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CAPITULO 1 – A PERÍCIA PSICOLÓGICA JUDICIAL 1.1.CONCEITO DE PERÍCIA BRANDIMILLER (1996) conceitua perícia como o exame de situações (relações entre coisas e/ou pessoas) ou fatos (ocorrências envolvendo coisas e/ou pessoas), realizado por um especialista ou uma pessoa entendida da matéria que lhe é submetida, denominada perito, com o objetivo de determinar aspectos técnicos ou científicos. A finalidade da perícia assenta-se, segundo AMARAL SANTOS (1993), na conveniência ou necessidade de se fornecer ao juiz informações que escapam ao conhecimento jurídico ou ao senso comum, por mais culto e instruído que ele seja; tais informações não poderiam ser obtidas diretamente pelo juiz, pelo menos não com a clareza e segurança necessárias à sua convicção, ou ainda, em certos casos, não sem prejuízo de suas funções judicantes. Se, porém, a matéria a ser tratada for além do senso comum, mas for do conhecimento do juiz (ex.: o juiz pode ter conhecimento de arte, a ponto de saber identificar uma obra de arte autêntica ou falsificada), poderá ser dispensado o exame pericial. GRECO FILHO (1994) afirma que a perícia tem por finalidade documentar nos autos o conhecimento especializado, inclusive para exame em grau de recurso. Porém, mesmo ao determinar a perícia, o juiz mantém seu poder decisório, podendo criticar, comentar e apreciar o laudo pericial, acolhendo-o ou não, segundo seu conhecimento, normas técnicas e lógicas, e convencimento. Ao lado do perito, como profissional nomeado pelo juiz por critérios de confiança e capacitação, aparece também a figura do assistente técnico, profissional indicado, opcionalmente, pelas partes, na função de consultor para reforçar a argumentação apresentada aos autos, como será visto adiante. O novo Código de Processo Civil brasileiro (CPC – Lei nº 13.105/15) estabelece dispositivos referentes à perícia em dois capítulos do Livro I: Capítulo III – Dos Auxiliares da Justiça, do Título IV, arts. 1491 e 156 a 158, que tratam do perito como auxiliar a serviço da Justiça e estabelecem os critérios para sua habilitação e nomeação; e a Seção X – Da Prova Pericial, do Capítulo XII, arts. 464 a 480, que estabelecem os procedimentos para a realização da perícia e seu valor probante no processo civil. Entretanto, é importante observar que o CPC/2015 (assim como o anterior, de 1973) não conceitua perícia em nenhum dos artigos mencionados. O art. 4642, caput, limita-se a afirmar que a prova pericial consiste nos procedimentos de exame, vistoria ou avaliação, sem, contudo, definir tais procedimentos: “Art. 464 – novo CPC/2015. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.” Entretanto, se houver alguma impossibilidade técnica (ou ausência de necessidade) para a realização da perícia, o juiz poderá indeferi-la, nas hipóteses do § 1º do referido art. 464 do novo CPC/2015, a saber: “Art. 464 – novo CPC/2015. [...] § 1º O juiz indeferirá a perícia quando: I – a prova do fato não depender de conhecimento especial de técnico; II – for desnecessária em vista de outras provas produzidas; III – a verificação for impraticável.” Assim, pode-se afirmar que a perícia psicológica (que será analisada mais detidamente) consiste em um exame que se caracteriza pela investigação e análise de fatos e pessoas, enfocando-se os aspectos emocionais e subjetivos das relações entre as pessoas, estabelecendo uma correlação de causa e efeito das circunstâncias e buscando-se a motivação consciente (e inconsciente) para a dinâmica familiar do casal e dos filhos. Através dessa investigação, o perito psicólogo poderá apurar, com muito mais precisão, a responsabilidade de cada um dos membros da família pelo estado das relações e sugerir ao juiz a melhor solução para garantir o equilíbrio emocional de todos, resguardando-se os direitos fundamentais das crianças e adolescentes envolvidos no litígio. Essas conclusões são, então, consubstanciadas em um laudo que será juntado aos autos, e/ou mediante depoimento pessoal em juízo. Livro: Psicologia jurídica no processo civil brasileiro: a interface da psicologia com o direito nas questões de família e infância / Denise Maria Perissini da Silva. – 3. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016. https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter03.html https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter01.html#rfn1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter01.html#rfn2 2.3.O PERITO PSICÓLOGO DAS VARAS DE FAMÍLIA E VARAS DE INFÂNCIA O psicólogo que atua como perito é um profissional da confiança do juiz, segundo critérios de capacitação técnica e idoneidade. No caso do Setor de Psicologia dos Foros Regionais e Tribunais de Justiça estaduais, os psicólogos são concursados, mediante provas eliminatórias, e fazem parte do quadro funcional do Judiciário.6 Veremos oportunamente que alguns aspectos elencados no novo CPC/2015 se aplicam ao perito psicólogo (por se tratar de uma perícia semelhante a qualquer outra) e há particularidades às quais o dispositivo legal não se aplica à perícia psicológica (por especificidades que a diferenciam de qualquer outra perícia). A capacitação do perito psicólogo está mencionada no art. 1º, b, do Código de Ética Profissional dos Psicólogos (CEPP), de 2005, a saber: “Art. 1º CEPP. São deveres fundamentais do Psicólogo: [...] b) Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente; [...]”. Importante: conforme se verá oportunamente na questão da Avaliação Psicológica,7 o perito psicólogo deve ter autonomia e independência para selecionar os procedimentos mais adequados à análise do contexto familiar em questão, sem interferências externas (ex.: pressão de qualquer das partes, ou imposição do juiz), salvo, obviamente, as restrições éticas e técnicas pertinentes à regulamentação profissional, conforme se verifica: “Resolução CFP nº 008/2010 Dispõe sobre a atuação do psicólogo como perito e assistente técnico no Poder Judiciário. [...] Capítulo I Realização da Perícia Art. 1º O Psicólogo Perito e o psicólogo assistente técnico devem evitar qualquer tipo de interferência durante a avaliação que possa prejudicar o princípio da autonomia teórico-técnica e ético-profissional, e que possa constranger o periciando durante o atendimento”. A expressão “devem evitar qualquer tipo de interferência” se refere, inclusive, ao magistrado, o qual não deve restringir o trabalho pericial, mas, ao revés, deve permitir ao perito total autonomia para realizar o trabalho para o qual foi nomeado. Com efeito, o perito deve avaliar quais as pessoas que devem ser incluídas ou excluídas da avaliação, ou quais os testes que pretende aplicar, conforme seus critérios, e não com base na conveniência de terceiros. Neste sentido, preleciona PONTES DE MIRANDA (3. ed., 2011, p. 489-490): “Os peritos, nos exames e conclusões, procedem com liberdade. Sem liberdade de pesquisa e de pensamento não se pode acertar, ou se acerta por acaso; [...] Se de algum fato, ou estado pretérito, precisa o perito para chegar às respostas aos quesitos, o caminho é a informação testemunhal, testemunhas informadoras, que as partes podem ter sugerido, ou podem ter sido sugeridas pelo juiz, ou encontradas pelo perito. [...]”. Na mesma trilha é a lição de ANTONIO CARLOS DE ARAÚJO CINTRA (3. ed., 2011, p. 228), verbis: “Para o desempenho de sua função, perito e assistentes técnicos, em muitos casos, precisam ter notícia de fatos que lhes permitam, conjugados com as constatações feitas no objeto material de seu exame ou vistoria, interpretá-las e apreciá-las, de modo a esclarecer adequadamente as questões que lhe são propostas no processo. Na primeira parte da disposição em exame, peritos e assistentes técnicos são autorizados a se utilizarem de todosos meios necessários para acesso ao conhecimento daqueles fatos. Mais do que isso, como assinala Moniz de Aragão, deve-se ver nessa regra uma verdadeira imposição no sentido de que se utilizem tais meios SEMPRE que, disponíveis, constituam condição para a consecução dos esclarecimentos que se esperam da perícia”. https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn7 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter01.html 2.7.O PSICÓLOGO ASSISTENTE TÉCNICO Da mesma forma que o juiz nomeia o perito psicólogo para dirimir as questões trazidas às Varas da Infância e da Juventude ou às Varas de Família e Sucessões dos Foros Regionais e dos Tribunais estaduais, as partes podem indicar seu psicólogo assistente técnico, profissional igualmente habilitado, de sua confiança, para exercer funções idênticas às do perito, e para auxiliá-las no esclarecimento e defesa dos seus interesses no litígio. O assistente técnico também pode servir de consultor da parte, esclarecendo ou interpretando os fatos da causa, para corroborar as alegações da parte ou para melhor elucidar o juiz acerca de tais fatos (AMARAL SANTOS, 2012). A fundamentação legal para a atuação do assistente técnico está prevista no art. 465, § 1º, II, do novo CPC/201521, a saber: “Art. 465 – novo CPC/2015. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo. § 1º Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do despacho de nomeação do perito: (...) II – indicar assistente técnico; (...)” O § 1º do art. 466 do novo CPC/2015 preceitua que os assistentes técnicos são de confiança da parte, não estando sujeitos à suspeição ou impedimento, como ocorre com o perito judicial, a saber: “Art. 466 – novo CPC/2015. O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi cometido, independentemente de termo de compromisso. § 1º Os assistentes técnicos são de confiança da parte e não estão sujeitos a impedimento ou suspeição.22” Ora, se o assistente técnico é de confiança da parte e não está sujeito a suspeição ou impedimento, é somente à parte que o contratou que ele deve prestar assessoria e esclarecimentos de seus atos23, podendo formular livremente seu convencimento e apresentá-lo ao perito, com a possibilidade de que este concorde ou não, porém, dentro do compromisso genérico com a Justiça previsto no art. 37824 do mesmo Diploma Legal, a saber: “Art. 378 – novo CPC/2015. Ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para o descobrimento da verdade.” Inclusive, é também este o entendimento do próprio Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo, conforme se observa no Ofício nº 605/2011: para embasar seu posicionamento como Assistente Técnico da parte, não é necessário que o profissional entreviste a parte contrária e filhos (se a parte contratante não tem acesso aos filhos, por impedimentos judiciais (ex.: medidas protetivas por um alegado abuso sexual) ou atos arbitrários do outro genitor (atos de Alienação Parental), em decorrência das atribuições legais da função (definidas pelo art. 465, § 1º, II, a art. 477 do novo CPC – Lei nº 13.105/2015 – e Resolução nº 08/2010 do Conselho Federal de Psicologia) e, por se tratar de um documento técnico – que exprime uma opinião técnica – acerca de outro documento técnico (um laudo pericial ou relatório de avaliação psicológica), não há obrigatoriedade do Assistente Técnico entrevistar a criança, não sendo possível, portanto, qualquer questionamento ético ou processual de tal atuação, a saber: MAIA NETO (1997) entende que: “[...] O assistente técnico é o auxiliar da parte,25 aquele que tem por obrigação, concordar, criticar ou complementar o laudo do perito oficial, através de seu parecer, cabendo ao Juiz, pelo princípio do livre convencimento, analisar seus argumentos, podendo fundamentar sua decisão neste parecer. [...]” Inclusive, no mesmo artigo, o referido autor transcreve um Acórdão do 2º Tribunal de Alçada Cível do Estado de São Paulo, nos seguintes termos: “[...] https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn21 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn22 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn23 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn24 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn25 3.2 – E o assistente técnico, sem nenhum compromisso com a Justiça – a não ser aquele genérico previsto no art. 339 do CPC – fica adstrito à instância da parte a que presta assessoria.26 Se esta não é cientificada do oferecimento do laudo, não tem como providenciar a manifestação do assistente. [...]” SILVA MELO [s.d.] esclarece que: “[...] [...] Da mesma importância do mister atribuído ao Perito Oficial, nomeado pelo Juízo, reveste-se a função do Perito Assistente, o qual possibilita que se instaure o contraditório na matéria técnica, para que não reine absoluto o entendimento do Perito nomeado peço Juízo, que deve ter a mesma postura de imparcialidade do Juiz que o nomeou. [...] A indicação de Perito Assistente Técnico é de fundamental importância para dar segurança e eficiência à produção da prova pericial, cabendo-lhe fazer a interface de comunicação com o Perito Oficial [...]. O principal trabalho do Perito Assistente não é, como acham muitos, elaborar um laudo divergente ou uma crítica ao laudo oficial, mas sim diligenciar durante a realização da perícia no sentido de evidenciar ao Perito Oficial os aspectos de interesse ao esclarecimento da matéria fática sob uma ótica geral e mais especificamente sob a ótica da parte que o contratou.27 [...]” “2) – Sendo o assistente de livre nomeação da parte, de sua confiança, sobre o qual não recaem as regras de impedimento e suspeição, possível divergência dele com o perito oficial não impede se tenha a perícia como boa. [...] Assistente técnico tem a única finalidade de assessorar a parte que o indicou, não estando as conclusões do juízo a ele vinculadas”.29 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn26 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn27 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn29 “Resolução CFP nº 008/2010 Dispõe sobre a atuação do psicólogo como perito e assistente técnico no Poder Judiciário. [...] CONSIDERANDO que os assistentes técnicos são de confiança da parte para assessorá-la e garantir o direito ao contraditório, não sujeitos a impedimento ou suspeição legais;34 [...] CONSIDERANDO que os psicólogos peritos e assistentes técnicos deverão fundamentar sua intervenção em referencial teórico, técnico e metodológico respaldados na ciência Psicológica, na ética e na legislação profissional, garantindo como princípio fundamental o bem-estar de todos os sujeitos envolvidos; [...] Art. 8º O assistente técnico, profissional capacitado para questionar tecnicamente a análise e as conclusões realizadas pelo psicólogo perito, restringirá sua análise ao estudo psicológico resultante da perícia, elaborando quesitos35 que venham a esclarecer pontos não contemplados ou contraditórios, identificados a partir de criteriosa análise. Parágrafo único. Para desenvolver sua função, o assistente técnico poderá ouvir pessoas envolvidas, solicitar documentos em poder das partes, entre outros meios (Art. 429, Código de Processo Civil)”. Porém, uma vez que o assistente técnico é um consultor e conselheiro da parte, a compreensão de suas responsabilidades está relacionada diretamente com os interesses de um doslados, tornando seu lugar no processo ambíguo e parcial e, portanto, não é visto com bons olhos por aqueles que buscam uma verdade imparcial e incontestável. Mas deve-se considerar que essa verdade absolutamente isenta de tendências é impossível, e por isso, o assistente técnico deve ser visto como um profissional que busca tornar mais próxima a verdade, pois a partir da avaliação de mais de um técnico é possível avaliar e esclarecer as várias facetas que um só incidente pode ter no caso em questão, e orientar a decisão do juiz (SILVA e COSTA, III Congresso Ibero-Americano de Psicologia Jurídica, 1999). O assistente técnico pode ser nomeado por apenas uma das partes, através de uma petição, proposta pelo advogado, requerendo ao juiz a nomeação e indicando o nome completo do psicólogo, número de inscrição no Conselho Regional de Psicologia, endereço (com CEP) e justificativa plausível e fundamentada para a nomeação. No entanto, sua participação no processo pode ser impugnada pelo advogado da parte contrária (que não desejar nomear também seu assistente técnico), se este entender que o perito seja suficientemente capaz de atuar no processo, através de manifestação nos autos (cota) ou outra maneira de apresentar argumentos contrários à nomeação. Tanto a nomeação quanto a apresentação de argumentos contrários à nomeação devem obedecer aos prazos legais. Do mesmo modo, como será visto adiante, o juiz também poderá indeferir o pedido de indicação de assistente técnico, sob variadas alegações. Se isso acontecer (o que é raro), o advogado da parte que efetivamente desejar a participação de assistente técnico deverá apresentar recurso alegando cerceamento de defesa e violação aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, o que suspende temporariamente o andamento do processo para discussão em instância superior (Tribunal de Justiça do Estado), até que a questão seja sanada. O assistente técnico poderá pedir à parte e/ou a seu advogado cópias das peças principais do processo, para que possa realizar leituras da situação e conhecer o caso, a fim de avaliar a conveniência em aceitar o caso ou, em caso afirmativo, quais os procedimentos que poderá realizar ao longo do processo. MAIA NETO (1997, cit.), em texto divulgado na Internet sob o título O assistente técnico no Código de Processo Civil, afirma que o assistente técnico é o auxiliar da parte que tem por obrigação acatar, criticar ou complementar o laudo do perito oficial, através de seu parecer, cabendo ao juiz, pelo princípio do livre convencimento, analisar seus argumentos, podendo fundamentar sua decisão também nesse parecer. SILVA e Costa (1999), em trabalho divulgado sob o título O papel dos assistentes técnicos nos processos judiciais apresentado no III Congresso Ibero-Americano de Psicologia Jurídica, comparam as funções do perito e do assistente técnico da seguinte maneira: “O perito: 1.A função do perito existe sem o assistente técnico, contudo o inverso não é verdadeiro. 2.O perito tem a função de auxiliar o juiz em suas decisões. https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn34 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788530969097/epub/OEBPS/Text/chapter02.html#rfn35 3.Não cabe ao perito fazer interpretações ou aconselhamentos às partes (embora o psicólogo possa conversar com as partes). 4.O assistente técnico é contratado pelas partes, o perito é da confiança do juiz. 5.O perito não tem nenhuma ligação com as partes e seus advogados. O assistente técnico: 1.É contratado pela parte, para auxiliá-la e ao seu advogado naquilo que ela acredita estar certa. 2.A defesa do advogado estará pautada no parecer que o assistente técnico fizer do laudo do perito. 3.Poderá fazer interpretações e sugestões ao seu cliente, não correndo riscos de ter seu trabalho mal interpretado ou manipulado pelas partes ou por seus advogados. 4.É importante que o assistente técnico conheça bem a função do perito, para saber o que deve esperar do trabalho desse profissional e como seu trabalho deverá encaminhar-se.” A indicação do assistente técnico está disposta no art. 465, § 1º, II, do novo CPC/2015 e deve ocorrer no prazo de 15 dias contados da intimação do despacho de nomeação do perito, conforme mencionado anteriormente. Para SHINE e RAMOS (1994), o assistente técnico é um psicólogo autônomo, contratado e pago pela parte que quer reafirmar a defesa específica da sua causa. Para os autores, a função do assistente técnico é contestar o trabalho do psicólogo judicial (perito), desqualificando quaisquer afirmações que contrariem os interesses de seu cliente. Por esse motivo, muitos psicólogos judiciais estabelecem um relacionamento reservado e distante com os psicólogos assistentes técnicos, por considerá-los uma “ameaça” [sic] à valorização do trabalho pericial diante do juiz, uma figura de autoridade, perfeccionista e determinante da ordem. Com o devido respeito e profunda admiração a esses eminentes profissionais é preciso mencionar uma ressalva: nem sempre o assistente técnico denigre o trabalho do perito. Há casos em que o parecer do assistente técnico é concordante com o laudo pericial, especialmente se este contiver objetivos claros e definidos, procedimentos éticos e conclusões coerentes. Além disso, o trabalho conjunto do perito e do(s) assistente(s) técnico(s) pode contribuir para esclarecer a situação apresentada, pois as discussões podem favorecer a troca de informações necessárias ao bom desempenho profissional de ambos, e acima de tudo, compreender a dinâmica familiar e buscar a melhor solução para os conflitos. Qualquer sentimento de persecutoriedade ou “ameaça” (como foi mencionado) só servirá para prejudicar o desempenho profissional e não trará benefício algum para o caso apresentado. Na maioria das vezes, o psicólogo assistente técnico tem contato apenas com a parte que o contratou: desse modo, ele tem a oportunidade de aprofundar a dinâmica familiar e os conflitos inconscientes de apenas um dos lados. Mas, o que realmente tornaria o psicodiagnóstico mais completo é a possibilidade do assistente técnico ter contato também com a parte contrária: mas isso nem sempre é possível, devido a impedimentos da própria parte contrária e/ou de seu advogado, uma vez que, nesses casos, sempre surgem sentimentos persecutórios de “julgamento”, “avaliação”, “teste”, partindo-se sempre do fato de que o vínculo que liga o assistente técnico à outra parte pode influenciar na análise, prejudicando sua imparcialidade. Muitas vezes a parte contrária pode recusar-se a comparecer, alegando que não fornecerá informações ao profissional contratado pela outra parte, acreditando que tais informações serão omitidas ou distorcidas exclusivamente para beneficiar o cliente do profissional. Livro: Psicologia jurídica no processo civil brasileiro: a interface da psicologia com o direito nas questões de família e infância / Denise Maria Perissini da Silva. – 3. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016.
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