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literatura, artes e atualidades ROMANTISMO

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ROMANTISMO
Estudamos o que é estilo de época e vimos as características de dois deles – o Barroco e o Arcadismo. Agora, veremos o Romantismo, que é o estilo dos fins do século XVIII até a metade do século XIX. (No Brasil, como era comum nos países colonizados, aconteceu um pouco depois: de 1836 a 1880).
Bem, se estamos falando de novo estilo de época, é porque os artistas desse período começaram a apresentar características ideológicas, temáticas e estéticas diferentes das do Neoclassicismo. No entanto, é bom enfatizarmos que as mudanças vão-se processando naturalmente; não há rupturas bruscas – e as datas que servem de marco são apenas indicações de fatos importantes tomados para situar no tempo os movimentos literários.
Com esses esclarecimentos, você poderá entender melhor que o espírito romântico surgiu no século XVIII e atingiu maior expressividade no século XIX, quando as diferenças se tornaram bastante nítidas.
Senso comum
 
A Liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix
 
O adjetivo “romântico”, em linguagem comum sempre nos sugere amor, sentimentalismo, emoção e, às vezes, idealismo irrealizável. Essas significações, que, comumente, associamos à palavra, não são muito diferentes da ideologia do Romantismo.
No entanto, já soubemos que a filosofia do século XVIII era de otimismo, crença na razão e ânsia por nova ordem social e política, fundada no liberalismo, a qual se concretizou em vários movimentos históricos – Independência dos Estados Unidos, Revolução Francesa, movimentos de independência em todas as Américas.
Aconteceu, porém, que esses movimentos, com o passar de pouco tempo, não mantiveram seus princípios originais, principalmente por causa da ascensão política da burguesia e seu interesse pela estabilidade política e social.
 
As teses de liberalismo, de governo democrático, que animaram a pequena burguesia (comerciantes e profissionais liberais), o povo e os intelectuais a fazer as revoluções, não se concretizaram na verdade. O que floresceu foi uma política conservadora e estável, importante para que a burguesia industrial e comercial prosperasse.
Formou-se, então, o espírito romântico, com os mesmos ideais liberais, mas sem poder crer na sua concretização em face da estrutura socioeconômica da época. A tese do “bom selvagem” do pensador iluminista francês Jean-Jacques Rousseau, considerado o “Pai do Romantismo”, foi aceita pelos românticos: o homem é bom no seu estado de natureza, mas a vida social o corrompe.
O Romantismo é, então, a época de interiorização do artista.
O artista, em conflito com a realidade social e política, explora o mundo interior – os sonhos, a imaginação, os sentimentos – ou o mundo distante do seu – a história do país, as terras exóticas, a infância, etc.
 
O Romantismo teve início na Grã-Bretanha – em especial na Escócia e na Inglaterra – e na Alemanha. A França, envolvida no final do século XVIII pelos avanços e recuos da Revolução Francesa, só conheceu o Romantismo como forma de expressão artística já no início do século XIX. Porém o filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau, já no século anterior, tinha lançado as sementes do movimento, tendo ele, inclusive, usado o vocábulo “romantique” pela primeira vez no idioma francês.
Depois, o Romantismo alastrou-se por todo o mundo ocidental. Chegou a Portugal em 1825, com o poema Camões, de Almeida Garret. Este e Alexandre Herculano, Antônio Feliciano de Castilho, Júlio Dinis, Camilo Castelo Branco foram os vultos do Romantismo português.
No Brasil, o marco do Romantismo é o ano de 1836, com os Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães. Isto porque os países colonizados, dadas as distâncias e a situação sociocultural de inferioridade, assimilavam as ideias europeias com alguns anos de atraso.
 
CARACTERÍSTICAS ESTÉTICAS DO ROMANTISMO
 
A arte romântica é uma das mais facilmente reconhecíveis, por apresentar características muito evidentes. Em linhas gerais, dirigem a obra romântica cinco tipos de visão de mundo:
 
· visão subjetiva – culto à emoção e aos sentimentos;
· visão nacionalista – culto à liberdade, ao patriotismo e à valorização das tradições e paisagem nacionais;
· visão idílica – culto ao amor como um sentimento elevado mas, normalmente, irrealizável;
· visão satânica – em alguns românticos, ficou notável a incompatibilidade do eu-lírico com a sociedade; esses poetas enveredaram pelo culto aos vícios morais, e a visão trágica da vida caracteriza a geração ultrarromântica, conhecida como a do “mal do século”;
· visão social – com temas sociais de liberdade.
 
Essas tendências básicas ficarão mais claras para você no desdobramento que fazemos, a seguir, das principais características estéticas do Romantismo. 
 
 
	· Subjetivismo
O subjetivismo consiste na valorização do indivíduo, do seu mundo interior, da sua emoção. O eu-lírico traz à tona o seu mundo interior, o seu estado de alma provocado pela realidade exterior.
Veja o exemplo:
“Amoroso calor meu rosto inunda,
Mórbida languidez me banha os olhos,
Ardem sem sono as pálpebras doridas,
Convulsivo tremor meu corpo vibra.”
(Álvares de Azevedo)
É muito comum, no Romantismo, o uso da 1ª pessoa (eu), que exemplifica essa característica.
 
· Imaginação criadora
Os românticos exigem para si a liberdade de criação: a imaginação é cultivada por todos; as lendas, os mitos, os contos infantis são recontados. Usando a imaginação, o artista romântico cria mundos imaginários, para onde o eu-lírico procura fugir a fim de escapar dos conflitos causados pelo choque com o mundo.
Observe o exemplo:
“Então, malgrado o véu que envolve a terra,
A vista, do que vela, enxerga mundos,
E apesar do silêncio, o ouvido escuta
Notas de etéreas harpas.”
(Gonçalves Dias)
 
 
· Evasão ou escapismo
Evasão e escapismo querem dizer fuga; no caso dos românticos, é a ânsia de fugir da realidade objetiva para um mundo imaginário, idealizado à luz das emoções pessoais, do sonho e da imaginação. Pode, ainda, essa evasão conduzir à solidão, ao desespero, ao suicídio, à morte. Por isso é comum, nos textos românticos, o culto à solidão, a ânsia pela morte, o tema do suicídio, a preferência pela noite, que simboliza ora a paz, ora a morte, ora o poder de sonhar.
Veja:
“Pensamento gentil de paz eterna
Amiga morte, vem. Tu és o termo
De dois fantasmas que a existência formam,
– Dess’alma vã e desse corpo enfermo.”
...
(Junqueira Freire)
 
 
· Senso do mistério
A realidade aparece constantemente marcada pelo sobrenatural e pelo terror. As alucinações, a amada, que aparece como visão e não como realidade, e a descrição de terras ou costumes exóticos (diferentes da realidade social ou cultural do poeta) também se enquadram nessa tendência.
Confira:
“Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada...
Sobre as névoas te libras vaporoso...”
(Castro Alves)
 
 
· Fé e ânsia de glória
O escritor acredita em si mesmo, nas realidades que inventa e nas mudanças sociais que defende, as quais, porém, não são valorizadas por seus contemporâneos. Os artistas, então, ora lamentam a falta de visão dos homens do seu tempo, ora os atacam duramente.
É no Romantismo também que os artistas ousam afirmar sua superioridade sobre os demais seres humanos.
Veja o trecho a seguir:
“Oh! Bendito o que semeia
Livros...  livros à mancheia...
Bravo! a quem salva o futuro,
Fecundando a multidão!...
Num poema amortalhada,
Nunca morre uma nação.”
(Castro Alves)
 
 
· Culto à natureza
 
Mesmo que o culto à natureza venha de outras escolas literárias, principalmente da arcádica, o Romantismo lhe dá um sentido totalmente diferente. Enquanto a natureza, no Arcadismo, era moldura e enfeite, no Romantismo, ela participa, fala, comunica-se, tem sentimentos. O eu-lírico encontra na natureza paz e identificação para os sentimentos que existem em sua alma. A natureza é humanizada e, por isso, predomina a figura de linguagem prosopopeia ou animização – “as árvores choram”, “as pedras gemiam”.
Observe o exemplo a seguir:“Este é o acordar do poeta
(...)
É então que para ele há unicamente uma vida real
– a íntima; unicamente uma linguagem inteligível
– a do bramido do mar e do rugido dos ventos;
unicamente uma convivência não travada de perfídia
– a da solidão.”
(Alexandre Herculano)
 
 
· Nacionalismo
 
A Liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix 
 
Revolta contra as tropas portuguesas na Bahia, em 1822, comandada por Madeira de Melo
O Romantismo coincidiu com uma época de nacionalismo, sob o lema da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade: a própria Revolução Francesa, os movimentos de independência nas colônias americanas, a Revolução Italiana etc. Embora essas ideias não vingassem, elas existiam como aspiração dos artistas e intelectuais e eram cultivadas pelos poetas.
Podemos encontrar o nacionalismo na obra romântica sob as seguintes faces: culto aos heróis e feitos heroicos da pátria e valorização da paisagem, do folclore, das tradições culturais do país.
Nos países europeus, o culto aos heróis e os feitos heroicos da pátria resulta na tendência a romances históricos, cujo cenário é a Idade Média; nos países americanos, aparece como louvor às lutas pela independência ou como indianismo (valorização dos primeiros habitantes da América).
 
Veja:
 
...
“Não! Não eram dous povos, que abalavam
Naquele instante o solo ensanguentado...
Era o porvir – em frente do passado,
A Liberdade – em frente à Escravidão,
Era a luta das águias – e do abutre,
A revolta do pulso – contra os ferros,
O pugilato da razão – com os erros,
O duelo da treva – e do clarão!...”
 
O trecho pertence à Ode ao Dois de Julho, a obra em que Castro Alves exalta as lutas pela Independência do Brasil, na Bahia: a luta final, com a vitória dos brasileiros, aconteceu nos campos de Pirajá.
 
Observe que a estrofe é construída por antíteses: porvir x passado / liberdade x escravidão / águias x abutre / pulso x ferros / razão x erros / clarão x treva. Enquanto passado, escravidão, abutre, ferros, erros etreva caracterizam os portugueses; porvir, liberdade, águias, pulso, razão e clarão referem-se aos brasileiros.
 
A exaltação das qualidades físicas e morais dos índios foi uma fase muito importante do nosso Romantismo – o Indianismo. Destacam-se nela Gonçalves Dias, com os poemas I-Juca Pirama (em português: “O que vai morrer”), Canto do piaga e a famosa Canção do tamoio, e José de Alencar com seus romances indigenistas – Iracema, O guarani e Ubirajara.
Iracema, de José Maria de Medeiros. Museu Nacional de Belas Artes, RJ.
 
Veja como Iracema nos é apresentada.
“Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara.”
 
Vejamos como se dá a valorização da paisagem, do folclore, das tradições culturais do país.
A saudade da terra natal e de suas belezas é cantada por vários poetas, como a conhecidíssima Canção do Exílio, de Gonçalves Dias.
“Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá. 
Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, 
Nossos bosques têm mais vida. 
Nossa vida mais amores.”
O uso de palavras e expressões indígenas na obra de Alencar e Gonçalves Dias também são exemplos dessa característica.
 
· Liberdade de criação
 
A ânsia de liberdade dos românticos gerou um grande número de mudanças na arte poética tradicional:
– torna-se comum a narrativa em prosa para contar os feitos heroicos e as histórias humanas: surgem os primeiros romancistas, escrevendo em prosa;
– na obra em versos, há a liberdade de formas: além de sonetos e odes formais, são cultivadas as canções com número variado de estrofes, há a preferência pelo ritmo popular e uso de versos brancos – enfim uma grande liberdade de expressão para o artista;
– no gênero dramático, surge o drama como principal forma de expressão.
 
· Sentimentalismo
Por sentimentalismo devemos entender a expressão incontida da emoção. Os românticos, na exploração de seus temas, encaminham-se normalmente para reflexões melancólicas. Os próprios temas já são escolhidos com essa visão: valorização da infância; idealização do amor maternal e fraternal; denúncia das injustiças sociais.
 
Veja o poema em que Álvares de Azevedo fala do amor maternal e do sofrimento da mãe pelo filho que sofre.
 
És TU, alma divina, essa Madona
Que nos embala na manhã da vida,
Que ao amor indolente se abandona
E beija uma criança adormecida;
No leito solitário és tu quem vela
Trêmulo o coração que a dor anseia,
Nos ais do sofrimento inda mais bela
Pranteando sobre uma alma que pranteia.
 
· Religiosidade
 
Deus, na poesia romântica, aparece segundo a caracterização do Cristo dos Evangelhos. Humildade, doçura, paz, amor que o torna capaz de morrer pelos homens – essas são as qualidades do Cristo cultivado pelos românticos.
O eu-lírico pode apenas adorá-lo ou confessar-se pecador e mau, expressando seu sofrimento por sua baixeza.
“E o celeste enviado abrindo as asas
Volta, entre nuvens de brilhantes cores, 
À sidérea mansão. – Salvo era o mundo:”
...
(Fagundes Varela)
 
· Idealização da mulher e do amor
 
Se, no Arcadismo, a mulher era dotada de grandes qualidades morais e exaltada como companheira, no Romantismo, as qualidades da amada serão elevadas mais ainda, chegando a haver a identificação da mulher com os anjos. No entanto, essa mulher dificilmente se torna companheira do eu-lírico. Comprove como é angelical a mulher do Romantismo.
“Ah! Vem, pálida virgem, se tens pena
De quem morre por ti, e morre amando,
Dá vida em teu alento à minha vida, 
Une nos lábios meus minha alma à tua!
Eu quero ao pé de ti sentir o mundo
Na tu’alma infantil, na tua fronte
Beijar a luz de Deus; nos teus suspiros
Sentir as virações do paraíso; 
E a teus pés, de joelhos, crer ainda 
Que não mente o amor que um anjo inspira, 
Que eu posso na tu’alma ser ditoso, 
Beijar-te nos cabelos soluçando
E no teu seio ser feliz morrendo.”
(Álvares de Azevedo)
 
 
· Exploração da face demoníaca do homem
 
Alguns poetas românticos brasileiros – como Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Junqueira Freire e até Castro Alves – aprofundaram a indagação do “eu” humano até descobrir o lado demoníaco. Nesses poetas, haverá, então, o gosto pelo proibido, pela vida marginal. Embriaguês, sensualidade, delírio, repúdio ao Bem e à moral tornam-se temas da sua poesia.
Culto à loucura é o que temos neste poema de Junqueira Freire.
“Não, não é louco. O espírito somente
É que quebrou-lhe um elo da matéria,
Pensa melhor que vós, pensa mais livre, 
Aproxima-se mais à essência etérea.
... 
E vós, almas terrenas, que a matéria 
Ou sufocou ou reduziu a pouco,
Não lhe entendeis, por isso, as frases santas,
E zombando o chamais portanto: – um louco!”
 
Ou, então, a súplica de quem se entregou aos vícios, como neste poema de Álvares de Azevedo.
 
“Oh! não maldigam o mancebo exausto
Que na orgia gastou o peito insano,
Que foi ao lupanar pedir um leito
Onde a sede febril lhe adormecesse!
Não podia dormir! nas longas noites
Pediu ao vício os beijos de veneno:
E amou a saturnal, o vinho, o jogo
E a convulsão nos seios da perdida!”
 
Acabamos de estudar as características do Romantismo. Você tem, agora, todas as informações necessárias para reconhecer um autor filiado a esse estilo de época. Mas saiba apenas que essas características não são exclusivas; na mesma obra, podemos notar a ocorrência de várias delas.
 
 AS TRÊS GERAÇÕES ROMÂNTICAS
Como aconteceu em toda a Europa, o movimento romântico no Brasil desenvolveu-se em fases que apresentavam diferenças quanto à temática e à cosmovisão (isto é, visão de mundo, maneira de interpretar o mundo) revelada nas obras, embora mantendo as características gerais semelhantes.
No nosso estudo, consideraremos trêsgerações românticas no Romantismo brasileiro.
A primeira geração romântica engloba desde os precursores até o período do nacionalismo indianista.
 
1ª geração
 
Temática nacionalista e amorosa: predomínio das descrições da natureza, indianismo (idealização do selvagem como expressão original do nacionalismo brasileiro e como símbolo do espírito e da civilização nacional em luta contra a herança portuguesa) e lirismo amoroso.
· Domingos José GONÇALVES DE MAGALHÃES (1811 – 1882): Sua importância é mais histórica que literária. Em 1836, publicou Suspiros poéticos e saudades, marco do Romantismo brasileiro.
 
Obras: Suspiros poéticos e saudades (poemas líricos); A confederação dos tamoios (poema épico e nacionalista); Antônio José (tragédia em versos sobre os envolvimentos desse autor judeu com a Inquisição, que culminou com sua morte).
 
· Antônio GONÇALVES DIAS (1823 – 1864): É o grande poeta dessa geração: cultor do amor em sentidos poemas, cantor das belezas do Brasil e das saudades no exílio; autor nacionalista e indianista com poemas belos e convincentes.
 
Obras: Primeiros cantos, Segundos cantos, Últimos cantos (obras líricas); I-Juca Pirama, O canto do piaga,Canção do tamoio, Os timbiras (poemas indianistas); Sextilhas de Frei Antão (poemas em português arcaico); Beatriz Cenci, Leonor de Mendonça (dramas); Dicionário da língua tupi.
 
Participando dessa geração na prosa e no teatro, temos ainda Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, José de Alencar e Martins Pena.
2ª geração (ultrarromântica)
Temática subjetivista: individualismo e subjetivismo, dúvida, desilusão, “mal do século”: exploração da face demoníaca do homem, do cinismo, da vida boêmia e o culto à morte.
· Manuel Antônio ÁLVARES DE AZEVEDO (1831 – 1852): Seus temas mais comuns são: a busca da amada bela e sensual; a loucura e os  vícios da alma; a obsessão pela morte próxima a impedir a concretização das suas potencialidades; a ironia; o gosto pelo macabro.
Obras: Lira dos Vinte Anos; Pedro Ivo; O conde Lopo;Poema do frade; Noite na Taverna (prosa); Macário(teatro).
· José Marques CASIMIRO de ABREU (1839 – 1860): Foi e continua sendo um dos autores mais lidos do Romantismo. Seus temas preferidos são a saudade da pátria, o culto à infância e o lirismo amoroso.
Obras: Primaveras (poemas); Camões e o Jaú;Carolina, Camila, A virgem loura (prosa).
 
 
· Luís José JUNQUEIRA FREIRE (1832 – 1855): Seus temas comuns são a poesia religiosa, o lirismo e o nacionalismo.
Obras: Inspirações do claustro; Contradições poéticas.
· Luís Nicolau FAGUNDES VARELA (1841 – 1875): A temática da morte desejada; o inconformismo com a vida social; o patriotismo; a solidão; a beleza da vida na zona rural brasileira em oposição à falsidade da vida urbana – estes são alguns dos seus temas preferidos.
Obras: Noturnas; Vozes da América; Cantos e fantasias; Cantos meridionais; Cantos do ermo e da cidade; Cantos religiosos; Anchieta ou O Evangelho das selvas.
Outros poetas desta fase: Francisco Otaviano, Laurindo Rabelo, Tavares Bastos.
Na próxima geração, a poesia brasileira manterá ainda a emoção, porém será mais tecnicamente cuidada e, por isso, chamada condoreira, pois o condor é uma grande ave das regiões marítimas, de longas asas, as quais lhe permitem voar muito alto.
 
3ª geração
Temática amorosa e de liberalismo social – romantismo liberal e social: intensa preocupação político-social, nacionalista, ligada a lutas pelo abolicionismo e pela Guerra do Paraguai. Poesia intimista e amorosa e também um lirismo de metáforas arrebatadas e ousadas – “condoreirismo” (tendência para a expressividade de figuras de linguagem, geralmente altaneiras e a serviço de temas sociais e políticos).
· Antônio de CASTRO ALVES (1847 – 1871): Castro Alves é considerado o nosso Victor Hugo, e os críticos indicam influências hugoanas na sua obra. Assim, se Victor Hugo foi o maior poeta da França, Castro Alves foi também o nosso maior expoente do Romantismo.
Foi defensor das ideias liberais, em seus poemas épico-patrióticos (Ode ao Dois de Julho, O livro e a América), e o poeta da Abolição, recebendo o título de “Poeta dos Escravos”. Cultivou a poesia lírica com temas que vão desde os sonhos amorosos até a confissão sensual e erótica inspirada em seus amores boêmios.
Seus poemas mais conhecidos são “O navio negreiro” e “Vozes d’África”, do livro Os escravos, em que expressa suas ideias abolicionistas – obras com grande força de imagens e capazes de provocar, no leitor e no ouvinte, uma explosão emotiva.
Obras: Espumas flutuantes; A cachoeira de Paulo Afonso (líricas); Os escravos (poemas abolicionistas);Gonzaga ou a Revolução de Minas (teatro).
 
· SOUSÂNDRADE – Joaquim de Sousa Andrade (1833 – 1902): No estilo de Sousândrade, existem traços que só serão cultivados no Modernismo: linguagem elíptica (telegráfica); composição de palavras pela justaposição de outras; uso de símbolos tipográficos etc. Sousândrade é especial; até seu lirismo não é romântico; é, ao contrário, seco e não emotivo.
Obras: Harpas selvagens; O guesa errante; Novo Éden; Harpas d’ouro; Liras perdidas.
Nesta geração também se incluem os poetas Luís Delfino, França Júnior e Machado de Assis (romântico).
Concluímos o estudo dos principais poetas do Romantismo. Você, agora, tem uma visão geral da poesia de afirmação da nossa literatura. Nada disso, porém, será tão importante para você do que a leitura das obras desses autores.
 
 A PROSA DE FICÇÃO
A prosa até o Romantismo consistiu em discursos sacros ou políticos e cartas. Com o Romantismo, generaliza-se, na literatura mundial e no Brasil, o texto narrativo escrito em prosa – o romance, a novela e o conto. Essas obras foram muito difundidas entre nós e alcançaram grande público, graças principalmente à sua divulgação em revistas semanais da época, muito apreciadas. No Brasil houve grande número de ficcionistas, e os romances cultivados foram principalmente:
· históricos – sobre episódios da História do Brasil;
· indianistas – sobre episódios em que os indígenas figuram como heróis. José de Alencar foi o grande mestre do gênero;
· urbanos – sobre os costumes das cidades brasileiras, em especial do Rio de Janeiro;
· regionalistas – sobre aspectos das diversas regiões brasileiras e a vida rural;
· de mistério – pouco difundidos e são exemplificados por Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa e pelos contos de Álvares de Azevedo.
 
Em linhas gerais, a ficção romântica caracteriza-se pelos seguintes elementos: personagens, valores sociais e estilo. Os personagens da ficção romântica são planos, quer dizer, têm um único comportamento do início até o fim da obra: ou são heroicos e virtuosos, ou são malévolos, sempre a tentar prejudicar os heróis. É do Romantismo que temos a crença de que o personagem principal é herói virtuoso – não há o aprofundamento psicológico dos autores do Realismo.
 
As obras de ficção não escondem um fim moralizante, de defesa dos valores da sociedade em contraposição ao mal.
 
É um estilo em que predominam os traços descritivos, os autores demoram-se em descrições da natureza e dos personagens, tornando a narrativa mais lenta. Os trechos descritivos de José de Alencar são célebres, repletos de sugestões plásticas – cores, formas, musicalidade – sempre em correlação com os estados d’alma ou situações descritas.
 
Estudemos, agora, os principais autores da prosa romântica.
 
PRINCIPAIS AUTORES DA PROSA ROMÂNTICA
 
· JOSÉ Martiniano DE ALENCAR (1829 – 1877): Escritor profundamente nacionalista, procurou retratar em suas obras a alma do brasileiro, seus hábitos, costumes e falares. Além de romancista, foi também poeta, cronista, crítico e teatrólogo. Foi o mais notável romancista romântico brasileiro e cultivou todos os tipos de romance.
- Indianistas: O guarani (também considerado por alguns romance histórico); Iracema; Ubirajara.
- Urbanos: Cinco minutos; A viuvinha; Senhora;Encarnação; Lucíola; Diva; A pata da gazela; Sonhos d’ouro.
- Históricos: O guarani; As minas de prata; A guerra dos mascates.
- Regionalistas:O gaúcho; O tronco do ipê; Til; O sertanejo.
 
 
Outros romancistas destacaram-se no cenário romântico.
· JOAQUIM MANUEL DE MACEDO (1820 – 1882): Foi um ficcionista muito popular. Suas obras caracterizam-se pela descrição dos costumes da capital do Império na época e por expressarem lições morais. O tema mais frequente deste autor é o namoro, concebido sob o sentimentalismo do Romantismo.
Obras: A moreninha (sua obra mais famosa); O moço loiro, A luneta mágica, Rosa, Vicentina, Os romances da semana (contos); O culto do dever; A namoradeira;A misteriosa; etc.
 
 
· MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA(1831 – 1861): Este é o romancista de uma única obra – Memórias de um sargento de milícias – mas sua importância reside na diferença dessa obra em relação às demais românticas.
Memórias de um sargento de milícias é uma obra romântica, mas, em vez da burguesia da cidade, com seus hábitos europeus e sua moralidade, o autor retrata a pequena burguesia dos subúrbios, sua alegria não contida, seus padrões morais liberais. O herói, Leonardo, é filho de um encontro casual e é menino endiabrado e rebelde, sempre envolvido em aventuras agitadas, até que encontra o amor e se regenera.
 
 
· João FRANKLIN da Silveira TÁVORA(1842 – 1888): Este cearense é autor de romances regionalistas e históricos.
Obras: Um casamento no arrabalde; O cabeleira; O matuto; Lourenço.
· VISCONDE DE TAUNAY – Alfredo d’Escragnolle Taunay – lê-se “Toné” (1843 – 1899): Seus romances primam pelas descrições. Cultivou o regionalismo romântico e o romance histórico.
Obras: Inocência, Histórias brasileiras e Ao entardecer(contos); A retirada da Laguna (romance histórico);Memórias, etc.
 
 
 
· BERNARDO Joaquim da Silva GUIMARÃES (1825 – 1884): Além de ficcionista, foi poeta. Na sua ficção, entram elementos do regionalismo, crítica à escravidão e expressa preocupações morais e sociais.
Obras: A escrava Isaura, O garimpeiro (romance regionalista); O ermitão de Muquém; O seminarista(considerada sua melhor obra).
 
O TEATRO NO SÉCULO XIX
Só no século XIX que o teatro no Brasil ganha força e expressão como um dos costumes mais tradicionais da burguesia brasileira do século XIX. É verdade que o gênero teve início no Brasil com os autos de Anchieta e que, nas principais cidades, se apresentavam companhias teatrais brasileiras e europeias. Mas o teatro exige grande público e só o florescimento das cidades e a divulgação cultural é que permitem a sua afirmação.
Isso se conseguiu com o florescimento provocado pela descoberta de ouro e diamantes e, depois, com a vinda da Família Real, que fez “se europeizarem” vertiginosamente as cidades brasileiras.
 
	No início daquele século, surgem no Brasil os pioneiros do teatro moderno brasileiro – o ator João Caetano e o autor Martins Pena. Estes, representando e escrevendo, dão popularidade ao teatro e permitem que os autores propriamente românticos produzam a nova forma de arte dramática: o drama romântico, escrito em prosa.
Os principais poetas e ficcionistas românticos escreveram para o teatro. Com os autores românticos e o pré-romântico Martins Pena, o teatro passa a ser visto como a maior força corretiva da sociedade, que tinha nele representados todos os seus interesses: paixões, hábitos nobres e vulgares, crimes e virtudes.
 
 
CONTRIBUIÇÕES DO ROMANTISMO
O Romantismo foi, como já dissemos, o movimento de afirmação da nossa literatura. Suas principais contribuições são:
· a expansão do domínio da literatura por todo o país, com numerosos autores cultivando os mais variados gêneros;
· a formação de um público para a arte literária e a divulgação das obras não só entre os intelectuais, mas também pela população das cidades;
· a busca de afirmação da cultura brasileira na arte tradicionalmente europeia, com a inclusão das tradições mais brasileiras possíveis: o indígena, seus costumes e sua língua; a paisagem nacional e o regionalismo;
· a compreensão da literatura como veículo de formação da consciência social, em defesa de reformas como a Proclamação da República e a Abolição;
· o surgimento de críticos e historiadores da literatura a impulsionar a produção artística.
 
Sempre que puder, procure conhecer os autores do Romantismo, lendo suas obras e ampliando as informações que obteve nesta unidade.
 
A primeira geração romântica desenvolveu um nacionalismo laudatório, ufanista, cultuando heróis e fatos da pátria e valorizando a paisagem, o folclore e as tradições culturais do país; já a terceira geração apresentou um nacionalismo sob visão crítica (liberalismo social), denunciando a situação dos escravos.

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