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Exame genealogico do poder em Michel Foucault. Monografia . Afate Carlos Buanaissa

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Índice
Declaração	iv
Dedicatória	v
Agradecimentos	vi
Resumo	vii
Introdução	8
CAPÍTULO I: VIDA, INFLUÊNCIAS E OBRAS DE MICHEL FOUCAULT	11
1.1. Vida	11
1.2. Influências	14
1.2.1. Friedrich Nietzsche	14
1.2.2. Georges Canguilhen	15
1.2.3. Alexandre Koyré	16
1.2.4. Gaston Bachelard	16
1.3. Obras	17
CAPÍTULO II: O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO DE FOUCAULT	19
2.1. Michel Foucault: de jornalista a arqueólogo	19
2.2. Michel Foucault: de filósofo a crítico pluralista	21
2.3. Da arqueologia à genealogia	22
CAPITULO III: AS ALTERNÂNCIAS DO PODER NA EUROPA OCIDENTAL	25
3.1. O poder soberano	25
3.1.1. Do suplício às penas de reclusão	26
3.2. Poder disciplinar versus sociedade disciplinar	28
3.2.1. O Panoptismo	30
3.3. O Bio-poder (a vida como problema político)	32
CAPITULO IV: ALGUMAS POSIÇÕES A FAVOR OU CONTRA FOUCAULT	36
4.1. Pierre Macherrey	36
4.2. Gilles Deleuze	36
4.3. Habermas, Baudrillard, Merquior e Rajchman- Críticos de Michel Foucault?	36
5. O debate actual das concepções sobre o poder de Michel Foucault	38
6. Argumentos a favor e contra a pena de morte	39
Conclusão	41
Bibliografia	43
Declaração
Declaro que esta Monografia Científica é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final. Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico.
Nampula, aos _____de Abril de 2016
Afate Carlos Baunaissa
___________________________________
Dedicatória
Aos meus pais
Carlos Buanaissa
Madalena Amade 
Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço a Nʼluko (Deus), pela vida e por ter guiado com a sabedoria suprema os meus destinos durante a formação. Em Seguida, agradeço a toda minha família, especialmente aos meus pais, responsáveis primários pela minha educacão e toda a formação académica. Pai e Mãe, confesso que não encontro palavras que possam expressar realmente a minha gratidão em relação a vocês.
De igual modo, endereço os meus agradecimentos aos meus Tios: Nascipe Age e Pinte Luís Bazar, por terem me acompanhado nesta jornada, proporcionando assistências significativas sempre quando fosse necessário. De forma particular, agradeço ao meu filho Herique, por suportar a ausência do seu pequeno pai durante os quatro (4) anos. Aos meus irmãos: Nelinho, Assifo, Assia, Bachir, Amissina Chafime Tina e primo Chainho pelo apoio moral prestado.
Os meus agradecimentos estendem-se para Nando (Abdala Mussa Inaque), e Nano (Agostinho António Nanomba), manos com os quais convivi de forma intensa e sempre estiveram ao meu lado quando a impossibilidade se aproximava. Calorosamente, agradeço a Chita (Ancha Molide) e Kátia (Atia Momade de Lima), sempre marcaram presença nos bons e maus momentos, emitindo energias positivas para a superação dos obstáculos que provinham de quaisquer ângulos.
Aos meus manos da academia: Armindo, Aquibo, Manito (Mamade), Sairosse e Sucudo, e a todos Membro da Escola Namalateana [[footnoteRef:2]]. Também contemplo nos meus agradecimentos, Msc. Felizardo António Pedro, meu supervisor, pela sua maneira expressiva, tranquila, sobretudo, sabia que conduziu este estudo até aos resultados finais. E a todo corpo docente do Curso de Ensino de Filosofia da UP-Nampula: Msc. Domingos Covinhavo, dr. José Luís, Msc. Ernesto Valoi, dr. Gildo Alfandega, dr. Jacó Braz e dr. José Faquira, personalidades que os tenho como influência em quaisquer aspectos. [2: [] Grupo de Estudo onde: eu, Joaquim Manuel Namalata, Atumane Assane, Angelina Valentim, Ancha Molide e Felizarda Jeque éramos membros.] 
Por último, apraz-me agradecer a IBE - Instituto de Bolsas de Estudo, pela bolsa concedida. E a todos aqueles que tiveram uma contribuição directa ou indirecta nesta longa e desgastante caminhada. Agradeço profundamente a todos vocês, pois sem vocês este curso, talvéz, teria caido no ostracismo. 
Resumo
Neste trabalho, intitulado por O exame genealógica do poder em Michel Foucault, fazemos uma análise do poder em termos dos seus contornos temporais, a partir da Idade Média até as épocas precedentes. O nosso objectivo principal é analisar a concepção genealogica do poder na perspectiva de Michel Foucault, seguindo a seguinte preocupação fulcral: Como se processa o exercício do poder na dinâmica histórica e social? Na senda deste questionamento constatamos que não há nenhuma sociedade livre das relações de poder, o seu exercicio sofre mutações de acordo com o tempo. Para o alcance dos objectivos idealizados usamos uma ampla metodologia, coadjuvada por técnicas, desde à pesquisa bibliográfica, seguida pelos métodos, hermenêutico e analítico, à elaboração de fichas leituras, para a composição final do texto. No entanto, em última instância, o que se encontra disseminado nos escritos de Foucault são análises a respeito da emergência e exercício do poder em algumas épocas históricas, permitindo-nos compreender e localizar o execício do poder em acto. Portanto, por meio desta posição percebemos que o poder é uma prática constituida historicamente. Em Foucault é possível notar três instâncias do poder, o soberano, localizado, sobretudo, na época medieval; o disciplinar, nascido no início da modernidade e o biopoder, que emergiu durante o século XVIII para apropriar-se dos fenómesnos biológicos, tendo em vista o seu controlo e uma possível modificação. 
Palavra-chaves: Poder, Genealogia, Soberania, Disciplina, Bio-poder. 
42
Introdução
O filósofo francês Michel Foucault foi responsável por uma interpretação original da sociedade para a massa académica nas décadas 60 e 70. Mesmo assim, entre nós, quase é desconhecido. Com o método arqueológico e genealógico, Foucault faz uma explicação minuciosa e plausível de várias áreas de conhecimento.
Nos estudos sobre Michel Foucault, é comum ser agrupado no rol de pensadores estruturalistas [[footnoteRef:3]], noutros ainda, pós-estruturalistas [[footnoteRef:4]], posições que ele nunca assumiu, e optou por classificar o seu pensamento como uma história crítica em relação a modernidade. No meio de tantos rótulos, há hermenêuticos que pensam que Foucault seja um filósofo pós-modernista [[footnoteRef:5]], no entanto Foucault rejeitou essa posição, porque preferia discutir novamente a definição da modernidade. [3: []. O estruturalismo é uma corrente de pensamento nas ciências humanas que se inspirou no modelo da linguística e que depreende a realidade social a partir de um conjunto considerado elementar (ou formal) de relações.] [4: []. Pós-estruturalismo refere-se a uma tendência à radicalização e à superação da perspectiva estruturalista. O prefixo pós não é todavia interpretado como sinal de contraposição ao estruturalismo. De fato, esses pensadores levaram às últimas consequências os conceitos e desenvolvimentos do estruturalismo, até dissolvê-los no desconstrutivismo, construtivismo ou no relativismo e no pós-modernismo.] [5: []. A pós-modernidade é um conceito da sociologia histórica que designa a condição sociocultural e estética prevalente no capitalismo após a queda do Muro de Berlim (1989), o colapso da União Soviética e a crise das ideologias nas sociedades ocidentais no final do século XX, com a dissolução da referência à razão como uma garantia de possibilidade de compreensão do mundo através de esquemas totalizantes. O uso do termo se tornou corrente embora haja controvérsias quanto ao seu significado e a sua pertinência.
] 
Entretanto, por meio do O exame genealógico do Poder em Michel Foucault, título do trabalho, procuramos demontrar ʽO execício evolutivo das três modalidades do poder propostas por Michel Foucaultʼ. Uma visão que ele fundamenta por meio do seu método genealógico.
A pertinência deste estudo, reside no facto de que o poder, para além de ser objecto de várias pesquisas, é prática por vezes profusa desde os primórdios aos nossos dias, por isso existe uma multiplicidade de concepções do poder que diferem entre si. Seguindo a mesmaperpectiva iremos apresentar a reflexão que Michel Foucault insere no circulo geral da discussão do poder. No universo das temáticas problematizadas por Michel Foucault, a problemática do poder representa um grande trabalho intelectual, e está presente, quase, em toda sua obra. 
Por esses termos, qualquer trabalho que se dedique esboçar uma análise das suas vinculações do poder em Foucault, deve buscar bases quase em todos seus escritos, em particular as que pertencem à ʻfase genealógicaʼ. Contudo, a preocupação que norteou a nossa pesquisa é: Como se processa o exercício do poder na dinâmica histórica e social?
Diante deste questionamento central, defendemos a posição segundo a qual, nenhuma sociedade está livre das relações de poder, o seu exercicio é susceptível a mudanças de acordo com tempo. De facto, o que há em seus escritos são uma serie de análises a respeito da emergência e exercício do poder em algumas épocas históricas que, de certa forma, nos permitem compreender e localizar a manifestação do poder em acto. Essas constatações, certamente, colocam maior legitimidade ao seu argumento: não existe algo unitário e global chamado poder, mas unicamente formas díspares, heterogéneas que estão em permanente mutação. O poder não é um objecto natural, mas uma prática social constituída historicamente.
Por isso, o seu ponto de partida foi a concepção do poder soberano, que segundo ele vigorou durante a Idade Média. Depois, seguiu-se a descoberta do poder disciplinar surgido no século XVII. A concepção dos conceitos de bio-poder (biopolítica) se concretizou quando Foucault verificou o aparecimento de fenómenos que não se encaixavam nem primeira, nem na segunda modalidade de poder, ao longo do século XVIII.
No que tange aos objectivos, agrupamos nos seguintes:
Geral:
· Analisar a concepção genealogica do poder na perspectiva de Michel Foucault.
Específicos:
· Descrever a vida, influências e obras de Michel Foucault;
· Apresentar o quadro geral do seu pensamento; 
· Explicar as variações do poder na lógica do filósofo;
· Discutir o pensamento de Michel Foucault no círculo de outros pensadores. 
Para dar melhor lógica sequencial ao trabalho, optamos por distribuir em quatro (4) capítulos, onde no primeiro procuramos apresentar os seguintes elementos: vida, influências e obras de Michel Foucault. No segundo capítulo buscamos perceber o desenvolvimento do seu pensamento. Enquanto no terceiro analisamos as variações do Poder na Europa Ocidental, e o quarto capítulo por sinal o último, apresentamos pequenas posições ao seu favor e contra, também uma análise actual referente a aplicação da pena capital.
Finalmente, quanto a metodologia empregue para a sua realização, destacamos a pesquisa bibliográfica, seguida pelo método hermenêutico que consistiu na leitura, compreensão e interpretação tácita das obras. Também usamos o método analítico, culminando com a elaboração de fichas leituras que foram usados para a compilação do texto final.
CAPÍTULO I: VIDA, INFLUÊNCIAS E OBRAS DE MICHEL FOUCAULT
Paul- Michel Foucault nasceu em Poitiers, França, filho de uma família de médicos. Muito cedo aprendeu a governar a si mesmo. No dia 26 de Junho de 1984, morre em consequência das complicações da AIDS [[footnoteRef:6]]. Durante os seus estudos, leu Nietzsche, Heidegger, Blanchot e Bataille, Dumézil e Trotski; mas Nietzsche definiu tanto o seu modo de pensar. Entretanto, autores contemporâneos reclamam a complexidade biográfico de Foucault, alegando ser uma tarefa não fácil o seu levantamento. Neste capítulo procuramos trazer à vista, a vida de Foucault, suas influências e, em última instância, as suas obras. [6: []. Acquired Immunodeficiency Syndrome.] 
1.1. Vida
Paul-Michel Foucault nasceu em Poitiers, uma cidade conservadora da França, a 15 de Outubro de 1926. Seu pai, Paul-André Foucault; seu avô, Paul Foucault, foram fiéis à medicina. Ainda a sua mãe, a senhora Anne-Marie Malapert, foi filha de um cirurgião. Então, esperava-se de Michel honrar esta linhagem médica, por isso, o desvio deste desejo plantado pela família (principalmente pelo Pai) significou um desrespeito vindo do menino Michel. Mas isso tudo graças a dona Anne Malapart, que honrou os ensinamentos do seu pai, este dizia que deixe os seus filhos aprenderem a governar a si mesmo. Por isso, Foucault teve apoio da sua mãe que não permitiu a imposição no seu filho, tendo apoiado nas escolhas do seu filho e investido na educação do mesmo, ele passa a governar a si mesmo.
Abaixo apresentamos algumas datas principais que acomodaram a vida e a formação de Foucault, extraídas no seu livro choses dites, chosesvue [[footnoteRef:7]]: [7: []. Traduzida para: coisas ditas, coisas vistas.
] 
1937-1944: Estudos secundários em Poitiers, primeiro no liceu Henri-IV, depois (por causa da desorganização no liceu causada pela guerra) no colégio Saint-Stanislas;
1946-1951: Aluno na École Normale Supérieure. Amizade com Maurice Pinguet, Robert Mauzi, Pierre Bourdieu, Jean-Claude Passeron, Jean-Pierre Serre, Paul Veyne, etc. Aulas de Psicologia com Merleau-Ponty e de Filosofia com Louis Althusser;
1948: Licenciatura em Filosofia na Sorbonne. Em Dezembro, tentativa de suicídio;
1949: Em Fevereiro, declarado inapto para o serviço militar por má vista. Licenciatura em Psicologia. Tentado pelo álcool, inicia uma psicoterapia. Redige o seu Diploma de Estudos Superiores de Filosofia sobre Hegel sob a direcção de Jean Hyppolite. 
1951: A 14 de Junho, conhece Pierre Boulez. Em Outubro torna-se explicador de Psicologia na École Normale, onde as suas aulas das segundas-feiras se tornam muito frequentadas. Ao longo dos anos assistem Jacques Derrida, Gérard Genette, Maurice Pinguet. Começa tese sobre os pós-cartesianos e o Nascimento da Psicologia. Leitura de Heidegger. 
1952: Exerce funções de psicólogo no serviço do P. Delay. Em Maio, início de uma relação intensa com o compositor Jean Barraqué (1928-1973). Em Junho, passa no Diploma de Psicopatologia no Instituto de Psicologia de Paris. Em Outubro, torna-se assistente de Psicologia na Faculdade de Letras de Lille;
1953: (...) Lê Blanchot e Bataille. Partilha com Barraqué a descoberta de Nietzsche. Segue em Sainte--Anne o seminário de Jacques Lacan. Traduz artigos de Binswanger (1881-1966, introdutor de Heidegger na prática psicanalítica e psiquiátrica), que visita na Suíça;
1960: Escreve a sua tese secundária, Genèseet Structure de l’Anthropologie de Kant. Escreve o prefácio de Folie etdéraison, já terminada. Em Outubro, eleito para a Faculdade de Clermont--Ferrand como professor de Psicologia. Instala-se em Paris. É apresentado a Daniel Defert, estudante de Psicologia, que será seu companheiro até à morte. 
1963: Em Janeiro, com Barthes e Michel Deguy, entra para o conselho de redacção da revista Critique, de Georges Bataille, onde figura até 1977. Em Abril, publicação de Naissance de la clinique: une archéologie duregard médical (P.U.F.) e em Maio de Raymond Roussel (Gallimard);
1966: (…) Em Setembro decide instalar-se em Túnis, onde lhe propõem, pela primeira vez, uma cátedra de Filosofia e não de Psicologia;
1967: Em Fevereiro, lê Dumézil e Trotski. Em Março, dá em Paris uma Conferência sobre as Heterotopias e faz uma emissão radiofónica sobre o mesmo assunto. Em Abril, lê Wittgenstein e os analistas ingleses. Em Junho, encontro com o presidente Bourguiba; lê Panofsky; manifestações anti-imperialistas em Túnis. 
1971: Em Fevereiro anuncia a criação do G.I.P., grupo de informação sobre as prisões, com a	sua morada como sede;
1972:Em Janeiro organiza um sit-in no átrio do Ministério da Justiça para fazer ouvir as reivindicações vindas de diferentes prisões;
1977: Escreve o prefácio para a tradução americana de L’Anti-Oedipe de Deleuze. Em Agosto escreve sobre os Padres da Igreja e vai a Bayreuth ver o Ring do centenário com encenação de Chéreau e direcção de Boulez;
1978: Trabalha no segundo tomo da Histoire de lasexualité sobre a noção cristã da carne. Em Março e Abril, viagens a Berlim e ao Japão. A 27, conferência na Sociedadefrancesa de Filosofia publicada sob o título “Qu’est-ce que la critique?”. Publicação de Herculine Barbin, dite Alexina B (Gallimard) sobre um caso de hermafroditismo. Entre Julho e Agosto, hospitalizado uns dias depois de ter sido atropelado à frente da sua casa;
1984: Em Janeiro, tratado com antibióticos, reencontra uma grande vitalidade. Em Fevereiro, ainda cansado, volta às aulas no Collège de France. Corrige as provas do segundo volume da Histoire de lasexualité até ao fim de Março. É regularmente seguido no hospital Tarnier. Não pede nem recebe nenhum diagnóstico. Em Abril relê o diário de Kafka e regressa ao manuscrito dos Aveux de lachair. Dá uma festa em honra de William Burroughs. Em Maio, publicação de um número especial do Magazine littéraire dedicado a Foucault. Publicação, a 14, de L’UsagedesPlaisirs. A 3 de Junho é hospitalizado pelo irmão no hospital Saint-Michel. 
A 9 de Junho: é transportado para a Salpêtrière, para o serviço de neurologia. A 10 entra nos cuidados intensivos. A 20, momentaneamente melhor, recebe o terceiro volume da Histoire de lasexualité, Le Souci de soi. A 25, às 13h15: morte de Michel Foucault de complicações provocadas pela sida (septicemia, focos de supuração cerebral). A 29, é enterrado em Vendeuvre. 
Com as datas acima apresentadas, passamos juntos a conhecer Michel Foucault e, com as mesmas foi suficiente para percebermos a vida turbulenta do autor. Enquanto menino infiel para com os desejos do seu pai e, enquanto jovem fiel para com os seus desejos. Cada circunstância implicava uma aprendizagem, cada aprendizagem ditava os seus modos de pensar.
1.2. Influências
Enquanto estudante, Foucault frequentou vários diálogos, com Pierre Bourdieu, Jean- Paul Sarte, Paul Veyne. Assim como, a situação que se encontrava na sua fase adolescente influenciou bastante nos seus escritos, a partir do seu ser enigmático e fechado fez com que até os seus 19 anos, começasse a viver uma solidão daquelas de quem se sente diferente, que não segue as normas da maioria.
1.2.1. Friedrich Nietzsche
Dentre vários pensadores admirados pelo Foucault, Nietzsche torna-se o mais marcante. Oropallo na sua Dissertação para a obtenção do título de Mestre em Filosofia faz-nos compreender citando Foucault nos seguintes termos:
Hoje fico mudo quando se trata de Nietzsche...Se fosse pretensioso, daria como título geral ao que faço ‘genealogia da moral’...Nietzsche é aquele que ofereceu como alvo essencial, digamos ao discurso filosófico, a relação de poder...A presença de Nietzsche é cada vez mais importante. Mas me cansa a atenção que lhe é dada para fazer sobre ele os mesmos comentários que se fez ou que se fará sobre Hegel ou Mallarmé. Quanto a mim, os autores que gosto, eu os utilizo. O único sinal de reconhecimento que se pode ter para com um pensamento como o de Nietzsche, é precisamente utilizá-lo, deformá-lo, fazê-lo ranger, gritar...Que os comentadores digam se é ou não fiel, isto não tem o menor interesse” (FOUCAULT apud OROPALHO, 2005:7).
Estamos a nos deparar com um pensador que reconhece os seus mestres, admitindo o quanto a sua criação intelectual dependeu muito da leitura do autor de Assim falava Zaratustra. Outrossim, de Nietzsche, Foucault aprendeu uma nova maneira de fazer Filosofia, diferente de Hegel e de outros pensadores por ele lidos; trabalhar a história genealogicamente.
Doravante, apesar da inegável influência do 'louco mestre' no pensamento de Foucault, há que reconhecer as influências vindas de outras referências, para maior florescimento das suas refleções filosófico-históricas.
Por isso, além de Nietzsche, Foucault possui vinculações teóricas com a tradição da epistemologia historiográfica, que tem nas figuras de Gaston Bachelard (1884-1962), Alexandre Koyré (1882/1892-1964) e Georges Canguilhem (1904- 1995) seus grandes representantes.
1.2.2. Georges Canguilhen
Em 1943, defendeu sua tese de Doutorado em Medicina: “Ensaios sobre alguns problemas concernentes ao normal e ao patológico” Sua tese foi reeditada, e em 1966 foi lançada com o título simplificado: O normal e o patológico” (FRANCO, 2009). 
Georges Canguilhem, após analisar alguns estudiosos do século XIX, notou que, para muitos, o patológico seria apenas uma mera variação quantitativa do estado normal. Para aprofundar o estudo da questão acima, Canguilhem “recorreu à história das ciências e explora conceitos no campo da filosofia da ciência e da técnica médica. Elaborou suas concepções de saúde e doença a partir do exame crítico das ideias de alguns filósofos do século XIX” (Cfr. Idem, 2009).
Se a doença difere extremamente da saúde, o patológico do normal, como um atributo difere de outro, quer pela presença ou ausência de um princípio já definido, quer pela reestruturação da totalidade orgânica. Logo, deve-se conhecer cientificamente para agir, ou seja, a técnica é a aplicação directa de uma ciência
É a partir deste contexto que Foucault se dedica em estudar a História da Loucura. E chega a conclusão de que, a definição de anormalidade muda de uma cultura para outra; visto que, cada civilização cria suas próprias doenças. “O que numa é doença pode ser crime, manifestação de santidade ou pecado em uma outra. A atitude diante da anormalidade também varia de uma cultura para outra” (FOUCAULT, 1994a). Foucault analisa genealogicamente a história da medicina indagando, sobretudo, as formas de poder que têm por alvo o sujeito.
1.2.3. Alexandre Koyré
Para Koyré o desenvolvimento da ciência seria fruto de alterações nas “estruturas de pensamento” não de um, mas de vários cientistas. Pois, as obras produzidas até o início do século XX, que, muitas vezes, ilustravam as introduções de trabalhos científicos, narravam as descobertas dos cientistas, verdadeiros heróis, e viam a ciência como fonte de progresso linear a partir do conhecimento que lhes era contemporâneo.
Assim, Alexandre Koyré historiador da ciência:
Mostra-nos que o discurso científico emerge em ruptura com todos os modos de conceber e produzir conhecimentos que o antecede. Foucault, possuindo vinculações teóricas com o historiador da ciência Koyré, define “episteme” como uma visão do mundo, uma fatia de história comum a todos os conhecimentos, que imporia a cada um as mesmas normas e os mesmos postulados, um estágio geral da razão, certa estrutura de pensamento a que não saberiam escapar os homens de uma época (Cfr. FOUCAULT, 2008).
1.2.4. Gaston Bachelard
Ao expor o conhecimento como um trabalho em constante rectificação e propor a revisão da posição positivista, Bachelard inovou em pontos antes tidos como imutáveis e sua filosofia se fez presente na revisão que se faria no pensamento positivista posteriormente. Sua negativa em pensar a ciência como um processo dialéctico Kantiano ecoou de forma profunda e viva entre inúmeros filósofos franceses e de outras partes do globo.
A epistemologia de Gaston Bachelard teve influência directa sobre o pensamento de Michel Foucault. Em torno dele, formou-se a clássica Escola de Epistemologia Francesa. Sendo o corte epistemológico, muitas vezes empregada por Foucault, é um marco decisivo em suas pesquisas arqueológicas.
Gaston Bachelard, Alexandre Koyré e Georges Canguilhem influenciaram directamente nos estudos epistemológicos de Michel Foucault. Pois, assim como os três filósofos, Foucault busca por meio da arqueologia conhecer como surgiram conceitos e quais modificações ocorreram em várias épocas e lugares. Para Foucault, é diferente a análise histórica que se situa no limiar da cientificidade e que se interroga sobre a maneira pela qual ele pôde ser transposto a partir de figuras epistemológicas diversificadas.
1.3. Obras
Michel Foucault tem a fama de ser um pensador francês que mais livros escreveu, e só para desafiarmos esta afirmação, passamos a citar alguns dos seus importantes escritos:
· Doença Mental e Psicologia, (1954);
· História da loucura na idade clássica, (1961);
· O Nascimento da clínica, (1963);
· As palavras e as coisas, (1966);
· Arqueologia do saber, (1969);
· A ordem do discurso, (1970);· Vigiar e punir, (1975);
· Microfísica do Poder, (1979);
· Nascimento da biopolítica; (1978-1979); 
· História da sexualidade: A vontade de saber, (1976);
· O uso dos prazeres, (1984).
Ainda houve vários escritos que Foucault lançou, considerados de complementares, tais como: O Cuidado de si; Teorias e Instituições Penais; Os anormais; Segurança, Território e População; A hermenêutica do sujeito; A Verdade e as Formas Jurídicas; Subjectividade e verdade; Os anormais; Colecção Ditos e Escritos. O que é um autor? Do governo dos vivos; A sociedade punitiva; O poder psiquiátrico; Em defesa da sociedade.
Quanto ao conteúdo das mais destacadas obras, apresentamos a seguir:
História da Loucura na Idade Média (1961), considerada como um do seu grande clássico, onde Foucault analisa a atitude de desprezo que os indivíduos tinham pelos doentes mentais (os loucos); 
As Palavras e as Coisas (1966), nesta obra Foucault nota que um discurso exerce uma função de controlo numa sociedade, então para ele, uma dada sociedade é controlada por um dado discurso que para além de limitar, valida as regras de poder daquela sociedade;
Em 1969, publicou A Arqueologia do Saber. É neste livro que Foucault toma a iniciativa de explicar o seu método sistematicamente, a fim de dar sentido os livros lançados anteriormente, onde aplica o método arqueológico: História da Loucura, O Nascimento da Clínica, Palavras e as Coisas, por exemplo. 
Em 1975, Publicou Vigiar e Punir, faz parte do conjunto de escritos da fase genealógica. Uma obra pluridimensional, onde num universo de vários temas, Foucault incansavelmente trata da disciplina da sociedade do seu tempo. Outrossim, Foucault reflecte as questões das prisões, que geralmente verificava-se a ilegalidade da classe dominante. Afinal de contas, esta obra é resultado da experiência por ele tido nas revoltas protagonizadas com vista a dar voz aos presos dos presídios franceses. Portanto, Foucault analisa atentamente os processos disciplinares empregados nas prisões, considerando-os exemplos da imposição, às pessoas, e padrões ʻnormaisʼ de conduta estabelecida pelas malhas sociais. E foi a partir desse estudo, que chegou de explicar que as formas de pensamento são também relações de poder, que implicam a imposição, mas também a subjectivação. 
História da Sexualidade, no título original Historie de la Sexualité. Este estudo mostra como a sociedade ocidental faz do sexo um instrumento de poder, esta vive desde o Séc. XVIII, um momento de repressão sexual. E no meio dessa toda repressão encontramos o poder, adulando. Urgem daqui, várias inquietações lançadas por Foucault, interrogando assim, o poder a partir das evidências históricas e sem deixar de fora a hipocrisia da sociedade. O responsável da proliferação dos discursos sobre sexo foi o poder que usou vários meios como, a escola, a igreja, o hospital. Outrossim, se um estado pretender controlar a taxa natalidade, usará o poder para alcançar os seus objectivos.
CAPÍTULO II: O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO DE FOUCAULT
Antes de qualquer abordagem profunda de poder em Foucault, vamos neste capítulo compreender o desenvolver do pensamento de autor do Vigiar e Punir. Mas essa busca, de compreender a construção do seu pensamento, passa por uma tentativa de compreender a sua época como um todo. Foucault vive numa época de agitação académica, onde especialistas de várias áreas pretendiam dar relevância o seu campo de pesquisa. Numa primeira fase Foucault busca entender o ʻacontecimentoʼ, e vê que este não se reduzia à nenhuma lei geral de um progresso, nem ao retorno ou repetição de uma origem. E este estudar do acontecimento, faz com que surge várias especulações como, se Michel Foucault pudesse ser considerado como um historiador, jornalista ou filósofo.
2.1. Michel Foucault: de jornalista a arqueólogo
Compreender Foucault é um exercício não fácil para as mentes atabalhoadas, mas as atentas facilmente o descascam sem esforço. No entanto, partimos questionando especialidade de Foucault, para apreendermos a unidade do seu pensamento. Será ele um jornalista; ou então, a sua filosofia é uma espécie de jornalismo. 
Estes questionamentos surgem a partir das circunstâncias do seu tempo, que depois da instauração de um novo regime que pôs fim o absolutismo, o mundo passa a se tornar num grande asilo, onde os governos passaram a buscar os diversos saberes existentes para poderem exercer uma terapêutica populacional, tudo isso era protagonizado pelo poder político da época. Entretanto, Foucault aparece nas suas abordagens subordinado ao jornalismo [[footnoteRef:8]]. E provavelmente, o jornalismo foucaultiano, feito na base daquilo que está passando, fundamenta-se a partir do princípio de que os escritos reflectem os acontecimentos, por isso, o conceito acontecimento subordinado aos escritos faz emergir a actividade discursiva. [8: []. Mas diferentemente do plenário usual do termo, jornalismo, voltado para relatar notícias ao grande público.] 
Mas esta prática jornalística, alimentada por situações diárias, escreve-se para dar conta de algo que está à nossa vista, que está acontecendo e, depois, isso não existirá mais. Como diz Foucault na sua entrevista, Le grandenfermement, Eu penso para esquecer. Mas o que está em jogo, é fazer explodir os escritos, levá-los para outras margens.
Por isso, do jornalismo, Foucault busca ser um arqueólogo, cavando mais, a partir do conceito acontecimento. Ele vê que antes, disciplinas como a história, trabalhava com o tempo e o passado, agora ela trabalha com a mudança e o acontecimento. E daqui urge-nos questionar, não estaria Foucault próximo do historiador, na medida em que busca estudar o acontecimento? E sem cair num historicismo e, muito menos assumir para a imagem de um historiador, a história foi sempre o seu pano de fundo, uma estratégia até que visava historicizar ao máximo para deixar o menor lugar possível ao transcendental, (FOUCAULT apud ROCHA, 2014:41). E a literatura está repleta de críticas que provavelmente Foucault lança, desvirtuando o trabalho do profissional de história.
E certamente, não assumindo o fazer história, o ser um historiador, Foucault apresenta-se como um arqueólogo, e pode ser visto nos Ditsetécritsa arqueologia não é parenta nem da genealogia, como análise dos subsolos, nem da genealogia, como descrição dos começos e suas sequências (...). É a análise do discurso em sua modalidade de arquivo, isto é, uma investigação acerca da existência acumulada dos discursos, (Idem: 45). Então, trata-se aqui de compreender o que está na superfície de um sistema discursivo, mas que muitas vezes não se percebe.
Neste sentido, a arqueologia é um “domínio de investigação” ao invés de ser uma disciplina, encontrando o seu material não em livros científicos, filosofias ou justificações religiosas, mas, até em se partindo deles, na procura de se nesta entender como esses discursos foram possíveis, juntamente com as “práticas” igualmente operadas. Gilles Deleuze interpretou as duas primeiras fases de Foucault (a arqueológica e a genealógica, mas aqui citada só em referência à primeira).
O arquivista trata de enunciados, não de proposições ou frases. Esses anunciados são “raros”, pois são aquilo que, na frase, é negado, aquilo que lhe é oculto. E o oculto são as regras concernentes à sua distribuição e reprodução, donde sujeito, objeto, conceito são apenas funções derivadas da primitiva ou do enunciado, (Ibidem: 49). 
Por isso, na proposta arqueológica não se trata de fazer uma história da linguagem e nem uma história da filosofia, mas uma arqueologia do pensamento.
2.2. Michel Foucault: de filósofo a crítico pluralista
Certamente, a Filosofia goza de um papel inconstante, a de ajudar o homem a perceber a importância de autonomia do pensar, servindo assim de um diagnóstico do presente. E este papel, torna cada vez mais a Filosofia a ser apenas especulativa. E em contrapartida, Foucault sustenta a necessidade de fazer da teoria uma caixa de ferramentas, ou melhor, a filosofia precisa servir para algo.E esta visão de Foucault cria desavenças na medida em que a sua posição envolve uma compreensão diferente da tradição filosófica. E este pensamento, de neutralidade, fez de Foucault, um homem que dúvida da sua sombra; perguntando-se, se a filosofia mesma existe, disso “Eu não estou seguro”, diz Foucault (FOUCAULT apud ROCHA, 2014:51). E ele vai mais longe afirmando que Os filósofos são, em geral, muito ignorantes de todas as disciplinas que não são as suas (Idem: 42).
E a tentativa de responder a questão do papel de um filósofo na sociedade, Foucault busca algumas figuras importantes da tradição filosófica, mas com fundo de tentar provar que a filósofo nunca teve uma função específica:
Sócrates, por exemplo, era um “subversivo”, Descartes era professor de matemática e Kant professor de antropologia e geografia. Só com Hegel é que se forma efectivamente uma cadeira de filosofia, mas cujo papel não permanece aí inalterado, sobretudo na sua ambição de se constituir como sistema interpretativo do mundo. Também apresenta a obra de Marx como um esforçar para desmascarar as ilusões ou as falsas ideias dos discursos. Em outra entrevista, ʻLe grandenfermementʼ, ao perguntarem a Foucault se havia filósofos sérios que totalizam, como Sartre, sua resposta foi afirmativa, seguida de um “longo silêncio”. Sim, ele é sério, mas “em toda parte onde Sartre totaliza, ele se afasta da realidade. E cada vez que ele se apodera de um problema determinado, que ele tem uma estratégia determinada, que ele luta, aproxima-se da realidade” (Ibidem: 52). 
Porém, Foucault não quer aqui descredibilizar a filosofia, como prova disso, ele faz uma distinção entre uma linha racional dialéctica e uma analítica. E a linha racional dialéctica, é por ele criticada. Outrossim, isso faz com que ele acredite que nem toda a filosofia deveria ser enaltecida de igual modo. 
E essa atitude adoptada por Foucault, crítico pluralista, não deixou de fora as suas convicções arqueológicas, onde a actividade de cavar e trazer átona o não entendido nos discursos é a sua intenção.
Contudo, compreender Foucault passa por toda esta ginástica, foi a sua atitude crítica pluralista que se espelha nas suas diversas obras, não tendo-se limitado numa só especialidade. Ter sido um ʻjornalistaʼ do acontecimento, repensado o trabalho do filósofo e do intelectual, pontuado a diferença entre o historiador e o arqueólogo, ter valorizado não propriamente o método estruturalista, mas as direcções teórico-filosóficas tomadas por tal corrente e, por fim, ser um crítico pluralista: acredita-se que essas imagens foram fundamentais em Michel Foucault, embora houvesse outras tantas a ele imputadas. E que fizeram parte da construção da ideia de autor crítico.
2.3. Da arqueologia à genealogia
Sobre as opções metodológicas de Foucault, podemos afirmar que o método arqueológico foi descrito por Foucault em 1969, no livro Arqueologia do Saber. O método teve como ponto de partida a História das Ideias, a qual é atribuída à tarefa de penetrar nas disciplinas existentes, tratá-las e reinterpretá-las, é a disciplina dos começos e dos fins, da descrição das continuidades obscuras e dos retornos, da reconstituição dos desenvolvimentos na forma linear da história.
A descrição arqueológica, por sua vez, abandona os postulados e procedimentos da História das Ideias na tentativa de fazer uma história inteiramente diferente daquilo que os homens disseram. Procura estabelecer a constituição dos saberes privilegiando as inter-relações discursivas e sua articulação com as instituições, na tentativa de responder como os saberes apareciam e se transformavam.
Na óptica de Foucault (2002: 239), são quatro diferenças básicas entre a análise arqueológica e a História das Ideias, com o propósito de demarcar as transformações: 
· A arqueologia busca definir não os pensamentos, as representações, as imagens, os temas, as obsessões que se ocultam ou se manifestam nos discursos; mas os próprios discursos, enquanto práticas que obedecem regram. Não trata o discurso como documento; dirige-se ao discurso em seu volume próprio, na qualidade de monumento.
· A arqueologia não procura encontrar a transição contínua e insensível que liga os discursos ao que os precede, envolve ou segue. Preocupa-se em definir os discursos em sua especificidade; mostrar em que sentido o jogo das regras que utilizam é irredutível a qualquer outro. Não vai a progressão lenta, do campo de opinião à singularidade do sistema ou à estabilidade definitiva da ciência; não é uma doxologia, mas uma análise diferencial das modalidades do discurso.
· A arqueologia não é ordenada pela figura soberana da obra, não busca compreender o momento em que esta se destacou no horizonte anónimo. Não quer reencontrar o ponto enigmático em que o individual e o social se invertêm um no outro. Ela define tipos e regras de práticas discursivas que atravessam obras individuais, às vezes as comandam inteiramente e as dominam sem que nada lhes escape.
· A arqueologia não procura reconstituir o que pode ser pensado, desejado, visado, experimentado, almejado pelos homens no próprio instante em que proferiram o discurso. Não se propõe a identificar onde o autor e a obra trocam suas identidades, ou seja, não tenta repetir o que foi dito, reencontrando-o em sua própria identidade, não é o retorno ao próprio segredo da origem; é a descrição sistemática de um discurso -objecto.
Neste contexto, a arqueologia pode ser definida como “uma reescrita daquilo que já foi escrito, é a descrição sistemática de um discurso-objecto. O arqueólogo não reivindica a constituição do fenómeno que ele está estudando através de sua actividade significante interessada”, (DREYFUS, 1995: 299). 
Ele tem, antes, que compartilhar do contexto quotidiano do discurso por ele estudado para participar de sua disciplina. Deve estar ao mesmo tempo dentro e fora dos discursos que ele analisa, compartilhando da falta de significado enquanto em suspenso e esta é a condição inelutável do arqueólogo.
Enquanto por um lado, o método arqueológico envolve uma análise intrínseca, arqueológica do discurso. Para analisar um enunciado não basta, apenas compreender e reconstruir as ideias que norteiam sua produção. É preciso um trabalho mais árduo de relacionar esses enunciados com outros (formando redes, compondo quadros), analisar quais são as condições históricas que permitiram a emergência e a legitimação desses enunciados e, como discursos em diferentes áreas institucionais do conhecimento, mesmo sendo heterogéneos, estão interligados.
Por outro lado, a genealogia se opõe ao método histórico tradicional; seu objectivo principal é assinalar a singularidade de todos os acontecimentos, fora de toda finalidade monótona. A história genealógica trabalha com a descontinuidade, desfaz os pontos fixos, quebra as identidades e introduz o corpo na História. “O método genealógico pode ser entendido como a análise do porquê dos saberes, que pretende explicar sua existência e suas transformações situando-o como peça de relações de poder ou incluindo-o em um dispositivo político”, (MACHADO, 2000: 295). 
O tema da genealogia em Foucault, caso se tome a sua démarche de forma repartida, surge nos anos de 1970 como uma pesquisa voltada para a genealogia do poder, (com O Vigiar e Punir); e como uma genealogia da ética, quando, aparecem (A História da sexualidade e Uso dos Prazeres) a genealogia do poder põe uma questão fundamental: como o saber se engaja em estruturas sociais e em efeitos de poder (formas sociais e políticas)? Tal questionamento direccionou os estudos foucaultianos em várias áreas. O poder nesse contexto, porém, vai reconhecer Foucault a partir da década de 70 foi mal isolado e compreendido. Ou ele era colocado em termos jurídicos (soberania, constituição etc.) ou segundo o viés da esquerda marxista (os aparelhos de Estado). Como o poder era concretamente exercido, quais suas tácticas e técnicas, isso ficava sem uma resposta devida, (FOUCAULT, 1994: 144).
A pesquisa genealogia seria, um projecto de uma inserçãodos saberes na hierarquia do poder próprio da ciência, uma forma de empreender uma investigação para dessujeitar os saberes históricos e torna-los livres, isto é, opor ao discurso teórico unitário, formal e cientificamente válido.
Foucault se propôs a discutir profundamente a seguinte questão: como é possível que se tenha em certos momentos e em certas ordens de saber, mudanças bruscas, evoluções, transformações que não correspondem à imagem tranquila e contínua como normalmente se faz? Como podemos compreender, a sua maior preocupação foi a modificação repentina nas regras de formação dos enunciados aceitos cientificamente como verdadeiros, isto quer dizer, o problema de política do enunciado científico. 
CAPITULO III: AS ALTERNÂNCIAS DO PODER NA EUROPA OCIDENTAL
No conjunto dos assuntos discutidos por Michel Foucault, a problematica do poder se coloca como sendo dispersa, pois está disseminada quase em toda sua obra. E para desencaderamos um estudo sistemático, metódico para a constução de uma teoria do poder em Michel Foucault temos unir a aparente dispersão. Neste capítulo procuramos explicar as alternâncias do poder em termos temporais na sociedade europeia ocidental. 
O resultado mais vivo das pesquisas de Foucault no campo do poder, é a constatação de que as práticas de poder político se processaram de forma diferente, por isso no período medieval vigorou o uso da força física, a tortura, enfim, a punição era publicamente ostentada, facto que, de certa forma permaneceu sem nenhuma mobilidade considerável até o começo da época moderna. 
De facto, constata Foucault que só a partir do século XVII a XVIII começa a se engendrar uma alternância do poder. Neste momento histórico, parece desaparecer a sinonímia da força com o poder. Mais adiante, isto na segunda metade do século XVIII, o filósofo vislumbra o aparecimento de um bio-poder, isto é, novos controlos reguladores que recaem mais apenas sobre o indivíduo, mas sobre toda a população.
Como podemos compreender, a pesquisa árdua de Foucault no campo do poder demonstra as transformações das relações do poder que foram operadas no decurso do tempo, e termina com identificação das três instâncias do exercício do poder, nomeadamente: o soberano, o disciplinar e o bio-poder.
3.1. O poder soberano
Em todas as teorias políticas a respeito da soberania, era o soberano que tinha direito sobre a vida dos cidadãos, determinava a sua liberdade e todos os bens dos cidadãos, em último lugar repousavam nas suas mãos. 
“O poder se exercia essencialmente como instância de confisco, mecanismo de subtracção, direito de se apropriar de uma parte das riquezas: extorsão de produtos, de bens, de serviços, de trabalho e de sangue imposta aos súbditos” (FOUCAULT, 2007: 148). 
Na análise relativa ao poder em Foucault, o poder soberano é a primeira modalidade de exercício do poder, entretanto, não se pode reduzir ao poder em sua generalidade, pois no início do século XVII, o poder ganhou uma estruturação, ao passar a reflectir por meio de práticas disciplinares, tendo como finalidade, a configuração de uma sociedade extremamente útil, pautada na produção e obediência. 
De facto, o poder disciplinar surge como aquele elemento que concebe uma série de dispositivos que renovam e regulam quase todas as actividades humanas no tempo e espaço determinados. 
3.1.1. Do suplício às penas de reclusão
Em Vigiar e Punir Foucault inicia as suas abordagens apresentando dois documentos que expõem e explicitam dois diferentes estilos penais. O primeiro faz a descrição de um suplício [[footnoteRef:9]], em forma de espectáculo público, caracterizando pela violência física sobre o corpo do criminoso, ora culpado. [9: []. Do latim supplicium, dura punição corporal imposta por uma sentença. É um tormento ou sofrimento, seja físico ou moral. ] 
[…]. Essa última operação foi muito longa, porque os cavalos utilizados não estavam afeitos à tração; de modo que, em vez de quatro, foi preciso colocar seis; e como isso não bastasse, foi necessário, para desmembrar as coxas do infeliz, cortar-lhe os nervos e retalhar-lhe as juntas, (Foucault, 1984: 10).
Enquanto o segundo documento apresenta alguns artigos do código que regia a Casa de jovens aprisionados em Paris, com toda a sua utilização fragmentária do tempo e sua subtileza punitiva. 
Eis o ponto fundamental do documento: 
Art. 17. – O dia dos detentos começará às seis horas da manhã no inverno, às cinco horas no verão. O trabalho há-de durar nove horas por dia em qualquer estação. Duas horas por dia serão consagradas ao ensino. O trabalho e o dia terminarão às nove horas no inverno, às oito horas no verão (Idem: 11). 
Para alguns relatos daquela época (e também actuais), o desaparecimento do suplício tem a ver com a ‘tomada de consciência’ dos contemporâneos em prol de uma ‘humanização’ das penas. “Mas a mudança talvez se deva mais ao fato de que o assassino e o juiz trocavam de papéis no momento do suplício, o que gerava revolta e fomentava a violência social. Era como se a execução pública fosse uma fornalha em que se acende a violência”, (Foucault, 1984: 13).
Foucault analisa o suplício na lógica do poder, durante o Antigo Regime, na França em particular, e mostra como, principalmente a partir do século XVIII, os suplícios passam a ser vistos como condenáveis por diversos grupos sociais e as posições ocupadas pelos soberanos e o povo tendem a se inverter. O suplício, que por tempos simbolizava a justiça divina e soberana, a manifestação do poder do rei, a ocasião de afirmar vivamente a dissimetria das forças, passou a encarar-se como a oportunidade dos mais pobres afrontarem esse mesmo poder, por exemplo, contra as condenações vistas como injustas, ou a desigualdade de punições entre as classes sociais, ou o excessivo castigo a crimes considerados leves.
A determinação do grau de punição variava não somente conforme o crime praticado, mas também em relação a natureza das provas obtidas. Por mais grave que um crime fosse, senão houvesse provas contundentes, o suplício era mais moderado do que aquele em que o crime era menos grave, mas que dispunha de provas mais evidentes sobre o delito. O processo era feito sem o processado saber o seu andamento. Tal sigilo garantia sobretudo que a multidão não tumultuasse ou aclamasse a execução. Desta forma o rei mostrava que a ʻforça soberanaʼ não pertencia à multidão, tendo em vista que o crime ataca, além da vítima, também o soberano.
A expiação que tripudia sobre o corpo deve suceder um castigo que actue, profundamente, sobre o coração, o intelecto, a vontade, as disposições. Mesmo que não haja grande variação acerca do que proibido e permitido nesse período, o objecto do crime modificou-se sensivelmente. Não só o ato é julgado, mas todo um histórico do criminoso, quais são as relações entre ele, seu passado e seu crime, e o que esperar dele no futuro, (Idem:19).
Sendo assim, necessário seria criar dispositivos de punição através dos quais o corpo do supliciado pudesse ser escondido, escamoteado; excluindo-se do castigo a encenação da dor. A guilhotina já representa um avanço neste sentido, pois faz com que aquele que pune não encoste no corpo do que é punido. A partir da segunda metade do século XIX, na mudança do suplício para a prisão, embora o corpo ainda estivesse presente nesta última (por ex: redução alimentar, privação sexual, expiação física, masmorra), é a um outro objecto principal que a punição se dirige, não mais ao corpo, e sim à alma.
3.2. Poder disciplinar versus sociedade disciplinar
A partir do século XVIII na sociedade ocidental ocorre a mudança punitiva. O suplício passa a ser visto pelos reformadores com um perigo eminente ao poder soberano, observam também que a tirania leva à revolta. Entende-se a necessidade de se respeitar no assassino, o mínimo, sua ‘humanidade’. 
Foucault apresenta a prisão como uma ‘obviedade’ da sociedade disciplinar: “como não seria a prisão imediatamente aceita, pois se só o que ela faz, ao encarcerar, ao retreinar, ao tornar dócil, é reproduzir,podendo sempre acentuá-los um pouco, todos os mecanismos que encontramos no corpo social?”, (FOUCAULT, 1984: 109).
Entretanto, Foucault aponta um duplo fundamento, jurídico - económico por um lado, técnico disciplinar por outro, para a ampla aceitação da prisão. A prisão teria ainda três princípios, a saber: o princípio de ‘isolamento’, a utilização do ‘trabalho’ e o princípio de ‘modulação da pena’. A prisão cria um novo personagem, o delinquente, que difere de forma sutil do infractor, pois o que o caracteriza não é seu ato criminoso, mas sua vida, e é sobre esta que age o aparelho penitenciário. Para o autor, “a operação penitenciária, para ser uma verdadeira reeducação, deve totalizar a existência do delinquente, tornar a prisão uma espécie de teatro artificial e coercitivo onde é preciso refazê-la totalmente” (Idem: 108).
A preferência sobre os corpos dóceis e dos modelos disciplinares utilizados ao longo dos tempos (conventos, exercícios, oficinas) tornaram-se em fórmulas gerais de dominação. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos ‘dóceis’. A disciplina aumenta as forças dos corpos, (em termos económicos de utilidade) e aumenta essas mesmas forças (em termos políticos de obediência), (Ibidem: 119).
Entretanto, não se trata de analisar a História das diversas instituições disciplinares, mas de expor uma nova micro – física do poder. A disciplina, portanto, é a arte de gerar o respeito ao detalhe de qualquer organização, para a imposição do poder e fortalecimento do controlo, em favor da utilização dos homens pelos homens. 
Com o nascimento das prisões, casas de punições mais humanistas, também nota-se a emergência de um poder com um carácter punitivo mais moderado. 
Antes de tal mudança de concepção, ocorre uma transformação na qualidade dos crimes, que passam do sangue (agressões e homicídios) à fraude e contra a propriedade (roubos, invasões, etc.). Isto tem a ver, obviamente, com o processo social (económico) que corre paralelo desde o século XVII (desenvolvimento da produção, aumento de riquezas, valorização moral e legal das propriedades privadas, novos métodos de vigilância, policiamento mais estreito). Então não é meramente uma questão de respeito à ʻhumanidadeʼ que inverteu os dispositivos de punição, mas a ocorrência de adequação de penas aos delitos. Por exemplo, a justiça fica mais rigorosa em alguns casos, antecipando os crimes. O objectivo da reforma não é fundar um novo direito de punir mais equitativo, porém estabelecer uma nova distribuição para que este não fosse descontínuo ou excessivo e flexível em alguns pontos.
Sabemos que durante o Antigo Regime havia uma maior margem para as ilegalidades, ou ainda que o jogo recíproco das ilegalidades fazia parte da vida política e económica da sociedade. No entanto, “na segunda metade do século XVIII, o processo tende a se inverter, a economia das ilegalidades se reestruturou com o desenvolvimento da sociedade capitalista. A tolerância com as desigualdades diminui, sobretudo, as ilegalidades que atingiam os bens e as propriedades”, (FOUCAULT, 1984: 78).
A reforma do sistema punitivo caminha em direcção à noção de que a punição deve participar de uma mecânica perfeita em que a vantagem do crime se anule na desvantagem da pena; desestimulando, assim, futuros contraventores e, principalmente, procurando eliminar a reincidência. Neste sentido, a punição não deve aparecer mais como efeito da arbitrariedade de um poder humano, mas tão-somente consequência natural da prática criminosa. Nesse novo mecanismo, o poder que pune quase é invisível, isto é, se esconde; funciona como uma tentativa de diminuir o desejo que torna o crime algo extremamente atraente. Por isso as penas não podem durar para sempre, elas precisam terminar, mostrar sua eficácia, tornando o criminoso virtuoso.
É verdade que existem os incorrigíveis e estes devem ser eliminados, mas, para os demais, as penas só funcionam caso terminem. Além disso, a pena aparece não como um elemento que apenas é exigido para o criminoso; é importante que seu discurso (de eficácia) possa circular socialmente, se legitimando. E para que o criminoso não se torne um herói como outrora, só se propagarão os “sinais-obstáculos que impedem o desejo do crime pelo receio calculado do castigo” (FOUCAULT, 1984: 78), não mais a glória ou esperteza do contraventor. Trata-se de dispositivos voltados para o futuro. De agora em diante, se pune para transformar um culpado, não para apagar o crime.  
Para Foucault o nascimento das disciplinas também representa o “nascimento de uma arte do corpo humano, que visa não unicamente o aumento de suas habilidades, nem aprofundar sua sujeição, mas a formação de uma relação que no mesmo mecanismo o torna tanto mais obediente quanto é mais útil, e inversamente”, (Cfr. FOUCAULT, 1994b: 127).
A disciplina exige uma teoria da distribuição das pessoas. Para isso, segundo Silva (2011: 57) surgem os conceitos a seguir: 
· Cerca, para separar o lugar heterogéneo dos outros;
· Clausura, para que cada individuo esteja em seu lugar e, em cada lugar um individuo, envidando o colectivo;
· Localizações funcionais, lugares definidos pela administração para vigiar, romper comunicações e criar espaço útil;
· Fila, que é o lugar que alguém ocupa numa classificação de fácil identificação.
Há também necessidade de controlos das actividades, motivo pelo qual deve haver: 
· Horário certo para todas as actividades; 
· Elaboração temporal de duração dos actos;
· Correlação precisa entre corpo e gestos, evitando-se gestos inúteis que desgastam corpo e com os quais perde-se tempo;
· Cuidadosa engrenagem corpo-objecto;
· Utilização maximizada do tempo até a exaustão.
Estabelecidos tais pilares disciplinares, o novo modelo penal requer ainda, para atingir os objectivos que preconiza, um ‘bom adestramento’ de todas as pessoas envolvidas no novo processo institucional. 
3.2.1. O Panoptismo 
As relações sociais da modernidade têm para Foucault como característica a actuação de tal poder tríplice, exercido sobre os sujeitos em termos de vigilância individual, controlo e uma posterior correcção. O Panóptico [[footnoteRef:10]] se configura como uma representação arquitectónica típica desse período: um edifício em forma de anel, dividido em pequenas celas, no qual tudo o que era feito pelo indivíduo estava exposto ao olhar de um vigilante, que ninguém poderia ver. Este tipo de poder pode receber o nome de panoptismo, que não repousa mais sobre o inquérito, mas sobre o exame. [10: []. É um termo usado para designar uma penitenciária ideal que fora concebida pelo filósofo e jurista inglês, o Utililitarista Jeremy Bentham em 1785. É um desenho que permite a um vigilante observar todos os movimentos dos presos, sem que estes saibam sobre a a acção. De acordo com o design de Bentham, este seria mais barato que o das penitenciárias de sua época, já que requer menos empregados. O sistema panóptico seria aplicável, segundo Bentham, em muitas instituições sociais (prisões, escolas, hospitais ou fábricas). Aquele que estivesse sobre uma torre ou estrutura circular central, poderia observar todos os presos (ou os funcionários, loucos, estudantes, etc), tendo-os sob seu total controle. ] 
O Panóptico automatiza o poder ao infundir naquele que é observado uma sensação consciente de uma vigilância total e permanente: arquitectura que cria e mantém uma relação de poder, portanto, que não mais depende daquele que o exerce; os vigiados são presos em um sistema no qual eles mesmos são portadores das relações que os submetem. Em outras palavras, aquele que “ [...] está submetido a um campo de visibilidade, e sabe disso, retoma por sua conta as limitações do poder; fá-las funcionar espontaneamente sobre si mesmo; [...] torna-se o princípio de sua própria sujeição” (ORWELL, 2009: 192). 
O Panóptico oferece ao poder a oportunidade de empreender novas experiências, modificar o comportamento de indivíduos, domesticando-os por meio de técnicas democraticamente controladas. A ampliação e organizaçãodo poder se fazem visando ao recrudescimento das próprias forças sociais: aumento da produção, expansão da indústria, desenvolvimento da economia, potencialização da instrução.
Portanto, o modelo panóptico coloca em funcionamento uma forma de disciplina diferente da chamada disciplina-bloco. Enquanto esta se baseia na instituição fechada, destinada à marginalização e à suspensão do tempo e do diálogo, a ‘disciplina-mecanismo’ empreendida por essa nova técnica procura tornar o poder mais ágil, de actuação mais moderada, mais eficaz. Pode-se falar em uma verdadeira inversão funcional das disciplinas, segundo o próprio autor. 
Anteriormente assentados na tentativa de neutralizar os perigos fixando as populações agitadas, os mecanismos de poder procuram, cada vez mais, produzir indivíduos úteis. O espectáculo cede espaço à vigilância. Na verdade, esta última deve funcionar como uma forma de regulação inversa à primeira em uma sociedade na qual a comunidade e a vida pública perdem espaço e são substituídas pela prevalência do indivíduo privado.
O bom funcionamento do sistema garante um controlo permanente das presenças e ausências, também possibilita vigiar e corrigir o comportamento de cada um. Foucault aponta a escola como sendo um lugar onde funciona o poder disciplinar, ora vejamos: numa escola a organização do espaço é impecável, pois os alunos são divididos por classe, dentro da classe a idade; é um factor crucial, e na mesma sala de aula há demarcação dos lugares, tudo isto para melhor controlo de cada um em termos de faltas, comportamento e aproveitamento pedagógico. O grande objectivo dessa organização é a correcção das atitudes, comportamentos, enfim, o aproveitamento pedagógicos para o qual a escola almeja alcançar. 
Esta estruturação organizacional permitiu uma maior modificação no campo de ensino, pois a partir do modelo panóptico se estabelece lugares individuais dos alunos, controlando não apenas o todo, como tembém o individual. Possibilitou igualmente uma maior economia do tempo, revolucionando a máquina de ensino por meio da vigilância de todas actividades. 
Com efeito, a escola torna-se em uma grande máquina de correcção com suas normas e regras, uma instituição controladora do tempo. Não se tolera os atrasados, é preciso puní-los para que possam respeitar o tempo dentro dos limites determinados, e essa preocupação com o tempo faz com que todas as actividades sejam distribuídas em horários específicos, desde a hora das aulas, de elaboração de trabalhos até a sua entrega. A partir destes parâmetros é possível distinguir alunos disciplinados e indisciplinados. 
3.3. O Bio-poder (a vida como problema político)
O conceito bio-poder emerge como um fenómeno eminentemente relacionado com a vida como um problema no campo da política. Aparece como indagador e responsável em delinear metodologias e todas as estratégias para responder vivamente todos os problemas dos cidadãos, seja em comum, seja individualmente que o poder disciplinar não preconiza no rol das suas questões.
A biopolítica no pensamento de Foucault aparece como a 3ª e última descoberta na sua pesquisa genealógica do poder. Foi no período dos séculos XVIII-XIX que o filósofo percebeu que havia um poder que não se conformava com o funcionamento do poder disciplinar, isto é, as medidas correccionais aplicadas nos meios disciplinares. Portanto, a descoberta do bio-poder representou um salto significativo dentro das reflexões políticas de Foucault ao avançar a análise do corpo para a vida da população
Com o biopoder as acções políticas se estendem para a perfectivização das acções humanas. A “gestão global da vida, posta em funcionamento mediante uma biopolítica da população, na qual o corpo humano é considerado elemento de uma espécie (sofrendo a incidência, basicamente, das práticas de normalização) ” (MAIA apud SANTOS, 2010: 47).
Reflectindo sobre o trecho acima, compreendemos que o bio-poder é o palco por excelência onde residem e são solucionados os problemas relacionados com o desnível dos meios de produção em relação o crescimento populacional produzido pelos indicadores demográficos. 
No entanto, Foucault chama atenção que não se pode pensar que com o surgimento da biopolítica como a nova base do governo,faz-se uma reviravolta completa e imediata dos problemas reinantes naquela época na área da soberania. Também não significou o afastamento do poder disciplinar. Foi mais do que isso, um ajustamento sereno de todos parâmetros da política governamental, cuja administração da população é seu objectivo fundamental. 
É a partir desta maneira que se concebe uma administração mais austera da população, pois surgem elementos como: os dispositivos disciplinares, os dispositivos de segurança, os exames, a aplicação de normas, o cálculo estatístico de todos os aspectos concernentes à população como natalidade, mortalidade, doenças, alimentação, (SANTOS, 2010). 
Em linhas gerais podemos destacar três domínios de intervenção da biopolítica. O primeiro refere-se a relação triangular que existe entre natalidade, doenças e mortalidade. 
Para minimizar estes problemas o Estado introduziu uma nova medicina que não se preocupa com os pacientes somente nas enfermarias, abrange todo o corpo social pois o seu maior valor é a saúde pública. Com organismos de coordenação dos tratamentos médicos, de centralização da informação, de normalização do saber, e que adquire também o aspecto de campanha de aprendizado da higiene e de medicalização da população” (Cfr. FOUCAULT, 1999: 291).
Além do ramo acima, a biopolítica estende as suas actuações para mais outros:
O segundo domínio de intervenção da biopolítica é composto pelo conjunto de fenómenos importantes da vida, como a velhice, os acidentes, as enfermidades e outras anomalias. O peso destes fenómenos no cálculo biopolítico toma importância no início do século XIX, o auge do processo de industrialização. (Cfr. SANTOS, 210).
Em qualquer um destes fenómenos o indivíduo que é considerado improdutivo deve ser apaziguado, por isso urge a necessidade de se criar mais instituições de assistência social. 
O terceiro e último ramo de intervenção é o da relação dos seres humanos entre eles e o seu meio [[footnoteRef:11]]. Realmente, é nas cidades que o problema das enfermidades merece muita atenção. Neste ponto entra em destaque a questão da urbanização, A maneira como as vias públicas eram dispostas, associada ao aumento do número de habitantes, às questões de insalubridade, concentração de miasmas e falta de higiene favoreciam a circulação de doenças (FOUCAULT, 1999: 292). [11: []. Espaço onde os indivíduos vivem seja natural, seja artificial: em áreas de pântanos onde existe a possibilidade de epidemias de doenças, ou nas cidades construídas pelo homem.] 
É assim que ocorreu o grande salto do exercício do poder soberano da morte para o poder soberano da vida. Para isso o poder estatal se concentra em estabelecer políticas públicas por meio das quais se pode sucumbir as enfermidades que assolam a população. E desta forma são estimuladas e administradas as condições vitais da população. 
Assim, compreendemos em Foucault que mesmo com a tomada da vida como sendo um elemento calculado e administrado politicamente por normas estatais não ocorre uma redução da violência. Visto que para cuidar da vida de alguns remete necessariamente uma contínua e crescente da morte de outros – fenómeno que ocorre por meio de mecanismos intencionais de morte. Podemos citar os regimes como o Nazismo e o Estalinismo como grandes exemplos da ideia. 
E para conquistar e manter meios de subsistência da população é imprescindível uma acção que elimina todos que estão a margem dos objectivos preconizados pelo estado, para manter o equilíbrio social.
Nestes moldes, percebe-se a reflexão foucaltiana no tocante o resultado da combinação destas três espécies de poder é uma formação de um triângulo mais completo de controlo social, uma vez conjuga-se o poder soberano, o disciplinar e o bio-poder. Todos os dados extraídos do poder soberanossão de grande relevância para o poder disciplinar, assim como para o bio-poder, e vice-versa.
Feitas as contas, é necessário salientar que como quaisquer estudos de Foucault, a temática do poder não se apresenta como um estudo desconectado de anteriores ou posteriores reflexões suas. De facto, o que acontece na obra de Foucault é o deslocamento dos assuntos e não o seu rompimento. Eis a razão que a leitura, por exemplo do Vigiar e Punir poder ser feita para várias dimensões que se inter-laçam entre si.
IV CAPITULO: ALGUMAS POSIÇÕES A FAVOR OU CONTRA FOUCAULT
Pretendemos com este capítulo apresentar algumas figuras que se dedicaram em aplicar um estudo exaustivo sobre Michel Foucault, e depois expressaram algo a favor ou contra algumas das suas ideias. A pesquisa sobre o assunto acima supracitado levou-nos a agrupar alguns nomes. Alguns nomes, porque estamos conscientes da limitação que paira em nós quando se trata de filosoficos como Foucault, pouco explorados na lusofonia, e o factor língua é um impasse significativo na produção académica.
4.1. Pierre Macherrey
A preocupação com o tema da norma, para autores de referência importantes do pensamento de Michel Foucault, como Pierre Macherrey, demarcaria mesmo uma linha extremamente mestra o que percorre todos os momentos foucaultianos. 
Para Macherrey (2009) tomando a psiquiatria como exemplo, ao mostrar, com Foucault, que ela descende do inquisidor, com suas técnicas de marcação, de diagnóstico ou de interrogatório, busca o entendimento segundo o qual o poder da lei em nossa sociedade está ʻse integrando a um poder muito mais geral: grosseiramente, aquele da normaʼ. 
Quer dizer, cessando de ʻser uma sociedade jurídica articulada essencialmente sobre a leiʼ, tornando-se uma sociedade ʻarticulada sobre a normaʼ. A título de exemplo do crime, busca-se entendê-lo como uma doença, cuja condenação passa por vários procedimentos legais ou ʻprescrições terapêuticasʼ, ou seja, a medicina, como ciência do normal e do patológico, ʻvai ser a ciência rainhaʼ.
4.2. Gilles Deleuze
Deleuze, em sua pequena monografia sobre Foucault escrita no ano de1988, notou o que estava em questão era o seguinte: 
Se o poder é constitutivo de verdade, como conceber um “poder de verdade” que não seja mais verdade de poder, uma verdade decorrente das linhas transversais de poder? Como “ultrapassar a linha”? [...] O que resta, então, salvo essas vidas anónimas que só se manifestam em choque com o poder, debatendo-se com ele, trocando com ele ‘palavras breves e estridentes’, antes de voltar para a noite, o que Foucault chamava ‘a vida dos homens infames’ (DELEUZE, 1988: 102).
4.3. Habermas, Baudrillard, Merquior e Rajchman- Críticos de Michel Foucault?
Será que os nomes que acima agrupados podem ser considerados por críticos da Filosofia de Foucault? Para tal, passamos a apresentar ideias destes em relação aos eu pensamento.
Habermas relativamente a Foucault intervêm no assunto poder, onde chega a afirmar que o que está presente na obra foucaultiana é uma aporia do poder, pois a conclusão do texto sobre os homens infames deixa à vista a relação entre o quotidiano das pessoas e o poder. Entretanto, podemos aqui apresentar uma possível resposta de Foucault resultante da nossa análise: se o poder é uma relação, então está sempre presente nos diferentes níveis da sociedade em várias formas. Mas se ele está em toda parte, se isso toca directamente na questão das liberdades pessoais, a posição de Foucault caminhou no sentido totalmente contrário à de Habermas: “se há relações de poder através de todo corpo social, é porque há liberdade por toda parte”, e o grande erro foi não ver que “as relações de poder não são alguma coisa de mal em si” (FOUCAULT, 1994: 727).
Desta ideia, Foucault não ficou isento de inúmeras críticas. Podemos citar alguns autores clássicos bem recorrentes, como Baudrillard (1984), Merquior (1988) e Habermas (1990), cujas teses vão inclusive apontar para um Foucault algo retórico, niilista e céptico, mas todos eles apontando o problema geral da relação saber-poder. Do primeiro deles retiramos a seguinte passagem: 
A escrita de Foucault é perfeita, já que o próprio movimento do texto traduz admiravelmente aquilo a que se propõe: esta espiral generativa do poder, que não é mais uma arquitetura despótica, mas um encadeamento em abismo [...] Enfim, o discurso de Foucault é um espelho dos poderes que ele descreve (BAUDRILLARD, 1984:13).
Em outras palavras, se Foucault via o poder em tudo, isso já partia do seu próprio estilo, e talvez até só servisse para reafirmar esse estilo mesmo. Fora de ambições estéticas, fora do empenho inegável de uma bela escrita, os escritos de Foucault não conduziam a nada. Pior ainda, por ser um estilo-poder incitante, sedutor, só por conta de tais artimanhas conseguia, aos menos avisados, convencer, mostrar razões legítimas relativas a conhecimentos. 
Merquior lembraria a todo leitor de incluir Foucault na tradição de glamour da escrita, antes do que rigor filosófico, uma característica indispensavel da atitude filosófica na demanda da verdade, seguindo os passos de Bergson e Sartre (Cfr. MERQUIOR, 1988: 14). 
John Rajchman, na senda das críticas lançadas a Michel Foucault afirmou que “o modelo de crítica concebido por Foucault é distinto do neokantiano de Habermas. Sua crítica não é uma tentativa do uso de normas racionais numa análise geral do Estado ou da sociedade; consiste mais numa constante ‘desobediência civil’ dentro de nossa experiência constituída” (RAJCHMAN, 1987: 11).
Quanto a Merquior, ele fala de uma ideologia contra cultural que perpassaria a obra de Foucault, profundamente equivocada, pois “rebelião contra a ilustração como fonte principal e paradigma da moderna cultura nacional-liberal”. Como, insiste ele, “desmistificar a cultura” sem conservar um “modelo de verdade capaz de distinguir a teoria da ideologia, o conhecimento da mistificação”? (MERQUIOR, 1988: 275).
A conclusão de Merquior é extremamente grave: Foucault é um autor híbrido, meio nostálgico, como Nietzsche, e por outro lado céptico, como um bom pensador moderno inviabilizando de resto o ideário científico (Cfr. Idem: 271). 
Dito em outros termos, Merquior questiona como alguma história pode ser realmente coerente se não reserva certos espaços para uma ʻdescrição da ciência, sua natureza e seus efeitosʼ? Foucault, ao voltar-se para os conhecimentos informais ao invés de levar seriamente em conta a ciência, tornou tal procedimento, pensa Merquior, fatal para seu programa.
5. O debate actual das concepções sobre o poder de Michel Foucault
É importante saber que como Michel Foucault nos adverte, esta evolução do poder não é uniforme em termos: temporais e espaciais. Hoje há estados que vivem o poder soberano. Estados onde no seu direito vigora a pena de morte. Portanto, a obra de Foucault sobre o poder centra as suas análises para a Europa ocidental.
Entretanto, quando o assunto é pena de morte, não e pode olhar apenas o período medieval, é preciso recuar mais para povos da antiguidade, onde entre os Hebreus nos crimes de morte, os parentes da vítima tinham direito de matar o assassino.
Na Babilônia por exemplo, o Código Sagrado de Hamurabi - estabelecia as penas duras: açoite, multa, de talião (olho por olho dente por dente vida por vida). 
Enquanto na Índia, através do Código de Manu a pena era imposta pelo rei e era de duas modalidades: morte e expulsão da casta. 
Na Grécia, com Dracon, a única pena era a de morte.
Entre os romanos, após o julgamento 'pater família', surgiu a famosa lei das XII Tábuas com as seguintes penas: açoite, multa, de talião, de morte, prisão, desterro, escravidão, infâmia, privação de cidadania e confiscação.
6. Argumentos a favor e contra a pena de morte
Aqueles que defendem a existência da pena de morte têm como argumentos:
· É a única que possui eficácia intimidativa para combater a grande criminalidade. Argumentam que, nos países onde foi abolida, houve um aumento de crimes;
· Constitui um meio mais rápido e eficaz para se efectuara solução artificial que a sociedade deve realizar, eliminando da sua convivência os indivíduos anti-sociais e inadaptados à vida social;
· É insubstituível pois, aquela pela qual se propõe substituí-la, a prisão perpétua, se executada em situação de extremo rigor, constitui-se mais intolerável que a própria morte; se executada com suavidade torna-se inócua para os grandes criminosos.
Quanto aos argumentos de ordem social e prático, podem ser assim enumerados:
· A pena de morte é irreparável quando réu for condenado injustamente; 
· A pena de morte não tem o carácter intimidativo que seus defensores lhe atribuem, pois as características demonstram que nos países onde existe a pena de morte, o índice de criminalidade chega a ser maior e os crimes mais sofisticados (estímulo a violência); 
· A pena de morte não intimida certos criminosos, tais como aqueles que são portadores de uma insensibilidade moral total, os assassinos profissionais, os apaixonados e os fanáticos, que delinqúem por motivos sociais (fome, miséria, desemprego, etc.) ou políticos.
Se pararmos para pensar, concluiremos que a pena de morte constitui-se como uma forma de punição violenta que não deveria ter lugar no sistema de justiça actual. No entanto persiste. Em muitos países, os governos justificam a utilização da pena de morte alegando que esta previne a criminalidade.
Contudo, não existe qualquer prova de que este método seja mais eficaz na redução do crime do que outras punições severas.
A pena de morte é discriminatória. É frequentemente utilizada de forma desproporcionada contra pobres, minorias, certas etnias, raças e membros de grupos religiosos. É imposta e levada a cabo de forma arbitrária. Nalguns países é utilizada como um meio de repressão – uma forma brutal de silenciar a oposição política.
Portanto, esta constatação serve para mostrar como os juízos globais sobre uma sociedade devem sempre ser matizados. Muito se luta hoje entre nós em defesa do direito à vida contra agressões graves, do aborto à clonagem e à eutanásia. No entanto em outras frentes, como a guerra e a pena de morte, a nossa época assinala avanços notáveis que civilizações anteriores dificilmente igualaram.
Conclusão 
Como parte de ilações finais podemos tecer as seguintes considerações: Michel Foucault, filósofo francês, comumente, foi integrado em várias linhas de pensamento, mas pessoalmente não assumimiu nenhuma delas. 
Ao delinear uma analítica do poder não pretendeu estabelecer uma teoria geral do poder, pelo facto de não situar como uma realidade que contém uma natureza, procurando estabelecer todas as suas caracteristicas universais. Foucault não se interroga pela origem, princípios e limites do poder. 
Para o filósofo interessa-lhe pensar a emergência das várias modalidades de exercício do poder nas diversas instituições em diferentes momentos históricos que nos permitem identificar o poder em acto. Ou seja, estudar os procedimentos e técnicas usados em diferentes contextos históricos nas institucionais sociais para agir sobre o comportamento dos indivíduos tomados, seja de forma isolada, seja de maneira grupal, para formar, dirigir e modificar o seu comportamento. 
No que respeita às características referentes ao poder nos estudos de Foucault apreendemos que é desigual e móvel, no seu funcionamento pode estabelecer relações desiguais e assimétricas, porque é uma aplicação de tecnologias políticas para o corpo social. Também se efectua por meio de relação de forças num determinado contexto histórico, de igual modo, podemos afirmar que é exercido por dominantes, assim como por dominados. 
Em outras palavras, diríamos que o poder não poder ser pensado como mercadoria, uma posição, uma recompensa, mas como uma operação de tecnologias políticas através do corpo social.
O poder como matriz geral de forças, em determinado contexto histórico, se refere a ideia foucaultiana segundo a qual, o poder deve ser pensado a partir de uma determinada sociedade e um contexto histórico específico.
Portanto, no formato histórico de exercício de poder temos três momentos sobre os quais Foucault identifica formas de funcionamento ou exercício de poder. O primeiro é do poder soberano, que vigorou durante a época medieval. O segundo momento localiza-se durante a Idade Moderna, caracterizado pelo poder da disciplina que se exerce por meio de uma rede presente em todas as instituições sociais. Finalmente, o terceiro, se configurou com aparição de um exercício do poder sobre a vida, visando uma administração regular da população, que denominou por bio-poder.
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