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Eficácia da lei penal no tempo (partes 01 e 02)

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Direito Penal – Eficácia da lei penal no tempo
SUMÁRIO
1.	Introdução	2
2.	Tempo do crime	2
3.	Sucessão de leis penais no tempo	4
3.1.	Novatio legis incriminadora	4
3.2.	Novatio legis in pejus ou lex gravior	4
3.3.	Abolitio criminis	5
3.3.1.	Natureza jurídica	5
3.3.2.	Requisitos da abolitio criminis	5
3.4.	Novatio legis in mellius ou lex mitior	6
4.	Introdução à vigência da lei	9
5.	Princípio da continuidade normativo-típica	9
6.	Lei excepcional e temporária (espécies de lei extrativa) – art. 3º	9
7.	Retroatividade da lei penal no caso de norma penal em branco	11
8.	Lei intermediária – lex intermedia	12
· 
Eficácia da lei penal no tempo
1. Introdução
	A regra é que se aplica a lei penal vigente ao tempo da realização do fato criminoso – tempus regit actum. É decorrência do princípio da legalidade.
	Exceção: extra-atividade é a possibilidade de a lei penal, depois de revogada, continuar a regular fatos ocorridos durante a vigência (ultra-atividade) ou retroagir para alcançar fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor (retroatividade), ou seja, é o nome dado à capacidade dos dispositivos penais de atuar se movimentando no tempo. A extra-atividade demonstra efeitos da norma penal que vão além do normal em sua validade, quando considerados benéficos (contudo, nem sempre a ultra-atividade será aplicada de forma benéfica, como veremos adiante nas leis penais excepcionais e temporárias).
· Retroatividade: aplicação da lei penal (só quando benéfica – art. 5º, XL da CRFB). Alcança fatos praticados antes de sua vigência.
· Ultra-atividade: aplicação da lei penal mesmo após a sua revogação.
	Perceba, a extra-atividade da lei penal constitui exceção à regra geral de aplicação da lei vigente à época dos fatos.
	Questão CESPE: (2012 – TJ-AC – Técnico Judiciário)[footnoteRef:1]. De acordo com o que dispõe o Código Penal acerca de lei excepcional ou temporária, a conduta de um comerciante que tenha criminalmente transgredido os preços estipulados em tabela fixada por órgão do Poder Executivo deve ser avaliada pelo juiz com base na tabela vigente ao tempo da transgressão, porquanto constitui complemento da norma penal em branco, com efeito ultra-ativo. [1: Gabarito: correto.] 
2. Tempo do crime
	O tempo do crime busca saber quando um crime é praticado. Para esse intento adotamos a teoria da atividade ou da ação (art. 4º do CP).
Art. 4º do CP - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
	Reflexo prático dessa escolha pelo legislador: princípio da coincidência, congruência ou simultaneidade os requisitos do crime (fato típico, ilicitude e culpabilidade) devem ser analisados no momento da conduta e não no momento do resultado.
	O tempo do crime, em regra, marca a lei que vai reger o caso concreto.
	A teoria da atividade possui maior relevância para os crimes materiais ou causais. Crimes materiais ou causais são aqueles em que o tipo penal contém conduta e resultado naturalístico, exigindo a produção deste (modificação na realidade) para que ocorra a sua consumação. 
	Observação: nos crimes formais e nos de mera conduta o dispositivo do art. 4º é irrelevante, porque eles se consumam com a prática da conduta, pouco importando o resultado. 
	A relevância se dá porque apenas nos crimes materiais é que a conduta pode ocorrer em um momento e o resultado em outro. 
	Exemplo: indivíduo com 17 anos, 11 meses e 29 dias (adolescente) de idade desfere tiros de arma de fogo contra uma vítima para matá-la. A vítima é gravemente ferida, permanece durante uma semana na internada numa UTI e um mês após o fato falece. Portanto, temos que o agente: 
· No momento em que efetuou os disparos de arma de fogo: era menor de 18 anos. 
· No momento em que ocorreu a morte da vítima: era maior de 18 anos. 
	O agente responderá conforme o Código Penal ou conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente? Responderá conforme o ECA, porque no momento da ação o agente era adolescente (inimputável). 
	Teoria da atividade x prescrição: no tocante ao termo inicial da prescrição da pretensão punitiva propriamente dita, o Código Penal adota a teoria do resultado. 
Termo inicial da prescrição antes de transitar em julgado a sentença final:
Art. 111 do CP - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: 
I - do dia em que o crime se consumou; 
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. 
V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.
	Podemos afirmar que a regra é aplicar a lei em vigor ao tempo da conduta, exceto se a do tempo do resultado for mais benéfica.
	A teoria do resultado e a teoria mista não foram adotadas para fins de definição do tempo do crime.
· Teoria do resultado (não adotada): considera-se praticado no momento do evento do resultado.
· Teoria mista/ubiquidade (não adotada): considera-se praticado o crime tanto no momento da conduta quanto quando ocorra o resultado.
3. Sucessão de leis penais no tempo
	Conflito de leis penais no tempo é a situação verificada quando uma nova lei penal entra em vigor, revogando a lei anterior. Em outras palavras, esse conflito verifica-se na hipótese de sucessão de leis penais ao longo do tempo. 
	Direito penal intertemporal são as regras e os princípios que buscam solucionar o conflito de leis penais no tempo: 
· Regra geral: “tempus regit actum” (o tempo rege o ato). Portanto, no conflito de leis penais no tempo aplica-se a lei que estava em vigor na data em que o fato foi praticado. 
· Exceção: lei penal benéfica (lei penal favorável ao réu). A lei penal benéfica é dotada de extra-atividade[footnoteRef:2]. [2: Extra-atividade é o gênero, no qual se encaixam: retroatividade: aplicação para o passado. Ultra-atividade: aplicação para o futuro. Portanto, a lei benéfica continua aplicável, mesmo depois de revogada, se o fato foi praticado quando ela estava em vigor e posteriormente surge uma lei mais grave tratando da matéria.] 
3.1. Novatio legis incriminadora
	O fato era atípico quando da conduta, posteriormente passou a ser típico. 
	A lei não retroage – irretroatividade da lei penal (art. 1º do CP).
Art. 1º do CP - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
3.2. Novatio legis in pejus ou lex gravior
	O fato é típico quando da conduta, posteriormente surge uma lei que dá um tratamento mais rigoroso. 
	A lei nova não retroage – irretroatividade da lei penal (art. 1º do CP), pois menos benéfica. Embora a norma anterior (mais benéfica) presente há época da conduta, que foi revogada pela lei nova mais prejudicial, se aplique ao caso (ultra-atividade).
	E no caso do cometimento de crime continuado[footnoteRef:3] ou permanente[footnoteRef:4]? A lei penal mais grave poderá ser aplicada – súmula nº 711 do STF. [3: Crime continuado: trata-se de uma ficção jurídica em que se um sujeito pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, praticados nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução. Devem ser tratados, para fins da pena, como crime único (os subsequentes são continuação do primeiro) aplicando-se a pena de um só dos crimes se idênticos ou a mais grave, se diversas, aumentando em qualquer caso de um sexto a dois terços (art. 71 do CP). Exemplo: sujeito que furta todo final de semana um mercadinho.
Crime parcelar é cada um dos crimes que compõem a continuidade delitiva.] [4: Crime permanente: a consumação se prolonga no tempo por vontade do agente. Exemplo: sequestro.] 
Súmula nº 711 do STF – “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
	QuestãoCESPE: (2011 – TJ-ES)[footnoteRef:5]. Considere que um indivíduo pratique dois crimes, em continuidade delitiva, sob a vigência de uma lei, e, após a entrada em vigor de outra lei, que passe a considerá-los hediondos, ele pratique mais três crimes em continuidade delitiva. Nessa situação, de acordo com o Código Penal, aplicar-se-á a toda a sequência de crimes a lei anterior, por ser mais benéfica ao agente. [5: Gabarito: errado.] 
3.3. Abolitio criminis
	A abolitio criminis é a revogação de um tipo penal pela superveniência de lei descriminalizadora. Nesse caso a lei retroage (art. 2º, caput do CP). A nova lei torna atípico o fato até então considerado criminoso.
	A abolitio criminis (art. 2º, caput do CP) viola a coisa julgada? Não, pois o art. 5º, XXXVI da CRFB tutela a garantia individual (do cidadão para com o Estado e terceiros) e não o direito de punir do Estado.
Art. 2º do CP - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.	
	Consequência: a abolitio criminis cessa a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Exemplo: liberdade, retirada do nome do rol de culpados, reincidência, antecedentes penais etc. Os efeitos extrapenais (cíveis e administrativos) estão previstos nos arts. 91 e 92 do CP, são mantidos. Exemplo: a reparação civil do dano é efeito extrapenal, não desaparecendo com a abolitio criminis.
	A abolitio criminis é desdobramento lógico do princípio da intervenção mínima. Possui dois enfoques:
· Positivo: orienta onde e quando o Direito Penal deve intervir.
· Negativo: orienta onde e quando o Direito Penal deve deixar de intervir.
3.3.1. Natureza jurídica
· 1ª Corrente: é causa excludente da tipicidade (Cleber Masson).
· 2ª Corrente (é o que o Código Penal adota no seu art. 107, III[footnoteRef:6]): é causa extintiva da punibilidade. [6: Art. 107 do CP - Extingue-se a punibilidade: III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;] 
3.3.2. Requisitos da abolitio criminis
· Revogação formal do tipo penal: o tipo penal é formalmente revogado. 
· Supressão material do fato criminoso: o fato deixa de ter relevância para o Direito Penal. 
	Exemplo: o art. 240 do CP previa o crime de adultério. O dispositivo foi revogado (revogação formal) em 2005 e o adultério deixou de interessar ao Direito Penal. Ademais, não há qualquer outro dispositivo que o prevê como crime (supressão material). 
	E na hipótese de ocorrer o primeiro requisito (revogação formal), porém não ocorrer o segundo (supressão material)? Exemplo: na redação original do Código Penal havia dois crimes sexuais cometidos com violência à pessoa ou grave ameaça: o estupro (art. 213 do CP) e o atentado violento ao pudor (art. 214 do CP). O artigo 214 foi revogado (revogação formal), mas não houve a supressão material do fato criminoso, pois a conduta que antes caracterizava atentado violento ao pudor continuou (e continua) constituindo crime, mas com o nome de estupro. Portanto, no exemplo acima não houve “abolitio criminis”, mas uma manifestação do princípio da continuidade normativa ou continuidade típico-normativa. É o que se denomina de mero deslocamento geográfico ou transmutação topográfica. 
	Questão CESPE: (2013 – SEGESP-AL – Papiloscopista)[footnoteRef:7]. Com relação ao crime consumado e tentado e à lei penal no tempo e no espaço, julgue os itens a seguir. Considere que uma pessoa tenha sido denunciada pela prática de determinado fato definido como crime, que, em seguida, foi descriminalizado pela lei A. Posteriormente, foi editada a lei B, que revogou a lei A e voltou a criminalizar aquela conduta. Nessa situação, a última lei deve ser aplicada ao caso. [7: Gabarito: errado. Há retroatividade num primeiro momento (lei nova alcança fato passado, afastando lei antiga); depois, há ultratividade (lei antiga se mantém sobre fato passado, afastando lei nova).] 
3.4. Novatio legis in mellius ou lex mitior
	Previsão constitucional:
Art. 5º, XL da CRFB - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
	Questão CESPE: (2010 – ABIN)[footnoteRef:8]. Dado o reconhecimento, na CF, do princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica como garantia fundamental, o advento de lei penal mais favorável ao acusado impõe sua imediata aplicação, mesmo após o trânsito em julgado da condenação. Todavia, a verificação da lex mitior, no confronto de leis, é feita in concreto, cabendo, conforme a situação, retroatividade da regra nova ou ultra-atividade da norma antiga.	 [8: Gabarito: correto.] 
	O fato é típico quando da conduta, posteriormente surge lei que dá um tratamento mais benéfico. A lei retroage (art. 2º, PU do CP), inclusive não respeitando a coisa julgada.
Art. 2º, parágrafo único do CP - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
	Depois do trânsito quem é o juiz competente para aplicar a lei mais benigna? Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo da execução a aplicação da lei mais benigna – súmula nº 611 do STF. Se antes da prolação da sentença, cabe ao juiz competente para o processo e julgamento; se após sentença condenatória recorrível, cabe à instância recursal. Se for necessário mais que um mero cálculo aritmético, será necessário ajuizar revisão criminal.
	Atenção:
	Prova objetiva: transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo da execução a aplicação da lei mais benigna (súmula nº 611 do STF).
	Questão CESPE: (2011 – AGU – Advogado)[footnoteRef:9]. Ocorrendo a hipótese de novatio legis in mellius em relação a determinado crime praticado por uma pessoa definitivamente condenada pelo fato, caberá ao juízo da execução, e não ao juízo da condenação, a aplicação da lei mais benigna. [9: Gabarito: correto.] 
	Prova subjetiva: depende do conteúdo da lei penal benéfica.
· 1ª corrente: é o juiz da execução com base na súmula nº 611 do STF;
· 2ª corrente: pode ser o juiz da execução ou o tribunal por meio da revisão criminal. Se a aplicação da lei nova benéfica exigir tão somente um critério/raciocínio matemático (“...dano à vítima for inferior a um salário mínimo...”) será o juiz da execução. Se a aplicação da lei nova benéfica exigir um juízo de valor (ex.: “...quando o dano for de pequeno valor...”) quem deverá aplicar será o tribunal por meio da revisão criminal.
	Questão CESPE: (2011 – TCU – Auditor Federal de Controle Externo)[footnoteRef:10]. A lei penal que, de qualquer modo, beneficie o agente deve retroagir, desde que respeitado o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. [10: Gabarito: errado. Embora a Constituição não condicione temporalmente a retroatividade da lei penal mais benigna, o Código Penal (em seu artigo 2º) preconiza que mesmo na hipótese de trânsito em julgado da decisão condenatória a lei posterior mais favorável deve ser aplicada aos fatos anteriores. Observação: os crimes cometidos durante a vigência de lei penal excepcional ou temporária, não são alcançados por lei posterior mais benéfica, possuindo, portanto, as referidas leis excepcionais ou temporárias efeitos ultra-ativos, ainda que “choquem” com lei posterior mais benéfica.] 
	Questão CESPE: (2011 – TER-ES)[footnoteRef:11]. A lei penal que beneficia o agente não apenas retroage para alcançar o fato praticado antes de sua entrada em vigor, como também, embora revogada, continua a reger o fato ocorrido ao tempo de sua vigência.
 [11: Gabarito: correto. ] 
	É possível a aplicação de lei mais benéfica durante o seu período de vacatio legis?
· 1ª corrente (STJ): não é possível, pois lei na vacatio legis não tem eficácia (jurídica ou social), devendo imperar a lei vigente. É mera expectativa de lei.
· 2ª corrente: a lei mais benéfica na vacatio legis pode ser aplicada desde que a defesa a conheça e requeira sua aplicação, pois a função primordial da vacatio legis é dar conhecimento.
	É possível a combinação deleis para favorecer o réu?
· 1ª corrente[footnoteRef:12] (prevalece – súmula nº 501 do STJ): está vedada a combinação de leis penais. O juiz ao combinar leis passaria a legislar – lex tertia. Conforme Nélson Hungria, o que impede a combinação de leis penais é o princípio constitucional da separação dos poderes (art. 2º da CRFB). A partir da combinação cria-se uma terceira lei e, portanto, o juiz estaria abandonando a sua função de julgador e se arvorando indevidamente na posição de legislador. O juiz pode aplicar toda a lei nova ou toda a lei velha para favorecer o réu. Então como proceder em caso de dúvida sobre qual é a lei mais benéfica? Deve-se consultar a defesa, permitindo-lhe indicar qual a norma que efetivamente o beneficia (STJ e Nélson Hungria). [12: Em Portugal, essa posição é denominada de teoria da “ponderação unitária” ou “ponderação global”. Tradicionalmente, sempre foi a posição adotada pelo STF.] 
· 2ª corrente[footnoteRef:13] (José Frederico Marques): segundo o autor, é possível a combinação de leis penais. O juiz, ao combinar normas penais, não está legislando, mas apenas transitando dentro de limites previamente definidos pelo legislador. Para o autor, se o juiz pode aplicar o todo, ele poderá aplicar parte, “quem pode o mais, pode o menos”. [13: Em Portugal, a teoria é denominada de “ponderação diferenciada”.] 
	O STF tradicionalmente se filiou à primeira corrente. No entanto, uma polêmica envolveu o crime de tráfico de drogas. Estava em vigor no Brasil a Lei nº 6.368/76 que previa o tráfico de drogas (art. 12) e que foi revogada posteriormente pela Lei nº 11.343/06 (art. 33). Na lei antiga a pena era de 3 a 15 anos e multa; na nova de 5 a 15 anos e multa. 
	Exemplo: o crime foi praticado na égide da Lei nº 6.368/76 e a sentença foi proferida quando estava em vigor a nova Lei. Aparentemente, portanto, não haveria nenhuma polêmica. No entanto, a nova Lei de Drogas contém um dispositivo (art. 33, §4º) que permite a diminuição da pena de 1/6 a 2/3 (tráfico privilegiado). 
	A partir da situação a Defensoria Pública requereu a aplicação da pena da lei antiga com a causa de diminuição da lei nova – pena mínima (3 anos) e máxima diminuição (2/3) pena de 1 ano. Portanto, foi um pedido de combinação de leis penais. 
	Em um primeiro momento, as Turmas tanto do STF como do STJ divergiram entre si. Posteriormente, a decisão deslocou-se para o Plenário e no julgamento do RE 600.817 (Inf. nº 727) o STF proibiu a combinação de leis penais. A posição foi seguida pelo STJ: 
Súmula nº 501 do STJ – “É cabível a aplicação retroativa da Lei nº 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei nº 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis”. 
	O Código Penal não disciplina o assunto. O Código Penal Militar, sim: 
Art. 2º, §2º do CPM - Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior devem ser consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato.
4. Introdução à vigência da lei
	Ao falar em lei penal no tempo é comum fazer menção ao princípio da continuidade das leis: depois de entrar em vigor, a lei permanece nessa condição – em vigor – até ser revogada por outra lei. 
	A lei somente pode ser revogada por outra lei. Portanto, não revogam a lei: costume, desuso ou decisão judicial, ainda que ela seja proferida pelo STF em sede de controle concentrado de constitucionalidade – a decisão afasta a eficácia da lei. 
	Toda e qualquer lei pode ser revogada, por mais consolidada que ela seja, pois a função legislativa é irrenunciável.
	Revogação é a retirada da vigência de uma lei. Ela pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação).
5. Princípio da continuidade normativo-típica
	No tempo da conduta o fato era típico, surge uma lei posterior e migra o conteúdo (revogação formal) para outro tipo. O legislador não deixou de tratar o fato como crime (revogação material), a intenção não é descriminalizar, mas continuar criminalizando, porém em outro tipo.
	COMPARAÇÃO ENTRE INSTITUTOS
	Na abolitio criminis
	Na continuidade normativo-típica
	Supressão da figura criminosa (formal e material).
	Apenas supressão formal do tipo.
	A conduta não será mais punida (o fato deixa de ser punível).
	O fato permanece punível. A conduta criminosa apenas migra para outro tipo penal.
	A intenção do legislador é não mais considerar o fato criminoso.
	A intenção do legislador é manter o caráter criminoso do fato, mas com outra roupagem.
6. Lei excepcional e temporária (espécies de lei extrativa) – art. 3º
Art. 3º do CP - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
	As leis temporárias e excepcionais representam exceção à regra da aplicação da lei mais benéfica ao acusado, pois sempre serão aplicadas aos fatos praticados durante suas vigências.
· Lei temporária ou lei temporária em sentido estrito: nasce para durar tempo determinado (lei que tem fixado no seu texto o tempo de duração). É aquela que tem vigência predeterminada no tempo. Em outras palavras, a lei temporária possui um prazo de validade.
	Exemplo: art. 36 da Lei nº 12.663/2012 (Lei da Copa) - Os tipos penais previstos neste Capítulo terão vigência até o dia 31 de dezembro de 2014.
	Questão CESPE: (2019 – TJ-PR – Juiz substituto)[footnoteRef:14]. Nas disposições penais da Lei Geral da Copa, foi estabelecido que os tipos penais previstos nessa legislação tivessem vigência até o dia 31 de dezembro de 2014. Considerando-se essas informações, é correto afirmar que a referida legislação é um exemplo de lei penal temporária. [14: Gabarito: correto.] 
· Lei excepcional ou lei temporária em sentido amplo: nasce para atender situações de emergência (exemplo: guerra, calamidades, eventos, etc.). A lei perdura enquanto presente a situação de emergência.
	Exemplo: lei que torna crime o desperdício de água durante o período de racionamento de água.
	Questão CESPE: (2012 – PC-AL – Agente)[footnoteRef:15]. Cessado o estado de guerra, as leis excepcionais editadas para valer durante o referido período tornam-se ineficazes, devido à abolitio criminis. [15: Gabarito: errado.] 
	Características de ambas:
· Autorrevogabilidade ou intermitente: consideram-se revogadas assim que encerrado o prazo fixado (temporária) ou cessada a situação de anormalidade (excepcional).
· Ultra-atividade: mesmo autorrevogadas os fatos cometidos durante a sua vigência continuam sendo punidos por elas. Tem doutrinador defendendo que ela não é ultra-ativa, pois continua em vigor, embora não possa ser aplicável, pois esgotado o fato que a mantinha. A ultra-atividade é importante, pois, por serem de curta duração, se não tivessem a característica da ultra-atividade, perderiam sua força intimidativa.
	Questão CESPE: (2013 – PC-DF – Escrivão – Editada)[footnoteRef:16]. A lei penal que, de qualquer modo, beneficia o agente tem, em regra, efeito extra-ativo, ou seja, pode retroagir ou avançar no tempo e, assim, aplicar-se ao fato praticado antes de sua entrada em vigor, como também seguir regulando, embora revogada, o fato praticado no período em que ainda estava vigente. A única exceção a essa regra é a lei penal excepcional ou temporária que, sendo favorável ao acusado, terá somente efeito ultra-ativo. [16: Gabarito: correto.] 
	O artigo 3º foi recepcionado pela Constituição?
· 1ª corrente: o art. 3º é de duvidosa constitucionalidade, posto que exceção à irretroatividade legal consagrada a CRFB, não admite exceções, possuindo caráter absoluto. A extra-atividade deve ser sempre em benefício do réu.
· 2ª corrente (prevalece): o art. 3º não viola o princípio da irretroatividade da lei prejudicial. Não existe sucessão de leis penais. Não existe tipo versando sobre o mesmo fato sucedendo lei anterior. Não existe lei para retroagir.
	Questão CESPE: (2013 – CEF – Advogado)[footnoteRef:17]. No que diz respeito à eficácia temporalda lei penal, o término da vigência das leis denominadas temporárias e excepcionais não depende de revogação por lei posterior. Consumado o lapso da lei temporária ou cessadas as circunstâncias determinadoras das excepcionais, cessa, então, a vigência dessas leis. [17: Gabarito: correto.] 
7. Retroatividade da lei penal no caso de norma penal em branco
· 1ª corrente
	A alteração do complemento da norma penal em branco deve sempre retroagir, desde que mais benéfica para o réu (decorre da lógica da Constituição).
· 2ª corrente
	A alteração da norma penal complementadora, mesmo que benéfica, é irretroativa porque a norma principal não é revogada com a simples alteração de complementos.
· 3ª corrente
	Só tem importância a variação da norma complementar na aplicação retroativa da norma penal em branco quando esta provoca uma real modificação da figura abstrata do Direito Penal, e não quando importe a mera modificação de circunstância que, na realidade, deixa subsistente a norma penal.
· 4ª corrente (adotada) 
	A alteração de um complemento na norma penal em branco homogênea terá efeitos retroativos, se benéfica (pois, a lei também foi submetida a rigoroso e demorado processo legislativo). Quando se tratar de norma penal em branco heterogênea, a alteração mais benéfica só ocorre quando a legislação complementar não se revestir de excepcionalidade (quando não for uma situação de anormalidade, urgência). 
	Exemplo 01: um indivíduo está sendo processado por tráfico de drogas (venda de maconha) e durante o trâmite da ação penal a maconha é excluída da relação de drogas (descriminalização). A exclusão da maconha da relação de drogas proibidas no Brasil excluiu o crime do tráfico de drogas relativo à maconha? Sim, pois a alteração ocorreu em uma situação de normalidade. Aplicando-se a todos aqueles que realizaram o crime da lei de drogas relacionados com a maconha.
	Exemplo 02: na década de 1980 havia uma hiperinflação e criou-se um tabelamento de preços. Aquele que vendesse um produto acima ou abaixo da tabela praticaria um crime contra a economia popular. Situação hipotética: um padeiro que vendeu pães acima do valor estipulado pela tabela estava respondendo a esse crime, mas durante o trâmite da ação penal a política de tabelamento é extinta. A revogação do complemento exclui o crime contra a economia popular? Não, pois nesse caso o complemento é dotado de ultra-atividade (situação de anormalidade).
	É possível a retroatividade da jurisprudência? Não. A Constituição se refere somente à retroatividade da lei (proibindo quando maléfica e incentivando-a quando benéfica). O Código Penal também só disciplina a retroatividade da lei (não da jurisprudência). O entendimento que prevalece (STJ) é o de que a extra-atividade só se refere à lei, não se estendendo à jurisprudência. Logo, mudança de jurisprudência que torne o entendimento mais benéfico não pode retroagir ou ser objeto de revisão criminal. Fundamentos:
· Por não haver previsão constitucional ou infraconstitucional;
· O fato de um tribunal modificar sua orientação sobre determinado dispositivo não significa dizer que o entendimento anterior era ilegítimo.
	Observação feita pela doutrina: nas jurisprudências com efeito vinculante (súmulas vinculantes e decisões em sede de controle concentrado de constitucionalidade) o correto é aplicar a retroatividade da jurisprudência mais benéfica. Não é o entendimento do STF (ADC 43 e 44 – execução provisória da pena).
8. Lei intermediária – lex intermedia
	A lei intermediária também está relacionada com o conflito de leis penais no tempo. É a lei aplicada porque é benéfica ao réu, pois há época do fato não era a vigente, tampouco seja a vigente no momento do julgamento. Essa aplicação é pacífica no STF.
	Possui duplo efeito: retroativo (ao tempo da ação) e ultra-ativo (ao tempo do julgamento).
	Diante de um conflito de leis penais no tempo, a lei que se mostrar mais favorável é a que deverá ser aplicada ao caso. É o posicionamento da doutrina. Vejamos um exemplo:
Em 2010 a Lei “A” prevê o crime de homicídio com pena de 12 a 20 anos.
Em 2019 a Lei “C” revoga a Lei “B” e passa prever o crime de homicídio com pena de 8 a 16 anos.
Em 2014 a Lei “B” revoga a Lei “A” e passa prever o crime de homicídio com pena de 6 a 12 anos.
Embora o fato tenha sido praticado na vigência da Lei “A”, em função da Lei “B” ser mais benéfica aplica-se retroativamente em relação a Lei “A” e ultra ativamente em relação a Lei “C”. É a chamada lei intermediária.
Julgamento em 10-02-2020.
Carlos pratica homicídio consumado em 14-11-2011.
	
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