnico ou científico é, ressalte-se, um dos motivos em que se torna possível ocorrer a substituição do perito, nos termos do art. 468, inciso I do CPC. Uma regra interessante, tendo em vista que, apesar de se apresentar como especialista, ninguém é obrigado a conhecer a fundo todas as áreas de determinada ciência, concordam? Dentro da contabilidade, por exemplo, temos especialistas em Contabilidade de Custos que não é o mais indicado para atuar em um processo cujo assunto principal esteja ligado à desafiadora Contabilidade de Seguros. Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 25 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Lembrando que, caso seja substituído, caberá ao perito a restituição dos valores eventualmente recebidos por trabalho não realizado. Para tanto, terá o prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de ficar impedido de atuar na função pelo prazo de 05 (cinco) anos. A parte que fizera o adiantamento dos honorários tem direito a, se necessário, promover uma execução contra o perito, fundamentando sua ação na decisão que houver determinada a devolução Condicionantes ético-morais A atuação do perito precisa ser e transparecer ética e moral. Para tanto, espera-se do mesmo o respeito e a cordialidade para com os colegas e as partes do processo, bem como o irrestrito cumprimento das normas relativas à conduta ética da categoria profissional a que pertence. No caso do contador, deve observar rigorosamente o Código de Ética Profissional do Contador, bem como as demais normas correspondentes emanadas do Conselho Federal de Contabilidade. Didaticamente, acreditamos ser interessante incluirmos nesse tópico ainda uma discussão sobre dois temas extremamente importantes para nossa prova. Cabe ao perito escolhido ponderar sobre seu eventual enquadramento em algum dos casos de impedimento ou suspeição, previstos na legislação e em normativos específicos de cada categoria. Se a resposta for positiva, deve declinar-se do exercício da função, mediante petição dirigida ao magistrado. Como se pode ver, o quesito envolve padrões ético-morais e, portanto, apresenta-se como um aspecto altamente sensível, capaz de interferir, de forma crucial, no desfecho do processo. Vejam que o objetivo da norma é garantir justamente a imparcialidade que se espera do profissional que desempenhará a importante função. Afinal, as opiniões proferidas pelo perito, como sabemos, tendem a apresentar um peso considerável no resultado final do processo, as conclusões a que chegou o magistrado, tendendo a ser decisivas, positivamente ou negativamente, no alcance ou não do desejo das partes das partes. Partindo desse contexto, o CPC prevê consequências profissionais e financeiras, caso o magistrado e as partes se depararem com informações ou conclusões inverídicas, ou mesmo com eventuais omissões que venham, de alguma forma, por culpo ou dolo, causar prejuízos às partes. Observemos o que diz o art. 158 do CPC: Art. 158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, independentemente das demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de classe para adoção das medidas que entender cabíveis. Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 26 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Da leitura do dispositivo extraímos que: 1) A conduta reprovada começa com a prestação de informações inverídicas que, como resultado, produz algum prejuízo para à parte; 2) Essa conduta envolve dolo ou culpa, ou seja, independe da vontade do agente causador do dano. 3) Como sansão administrativa, ficará inabilitado para o exercício da função de perito pelo prazo que varia entre 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Um bom tempo de “molho”, portanto. 4) Isso não afasta a aplicação de sanções outras, como civis e criminais, a depender da extensão do dano e seus efeitos. 5) Além disso, deverá (não é faculdade) o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de classe. No caso do perito contador, o registro deve ser feito pelo magistrado junto ao CRC. Pela relevância do tema, abriremos um tópico específico ainda no decorrer do nosso curso, onde discutiremos melhor as situações configuradoras de impedimentos e suspeição. Vamos apresentar abaixo um breve resumo, na forma de uma figura, sobre as condicionantes principais que envolvem a escolha e nomeação do perito judicial. Figura 0.6 – Nomeação do perito judicial – Detalhamento das condicionantes Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 27 de 58| www.direçãoconcursos.com.br (*) O Conselho Federal de Contabilidade exige que o contador interessado em atuar como perito passe por uma avaliação, denominado Exame de Qualificação Técnica (EQT) para Perito Contábil. Somente após aprovação é que o profissional será inscrito no chamado Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC), mantido pelo CFC, e que serve de referência para o cadastro dos tribunais. Outras informações importantes sobre o Perito do Juízo Acreditamos que já esteja claro que o escolhido pelo magistrado para atuar na condição de perito do juízo não está obrigado a aceitar o encargo, desde que apresente um motivo devidamente fundamentado e razoável. A NBC PP 01, item “24”, dispõe que, para eximir-se da função, pode o contador, inclusive, alegar “motivo íntimo”. Dessa forma, caberá ao juiz aceitar a recusa, nomeando outro profissional para o encargo. Além da situação já vista (falta de conhecimento técnico científico) existe outra hipótese em que o peritopoderá ser substituído. Trata-se da situação em que ele deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe for estabelecido pelo juiz (art. 468, inciso II do CPC). Nesse caso, caberá ao magistrado fazer o registro da ocorrência junto ao órgão profissional da categoria (no caso do contador, ao CRC), estando a autoridade livre ainda para fixar uma multa, cujo valor levará em consideração o montante em discussão, bem como o possível prejuízo decorrente do atraso provocado no processo. Também nessa situação em que acarretar a substituição, deverá o perito fazer a restituição dos valores eventualmente recebidos por trabalhos não realizados, sob pena de inabilitação para outras perícias pelo prazo de 05(cinco) anos. A parte que fizera o adiantamento dos honorários poderá promover uma execução contra o perito, fundamentando sua ação na decisão que houver determinada a devolução. E por falar em retribuição financeira, como todo profissional, o especialista escolhido para atuar como perito do juízo tem direito a uma remuneração como contraprestação pelos serviços prestados. E ela o vem na forma de honorários. Em regra, nos termos do art. 95 do CPC, a remuneração é paga pela parte que solicita a perícia, na forma de adiantamento. Caberá ao juiz, nesse caso, determinar em qual momento o pagamento, a ser feito na forma de depósito bancário em conta do juízo, será realizado. Há uma situação, entretanto, em que esse custo será rateado entre as partes. Isso ocorrerá quando o procedimento pericial for determinado de ofício ou quando requerida por ambas. Existe, ainda, a possibilidade de que um terceiro, no caso o Estado, arque com esse ônus. Estamos falando daquela perícia realizada no âmbito da justiça gratuita. A proposta que envolve valores deverá ser apresentada pelo perito dentro de 05 (cinco) dias, a contar da ciência da nomeação. Quando se tratar da justiça gratuita, não caberá ao perito calcular ou propor o valor de seus honorários. Essa tarefa passa a ser de responsabilidade do juiz, que arbitrará a quantia, cabendo ao perito apenas manifestar sobre eventual concordância ou discordância. Ainda discutiremos melhor sobre esse assunto relativo aos honorários em nossas aulas futuras. Aguardem... É possível que o juiz nomeie mais de um perito judicial, o que também reflete nas partes, que ficam facultadas a também nomearem mais de um perito assistente. São situações em que, por exemplo, o magistrado tenha se deparado com matérias que versem sobre mais de uma área do conhecimento especializado. Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 28 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Ao final, como fruto dos trabalhos realizados, caberá ao perito do juízo a emissão de um laudo pericial. Estamos falando daquele documento que traz um relato das atividades realizadas pelo especialista, apontando as conclusões alcançadas, bem como a fundamentação técnico-científica para as mesmas. A partir de seu protocolo, passa a fazer parte dos autos do processo. Debateremos melhor sobre esse importante tema em tópico específico do nosso curso. O assistente técnico Outra figura importante no estudo da perícia no Brasil. Diferentemente do que ocorre em relação ao perito judicial, o assistente técnico (ou, como é intitulado por alguns, perito-assistente) não se faz presente no rol dos notáveis auxiliares da Justiça. Eles são indicados pelas partes, e não pelo juiz, cabendo a este apenas a formalidade de deferimento do ato. Essa indicação é facultativa. Para tanto, deverá a parte interessada fazer a indicação dentro do prazo máximo de 15 (quinze) dias, a partir da nomeação do perito do juízo. Diz o art. 465 do CPC: Art. 465 O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo. § 1o Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do despacho de nomeação do perito: I – [...] II – indicar o assistente técnico; (grifamos) III – apresentar quesitos. A remuneração do assistente técnico é fixada em comum acordo entre o profissional e o contratante, cabendo a este a responsabilidade pelo pagamento, sem qualquer interferência do juízo. Na prática, é comum que parte contratante e contratado firmem um contrato de prestação de serviços, onde constam tais detalhes e responsabilidade de cada parte, incluindo prazos. Esse documento contratual não deve fazer parte dos autos, sendo algo restrito às partes (contratante e contratado). A função principal do assistente técnico, logicamente, é defender os interesses da parte que o contratar. E ele o fará, inicialmente, por meio da elaboração de quesitos, os quais devem ser apresentados também respeitando aquele prazo supra: 15 dias, a partir da nomeação do perito judicial. O assistente técnico e o perito judicial não possuem relação profissional alguma, muito menos hierarquia processual. Estão no mesmo nível, o que deve favorecer a harmonia nos trabalhos desenvolvidos.9 Nesse sentido, deve o profissional contratado se colocar à disposição do perito judicial nomeado, com vistas a auxiliá- lo na busca de informações e documentos. Afinal, o desejo de todos é que a lide seja solucionada. 9 SÁ, Antônio Lopes de. Perícia Contábil. 10.ed. São Paulo: Atlas, 2017 Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 29 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Em regra, o assistente técnico não está sujeito às hipóteses de suspeição e impedimento. A confiança que se espera nesta relação é exclusivamente entre a parte contratante e o assistente contratado. Portanto, não é cobrado deste a imparcialidade, já que o direcionamento de suas ações e opiniões ficam subentendidas a partir da sua indicação. Observem como esses aspectos são tratados pelo CPC: Art. 466. [...] § 1o Os assistentes técnicos são de confiança da parte e não estão sujeitos a impedimento ou suspeição. [grifamos] § 2o [...] Prestem atenção em como a temida CESPE abordou esse assunto em uma de suas provas: Questões para fixar!!! (CESPE/MPU-Conhecimentos básicos para cargos diversos/2013) Com base no CPC, julgue o item seguinte, relativo a perícia. Os motivos de impedimento e suspeição aplicam-se tanto aos peritos quanto aos assistentes técnicos. Certo ou Errado? RESOLUÇÃO: Vimos que uma das características que diferenciam o perito judicial e o assistente técnico é justamente em relação a esse assunto. Enquanto o perito do juízo tem sua nomeação e atuação nesse qualidade o não enquadramento em uma das hipóteses de impedimento ou suspeição, o CPC diz expressamente que exigência semelhante não será feita em relação ao perito-assistente. Resposta: Errado. Essa dispensa às hipóteses de suspeição ou impedimento não o assistente técnico de agir conforme as boas técnicas e princípios da ciência na qual fora formado e atua. Além disso, a ética e a legalidade sempre serão exigidas sempre, especialmente por estarem atuando num ambiente onde se busca justamente a justiça. Eventuais discordâncias devem ser tratadas de forma respeitosa e construtiva. O CPC resguarda os direitos dos assistentes técnicos em acompanhar as ações (diligências e exames) eventualmente feitas pelo perito. Caberá a este avisar, àqueles, suas intenções, mediante aviso prévio. O produto do seu trabalho é conhecido como parecer técnico (ou parecer pericial), devendo ser ele apresentado, caso o queira (não é obrigatório, portanto), no prazo máximo de 15 (quinze) após a ciência do laudo apresentado pelo peritodo juízo. É o que se depreende a partir da análise do art. 477 do CPC: Art. 477 O perito protocolará o laudo em juízo, no prazo fixado pelo juiz, pelo menos 20 (vinte) dias antes da audiência de instrução e julgamento. § 1o As partes serão intimadas para, querendo, manifestar-se sobre o laudo do perito do juízo no prazo comum de 15 (quinze) dias, podendo o assistente técnico de cada uma das partes, em igual prazo, apresentar seu respectivo parecer. [grifamos] Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 30 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Mas é facultado a ele, de comum acordo com a parte contratante, apor assinatura no laudo pericial. Nesse caso, se vincula integralmente ao que fora concluído pelo perito judicial responsável pelo laudo, ficando proibido de emitir parecer técnico (ou parecer pericial), ainda que apenas parcialmente contrário a tal documento. Apesar das diferenças citadas até aqui, existem alguns aspectos que aproximam os dois tipos de profissionais que atuam no processo. Do assistente técnico também se exige requisitos profissionais. A formação em nível superior não está explícita no CPC, notadamente em relação ao assistente técnico. Em relação ao perito do juízo, por seu turno, a única menção feita pelo CPC à necessidade de curso superior do perito está no art. 464, § 4º, onde se discute as regras relativas à prova pericial10. Porém, nesta e em diversas outras passagens, o código deixa claro que a atividade pericial, no âmbito do processo, deve ser realizada por “especialista”. Assim, para a literatura, fica subentendido que essa exigência diz não apenas que será necessária a devida formação universitária, mas também a especialização na área do saber objeto da demanda. Na seara contábil, temos ainda a NBC PP 01, que traz explícita essa exigência de que apenas o contador (bacharel em Ciências Contábeis, portanto) pode exercer a função de perito. O nível de relevância do trabalho do assistente técnico se revela ainda na hipótese prevista pelo art. 472 do CPC. Vejamos: Atenção!! Art. 472. O juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na inicial e na contestação, apresentarem, sobre as questões de fato, pareceres técnicos ou documentos elucidativos que considerar suficientes. [grifamos] Ou seja, caso as partes interessadas apresentem elementos suficientemente embasados, a prova pericial pode ser dispensada pelo juiz. E uma das formas de as partes fazerem isso é apresentarem pareceres técnicos. O documento deve, entretanto, convencer a autoridade judiciária, que é quem dará a palavra final. Vamos ver, abaixo, um quadro que resume as principais diferenças entre o perito do juízo (ou perito judicial) e o assistente técnico (ou perito assistente): 10 CPC, art. 464, § 4o “Durante a arguição, o especialista, que deverá ter formação acadêmica específica na área objeto de seu depoimento, poderá valer-se de qualquer recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens com o fim de esclarecer os pontos controvertidos da causa”. Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 31 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Quadro-resumo 0.1 – Diferenças entre o perito do juízo e o assistente técnico Abaixo, trazemos um tópico que não está explícito no edital, mas se torna algo fundamental numa prova em que ambas as disciplinas são cobradas pelo examinador. PERITO DO JUÍZO (ou PERITO JUDICIAL) ASSISTENTE TÉCNICO (ou PERITO- ASSISTENTE) Nomeado pelo juiz Indicado pelas partes. Sujeito a cadastro prévio Não se sujeita a cadastro Tem a função de atuar auxiliando o juiz no processo de esclarecimento de pontos específicos da matéria em controvérsia – Resposta a quesitos Tem a função de auxiliar a parte contratante, defendendo seus interesses no processo – Formula quesitos O CPC faz exigência de formação em curso superior, na medida em que estabelece que o profissional deva ser “especialista”. Exige, também, o correspondente registro em conselho de classe. CPC não estipula a obrigatoriedade de formação acadêmica. Alguns regulamentos das profissões faz esse papel, como a NBC PP 01, na seara contábil. Remuneração feita no âmbito do processo, pela parte que requereu a perícia, podendo ser ressarcida pela parte vencida, se for o caso. Poderá, ainda, ser rateada entre ambas, se determinada de ofício ou se requerida por ambas as partes. Remuneração fica a cargo da parte contratante, sem vínculo com os autos do processo. Deve zelar, a todo momento, pela imparcialidade. Não se exige imparcialidade. Está sujeito às regras de suspeição e impedimento previstas no CPC. Não está sujeito às regras de suspeição e impedimento previstas no CPC. A NBC PP 01, porém, prevê essa possibilidade. Emite laudo pericial. Emite parecer técnico (ou parecer pericial) Apresentação obrigatória do laudo pericial ao final dos trabalhos Apresentação do parecer técnico é dispensável. Pode, inclusive, assinar o laudo produzido pelo perito judicial. Perícia Contábil, Legislação e Ética Profissional para o CFC Prof. Arthur Leone Prof. Andrey Soares Aula 00 32 de 58| www.direçãoconcursos.com.br Tópico extra: principais diferenças entre a auditoria e a perícia contábil Tema muito recorrente em provas, e que sempre gera algumas dúvidas entre alguns alunos, diz respeito às diferenças existentes entre a auditoria e a perícia, notadamente as mais famosas, que ocorrem no âmbito da contabilidade. Nosso objetivo aqui, portanto, é trazer um resumo que propiciará a vocês a segurança necessária para jamais errar uma questão que aborde o assunto. A perícia contábil não se confunde com a auditoria. Mas é comum que algumas bancas cobrem o conteúdo da primeira inserido no contexto da auditoria. Apesar de geralmente haver essa mescla de conteúdo, devemos saber que a perícia é regulada por normas diversas da auditoria. As normas que regem a auditoria são as NBC TAs e PAs; na perícia, por seu turno, como vimos, a normatização tem origem nas normas NBC TPs e NBC PPs. As distinções, no entanto, não ficam restritas a ao seu regramento e aspectos formais. Há diferenças nos mais variados aspectos: possuem destinatários distintos, procedimentos distintos, executores distintos, relatórios distintos, dentre outros. Abaixo, um quadro que resume essas diferenças principais. Quadro-resumo 0.2 – Diferenças entre Auditoria Contábil e Perícia Contábil AUDITORIA CONTÁBIL PERÍCIA CONTÁBIL Denominação do profissional: auditor externo (ou auditor independente). Denominação do profissional: perito contábil judicial (ou perito contábil do juízo). Função maior: emitir opinião sobre a conformidade das demonstrações financeiras, bem como sobre a eficiência e a eficácia dos sistemas de controle interno (revisão e verificação). Servir como meio de prova sobre veracidade de situações, coisas ou fatos que envolvem o patrimônio, os quais estejam gerando controvérsia entre duas ou mais partes, auxiliando, assim, no deslinde da questão.. Tem como destinatários diversos agentes, internos e externos, como acionistas, investidores, governo e administradores. Diretamente, atende à necessidade do juiz que o nomeou e, indiretamente, às partes que compõem a lide. Pode ser restrita, por exemplo, a um departamento, ou envolver a empresa como um todo. É específica, sendo restrita aos quesitos
Compartilhar