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Taoismo Psicologia Transpessoal

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0 
 
UNIVERSIDADE INTERNACIONAL DA PAZ (UNIPAZ) 
CURSO DE PSICOLOGIA TRANSPESSOAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diálogos entre a Psicologia Transpessoal e a milenar 
Alquimia Interna Taoísta 
 
 
 
 
 
 
Tiago Oviedo Frosi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Alegre, 
2016. 
1 
 
 
 
A circunstância da destruição não é ruim em si mesma, ela simplesmente faz parte do 
destino. Da mesma forma como existe o nascimento ou criação, é natural também 
existir a morte ou destruição porque, no Universo, as duas forças atuam de maneira 
simultânea. Mas como o ser humano tem dificuldade para acostumar-se com a ideia da 
morte, a circunstância da destruição passa a ser vista como desventura. Isso piora 
quando as pessoas pressentem que a mudança pode ser coletiva e começam então a se 
questionar, procurando adivinhar se elas e sua família serão atingidas e estarão dentro 
daquela circunstância. Com isso, a destruição, ao longo de milhares de anos de cultura 
do mundo, passou a ser considerada um infortúnio. 
Mas esse conceito repousa numa leitura plana, apressada e superficial do que está escrito 
na estrofe, que suscita um entendimento mais construtivo. Para uma pessoa virtuosa, o 
caminho da criação pode ser representado pelo verbo fluir, que significa ir para frente 
na vida, harmonizando-se com seu destino. E o caminho da destruição pode ser 
representado pelo verbo inverter, que significa andar para trás em direção à sua origem, 
ou Dào. O caminho da criação está ligado ao ciclo criativo, no qual madeira gera fogo, 
fogo gera terra e assim sucessivamente, até o fim dos dias da vida de uma pessoa. E o 
caminho da destruição está ligado ao ciclo do controle [ ... ], cujo auge de realização, 
no aspecto da destruição dos subtrativos que prendem o espírito de uma pessoa à roda 
da transmigração, é a imagem das cinco cobras que se engolem umas às outras, 
simultaneamente. Esse é o símbolo da destruição da estrutura do Universo, para a 
pessoa que alcançou aquele nível. Portanto, O sentido místico da circunstância da 
destruição está no alcance do desígnio da plenitude, ou realização espiritual de quem 
busca a imortalidade do espírito. 
 
 
Wu Jyh Cherng 
 
2008 
 
Yin Fu Ching – Tratado sobre a União Oculta de Huang Di, o Imperador Amarelo. 
 
 
2 
 
RESUMO 
 
O Taoísmo é uma tradição filosófico-espiritual que nasceu na China há prováveis 4.700 anos, 
através da obra do Imperador Amarelo, Qi Shing Huang Di. As obras mais conhecidas do Cânon 
Taoísta são o Tao Te Ching de Lao Tsé, o I-Ching de Fu Hsi, o Yin Fu Ching e o Nei Jing Su 
Wen de Huang Di, além do Nan Hua Ching de Chuang Tsé. As principais práticas taoístas são a 
meditação, o Chi Kung, as artes marciais internas (como Tai Chi Chuan, Pa Kua Chang e o Hsing-
I Chuan) que são parte da Alquimia Interna, ou Nei Jing. Assim como a abordagem da Psicologia 
Transpessoal pode favorecer, e de fato favorece, a compreensão do Taoísmo por nós ocidentais, 
diversos insights oriundos da Alquimia Interna podem ampliar a gama conceitual e a prática da 
psicoterapia de orientação transpessoal. Este estudo apresenta e desenvolve conceitualmente 
insights oriundos da Alquimia Interna Taoísta que podem ampliar a gama conceitual e a prática 
da Psicoterapia de orientação Transpessoal. Para tal, foram unidos, em um único modelo, a 
noção de estados holotrópicos e hilotrópicos, evolução e involução da Consciência, teoria dos 
Cinco Movimentos, fases arquetípicas, matrizes perinatais, do desenvolvimento, e quadrantes 
da realidade. O diálogo entre Psicologia Transpessoal e Taoísmo revela que as várias dimensões 
do paciente podem ser correlacionadas em um padrão completo a partir da percepção de como 
os Cinco Movimentos estão afetando sua saúde, relações, metas, sonhos e outros aspectos da 
vida. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Psicologia Transpessoal; Taoísmo; Alquimia Interna; Meditação; Chi 
Kung. 
 
 
 
3 
 
SUMÁRIO 
 
1 Introdução 4 
 
 
2 O Desenvolvimento da Consciência Humana 7 
 
2.1 Estágio do Wu Chi 12 
 
2.2 Estágio Yang 18 
 
2.3 Estágio Yin 19 
 
2.4 Estágio Tai Chi 20 
 
2.5 Segundo Estágio Wu Chi 20 
 
 
3 Práticas Taoístas na Psicoterapia Transpessoal 21 
 
3.1 Ampliando as intervenções do facilitador de Respiração Holotrópica 21 
 
3.2 Ampliando horizontes do psicoterapeuta de orientação transpessoal 22 
 
3.3 Interpretação taoísta dos sonhos 24 
 
 
4 O diálogo entre Psicologia Transpessoal e a milenar Alquimia Interna Chinesa 26 
 
 
Referências 30 
 
 
 
4 
 
1 Introdução 
O Taoísmo é uma tradição filosófico-espiritual que nasceu na China há prováveis 4.700 
anos (ou mais, se considerarmos o período matriarcal onde se desenvolveu o xamanismo chinês, 
comandado pelas sacerdotisas Wu)1, através da obra do Imperador Amarelo, Qi Shing Huang 
Di (Huang Di escreveu sobre medicina, política, militarismo, arquitetura e espiritualidade, sendo 
uma espécie de patriarca mítico da cultura chinesa antiga). As obras mais conhecidas do Cânon 
Taoísta (que é formado por mais de 1.500 livros) são o Tao Te Ching de Lao Tsé (Clássico do 
Caminho e da Virtude), o I-Ching de Fu Hsi (Clássico das Mutações), o Yin Fu Ching e o Nei 
Jing Su Wen de Huang Di (Clássico da União Oculta e Manual de Medicina Interna do 
Imperador Amarelo), além do Nan Hua Ching de Chuang Tsé (Clássico da Flor do Sul). As 
principais práticas taoístas são a meditação, o Chi Kung (cultivo bioenergético)
2
, as artes marciais 
internas ou Nei-jia (como o Tai Chi Chuan, Pa Kua Chang e o Hsing-I Chuan) que são parte da 
Alquimia Interna, ou Nei Kung / Nei Jing / Nei Dang. O Taoísmo foi visto, por muito tempo, 
unicamente como uma filosofia pelos ocidentais, que desconheciam a amplitude e profundidade 
de seu desenvolvimento religioso após a expansão dos ensinamentos de Lao Tsé (WONG, 
1999). A tradição taoísta está ramificada, na verdade, em muitas escolas de conhecimento, sendo 
que as principais são: as chinesas Cheng Yi (ordem ortodoxa unitária), Chuanshen (ordem da 
realidade absoluta) e Mao Shan (ordem do junco da montanha) além das japonesas Onmyoudo 
(caminho das polaridades) e Shugendo (caminho do poder pela ascese) e da coreana Koksundo 
(caminho do eremita). Em cada uma delas, certos conceitos alquímicos têm leves diferenças, 
especialmente nas concepções astrológicas. Mesmo assim nos dão o panorama geral de como 
essa tradição se desenvolveu nas culturas do Extremo Oriente. 
Assim como a abordagem da Psicologia Transpessoal pode favorecer, e de fato favorece, 
a compreensão do Taoísmo por nós ocidentais, diversos insights oriundos da Alquimia Interna 
podem ampliar a gama conceitual e a prática da psicoterapia de orientação transpessoal. 
Desde a publicação de “O Tao da Física” de Fritjof Capra, que acabou se tornando um 
best-seller mundial, vários autores resolveram explorar a relação entre o Taoísmo e outras áreas 
do conhecimento. Apesar de algumas incursões não terem sido tão bem sucedidas, também 
tivemos uma ótima literatura produzida abordando o diálogo entre o Tao e a Psicologia. Entre 
os principais títulos deste segmento estão os livros que relacionam Taoísmo e a Psicologia 
 
1
 Como alerta-nos Blofeld (1986). 
2
 A palavra Chi Kung é formada por Chi (energia vital) e Kung (treinamento prolongado, ou cultivo). Refere-se á 
ideia de práticas com as quais, por um longo tempo, restabelecemos as funções corporais, emocionais, mentais e 
espirituais, armazenando em nós as energias da Terra (espaço, lugares), do Cosmo (o plano humano, a vida) e do 
Céu (tempo, toda a multiplicidade arquetípica que rege os ritmos vitais). O objetivo do Chi Kung é cultivar a energia 
interna e aprender a não perder Chi para o meio externo, conquistando assim a saúde e a longevidade, fluindo com 
o Tao através dosciclos naturais. 
5 
 
Analítica de Carl Jung como: “O Tao e a Psicologia” (BLÓISE, 2000), “Unindo o Céu e a Terra” 
(COLEGRAVE, 1992) e “Porta para Todas as Maravilhas” (CHIA; HUANG, 2004). Lembramos 
aqui também o artigo de Coward (1996) que defende que o background da psicologia junguiana 
é o Taoísmo (o autor defende que conceitos chave como sincronicidade, sombra, circum-
ambulação e self foram extraídos por Jung diretamente do Taoísmo, entendendo que ideias 
semelhantes não foram produzidas por outras tradições). E há também o livro de Nei Souza 
intitulado “Psicoterapia e Taoísmo” (2007), que faz um diálogo entre o Tao e a psicologia de 
Jacques Lacan. Apesar de ser citado várias vezes pelos principais autores da Psicologia 
Transpessoal, como Grof (2000) e Wilber (2010; 1995) não parece haver um estudo dedicado 
ao diálogo específico entre essas duas linhas de pensamento. Uma abordagem direta do 
Taoísmo chinês ocorreu na publicação de Jung e Wilhelm intitulada “O Segredo da Flor de 
Ouro”, onde aproximaram conhecimentos de duas linhagens taoístas diferentes (primeiro 
apresentam o Tai I Chin-hua Tsung-chi, ou tratado da flor de ouro, e em seguida um fragmento 
do Hui Ming Ching, o tratado da sabedoria e da vida). Como alerta-nos Wong (1999, p. 12): 
 
A tradução de Wilhelm [ ... ] baseou-se num texto incompleto do Hui-ming ching: 
faltavam os comentários e a parte mais importante – as ilustrações. Além do mais, a 
tradução do livro feita por Wilhelm-Baynes foi profundamente influenciada pela 
psicologia junguiana, não estando pois de acordo com a perspectiva espiritual taoísta. 
Não somente foram completamente ignoradas as conexões históricas e filosóficas do 
Hui-ming ching com suas principais influências – a escola da Realidade Absoluta do 
Taoísmo, o Ch’an (Zen) e o Budismo Hua-yen – como também foram esquecidos os 
ensinamentos da seita Wu-liu, que constituem a base espiritual do Hui-ming ching. 
 
Há, portanto, saberes produzidos no Ocidente que podem ser atualizados, tendo em 
vista que no período atual há uma vasta literatura produzida por estudiosos ocidentais que 
viveram na China, e de estudiosos chineses que vieram ao Ocidente e se familiarizaram com 
nossa cultura. Esse contexto atual e o estado da arte da literatura nos permitem uma 
compreensão que não foi possível no passado próximo e gerou críticas como a de Wong, citada 
acima. Para, além disso, soma-se o fato de que a Alquimia Chinesa enquanto prática está 
disponível para os ocidentais há cerca de trinta anos, pelas mãos e trabalho de mestres como 
Mantak Chia, Liu Pai Lin, Eva Wong e outros. Esse recente desenvolvimento, permite que nos 
conectemos de forma mais íntegra a um conhecimento da humanidade que embora envolva 
teoria, é essencialmente prático. 
O objetivo deste texto é apresentar e desenvolver conceitualmente insights oriundos da 
Alquimia Interna Taoísta que podem ampliar a gama conceitual e a prática da Psicoterapia de 
orientação Transpessoal. Para tal, foram unidos, em um único modelo, a noção de estados 
6 
 
holotrópicos
3
 e hilotrópicos
4
, evolução e involução da Consciência, teoria dos cinco 
movimentos, fases arquetípicas, matrizes perinatais, do desenvolvimento, e quadrantes da 
realidade. 
 Entendendo conceitualmente a dança entre Alquimia Chinesa e Psicologia Transpessoal 
poderemos dar um melhor entendimento sobre a atuação do terapeuta ou psicoterapeuta que 
se oriente pela vertente taoísta: como alguém que aceita o paciente que chega a si como parte 
de seu próprio Caminho, que trabalha com o paciente enquanto sua abordagem for eficaz para 
fazê-lo desenvolver-se e que procura levar os outros e ser levado ao estado cada vez mais 
próximo do fluxo natural, unindo-se assim, ao Tao (SOUZA, 2007). 
 
 
 
 
 
3
 Do grego Holos (Totalidade) e trépein (em direção à). É o movimento da Consciência do mais denso para o mais 
sutil, o que Amit Goswami chamou de causalidade descendente e na medicina chinesa e na alquimia interna está 
relacionado à mutação da energia de Chi (energia vital) para Shen (espírito). 
4
 O inverso de holotrópico (Hilos é o termo que designa o denso), sendo o movimento da Consciência do mais sutil 
para o denso. Amit Goswami o relaciona à causalidade ascendente. A alquimia interna chinesa ao “esquecimento” e 
estagnação na consciência de Po (baseada no Jing, a energia da essência, que rege os fluidos sexuais e o sangue). 
7 
 
2 O Desenvolvimento da Consciência Humana 
A Filosofia Taoísta possui uma abordagem muito particular sobre a origem de toda 
existência, do Universo e de todas as coisas. Essa concepção muito antiga é passada a frente há 
milênios dentro do Tao Chiao (Família do Tao, a religião taoísta) através de uma série de 
ensinamentos. A ideia geral de “queda”, como explicada por Wilber em Éden, queda ou 
ascensão? (2010) pode ser resumida no Tai Chi Tu (Mapa do Altíssimo - figura 1). 
 
 
 
O Mapa do Altíssimo de Zhou Danyu 
 
 
 
Wu Chi – o primeiro círculo representa o Vazio 
Primordial Metacósmico. 
 
Atividade 
Yang 
 
 
Tranquilidade 
Yin 
Tai Chi - o segundo círculo representa o Tao 
Manifestado, formado pelas polaridades da claridade, 
em branco (Yang ), e da obscuridade, em preto (Yin ). 
 
Fogo 
 
 
 
 
 
Madeira 
 
Água 
 
 
 
 
 
Metal 
Wu Hsing – a figura com cinco círculos menores e linhas 
que procuram demonstrar suas relações representa os 
Cinco Movimentos, regras arquetípicas observadas em 
todo o Tao e compreendidas pelos antigos sábios 
comparando-as aos elementos naturais (madeira, fogo, 
terra, metal e água). 
 
O caminho de 
Tian (Céu) se 
transforma no 
Masculino 
 
 
 
O caminho de 
Kun (Terra) se 
transforma no 
Feminino 
O Caminho do Céu e da Terra – o terceiro círculo 
representa a infinidade da Plataforma do Destino, que 
leva a um dos Seis Caminhos (as seis mais gerais 
possibilidades – ou mundos – onde é possível 
reencarnar), tornando-se mais próximo do divino (céu) 
ou do físico (terra). 
O Mundo das Dez Mil Coisas – o quarto círculo 
representa a infinidade de manifestações da realidade 
material compartilhada. 
 
Geração e Transformação dos Dez Mil Seres 
 
 
Figura 1 - Tai Chi Tu, o mapa da criação do mundo das dez mil coisas a partir do Wu Chi, ou Tao não manifestado 
(uma antiga forma chinesa de representação do movimento hilotrópico). 
 
 
Nesse modelo, o Vazio Primordial, Wu Chi, o caos primevo que não possui formas, mas 
possui todas as formas em potencial, agita-se e manifesta-se no círculo primordial, o altíssimo, 
8 
 
ou Tai Chi 5. Este círculo passa então a mover-se gerando os eternos opostos que nos fazem 
conhecer a realidade: a claridade (Yang ) e a Sombra (Yin)6, que estão em constante mutação, 
um tornando-se o outro, em fluxo eterno. Yin e Yang estão presentes nos três puros: Céu (ou 
tempo, que divide-se em 12 ramos terrestres), Terra (ou espaço, que divide-se em 10 troncos 
celestiais) e Homem (ou vida, que divide-se em 8 energias qualitativas). A partir da Claridade e 
da Obscuridade, e dos Três Puros surgem então os Cinco Movimentos, ou Cinco Princípios
7
 
(Wu Hsing) que são as regras arquetípicas para tudo que existe no Tao Manifestado (Tai Chi ) 
e que ao relacionarem-se formam o Mundo das Dez Mil Coisas (a realidade compartilhada do 
nível material). 
Ou seja, em uma classificação do mais sutil para o mais denso temos: Do caos primordial, 
o Vazio Metacósmico surge a possibilidade de haver algo manifesto e capaz de autorreferência, 
que gera a primeira manifestação, que por sua vez colapsa as ondas de possibilidade 
(movimento) e vai fazendo surgir tudo o que é manifesto (denso). Na terminologia taoísta, é 
como se pudéssemos visualizar aspectos do sutil no Vazio Metacósmico e no Altíssimo 
(dimensão do Yin e Yang puros). A partir da existência das polaridades estabelecem-se cincoregras que regem como as polaridades se apresentarão e a essas cinco regras chamamos de Cinco 
Movimentos (Wu Hsing). O movimento das polaridades sendo levadas pelas regras dos cinco 
movimentos vai criando infinitos mundos (Céus) e esses mundos tem seis possibilidades básicas 
de existências (os Seis Caminhos). E, para os taoístas, estamos vivendo agora em um desses 
incontáveis mundos (um dos mais de dois mil Céus), em uma realidade que podemos 
compartilhar com outros indivíduos que são ao mesmo tempo separados e parte do Tao. Esse 
mundo de infinitas espécies, elementos químicos, estados da matéria, qualidades da consciência, 
corpos celestes, etc. é chamado na cultura chinesa de “mundo das dez mil coisas”
8
. 
Esse modelo pode ser relacionado diretamente com o Grande Ninho do Ser de Ken 
Wilber, como mostramos a seguir (figura 2), o que ajuda a posicionar o psicoterapeuta de 
orientação taoísta ao lado da teoria transpessoal. Também lembramos da importância de se 
 
5
 Essa versão do surgimento do Universo inspirou a solução do problema do colapso de onda quântica primordial 
que cria o Cosmos, formulada por Amit Goswami para corrigir o paradoxo deste tema dentro da teoria da Mecânica 
Quântica, apresentado no livro “Evolução Criativa das Espécies” (2009). 
6
 A Claridade e a Obscuridade são os opostos complementares que nos permitem conhecer o mundo, ou o Tao 
Manifestado. Como disse o poeta: “não existiria som se não houvesse o silêncio e não haveria luz se não fosse a 
escuridão; a vida é mesmo assim: dia e noite, não e sim...”. Um dia é claro e outro escuro, um é alegre e outro é 
triste, mas o Caminho Espiritual é viver plenamente todo dia mesmo com o eterno movimento entre alegrias e 
tristezas. 
7
 São os cinco comportamentos da energia Chi que foram descritos pelos sábios chineses há pelo menos cinco mil 
anos, que os compararam com os elementos naturais: a energia que se eleva, nos deixa “pra cima” e traz alegria é 
como as chamas da fogueira (Fogo); a energia que está em equilíbrio e nos dá a firmeza de posicionamento que é 
como uma montanha é semelhante à Terra; a energia que nos incita ao recolhimento e introspecção é focal como o 
processo geológico de formação dos minérios (Metal); a energia do medo e do frio nos rebaixa e nos faz sentir como 
a Água que escorre; e a energia que se expande para todas as direções como a copa das árvores nos remete à Madeira. 
8
 Um número muito grande que remete à nossa incapacidade de contá-lo com precisão. 
9 
 
entender que todo o trabalho de desenvolvimento pessoal, com a ajuda da terapia ou não, será 
influenciado pelo tempo histórico em que se está vivendo (Céu), pelo local em que se vive 
(Terra) e pelas relações pessoais, sociais, culturais, etc. (Homem) a que cada um está envolvido. 
 
 
Figura 2 - O Grande Ninho do Ser da teoria wilberiana e os níveis correspondentes na Tradição Taoísta. 
 
Após nossa primeira aproximação, passemos a discorrer sobre o desenvolvimento 
pessoal. Assim como na Alquimia Interna, o objetivo da psicoterapia de orientação Taoísta seria 
fazer o Caminho inverso daquele apresentado acima pelo Tai Chi Tu 9 e assim fazer com que a 
pessoa que vive no “Mundo das Dez Mil Coisas”, que é chamado no Taoísmo e na Medicina 
Tradicional Chinesa de “consciência de Po”, possa “retornar ao Tao”. A consciência de Po é 
aquela baseada no Jing, na energia da essência (MACIOCIA, 2007). A essência refere-se ao 
sangue e aos fluídos sexuais, o que significa que uma pessoa de Po tem sua mentalidade presa 
em suprir necessidades de sobrevivência básica e obter mais dinheiro (sangue), além de suprir 
necessidades sexuais (fluídos). A pessoa que recupera sua Energia da Essência, ou Jing, através 
da boa alimentação, boa atividade física e do cultivo de bons relacionamentos de parceria, 
consegue identificar o ego não mais com suas necessidades mais básicas e pode ingressar numa 
vida mais complexa, deixando de ser uma pessoa de consciência de Po para ser uma pessoa de 
consciência Huen. Diz-se que a consciência encontra Huen, ou a Alma, pois se está agora mais 
próximo do coração, e mais conectado com as necessidades do centro médio (Zhong Tantien), 
portanto é um momento de vida que leva o ego da pessoa a se identificar com relações de 
amizade, afetividade em geral e maiores conexões com o mundo (social, cultural e natural). A 
 
9
 De fato, o leitor atento e conhecedor do Taoísmo perceberá ao ler “Os Sete Sermões aos Mortos” de Carl Jung 
(ditado pelo espírito Basílides de Alexandria, que era canalizado por Jung) que trata-se de uma explicação detalhada 
do Tai Chi Tu com terminologia gnóstica. Não bastasse isso, os primeiros parágrafos são quase uma cópia do Tao Te 
Ching [N. do A.]. 
10 
 
pessoa que se tornou inteira na consciência de Huen pode se permitir a explorar outros níveis 
mais complexos, ou transpessoais de consciência, e tornar-se uma pessoa de consciência Shen. 
Shen é a natureza espiritualizada/filosófica da consciência. É equivalente ao estágio centáurico 
do espectro da consciência de Ken Wilber (1995) e do degrau mais alto da pirâmide de 
necessidades de Maslow (1970). Um avançado e difícil estágio de desenvolvimento, onde 
acredita-se chegar com as técnicas alquímicas, superando o processo que leva inclusive à morte, 
é o estágio onde a consciência não se identifica mais com a vida comum sujeita ao 
envelhecimento e às mutações (chamada no Taoísmo de “céu posterior”). Quando isso ocorre, 
e o alquimista desenvolve dentro de si a “pílula”, o “elixir dourado”, “reverte o fluxo colocando 
o fogo embaixo da água”, “gera o vapor” e várias outras denominações, atinge-se a consciência 
causal, ou supramental, chamada de Xu (mística). Aquele que tornou-se um sábio imortal 
alcançando a consciência Xu torna-se efetivamente uno com o Tao, para a tradição alquímica 
chinesa. Ele entra naquilo que é chamado pelos chineses de “céu anterior”, o projeto 
morfogenético
10
 do mundo. De posse desse entendimento, podemos traçar uma segunda 
comparação, falando da pirâmide de necessidades de Maslow, dos centros energéticos e dos 
tipos de consciência em um quadro comparativo: 
 
Quadro 1 – tipos de consciência e sua representação em vários autores. 
 
Estágio de 
Consciência 
(Wilber) 
v
Meme 
(Beck e Cowan) 
Pirâmide das 
Necessidades 
(Maslow) 
Centros energéticos 
Tipo de consciência 
no Taoísmo 
Psíquico, Sutil e 
Causal 
- - 7º chakra (pai-hui) Xu 
Visão Lógica / 
Existencial 
(centauro) 
Amarelo (integral) e 
Turquesa (harmonia) 
- 
6º chakra (C-1 e 
terceiro olho) 
Shen 
Mente pluralística / 
Visão Planetária 
Verde (igualdade e 
comunidade) 
Moralidade, 
Criatividade, 
Aceitação 
5º chakra (C-7 e 
base da garganta) 
Egóico alto 
(operatório formal) 
Laranja (autonomia 
e realização) 
Autoestima, 
autoconfiança, 
respeito 
4º chakra (T-5 e 
timo) 
Huen 
Egóico baixo 
(operat. concreto) 
Azul (ordem e força 
de verdade) 
Amizade, família, 
sexualidade 
3º chakra (T-11 e 
Ming-men) 
Emocional (tifônico 
/ pré-operacional) 
Púrpura (mágico) e 
Vermelho 
(de dominação) 
Segurança 
(recursos, 
emprego, 
propriedade) 
2º chakra (bomba 
sacra e palácio dos 
ovários/esperma) 
P’o 
Sensorio-físico 
(urobórico) 
Bege (instintivo) 
Necessidades 
fisiológicas 
1º chakra (períneo) 
 
 
10
 Refiro-me aqui à ideia de Rupert Sheldrake de que campos não materiais e não físicos dão origem às formas do 
mundo material. 
11 
 
Todo esse processo, que na Alquimia Interna é realizado através do cultivo de fórmulas 
alquímicas baseadas no Mapa da Alquimia Interna, ou Nei Jing Tu (figura 3), pode ser pensado 
também no contexto do diálogo transdisciplinar (D’AMBRÓSIO, 1997) entre Psicologia 
Transpessoal e Taoísmo,onde ciência, religião e filosofia podem dialogar através da 
fenomenologia das experiências humanas. O diálogo entre essas distintas, mas complementares, 
formas de conhecimento será o nosso objeto de estudo e análise a partir do próximo capítulo. 
 
 
 
 
Figura 3 - Nei Jing Tu, o mapa da Alquimia Interna (antiga representação chinesa do movimento holotrópico) 
mostra o desenvolvimento psico-espiritual como uma subida ao topo de uma montanha com nove etapas. 
 
 
Outro detalhe a ser considerado é que a “matemática sagrada” do Taoísmo, 
expressa nos símbolos da sequência do Mapa do Altíssimo, do Tratado das Mutações 
(I-Ching) e do Mapa do Lago (He-Tu) em conjunto apresentam a geração do mundo 
12 
 
seguindo a sequência matemática divulgada no Ocidente como a “sequência Fibonacci” 
(HEATH, 2007). A partir disso, poderemos completar nosso estudo relacionando a 
Alquimia Interna Taoísta ao modelo de desenvolvimento sustentável da Consciência 
proposto por Pozatti (2007; 2003) que o construiu a partir dos movimentos 
relacionados a essa sequência logarítmica. 
 
 
Madeira Fogo Terra Metal Água 
 (0) Nascimento 
(1) Infância (2) Puberdade (3) Adolescência (4) Juventude (5) Adultez 
 (6) Maturidade 
(7) Ancianidade 
Jovem 
(8) Ancianidade 
Madura 
(9) Ancianidade Velha (10) Velhice (11) Senilidade 
 (12) Morte 
 
Figura 4 - Mapa do desenvolvimento da Consciência adaptado de Pozatti (2003). A Consciência do 
alquimista vem do Wu Chi (ponto 0) no nascimento, vai condensando até desenvolver-se no Ego 
individual e fundir as energias Yin e Yang dentro do indivíduo (na Maturidade, ponto 6), voltando a 
expandir na segunda metade da vida retornando ao Wu Chi (ponto 12) de forma consciente na morte. 
 
 
2.1 Estágio do Wu Chi 
Os símbolos chineses do Mapa do Altíssimo podem ser usados para resumir também 
algumas fases da existência. A partir de agora as relacionaremos com o estudo de Pozatti (2007; 
2003) sobre as fases da vida. O primeiro estágio, o do Wu Chi é relacionado a todo o período 
inicial da vida humana e também ao período não tradicionalmente calculado como tempo de 
vida (o período anterior ao estágio perinatal, que é o período gestacional). O início deste 
13 
 
estágio está fora do período biográfico (GROF, 2000). No período anterior ao estágio perinatal 
a alma (Huen) da criança pode contatar os pais em experiências de estado não comum de 
consciência como em ampliações, sonhos, contato mediúnico ou contato xamanístico direto 
(TEIXEIRA, 2009). Nesses contatos pode revelar traços de personalidade, dados pessoais como 
o próprio nome ou a origem anterior, além de aspectos da missão pessoal e que muitas vezes 
também aparecem no início da infância (STEVENSON, 2010) onde a consciência está 
vivenciando esse estágio do Wu Chi. 
No estágio perinatal estão presentes três energias: a Energia Ancestral doada pelos pais 
(e aos nossos pais por seus pais e etc. como uma herança vital) e que conecta-nos ao carma 
familiar. Essa energia é chamada de Jing, e depois será a regente dos fluidos sexuais e do sangue; 
a segunda energia é a Energia Materna, ou Chi 
11
 da Mãe, que através do alimento, da respiração 
e da energia vital em si nutre o feto; a terceira é a Energia Cósmica Pessoal, uma centelha de 
vitalidade que nunca perdemos e é certa quantidade de energia Chi acoplada à alma, ou Huen. 
Sendo assim, a Energia Cósmica Pessoal é a energia individual, que se manteve com a alma para 
que esta funcionasse enquanto ocorria o processo da transmigração. É o que ocorre com aqueles 
que não forjaram o corpo espiritual e continuam presos na Roda do Destino, ou seja, no ciclo 
das reencarnações. Essa última energia, o Chi Cósmico Pessoal, traz as informações das vidas 
anteriores e do mundo
12
 em que essa alma estava antes de voltar ao plano humano. Mais tarde, 
quando se integrar o aspecto Yang da consciência (que inicia por volta dos sete ou oito anos) a 
energia organizadora Yang ativará esse Chi Cósmico Pessoal que passará a ser o principal “centro 
de gravidade” do ego daquele indivíduo. 
A Energia Ancestral, vinda dos pais, e a Energia Materna (que são as duas preciosas 
Energias Pré-Natais) são energias perinatais, recebidas pelo indivíduo no processo de concepção 
e geração. Já a Energia Cósmica Pessoal é cármica e, por ser ativada posteriormente, é usada 
junto da energia absorvida no período biográfico através da respiração, da alimentação, Chi 
Kung e de outros meios. Essas energias (Energia Cósmica Pessoal e Energia Vital absorvida no 
período biográfico da vida), portanto, juntas, dão origem à Energia Pós-Natal. 
 
11
 Chi é a bioenergia que dá vida a tudo o que existe, diretamente relacionada, nos seres humanos a aspectos 
fisiológicos, às emoções, aos impulsos psíquicos e à conexão da alma com a vida. Movimenta-se principalmente pelos 
“trilhos” das fáscias chamados meridianos e seus cinco tipos (cinco elementos ou cinco princípios) tem maior afinidade 
com grupos de órgãos específicos. A energia Chi que é armazenada pelas práticas taoístas básicas é armazenada no 
centro corporal, na região do ventre, o Hsia Tantien. 
12
 A Alquimia Taoísta trabalha com a ideia de que existem em cada um dos Seis Caminhos muitos Universos e 
Dimensões paralelas, uma multiplicidade incomensurável. Toda alma pode reencarnar em qualquer um desses 
milhares de Céus e experimentar seis tipos básicos de existência (que por sua vez tem muitas variantes devido a esses 
múltiplos “céus”): o caminho do homem (reencarnar como um ser humano ou equivalente), o caminho do céu Yang 
(reencarnar como uma divindade luminosa), o caminho do céu Yin (reencarnar como uma divindade obscura, uma 
espécie de mundo dos demônios porém muito mais evoluído do que o humano), e há também as condições abaixo 
da humana (caminhos da obscuridade) que são o caminho dos animais (reencarnar como seres menos complexos), 
o caminho das almas esfomeadas (algo muito próximo à explicação do umbral no espiritismo) e as prisões terrestres 
(mundos semelhantes ao purgatório cristão, onde pessoas cheias de apegos se acotovelam). 
14 
 
No nascimento, onde ocorre o trauma que nos marca energeticamente para essa 
existência, e aonde culturalmente começamos a contar a idade daquela nova pessoa, ganhamos 
um padrão que será impresso também na alma. Esse padrão descrito nas várias tradições 
astrológicas é o mesmo padrão energético que o Universo apresentava no exato instante em 
que nascemos. 
 
 
 
Terra: baço, 
pâncreas, estômago, 
sistema nervoso, 
cavidade bucal e 
lábios 
 
Ciclo Criativo 
Fogo: coração, 
pericárdio, intestino 
delgado, língua 
 
Ciclo de Controle 
Madeira: fígado, 
vesícula biliar, 
músculos, olhos 
 
Ciclo da Rebelião 
Água: rins, bexiga, 
ossos, órgãos 
sexuais, ouvidos 
 
Ciclo de Subtração 
Metal: pulmões, 
intestino grosso, 
fáscias, nariz 
 
Figura 5 - Wu Hsing, os Cinco Movimentos ou Cinco Princípios, seus órgãos correspondentes e ciclos. 
 
Tanto o nosso nascimento, quanto o movimento das energias que regem o clima, o 
movimento dos planetas e do grande computador celeste, são regidos pelos mesmos arquétipos, 
pelas mesmas regras: os Ciclos de Criação
13
 e de Controle
14
, que são as principais formas como 
se relacionam os Cinco Movimentos (Wu-Hsing). Dessa relação indireta (lemos o padrão dos 
corpos celestes para saber a nossa configuração energética do nascimento) podemos descobrir 
importantes aspectos e padrões que nos influenciarão por toda a vida: a quantidade do Chi dos 
Cinco Movimentos na nossa configuração original, o arquétipo animal regente do nosso ano 
 
13
 O Ciclo Criativo, ou Sheng, é o caminho que a energia faz nutrindo um tipo de elemento natural com outro. Assim, 
a Água (rins e bexiga) nutre as plantas, ou seja, a Madeira (fígadoe vesícula biliar); a Madeira é usada como 
combustível para o Fogo (Coração e Intestino Delgado); as cinzas do Fogo se depositam gerando mais Terra (Baço-
pâncreas e Estômago); a Terra gera a pressão para que os minérios, ou seja, os Metais (Pulmões e Intestino Grosso) 
se formem; e os Metais cedem os sais minerais para a Água. 
14
 O Ciclo de Controle, ou Ko, é o caminho que a energia faz destruindo ou estagnando um tipo de elemento natural 
com outro. Assim, é com amorosidade e alegria (Fogo) que nos livramos da depressão (Metal); é com respiração 
profunda (Metal) que aliviamos a raiva impulsiva (Madeira); com agressividade e movimento (Madeira) que saímos 
da estagnação e da indecisão (Terra), é com clareza e um forte posicionamento (Terra) que encaramos nossos medos 
(Água); e é com gentileza (Água) que conquistamos o coração daqueles que se tornaram frios para amar (Fogo). 
15 
 
natal, mês natal, hora natal, além da quantidade de Chi nos órgãos internos15 e outros aspectos 
que podem ser usados como ponto de partida tanto para o processo de desenvolvimento na 
Alquimia Interior quanto na Psicoterapia. 
Sendo assim, nesse rito de passagem que é o nascimento, onde o feto morre para nascer 
o bebê, há uma impressão na Alma desse Ser que define uma quantidade de Yin e Yang, dos 
Cinco Elementos e das energias arquetípicas que ali se encontravam presentes. Para ter saúde e 
nos desenvolvermos precisamos aprender, por exemplo, a controlar um Yang que originalmente 
estava em 65% e nutrir um Yin que estava em 35%, desenvolvendo Chun, a Energia do Meio. 
 
 
Quadro 2 - As fases da vida, os arquétipos e idades ideais de acordo com a sequência Fibonacci estudados por 
Mauro Pozatti (2003), relacionados aos elementos chineses: 
 
 
Fase da Vida 
Madeira 
(Fígado/Olhos) 
Fogo 
(Coração/Língua) 
Água 
(Rins/Ouvidos) 
Metal 
(Pulmões/Nariz) 
Nascimento (0-1) - - - - 
Infância (1-8) Criança Divina Criança Edipiana Criança Herói Criança Precoce 
Puberdade (8-13) - - - - 
Adolescência (13-21) Pioneiro Amante Mensageiro Aprendiz 
Juventude (21-34) Rei Curador Guerreiro Mago 
Adultez (34-55) Visionário Artesão Líder Sábio 
Maturidade (55-76) - - - - 
Ancianidade Jovem 
(76-89) 
Visionário Artesão Líder Sábio 
Ancianidade Madura 
(89-110) 
Rei Curador Guerreiro Mago 
Ancianidade Velha 
(110-123) 
Pioneiro Amante Mensageiro Aprendiz 
Velhice (123-131) - - - - 
Senectude (131-144) 
Criança Divina 
*desligamento da 
intuição 
Criança Edipiana 
*desligamento das 
sensações 
Criança Herói 
*desligamento dos 
pensamentos 
Criança Precoce 
*desligamento das 
emoções 
 
O bebê e depois a criança vão viver a dança de seus padrões de nascimento (qualidade 
das Energias Pré-Natais recebidas, sua Energia Cármica Pessoal e as marcas energéticas do trauma 
de nascimento) com os padrões do tempo histórico em que estará vivendo (energia do Céu, ou 
tempo) e os padrões climáticos, geológicos e estruturais do lugar em que nasceu (energia da 
Terra, ou espaço). Suas matrizes energéticas ainda terão influência dos padrões e arquétipos do 
espectro de desenvolvimento humano: os arquétipos supramentais que regem cada fase de vida 
(POZATTI, 2007; 2003), as capacidades advindas da integração de cada novo estágio de 
 
15
 Tendo em vista que a medicina tradicional chinesa defende que precisamos ter a quantidade dos cinco elementos 
equilibrada para ter saúde, saber quais energias precisam ser diminuídas ou nutridas e também conhecer quais talentos 
potencialmente a energia do nosso signo natal nos oferece pode ser muito útil ao desenvolvimento pessoal. Conhecer 
esses padrões e usá-los a nosso favor ao invés de se opor a eles também é fluir com o Tao. 
16 
 
consciência ou 
v
Meme (BECK;COWAN, 2000) e da maturação da estrutura biológica 
correspondente, que suporta esse desenvolvimento interno. 
No estágio de indiferenciação hermafrodita (COLEGRAVE, 1992) e heterônomo 
(PIAGET, 1972) do Wu Chi (até por volta de 7 ou 8 anos), a criança é influenciada por quatro 
arquétipos principais: a criança divina, a criança edipiana, a criança precoce e a criança herói
16
. 
Esse período merece nossa profunda atenção por ocorrer aqui a origem de uma doença 
transpessoal recorrente em muitos praticantes da Alquimia Interna: o mal-iogue (WILBER, 
2009). 
Após o processo de nascimento e passagem do bebê pelas matrizes perinatais básicas 
(GROF, 2000), que ocorrem num fluxo criativo (sheng ) como descreve energeticamente a 
tradição chinesa, a vida da criança vai passar a fluir, como a de todos os outros seres vivos, em 
um ciclo de subtração arquetipicamente, vivenciando um padrão de perda de suas energias para 
o cosmo, o que é considerado no Taoísmo a razão da morte. Ou seja, após o nascimento 
começamos a morrer e precisamos nesse período de dependência física, energética, mental e 
cultural de apoio e aporte dos nossos progenitores. Quando isso não ocorre, e a mãe não 
consegue passar o amor (Chi do Fogo) para o bebê (de 0 a 1 ano e depois no primeiro ano da 
infância), este filho ficará com dificuldades de integrar as qualidades de sua criança divina, com 
esse padrão em dívida; desnutrida energeticamente de amorosidade. Na adolescência, 
juventude ou adultez, caso esse indivíduo concluir a primeira das nove fórmulas alquímicas 
taoístas, ou dedicar-se a outras práticas de abertura para os níveis transpessoais de Consciência, 
desenvolverá o mal-iogue (cujos sintomas são um fluxo desordenado e “quente” (Yang) da 
Energia Vital, o Chi, pelos meridianos (trilhos sutis por onde a energia vital flui), causando mal 
funcionamento de alguns órgãos, cansaço, e alergias características nos principais pontos de 
acupuntura (principalmente aqueles relacionados aos grandes gânglios linfáticos). Isso ocorre 
quando nossa consciência dá um salto do nível centáurico ou existencial para o psíquico (o 
primeiro nível transpessoal na classificação wilberiana). 
Esse fenômeno de desenvolvimento já observado muitas vezes por mim nos grupos de 
Chi Kung e Alquimia nem sempre é apenas prazeroso, alegre e numinoso. Como explicado por 
Wilber, e citado acima, quando estamos com uma dívida com essa “criança divina” ou seja, 
quando temos uma patologia do fulcro-2
17
, acabamos despertando a doença que deve ser 
 
16
 Para uma explicação detalhada desses padrões, consultar: Rei, Guerreiro, Mago, Amante: a redescoberta dos 
arquétipos do masculino de Robert Moore e Douglas Gilette (1993). 
17
 Os distúrbios do fulcro 2 são as patologias de personalidade narcisista. Entre elas estão a grandiosidade, o 
sentimento de que seus problemas são únicos e a falta de interesse e empatia pelos outros, apesar de nesse caso a 
pessoa buscar granjear a admiração e aprovação dos outros (WILBER, 2009, p. 64). Esses distúrbios têm origem no 
período de vida descrito. 
17 
 
tratada com o aprendizado do receber amor e a resolução de dívidas cármicas e afetivas com 
os pais ou pessoas que deveriam ter transmitido o Chi do Fogo ao bebê/criança. 
 
Quadro 3 - Desenvolvimento arquetípico do estágio do Wu Chi e suas principais patologias. Como a criança vive 
depois do nascimento no ciclo subtrativo (os Cinco Movimentos passam a aparecer na ordem inversa), ações dos 
pais usando o ciclo de rebelião ou o próprio ciclo subtrativo amenizam ou sedam o efeito do processo subtrativo 
e, assim, viver torna-se mais suportável. 
 
 
M
a
t
r
iz
e
s
 
e
 
A
r
q
u
é
t
ip
o
s
 
MPB 1 MPB 2 MPB 3 MPB 4 
Bebê / 
Criança 
Divina 
Criança 
Edipiana 
Criança 
Precoce 
Estável Comprime 
Descem os 
líquidos 
Abre-se o 
canal vaginal 
Mãe dá 
amor (o Chi 
do Fogo) 
para o bebê 
Pai injeta 
Yang 
organizador, 
definindo os 
papéis 
Pais 
clarificam as 
dúvidas e 
inibem as 
manipulações 
M
ã
e
 
 
F
il
h
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E
m
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õ
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s
 
eP
a
t
o
l
o
g
ia
s
 
Encolhido 
em fusão 
oceânica 
Não há 
saída: feto 
sente o 
medo da 
morte 
Raiva e 
vontade para 
nascer 
Nascimento 
(Luz e 
acolhimento) 
A luz 
sagrada da 
criança 
divina 
encanta a 
todos 
A criança 
edipiana 
começa a 
movimentar 
fogo e água 
despertando 
a energia 
sexual 
A criança 
precoce 
começa a 
mergulhar no 
mundo das 
informações 
e 
conheciment
os 
Mal integradas, as duas 
primeiras Matrizes 
podem gerar apatia 
aguda, síndrome da 
reencarnação (sensação 
de não querer ter 
nascido) e esquizofrenia 
Mal 
integrada, a 
Matriz 3 
pode ser a 
origem da 
apatia que 
impede o 
uso da 
vontade 
Mal 
integrada, a 
Matriz 4 é a 
origem das 
manias por 
insucesso 
(não 
reconhecer 
ou aceitar o 
próprio 
sucesso) 
Se não 
receber o 
Chi do 
Fogo, mais 
tarde a 
pessoa 
poderá 
desenvolver 
o mal-iogue 
Se não 
receber o 
Chi do 
Metal e o 
yang do pai, 
a pessoa 
terá 
dificuldade 
em ingressar 
no estágio 
yin 
Se não 
receber o Chi 
da Terra, a 
pessoa terá 
dificuldade 
de integrar o 
Herói e 
ingressar na 
fase yang 
(borderline) 
 
A integração do arquétipo do herói marca quando uma quantidade significativa de 
energia Yang tomou conta da psique da criança e começará o processo de encerramento do 
estágio do Wu Chi. Nessa fase do Wu Chi, de mergulho oceânico e apego à aprovação dos pais 
(ou referenciais adultos que substituem os pais e onde se projeta a influência do Chi Primordial) 
se formaram a maioria dos traumas e raízes das patologias psico-espirituais mais difíceis de 
resolver, pois é a idade dos primeiros fulcros (WILBER, 2009) que necessitam dos tratamentos 
mais difíceis. O mal-iogue tem origem nessa época e advém da incapacidade da mãe de 
18 
 
transmitir o Chi do Fogo (amor e alegria) ao filho, e às vezes é amplificada pelo impedimento 
do pai usar o Chi do Metal (ação correta, energia focal masculina) a partir dos 2 anos de idade 
da criança, em situações onde a mulher nega-se a abandonar o sistema de fusão mãe-bebê. 
 
 
2.2 Estágio Yang 
 É a energia masculina estruturante, que organiza a psique, tirando-a do caos primordial, 
hermafrodita indiferenciado e heterônomo do Wu Chi. Dá à criança uma identidade e papéis 
próprios (é um processo que já inicia no arquétipo do herói). É a responsável, entre outras 
coisas, pela cisão com os pais na adolescência, pela estruturação do Ego (ou “guardião” na 
terminologia de Carlos Castañeda, o antropólogo discípulo de Don Juan
18
). 
No nível espiritual, o estágio Yang ativa a energia pessoal (uma das três energias 
presentes no feto), que passa a ser o centro da psique e traz à tona os talentos pessoais, a missão 
individual, além dos traços cármicos individuais e memórias de vidas passadas. Essa é a razão, 
segundo a tradição taoísta, do porquê a partir da adolescência algumas pessoas destoam tanto 
dos padrões da própria criação familiar e muitas vezes se tornam indivíduos que vão romper 
com toda sua cultura local, manifestando os padrões que vieram arraigados em sua alma (Huen). 
É recomendável iniciar aqui os trabalhos de ampliação de consciência que ajudam a estruturar 
melhor o Ego (ritos de iniciação) ou a despertar o Chi Cármico Individual, usando para isso 
Terapias de Vidas Passadas (TVP), Renascimento, Respiração Holotrópica ou até as técnicas de 
Regressão. 
 Em algum momento desse período, haverá a virada biológica para a adolescência e 
depois para a juventude, com as transformações da puberdade (regida pelo elemento Terra). 
Nesse momento, a psique se relaciona com quatro arquétipos que rompem com o Wu Chi 
(Dragão, Serpente, Cavalo e Cabra) e outros quatro que estabilizam a energia Yang (Macaco, 
Galo, Cão e Javali). É um período de formação técnico-científica (especialização, não 
necessariamente vivenciado dentro do meio acadêmico formal), precedido pela estruturação 
hierárquica e às vezes algorítmica da rotina e da própria vida. 
 
 
 
 
 
18
 Para compreender melhor o caminho do guerreiro ensinado por Don Juan e outros mestres indígenas a Carlos 
Castañeda, e perceber a semelhança com o Taoísmo ler principalmente: “Uma estranha realidade” (1971), “Viagem 
a Ixtlan” (1972), “Porta para o Infinito” (1975), “O presente da águia” (1981) e “Passes Mágicos” (1998). 
19 
 
Quadro 4 - Arquétipos psicológicos vivenciados pelo jovem e pelo adulto e sua correspondência com os arquétipos 
da astrologia ocidental, arquétipos animais chineses e divindades do Onmyoudou (japonesas). 
 
 
Arquétipos 
Psicológicos 
Astrologia 
Ocidental 
Arquétipos 
Animais 
Divindades do Taoísmo 
Japonês 
Criança Divina - Dragão Azul Seiryu 
Criança Edipiana - Faisão Vermelho Suzaku 
Criança Precoce - Tigre Branco Byakko 
Criança Herói - Tartaruga Negra Genbu 
Pioneiro(a) Áries Dragão/Crocodilo Shiyozushi no Kami 
Amante Touro Serpente Kami Musubi no Kami 
Mensageiro(a) Gêmeos Cavalo Hachiman Kami 
Aprendiz Câncer Cabra/Ovelha Tsukuyomi no Mikoto 
Rei Leão Macaco Amaterasu Ōmikami 
Curador(a) Virgem Galo Ayakashikome no Kami 
Guerreiro(a) Libra Cão Kunino Tokotachi no Kami 
Mago(a) Escorpião Javali/Porco Uhijimi no Kami 
Visionário(a) Sagitário Rato Ninigi no Mikoto 
Artesã(o) Capricórnio Búfalo/Boi Tachikarawo no Kami 
Líder Aquário Tigre Suzanowo no Mikoto 
Sábio(a) Peixes Coelho/Gato Ōkuni Nushi no Mikoto 
Ser Harmônico Serpentário* Fênix Dourada Rikudou Seenin 
 
 
2.3 Estágio Yin 
 Yin é a energia feminina receptiva e fluída. Quando integrada me torno sensível ao ritmo 
natural, aceito a mim mesmo, aos outros e principalmente aceito os altos e baixos do destino. 
Tendo adquirido a capacidade da aceitação também me livro das expectativas (negação do 
natural fluir entre sucessos e insucessos, saúde e doença, bem e mal) e dos controles em geral. É 
o rompimento final com o Wu Chi e a entrada na energia feminina amadurecida, que me incita 
novas visões de mundo mais holísticas e abrangentes. Aparece já mesclada ao Yang nos 
arquétipos do Macaco, Galo, Cão e Javali, mas surge em seu máximo brilho feminino holístico 
com a visão pluralista e integrativa (
vMeme Verde em diante, para os habituados com a 
nomenclatura de Beck e Cowan
19
) dos arquétipos do Rato, Búfalo, Tigre e Coelho. Com a 
integração dos 12 (e assim completando os 12 tempos yang, ou a primeira etapa dos 12 ramos 
terrestres) surge a possibilidade de vivenciar o Ser Harmônico, na figura do Sábio que sobe a 
Montanha (o Eremita Imortal) para unir-se à Natureza (Hsing ), ao Tao, na fase de vida chamada 
de “Maturidade” por Pozatti (2007; 2003). 
 
19
 Beck, D.; Cowan C C. A Dinâmica da Espiral. Lisboa: Instituto Piaget, 2000. 
20 
 
2.4 Estágio Tai Chi 
 É a fusão andrógina espiritual de Yin e Yang. Após os primeiros estágios da Madeira e 
do Fogo (0 aos 55 anos) o corpo faz uma virada biológica (menopausa e andropausa) que 
suaviza os aspectos de extremo Yin ou extremo Yang morfológico e prepara terreno para a 
mesma fusão que acontece na psique. Culturalmente temos ficado presos nos estágios egóicos, 
inclusive tendo dificuldade em integrar o estágio existencial/centáurico que faz a fusão mente-
corpo (essa fusão só ocorre com a integração do estágio Yin). Essa dificuldade tem acontecido 
pela nossa fixação em nos mantermos com a aparência física e as funções da primeira metade 
da vida e acaba dificultando a entrada e a estabilização dos estágios transpessoais (aqui 
condensados na fase Tai Chi ). Com a estrutura corporal tendendo à androginia temos mais 
facilidade em integrar Yin e Yang e manifestá-lo em nosso corpo, promovendo a fusão das 
capacidades transpessoais na dimensão compartilhada. Todo esse processo nos prepara para o 
retorno consciente á fonte original, ao Vazio Primordial por trás de todas as formas,o Wu Chi. 
No taoísmo, a principal prova do alcance deste estágio, também conhecido como imortalidade 
espiritual (o penúltimo estágio de evolução) é a capacidade de estar consciente nos sonhos, 
vivendo-os lucidamente assim como se vive a dimensão material compartilhada 
(CHIA;HUANG, 2004; WILSON, 2004). 
 
 
2.5 Segundo Estágio Wu Chi 
 A entrada consciente no estágio do Wu Chi, após o desenvolvimento completo da 
psique passando pelas outras fases ou estágios representa a rara e máxima realização psico-
espiritual. Seria a transição daquele estágio descrito por Ken Wilber como a passagem dos 
estágios Sutil e Causal para o Não-Dual, atingido por apenas alguns poucos personagens das 
mitologias do mundo. Para os taoístas é o alcance da imortalidade físico-espiritual caracterizada 
por episódios onde certos sábios se desmaterializavam e voltavam a se materializar e que 
encontramos na literatura como quando Don Juan surpreendia Carlos Castañeda, quando 
Morihei Ueshiba safou-se dos disparos do pelotão policial no famoso desafio da linha de tiro 
(GOZO, 2010), quando os sábios chineses apareceram para uma estudante de alquimia interna 
após a caça do governo chinês da revolução cultural maoísta
20
 (BLOFELD, 1986), entre outros. 
 
 
20
 Situação onde muitos mestres taoístas foram assassinados. 
21 
 
3 Práticas Taoístas na Psicoterapia Transpessoal 
Enquanto complementação e teoria-base, tanto a visão taoísta quanto os princípios da 
Medicina Tradicional Chinesa, ou MTC (que são princípios oriundos do Taoísmo), podem 
contribuir para uma melhor estruturação da Psicologia Transpessoal, assim como propôs Grof 
em relação à toda medicina e psicoterapia ocidentais (GROF 2011; 2000). Essa afirmação se 
justifica pelo poder de percebera correlação entre os diversos sistemas que compõe o Ser, tanto 
no aspecto físico quanto emocional, mental e espiritual. Os ciclos de controle e criação, bem 
como as mutações dos padrões energéticos de tempo e de níveis de manifestação da vida se 
intercruzam e os antigos chineses deixaram toda essa tecnologia de como ler essas correlações à 
nossa disposição. Além desses aspectos que resumidamente já abordamos e que não poderemos 
explorar completamente em um artigo breve, há várias considerações que podemos tecer sobre 
técnicas e abordagens. Algumas dessas considerações seguem nos textos abaixo. 
 
 
3.1 Ampliando as intervenções do facilitador de Respiração Holotrópica 
Há algumas questões de relativa facilidade em relação a uma possível integração dos 
princípios da MTC na Respiração Holotrópica. A primeira é o aprendizado da leitura corporal 
através da teoria dos 5 elementos. Invariavelmente o respirante expressa em seu corpo 
enquanto metáfora algo que remete à energia de um dos 5 elementos (ou mais deles ao longo 
da sessão), pode-se criar situações de amplificação usando uma intervenção que aumente a 
energia desejada (através do ciclo criativo) ou utilizar dos pontos de acupuntura nas 
intervenções. Venho experimentando essa abordagem da acupressura há cerca de dois anos com 
muito sucesso. A intervenção superior é feita pelo “alquimista interior”, que com os oito vasos 
maravilhosos ativados (processo que ocorre com aqueles que estão em estágios avançados da 
Alquimia). Em outras tradições a abertura dos 8 meridianos principais que nos conectam com 
as energias supra cósmicas são conhecidos por metáforas como “abrir as asas de anjo” entre 
outras, mas não deveriam ser tão mistificizadas já que há métodos de desenvolvimento e 
estruturação dessas capacidades humanas. Na intervenção avançada o facilitador é capaz de 
atuar diretamente no campo do respirante em processos semelhantes às curas xamânicas ou 
àquelas feitas pelos grandes curadores e sábios das mitologias do mundo. 
Uma prática extremamente positiva dentro dessa abordagem tem sido o uso dos pontos 
dos dois vasos maravilhosos principais para amplificação de energias emocionais durante as 
sessões de Respiração. Tratam-se de pontos onde a pessoa recebe alguns tipos de 
energia/informação (os pontos do meridiano do governo, yang, localizado predominantemente 
no dorso) e onde manifesta esses mesmos tipos de energia/informação (pontos do meridiano 
22 
 
da concepção, yin, localizado na loja anterior). Abaixo segue esquemático desses pontos e seu 
significado: 
 
 
Yung-chuan - K-1 (fonte borbulhante): ligação com a energia da Terra; 
Hui-yin - Períneo (Porta da vida e da morte): ligeiramente contraído a energia circula – totalmente relaxado perda da energia 
o que leva a morte; 
Chang-chang - Sacro (oito furos dos imortais): Onde a energia se esfria para ser utilizada com segurança - fechado pode nos 
fazer ter muita resistência a confiar nas outras pessoas. 
Ming-men - porta da vida: Abre a conexão com outras dimensões energéticas e recupera a energia Jing 
(ancestral/primordial); Assim como o sacro, quando fechado pode nos fazer ter muita resistência a confiar nas outras pessoas. 
Chi-Chung - T-11: Ponto contrário ao plexo solar – insegurança, ponto do poder pessoal (assertividade) fechado a pessoa se 
torna invisível e sem conseguir se fazer acreditar, além de ter dificuldade com autoridade vinda dos outros; 
Gia-pe - T-5: oposto ao timo - aceitar amor vindo dos outros; 
Ta-chui - C-7: Ponto de controle da mente racional – quando fechado a mente manda em tudo e aberto traz leveza e condição 
de deixar fluir a energia para a mente pura (atrás do pescoço no osso mais protuberante das costas, perto do cérebro - centro 
de controle da mente sobre o corpo); Fechado leva a pessoa a comportamentos de muita teimosia, às vezes aparecendo 
fisicamente na forma de um pequeno acúmulo de gorduras nesse ponto. 
Yui-gen - C-1 (almofada de jade): quando aberto a energia flui dentro do cérebro – e fechado leva à “cabeça dura”, pessoas 
agarradas a opiniões; 
Pai-Hui - Coroa: conexão espiritual - energia do Céu (Shen); 
Yin-tang - Terceiro olho: visão sutil/intuição - por onde absorvo o Chi dourado; 
Palato + língua: conexão entre o canal yin frente do corpo e yang as costas com a coluna (dois canais de dois vasos 
maravilhosos); 
Hsuan-chi - Garganta: expressão/fala; 
Shan-chung - Timo: amorosidade/sistema imune; 
Chun-wan - Plexo Solar: poder pessoal; 
Chi-chung - Umbigo: Centro do corpo - energia estabilizadora; 
Chi-hai - Ventre, mar de Chi: palácio dos ovários/ do esperma - sexualidade. 
 
 
Figura 6 – Pontos da Órbita Microcósmica formada pelos dois vasos maravilhosos principais. 
 
3.2 Ampliando horizontes do psicoterapeuta de orientação transpessoal 
Na terapia, o uso do mapa dos oito trigramas e da noção do sistema dos 5 elementos 
na resolução dos dramas e traumas do paciente é muito útil. Podemos recorrer a essa simbologia 
23 
 
para ler em qual estágio e estado está o paciente. A partir dessa leitura (que normalmente seria 
um misto de leitura corporal, leitura do Chi, leitura dos padrões de comportamento e dos fatos 
da vida diária, além do próprio mapa astral e outras ferramentas semelhantes). As várias 
dimensões do paciente podem ser correlacionadas em um padrão completo a partir da 
percepção de como os elementos estão afetando sua saúde, relações, metas, sonhos e outros. 
Algumas doenças físicas ou comportamentos marcantes podem ser usados como pistas 
durante a “investigação” para construção do perfil do paciente: quando algum órgão dos 
sentidos ou um dos órgãos principais está doente sabemos que a pessoa está com excesso ou 
falta de alguma das formas do Chi, o que a levou a gerar essa mesma doença. Nesse caso 
podemos observar quando alguém está com tensões excessivas no masseter, ou com alguma 
doença nos olhos e saber que algum desequilíbrio acomete seu fígado (na Alquimia Interna o 
pai desses dois outros órgãos). 
A MTC também nos mostrará que o meridiano da vesícula biliar (a víscera, fu, associada 
ao fígado) passa pelo masseter,corre por trás da cabeça e termina nos olhos. Isso revela que 
qualquer energia do elemento madeira não saudável será compartilhada pelos órgãos do 
elemento madeira (fígado e vesícula biliar) e a doença não necessariamente se manifestará nesses 
órgãos, mas sim em seus correlatos. Dentro disso, as alergias, bruxismo e doenças oculares são 
causadas por raiva reprimida e jogada na Sombra, que se manifesta no corpo através do 
processo psicossomático. Sendo assim, toda emoção natural contida ou negada, bem como 
todas as faltas de estágios não integrados na vida (como as qualidades dos arquétipos que 
eventualmente não são desenvolvidas pelo indivíduo) acabarão se manifestando de uma forma 
ou outra como doença física para dar vazão e contrapor a repressão psico-energética. Por mais 
doloroso que sejam, esses fenômenos são apenas tentativas de reequilibração do Ser, que 
procura voltar “para o centro” expurgando as energias que lhe são maléficas de alguma forma. 
O processo terapêutico pode ajudar o paciente a integrar esses temas e energias para evitar as 
doenças e aceleração do envelhecimento. 
De forma mais ampla, podemos dizer que é trabalho do psicoterapeuta de orientação 
transpessoal e taoísta facilitar o processo de seus pacientes em compreender que certas dores 
são parte do processo de crescimento. Que negamos em nossa cultura alguns dos cinco 
movimentos (é “feio” sentir raiva e tristeza na maioria das famílias, por exemplo), mas tudo 
isso é parte da nossa natureza humana e deve ser integrado para que alcancemos o estado de 
completar a mais bela escultura de nós mesmos (SOUZA, 2007). 
 
 
 
24 
 
3.3 Interpretação taoísta dos sonhos 
Nada é mais importante na Alquimia Interior taoísta do que os órgãos internos. Cada 
um deles é reconhecido como uma entidade viva, um hólon que possui inteligência e vida 
própria. Nos sonhos, nossa alma nos comunica sobre o estado sutil dessas inteligências internas, 
às vezes nos comunicando de que estão fortes e poderosas, outras vezes alertando de que estão 
enfermas ou se direcionando para a doença. Apesar de raros, e de necessitarmos muito cuidado 
para classificar dentro destas exceções certos sonhos, o Taoísmo reconhece a existência dos 
“sonhos anomalíticos”, como os sonhos precognitivos e os sonhos iniciático onde inclusive 
alguma etapa do processo alquímico pode ser revelada (WILSON, 2004). 
A simbologia taoísta básica para os sonhos defende que o conteúdo do sonho somos 
nós mesmos e cada um dos personagens ou locais é uma manifestação dos 5 elementos e dos 
órgãos. O clima e o relevo do local são relacionados aos elementos. Pessoas vestidas com roupas 
coloridas ou animais pouco comuns são arquétipos que remetem aos nossos órgãos. Dentro 
dessa lógica, relatou certa vez um estudante de Tai Chi Chuan: “Sonhei que um bando de 
assaltantes vestidos de preto e fortemente armados tentava invadir minha casa. Quando quase 
conseguiam meu avô vestido com uma jaqueta de lona azul escura surgiu e os espantou com 
tiros de espingarda”. A interpretação taoísta tenderia para a explicação de que conteúdos da 
Sombra estão procurando emergir com intensidade (assaltantes vestidos de preto e fortemente 
armados tentava invadir a casa), mas há algum padrão ou convicção que provavelmente se 
origina na ancestralidade (Jing ) que reprime esses conteúdos (avô vestido com uma jaqueta de 
lona azul escura, como a energia os rins, disparando com uma espingarda). 
Em geral, essas interpretações que revelam órgãos, emoções e energias envolvidas são 
extremamente úteis para amplificar os efeitos dos estudantes de Alquimia Interna, Chi Kung e 
Tai Chi Chuan, que precisam “limpar” as emoções desequilibradas e integrar as diversas 
capacidades da sua alma para alcançar níveis mais elevados de suas práticas. Abaixo uma tabela 
com as principais relações simbólicas dos 5 elementos: 
 
 
 
 
25 
 
Quadro 5 - Principais relações dos Cinco Movimentos. 
 
Elemento Cor 
Órgão e 
Víscera 
Abertura 
Emoção 
Positiva 
Emoção 
Negativa 
Função da 
Consciência 
Madeira 
*cresce para 
todas as 
direções 
Verde 
Fígado, 
Vesícula Biliar 
Olhos 
(visão) 
Bondade, 
Atitude 
(vontade) 
Raiva, Ira Intuição 
Fogo 
*se eleva 
Vermelho 
Coração, 
Intestino 
Delgado 
Língua 
(paladar) 
Alegria, 
Amor 
Ódio, 
Impaciência 
Sensação 
Terra 
*estabiliza 
Amarelo/ 
Dourado 
Baço-
pâncreas, 
Estômago 
Boca (tato) 
Equilíbrio, 
Clareza 
Confusão, 
Indecisão 
Transcendência 
Metal 
*foca 
Branco/ 
Prateado 
Pulmões, 
Intestino 
Grosso 
Nariz (olfato) 
Coragem, 
Justiça 
Tristeza, 
Depressão 
Sentimento 
Água 
*escorre/ 
desce 
Azul Escuro/ 
Preto 
Rins, Bexiga 
Ouvidos 
(audição) 
Suavidade, 
Gentileza 
Medo Pensamento 
 
Elemento 
Arquétipo 
Animal 
Arquétipo 
Astrológico 
Arquétipo 
Platônico 
Valor 
Humano 
Ação 
Educativa 
Tipo de 
Meditação 
Madeira 
*cresce para 
todas as 
direções 
Dragão 
Verde (Qing 
Long) 
Sagitário 
(Visionário) 
Visão Verdade 
Aprender a 
Conhecer 
Caminhando 
Fogo 
*se eleva 
Faisão 
Vermelho 
(Zhu Que) 
Virgem 
(Curador) 
Amor Amor 
Aprender a 
Amar 
Deitado 
Terra 
*estabiliza 
Dragão 
Amarelo 
(Huang 
Long) 
- - Paz 
Aprender a 
Ser 
- 
Metal 
*foca 
Tigre Branca 
(Bai Hu) 
Peixes (Sábio) Sabedoria 
Não 
violência 
Aprender a 
conviver 
Sentado 
Água 
*escorre/ 
desce 
Tartaruga 
Negra 
(Xuan Wu) 
Libra 
(Guerreiro) 
Poder Ação Correta 
Aprender a 
Fazer 
Em pé 
 
Elemento 
Virtude Taoísta 
(afirmação) 
Virtude Taoísta 
(negação) 
Estação 
(Clima) 
Planeta 
Bálsamo de 
Cura 
Instrumento 
Musical 
Madeira 
*cresce para 
todas as 
direções 
Bondade 
Forma / 
aparência 
Primavera 
(germinação, 
ventoso) 
Júpiter Canto 
Sinos ou 
címbalos 
Fogo 
*se eleva 
Polidez Emoção 
Verão 
(amplificação, 
calor) 
Marte 
Contar 
histórias 
Tambores 
Terra 
*estabiliza 
Sinceridade 
Pensamento / 
intenção 
Veranico 
(estabilização, 
úmido) 
Saturno Dormir - 
Metal 
*foca 
Justiça Ação 
Outono 
(secura) 
Vênus Silêncio 
Ossos ou 
paus que 
clicam 
Água 
*escorre/ 
desce 
Sabedoria 
Inteligência / 
conhecimento 
Inverno (frio) Mercúrio Dança 
Chocalhos 
ou maracas 
 
 
26 
 
4 O diálogo entre Psicologia Transpessoal e a milenar Alquimia Interna Chinesa 
 
Primeiramente gostaria de reforçar as informações já trazidas de forma menos 
condensada anteriormente e dialogar a simbologia taoísta com a simbologia usada por Pozatti 
em seus estudos. Com “máscaras” diferentes (CAMPBELL, 2008), ambas as visões acabam nos 
falando dos mesmos padrões de informação/energia. A tabela abaixo expressa essa correlação, 
fundamental para que dancemos entre o Tao e a Psicologia Transpessoal: 
 
Quadro 6 - Relações entre Psicologia Transpessoal e Taoísmo. 
 
 
Psicologia Transpessoal 
(Grof, Wilber, Jung, Pozatti) 
Taoísmo 
(Chern, Chia, Maciocia, Colegrave) 
Elementos (1)Terra, (2) Água, (3) Ar, (4) Fogo, (5) Éter. 
(1)Fogo, (2) Metal, (3) Água, (4) Madeira, (5) 
Terra. 
Arquétipos 
(1) Pioneiro, (2) Amante, (3) Mensageiro, (4) 
Aprendiz, (5) Rei, (6) Curador, (7) Guerreiro, 
(8) Mago, (9) Visionário, (10) Artesão, (11) 
Líder, (12) Sábio, (13) Ser Harmônico. 
(1) Dragão, (2) Serpente, (3) Cavalo, (4) Cabra, 
(5) Macaco, (6) Galo, (7) Cão, (8) Javali, (9) 
Rato, (10) Búfalo, (11) Tigre, (12) Coelho, (13) 
Eremita Imortal. 
MPBs 
Matriz 1 (Beta), Matriz 2 (Gama), Matriz 
3(Delta), Matriz 4(Alfa). 
Digrama Síntese do I-Ching, Digrama Mudança 
do I-Ching, Digrama Transformação do I-Ching, 
Digrama Permanência do I-Ching. 
Fases da 
Vida 
(1) Nascimento à Adolescência, (2) Juventude à 
Adultez, (3) Maturidade, (4) Ancianidade, (5) 
Velhice à Senectude. 
(1) Madeira, (2) Fogo, (3) Terra, (4) Metal, (5) 
Água 
Níveis de 
Consciência 
(1) Matéria, (2) Corpo, (3) Mente, (4) Alma, (5) 
Espírito, (6) Não-Dualidade. 
(1) Wún, (2) Jing,(3) Chi, (4) Shen, (5) Xu, (6) 
Tao/Wu Chi. 
Três Grandes 
Eu (Verdade Subjetiva), Nós (Verdade 
Intersubjetiva), Isto (Verdade Objetiva). 
Tian (Céu), Ren (Homem), Kun (Terra). 
 
Da mesma maneira esta pesquisa possibilitou compreender como os números da 
sequência Fibonacci, que fundamentam a teoria das fases da vida de Pozatti, também aparecem 
no Taoísmo e em outras tradições, inclusive a psicologia. Esses números têm, entre outras 
propriedades, a possibilidade de obtermos uma constante sempre que um deles é dividido por 
seu antecessor (o número de ouro). Essa constante de ouro é capaz de gerar, quando seus 
números são plotados como um dos lados de um quadrado, figuras que geram o formato de 
uma espiral idêntica àquela usada pelos chineses de 5 mil anos atrás para representar o símbolo 
da Claridade e da Obscuridade (o Tai Chi, mais conhecido como o símbolo do Yin e Yang). 
Estes números são conhecidos por estarem intimamente ligados a como se dão as formas 
na Natureza, e podemos citar como exemplos de sua aparição na disposição dos galhos das 
árvores, ou arranjo de folhas em uma haste, dos cones da alcachofra e do abacaxi, do desenrolar 
da samambaia, da distribuição das sementes do girassol, dos bastonetes nos olhos dos insetos, 
nas pinhas, na concha do nautilus, na dentição e na forma da orelha humana, o tempo de 
27 
 
reprodução das abelhas e muitos outros casos. Apresento abaixo os resultados do confronto 
entre esses números e os conceitos centrais do Taoísmo: 
 
Quadro 7 - significados dos primeiros números da espiral dourada no Taoísmo. 
Sequência 
Fibonacci 
Taoísmo Comentário 
0 Wu Chi (o Vazio 
Primordial Metacósmico 
que não possui formas, 
mas possui todas as 
formas e forças em 
potencial) 
Wu Chi, literalmente traduzido como “ausência do cume”, é a parte 
não manifestada do Tao, algo inatingível pela apreensão humana. Nos 
Sete Sermões aos Mortos, Jung usou a denominação gnóstica 
“Pleroma” para falar do Wu Chi e Carlos Castañeda ouviu de seus 
mestres toltecas histórias sobre ele como o Nagual. Jamie Sams explica 
que os indígenas norte-americanos o chamam de “Grande Mistério”. 
1 Tai Chi (o Altíssimo a 
partir do qual se 
manifestam todas as 
formas que são percebidas 
através de opostos 
complementares) 
Tai Chi, literalmente traduzido como “grande cume” é a mais ampla 
abrangência da parte manifestada do Tao, incluindo-se aí todo o tipo 
de formas materiais e imateriais. Nos Sete Sermões aos Mortos, Jung 
usou a denominação gnóstica “Demiurgo” para falar do Tai Chi e 
Carlos Castañeda ouviu de seus mestres toltecas histórias sobre ele 
como o Tonal. Jamie Sams explica que os indígenas norte-americanos 
o chamam de “Grande Espírito”. 
0+1 = 1 Mente Yi ou Tai Yi Yi é a intenção, a Consciência através da qual se unem os três tesouros 
pessoais (hsia tantien, zhong tantien e shang tantien ), criando uma 
intenção de “três mentes em uma mente”, unindo razão, emoção e 
tesão. A Mente Yi que leva ao avanço na Alquimia Interna é 
equivalente à ação do Demiurgo de Jung e ao Intento de Castañeda. 
1+1 = 2 Yin e Yang (Luz e Sombra) Yin e Yang, literalmente traduzidos como “claridade e obscuridade”, 
são os polos complementares através dos quais todas as manifestações 
se tornam conscientes: conhecemos o claro por opô-lo ao escuro, 
conhecemos o bem por opô-lo ao mal, o positivo ao negativo, o 
masculino ao feminino. Nos Sete Sermões aos Mortos, Jung usou a 
denominação “Diabo e Deus” para falar do Yin e do Yang. 
2+1 = 3 San Bao (Três Puros, Três 
Tesouros ou Três Poderes) 
Os Três Puros são as três grandes partes do Tai Chi, as três energias ou 
padrões de informação denominadas Energia da Terra ou “Kun”, 
Energia Cósmica (Energia do Plano Humano) ou “Ren” e a Energia 
Celeste (Espiritual) ou “Tian”. No ser humano essas energias (também 
chamadas de Jing, Chi e Shen) são armazenadas respectivamente no 
hsia tantien, zhong tantien e shang tantien. Estão relacionados com as 
trindades: Denso (Kun), Movimento (Ren) e Sutil (Tian) e com o que 
o xamanismo chama de “Mundo Inferior”, “Terra” e “Mundo 
Superior”. A relação com os “Três Grandes” da filosofia também ocorre 
quando nos defrontams 
3+2 = 5 Wu Hsing (Cinco 
Princípios ou Cinco 
Forças) 
 
*Quando presentes em 
seus aspectos Yin e Yang 
são os 10 troncos celestes. 
Wu Hsing, literalmente traduzido como “cinco movimentos”, são os 
cinco padrões de comportamento das formas de energia. Praticamente 
todas as tradições sapienciais apresentam um mapa de cinco ou quatro 
elementos que está diretamente relacionado ao Wu Hsing, sejam esses 
mapas correspondentes diretamente aos 5 movimentos chineses ou aos 
quatro que tem um centro. 
5+3 = 8 Pa Kua (Oito Figuras ou 
Oito Trigramas) 
Pa Kua, literalmente traduzido como “oito figuras”, são os padrões da 
manifestação dos elementos naturais. A partir dessas oito figuras 
desenvolveram-se inúmeros conhecimentos da cultura chinesa, entre 
eles os Hexagramas do I-Ching, os princípios do Tai Chi Chuan e de 
algumas fórmulas do Chi Kung , além das regras do Feng Shui. 
8+5 = 13 Doze Ramos Terrestres e 
o Rei do Céu 
 
*Os 12 Ramos Terrestres 
são os aspectos Yin e Yang 
dos Seis Sopros. 
Os doze Ramos Terrestres são as doze frações de divisão do Tempo, 
grandeza pela qual recebemos a influência de doze arquétipos que 
influenciam a psique humana. As mais conhecidas formas de se 
conhecer a influência desse tempo arquetípico são a astrologia (tanto 
pelo mapa natal quanto pelos trânsitos) e o estudo das fases da vida. 
28 
 
Outra abordagem extremamente útil na psicoterapia e no desenvolvimento em grupos 
de Chi Kung ou Tai Chi Chuan é o uso da Medicina Interior (BURGOS, 2006) com uma pequena 
adaptação: o autor trata como chakras os três Tantien. Com essa aproximação da visão budista 
da visão taoísta complementamos a primeira com um aspecto útil: sendo os três chakras na 
verdade os três Tantien, e com cada um deles relacionado a um dos três tesouros (Jing, Chi e 
Shen), eles também se correlacionam da mesma maneira que os cinco elementos. É por isso que 
as patologias descritas por Burgos afetam o indivíduo, ou seja, a pessoa que sofre de 
esvaziamento
21
 do Chi no Tantien Médio acaba desenvolvendo a aversão (que é a falta de 
empatia om a energia humana) e morre precocemente, sozinha e vive entrando em conflito 
com tudo e todos. A pessoa com esvaziamento do Jing no Tantien Inferior acaba insatisfeita, 
gerando vontades autodestrutivas e suicidas, exatamente por não conectar-se ao prazer e à 
energia sexual. E por fim, o esvaziamento do Shen no Tantien Superior transforma as pessoas 
em buscadoras confusas, em sujeitos indiferentes que não se conectam com as emoções e os 
sonhos e vivem na prisão do ego racional, desenvolvendo ao final algum mal do sistema 
linfático-endócrino. 
Muitas outras questões que não cabem aqui confirmam as conclusões e a eficácia da 
Medicina Interior, que ainda pode ser ampliada com os princípios da Medicina Tradicional 
Chinesa e da Alquimia Interna Taoísta em estudos futuros. Abaixo um mapa dos três Tantien e 
seu ciclo relacional: 
 
 
Figura 7 – Ciclos dos Tantien na Medicina Interior. 
 
21 No trabalho original da Medicina Interior o autor teorizou que as pessoas têm um perfil ligado à aversão, apego ou 
indiferença e por isso sofrem e desenvolvem as patologias. O que propomos aqui é que a pessoa não está carregada das 
energias dos Tantien e por isso não estando inteira desenvolve os traços não-virtuosos na personalidade. 
29 
 
Por fim, além da fusão , das duas correntes de pensamento e prática aqui estudadas 
(Taoísmo e Psicologia Transpessoal), se faz necessário algumas considerações pessoais. As 
páginas que precedem este parágrafo final são o produto de um árduo trabalho de leitura e 
muita reflexão iniciado em 2013, desde o contato com a MedicinaInterior de background 
budista (estudo importantíssimo e que foi deixado propositalmente para o final). Não tenho 
dúvidas que o porte dos conhecimentos da tradição budista para uma teoria e prática que 
pudesse ser vista como terapia transpessoal foi a inspiração final para a geração do trabalho que 
aqui concluímos (mesmo que temporariamente já que o tema é rico e certamente pede 
ampliação e desdobramentos). 
O fato é que cada leitura e cada prática, cada observação da Natureza Externa e da 
Natureza Interna me levaram a percepção de que todo o Universo, ou melhor, de que a 
Totalidade é regida pela lei dos Cinco Movimentos e compreendê-la nos permitirá avançar de 
forma indescritível na precisão de nossa ação terapêutica, de nossa abordagem educacional e 
do cultivo de nossa saúde em todos os níveis. Percebi que, assim como para curar o mal-iogue, 
precisamos a todo momento do Amor. Não do amor enquanto uma dependência dos outros, 
mas um amor que é traduzido como a aceitação de mim mesmo como sou, dos outros como 
são e como estão, da vida como se apresenta com seus altos e baixos e do Fluxo Eterno que 
não é bom nem mal, claro nem escuro, mas todas as coisas em uma infinita transmutação 
necessária para que o Todo exista. Amar não só é cura, mas é o próprio Tao. 
 
 
 
 Tiago Oviedo Frosi 
 
Maio, 2014 
 
 
30 
 
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