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AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO DO CASCO EQUINO Carmem Estefânia Serra Neto Zúccari1 Monica Yurie Machado Shiroma2 Beatriz Ramos Bertozzo3 1 Médica Veterinária. Profa. Dra. Departamento de Zootecnia – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Caixa Postal 596 – 79.070-900 – Campo Grande / MS. E-mail: zuccari@nin.ufms.br 2,3 Graduanda em Medicina Veterinária - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Programa Institucional de Iniciação Científica - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Caixa Postal 596 – 79.070-900 – Campo Grande / MS. INTRODUÇÃO Historicamente o cavalo vem sendo erroneamente associado apenas às elites. A literatura sobre a eqüinocultura brasileira é escassa e resulta de esforços isolados de pessoas envolvidas com as atividades relacionadas à criação, treinamento e utilização dos cavalos. O primeiro levantamento sobre a indústria do cavalo no Brasil foi feito por pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (CEPEA/ESALQ-USP), a pedido da Comissão Nacional do Cavalo - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), mediante celebração de um convênio de parceria para a elaboração de um estudo detalhado sobre a dimensão do Complexo do Agronegócio Cavalo (Lima et al., 2006). O Brasil possui o terceiro maior rebanho eqüino do mundo, com cerca de 6 milhões de animais, atrás apenas da China e México. Contudo, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2007), referente ao período de 1994 a 2004, se observa uma clara tendência de redução do efetivo eqüino no país. No Brasil o Agronegócio Cavalo resulta numa movimentação econômica de R$ 7,5 bilhões anuais, sendo que cerca de R$ 4 bilhões com cavalos destinados a lida com bovinos, principal uso do cavalo no país, cujo rebanho é composto por 5 milhões de cabeças. Entre 1990 e 2003 a tropa se deslocou em direção às regiões Centro-Oeste e Norte, fruto da alta correlação entre os rebanhos bovino e eqüino (r = 0,74; IBGE, 2007). O Brasil é o quinto maior exportador de carne eqüina do mundo (12,6%), sendo os principais a Argentina (21,9%), Canadá (19,1%), Polônia (17,7%) e USA (15,8%). O setor no país vem apresentando um crescimento médio anual de 13,8%. Na exportação de cavalos vivos o Brasil ocupa a 31ª. posição mundial (0,11% do mercado) e nas importações 0,06%. O número de animais, coberturas e embriões leiloados apresentou aumento de 123% de 1995 a 2004, sendo o crescimento do volume financeiro no período de 430%. A região Centro-Oeste teve 220 remates com 6.155 animais negociados. No tocante a mão-de-obra a ocupação direta é de aproximadamente 645.000 pessoas, sendo que para cada emprego direto outros quatro indiretos são gerados (Lima et al., 2006). Além de atleta o cavalo é considerado um sobrevivente, pois ao longo dos últimos 50 milhões de anos não apenas superou várias transformações climáticas e ambientais como se adaptou e evolui morfologicamente. Quando se tratava de um animal com cerca de 60 cm de altura seu apoio se dava sobre quatro dedos, mas à medida que as mudanças foram se sucedendo, surgiu à necessidade de desenvolver maior velocidade para fugir dos predadores em campos abertos. Com isso o terceiro dedo se aperfeiçoou e tornou-se seu principal componente de sustentação. Dentre as inúmeras abordagens possíveis relativas ao mundo do cavalo, optou-se pelo equilíbrio do casco, considerando a veracidade do adágio popular – NO FOOT, NO HORSE, ou seja, sem casco, sem cavalo. Portanto, frente à importância dos cascos, para que possamos desfrutar das inúmeras possibilidades de trabalho e lazer que os eqüinos proporcionam, vamos fazer uma breve referência à sua anatomia, nomenclatura zootécnica, equilíbrio do casco, casqueamento e ferrageamento. ANATOMIA E NOMENCLATURA ZOOTÉCNICA DO CASCO O casco é o estojo córneo que confere proteção e sustentação à extremidade do membro eqüino. Quando em equilíbrio possibilita o amortecimento do impacto, a partir da dissipação do choque que o casco sofre ao tocar o solo, por isso deve ser um objeto de atenção permanente. Três camadas formam a parede do casco: estrato externo, estrato médio e estrato interno. O estrato externo superficial é uma camada córnea espessa, o médio consiste de túbulos córneos e tecido córneo intertubular, dando volume à parede e, o estrato interno é responsável por ligar o casco ao cório, por meio de ramificações de lâminas microscópicas. O estrato médio pode ou não apresentar-se pigmentado. A presença da pigmentação não confere resistência a fraturas da queratina do casco, não altera o comportamento frente à força- pressão ou propriedades de força máxima entre cascos pigmentados ou não. Portanto, a crença popular de que cascos pigmentados são mais fortes que os não pigmentados não se confirma (Stashak, 2006). Zootecnicamente, o casco se divide em três áreas: parede ou muralha, sola, ranilha e suas subdivisões (Fig. 1). Figura 1. Esquema do casco anterior com indicação de suas partes Fonte: Adams (1987) A coroa é uma intumescência sensível que forma a parte superior do casco. A muralha estende-se da coroa ao solo e deve ser simétrica de um lado a outro e da coroa até o bordo solear, sendo dividida em pinça, correspondente à sua porção anterior, quartos medial e lateral e talões medial e lateral. A muralha apresenta uma espessura entre 0,2 a 0,5 cm, cresce cerca de 8 a 10 mm por mês e leva de 9 a 12 meses para se renovar completamente (Melo et al., 2006). O crescimento é mais lento nos climas frios e em ambientes secos. Como a muralha cresce uniformemente no sentido distal à epiderme coronária, a parte mais jovem e mais elástica do casco se encontra nos talões, portanto esta região ajuda na expansão dos talões durante a concussão. A sola é a superfície inferior do casco que deve ser côncava, pois sua função não é suportar o peso do animal. Sua espessura é de cerca de 1,27 cm e contém 33% a mais de água que a muralha, portanto menos resistente. É um aparelho fibroelástico que amortece os choques durante o trabalho e é constituída pela ranilha, talões, barras, linha branca e superfície solear da parede. No ponto em que se une à muralha, a sola apresenta um sulco denominado de linha branca, que por uma inflexão em nível de talões se volta para o centro da sola formando as barras. O cório sensível está imediatamente interno à linha branca que serve como marcador para determinação da posição e do ângulo dos cravos a serem introduzidos nas ferraduras dos eqüinos (Stashak, 2006; Thomassian, 2005). Uma substância córnea elástica que parte dos talões e avança para o centro da sola e termina num vértice ou ápice, forma a ranilha, uma cunha que deve ser proeminente e estar longe do solo em aproximadamente 12 mm. É mais macia do que as demais partes do casco por conter 50% de água (Stashak, 2006). Sua função não está bem definida, mas durante a locomoção dissipa a compressão sobre a face solear, distribuindo o impacto que recebe aos demais componentes do aparelho fibroelástico do casco (Thomassian, 2005) e parece auxiliar na irrigação sanguínea de seu interior (Melo et al., 2006). EXAME DO CASCO O avanço nas técnicas de diagnóstico por imagem permite um exame detalhado dos cascos dos eqüinos, através de equipamentos modernos de raio-X, radiografia computadorizada, ultra-sonografia, tomografia computadorizada, cintilografia nuclear, termografia e ressonância magnética. No entanto, esses exames são dispendiosos e de difícil acesso, em vista disso enfatiza-se a importância de um exame acurado dos cascos com o animal a campo (Moyer, 2005). O exame a campo deve ser precedido por uma boa anamnesecom informações sobre possíveis problemas, as atividades às quais o cavalo é submetido, o ambiente em que vive e tipo de casqueamento e ferrageamento. O exame é constituído pela avaliação externa do casco, do seu equilíbrio e pela pesquisa da presença de dor (Turner, 2008). Os equipamentos mínimos necessários para se fazer um bom exame dos cascos a campo incluem pinça de casco, rinetas e sondas flexíveis para avaliação de fissuras e cavidades (Moyer, 2005). O exame completo do casco dos eqüinos será descrito a seguir, de acordo com os procedimentos preconizados por Turner (2008). Deve-se iniciar pela avaliação subjetiva do tamanho e formato do casco, comprimento da pinça e dos talões, alinhamento do eixo podal entre quartela e muralha e, posicionamento do casco em relação ao membro. O animal deve ser observado a uma distância que permita a análise simultânea dos quatro membros e sob todos os ângulos, ou seja, visto de frente, pelas laterais e por trás. Ao observar o cavalo pela frente o examinador deve avaliar a simetria e o alinhamento dos cascos em relação aos membros, isso é feito traçando-se uma linha imaginária da ponta da paleta até o chão, e esta deve dividir o membro e o casco ao meio (Fig. 2). A faixa coronária deve ser reta e manter um paralelismo com a superfície do casco em contato com o solo (Fig. 3). Os próximos fatores a serem observados são: o alinhamento do casco, avaliado através do ângulo da pinça (Fig. 4), que deve ser entre 50º a 55º e do eixo podal (Fig. 5). Quando o cavalo é visto de frente o eixo podal deve formar uma linha reta e lateralmente deve ser paralelo ao ângulo formado pela pinça. O formato e o nivelamento dos cascos são características de suma importância. Os cascos anteriores têm formato circular, enquanto os posteriores são ovais. Deve-se dar atenção às possíveis diferenças no comprimento e largura dos cascos. O nivelamento é determinado pela superfície do casco em contato com o solo, que deve ser plana. Para finalizar a avaliação o animal deve ser inspecionado pelos lados e por trás, com o objetivo de averiguar o apoio dos talões. Figura 2. Alinhamento entre cascos e membros. Fonte: Buttler (1994) Figura 3. Paralelismo entre coroa e solo Figura 4. Medida do ângulo da muralha com podogoniômetro. Fonte: Adams (1987) Figura 5. Eixo paralelo entre muralha e quartela. Fonte: O´Grady (2008) A segunda parte do exame consiste do exame do animal em estação e, após erguer o membro, avaliar a sola e demais estruturas. Exame do Animal em Estação O examinador deve começar pela palpação da quartela em busca de qualquer alteração, como aumento de temperatura local, dor ou edema e, simultaneamente, os tendões e ossos também deve ser avaliados. Ao palpar essa região se pode sentir um pequeno pulso proveniente da artéria digital, porém um aumento na intensidade deste pode indicar alterações inflamatórias. Segue-se palpando a coroa, que apresenta uma consistência esponjosa, e as cartilagens alares, que apresentam limites palmar/plantar e proximal bem definidos e o examinador deve analisar a espessura, a densidade e a flexibilidade das cartilagens porque são bons indicativos da flexibilidade do casco. A muralha do casco é observada em busca de rachaduras, fissuras, protuberâncias, crescimentos anormais, aumento de temperatura local e fraturas com perda de porções da parede. O casco pode conter anéis, que quando são concêntricos geralmente indicam estresse metabólico, como febre ou mudança radical na dieta, enquanto os divergentes sugerem um quadro de laminite. Se o animal for ferrado observar a saída dos cravos na muralha, que não deve ser muito alta, pois aumenta a possibilidade de invasão do tecido sensitivo. Exame do Animal com o Casco Elevado do Solo Nesta etapa o examinador deve posicionar o membro do animal entre suas pernas, como se fosse ferrá-lo. Para uma visualização adequada é importante que se faça uma boa limpeza do casco com a rineta para a retirada de sujidades e debris. Em seguida são feitas as avaliações do tamanho, formato e consistência da ranilha, que deve se apresentar em forma de cunha e possuir uma consistência fibroelástica (Thomassian, 2005). Os sulcos da ranilha são avaliados quanto a largura e a profundidade que deve ser rasa, não excedendo 1 cm. Com a pinça de casco são aplicadas percussão e pressão na muralha e na sola para detectar qualquer reação local. A pressão inicial deve ser leve, começando de um lado do casco e se estendendo por todo o contorno da sola. O tamanho da pinça de casco utilizada, a pressão exercida pelo examinador e o temperamento do animal influenciam a resposta, portanto cabe ao profissional avaliar a ocorrência ou não de uma reação dolorosa frente a esses fatores. O próximo passo é avaliar as barras e a sola em busca de fissuras, perfurações e hematomas. A sola deve ser côncava e ao ser pressionada com os dedos não deve ceder. A linha branca separa as porções não sensitiva da sensitiva do casco e serve como ponto de referência durante o casqueamento. Ela é mais larga na região da pinça e vai se tornando mais estreita ao se aproximar dos talões. Para finalizar o exame o profissional deve soltar o membro do animal e permitir que este toque o solo naturalmente e depois são realizados testes de flexão e extensão para avaliar a movimentação da articulação. Podem ser realizados movimentos de rotação da quartela em torno do seu eixo, sendo que normalmente só é possível movimentar de 10 a 15 graus para cada lado. Se o cavalo for ferrado o exame é complementado por uma avaliação da adequação da ferradura ao casco e a pinça de casco deve ser utilizada para fazer uma leve pressão na saída de cada cravo na muralha com o objetivo de verificar a presença de reações dolorosas. A melhor maneira de se realizar um exame detalhado dos cascos é através da remoção das ferraduras, mas isso não deve ser feito sem antes avaliar o cavalo em movimento. Exame do Animal em Movimento Deve ser realizado numa superfície firme e plana e pode ser feito com o animal sendo puxado ou montado, sendo que a última opção oferece uma variedade maior de movimentos. O cavalo deve ser observado de todos os lados, primeiramente ao passo e depois ao trote, o que permite uma boa avaliação da dinâmica da locomoção do animal. Outros métodos úteis são a avaliação do animal após um exercício de maior intensidade, análise da resposta após a mudança de superfície de apoio, avaliação da movimentação dos membros e pressão intermitente com pinça de casco após o trote. BIOMETRIA DO CASCO Os membros dos eqüinos os sustentam durante o repouso e permitem o seu deslocamento em diferentes velocidades durante os vários andamentos. Há uma nítida divisão do peso entre os membros anteriores e posteriores, onde cerca de 60% dele são distribuídos entre os anteriores e 40% recaem sobre os posteriores. Teoricamente, o casco crescerá simetricamente se o peso for distribuído igualmente, tanto no sentido médio-lateral como antero-posterior, para um mesmo casco e entre os cascos contralaterais (Turner, 1992). Butler (1994) relata que uma distribuição desigual das forças vertical e horizontal compromete o suprimento sangüíneo do casco, com isso ocorre uma remodelação da falange distal, bem como uma distorção da simetria do casco. Defeitos de conformação corporal, dos membros e/ou de equilíbrio dos cascos são as principais causas de claudicação nos eqüinos. O casqueamento e ferrageamento incorretos são fatores estreitamente relacionados à perda de equilíbrio (Melo et al., 2006). Equilíbrio é definido genericamente como o ajuste harmonioso das partes, mas no caso específico do casco se refere a uma distribuição uniforme do peso ao redor do centro de gravidade dos cascos. No cavalo idealos centros de gravidade do membro e do casco devem ser idênticos (Butler, 1994). Figura 6. Casco bem conformado com largura e comprimento equilibrados Fonte: O´Grady (2008) Figura 7. Centro de gravidade do casco eqüino. Localização do Duckett´s Dot. Fonte: Buttler (1994) O centro de gravidade do casco se situa a 0,95 – 1,90 cm atrás do ápice da ranilha, devidamente aparada (Fig. 6). Este ponto pode ser considerado como referência ao se proceder com o corte corretivo do casco, ajustando sua largura e comprimento. Esse ponto é conhecido como Duckett´s Dot e sob ele encontra-se o centro de inserção do tendão flexor digital profundo na falange distal (Fig. 7). Existem duas formas para se avaliar o equilíbrio do casco: geométrico ou estático e funcional ou dinâmico. O equilíbrio geométrico se refere à simetria de alinhamento entre o membro e o casco, avaliando-se o animal em estação. Considerando a máxima de que a função segue a forma, o balanço geométrico do casco deve ser analisado em primeiro lugar. O equilíbrio dinâmico se refere ao apoio do membro no solo durante o movimento (Butler, 1994). Para a avaliação objetiva do equilíbrio dos cascos são usadas 11 medidas que podem ser realizadas de forma simples e rápida (Turner, 1992). Usando uma fita milimetrada sete delas são referentes às medidas de comprimento do casco, quais sejam: medial e lateral dos talões; medial e lateral dos quartos; dorso-medial e dorso-lateral da pinça e sagital da pinça. Além destas mede-se o comprimento e largura da ranilha. A circunferência do casco é tomada imediatamente abaixo da coroa. O ângulo do casco é mensurado por intermédio do podogoniômetro, também conhecido como gabarito. A partir das medidas da ranilha pode ser calculada sua proporção que é dada pela razão entre a largura (cm) / comprimento (cm). Em artigo de revisão Melo et al. (2006) descrevem como os cascos desequilibrados interferem na dinâmica normal da locomoção e produzem claudicação. Os autores apresentam também um esquema gráfico com algumas medidas do casco eqüino a serem obtidas para se avaliar seu equilíbrio (Fig. 8). Figura 8. Principais medidas para avaliação do equilíbrio do casco eqüino. CPC – comprimento da parede medial ou lateral do casco (quartos); CP – comprimento da pinça; aP – ângulo da pinça; AT – altura do talão; LR – largura da ranilha; CP - comprimento da ranilha; CC – comprimento do casco; LC – largura do casco. Fonte: Melo et al. (2006) Numerosos fatores contribuem para o equilíbrio do casco. Medidas ideais não foram definidas, mas alguns referenciais são encontrados na literatura. Lazzeri (1992) descreve medidas consideradas como perfeitas para o casco eqüino (Fig. 9). Figura 9. Casco com medidas perfeitas de acordo com Lazzeri (1992) Balch et al. (1991) relatam que o comprimento da pinça é estimado em função do peso corporal. No entanto, outras características do casco também devem ser consideradas como espessura e durabilidade, tipo de andamento e atividade desempenhada pelo cavalo. A Tab. 1 apresenta diretrizes para o comprimento da pinça tendo como base o peso do animal. Tabela 1. Diretrizes para comprimento da pinça de acordo com o peso vivo Tamanho cavalo Peso vivo (Kg) Comprimento pinça (cm) Pequeno 360 – 400 7,60 Médio 425 – 475 8,25 Grande 525 – 575 8,90 Fonte: adaptado de Turner (1992) Cavalos podem apresentar um comprimento excessivo da pinça em relação ao seu peso corporal. Em decorrência disso ocorrem alterações na dinâmica da locomoção dos membros torácicos, dentre elas o atraso na elevação dos cascos pelo aumento da força de alavanca proporcionado pela pinça mais longa, maior flexão do casco, quartela e articulação do boleto para o avanço do membro e a concentração do impacto na região da pinça (O´Grady e Poupard, 2001). Por outro lado, pinças curtas são acompanhadas de talões altos e essa associação induz a uma retirada mais precoce do casco do solo com uma aterrissagem em ângulo muito agudo, portanto um andamento mais incômodo para o cavaleiro pelo aumento do impacto que, por sua vez, poderá levar às patologias da região (Stashak, 2006). A angulação do casco indica a inclinação da parede em relação ao solo. Este ângulo da parede dorsal varia consideravelmente entre os cavalos, sendo a média entre os anteriores de 50 a 54º e nos posteriores 53 a 57º. Este ângulo deve coincidir com a inclinação da porção dorsal da quartela. A relação entre a inclinação do casco e quartela é denominada eixo podal ou podofalangeano. Ângulo do casco ≥ 54° é praticamente consenso no que tange a sua saúde, pois este é geralmente encontrado sob condições naturais nos animais selvagens. Valores inferiores são desgastantes para músculos, tendões e ligamentos, além de alterar a distribuição do peso ao longo da pinça (Melo et al., 2006). Diferenças de angulação entre cascos contralaterais acarretam sérios problemas, desde leve luxação das falanges, formação de anéis em toda a muralha do casco, alterações na sola e bulbos, além da protrusão da faixa coronária (Redden, 1988 citado por Melo et al., 2006). Maranhão et al. (2007) realizaram a avaliação biométrica do equilíbrio podal de eqüídeos de tração e constataram que embora a diferença de angulação da pinça entre membros contralaterais não tenha sido significativa, 46,5% dos animais apresentaram diferenças variando entre os graus 1 a 3 (escala de 1 a 4 segundo Redden, 1989 citado por Melo et al., 2006). Os autores atribuíram o fato à execução incorreta das práticas de casqueamento e ferrageamento. Canto et al. (2006) encontraram ângulos de pinça com valores entre 45 e 58°. A diferença deste ângulo entre membros contralaterais foi identificada em 23,71% dos cavalos avaliados. Cavalos com ângulo do casco entre 50 e 55° vão apresentar talão escorrido quando a relação entre os comprimentos da pinça e talão for menor que 3:1. Na prática o contato entre o talão e o solo deve ocorrer na região da base da ranilha. O ângulo do casco tem relação estreita com o ângulo da paleta. Paganela et al. (2008) tomaram essas medidas em cavalos da raça Crioula participantes da Prova de Andadura do Freio de Ouro. Observaram que as melhores notas foram obtidas pelos grupos de animais com cascos mais equilibrados, ou seja, aqueles em que a diferença entre os ângulos do casco e paleta variou de 2 a 4°. Em geral, a literatura descreve seis alterações do equilíbrio podal, sendo elas: quebra do eixo podal; talão escorrido; talão contraído; talão desnivelado; talões com ângulos desiguais; cascos pequenos (Turner, 1992). Figura 10. Quebra do eixo podal. Fonte: Adams (1987) Figura 11. Eixo podal quebrado para trás. Fonte: Curtis (2008) A quebra do eixo podal (Fig. 10) ocorre quando a inclinação da quartela difere daquela do casco. Pode se dar para frente, quando o ângulo do casco é maior que o da quartela e, para trás (Fig. 11), quando o ângulo do casco é menor que o da quartela. Eixo quebrado para trás ocorre em cerca de 10% dos cavalos de esporte, sendo sua freqüência 3,5 vezes maior nos animais com defeitos de aprumo. A quebra do eixo podal para frente é observada em 4% dos animais com aprumos regulares, enquanto naqueles com defeito sua presença é 2,0 vezes superior (Turner, 2008). Canto et al. (2006) relataram, para cavalos em treinamento da raça Crioula, uma freqüência de 11,34% de cascos com diferença entre os ângulos da quartela e pinça. Talões escorridos têm sido assim definidos quando estes apresentam um ângulo de 5 graus inferior ao da pinça (Turner, 1992). É o desequilíbrio mais comum dos cascos e estudos revelaram que 77% dos casos de claudicação estavam associados a talão escorrido e, em cavalos de desempenho normal, 52% deles tinham a mesma alteração de equilíbrio. Nos cavalos com alterações de aprumo sua incidênciaé 1,5 vezes maior (Turner, 2008). São considerados talões contraídos quando a largura da ranilha for menor que 67% do seu comprimento. São detectados em 22% dos animais com aprumos regulares enquanto naqueles com algum tipo de claudicação sua freqüência aumenta em 3,3 vezes (Turner, 2008). Uma das características mais difíceis de avaliar é a habilidade de expansão do casco. Em termos práticos se considera que a expansão é normal quando a largura da ranilha corresponde a pelo menos 2/3 do seu comprimento que, por sua vez, deve ter 2/3 do comprimento do casco. Quando a ranilha é estreita acredita-se que a expansão do casco seja reduzida. Canto et al. (2006) fizeram um levantamento da ocorrência de alterações de equilíbrio nos cascos de cavalos Crioulos em treinamento para provas funcionais. Relataram que 87,62% dos animais apresentaram talões contraídos. Os autores relacionaram essa alta incidência à associação com pinças longas, cujo valor médio observado foi 8,7 ± 0,6 cm, considerado excessivo para animais pesando 411,4 ± 34,8 Kg. Em geral os proprietários de cavalos destinados às práticas esportivas detêm maior conhecimento sobre os prejuízos que o desequilíbrio dos cascos causará no desempenho do seu animal. O mesmo não foi verificado por Maranhão et al. (2007) para eqüinos usados em trabalho de tração leve. O percentual de talões contraídos foi da ordem de 78,18 para o membro anterior direito e de 72,22 no esquerdo, com um valor total de 73,18% computando-se os quatro membros. Havendo uma diferença de 0,5 cm entre as alturas medial e lateral, tem- se o talão desnivelado (Fig. 12). Em cavalos normais esse desequilíbrio é observado em 12% deles, já naqueles que desenvolvem algum tipo de manqueira a probabilidade de ocorrência dessa alteração é 2,75 vezes maior (Turner, 2008). Canto et al. (2006) verificaram que dos 97 cavalos Crioulo em atividade esportiva 49,48% destes apresentaram desequilíbrio médio-lateral do casco, enquanto Maranhão et al. (2007), para cavalos carroceiros, observaram uma incidência de 22,81% e 31,58% de desnivelamento dos talões para os membros anteriores direito e esquerdo, respectivamente. Figura 12. Talão desnivelado. Fonte: O´Grady (2008) Havendo disparidade entre medidas angulares se classifica como talões de ângulos desiguais. Esta alteração ocorre em 28% dos cavalos, independente da regularidade ou não de seus aprumos (Turner, 2008). Por fim, os cascos pequenos são assim considerados quando a relação entre peso:área do casco for maior que 78 libras/polegada2, acometendo 2% dos cavalos de esporte. Cavalos cuja relação seja ≥ 83 libras/polegada2 têm baixíssima probabilidade de solucionar uma claudicação (Turner, 2008). Casco pequeno é um problema comumente descrito, particularmente na raça Quarto de Milha, sendo uma causa predisponente de claudicação. O prognóstico é ruim quando do tratamento da síndrome do navicular. Para o cálculo aplica-se a seguinte fórmula: peso cavalo (em libra) x 12,56 / (circunferência coroa (em polegada))2. Para valores acima de 78 libras/polegada2 deve se recomendar uma redução do peso corporal e/ou a adoção dos cuidados necessários para promover a expansão do casco (Turner, 1992). CASQUEAMENTO E FERRAGEAMENTO Com o confinamento em baias e piquetes o cavalo passou a depender da intervenção do homem, por meio do casqueamento e/ou ferrageamento, para a manutenção do equilíbrio de seus cascos. De maneira rotineira deve-se manter o contorno regularmente arredondado dos cascos dianteiros e ligeiramente ovalado nos posteriores, manter a concavidade da sola, barras sólidas, ranilha nitidamente acima do solo quando o membro repousa sobre superfície lisa e uma inclinação de pinça paralela ao eixo da quartela (Oliveira, 2006). Cuidados com o Casco A qualidade do casco eqüino pode afetar diretamente sua utilização nos esportes e trabalho. Os criadores devem incluir no manejo de rotina os cuidados com os cascos, porque quando enfraquecidos apresentam rachaduras, quebram com facilidade e não mantêm a ferradura fixa. Desta maneira, comprometem o desempenho das funções de proteção, amortecimento, sustentação, impulsão e bombeamento sanguíneo. Os principais fatores que influenciam a qualidade do casco são a nutrição, hereditariedade, ambiente e casqueamento (Faria, 2009). O crescimento e a saúde do casco dependem diretamente da nutrição, sendo que a deficiência de minerais, proteínas e vitaminas na dieta afeta a queratogênese e o aspecto exterior de todas as partes do casco. Cascos escamosos e quebradiços sugerem que o animal apresenta deficiência nas substâncias específicas que constituem o casco, como zinco, enxofre, biotina, lisina e metionina. Características de conformação e qualidade do casco são herdáveis e aspectos indesejáveis são continuamente repassados em algumas linhagens, fato observado em cavalos da raça Quarto de Milha e pôneis. Cavalos em vida livre realizam exercício constante e o tipo de habitat natural permite o desenvolvimento de cascos saudáveis e adaptados às necessidades funcionais do animal. Com a domesticação surgiu a necessidade de se adotar cuidados especiais principalmente relacionados ao ambiente em que o animal vive, pois sujidades e umidade acumuladas nas baias predispõem à podridão dos cascos, principalmente na região da ranilha, pois a sola enfraquecida se torna uma porta de entrada para microorganismos patogênicos. Existe uma relação estreita entre o desgaste e o estímulo para o crescimento dos cascos. Casqueamento Uma simples alteração nas proporções do casco pode causar problemas, como perda do equilíbrio, conseqüentemente, alterações mecânicas que influenciam a movimentação do animal. O casqueamento pode ser classificado em preventivo, corretivo e terapêutico. O preventivo se caracteriza pela manutenção do equilíbrio, sustentação e proteção, com o objetivo de preservar a integridade do casco em longo prazo. O corretivo consiste em provocar alterações no casco que afetam a postura, a passada e o breakover (intervalo entre a suspensão do talão do solo seguido da elevação da pinça). Já, o terapêutico tem como objetivo proteger ou dar apoio ao casco, prevenir ou encorajar um movimento em particular até que o processo de cura se complete (Stashak, 2006). Neste item será abordado o casqueamento preventivo e parcialmente o corretivo. A prática do casqueamento deve começar no primeiro mês de vida do potro e os cuidados com essa categoria animal são descritos por O´Grady (2008). Do nascimento ao primeiro mês de vida o casco é largo na região da coroa e vai se estreitando próximo à superfície de contato com o solo. Esse tipo de conformação, ou seja, cascos estreitos e sola pequena fazem com que o peso do animal seja sustentado principalmente na região dorsal do casco. Nos potros os cascos crescem tanto no sentido distal como se expandem, sendo que os exercícios e o casqueamento aumentam a superfície do casco em contato com o solo, fazendo com que o animal passe a suportar o peso na região palmar/plantar. Após o primeiro mês de vida, a aparência pontiaguda e estreita do casco desaparece. O potro deve entrar no programa de casqueamento periódico, ou seja, mensalmente, após o primeiro mês de vida. Assim, se habituará a manipulação dos membros e facilitará o trabalho do ferrador quando for adulto. A principal razão para se casquear nessa idade são as pinças pontiagudas que fazem com que o potro realize o breakover pelas laterais da pinça, o que é indesejável. A correção desse defeito é feita através do casqueamento, em que se grosa a pinça, deixando-a mais quadrada ou reta, pois isso estimula o potro a fazer o breakover pelo centro da pinça. A partir do segundo mês de vida a preocupação com a formação de cascos com boa estrutura é o principal objetivo, visando àformação de cascos espessos, com parede durável e assim garantir uma boa profundidade da sola. A seqüência do casqueamento do potro compreende: limpeza dos cascos para a retirada de sujeira e debris; com a rineta não retirar porções excessivas da sola, pois esta é fina e pode causar dor, além de futuras deformidades flexurais; sempre preservar as barras e; os talões devem ser aparados até que a grosa entre em contato com a ranilha. O excesso de parede na região da pinça e dos quartos é retirado pelo grosamento e o casqueador deve utilizar a grosa ao redor do perímetro do casco para deixá-lo arredondado e nivelado, o que parece estimular o crescimento de um casco com as características desejáveis. Em condições normais de nivelamento e balanceamento, a parede do casco, nos cavalos adultos, tem um crescimento uniforme. A sola e a ranilha crescem, geralmente, de forma mais lenta que a parede. A revisão dos cascos e o casqueamento devem ser realizados a intervalos de 4 a 6 semanas e a limpeza dos cascos de animais estabulados deve ser feita diariamente, portanto incluída na rotina de higienização do animal. Juliano (2007) descreve o instrumental necessário e os procedimentos (Fig. 13) adotados ao se casquear um cavalo adulto. Instrumental para casqueamento Retirar a sujeira com limpador de cascos e avaliar dor, machucados ou brocas Desbastar a sola com a rineta, sem retirar porções muito extensas Fazer com cuidado o contorno da linha branca retirando o excesso Refazer os sulcos central e laterais da ranilha Aparar a muralha com a torquês Nivelar a sola e a muralha com a grosa Grosar a muralha e arredondar o contorno do casco Observar detalhadamente o nivelamento e o ângulo do casco Finalizar com álcool iodado a 10% Compare o antes (direita) e depois (esquerda) Figura 13. Instrumental e seqüência dos procedimentos para casqueamento de cavalo adulto. Fonte: Juliano (2007). Fotos: Hidelberto Valli Petzold e Ernande Ravaglia Ferrageamento O ferrageamento pode ser definido como promotor da saúde funcional dos pés, da eficiência biomecânica e ajuda a prevenir patologias como a laminite. O domínio das técnicas adequadas de ferrageamento pelo profissional é essencial (O'Grady e Poupard, 2001). Para tanto o mercado exige mão-de- obra especializada. O Brasil possui cerca de 1.900 ferradores, com um faturamento mensal bruto em torno de R$ 6.300,00 (90 jogos/mês × R$ 70,00), resultando num movimento anual no país de R$ 143.640.000,00 (Lima et al., 2006). A colocação da ferradura respeita princípios básicos como equilíbrio do casco, estático e dinâmico, alinhamento de pinça e talões, equilíbrio dorso palmar/plantar e médio-lateral, comprimento do casco, nivelamento da parede, concavidade da sola, forma e simetria entre os pares anteriores e posteriores (Stashak, 2006). Seleção da Ferradura A escolha do tamanho da ferradura é um ponto essencial do ferrageamento e a medida não é determinada somente em função do tamanho real do casco, mas de acordo com o formato ideal que este deve ter (Oliveira, 2006). A ferradura deve ser forte o suficiente para sustentar o peso do eqüino e ser a mais leve e simples possível desde que forneça a tração, proteção e sustentação adequadas para o trabalho a ser executado (O'Grady e Poupard, 2001). Os ferrageamentos a quente ou a frio são métodos usados para dar forma e aplicar as ferraduras. No procedimento a quente se faz uso da forja para aquecer (fornalha) e moldar (bigorna) a ferradura de acordo com o casco do animal, podendo ou não preparar guarda-cascos laterais ou frontais. Na aplicação a frio o ferrador dá forma à ferradura utilizando apenas uma bigorna e a aplica sem aquecê-la (Stashak, 2006). O material das ferraduras deve ser escolhido com cautela, buscando-se durabilidade, facilidade de manipulação e principalmente peso adequado, pois poderá afetar de forma negativa a passada e a agilidade do eqüino. O material mais comumente usado é o aço, geralmente denominada como ferradura de ferro, por ser fácil de dar forma e ainda ser durável. Em animais de corrida a ferradura de alumínio também é utilizada por seu baixo peso (Stashak, 2006). O fundamental é que a ferradura seja sempre do número e tamanho apropriados para o casco. Palmilhas de plástico são utilizadas com fins terapêuticos podendo ser coladas ao casco de animais com laminite ou que apresentem dor extrema, quando a parede apresenta-se muito lesionada ou fraca o suficiente para não suportar os cravos de maneira segura. Ligas de titânio já foram utilizadas como material para a confecção de ferraduras por ser um elemento resistente à corrosão, apresentar a força do aço e ser quase tão leve quanto o alumínio, mas sua utilização ganhou pouca popularidade, pois as ferraduras precisam ser trabalhadas no calor e quando aquecido o titânio libera gases tóxicos, além de ser extremamente escorregadio em concreto e piso (Stashak, 2006). Ajuste e Fixação da Ferradura A ferradura deve ser justaposta ao casco da região da pinça aos quartos, e então deve ser mais larga do que o casco, dos quartos aos talões seguindo sempre a forma natural do casco previamente preparado (O'Grady e Poupard, 2001). No caso do casco parecer pequeno, com tendência espontânea a se fechar, é preciso escolher uma ferradura longa, que ultrapasse um pouco as laterais, para favorecer a expansão da parede do casco. Ao contrário, se tender ao alargamento, é preciso uma ferradura mais justa (Oliveira, 2006). Quando observado de cima o casco apoiado no solo, a ferradura deve ser visível entre 0,16 a 0,32 cm para trás dos talões, permitindo desta forma o seu adequado crescimento e expansão. Para não comprometer a expansão dos talões, o último cravo não deve ultrapassar a zona de curvatura máxima dos quartos (Oliveira, 2006). A utilização de ferraduras curtas não fornece apoio adequado podendo resultar em talões escorridos (Stashak, 2006). Para que a ferradura seja solidamente fixada é preciso que o casco esteja em equilíbrio e os cravos estejam bem presos (Fig. 14). De acordo com o caso, a ferradura pode ser fixada com seis, sete ou oito cravos (Oliveira, 2006). Figura 14. Ferradura simetricamente fixada. Fonte: Curtis (2008) O cravo deve penetrar o casco pela linha branca e sua cabeça deve ser encaixada com firmeza no sulco da ferradura e ficar exposta abaixo da ferradura em aproximadamente 0,16 cm. Cravos baixos ou superficiais demais enfraquecem a parede do casco, fazendo com que a região córnea se rache e se abra em fendas. Cravos fixados muito altos tendem a ultrapassar o limite dos tecidos sensíveis e podem causar ferimentos (Oliveira, 2006). Canto et al. (2006) mediram ferraduras de 55 cavalos em treinamento e constataram que nenhum deles apresentou uma medida adequada, ou seja, a ferradura deveria apresentar o dobro do comprimento da pinça. Os autores comentam que com o comprimento excessivo do casco, todos os animais apresentavam a ferradura deslocada cranialmente, desta forma, não proporcionavam sustentação adequada aos talões, predispondo a sua contratura, além de reduzir a capacidade de absorção do impacto. Dos cavalos de tração do estudo de Maranhão et al. (2007) 79,3% utilizavam ferraduras de borracha confeccionadas a partir de pneus velhos. Seu uso visa conferir maior estabilidade aos animais graças ao seu efeito antiderrapante. Embora o tamanho das ferraduras fosse definido de acordo com o diâmetro de cada casco, a espessura das mesmas não era uniforme, portanto gerando assimetrias nos pontos de apoio do peso entre membros contralaterais, desvio do ponto de apoio para um mesmo casco, além de desequilíbrio médio-lateral. CONSIDERAÇÕES FINAIS Defeitos de conformação dos membros e/ou métodos inadequados de casqueamento e ferrageamento geramassimetrias e/ou desequilíbrios podais que são as principais causas de claudicação nos eqüinos. Com isso, geram perdas econômicas consideráveis associadas à queda do desempenho esportivo dos cavalos atleta e daqueles destinados aos trabalhos de campo. Proprietários, treinadores, ferradores e veterinários devem rever as práticas adotadas e passar a lançar mão de recursos simples, de fácil aplicação e que não oneram os procedimentos, como a mensuração dos cascos, dada à importância do equilíbrio destes no desempenho dos cavalos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALCH, O., WHITE, K., BUTLER, D. Factors involved in the balancing of equine hooves. Journal American Veterinary Medical Association , v.198, n.11, p.1980-1989, 1991. BUTLER, D. What every equine practitioner should know about hoof balance. In: AMERICAN ASSOCIATION OF EQUINE PRACTITIONERS, 40. 1994. Vancouver. Proceedings ...Vancouver:AAEP, p.133-135, 1994. CANTO, L.S., CORTE, F.D., BRASS, K.E., RIBEIRO, M.D. Freqüência de problemas de equilíbrio nos casco de cavalos crioulos em treinamento. Brazilian Journal Veterinary Research Animal Scienc e, v.43, n.4, p.489-495, 2006. CURTIS, S. Foot balance and corrective shoeing. 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