Buscar

Dom Cirilo Folch Gomes_Antologia dos Santos Padres_Paginas seletas dos antigos escritores eclesiastico

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 442 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 442 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 442 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CIRILO FOLCH GOMES, OSB
ANTOLOGIA
DOS
SANTOS PADRES
Paginas seletas dos antigos escritores eclesiásticos
4? ed ição (revista)
PREFACIO
A falta de textos em português, acessíveis aos estudantes de Teo­
logia e a tantas outras pessoas que se interessam pelo conhecimento 
da antiga literatura crista, despertou-nos a idéia desta Antologia, cuja 
1* edição teve boa acolhida.
Não pretendemos fazer obra de erudição, e sim oferecer um pa­
norama de textos seletos, em traduções feitas com seriedade, na base 
não só do Migne (que geralmente citamos, no intuito de facilitar a lo­
calização dos passos), mas, quando possível, das modernas edições 
críticas.
O critério de seleção adotado foi quase sempre o do valor repre­
sentativo: pãginas onde aparecesse algo de característico de cada au­
tor. A este critério aliamos o do valor doutrinário, para proveito dos 
estudantes de Teologia, e o da utilidade espiritual, pois são geralmente 
páginas de grande fé e amor de Deus.
De cada um dos Padres damos somente breve notzda biográfica. 
Não seria possível estender-nos na interpretação de seu significado 
histórico, cultural e teológico, dentro dos limites <de uma Antologia, 
que não se substitui a um tratado de Patrística. Assim, certas passa­
gens pedirão a introdução e o comentário de um professor ou a con­
sulta a Manual especializado, para serem devidamente valorizadas pelo 
leitor que apenas se inicie nas ciêndas teológicas e na História da 
Igreja.
Sem desconhecer os limites e imperfeições de nosso trabalho, 
temos a certeza de que continuará a prestar serviço em nosso meio. 
Esperamos que outras coletâneas e traduções se sucedam, enquanto 
não pudermos ter acesso, em edições mais amplas, ao imenso tesouro 
dos santos Padres.
O A u t o r
IN TRO DUÇÃO
OS PADRES DA IGREJA
Falando de um modo genérico, diríamos que os “Padres” são os 
santos teólogos da antiguidade. Eles constituem toda uma galeria de 
grandes homens de £é, cuja palavra e cujos escritos geraram um pen­
samento cristão, que ficou como qualquer coisa de básico para os 
séculos seguintes. Não são todos os Santos antigos — que foram nu­
merosos, paradigmáticos e deram vigor e afirmação ao cristianismo 
nascente, mas nem sempre legaram à posteridade um patrimônio dou­
trinário.
Chamando-os teólogos estamos, sem dúvida, usando esta palavra 
em sentido bastante amplo. Queremos dizer que deram certa expli­
citação à fé, não porém que tenham tentado sempre uma exposição 
metódica, ou deitado as bases de uma reflexão exegética ou especula­
tiva de valor perene. Resta que foram santos da antiguidade, isto é, 
gente da qual se pode esperar um testemunho válido da tradição, da 
tradição mais próxima das origens. Fazem jus a um crédito especial 
de autenticidade, mesmo porque aparecem como pensadores apai­
xonados pelo Evangelho, que não raro sofreram e deram a vida por 
sua causa.
Historicamente, o título de “Padres” foi dado no início simples­
mente aos bispos; às vezes também aos ascetas, que nos desertos 
ofereciam uma palavra espiritual, geradora de vida, aos que os pro­
curavam. A partir do século IV, recebiam o apelativo de “Padres da 
Igreja” os pastores e mestres que tomaram parte no concílio de Ni- 
céia (325) e personificavam o princípio da tradição, como anterior­
mente os “anciãos” no judaísmo1. Na época do concílio de Éfeso 
(431), adquire plena vigência o recurso ao argumento dos “Padres” 
neste sentido. Pouco depois, vemos Vicente de Lérins — um dos 
primeiros, autores que ensaiaram sistematizar este tipo de questões 
metodológicas — estender a outros escritores, não só do passado, 
o mesmo título. Segundo ele, detém-no quem ensinou na unidade da fé 
e da comunhão eclesiástica 1 2. Passava-se, ao mesmo tempo, a distinguir 
dos “Padres” outros que seriam meramente escritores eclesiásticos, 
quiçá até heterodoxos. Semelhantemente, no começo da eta moderna, 
Melchior Cano, famoso elaborador de um tratado sobre as fontes da 
teologia (De locis theologicis) 3, situava dentro de quatro característi­
cas a figura do “Padre”: 1) ortodoxia doutrinária; 2) santidade de
1 Cf. B. Studer, em Mysterium sdutis, tr., Ed. Vozes, 1/3, p. 90.
2 Commonitorwm, c. 3 (“magistri probabiles*); cf. c. 27 ( “beati Patres”): P.L. 
50, 641, 676.
3 Obra póstuma, o De locis apareceu em Salamanca em 1563 e valeu a M. 
Cano o título de “oai da metodoloeia teolóeica”.
vida; 3) reconhecimento ao menos indireto, por parte da Igreja; 4) 
antiguidade.
Esta conceituaçâo se tornou clássica, embora deva ser assumida 
com certa elasticidade. A ortodoxia, para começar, não é preciso en­
tender-se de modo que exclua posições errôneas em tais ou quais pon­
tos, sendo aptes uma orientação geral dos escritos, em consonância 
com o depósito genuíno da fé. Assim, segundo os concílios de Tren- 
to e Vaticano I, o “acordo comum dos Padres” é critério normativo 
na interpretação da Sagrada Escritura4; mas, como lembrava Pio 
X II, na encíclica Divino Afflante Spiritu, as interpretações pessoais 
dos Padres não gozam dessa normatividade5 6, pois eles não foram 
apenas, como já assinalamos, representantes do magistério eclesiástico 
em condições históricas de maior proximidade com as fontes e de de- 
cisividade em questões basilares, mas também teólogos com suas pers­
pectivas pessoais.
A aprovação da Igreja se manifesta às vezes expressamente (co­
mo nos pronunciamentos feitos sobre sto. Agostinho) ó; outras ve­
zes consistindo no fato de virem citados determinados escritores, de 
maneira honrosa, em concílios e documentos oficiais; podendo enfim 
ser uma aprovação apenas implícita.
A antiguidade é uma característica também um tanto indefinida. 
Em primeiro lugar não se deveria valorizá-la ao ponto de sugerir cer­
ta ruptura entre a época antiga e as fases seguintes da História da 
Igreja. Se há uma distinção de fases nessa História, situa-se entre 
o tempo apostólico e toda a era pós-apostólica. No primeiro período, a 
Igreja está sendo constituída, da mesma forma que a recepção das 
verdades reveladas. No segundo, cresce a Igreja como crescem o 
conhecimento, a assimilação e a difusão das verdades, sob a guia do 
Magistério, assistido pelo Espírito Santo. A esta fase pertencem os 
Padres, por privilegiada que tenha sido sua condição de pioneiros.
E até onde se estenderia a “antiguidade”? Variam os parece­
res. Há autores que restringem a Patrística até à época do concílio 
de Calcedônia (451), embora a maioria concorde em alongá-la até 
aos séculos V II-V III, com Gregório Magno e Isidoro, no Ocidente, 
e João Damasceno no mundo grego. É, com efeito«, o período em que 
se assentam os alicerces das formulações doutrinárias, da liturgia e 
do corpo disciplinar da Igreja. Surgirá um matiz diferente na era 
carolíngia e depois, nas grandes cisões entre latinos e gregos, no 
pensamento escolástico, etc. Não se pode negar um parentesco maior 
de s. Gregório ou de s. Damasceno com a mentalidade anterior, o 
que justifica certa linha divisória, mesmo se imprecisa.
Nem todos os escritores que incluímos na presente Antologia são 
considerados “Padres” dentro dos critérios mencionados, pois, se
1 0 INTRODUÇÃO
4 DS 1507; 3007.
5 DS 3831.
6 DS, Ind.: Augustinus.
OS PADRES DA IGREJA 11
faltam os heréticos, nossa lista abrange escritores que, ou não foram 
reconhecidos como Santos, ou deixaram a comunhão eclesiástica por 
algum cisma, ou cujas obras não gozaram de particular aprovação da 
Igreja. Tais são os casos de Tertuliano, Orígenes, Novaciano, Eusébio, 
etc., que estão porém em todas as Patrologias, pois produziram obras 
notáveis e, apesar dos erros pessoais ou de doutrina, comungaram com 
a grande mentalidade dos construtores da cosmovisão cristã, que foram 
os Padres
De outro lado, excluímos os “Doutores” de épocas posteriores: 
um título que a partir da Idade Média se aplica a teólogos de quais­
quer épocas, que se tenham sobressaído pela santidade e por seu 
excepcional saber (um sto. Anselmo, um s. Boaventura, um sto. 
Tomás de Aquino, um sto. Afonso deLigório e outros). A esta cate­
goria pertencem de fato alguns Padres: Ambrósio, Jerônimo, Agos­
tinho, Gregório Magno, Hilário, Crisólogo, Leão e Isidoro, no mundo 
ocidental e, entre os orientais: Basílio, Gregório Nazianzeno, Crisós­
tomo, Atanásio, Efrém, Cirilo de Jerusalém e Cirilo de Alexandria.
Dizíamos que os Padres visaram elaborar uma cosmovisão cristã. 
Detectar uma “sabedoria”, de objeto universal, é aliás o fruto de 
toda reflexão feita sobre a fé — cujo conteúdo é a palavra de Deus 
reveladora de Seu desígnio sobre o mundo. Mas a teologia dos Padres 
aspirou particularmente a uma visão de síntese. Seu grande tema foi 
a “Economia”, a História da salvação iniciada desde a Criação e 
visitada pelo Verbo Criador. Nem sempre o tema foi bem articulado 
com a doutrina sobre Deus (pensemos na teologia anterior ao concílio 
de Nicéia), mas o tratamento que teve, intimamente ligado à exegese 
bíblica, um tratamento existencial, prático, por vezes místico mãisMo 
que racional, dá a numerosas páginas patrísticas um interesse de grande 
atualidade. A teologia de hoje revaloriza o enfoque histórico e salvífico 
nelas presente e que, ao contrário, esteve por demais ausente na teolo­
gia do século passado7. Busca-se “um contato mais vivo com o Misté­
rio de Cristo e a História da salvação”, como disse o Vaticano I I 8, e 
uma contribuição para isto pode ser tirada da leitura dos Padres. So­
bretudo porque despertam uma nova apreciação da leitura bíblica.
Com efeito, é impressionante vermos como eles fizeram da Sagra­
da Escritura um livro venerado, estudado, explicado, descobrindo nela 
“páginas perfeitas porque ditadas pelo Verbo de Deus e pelo seu Es­
pírito” 9. Seus comentários assumem amplamente este princípio da auto­
ria divina, que nos convida a superar o plano da exegese filológico-
7 Cf. Y. Congar: “Une des limites les plus graves de la formation cléricale au 
XIXe siècle avait été Pabsence de dimension historique”. In: Situation et tâches 
présentes de la théologie, Paris, 1967, p. 28, n. 2.
8 Decr. Optatam Totius, n- 16.
9 iRENEti, Adv. Haer. I I , 28, 2.
-crítica, em busca do sentido que Deus tenha querido manifestar atra­
vés dos hagiógrafos. É outro título de atualidade para a leitura dos 
Padres.
Há enfim a aproximação que propõem a cada passo, da fé com 
a oração, com a liturgia e com a vida moral.
Sua preocupação pela ortodoxia da fé não precisa ser encarecida. 
Eles viveram intensamente o combate às heresias e a ambição das for­
mulações doutrinárias corretas. Mas não era uma preocupação acadêmi­
ca. Queriam servir à oração, queriam o contato com o culto e os sacra­
mentos, tinham um ardente zelo pela “ortopraxia” também, isto é, pela 
fé operante na vida moral, nas obras de misericórdia corporais e espi­
rituais. Vejam-se as catequeses mistagógicas, que ainda hoje são exem­
plares no gênero, e os sermões sobre o amor aos pobres, sobre as 
obrigações de justiça social — páginas estas tão atuais que Paulo VI as 
recordava na Populorum Progressio 10 * 12. Eles não falaram em nenhuma 
“teologia política”, mas não seria difícil encontrar, no que disseram, 
inspiração para o que de melhor entendêssemos hoje por uma teologia 
aberta para a encarnação social da justiça e do amor evangélicos.
Temos de referir-nos porém a certos limites, que nos impedem de 
idealizar demais aquela plêiade de homens ilustres e santos, filhos 
porém de sua época, dependentes de uma cultura superada, e cuja teo­
logia foi muitas vezes tateante. Nem sempre nos agrada a leitura dos 
Padres, sua linguagem, seu estilo, suas carências de precisão. Tiveram 
o senso da História, principalmente da História sagrada, mas não tan­
to o da ciência histórica, ou pelo menos não dispuseram dos recursos 
necessários para uma exegese mais perfeita da Escritura, no plano li­
teral. Em filosofia foram ecléticos, tendendo a um platonismo ou neo­
platonismo cristão, que — por causa das deficiências inerentes a esse 
instrumental — lhes impedia o acesso a uma especulação teológica 
mais ampla e coerente. As categorias helénicas utilizadas proporcio­
navam a possibilidade de um diálogo com a cultura do tempo, cons­
tituíam um recurso apologético da maior importância, porque en­
cerravam idéias que pareciam tomadas de empréstimo à Revelaçãon . 
De outro lado havia também ali sementes de heresias, a tentação 
do emanatismo, do dualismo, do maniqueísmo; e os Padres estiveram 
conscientes dos muitos limites que se lhes impunha a utilização, pela 
doutrina da fé, dessas filosofias. Eis por que deviam corrigi-las a 
todo momento e não podiam elaborar, com esse instrumental, uma 
visão sistemática homogênea capaz de comparar-se, sob este ponto de 
vista especulativo e global, às “Summae” medievais ,2.
10 Enc. Populorum Progressio, n? 23.
n Cf. S. J ustino , Apol., I , 44 (P.G. 6, 396 A ); Sto. Agostinho , De civ. Dei, 
V III, 11 (P.L, 41, 233); S. C irilo de A lexandria, Contra Julian., I I (P.G. 76, 
373 A ); etc. Ver R. A rnou , “Platonisme des Pères”, in Dict. Théol. Cathol., t. 
X II, 2294s.
12 Cf. C. V agaggini, art. “Teologia", in Nuovo Dizionario di Teologia (a cura 
di Q. Barbaglio e S. Dianich), Ed. Paoline, Roma, 1976, p. 1620.
1 2 INTRODUÇÃO
OS PADRES DA IGREJA 13
Assim, as páginas dos Santos Padres não sempre satisfarão hoje 
como orientações teológicas, apesar das muitas intuições geniais.
Mas num plano que não seja apenas o do estudo e sim o da orien­
tação de vida, importam como indicações do espírito cristão, pois
todas elas ensinam — dizia S. B ento13 — o reto caminho que
leva ao Criador.
Passemos agora a uma resenha de informações üteis para o 
estudo da Patrologia, e que se acham mais desenvolvidas nos Manuais 
especializados.
Costuma-se dividir a época patrística em três períodos princi­
pais:
1) o das origens até o concílio de Nicéia (325);
2 ) a chamada “idade áurea”, que vai desde então ao concílio 
de Calcedônía (451);
3) o declínio, daí aos séculos VII-VIIL
O período das origens interessa mais à crítica, por ser o dos 
primeiros testemunhes da fé tradicional na divindade de Cristo e na 
Trindade, e o das estruturas mais antigas da Igreja. Abrange os cha­
mados “Padres apostólicos” - - que tiveram relações mais ou menos 
diretas com os Apóstolos: Clemente Romano, Inácio, Policarpo, Pa- 
pias. . . sendo do mesmo tempo o escrito denominado Didaqué, Além 
disto pertencem a esse período os autores seguintes do século II, 
que redigiram escritos apologéticos e anti-heréticos: Justino, Atená- 
goras, Ireneu etc.; e os que fizeram, do fim do século II ao início 
dò século IV, os primeiros ensaios de sistematização doutrinária: 
Orígenes, Tertuliano, Hipólito, etc.
No segundo período inscrevem-se os principais autores, desde um 
sto. Atanásio a um sto. Agostinho. Tempo das obràs mais importan­
tes e das formulações doutrinárias basilares.
O título de “período de declínio” não se afigura bastante justo 
para designar a era pós-calcedonense, pois inclui diversos Padres 
de primeira grandeza, apenas menos numerosos do que os anteriores. 
Estabelecem um traço de união entre o mundo antigo, greco-romano, 
e a cristandade derivada dos povos bárbaros, os quais começam a 
ser educados por obra de grandes missionários e sob o impulso princi­
pal de s. Gregório Magno.
Quanto às línguas das obras patrísticas, há que assinalar o 
grego, o latim (desde o fim do século II e início do I I I ) , o siríaco, 
o armênio e o copta.
O estudo do que se chama “Patrologia” coriieçou com s. Jerô- 
nimo: na obra De viris illustribus, incluiu dados sobre 135 escritores 
antigos (embora não se atendo somente aos cristãos). Resenhas se­
13 Regra, c. 73.
melhantes vieram depois, de autoria de Genádio (séc. V ), Isidoro e 
Ildeíonso (séc. V I), Fócio (séc. IX ) e outros.
A partir do século XVI vêm a lume as grandes Coleções, de 
Roberto e Henrique Estêvão, dos irmãos Froben ( séc. X V I), dos bene­
ditinos da Congregação de s. Mauro (séc. XVII e X V III), etc. A 
maior foi a realizada no século passadopor J. P. Migne ( t 1857), 
sob o título Patrologiae Cursus Completus, editada em duas séries: 
a latina (221 volumes) e a grega (161 volumes). Apesar dos senões 
e incorreções, continua prestando enorme auxílio até hoje. É a ela 
que em geral iremos remeter o leitor, indicando os textos de nossas 
traduções, sob as siglas respectivamente P.L. e P.G., conquanto te­
nhamos consultado textos críticos mais recentes, como os da coleção 
“Sources Chrétiennes” (S.C.) e outros, ainda em curso de publicação.
A literatura siríaca, copta, etc. vem sendo publicada em dois 
conjuntos: o Corpus Scriptorum Cbristianorum Orientalium e a Patro- 
logia Orientalis.
Ê vastíssimo o número de obras e monografias que aparecem 
nos grandes centros culturais de nosso tempo e por isso começou a 
sair, desde 1956, uma Bibliographia Patrística, editada por W. 
Schneemelcher com a colaboração internacional de numerosos erudi­
tos.
1 4 INTRODUÇÃO
SUBSÍDIOS BIBLIOGRÁFICOS
I. COLEÇÕES
M ign e , Patrologiae Cursus Completus\ Série latina (P.L.); série grega (P.G.) 
Corpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum (CSEL): publicação da Academia de 
Ciências de Viena, 1866...
Die grieschischen christlichen Schriftsteller der ersten drei Jahrhunderte: publicação 
da Academia de Ciências de Berlim, 1897... (GCS)
Corpus Christianorum, edição da Abadia de St. Peter, em Steenbrugge, 1953...
(CCL: série latina; CCG: série grega)
Corpus Scriptorum Christianorum Orientalium, Louvain, 1903 ... (CSCO)
Bibliothek der Kirchenväter, Munique, 1931...
Sources Chrêtiennes, Paris, 1941 ... (S.C.): cerca de 200 volumes aparecidos, geral­
mente em edição bilíngue (original e trad. francesa)
Na “Biblioteca de Autores Cristianos” (BAC) têm sido editados muitos volumes 
com obras de Padres, com tradução espanhola 
Ancient Christian Writers, trad. ingl., ed. Quasten e Plumpe, Washington (A.CW .) 
Etc.
II. FLORILÉGIOS
Rouet de Tournel, Enchiridion Patristicum, 1965 (23* ed.)
R ouêt de Jou rn el e D u t il l e u l , Enchiridion Asceticum, 1958 (5* ed.)
C. K ir c h , Enchiridion Fontium Historiae Ecclesiasticae Antiquae, 1960 (8; ed.)
R. Sierra Bravo, Doctrina social y económica de los Padres de la Iglesia. Colección
general de documentos y textos, Madri, 1967 
A. H amman , Guia practica de los Padres de la Iglesia, tr., Buenos Aires, 1969 
Etc.
J. V ives, Los Padres de la Iglesia (seleção até Sto. Atanásio), Barcelona, 1971
D. Casagrande, Enchiridion Marianum Biblicum Patristicum,.- Roma, 1974
S. A lvarez Campos, Corpus Marianum Patristicum, Burgos, 1? vol., 1970
A. H e ilm a n n -H. K raft, La teologia dei Padri. Testi dei Padri latini, greci, orientali,
scelti e ordinati per temi, tr. ital., Roma, 1975, 5 vols.
III . PATROLQGIAS
F. Cayré, Patrologie et Histoire de la Théologie, Paris, 1947, 3 vols.
J. Q uasten, Patrologia, tr. ital,, Ed. Marietti, 3 vols. (o 3? saiu em 1978); em tr. 
esp., BAC, só saíram os 2 primeiros vols.
B. A ltaner e A. Stu iber , Patrologia, tr. bras., Edições Paulinas, S. Paulo, 1972.
IV. TRADUÇÕES EM PORTUGUÊS.
É muito pouco o que se tem em nossa língua. A revista A Ordem, do Rio, 
publicou uma série de traduções, entre os anos 1941 e 1949, algumas com boas intro­
duções; vários textos também saíram na Rev. Gregoriana (depois Liturgia e Vida), 
a partir de 1958.
* Ampla bibliografia pode ser vista em B. Altaner, Patrologia, tr,, Edições 
Paulinas, S. Paulo, 1972, pp. 26ss; ou no manual de Quasten, que porém não existe 
em português. O mais completo repertório é o que vem sendo editado periodica­
mente, desde 1956, por W. Schneemelcher, Bibliographia Patrística, Berlim,
Mais atualizada e sistemática foi a coleção “Fontes da Catequese” (Ed. Vozes), 
dirigida por Fr. A. Beckheuser ofm, que apresentou — de 1970 a 1978 — 14 
volumes: Diàaquê; Cartas de Sto. Inácio de Antioquia; Carta de São Clemente Ro­
mano aos coríntios; Peregrinação de Etéria; Os Sacramentos e os Mistérios (Sto. 
Ambrósio); A Instrução dos Catecúmenos (Sto. Agostinho); A unidade da Igreja 
Católica (S. Cipriano); Sermões sobre o Natal e a Epifania (S. Leão); Carta a 
Diogneto; Sermões sobre as coletas, a quaresma e o jejum de Pentecostes (S. Leão); 
Catequeses Mistagógicas (S. Grilo de Jerusalém); Sermões sobre os Santos, jejuns e 
ordenação episcopal (S. Leão); Catequeses pré-batismais (S. Cirilo de Jerusalém). 
Está apenas o texto em vernáculo, acompanhado de notas explicativas e de boas 
introduções.
Em Portugal foi iniciada a coleção “Origens do Cristianismo”, a partir de 1972, 
com traduções baseadas na coleção “Sources Chrétiennes”: um total também de 
14 obras até agora saídas ou anunciadas.
Afora isso, temos apenas publicações esparsas, sobretudo de Sto. Agostinho, S. 
João Crisóstomo, S. Leão, pequenos florilégios, etc.
1 6 SUBSÍDIOS BIBLIOGRÁFICOS
SÃO CLEMENTE DE ROMA
(t c. de 102)
S. Clemente foi o 3? sucessor de S. Pedro na Sé de Roma, em tempos de 
Domidano e Trajano (de 92 a 102). No depoimento de santo Irineu ( t 202), "ele 
viu os apóstolos e com eles conversou, tendo ouvido diretamente sua pregação e ensi­
namento”. Provavelmente foi ao mesmo que s. Paulo fez alusão em F1 4,3.
Cerca do ano de 96, s. Gemente escreveu uma Carta à comunidade cristã de Co­
rinto, agitada então por grave dissensão interna. Ê importante observar que, como 
Bispo de Roma, tenha dirigido uma exortação desse teor à distante igreja de Corinto: 
isso atesta a consciência de seu primado universal como sucessor de Pedro. A Carta, 
escrita em grego, e da qual apresentamos alguns trechos, foi altamente apreciada na 
antígüidade, quase como se fosse um texto bíblico. Encerra testemunhos notáveis de 
fé ha Sagrada Escritura, na Trindade, no Sacrifício eucarístico, na ressurreição dos 
mortos, na origem divina das principais funções eclesiásticas. Refere ainda a estada 
de s. Pedro em Roma. Termina por belíssima Oração, inspirada sem dúvida na liturgia 
da época.
Outros dados sobre s. Gemente, como os que se acham nas “Pseudodementinas” 
ou em documentos do século IV acerca do seu martírio, carecem de valor histórico.
Texto hilíngüe em S.C. 167 e BAC 65.
CARTA DE SÂO CLEMENTE AOS CORÍNTIOS 1
A Igreja de Deus que peregrina em Roma, à Igreja de Deus 1 
que peregrina em Corinto: aos eleitos e santificadas na vontade de 
Deus por nosso Senhor Jesus Cristo. Que a graça e a paz de Deus to- 
do-poderoso se multipliquem entre vós, em Jesus Cristo!
I — Por causa de súbitas e sucessivas calamidades que nos so­
brevieram1 2, é com certo atraso, irmãos, que se volta nossa atenção 
para os assuntos discutidos entre vós. Refiro-me a essa sedição es­
tranha, incompatível com eleitos de Deus, nefasta e ímpia, que pessoas 
presunçosas e arrogantes promoveram e levaram a tal ponto de in­
sensatez, que vosso nome venerável, glorioso e digno do amor de 
todos os homens, ficou seriamente denegrido.
1 O texto apresentado na coleção Migne (P.G., 1, 202ss>:*é incompleto, sendo ne­
cessário ir-se a uma edição crítica como a de F. X. Funk, Paires apostolici, Tíibingen, 
1901 (texto grego) ou D. Morin, S. Clementis Romani ad Cor. epistulae versio anti­
quíssima, Maredsous, 1894 (versio latina).
2 Alusão à perseguição de Domiciano (81-96): cf. Suetônio, Domit. 11: “inopina- 
ta saevitia”.
18 SÃO CLEM ENTE DE ROMA
Quem, na verdade, demorando-se entre vós, não tinha aprovado 
vossa fé virtuosa e firme? Quem não admirava vossa piedade em 
Cristo, sábia e discreta, ou deixava de proclamar vossa hospitalidade 
generosa? Quem não vos felicitava por vossa ciência perfeita e segura?
Tudo fazíeis sem considerar a pessoas, e caminháveis na lei de 
Deus, submissos aos dirigentes e prestando a devida honra aos an­
ciãos constituídos entre vós. Aos moços ensináveis a ter moderação no 
espírito. Às mulheres ordenáveis que cumprissem seus deveres em 
consciência santa, digna e pura, amando devidamente seus maridos, 
fiéis à regra da submissão e organizando a casa de modo digno e 
prudente.
2 I I — Éreis humildes, sem arrogância, preferindo obedecer a man­
dar, maisfelizes em dar que em receber. Contentes com o que Cristo 
vos dava para a viagem da vida e, atentos às suas palavras, vós as 
guardáveis cuidadosamente no coração, conservando presentes seus so­
frimentos. Assim, uma paz profunda e abençoada inundava a todos, 
com insaciável desejo de fazer o bem, e se derramava sobre todos uma 
plena efusão do Espírito Santo. Cheios de santas aspirações e de ale­
gria, estendíeis confiantemente as mãos a Deus todo-poderoso, implo­
rando sua misericórdia, se algum pecado involuntário houvésseis come­
tido. Lutáveis dia e noite pela comunidade dos irmãos, a fim de con­
servar íntegro, pela misericórdia e comum sentimento, o número dos 
eleitos de Deus. Éreis sinceros, simples e sem rancor uns com os ou­
tros, abominando toda sedição e cisma. Choráveis as quedas do próxi­
mo, julgáveis vossas as suas faltas. Jamais vos arrependíeis de fazer o 
bem, “prontos para toda boa obra” 3. Ornados por uma vida de virtude 
e honra, tudo fazíeis no temor de Deus. Os preceitos e mandamentos do 
Senhor estavam escritos no vosso coração.
3 I I I — Foi-vos dada toda glória e prosperidade, mas cumpriu-se a 
Escritura: “o bem-amado comeu e bebeu, cresceu, engordou e rebelou- 
-se ” 4. Brotaram ciúme e inveja, discórdia e sedição, perseguição e de­
sordem, guerra e cativeiro. Ergueram-se “os indignos contra os dig­
nos” 5, os obscuros contra os ilustres, os insensatos contra os prudentes, 
os jovens contra os anciãos. A justiça e a paz fugiram de vós, por 
haverdes abandonado o temor de Deus e deixado obscurecer-se a fé. 
Já então não andáveis conforme a lei dos seus mandamentos nem vivíeis 
de maneira digna de Cristo, mas, ao contrário, cada um se lançava 
para os caminhos desejados por seu perverso coração, acolhendo a 
inveja injusta e ímpia, aquela pela qual “a morte entrou ho mundo” 6.
3 T t 3,1.
4 Dt 32,15.
5 Is 3,5.
19
IV — Conforme o que está escrito: “Passado algum tempo, ofe- 4 
receu Caim frutos da terra em oblação ao Senhor; e também Abel, de 
seu lado, ofereceu primogênitos dos rebanhos cóm suas gorduras. Ora,
o Senhor olhou com agrado para Abel e sua oblação, mas não olhou 
para Caim e suas dádivas. Caim ficou extremamente irritado, seu sem­
blante se tornou abatido. O Senhor lhe disse: T o r que estás irado 
e tens abatido o semblante? Se fizeres o bem, porventura tua oblação 
não será agradável? Se fizeres o mal, o pecado estará à tua porta, es­
preitando-te, mas para que tu o domines’. Disse então Caim a seu ir­
mão Abel: ‘Saiamos ao campo’. E estando ambos no campo, Caim se 
lançou sobre seu irmão Abel e o matou”.
Vedes, irmãos, como o ciúme e a inveja produziram um fratricídio.
Igualmente por causa da inveja nosso pai Jacó precisou fugir da 
presença de seu irmão Esaú. A inveja fez que José fosse perseguido 
quase até a morte e chegasse à escravidão. Ela forçou Moisés a fugir 
do Faraó, rei do Egito, quando ouviu de um de sua tribo: “Quem te 
constituiu árbitro e juiz entre nós? acaso queres matar-me como ma­
taste o egípcio? ”
Por causa da inveja, Aarão e Maria precisaram ficar fora do 
acampamento; e Data e Abirão, rebelados contra Moisés, servo de 
Deus, deveram descer vivos ao Hadés. Por causa da inveja Davi sofreu 
por parte de estrangeiros e foi perseguido por Saul, rei de Israel.
V — Mas deixemos os exemplos antigos e venhamos aos mili- 5 
tantes que viveram mais perto de nós, sendo nobres exemplos de nos­
sa própria, geração.
Per ciúme e inveja foram perseguidos os que eram as supremas e 
digníssimas colunas da Igreja, devendo sustentar seu combate até a 
morte. Ponhamos ante os olhos os santos Apóstolos. Pedro, 'pfõt 
iníqua inveja, teve de suportar não um ou dois, mas numerosos ■ 
sofrimentos; e depois de assim dar seu testemunho, caminhou para o 
lugar da glória que merecera. Pela inveja e rivalidade, também Paulo 
mostrou o galardão da paciência, tendo sido posto em grilhões seis ve­
zes, desterrado, apedrejado; e tornando-se arauto de Cristo no Oriente 
e no Ocidente, alcançou a nobre fama de sua fé. Depois de ter ensi­
nado a todo o mundo a justiça, e depois de ter chegado ao limite do 
Ocidente, dando seu testemunho entre os príncipes, partiu deste mun­
do, caminhou para o lugar santo, deixando-nos o mais alto legado de 
sua paciência. VI
VI — A estes homens, de tal conduta e santidade, agregaram-se 6 
muitos outres eleitos, os quais, após sofrerem pela mesma razão da 
inveja inúmeros ultrages e tormentos, se converteram no mais belo 
exemplo que pudéssemos ter.
Por inveja foram perseguidas mulheres, novas Danaides e Dir- 
ces, que padeceram cruéis e sacrílegos suplícios, mas enfrentaram a
CARTA AOS 'CORINTIOS
2 0 SÃO CLEM ENTE DE ROMA
carreira da fé, para receberem, frágeis de corpo, generosa recompensa. 
A inveja separou as casadas de seus maridos, subvertendo-se o que fora 
dito pelo pai Adão: “eis o osso de meus ossos e a carne de minha 
carne ”. Inveja e contenda assolaram grandes cidades e destruiram 
grandes nações.
7 VII — Tudo isto vos escrevemos, caríssimos, não só para ad­
moestar-vos como também para o recordarmos nós mesmos, nós que 
estamos na mesma arena e vivemos o mesmo combate.
Renunciemos portanto a nossas vãs preocupações e voltemos à 
gloriosa e veneranda regra de nossa tradição. Vejamos o que é bom, 
agradável e aceito na presença de nosso Criador. Fixemos o olhar no 
sangue de Cristo e vejamos quão precioso é ante a face de Deus, seu 
Pai, o sangue vertido por nossa salvação, que alcançou graça de peni­
tência para todo o mundo. Percorramos as sucessivas gerações, vendo 
como através delas o Senhor ofereceu a penitência aos que desejavam 
converter-se a ela. Ncé pregou a penitência, e os que o escutaram se 
salvaram. Jonas anunciou aos ninivitas a destruição de sua cidade, 
e eis que se arrependeram de seus pecados, obtendo, por suas súpli­
cas, o perdão de Deus, e conseguindo a salvação, apesar de serem 
estrangeiros em relação a Deus.
8 X X X III — Que faremos, pcis, irmãos? Iremos cessar de fazer 
o bem, e deixar de lado a caridade? Não permita o Senhor que isso 
aconteça. Apliquemo-nos, pelo contrário, a realizar, com zelo e entu­
siasmo, “ toda espécie de boa obra ” 7. Pcis o próprio Criador e Domi­
nador do universo se regozija com as suas obras. Com seu império 
soberano firmou os céus e ornou-os ccm incompreensível sabedoria. 
Separou a terra das águas e assentou-a sobre o. inabalável fundamen­
to da sua vontade; por sua ordem chamou à existência os animais 
que andam na superfície da terra; por seu poder preparou o mar e 
os animais que nele vivem, e os encerrou ali. Além de tudo isso, for­
mou com suas mãos sagradas e puras o homem, a mais excelente de 
suas obras, que traz o sinal de sua imagem. Pois assim falou Deus: 
“Façamos o homem, à nossa imagem e semelhança; e Deus fez o ho­
mem; homem e mulher ele os fez” 8. Terminando, então, toda sua 
obra, ele os louvou e abençoou: “Crescei e multiplicai-vos” 9. Con­
sideremos que todos os justes se ornaram de boas obras e que o pró­
prio Senhor, ornando-se de boas obras, se regozijou com elas. Tendo, 
pois, tal exemplo, entreguemo-nos, sem tardar, à sua vontade, e prati­
quemos com todo empenho as obras da justiça.
7 Tt 3,1.
8 Gn 1,26s.
9 Gn 1,28.
CARTA AOS CORÍNTIOS 2 1
XXXVI — É este o caminho, meus amados, no qual encontra- 9 
mos a nossa salvação, Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote das nossas ofe­
rendas, o chefe e auxiliador da nossa fraqueza. Por ele fixamos o 
olhar nas alturas do céu, por ele contemplamos como em espelho a 
face imaculada e soberana de Deus. Por ele, abrem-se-nos os olhos 
do coração; por ele abre-se para a luz nossa curta e obscura inteli­
gência. Por ele, quis o Senhor que saboreássemos algo do conheci­
mento imortal, “ele, o esplendor da sua grandeza, e tanto maior que 
os anjos, quanto os supera o nome que herdou” 10.
Pois está escrito: “Deus faz os ventos serem seus anjos e as 
chamas do fogo seus servos” u . Mas do Filho diz o Senhor: “Tu és 
o meu Filho, eu hoje te gerei, pede-me, e dar-te-ei as nações emherança, os confins da terra em propriedade” 12. E diz-se outra vez: 
“Assenta-te à minha direita, até que faça de teus inimigos escabelo de 
teus pés” 13. Quais são esses inimigos? Os maus e os que resistem à 
sua vontade.
XXXVII — Militemos, pois, irmãos, com toda a aplicação, sob 10 
seus imaculados preceitos. Consideremos os soldados alistados sob os 
nossos chefes, como escutam com disciplina, com docilidade, com sub­
missão, as ordens! Nem todos são comandantes ou oficiais à testa de 
mil, de cem, de cinqüenta etc., mas cada qual em seu lugar executa
as ordens do superior ou dos chefes. Os grandes não podem existir 
sem os pequenos, nem os pequenos sem os grandes. Em tudo há certo 
tempero e disso deriva sua utilidade.
Tomemos o exemplo de nosso corpo: a cabeça sem pés nada é, 
nein os pés sem a cabeça. Os menores membros do corpo são necessá­
rios e úteis ao conjunto e todos se ordenam para a conservação do 
corpo inteiro.
XLII — Os apóstolos foram mandados a evangelizar pelo Se- 11 
nhor Jesus Cristo. Jesus Cristo foi enviado por Deus. Assim, Cristo 
vem de Deus e os apóstolos de Cristo. Esta dupla missão se sucede 
em boa ordem, por vontade de Deus. Assim, tendo recebido ins­
truções, e estando plenamente convencidos pela ressurreição de nosso 
Senhor Jesus Cristo, e confirmados na fé pela palavra de Deus, saíram 
os apóstolos a anunciar, na plenitude do Espírito Santo, a boa nova da 
aproximação do reino de Deus. Iam pregando por campos e cidades, 
batizavam os que obedeciam ao desígnio de Deus, e iam estabelecen­
do aos que eram as primícias dentre eles como bispos e diáconos dos 
futuros fiéis, depois de prová-los no Espírito Santo. E isto não era 
novidade, pois desde muito tempo estava escrito de: tais bispos e diá-
w Hb l,3s.
n SI 103.4.
12 SI 2,7s.
13 SI 109.1.
2 2 SÃO CLEM ENTE DE ROMA
conos. Diz, com efeito, a Escritura em certo lugar: “estabelecerei os 
seus bispos na justiça e seus diáconos na fé” 14.
12 X LIII — Que há de estranho que os apóstolos, a quem Deus 
confiou o encargo dessa obra, tenham estabelecido os supra-ditos, 
quando Moisés, o bem-aventurado “servo fiel em toda a sua casa” 15, 
consignava nos livros sagrados os mandamentos que recebia? A Moisés 
seguiram-se os outros profetas, acrescentando seu testemunho ao que 
fora instituído por lei. E foi assim que, quando irrompeu a rivali­
dade em torno do sacerdócio e as tribos contendiam sobre a que 
seria ornada com esse título glorioso, Moisés mandou aos doze chefes 
de tribo que lhe trouxessem varas escritas com o nome de cada tribo. 
Recebendo-as, amarrou-as e marccu-as com os selos dos chefes, de­
positando-as no tabernáculo do testemunho sobre a mesa de Deus. 
Fechou depois a tenda e selou o fecho, como fizera com as varas, 
dizendo: “Irmãos, a tribo cuja vara germinar é a que Deus para si 
escolheu, a fim de exercer o sacerdócio e o culto”. Na manha seguinte, 
convocou todo Israel, os seiscentos mil homens, mostrou os selos aos 
chefes, abriu o tabernáculo e tirou de dentro as varas. Achou-se, 
então, que a vara de Aarão não só brotara, mas até frutificara16.
Que pensais, meus amados? Não previa Moisés que isso ia acon­
tecer? É certíssimo que previa, mas agiu assim para que não se pro­
duzisse desordem em Israel, visando a glorificar o nome do verdadei­
ro e único Deus, ao qual pertence a glória pelos séculos dos séculos. 
Amém.
13 XLIV — Também os apóstolos souberam, por nosso Senhor Jesus 
Cristo, que haveria discórdia por causa do título episcopal. Por esta 
causa e em perfeita previsão do futuro, instituíram os acima mencio­
nados e em seguida determinaram que, depois de sua morte, outros 
homens provados recebessem em sucessão o seu ministério. A esses, 
pois, que foram colocados pelos apóstolos, ou por outros homens 
eminentes com o consentimento de toda a Igreja, e serviram irrepreen­
sivelmente ao rebanho de Cristo, de modo humilde, pacífico e digno, 
recebendo por longo tempo e da parte de todos, testemunho favorá­
vel, a tais homens não achamos justo depor de seu ministério. Não 
será, na verdade, pequena a nossa falta, se depusermos do episcopa­
do homens que, de modo santo e irrepreensível, ofereceram os 
dons. Felizes os presbíteros que nos precederam na viagem para a 
eternidade, os quais tiveram um fim perfeito e cheio de fruto: não 
precisam temer que alguém venha removê-los de seu lugar. Dizemos 
isto porque vemos que destituístes alguns do ministério, que o exer­
ciam de modo muito honroso.
m Is 60,17.
15 Nm 12,7.
16 Nm 17,16-26. Cf. ainda Fílon, Vita Moysis, I I ( I I I ) 21,175-180; Flávio Josefo, 
Antiguidades judaicas, IV, 4,2.
XLV — Sede, irmãos, cheios de emulação e zelo pelo que se 14 
refere à salvação. Vós vos aprofundastes nas Sagradas Escrituras, 
que são verdadeiras, que provêm do Espírito Santo. Bem sabeis que 
elas estão isentas de injustiças e falsidades. Ora, ali não encon­
trareis justos sendo rechaçados por homens santos. Os justos foram 
perseguidos, mas pelos ímpios; apedrejados, mas pelos criminosos; 
mortos, mas pelos que abominavelmente os invejaram. E tais sofri­
mentos suportaram com glória. Que diríamos, irmãos? Acaso foi 
Daniel lançado à cova dos leões por homens tementes a Deus? ou 
Ananias, Azarias e Misael encerrados na fornalha ardente por gente 
que cultua o Altíssimo? De maneira alguma. Quem eram os que faziam 
isso? Indivíduos cheios de ódio e maldade, que enfurecidos maltra­
taram os servos de Deus, servos santos e imaculados. Ignoraram que 
o Altíssimo combate pelos seus e cobre com escudo os que em cons­
ciência pura adoram seu santo nome. A ele a glória pelos séculos dos 
séculos, amém. Mas os que perseveraram na paciência tiveram por 
herança glória e honra, foram exaltados e inscritos por Deus no 
livro de sua memória pelos séculos dos séculos. Amém.
CARTA AOS 'CORÍNTIOS 2 3
XLVII — Tomai em mães a Epístola do bem-aventurado Paulo 15 
apóstolo. Que vos escreveu, logo nos inícios do Evangelho? Na ver­
dade, divinamente inspirado, ele vos escreveu acerca de si mesmo, de 
Cefas e de Apoio, porque já então formáveis partidos. Mas o partida­
rismo daquela época era um pecado menor, pois vos alistáveis no par­
tido de apóstolos autorizados e de um homem aprovado por eles. 
Agora, porém, considerai os que vos perverteram e fizeram diminuir o 
brilho de vossa afamada caridade. E vergonhoso, meus amados, ver­
gonhoso e indigno da vida em Cristo, ouvir dizer que a antiga e fir- 
míssima Igreja dos coríntios se leyanta contra seus presbíteros por 
causa de uma cu duas pessoas! E este rumor chegou., não só a nós, 
mas ainda àqueles que pensam de modo diferente de nós, de modo 
que por vossa insensatez fazeis blasfemar contra o nome do Senhor 
e acarretais para vós mesmos grave perigo.
XLVIII — Apressemo-nos, pois, em afastar tudo isso, e caiamos 16 
aos pés do Senhor para suplicar-lhe, com lágrimas, que de nós se com­
padeça, nos reconcilie consigo, nos restabeleça na religiosa e santa 
prática da caridade fraterna. Pois esta é a porta da justiça, que se 
abre para a vida, conforme a Escritura: a Abri-me as portas da justiça; 
entrando nelas confessarei ao Senhor, os justos entrarão por ela” 11. 
Das numerosas portas abertas, esta é a da justiça, a saber, a que se 
abre em Cristo. Bem-aventurados os que por ela entrarem e dirigirem 
seus passos em santidade e justiça, cumprindo todas as coisas sem 
perturbação. Alguém é capaz de explicar uma doutrina, alguém é sábio 17
17 SI 117,19s.
2 4
no discernimento das palavras, ou santo em obras? Tanto mais deve 
humilhar-se quanto parece ser maior, tanto mais deve procurar o que 
é de utilidade para todos e não só para si.
XLIX — Quem possui a caridade em Cristo cumpra o manda­
mento do Cristo. O vínculo da caridade de Deus, quem haveria de 
descrevê-lo? Quem é capaz de exprimir sua beleza? A altura a que 
conduz a caridade é inefável.. . A caridade nos une estreitamente a 
Deus, a caridade cobre a multidão de pecados, a caridade tudo suporta, 
é paciente. Na caridade não há baixezanem soberba; ela não fomenta 
divisões, não é sediciosa, a caridade faz tudo na concórdia. Na carida­
de foram aperfeiçoados os eleitos de Deus. Sem a caridade nada é 
agradável a Deus. Na caridade nos acolheu o Senhor. Foi por cari­
dade para conosco que Jesus Cristo, Senhor nosso, dócil à vontade 
de Deus, entregou por nós seu sangue, sua carne por nossa carne, sua 
vida por nossas vidas.
SÃO CLEM ENTE DE ROMA
18 LIV — Quem dentre vós fcr generoso, compassivo, cheio de 
caridade, diga: — “Se sou causa da rebeldia, discórdia, divisão, re­
tiro-me e vou para onde quiserdes, estando pronto para cumprir as 
decisões da comunidade; somente desejo que o rebanho de Cristo viva 
em paz com seus presbíteros estabelecidos”. Quem proceder assim 
conseguirá uma grande glória em Cristo, e em todos os lugares se 
lhe fará boa acolhida: “porque do Senhor é a terra e tudo que ela 
contém” 1S. Isto fizeram e hão de fazer os que vivem segundo Deus, 
do que não cabe jamais arrepender-se.
19 LVII — Portanto, vós que causastes o início da rebeldia, subor­
dinai-vos aos presbíteros e deixai-vos corrigir para a paciência, do­
brando os joelhos em vossos corações. Aprendei a submeter-vos, de­
pondo a soberba e a orgulhosa arrogância da língua. Mais nos vale ser 
pequenos e pertencentes aos rebanhos de Cristo, do que ser excluídos 
da sua esperança apesar de prestigiados.
20 LV III — Obedeçamos, pois, a seu nome santíssimo e glorioso, 
fugindo às ameaças proferidas pela Sabedoria contra os desobedientes, 
a fim de repousarmos confiantes no santíssimo nome de sua majestade. 
Aceitando nosso conselho, nada tereis de que vos arrepender. Porque, 
vive Deus! vive o Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo, e também 
a fé e a esperança dos eleitos! só aquele que praticar a humildade 
com moderação contínua e sem queixas, os preceitos e mandamentos
ia SI 33,1.
CARTA AOS CORÍNTIOS 2 5
de Deus, será incluído e contado no número dos salvos por Jesus 
Cristo, pelo qual llhe seja dada a glória pelos séculos dos séculos. 21 
Amém.
LIX — Se, porém, alguns desobedecerem às admoestações que 
por nosso intermédio ele mesmo vos dirigiu, saibam que se envolve­
rão em pecado e perigo não pequenos. Mas nós seremos inocentes 
desse pecado, e pediremos com fervorosa prece e súplica 19, ao Cria­
dor do universo, que conserve intacto em todo o mundo o número 
dos eleitos, por seu Filho bem-amado Jesus Cristo, por ele que nos 
chamou das trevas à luz, da ignorância ao conhecimento do seu no­
me glorioso.
Fizeste-nos esperar em teu nome,
princípio da vida de toda criatura,
abriste os olhos de nosso coração para te conhecermos,
único nas alturas,
Santo que repousas no meio dos santos!
Tu que abates a insolência dos orgulhosos, 
desfazes os pensamentos das nações, 
levantas os humildes 
e rebaixas os que se exaltam, 
tu que enriqueces e empobreces, 
fazes morrer e vivificas, 
só tu és benfeitor dos espíritos 
e Deus de toda a carne.
Tu mergulhas o olhar nos abismos, 
e perscrutas as obras dos homens,
Tu, socorro dos que estão em perigo,
salvador e guardião de todós os espíritos! \
Tu multiplicas os povos sobre a terra
e escolhes dentre eles ós qué te amam,
por Jesus Cristo, teu Filho bem-amado,
por quem nos instruíste, santificaste, honraste.
Nós te rogamos, Senhor soberano, 
sê nosso socorro e defensor,
Salva entre nós os oprimidos,
tem piedade dos humildes,
levanta os que caíram,
mostra-te aos que estão em necessidade,
cura os doentes,
reconduze os famintos de teu povo,
19 A grande Oração que se segue é considerada uma das mais antigas e belas da 
literatura cristã. Oferece-nos um exemplo de como eram as Orações, muitas vezes 
improvisadas pelo presidente da assembléia, no culto eucarístico (cf. s. Tustino,
V Apol. 67,5).
SÃO CLEM ENTE DE ROMA
sacia os famintos, 
liberta os prisioneiros, 
reergue os débeis 
encoraja os pusilânimes!
Que todos os povos te reconheçam
como único Deus,
a Jesus Cristo como teu Filho,
a nós como teu povo e as ovelhas de teu rebanho.
LX — És tu que fazes aparecer 
a constante ordem do mundo 
por meio das forças que operam nele.
Tu, Senhor, fundaste a terra.
Tu te conservas fiel em todas as gerações,
justo nos julgamentos,
admirável na força e magnificência,
sábio na conservação das coisas, criadas,
bom nas coisas visíveis,
fiel para os que têm confiança em ti.
Misericordioso e compassivo, 
perdca-nos as faltas e injustiças* 
nossas quedas e defeitos,
não consideres os pecados de teus servos e servas, 
mas purifica-nos por tua verdade 
e dirige nossos passos
a fim de caminharmos na santidade do coração 
e fazermos o que é bom e agradável em tua presença 
e na dos nossos chefes!
Sim, Senhor absoluto, faze brilhar sobre nós tua face
para que gozemos dos bens em paz,
para sermos protegidos por tua mão possante,
e nos livrarmos de todo pecado, pelo teu braço erguido,
para sermos salvos dos que nos odeiam injustamente!
Dá-nos a concórdia e a paz,
a nós e a todos os habitantes da terra,
como fizeste com nossos pais
quando te invocaram santamente na fé e na verdade.
Dá-nos sermos submissos
a teu nome poderoso e santo,
e a nossos chefes e governantes sobre a terra.
LXI — Tu, Senhor absoluto, lhes deste o poder de governar,
por tua força magnífica e inefável,
a fim de que nós, reconhecendo a glória e honra
que lhes concedeste,
nos submetêssemos a eles
2 7
é não nos opuséssemos à tua vontade.
Concede-lhes, Senhor, saúde, paz, concórdia, constância, 
para que exerçam sem tropeço a soberania que lhes confiaste. 
Porque es, Senhor dos céus, rei dos séculos, 
e concedes aos filhos dos homens 
a glória, a honra, o poder sobre as coisas da terra.
Dirige, Senhor, seus conselhos
de acordo com o bem, segundo o que te é agradável 
a fim de que exercendo com piedade, 
ng paz e mansidão, 
o poder que lhes deste, 
te encontrem propício!
Só tu tens o poder de fazer isso 
e de nos dar maiores bens ainda!
Nós te rendemos homenagem pelo grande sacerdote 
' ; e protetor de nossas almas, Jesus Cristo, 
por quem te sèja dada glória e grandeza, 
agora e de geração em geração, 
pelos séculos dos séculos. Amém.
LXII — Já escrevemos o bastante, irmãos, sobre o que convém 24 
à nossa religião e é mais útil aos que desejam conduzir-se de modo 
justo e piedoso, no caminho da virtude. Nada deixamos de tocar acer­
ca da fé, da penitência, da verdadeira caridade, da temperança, da 
castidade e da paciência; lembramos nosso dever de agradar santa­
mente ao Deus poderoso em justiça, verdade e longanimidade.
Concordes e sem ressentimento, em paz e caridade, em constante 
moderação, segui o exemplo dos patriarcas que vos temos recordado 
e que agradaram pela sua humildade para com o Pai, Deus e Criador, 
e para com cs homens. Tudo isso vos recordamos de boa vontade, 
sabendo estar escrevendo a homens fiéis e distintos, atentos aos orá­
culos do ensinamento de Deus,
LX III — É justo, portanto, que os que se acercaram de tão 25 
grandes exemplos, se submetam e, ocupando c lugar da obediência, 
aceitem os que são guias de nossas almas a fim de acalmarmos uma 
discórdia vã e chegarmos sem mancha ao fim que nos é pro­
posto na verdade. Grande alegria nos proporcionareis se, obedecendo 
ao que vos escrevemos pelo Espírito Santo, cortardes pela raiz a ímpia 
cólera da inveja, consoante a súplica que nesta carta fizemos pela paz 
e concórdia.
Nós vos enviamos homens fiéis e sábios, que desde sua juventude 
até a velhice vivem conosco, de maneira irrepreensível, os quais serão 
testemunhas entre vós e nós. Isto fizemos para que vísseis que nossa 
preocupação consistiu e consiste em pacificar-vos prontamente.
CARTA AOS CORÍNTIQS
2 8
26 LXIV — Quanto ao mais, o Deus que tudo vê, o Soberano 
“dos espíritos e Senhor de toda carne* 20, que escolheu o Senhor 
Jesus Cristo e por meio dele também a nós, para sermos seu povo 
particular, dê a toda alma, que invocar o seu santo e glorioso nome, 
fé, temor, paz, paciência, longanimidade, temperança, pureza e casti­
dade, para que todos agradem a seu nome, pelo nosso sumo sacer­
dote e chefeJèsus Cristo, pelo qual seja dada a Deus glória e majesta­
de, honra e poder, agora e pelos séculos dos séculos. Amém.
27 LXV — Devolvei-nos prontamente, em paz e alegria, nossos en­
viados Cláudio Efebo, Valério Bito e Fortunato, para que quanto 
antes nos tragam notícias sobre a harmonia e a paz, pelas quais tanto 
pedimos, e assim mais depressa eu me alegre com a vossa firmeza. A 
graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco e com todos que 
em qualquer lugar Deus chamou por Jesus Cristo. Por ele seja dada 
glória a Deus, honra, poder e majestade, reino eterno desde todos 
os séculos e para todos os séculos dos séculos. Amém.
SÃO CLEM ENTE DE ROMA
Nm 16,22.
DIDAQUÉ (OU DOUTRINA) DOS DOZE APÓSTOLOS
A Didaquê é como um antiquíssimo manual de religião. Julga-se ter sido redi­
gida entre os anos 90 e 100, na Síria, na Palestina ou em Antioquia. Traz no título 
o nome dos apóstolos, mas não pretende ser de autoria de algum deles.
Divide-se em 3 partes: a 1* (cap. 1-6) é um tratado de moral (os “dois cami­
nhos”, o da vida e o da morte, doutrina da Epístola do pseudo-Bamabé); a 2? (cap. 
7-10) é um antigo ritual litúrgico e a 3? (cap. 10-15) contém instruções sobre a vida 
comunitária.
Os antigos Padres mencionaram muitas vezes a Didaqué. Seu texto, porém, 
parecia perdido até que em 1883 foi descoberto um manuscrito grego, e logo após 
foram descobertos ainda outros fragmentos (em copta, grego e latim).
I
Há dois caminhos, o da vida e o da morte. Grande, porém, a 28 
diferença entre ambos.
O caminho da vida é o seguinte: primeiro amarás a Deus, teu 
criador, e depois a teu próximo, como a ti mesmo; e tudo que não 
queres seja feito a ti, não o faças a outrem.
O ensinamento contido nestas palavras é o seguinte: bendizei 
aos que vos amaldiçoam e orai por vossos inimigos; jejuai pelos que 
vos perseguem. Com efeito, qual a vossa recompensa se amais os que 
vos amam? Não é isso que os pagãos fazem? Quanto a vós, amai os 
que vos odeiam e não tereis inimigos.
Afasta-te das paixões da carne e do corpo; se alguém te esbofe­
teia na face direita, volta-lhe também a outra e serás perfeito; se 
alguém te pede para andar u’a milha, caminha duas com ele; se al­
guém toma o teu manto, dá-lhe também a túnica; se alguém tomou 
o que é teu, não lho exijas de volta, pois não o podes. Dá a todos que 
te pedem e não reclames (o que deste). Pois o Pai quer se dê parte 
a todos nos dons que se recebem. Feliz o que dá, conforme o 
mandamento, pois não será punido. Ai de quem recebe! Se alguém 
recebe por ter necessidade, será absolvido; aquele que não tem ne­
cessidade, porém, dará contas do motivo e do fim para o qual rece­
beu. Posto na prisão, será examinado sobre sua conduta e não sairá 
enquanto não devolver o último quadrante. 1
1 O texto grego acha-se editado, por exemplo, por J. P. Audet, La Didachè. Ins- 
tructions des Apôtres, Paris, 1958.
3 0
Mas também foi dito, sobre este ponto: molhe-se de suor a es­
mola nas tuas mãos, até que saibas a quem a dás.
DIDAQUÉ OU DOUTRINA DOS DOZE APÓSTOLOS
V
29 Eis agora No caminho da morte. Ê, antes de tudo, mau e cheio 
de maldição: assassinatos, adultérios, maus desejos, fornicações, furtos, 
idolatria, práticas de magia, bruxaria, roubos, falsos testemunhos, hipo­
crisia, duplicidade, fraude, orgulho, malícia, arrogância, avareza, deso­
nestidade no falar, inveja, insolência, presunção, ausência de te­
mor de Deus. Caminho dos perseguidores dos homens de bem, dos 
inimigos da verdade, amantes da mentira, ignorantes da recompensa da 
justiça, dos que não aderem ao bem nem ao julgamento justo; dos que 
estão despertos, não para o bem, mas para o mal; que estão longe 
da doçura e da paciência, amam a vaidade, são gananciosos, não têm 
piedade do pobre e não se preocupam com os aflitos, desconhecem o 
seu próprio Criador, assassinos de crianças e corruptores da imagem de 
Deus; afastam o indigente e oneram os oprimidos; advogados dos ricos 
e juízes iníquos dos pobres, pecadores em tudo. Livrai-vos, filhos, de 
toda essa gente!
VII
Quanto ao batismo, batizai assim: depois de terdes ensinado o 
que precede, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 
em água corrente. Se não existe água corrente, batize-se em outra 
água. Se não puder ser em água fria, faze em água quente. Se não 
tens bastante, de uma ou de outra, derrama água três vezes 
sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. An­
tes do batismo, jejuem: o que batiza, o que é batizado e outras pes­
soas que puderem. Ordena ao batizado que jejue um ou dois dias 
antes.
IX
Quanto à Eucaristia, celebrai-a assim:
Primeiro, sobre o cálice:
Damos-te graças, Pai nosso,
pela santa videira de Davi, teu servo,
que nos deste a conhecer por Jesus, teu Servo.
Glória a ti nos séculos!
Depois, sobre o pão partido:
Damos-te graças, Pai nosso,
31
peía vida e pela sabedoria 
que nos deste a conhecer por Jesus, teu Servo.
Glória a ti ncs séculos!
Assim como este pão, outrora disseminado sobre as montanhas, 
uma vez ajuntado, se tornou uma só massa, 
seja também reunida tua Igreja 
desde as extremidades da terra, em teu reino, 
pois a ti pertence a glória e o poder, 
por Jesus Cristo, para sempre.
Que ninguém coma ou beba da vossa eucaristia se 
não for batizado em nome do Senhor, pois a este respeito disse 
de “Não deis aos cães o que é santo” 2.
DIDAQUÉ OU DOUTRINA DOS DOZE APÓSTOLOS
X
Depois de vos terdes saciado, dai graças assim: 32
Nós te damos graças, Pai Santo, 
pelo teu santo nome 
que puseste em nossos corações, 
e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade 
que-nos deste a conhecer por meio de Jesus, teu Servo.
Glória a ti nos séculos!
Tu, Senhor onipotente, 
tudo criaste para honra de teu nome; 
e deste alimento e bebida aos homens, 
para seu desfrute;
a nós porém, deste um alimento e uma bebida espirituais 
e a vida eterna, por meio de teu Servo.
Antes de tudo, damos-te graças porque és poderoso.
Glória a ti nos séculos!
Lembra-te Senhor, de livrar do mal a tua Igreja, 
e de torná-la perfeita em teu amor.
Congrega-a dos quatro ventos, santificada,
no reino que lhe preparaste,
pois a ti pertence o poder e a glória, para sempre!
Venha a graça e passe este mundo!
Hosana ao Deus de Davi!
Se alguém é santo, aproxime-se; 
se alguém não é, converta-se!
M aranathá3. Amém.
Quanto aos profetas, deixai-os render graças p quanto quiserem.
2 Mt 7,6.
3 Maranathá: invocação, em aramaico, significando “Senhor, vem!” (cf. ICor 
16,22).
3 2
X IV
Reunidos no dia do Senhor, parti o pão e dai graças, depois 
de confessardes vossos pecados, a fim de que vosso sacrifício seja 
puro. Quem tiver divergência com seu companheiro não deve 
juntar-se a vós antes de se reconciliar, para que não seja pro­
fanado vosso Sacrifício, conforme disse o Senhor: “Que em todo 
lugar e tempo me seja oferecido um sacrifício puro, pois sou um 
rei poderoso, diz o Senhor, e meu nome é admirável entre as 
nações” 4.
DIDAQUÉ OU DOUTRINA DOS DOZE APÓSTOLOS
XV
33 Assim, portanto, ordenais para vós hispos e diáconos dignos do 
Senhor, homens dóceis, desinteressados, verazes e experimentados, 
pois também exercem junto a vós o ministério dos profetas e dos 
doutores. Não os desprezeis, porque eles são honrados, entre vós, 
junto com os profetas e doutores.
Repreendei-vos uns aos outros, não na ira, mas na paz, como 
tendes no Evangelho. E se alguém ofender a seu próximo, ninguém 
lhe fale nem lhe dê ouvidos, até converter-se. Quanto às vossas 
orações, esmolas e demais ações, procedei conforme está no Evangelho 
de nosso Senhor.
4 Cf. Ml 1,11,
SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA
( t c. de 110).
Inácio foi em Antioquia o 3? Bispo. Seus escritos indicam ter conhecido pes­
soalmente os apóstolos s. Paulo e s. João. Cerca do ano 110, sob o imperador Trajano, 
foi preso como cristão e conduzido a Roma para ser julgado. De caminho, ao aportar 
em Esmirna e Trôade, dirigiu cartas às comunidades cristãs de Roma, £feso, Magnésia, 
Trales, Filadélfia e Esmirna, bem como ao bispo são Policarpo. Em Romaconsta ter 
sido martirizado no Coliseu, conforme era seu vivo desejo.
Suas Cartas são consideradas jóias da literatura cristã mais antiga. Caracteriza-as 
uma ardente piedade para com a pessoa de Jesus Cristo, Deus e homem, cuja carne e 
sangue são, na eucaristia, remédio de imortalidade. Na Carta aos esmirnenses aparece, 
pela primeira vez, a expressão “Igreja católica". Para santo Inácio, o bispo é, na igre­
ja local, o centro da ortodoxia e o ministro dos sacramentos. A Igreja de Roma é a 
que tem no mundo “a presidência da caridade".
Texto bilíngüe em BAC 65, S.C. 10.
CARTA AOS EFÉSIOS
(P.G. 5, 644ss)
Inácio, também chamado Teóforo, a aquela que é abençoada, 
grande pela plenitude de Deus Pai, predestinada antes dos séculos'* 
a uma glória eterna e a uma inabalável unidade; . eleita, na paixão 
verdadeira, pela vontade do Pai e de Jesus Cristo; à igreja digna 
de louvor, que está em Éfeso, na Ásia, saudações efusivas e votos 
de santa alegria em Jesus Cristo.
Tomei conhecimento, em Deus, do apreciado nome que gran­
jeastes em virtude de vossa apresentação correta, baseada na fé 
e caridade em Cristo Jesus, nosso Salvador. Imitadores que sois de 
Deus, vivificados no sangue de Deus, realizastes plénamente uma obra 
conforme a vossa natureza l . Pois assim que soubestes que chegara da 
Síria, algemado por causa do nome e esperança que nos são comuns, 
vos apresentastes para me ver, a mim que espero, por vossa oração, 
enfrentar em Roma as feras — e conseguir ser discípulo. Foi 
assim, pois, que a toda vossa grande comunidade ^recebi em nome de
l Isto é, conforme à nova natureza. A expressão grega (suggenilción) sugere 
o que procede não apenas da geração natural, mas da nova geração, sobrenatural, re­
cebida do batismo. 2
2 - Antologia doa santos padres
3 4
Deus, na pessoa de Onésimo, homem de indizível caridade, vosso 
bispo segundo a carne. Rogo-vos que o ameis segundo Jesus Cristo, 
e a ele vos assemelheis. Bendito seja quem vos concedeu a graça de 
possuir tal bispo, do qual sois dignos.
Quanto a meu companheiro de trabalho, Burrus, vosso diácono 
segundo Deus, em tudo abençoado, gostaria que permanecesse a meu 
lado, para honra vossa e de vosso bispo. Também Crocos, homem 
digno de Deus e de vós, que recebi como a imagem de vossa cari­
dade, muito me conforta. Conforte-o igualmente o Pai de Jesus 
Cristo, e também a Onésimo, Burrus, Euplos e Frontão, pois neles 
pude ver a todos vós segundo a caridade. Oxalá possa eu alegrar-me 
convosco para sempre — se disso sou digno. Convém, portanto, glo­
rificardes de todos os modos a Jesus Cristo, que vos glorificou a vós, 
a fim de que, totalmente unidos na mesma obediência, submissos ao 
bispo e ao presbítero, sejais em tudo santificados.
35 Não vos dou ordens como se fora alguém. Se estou acorren­
tado por causa do Nome, não atingi ainda a perfeição em Jesus 
Cristo. Agora apenas começo a me tornar discípulo, e vos falò como 
a condiscípulos. Na verdade, eu é que precisaria ser ungido 
(para a luta) 2 por vós, com fé, exortações, paciência, longanimidade. 
Todavia, como a caridade não me permite silenciar acerca de vós, to­
mei a dianteira de exortar-vos a andar de acordo com o pensamento 
de Deus, pois Jesus Cristo, nossa inseparável vida, é o pensamento 
do Pai, assim como os bispos, estabelecidos até os confins do mundo, 
se unificam no pensamento de Jesus Cristo.
3S Não deveis, portanto, ter com vosso bispo senão um só e mes ̂
mo pensamento — como aliás o fazeis. Vosso venerável presbitério, 
digno de Deus, está unido ao vosso bispo, como as cordas à cítara. 
Mas também vós outros haveis de formar um coro em con­
córdia, em harmoniosa carjdade, para que, recebendo na unidade 
o tom de Deus, canteis com uma só voz por Jesus Cristo ao Pai 
e assim ele vos ouça e vos reconheça, por vossas boas ações, 
como membros de seu Filho. Vosso interesse está em vos con- 
servades em unidade irrepreensível, para assim participardes sempre 
de Deus.
37 Se, com efeito, em pouco tempo contraí laços tão íntimos 
com vosso bispo — laços que não são humanos, mas espirituais — 
quão mais felizes vos não considero, a vós que lhe estais tão intima­
mente unidos, , como a Igreja a Jesus Cristo, e Jesus Cristo ao Pai, 
a fim de que tudo encontre sua harmonia na unidade. 2
2 Hupaktphein é termo técnico para indicar a unção que se fazia no atleta antes 
dele ingressar na arena para o combate. Ê o caso de santo Inácio, a caminho do 
anfiteatro Flávio: ele é atleta de Cristo.
SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA
CARTA AQS EFÉSIOS 3 5
Ninguém se engane: afastar-se do altar é privar-se do pão de 
Deus. Se a oração de um cu dois possui tanta força, quanto mais 
a do bispo unido à Igreja! Quem, por conseguinte, não vem à as­
sembléia, é já um soberbo e se condenoú a si mesmo — como está 
escrito: “Deus resiste aos soberbos” 3. Esforcemo-nos por não resistir 
ao bispo, se queremos estar submissos a Deus.
Quanto mais se vê o bispo guardar silêncio, tanto mais reve- 38 
rência se deve ter para com ele; pois aquele que o pai de família 
envia para administrar sua propriedade deve ser recebido por nós 
como o que o envia. Assim, o bispo deve ser considerado como se 
fosse o próprio Senhor.
Aliás, o mesmo Onésimo não se cansa de louvar a vossa discipli­
na em Deus, dizendo que todos viveis segundo a verdade e nenhuma 
heresia encontrou guarida entre vós. Pelo contrário, só dais ouvidos 
a quem vos fala na verdade de Jesus Cristo.
Há homens que dissimuladamente se habituaram a andar por 39 
toda parte fazendo alarde do Nome de Deus, mas o desonram por 
suas obras. Evitai-os como a feras: são cães raivosos, mordem insi­
diosamente. Precavei-vos quanto a eles, são difíceis de curar. Há so­
mente um o Médico, ao mesmo tempo corporal e espiritual, gerado 
e ingênito, Deus na carne, verdadeira vida na morte, filho de Maria 
e de Deus, primeiro passível e depois impassível: Jesus Cristo nosso 
Senhor.
Ninguém vos seduza, não vos deixeis enganar, sêde totalmente 40 
de Deus. Se nenhuma discórdia, capaz de atormentar, lança raízes en­
tre vós, é que viveis segundo Deus. Sou vossa vítima, e ofereço-me 
em sacrifício por vós, efésics, por vossa Igreja sempre celebrada. Os . 
homens carnais não são capazes de realizar as i obras do espírito, nem 
çs espirituais as da carne; do mesmo modo a fé não" pratica as obras 
da infidelidade, nem a infidelidade as da carne. Porém, mesmo o que 
fazeis segundo a carne é espiritual — pois tudo fazeis em Jesus Cristo.
Soube que alguns homens, portadores de má doutrina, vin- 41 
dos de fora4, estavam de passagem (por aí). Não lhes permitistes, po­
rém, disseminá-la entre vós, tapando ouvidos para não receber o que 
eles semeavam: lembrando-vos de que sois pedras do templo do Pai, 
elevados para o alto pelo guindaste de Jesus Cristo, que é sua cruz, 
com o Espírito Santo como corda. A vossa fé é vosso guia para o alto; 
a caridade, o caminho que conduz a Deus. Por conseguinte, todos 
sois também companheiros de jornada, portadores de Deus e de seu 
templo, portadores de Cristo e da santidade, em tudo ornados com os
3 Pr 3,34; Tg 4,6; IPd 5,5.
4 Isto é, provavelmente de Esmima, onde mais grassava o docetismo.
mandamentos de Jesus Cristo. E regozijo-me a vosso respeito, porque 
fui achado digno de me entreter convosço por meio destas linhas e de 
vos felicitar, porque, em conformidade com a nova vida, nada amais 
além de Deus.
42 Orai, igualmente, sem cessar5, pelos outros homens, pois em 
relação a eles, há esperança de conversão, de chegarem a Deus. 
Consenti-lhes que ao menos por vossas obras recebam vossa instrução: 
às suas fúrias oponde mansidão, à sua jactância, humildade; às suas 
blasfêmias, orações; a seus erros, firmeza na f é 6; à sua ferocidade, 
docilidade; não vos preocupeis em rivalizar cota eles. Monstremo-nos 
seus irmãos pela brandura. Esforcemo-nos por ser imitadores do Se­
nhor — quem jamais sofreu maior injustiça, quem foi mais despoja­
do, mais desdenhado? — para que assim, não haja entre vós alguma 
plantado diabo, mas antes com toda a pureza e temperança, permane­
çais em Jesus Cristo, corporal e espiritualmente.
43 Eis os últimos tempos! Doravante, cubramo-nos de confusão e 
temamos a paciência de Deus, para que não se tome para nós motivo 
de condenação. Das duas uma: ou temer a ira vingadora ou amar 
a graça presente. O que importa é ser encontrado em Cristo Jesus, 
para a verdadeira vida. Além dele nada vos agrade. Nele carrego as 
minhas correntes, pérolas espirituais com as quais me seja concedido 
ressurgir, graças à vossa oração, da qual desejo sempre participar, 
para que me encontre na herança dos cristãos de Éfeso, que têm con­
cordado sempre com os apóstolos, na força de Jesus Cristo.
44 Sei quem sou e a quem escrevo: eu, um condenado, a vós 
que já obtivestes misericórdia; eu, ainda em perigo, a vós já confirma­
dos. Passa por yós o caminho dos que são levados a Deus por uma 
morte sangrenta7; sois companheiros, em divina iniciação, de Paulo, 
este homem santificado, de quem foi dado testemunho, digno de 
louvor -— em cujo rasto me seja concedido ser achado quando chegar 
a Deus — e o qual, em todas as epístolas faz menção de vós em 
Cristo Jesus.
45 Esforçai-vos, portanto, por vos reunir mais frequentemente, para 
celebrar a eucaristia de Deus e o seu louvor. Pois quando realizais 
freqüentes reuniões, são aniquiladas as forças de Satanás e se desfaz 
seu malefício por vossa união na fé. Nada há melhor que a paz, pela 
qual cessa a guerra das potências celestes e terrestres.
3 6 SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIÁ
5 lTs 5,17.
6 Cl 1,23. _ . „
7 Por Éfeso, encruzilhada no caminho do Oriente a Roma, tinham necessaria­
mente que passar os que iam dar testemunho de Cristo em Roma, sendo assim 
levados para Deus.
CARTA. AOS EFÉSlOS 3 7
Nada disso desconhecereis se tiverdes perfeitas a fé e a caridade 46 
em Jesus Cristo, que são o princípio e o fim da vida: a fé o princípio, 
a caridade o fim. A união das duas é Deus, e tudo mais que houver 
de perfeição, delas deriva. Quem professa a fé não peca, quem possui 
a caridade não odeia. “Pelo fruto se conhece a árvore” 8; do mesmo 
medo, pelas obras se tomam manifestos os que professam pertencer a 
Cristo. Agora, com efeito, não se trata apenas de professar a fé, 
mas de saber se se persevera na prática da fé até ao fim.
Ê melhor calar-se e ser (cristão), do que falar e não ser. Ensinar 47 
é boa coisa, desde que se ponha em prática o que se ensina. Há 
porém um único Mestre, o qual "disse, e foi feito” 9; e mesmo o 
que realizou em silêncio é digno do Pai. Quem possui verdadeira- 
mente a palavra de Jesus, também lhe pode ouvir o silêncio, para 
ser perfeito. Passará a agir pelo que diz e a se manifestar pelo que 
silencia. Ao Senhor nada escapa; ao contrário, mesmo o que em nós 
está oculto, lhe é presente. Façamos tudo, crendo que ele mora em 
nós, para que sejamos seus templos e ele nosso Deus em nós. Assim 
é de fato e assim se manifestará ante nossos olhos, se o amarmos 
devidamente.
Não vos enganeis, meus irmãos: os que desonram famílias não 48 
hão de possuir o reino de Deus l0. Na verdade,, se já os que pra­
ticam tais coisas segundo a carne devem morrer, quanto mais quem 
corrompe, por doutrina perniciosa, a fé que é de Deus, fé pela 
qual Jesus Cristo foi crucificado! O homem assim manchado irá 
para o fogo inextinguível, e do mesmo modo que ele, todo o que 
o ouve.
Se o Senhor deixou que perfumassem sua cabeça, foi para ínfun- 49 
dir em sua Igreja a incorruptibilidade. Não vos deixeis ungir com or'* - 
fétido ungüento dã doutrina do príncipe deste mundo, para que não - 
vos leve ele cativos para longe da vida que vos é oferecida. Por que 
não nos tornamos todos prudentes, se recebemos a sabedoria de Deus, 
que é Jesus Cristo? Por que tolaffiente nos perdemos, desconhecendo 
o dom que o Senhor realmente nós értviou?
Meu espírito entregá-se à cruz, cruz que é escândalo para os 50 
infiéis, mas para nós salvação e vida eterna. “Onde está o sábio? 
Onde o pesquisador”? 11 Onde a jactância dos que se dizem inte­
ligentes? A verdade é que o nosso Deus, Jesus, o Ungido, foi con­
cebido de Maria, segundo a economia divina; nasceu da estirpe de 
Davi, mas também do Espírito Santo; nasceu e foi batizado para, 
por sua paixão, purificar a água.
3 8
51 E permaneceram ocultos ao príncipe deste mundo a virgin­
dade de Maria e o seu parto, bem como a morte do Senhor: três 
mistérios de clamor n , realizados no silêncio de Deus.
Pois bem, como foram manifestados aos séculos? Uma estrela 
brilhou no céu, mais que todas as outras; sua luz era inexprimível, 
sua novidade causava espanto. Os demais astros, juntamente com ç 
sol e a lua,'rodearam a estrela em coro, enquanto a luz desta a 
todos excedia. Surpreenderam-se os homens e perguntaram donde pro­
vinha essa estrela tão diferente das outras. Desde então toda a ma­
gia foi exterminada, todo laço de malícia supresso, extinta a igno­
rância, derrubado o antigo reino, pois Deus se manifestava em for­
ma humana para a “novidade da vida” eterna 12 13. Começava a cum­
prir-se o plano de Deus. Daí essa universal comoção: tratava-se dá 
extinção da morte.
52 Se Jesus Cristo se dignar, por causa de vossa oração, conce­
der-me esta graça e se assim for sua vontade; numa segunda car­
ta, que tenho a intenção de vos escrever, continuarei a expor a dis- 
pensação divina, que apenas esbocei, relativa ao nòvo homem, Jesus 
Cristo, e que se apóia na fé e caridade para ccm ele, na sua paixão 
e ressurreição. E o farei com prazer, se o Senhor me manifestar que 
todos vós, e cada um, vos reunis pela graça, na única fé e em Jesus 
Cristo, da estirpe de Davi segundo a carne, ao mesmo tempo filho 
do homem e Filho de Deus; se vos reunis, repito, para obedecer em 
harmonia de sentimentos ao bispo e ao presbitério, partindo um 
mesmo pão, o qual é remédio de imortalidade, antídoto contra a 
morte e alimento que nos faz viver em Jesus Cristo para sempre.
53 Dou minha palavra por vós e pelos que enviastes para 
honra de Deus. a Esmima, de onde vos escrevo, rendendo graças áo 
Senhor, e tendo para com Policarpo a mesma dileção que vos dedico. 
Lembrai-vos de mim, como Jesus Cristo de vós. Rezai pela Igreja da 
Síria, donde, acorrentado como o último dos fiéis, sou arrastado para 
Roma, pois fui achado digno de honrar a Deus.
Em Deus Pai e em Jesus Cristo, a nossa comum esperança, 
saudações.
SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA
CARTA AOS ROMANOS
(P.G. 5, 68*696)
54 Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja, que recebeu miseri­
córdia pela magnanimidade do Pai altíssimo e de Jesus Cristo, seu 
Filho unigénito; à Igreja amada e iluminada pela vontade daquele
12 Isto é, mistérios que deveriam ser anunciados a todo o mundo.
13 Rm 6,4.
CARTA AOS ROMANOS
que quis tudo o que existe, segundo a caridade de Jesus Cristo, nosso 
Deus; à Igreja que preside, na região dos romanos, digna de Deus, ve­
nerável, bem-aventurada, louvável, digna de triunfo; a essa Igreja pura, 
posta na presidência da caridade, seguidora da lei de Cristo e 
adornada com o nome de Deus, — saúde, em nome de Jesus Cristo, 
Filho do Pai. Aos que aderem pela carne e pelo espírito a todo man­
damento do Senhor, a vós que vos tornastes definitivamente repletos 
com a graça de Deus e purificados de todo elemento estranho, desejo 
uma alegria abundante e santa em Jesus Cristo nosso Deus.
À força de orações, alcancei a graça de ver vossas santas 55 
faces. E recebi mesmo mais do que pedira pois, acorrentado no 
Cristo, tenho a esperança de ir saudar-vos, se a vontade divina 
me der a graça de chegar ao fim. O começo está bem orientado; 
possa eu obter a graça de entrar sem impedimento na posse de mi­
nha herança.
Temo porém que a vossa caridade me seja prejudiciall. Pois, se 
para vós é fácil fazer o que quiserdes (interceder ou não por mim), 
para mim é difícil chegar a Deus, se não tiverdes compaixão de mim.
Na verdade, não vos quero ver agradando aos homens mas a 56 
Deus, como de fato desejais. De minha parte jamais terei oportuni­
dade comoesta para chegar a Deus; nem vós tendes obra melhor a 
fazer do que simplesmente vos calardes. Pois, silenciando a meu res­
peito, serei uma palavra de Deus, mas se vos deixais levar pelo amor 
a minha carne, serei apenas uma voz qualquer. Nada melhor podeis 
fazer por mim do que deixar que eu seja sacrificado a Deus, enquanto 
está preparado o altar do sacrifício. Então, reunidos num só coro na 
caridade, cantareis ao Pài, em Jesus Cristo, por ter julgado o bispo 
da Síria digno de ser enviado do Oriente para o Ocidente. É belo, 
com efeito, ir do ocaso do mundo até ao seio de Deus, e ter nele o 
meu levante.
Nunca tivestes inveja de ninguém e ensinastes os outros a não 57 
tê-la. O que quero é justamente a prática do que ensinastes. Pedi 
para mim apenas a força interior e exterior, para que não só eu 
seja chamado cristão mas de fato o seja. Pois se me mostrar real­
mente cristão, merecerei também ser chamado, e quando tiver desapa­
recido do mundo, então serei de fato fiel a Cristo. Nenhuma osten­
tação é boa. Jesus Cristo mesmo nosso Deus, mais se manifesta quan­
do agora está oculto no Pai. Quando o cristianismo é odiado pelo 
mundo, o que importa realizar não é mostrar a eloqüênda da palavra, 
mas a grandeza da alma.
Escrevo a todas as Igrejas e informo-lhes que morro livre- 58 
mente por Deus, se contudo não me impedirdes disso. Rogo-vos:
1 Sto. Inicio não quer que o impeçam de ser martirizado.
3 9
4 0
não tenhais para comigo uma benevolência inoportuna! Deixai-me ser 
pasto das feras, pelas quais chegarei a Deus. Sou o trigo de Deus, 
moído pelos dentes das feras para tomar-me o pão puro de Cristo. 
Acariciai, antes, as feras, para que venham a ser meu túmulo e 
nada rejeitem do meu corpo. Assim, depois de morto não serei pesado 
a ninguém ...^ Então, quando o mundo não puder mais ver meu 
corpo, serei verdadeiramente discípulo de Cristo. Rogai a Cristo para 
que, por esses dentes, me torne um sacrifício para Deus. Não vos 
dou ordens, como Pedro e Paulo: eles eram apóstolos, eu um con­
denado; eles livres, eu até agora um escravo. Mas, se morrer, tor­
nar-me-ei um liberto de Jesus Cristo e ressuscitarei nele, inteiramente 
livre. Por enquanto, aprendo nos ferros a nada desejar.
59 Da Síria a Roma, por terra e mar, dia e noite, já venho 
lutando com as feras, pois estou acorrentado entre dez leopardos. 
Refiro-me à escolta que me conduz, que se mostra tanto pior quanto 
melhor é tratada. Contudo, nas suas injúrias eu muito aprendo, em­
bora “não seja por isso que sou justificado” 2.
Oxalá chegue eu às feras que me estão preparadas, oro para en­
contrá-las ávidas. Se for necessário, agradá-las-ei para que me devorem 
depressa e não façam como diante de certos cristãos: atemorizadas, 
nem ousaram tccá-los. Se não me quiserem espontaneamente, eu mes­
mo as forçarei. Tende piedade de mim: conheço bem o que me é 
preferível. Agora começo a ser verdadeiro discípulo! Que nenhuma 
coisa, visível ou invisível, me impeça de obter a posse de Jesus 
Cristo! Fogo, cruz, encontro com as feras, dilaceramentos, esquar- 
tejamentos, deslocamentos de ossos, mutilações dos membros, tritura­
ção do corpo, os mais perversos suplícios do diabo caiam sobre mim, 
contanto que alcance a posse de Jesus Cristo!
60 Nada me valerão as delícias do mundo e os reinos deste 
século. Melhor é para mim morrer por Jesus Cristo do que reinar até 
as extremidades da terra. O que procuro é aquele que morreu e res­
suscitou por nós. Este é o momento do meu nascimento! Por favor, 
irmãos, não me impeçais de viver, não queirais que eu morra! Não 
ofereçais ao mundo quem deseja ser de Deus, não o enganeis com a 
fascinação da matéria! Deixai-me receber a luz imaculada, porque 
só então serei realmente homem! Permiti-me imitar a paixão do 
meu Deus! Se alguém o possui em si mesmo, compreenda o que dese­
jo e compadeça-se de mim, considerando o que me impulsiona.
61 O príncipe deste mundo quer arrebatar-me e corromper 
meus sentimentos em relação a Deus. Ninguém dos presentes quei­
ra ajudá-lo! Passai para o meu lado, isto é, para o lado de Deus! Não 
sejais dos que invocam Jesus Cristo mas desejam o mundo! Não 
habite entre vós a inveja! Se uma vez entre vós eu vier a suplicar (a
SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA
2 ICor 4,4.
CARTA AOS ESMIRNENSES 41
vossa intervenção para livrar-me da m orte), não me escuteis; ouvi, 
antes, o que agora vos escrevo, pois é na plenitude da vida que ex­
primo meu desejo ardente de morrer. Minhas paixões foram crucifi­
cadas, não há em mim fogo para amar a matéria. Não há senão a 
“água viva” que murmura dentro de mim e me diz: “Vem para o 
Pai”! Não me deleito com o alimento da corrupção, ou com as 
volúpias desta vida. Quero o “pão de Deus”, a carne de Jesus 
Cristo, da raça de Davi, e a bebida do seu sangue, que é o amor in- 
i corruptível.
Não quero mais viver segundo os homens; a realização des-$2 
te desejo depende, contudo, de vossa vontade. Tende pois boa 
vontade, pára que também sejais apoiados. Com poucas palavras peço- 
-vos: crede-me! Jesus Cristo, a boca que hão mente, pela qual o Pai 
falou verdadeiramente, vos mostrará com que sinceridade escrevo isto. 
Rezai para que eu vá até o fim. Não vos escrevo segundo a carne, 
mas segudo o espírito de Deus. Se morrer, será por vossa benevo­
lência; se fot reprovado, será por vossa oposição.
r Lembrai-vos, nas orações, dá Igreja da Síria, que tem. a Deus 63 
por pastor em meu lugar. Só Jesus será seu bispo, e a vossa ca­
ridade. Envergonho-me de ser contado entre seus membros, pois 
hão sou digno disso, èu, o último de todos, um abortivo. Mas por 
misericórdia sou alguém, se chego até Deus. Saúda-vos o meu espírito 
e a caridade das Igrejas que me receberam, não como um simples 
viajante, mas em nome de Jesus Çristo. Pois até os que segunao a 
carne não se encontravam no meu roteiro vieram de várias cidades 
á meu encontro.
: Escrevo esta de Esmima, por obséquio dos efésios, dignos de 64. 
p serem bem-aventuràdos. Além de muitos outros, está comigo Crocos,
4 Que me é tão caro. Quanto aos que me precederam, da Síria a Roma, 
para a glória de Deus, creio que já os conheceis; dizei-lhes que estou 
perto; Todos eles são dignos de Deus e de vós; conviria que os con­
fortásseis com muita solicitude.
Escrevi esta nó nono dia antes das calendas de setembro3. Cora­
gem até o fim, na esperança de Jesus Cristo^ Amém.
CARTA AOS ESMIRNENSES 
(tP.G. 5, 708-717)
Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja de Deus Pai e do 65 
bem amado Jesus Cristo, agraciada em todos os dons pela divina 
misericórdia, repleta na fé e na caridade e à qual não falta nenhuma
> 24 de agosto.
graça; digna de Deus e portadora de santidade; à Igreja de Esmirna, na 
Ásia, mil saudações, em espírito irrepreensível e na palavra de Deus.
Glorifico a Jesus Cristo, Deus, que vos deu tal sabedoria. 
Pude realmènte verificar que vos achais unidos numa fé inabalável, 
e como que pregados à cruz do Senhor Jesus Cristo em corpo e 
espírito, consplidados na caridade pelo sangue de Cristo. Tendes a 
firme convicção de que nosso Senhor é verdadeiramente “da estirpe 
de Davi segundo a carne” 1, Filho dé Deus conforme a vontade e 
o poder de Deus; de que nasceu verdadeiramente de uma virgem e 
foi batizado por João, para que nele “se cumprisse toda justiça” 2; 
de que foi verdadeiramente crucificado por nós, na cárne, sob Pôncio 
Pilatos e o tetrarca Herodes, vindo disto, e da sua divina e beatíssima 
paixão, fruto para nós. Foi assim que “levantou seu estandarte” 3 
por todos os séculos, por meio de sua ressurreição, para congregar os 
seus fiéis, tanto os do judaísmo como os gentios, no único corpo da 
sua Igreja.
66 Foi por nossa causa a fim de sermos salvos, que ele verdadeira­
mente sofreu, como também verdadeiramente se reergueu a si mes­
mo. Sua paixão, ao contrário do que espalham certos infiéis, não 
se deu só na aparência. Aparência é o que são eles próprios e con­
forme pensam lhes acontecerá: ficarão sem corpos e semelhantes a 
demônios.
67 Eu, na verdade, aprendi

Outros materiais