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Correntes Pedagógicas Progressistas

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Disciplina: Didática
Aula 4: Correntes pedagógicas progressistas
Apresentação
Nesta aula, apresentaremos as tendências pedagógicas progressistas que se dividem em libertadora, libertária e crítico social
dos conteúdos, sendo importante compreender porque esses três modelos foram agrupados dentro da perspectiva progressistas
de ensino. Além disso, destacaremos para cada uma dessas tendências, a função da escola, como a escola se organiza, o papel
do professor e do aluno, a relação aluno-professor, os pressupostos da aprendizagem, os objetivos educacionais, a metodologia
e a avaliação escolar.
Bons estudos!
Objetivos
Diferenciar as tendências pedagógicas progressistas de ensino;
Identificar os pontos comuns entre as tendências progressistas de ensino, se apropriando criticamente acerca dos modelos
teóricos;
Reconhecer o sentido da didática nos diversos contextos sócio-históricos;
Analisar porque as tendências progressistas de ensino contribuem para a transformação da sociedade;
Reconhecer que a docência é um ato político e está articulada ao modelo de sociedade que se deseja contribuir para
construir.
Professores progressistas e tradicionais
O fato do professor se considerar progressista, crítico, não significa que não possa adotar uma prática mais tradicional,
mas, apesar disso, você sabe qual é a diferença entre esses dois tipos de professores?
Vejamos:
 Diferenças entre professores. (Fonte: Africa Studio / Shutterstock)
Professor pesquisador
O professor pesquisador aprendeu a ser autor do que faz, não reproduzindo modelos pedagógicos, não replicando
conhecimentos, de modo que, ao adotar uma prática mais tradicional, ele terá consciência sobre o que está fazendo,
conseguirá se responder sobre o sentido de sua prática e, em caso de ser questionado, argumentará com fundamento.
Professor reprodutor
Eis, aí, a diferença entre o professor pesquisador, crítico, transformador em relação ao professor reprodutor que, se for
perguntado sobre sua prática, sobre o porquê de trabalhar um determinado assunto, responderá que o motivo é porque
está no livro, no programa, na ementa, no planejamento determinado pela escola .Esse professor reprodutor, diferente
do crítico, não interiorizou o conceito de pesquisador, de sujeito autônomo.
Professor Reprodutor
Trata-se do professor fazer a escuta trabalhada, partir do óbvio, da realidade do educando e devolver de forma
sistematizada, científica, sob risco de submetê-lo à condição de opressão (velada ou não) ao sonegar a ciência a ele.
Essa não deve ser a proposta quando se compreende a educação como instrumento de libertação, de transformação de
realidades sociais.
Nesse sentido, cabe ao professor indissociar escola e sociedade, ensino e pesquisa, tendo como objeto de estudos a sua
própria prática, o cotidiano escolar.
 Professor reprodutor. (Fonte: dotshock / Shutterstock)

A opção pela metodologia da contradição é justificável, uma vez que não é possível
prever teoricamente todos os casos e situações didáticas no desenrolar do processo
educativo. Para que exista unidade entre escola e vida, entre instrução e educação, entre
saber cotidiano e saber elaborado, é preciso que o educador e o educando tenham uma
postura consciente e crítica dos contrastes sociais refletidos no processo de
ensinoaprendizagem.
Rays, 2011, p. 104.
 O professor pesquisador. (Fonte: Africa Studio / Shutterstock)
Professor Pesquisador
Eis, aí, o papel do professor pesquisador, crítico, transformador, que é aquele que se inquieta diante do desconhecido, do
concreto ainda não pensado teoricamente e que investiga, que busca respostas para sua prática, que exercita a práxis
(ação-reflexão-ação).
A práxis tem um caráter intencional e não se refere a qualquer prática, mas uma prática pensada, fundamentada. Na
práxis:

Está contida a teoria por se tratar de uma prática de um ser consciente — o que equivale
a dizer que se trata de uma prática dirigida por finalidades que são produtos da
consciência; finalidades estas que para se efetivarem exigem um mínimo de
conhecimento.
Ribeiro, 1991, p. 30.
O professor crítico, progressista não fica aprisionado ao “mito do porto seguro”, nem a uma única resposta sobre um
determinado fato, fenômeno estudado. Ele indaga mais e responde menos, instiga o pensamento crítico do aluno,
provoca a reflexão, a dúvida, administra os conflitos e não os evita; aponta as contradições sociais, adota o método da
contradição entre o que se discursa academicamente e o que se vive, de fato; a metodologia contextualizada que:

[...] nasce e renasce da situação didática em desenvolvimento, de uma situação didática
específica que envolva (em termos de proximidade) a totalidade das contradições, da
problematicidade do mundo educacional e do mundo social [...] a contradição é, sem
dúvida, o elemento gerador que leva a ação didática a proporcionar a assimilação crítica e
criativa do conhecimento e à elaboração de conhecimentos em situações didáticas
específicas e às manifestações [...] a elaboração do conhecimento é relevante para toda e
qualquer situação didática, uma vez que está diretamente ligada a sua própria
possibilidade dialética de promover mudanças na realidade que gerou a situação de
contradição e sua subsequente superação, em face do aparecimento de novos fenômenos
de natureza instrucional, educacional, política, social, cultural e econômica.
Rays, 2011, p.100-103.
Prática Pedagógica
A prática pedagógica pressupõe uma relação teórico-prática, pois a teoria e a prática encontram-se em indissolúvel
unidade, e só por um processo de abstração podemos separá-las. Em outras palavras, separadas quando o professor
disserta um conhecimento como verdade absoluta, não incluindo o aluno no processo de aprendizagem, determinando de
fora para dentro, sem endereço, sem contexto.
Como atividade humana, a prática pedagógica pode se constituir em atividade de prática, em uma visão utilitarista,
imediatista, ativista, espontaneísta e pragmatista, com um fim em si mesmo, tomando como referência exclusivamente a
própria prática ou em uma práxis guiada por intenções conscientes. De um lado, temos uma prática pedagógica
repetitiva que o professor reproduz ano após ano e não se questiona e, de outro lado, temos a prática reflexiva.
Prática pedagógica repetitiva
A unidade teoria e prática é rompida, a fragmentação do conhecimento encontra espaço para efetivar-se, havendo
dificuldades para a introdução do novo. Nesse terreno, a prática do professor vai se efetivando na estagnação, na
continuidade de uma mesma ação, mecanizada, burocratizada, formal, o que poderá leva-lo à alienação do seu
trabalho e de seus pares, parceiros de aprendizagem, correndo-se o risco de não se reconhecerem no que realizam.
Prática reflexiva
É aquela enunciada por Paulo Freire (1975, p. 9): “Ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si
mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”.
Tendências progressistas
A prática pedagógica reflexiva tem como pontos de partida e chegada a prática social, tendo como preocupação produzir
mudanças qualitativas e, para isso, procura-se munir-se de um conhecimento crítico e aprofundado da realidade.
Caracteriza-se como fonte e geradora de novos conhecimentos. Dentro dessa perspectiva, expomos a seguir as três
tendências progressistas:
Libertadora
Década de 1960
Libertária
Década de 1980
Crítico social dos conteúdos
Trataremos de cada uma delas a seguir...
Libertadora: Década de 1960
Esse modelo de Pedagogia tem Paulo Freire (1921-1997) como referência, considerado um dos maiores educadores
brasileiros do século XX.
Para esse pensador, a educação deve ser instrumento de libertação do estado de opressão. Ele defende uma prática
educativa transformadora, fundada na ética, no respeito à dignidade e à própria autonomia do educando.
Nas condições de verdadeira aprendizagem, os alunos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da
reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador,igualmente, sujeito do processo.
 Foto de Paulo Freire. (Fonte: Counter Currents
<https://countercurrents.org/2017/04/26/securing-sweetness-for-
sugarcane-souls-a-tribute-to-paulo-freire/> )

Atenção
Nessa linha de pensamento, o professor deve incentivar a curiosidade, a liberdade de expressão, a criatividade,
o pensamento crítico através da pesquisa; viver e aprender com o diferente, criar possibilidades e saber
escutar.
Nesse modelo, o professor deve dialogar sobre a negação do próprio diálogo. Ensinar exige a convicção de que
a mudança é possível. A prática pedagógica deve ser problematizadora e dialógica; levar o sujeito à reflexão
sobre o mundo, a reconstrução crítica do mundo. É um ato de criação que se estabelece entre aluno e
professor. O diálogo deve ser autêntico.
https://countercurrents.org/2017/04/26/securing-sweetness-for-sugarcane-souls-a-tribute-to-paulo-freire/
 Educação libertária. (Fonte: Odua Images / Shutterstock)
Paulo Freire é adepto do método da conscientização, da humanização, da politização. Acredita que a educação é uma
prática libertadora.
Através da educação, o homem pode criar sua possibilidade de ser livre, de romper com o estabelecido, com a ordem
atual. Sem um trabalho pedagógico libertador, sem o reconhecimento do outro, encontramos homens oprimidos na luta
para serem opressores e não para reverter uma situação histórica, de dominados e dominantes.

Comentário
O autor cita, em sua obra literária, o exemplo da Reforma Agrária onde os camponeses que se tornam capatazes
passam a ser mais duros que seus antigos opressores. Isso significa dizer que a situação concreta vigente de
opressão não foi transformada. O oprimido passa a ser assim porque tem introjetado nele o opressor.
Um homem novo deve se libertar desse ciclo vicioso de opressor e oprimido. O oprimido acomodado, adaptado,
conformado teme a liberdade, enquanto não se sente capaz de correr o risco de assumi-la. O homem novo, para
Paulo Freire, é aquele que consegue, através da incessante busca, transformar uma realidade social, é aquele que
se liberta em comunhão, nutrindo-se do amor à vida e não à morte (violência).
Importante ressaltar que a opressão não ocorre apenas no contexto escolar, na relação
aluno-professor e sim em todos os setores da sociedade, tais como saúde, transporte,
segurança, ou seja, em diversas situações do nosso cotidiano. A educação libertadora teria
como função formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, despertando nos
alunos o desejo de intervenção social a partir das inquietações que fazem com que saíamos
do lugar, da zona de conforto.
01
Sobre a pedagogia libertadora de Paulo Freire, importante salientar que não se trata, apenas, de ficarmos no senso
comum, no saber popular, mas, articulá-lo ao saber científico, partindo de temas geradores e fazendo a “ponte” entre
escola e sociedade.
02
“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (p. 25). Sua proposta de ensino volta-se para a
necessidade de estabelecer intimidade entre os saberes curriculares (conhecimento científico / propedêuticos) e os
saberes dos alunos (conhecimento espontâneo).
03
Para Freire, a história é um tempo de possibilidades, portanto, não deve ser compreendida como determinada e acabada.
Alunos e professores são sujeitos ativos que fazem história e não simplesmente passam por ela.
Exemplo de prática respaldada na pedagogia libertadora
Imaginemos a seguinte situação...
Situação do cotidiano escolar...
Os alunos estão estudando sobre alimentação, sobre a importância das frutas para o funcionamento do organismo,
quando ocorre uma pergunta:— “Professora, o que acontece se você comer manga e depois tomar leite?”— “Minha
mãe dizia que comer manga e depois tomar leite fazia mal. Ela até conheceu um rapaz que morreu por isso. Pode
até ser que não faça mal, mas eu não arrisco”.
Saber científico...
— “Mas o médico não fala que faz mal misturar leite com manga. Ele fala que depende do organismo de cada um.
Então, como a gente fica? Essa ideia vem do tempo da escravidão. Para os escravos não comerem muito, os donos
das fazendas falavam que comer manga com leite fazia mal. Eles colocavam medo nos escravos e isso chegou até
nós” (professor).

Atenção
Como se vê, a partir do diálogo entre aluno e professor, a finalidade é partir do óbvio, segundo Freire e devolver de
forma científica, desvelando-se os fatos, desocultando realidades.
Libertária: Década de 1980
O modelo da pedagogia libertária não se afasta muito do modelo libertador. Não é à toa que foi classificado também
como progressista, na medida em que seus representantes criticam todas as formas de autoritarismo, impessoalidade,
formalidade e distanciamento.
Na tendência libertária, há um sentido expressamente político, à medida que se afirma o indivíduo como produto do
social e que o desenvolvimento individual somente se realiza no coletivo.
Essa corrente foi pensada com a intenção de incentivar a participação grupal em assembleias, conselhos, eleições,
reuniões, associações, grêmios, DCE, DA(s), de tal forma que o aluno, uma vez atuando nas instituições externas, levará
para a escola tudo o que aprendeu.
A ideia básica da pedagogia libertária é introduzir modificações institucionais, a partir dos níveis subalternos que, em
seguida, vão contaminando todo o sistema.
Quanto aos conteúdos de ensino, eles estariam presentes a partir das disciplinas, mas, não seriam exigidos. Importante
é o conhecimento que resulta das experiências vividas pelo grupo, especialmente a vivência de mecanismos de
participação crítica (LIBÂNEO, 1987).
 Grupo de estudantes em grêmio. (Fonte: Rawpixel.com / Shutterstock)
Célestin Freinet (1896-1966)
Entre 1921 e 1924, Célestin Freinet pensou em práticas pedagógicas que pudessem originar atividades de aula voltadas
para os interesses dos alunos. A Pedagogia de Freinet influencia, até os dias de hoje, diversas escolas no mundo,
incluindo as brasileiras.
As suas ideias são marcadas por alguns pressupostos básicos, dentre os quais:
01
O desenvolvimento do senso de responsabilidade dos alunos;
02
O desenvolvimento do respeito e da cooperação entre alunos, professores e funcionários e;
03
A preocupação com a socialização do grupo e o desenvolvimento do julgamento, da autonomia pessoal, da expressão
livre de ideias, da criatividade, da comunicação, da reflexão crítica e da afetividade entre todos que convivem no
ambiente escolar.
A pedagogia proposta por Freinet, diz que:
1
As notas e as classificações atribuídas aos alunos se constituem como um erro no sistema de ensino.
2
Os professores devem falar o menos possível; possibilitando mais a fala dos alunos.
3
A ordem e a disciplina são necessárias, mas não devem ser impostas, mas sim, discutidas e votadas democraticamente
pelo grupo.
4
A vida escolar supõe cooperação e gestão e a democracia não é um conceito que se aprende, mas sim, que se vivencia
na escola.
Para Freinet o regime autoritário (tanto nas escolas, como na vida) não é capaz de formar
cidadãos democratas. Assim, uma das primeiras condições para a renovação das escolas
deveria estar relacionada ao respeito às crianças que, por sua vez, deveriam respeitar os
professores e os funcionários.
A seguir, encontram-se os principais aspectos metodológicos da pedagogia criada por Freinet:
Aula Passeio
Seu objetivo principal era motivar os alunos para a construção de novos conhecimentos em um ambiente não
escolar.
Texto livre e correção
Partiam da livre expressão, podendo ser realizada através de desenhos, poemas, textos ou pinturas. Os alunos
estabeleciam a forma, o tema e o tempo para sua realização. Porém, caso um aluno desejasse publicar seu texto no
jornal escolar, ele deveria passar pela correção coletiva e pela autocorreção, pois para Freinet o "erro" deveria ser
trabalhado com e pelo os alunos.
Imprensa escolar
Partiam de entrevistas, pesquisas, vivências e aulas passeio. Freinet utilizou o tipógrafo para o processo de
impressão do jornalescolar em construção coletiva.
Livro da vida
Funcionava como um diário de classe, onde se registrava, livremente, os diferentes modos de compreender a aula e
a vida.
Fichário de Consulta
Freinet criticava duramente os livros didáticos por estarem desvinculados da realidade dos alunos. Ele propôs a
elaboração de exercícios e apostilas construídos pelos professores, em parceria com os alunos, destinados à
aquisição dos mecanismos de Cálculo, Ortografia, Gramática, História e outros conteúdos das diversas áreas do
conhecimento.
Plano de trabalho
O currículo escolar é seu ponto de partida, os alunos deveriam escolher as estratégias das atividades que poderiam
ser realizadas em grupos, duplas ou individualmente. E, para o registro do plano de trabalho, deveriam ser
elaboradas fichas com as atividades semanais.
Correspondência interescolar
Atividade que permitia a correspondência entre os alunos da própria escola e entre alunos de escolas diferentes.
Autoavaliação
Os alunos registravam os resultados dos trabalhos em fichas, permitindo o acompanhamento dos seus progressos e
de suas dificuldades. Para Freinet, a avaliação deveria ser um processo contínuo entre professores e alunos na
perspectiva da aprendizagem e não da punição.
 Autonomia no estudo. (Fonte: ESB Professional / Shutterstock)
Maurice Tragtenberg (1929-1998)
Através de uma crítica incisiva ao modelo pedagógico burocrático, Tragtenberg chega à teoria da pedagogia libertária,
que se expressa pelo questionamento de toda e qualquer relação de poder estabelecida no processo educativo e das
estruturas que proporcionam as condições para que essas relações se reproduzam no cotidiano das instituições
escolares.
Em sua visão, a própria prática de ensino pedagógica-burocrática permite a dominação na medida em que reduz o aluno
ao papel de mero receptáculo de conhecimento e fixa uma hierarquia rígida e burocrática na qual o principal interessado
encontra-se em uma posição submissa. E nessa ordem o professor é o ‘símbolo vivo’ da dominação.
Em resposta a tudo isso, a pedagogia libertária propõe uma série de mudanças nas instituições de ensino, fundadas na:
Autogestão da educação pelos diretamente envolvidos no processo educacional e a ‘devolução do processo de
aprendizagem às comunidades onde o indivíduo se desenvolve (bairro, local de trabalho)’;
Autonomia do indivíduo, solidariedade, crítica permanente de todas as formas educativas que estimulam ou
fundamentem-se na competição e incentivo a liberdade de organização para os trabalhos da educação.
Miguel Arroyo
Formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é doutor em Educação pela Stanford
University na Califórnia, além de ser professor titular emérito da Faculdade de Educação da UFMG. Para esse estudioso, a
educação não se limita apenas a aprender as coisas, mas, sobretudo, a aprender a conhecer a si mesmo.
Diante dessa perspectiva, a escola deve garantir o direito à humanidade de jovens e crianças. Para que essa ação seja
efetivada, faz-se necessária uma participação ativa do gestor, por sua vez, discutindo os direitos dos estudantes em sala
de aula. Para o educador, a escola é um espaço de aprendizagem e liberdade de atuação dos estudantes.
Por isso, o professor deve respeitar o pensamento e a opinião dos alunos com relação aos conteúdos didáticos, assim
como, ajudá-los a desenvolverem a consciência crítica.
 Consciência crítica. (Fonte: Africa Studio / Shutterstock)
Exemplo de prática respaldada no modelo pedagógico libertário
A modalidade de ensino a distância também pode ser um exemplo de prática libertária, pois o aluno é gestor do seu
próprio conhecimento, escolhendo o seu próprio caminho.
 Educação online. (Fonte: Vasin Lee / Shutterstock)
Os conteúdos estão dispostos:
Aulas teletransmitidas;
Conteúdos onlines;
Textos;
Vídeos;
Fóruns;
Gabarito comentado;
Dúvidas comentadas;
Livro proprietário;
Avaliando aprendizado;
Etc.
Os alunos da graduação acessam o que for de mais interesse; rompendo com a linearidade do processo.
Crítico social dos conteúdos
Na tendência crítico-social dos conteúdos (Saviani, Snyders, Makarenko, Libâneo, Luckesi), a ideia é difundir os
conteúdos escolares concretos, porém, indissociáveis da realidade social do aluno.
O conteúdo teórico deverá ser vinculado à prática, para que o aluno veja sentido no que está aprendendo, podendo lhe
ser útil em sua prática imediata/social, útil em sua vida; e a partir daí, introduzir a possibilidade de uma reavaliação
crítica frente aos conteúdos sistematizados e aprendidos. Significa ligar o conteúdo à experiência concreta do aluno.
 Educação na prática. (Fonte: goodluz / Shutterstock)
Sugestão de aplicação dessa abordagem: iniciar a aula tratando de uma temática de ensino e
articular a prática.
Exemplo de prática respaldada no modelo pedagógico crítico social dos
conteúdos
Ao apresentar o assunto sobre avaliação escolar para uma turma de licenciandos, o professor solicita aos alunos do curso
de formação docente que relatem situações vivenciadas em anos anteriores de escolaridade sobre provas, exames,
avaliações sofridas/ocorridas.
A ideia é confrontar a experiência com a explicação teórica do professor sobre o assunto avaliação, neste caso. Isso
significa ir da ação, do particular, da prática, à compreensão geral, teórica; e da compreensão geral, teórica à ação (do
particular para o geral e do geral para o particular), unificando teoria e prática.
Vejamos uma cena do filme Escritores da Liberdade que se relaciona com o conteúdo que estamos estudando:

Ficha técnica FREEDOM Writers = ESCRITORES da liberdade. Direção: Richard LaGravenese. Intérpretes: Hilary Swank; Scott Glenn; Imelda Stauton;
Patrick Dempsey. Alemanha / EUA: UIP, 2007. 122 min., son., color.
https://www.youtube.com/embed/ZgaHSAD6Z1A
Percebeu como o professor é o mediador entre o conhecimento científico e espontâneo?
Professor e aluno colaboram para fazer progredir essas trocas. O professor intervém para que o aluno acredite nas suas
possibilidades de ir mais distante. Assim, o professor está formando a consciência crítica face às realidades sociais, sendo
aluno e professor, agentes ativos da transformação da sociedade e de si próprio.
Os conteúdos escolares — fundamentais para as transformações das condições de vida das classes desfavorecidas —
devem ser desenvolvidos pelos professores de forma responsável e comprometida. Não se trata de sonegar o
conhecimento científico por acreditar que o aluno não seja capaz de compreendê-lo. Para a formação do pensamento
elaborado e complexo a ação docente deve seguir os seguintes passos:
1
Criar situações motivadoras que instiguem o pensamento crítico.
2
Colocar os assuntos desenvolvidos de forma clara e objetiva.
3
Relacionar os conhecimentos produzidos no decorrer das aulas aos saberes dos alunos, propondo um roteiro de trabalho
que contenha desafios significativos.
4
Desenvolver operacionalmente atividades, como: pesquisas, estudos individuais e em grupos, seminários e exercícios.
5
Integrar os movimentos de análise, síntese, generalização e consolidação dos conceitos desenvolvidos em aula.
Por fim, é preciso ressaltar que a teoria crítica social dos conteúdos deve partir da avaliação das circunstâncias histórico
e sociais dos alunos, que determinam o desenvolvimento e a aquisição de novos conhecimentos e práticas pedagógicas,
tendo em vista os objetivos de ensino que motivem as verdadeiras mudanças sociais.

A valorização da escola como instrumento de apropriação do saber é o melhor serviço que
se presta aos interesses populares, já que a própria escola pode contribuir para eliminar
a seletividade social e torná-la democrática. Se a escola é parte integrante do todo social,
agir dentro dela e também agir no rumo da transformação da sociedade. Se o que define
uma pedagogia crítica é a consciência de seus condicionantes histórico-sociais, a função
da pedagogia dos conteúdos é dar um passo à frente no papel transformador da escola,mas, a partir das condições existentes. 
Assim, a condição para que a escola sirva aos interesses populares é garantir a todos um
bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares básicos que tenham
ressonância na vida dos alunos.
Libâneo (1987, p. 39)
Sistematizando informações sobre os modelos
pedagógicos estudados
Libertador Libertário Crítico social dos conteúdos
Papel da escola
Conscientização
acerca da realidade,
transformação da
sociedade.
Exercer uma
transformação da
personalidade dos
alunos em um sentido
libertário e
autogestionário.
Difundir os conteúdos concretos,
indissociáveis das realidades sociais.
Valorização da apropriação do saber
científico, articulado ao saber da
prática, servindo aos interesses
populares, visando à transformação
social.
Organização da escola
Autoridade
competente e
democrática.
Democrática,
participativa, de
qualidade, Igualitária,
plural.
Democrática, participativa, de
qualidade, Igualitária, plural.
Professor É o transmissor dos
conteúdos aos alunos.
Autoridade
democrática.
Autoridade democrática. Aluno: Livres,
autodisciplinados.
Aluno Sujeito protagonista
da história.
Livres,
autodisciplinados.
Livres, autodisciplinados.
Relação aluno-professor
Igualitária, não
paternalista.
Baseada no respeito
mútuo, visando
objetivos comuns.
Relação democrática.
Pressupostos de
aprendizagem Educação como
transformação Social.
Aprendizagem
informal, via grupo
(ex.: diretórios
acadêmicos,
sindicatos etc.)
Aprender é desenvolver a capacidade de
processar informações, organizando os
dados disponíveis das vivências. O
ensino consiste na preparação do aluno
para o mundo adulto e suas
contradições, fornecendo-lhe um
instrumental para a participação ativa e
organizada na sociedade.
Objetivos educacionais
Definidos a partir da
realidade concreta, do
contexto histórico-
social no qual se
encontram os
sujeitos; visão crítica
de mundo; libertação
da opressão.
Autogestão,
construção de uma
nova ordem social.
Construção de uma nova ordem social a
partir do conhecimento científico.
Conteúdos
escolares/programáticos
Temas geradores
extraídos da
problematização da
prática de vida dos
alunos.
A matéria está
disponível, mas não é
exigida.
Culturais e universais, que se
constituíram em domínios do
conhecimento incorporados pela
humanidade, mas, permanentemente
reavaliados face às realidades sociais.
Método
Da conscientização,
da polemização, da
problematização,
grupo de discussão,
da confrontação,
dialógica, dialética.
Teoria e prática.
Temas geradores.
Vivência grupal,
tomada de decisões,
votações.
Privilegia a aquisição de um saber,
vinculado à compreensão da realidade.
Articulação teoria e prática. Escola e
sociedade. Conteúdo e forma.
Avaliação
Visa à superação do
estágio do senso
comum
(“desorganização” do
conteúdo) para a
consciência crítica.
Participação.
Assistemática.
Reflexivas, contextualizadas.
Atividade
Afim de fixarmos o que aprendemos até aqui, vamos fazer uma atividade? A desta aula será uma produção de
texto! Você deverá produzir um texto de 10 linhas, cujo título é: “O processo ensino aprendizagem na perspectiva
crítica da educação”. Vamos lá?
Referências
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. São Paulo: Cortez e Moraes, 1975.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública. A pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 2004.
QUEIROZ, Cecília; MOITA, Filomena. Fundamentos sociofilosóficos da educação: as tendências pedagógicas e seus
pressupostos. Campina Grande: UEPB, Natal: UFRN, 2007.
RAYS, Oswaldo Alonso. Metodologia do ensino: cultura do caminho contextualizado. In: VEIGA, I. P. A. Repensando a didática.
Campinas: Papirus, 2011. p. 93-108.
RIBEIRO, Maria L. S. Educação escolar e práxis. São Paulo: Iglu, 1991.
SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2008.
Próximos Passos
Planejamento no campo da educação.
Explore mais
Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor
online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
Para aprofundamento, leia:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública. A pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 2004.
Sugerimos, também, a leitura a seguir:
Segundo capítulo do material didático Aprender didática – ensinar didática intitulado: Abordagens pedagógicas de Ana Maria
Petraitis Liblik, bem como do material didático Fundamentos de didática, primeiro capítulo: A didática e seus fundamentos, de
Alessandro de Melo e Sandra Terezinha Urbanetz.
Para aprofundamento sobre as tendências pedagógicas, leia:
As tendências pedagógicas e seus pressupostos
<http://www.ead.uepb.edu.br/ava/arquivos/cursos/geografia/fundamentos_socio_filosoficos_da_educacao/
.
http://www.ead.uepb.edu.br/ava/arquivos/cursos/geografia/fundamentos_socio_filosoficos_da_educacao/Fasciculo_09.pdf

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