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SALVADOR 2019 Edilane Cunha dos Santos Hidrometria Métodos de medição de vazão, equipamentos/instrumentos, elaboração de curva- chave. SALVADOR 2019 INTRODUÇÃO Hidrometria é uma parte da hidrologia que permite conhecer o regime hídrico, as disponibilidades hídricas de uma região. A aplicação de modelos matemáticos em hidrometria fornece dados para a medição das vazões (líquidas e sólidas), dos níveis de água em rios, lagos e represas, índices pluviométricos (chuva), entre outros parâmetros que interessam ao estudo da água na natureza. Esses dados sistematizados são informações importantes para elaboração de projetos, estudos e gerenciamento dos recursos hídricos. Além das características hidrológicas, de chuvas e/ou vazões de água, os cálculos permitem estimar a probabilidade de ocorrência de eventos raros, bem como quantificar as possibilidades do aproveitamento dos recursos hídricos. É de grande importância para quantificar a vazão disponível para projetos de irrigação, controlar a vazão (volume) de água de irrigação a ser aplicada em projetos (racionalizar o uso da água); e quantificar a vazão disponível para acionar uma roda d’água ou carneiro hidráulico. MÉTODOS A escolha do método depende: 1. Do volume do fluxo de água; 2. Das condições locais; 3. Do custo (existem equipamentos caros e outros simples e baratos); 4. Da precisão desejada A) MÉTODO DIRETO Utilização: Pequenas vazões (Q 10 litros/s) A.1. Volumétrico: Baseia-se no tempo decorrido (t) para que um determinado fluxo de água ocupe um recipiente com volume conhecido (Vol). SALVADOR 2019 Alternativa: pesar recipiente com volume desconhecido (descontar peso do recipiente). Alteração do volume de água em um reservatório de volume conhecido. Q = V/T V = V2 – V1 Importante: Realizar 3 repetições e obter a média. A.2. Hidrômetro: - Medida de vazão em tubulações; - Rotor é posto em movimento pela corrente de água; - Acoplado a um mostrador, onde se lê o volume que passou pelo hidrômetro. Q = Vol/T A.3. Fluxímetro: - Tubo transparente afunilado; - Dispositivo que obstrui parcialmente o fluxo de água; - Variações no fluxo de água mudam a posição do dispositivo no interior do fluxímetro; - Tubo afunilado é graduado para marcar a vazão a partir da posição do dispositivo; - Leitura direta e fácil. A.4. Gravimétrico: (Alta precisão, usado como calibração de outros métodos). Consiste na pesagem de um determinado volume de água obtido em um determinado tempo. Exemplo: Balança: 20 kg (massa no S.I) ou 20 kgf (peso no Sist. Técnico). SALVADOR 2019 B) RELAÇÃO ÁREA X VELOCIDADE B.1. Flutuador Utilização: Grandes vazões (Q > 300 L/s) Objeto flutuante que adquire a velocidade da água que o circunda. Vantagem: determinação rápida Desvantagem: imprecisão causada por ventos, correntes secundárias e ondas. Q = Vm x A A) Determinação da velocidade média Condutos livres: Desenho de canal e medição de vazão com flutuador Vm = 0,85 x Vsup Vm = V0,6H Vm = (V0,2H + V0,8H)/2 Vm = (V0,2H + V0,8H + 2 V0,6H)/4 Condutos forçados: Desenho de seção transversal de tubo com flutuador Vm = V(0,707 R) Vm = V(0,707 R) R – Raio do tubo B) Determinação da área da seção molhada Condutos livres: Determinação das áreas (triângulos e trapézios) Desenho de seção transversal de rio Condutos circulares: - Forçados: = ²/ 4 - Livres: A = R³ x Z³ Relação h/R Z (Relação tabelada – Consultar livros) SALVADOR 2019 Exemplo: O flutuador demorou 20 s para percorrer o trecho entre os pontos 1 e 2 ( 10 m ). VMED = 0,85 x 0,5 m/s ; VMED = 0,425 m/s Supondo uma área da seção transversal igual a 1,5 m²: Q = 0,425 m/s x 1,5 m2 Q = 0,64 m3 /s ou Q = 640 L/s 7B.2. Molinete São pás ou hélices que giram impulsionadas pela velocidade de escoamento. Estabelece-se uma proporcionalidade entre o número de voltas por unidade de tempo e velocidade de escoamento. É necessária a determinação da área da seção de escoamento para a determinação da vazão (Q = A.V) Podem ser utilizados em condutos “livres” ou “forçados”. É muito preciso na determinação da velocidade de escoamento. B.3. Coordenadas em tubo com descarga livre Este método, bastante simples, é utilizado para medir vazão em tubos sob descarga livre. Conforme a figura, no intervalo de tempo t um elemento de volume da veia líquida, ao sair da tubulação, percorreu uma distância x na direção horizontal e uma distância y na vertical. A equação de descarga é obtida por: SALVADOR 2019 Na equação a vazão Q será em m³/s se a aceleração da gravidade g forem m/s² e se o diâmetro D da saída da tubulação e as distâncias x e y forem em metros. O tubo de descarga pode estar na posição horizontal ou inclinado, sendo que neste caso, a medida de x deve ser tomada na direção do prolongamento da geratriz superior do tubo e y na vertical. B.4. Tubo de pilot Transformação de energia de velocidade em energia de pressão O tubo de Pitot pode consistir num tubo em "L" com um único canal, permitindo medir apenas a pressão de estagnação (sendo necessário medir por outro meio a pressão estática) ou com dois canais e tomadas de pressão laterais para medir simultaneamente a pressão estática. B.5. Processo calorímetro O método colorimétrico é semelhante ao químico, porém difere no fato que ao invés de utilizar uma solução salina, utiliza-se um corante, sendo a avaliação da concentração feita por espectrofotometria. C) ESTREITAMENTO DA SEÇÃO DE ESCOAMENTO Utilização: pequenos cursos d’água, canais (vazão média) (10 Q 300 L/s). C.1. Vertedor Vertedores são simples aberturas ou entalhes na parte superior de uma parede por onde o líquido escoa. Podem ser instalados em cursos d’água naturais ou artificiais. SALVADOR 2019 Onde: L largura da soleira H altura da lâmina de água que passa (carga hidráulica) sobre a soleira P distância do fundo d’água à soleira P’profundidade do curso de água à jusante do vertedor Alguns cuidados na instalação do Vertedor: 1. A soleira deve estar nivelada; 2. Face de montante na vertical e deve ser lisa; 3. Paredes delgadas ou cantos em bisel; 4. Não deve ser afogado. A água não deve escoar pela parede de jusante; 5. P 2H ( P deve ser superior a 20 cm ); 6. 5 cm H 60 cm; 7. Escolher um trecho retilíneo, de pelo menos 3 m para a instalação do vertedor; 8. Fazer a medição de H 1,5 m antes do vertedor. Tipos de Vertedores e suas equações para a determinação da vazão: Vertedor Triangular: Maior precisão para pequenas vazões SALVADOR 2019 Vertedor Retangular : 1. Com duas contrações laterais: As contrações ocorrem nos vertedores cuja largura é inferior à largura do curso d’água. 2. Sem contração lateral Vertedor trapezoidal Vertedor circular SALVADOR 2019 C.2. Venturímetro É um aparelho formado de três partes principais, ou seja, um a convergente, uma intermediária, que constitui o estrangulamento, e um a divergente ou difusor. O diâmetro da parte intermediária deve corresponder entre 25 e 7 5% do diâmetro da tubulação. O comprimento de um venturímetro varia de 4 a 12 vezes o diâmetro da tubulação. O venturímetro tem a vantagem de provocar um a menor perda de carga que o diafragma. A vazão nesse método é medida por: C.3. Diafragma O diafragma consiste num orifício concêntrico feito em chapa metálica (bronze, aço inoxidável ou monel) inserido entre flanges da tubulação. O diâmetro do orifício deve ser de 30 a 80% do diâmetro da tubulação, pois valores abaixo de 30% provocam perda de carga excessiva e valores superiores a 80% não permitem boa precisão. C.4. Calha Parshall Ofuncionamento da Calha Parshall desenvolvida pelo engenheiro Ralph L. Parshall, na década de 1920, nos Estados Unidos, é uma melhoria realizada no projeto de calha Venturi. Desenvolvido inicialmente para aplicações em irrigações, hoje em dia é utilizado frequentemente nas aplicações industriais e saneamento. A Calha Parshall é um dispositivo tradicionalmente usado parar medição de vazão em canais abertos de líquidos fluindo por gravidade, muito utilizado nas estações de tratamento de água para a realização de duas importantes funções: 1º Medir com relativa facilidade e de forma contínua as vazões de entrada e saída de água. 2º Atuar como misturador rápido, facilitando a dispersão dos coagulantes na água, durante o processo de coagulação. O funcionamento da Calha Parshall como medidor de vazão poderá situar-se em duas condições distintas de descarga: Escoamento livre e Escoamento afogado. SALVADOR 2019 C.5. Medidor “WSC FLUME” (Calha) Muito utilizado para medir a vazão em sulcos de irrigação ou canais. Neste equipamento, a água praticamente não se eleva (represamento) à montante do ponto de instalação. Por este motivo é muito utilizado em projetos de irrigação por superfície (sulcos); São construídas em três tamanhos diferentes: pequena, média e grande; Para a medição da vazão, somente a leitura de uma régua graduada em milímetros, encostada na parede lateral da entrada, é suficiente. A leitura é convertida em vazão através de Tabelas ou de prévia calibração com outros métodos (Equações). SALVADOR 2019 Determinação da Curva-Chave da Vazão do Rio Manoel Alves Grande, Goiatins-To. No planejamento e gerenciamento do uso dos recursos hídricos, o conhecimento das vazões é necessário para se fazer um balanço de disponibilidades e demandas ao longo do tempo. Este trabalho teve como objetivo determinar a curva-chave da descarga líquida do Rio Manoel Alves Grande, localizada no Município de Goiatins-TO, através da medição da vazão do rio em diferentes níveis d’água. Utilizou-se dados coletados em campanhas realizadas entre maio de 2008 e dezembro de 2009, totalizando 14 medições, utilizou-se o método do Molinete Hidrométrico para determinação da vazão e na seqüência determinou- se a curva-chave. As medições apresentam resultados coerentes, com boa relação cota x vazão, com elevado coeficiente de determinação ( = 2 R 0,9849), possibilitando a obtenção de curva chave satisfatória. Material e Métodos Os dados utilizados para determinar a expressão da curva-chave (nível x vazão), são de um programa de monitoramento realizado pelo Núcleo Estadual de Meteorologia e Recursos Hídricos do Tocantins. Mediu-se a vazão do curso d’água para diferentes níveis d’água, conforme metodologia preconizada pela Agência Nacional de Águas – ANA, através do uso de molinete hidrométrico MLN-07. A velocidade do fluxo da água foi determinada em quatro pontos nas verticais, a 0,2; 0,4; 0,6 e 0,8p, sendo a velocidade média em cada vertical determinada pela equação: A área da seção foi calculada pelo método da meia seção, e com os valores das velocidades médias das verticais e das áreas das subseções foi determinada a vazão a partir da equação: Em que Q é vazão do rio (m3 s -1), Qi é vazão entre duas verticais (m3 s -1), Ai é área entre duas verticais (m2 ) e i v : velocidade média entre duas verticais (m s-1). SALVADOR 2019 O nível da água do rio foi observado em réguas linimétricas dispostas no local. A Gráfico 1 representa a batimetria, onde primeiramente dividiu-se a seção do rio em séries de verticais igualmente espaçadas e mediu-se a profundidade em cada vertical definida, o que possibilitou então o cálculo da área da seção. Em seguida obteve-se a curva-chave pelo ajuste da relação cota-vazão através da expressão exponencial indicada por Tucci (2008): Onde a, b e Ho são parâmetros de ajuste, H o nível do rio(m) e Q é vazão (m³ s -¹). SALVADOR 2019 Resultados Para o cálculo da vazão fez-se uso dos dados disposto na Tabela 1 obtida em cada uma das campanhas, onde ME e MD representam a margem esquerda e direita do rio, respectivamente. SALVADOR 2019 Os valores dos níveis da água do rio, observados durante as campanhas e as respectivas vazões determinadas estão apresentadas na Tabela 2. Com as 14 medições de vazão consideradas neste trabalho, foi traçada a curva chave da vazão (Gráfico 2), que apesar do pequeno número de medições, apresentou boa precisão, nota-se tal resultado no coeficiente de determinação obtido, que é R²= 0, 9849. As medições apresentaram resultados coerentes, com boa relação cota x vazão, possibilitando a obtenção de curva chave satisfatória. SALVADOR 2019 A partir da determinação da curva chave será possível transformar medições de cota em medições de vazão. O fato das medições terem abrangido períodos de chuva e estiagem contribuiu na boa correlação obtida para curva-chave, pois para gerar uma curva-chave representativa é necessário medir a vazão do rio em diversas variáveis de vazões, abrangendo todos os períodos considerados relevantes do ano, que foi possível no presente estudo. Apesar do resultado satisfatório, deve-se ter noção que o fato da curva chave estar intimamente ligada as características hidráulicas da seção de controle implica variação da expressão matemática quando há uma variação nestas constantes. De acordo com Porto, Silva e Zahed (2001), alterações na geometria da seção ou na declividade do rio geradas por erosões ou assoreamento ao longo do tempo causam mudanças na velocidade do escoamento e nas relações entre área, raio hidráulico e profundidade, afetando a relação cota-descarga. Conclusão A curva-chave determinada para o Rio Manoel Alves Grande apresentou resultado satisfatório, uma vez que foi possível observar uma boa correlação entre cota e a vazão. No entanto é necessário realizar regulares medições de vazão, mesmo após a definição da curva, pois com o passar do tempo podem ocorrer modificações no leito do rio que alterariam a área da secção estudada para coleta de dados e divergindo os valores medidos da descarga líquida com o valor relacionado entre cota e a vazão. Referências Bibliográficas CHOW, VEN TE; MAIDMENT, D.R; MAYS, L. M. Applied Hydrology, 1998, McGrawwHill, 565p. TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. 2ª ed. Porto Alegre: Editora da Universidade: ABRH, 2008, 40p. PORTO, L.L.R.; SILVA, M.R.; ZAHED, F. K. Medição de Vazão e Curva-chave. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Eng. Hidráulica e Sanitária. São Paulo, 2001. 34p.
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