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[ 2] [ 3 ] CURSO DE FORMAÇÃO DE PERITOS JUDICIAIS Como se tornar um perito judicial sem concurso público, pós-graduação ou emprego oficial [ 4] [ 5 ] Edilson Aguiais CURSO DE FORMAÇÃO DE PERITOS JUDICIAIS Como se tornar um perito judicial sem concurso público, pós-graduação ou emprego oficial Goiânia, 2020 [ 6] © 2020 – IBCAPPA Instituto Todos os direitos reservados. Editoração eletrônica: IBCAPPA Instituto contato@ibcappa.com.br Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP) A282c Aguiais, Edilson Curso de Formação de Peritos Judiciais : como se tornar um perito judicial sem concurso público, pós-graduação ou emprego oficial / Edilson Aguiais. Goiânia: IBCAPPA, 2020. 283 p. 14x21cm ISBN: 978-65-00-09071-0 (e-book) 1. Direito civil. 2. Perícia judicial. 3. Economia. I. Título CDD – 347 Proibida a reprodução total ou parcial sem permissão expressa do Editor (Lei n. 9.610/1998). Direitos desta edição reservados a: Instituto Brasileiro de Consultoria, Auditoria, Perícia, Projetos e Avaliações Ltda Rua 72, n. 48 Sl. 1012 Jd. Goiás CEP 74096-250 Goiânia / GO https://www.ibcappa.com.br email: contato@ibcappa.com.br mailto:contato@ibcappa.com.br https://www.ibcappa.com.br/ [ 7 ] AGRADECIMENTOS Agradeço primeiro a Deus, o Grande Arquiteto Do Universo, pela vida, pela saúde e pela oportunidade de aprender a cada dia um pouco mais. Agradeço aos meus pais (Valdir – in memoriam – e Vera Lúcia) pelas grandes e constantes ‘puxadas de orelha’ que tão bem me fizeram e me trilharam o caminho do sucesso. Para não criar uma extensa lista, agradeço a todos que me ajudaram de todas as formas durante minha vida profissional e acadêmica. À minha família, em especial à minha esposa Geane e à minha filha Isis, que são o meu porto seguro. DEDICATÓRIA A meus pais, Valdir Gonçalves de Aguiais (in memoriam) e Vera Lucia de Souza; À minhas irmãs Edivânia Souza de Aguiais Nery e Edilene de Souza Aguiais Saraiva; À minha esposa, Geane Lanusse Santana de Oliveira Aguiais que, às vezes sem compreender, sempre me deu todo o apoio necessário nessa nem sempre grata jornada; À minha filha Isis. Dedico esse livro por tudo que deles recebi (e recebo) e, principalmente, por terem me ensinado o valor de um abraço, de um sorriso e de um perdão. O AUTOR EDILSON AGUIAIS • Advogado, inscrito na OAB/GO sob o n. 59.889. • Economista, inscrito sob o n. 2.337/D CORECON/GO; • Mestre em Agronegócios pela Universidade Federal de Goiás – UFG (2013); • MBA em Perícia, Auditoria e Consultoria Econômico- financeira (2014); • Especialista em Direito Tributário e Empresarial (2021); • Especialista em Gestão de Finanças Empresariais (2011); • Conselheiro no Conselho Regional de Economia 18º Região (2011-2020); • Presidente da Associação dos Economistas do Estado de Goiás (2011-2020); • Diretor no Instituto Brasileiro de Consultoria, Auditoria, Perícias, Projetos e Avaliações – IBCAPPA; • Professor Universitário na Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC/GO; • Professor em diversos cursos de pós-graduação; • Consultor econômico-financeiro de empresas; • Perito Judicial nomeado em diversas varas cíveis do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás – TJ/GO; • Empresário; • Palestrante; • Projetista; • Aprendiz. PREFÁCIO O mundo do conhecimento é fascinante. Quando, depois de encontrar o caminho para mais e melhor, alguém se dispõe a compartilhar a luz do saber, então surge o professor. Melhor ainda quando eterniza seu aprendizado em um livro, e ali deposita toda sua expertise. Assim é com Edilson Aguiais no "Curso de Formação de Peritos Judiciais". No mundo jurídico, a perícia judicial é uma atividade essencial, consolidada e em franca expansão. Atualmente, mais do que nunca, a prova cabal é necessária para convencimento e pacificação de ânimos. No mínimo, sempre haverá uma relação triangular entre o perito do juízo e os assistentes técnicos das partes, ativa e passiva. Somente um consistente e bem fundamentado laudo pericial dará fim aos intermináveis debates processuais, inócuos e protelatórios em boa parte das vezes. Por isso, além dos que já atuam, ainda é necessária uma legião de peritos bem formados, para dar segurança jurídica aos litigantes e ao juízo. Professor Edilson é intrépido, persistente, estudioso, disciplinado, pesquisador, e está sempre em busca de mais aprender e evoluir. Mais do que tudo, é generoso, e, de forma transparente e desapegada, não se poupa em contar tudo o que sabe sobre perícia judicial. O livro "Curso de Formação de Peritos Judiciais" é um guia seguro para aqueles que pretendem ou já atuam neste segmento. É rico em história, legislação e procedimentos para bem desempenhar o ofício, inclusive trazendo modelos práticos. A didática empregada permite assimilação do conteúdo sem dificuldades. Após ler e estudar esta obra, o perito judicial certamente terá adquirido conhecimentos suficientes para prosseguir ou iniciar uma carreira promissora e exitosa. Prefaciar este livro muito me honra e alegra, porque tenho convicção de sua importância e utilidade. O professor Edilson tem o dom de tornar simples o que não é fácil. Bom proveito e sucesso aos leitores. Alceu André Hübbe Pacheco Advogado, perito financeiro e consultor empresarial Araranguá - SC SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................ 17 PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO ........................................................... 21 UNIDADE I - A PERÍCIA E O PERITO ............................................... 23 1 QUEM PODE SER PERITO JUDICIAL? ......................................... 25 1.1 OS BENEFÍCIOS DA CARREIRA ........................... 28 1.2 ONDE O PERITO TRABALHA? ............................. 30 1.3 O PERITO É ESSENCIAL NO PROCESSO ............... 31 1.4 PRECISO TER PÓS-GRADUAÇÃO? ...................... 35 1.5 O CADASTRO DO PERITO NO TRIBUNAL ............ 39 1.6 A ATUALIZAÇÃO DO PERITO ............................. 40 1.7 NOMEAÇÃO DE ÓRGÃO TÉCNICO...................... 42 1.8 CONCLUSÕES GERAIS ....................................... 43 2 O PERITO JUDICIAL .................................................................... 45 2.1 QUEM É O PERITO JUDICIAL? ............................ 46 2.2 UM CONCEITO DE PERITO JUDICIAL .................. 48 2.3 OS AUXILIARES DA JUSTIÇA .............................. 50 3 A PERÍCIA ................................................................................... 57 3.1 CONCEITUANDO PERÍCIA .................................. 59 3.2 PERÍCIA OU DILIGÊNCIA? .................................. 61 3.3 PERÍCIA COMO MEIO DE PROVA ....................... 65 4 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA PERÍCIA .......................................... 69 4.1 A PERÍCIA NA ANTIGUIDADE ............................. 69 4.2 A PERÍCIA NO IMPÉRIO ROMANO ..................... 72 4.3 A PERÍCIA NA IDADE MÉDIA .............................. 73 4.4 A PERÍCIA NO DIREITO CANÔNICO .................... 74 4.5 A PERÍCIA NO BRASIL COLONIAL ....................... 75 4.6 A PERÍCIA NA REPÚBLICA VELHA ....................... 78 4.7 A PERÍCIA NO CÓDIGO DE 1939 ......................... 79 4.8 A PERÍCIA NO CODEX DE 1973 ........................... 82 5 PERÍCIA JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL ........................................ 85 5.1 A PROVA PERICIAL ............................................ 86 5.2 A PROVA TÉCNICA SIMPLIFICADA ..................... 90 5.3 A ISENÇÃO TÉCNICA DAPERÍCIA ....................... 92 5.4 PERÍCIAS EXTRAJUDICIAIS? ............................... 93 UNIDADE II - ATUAÇÃO COMO PERITO JUDICIAL ......................... 97 6 ATUAÇÃO DO PERITO JUDICIAL ............................................... 99 6.1 COMO INICIAR SUA CARREIRA .......................... 99 6.2 O CURRICULUM DO PERITO JUDICIAL ............... 101 7 A NOMEAÇÃO DO PERITO ...................................................... 107 7.1 IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO ........................... 108 7.2 MOTIVOS DE IMPEDIMENTO ........................... 110 7.3 MOTIVOS DE SUSPEIÇÃO ................................. 111 7.4 O ASSISTENTE TÉCNICO ................................... 116 7.5 A IMPUGNAÇÃO DA NOMEAÇÃO ..................... 118 7.6 A SUBSTITUIÇÃO DO PERITO ............................ 122 7.7 AS PENALIDADES PELO ATRASO ....................... 124 8 PROCEDIMENTOS PÓS - NOMEAÇÃO ................................... 127 8.1 A INTIMAÇÃO DO PERITO ................................ 127 8.2 FAZENDO CARGA DO PROCESSO FÍSICO ........... 131 8.3 A PROPOSTA DE HONORÁRIOS ........................ 133 9 RECEBENDO OS HONORÁRIOS ............................................... 147 9.1 CONSTRUINDO UMA CARREIRA ....................... 147 9.2 O DEPÓSITO DOS HONORÁRIOS....................... 150 9.3 ADIANTAMENTO DOS HONORÁRIOS ............... 151 10 INICIANDO O TRABALHO TÉCNICO ................................... 153 10.1 COMUNICAÇÃO DE INÍCIO DOS TRABALHOS TÉCNICOS PERICIAIS ................................................................ 153 10.2 OS ASSISTENTES TÉCNICOS .............................. 155 10.3 A REUNIÃO INICIAL DO PERITO COM OS ASSISTENTES TÉCNICOS........................................................... 157 10.4 O ADVOGADO FISCALIZA A PERÍCIA? ................ 159 10.5 AS DILIGÊNCIAS EM UMA PERÍCIA .................... 161 11 O LAUDO TÉCNICO PERICIAL .............................................. 165 11.1 A CONSTRUÇÃO DO LAUDO TÉCNICO ............... 165 11.2 O LAUDO DEVE SER CONCISO E DIRETO ............ 167 11.3 A FUNDAMENTAÇÃO DO LAUDO TÉCNICO ....... 169 11.4 A UTILIZAÇÃO DE TERMOS TÉCNICOS ............... 170 12 PROCEDIMENTOS APÓS A ENTREGA DO LAUDO TÉCNICO PERICIAL ........................................................................................... 173 12.1 EVITANDO A IMPUGNAÇÃO DO LAUDO ........... 173 12.2 SUBSTITUINDO O PERITO NOMEADO ............... 177 12.3 OUTRO PERITO NO MESMO PROCESSO? .......... 177 12.4 O PERITO PODE SER MULTADO? ...................... 179 12.5 OUTRAS SITUAÇÕES ADVERSAS ....................... 182 13 REFERÊNCIAS ........................................................................ 185 PARTE II MODELOS DE DOCUMENTOS ........................................... 188 PARTE III LEGISLAÇÃO APLICADA À PERÍCIA ............................... 259 Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 17 ] APRESENTAÇÃO Esse livro surgiu do sonho de capacitar profissionais que não pertencem à área do Direito para atuar como peritos judiciais no que tange ao conhecimento do processo judicial de natureza civil. O objetivo principal deste livro é proporcionar aos profissionais das mais diversas áreas uma formação focada no aprendizado das principais questões que envolvem a rotina forense do perito, desde a elaboração de um bom curriculum até a última fase de atuação do perito em um processo judicial. A vivência nos tribunais e a experiência em sala de aula em diversas pós-graduações na área de perícias me levaram a perceber que a maioria dos livros voltados para a forma de atuação do perito deixava de tratar algumas questões que são simples para os peritos mais experientes mas que são barreiras quase intransponíveis para aqueles que estão no início da carreira e desejam se inserir em sua área de formação. Ao longo do livro eu busquei trazer exemplos simples, abordando como funciona o procedimento pericial tratando, inclusive, exaustivamente, de algumas questões que são eminentemente ligadas aos processos físicos. Apesar da prevalência dos processos eletrônicos, muitos jovens peritos ainda irão se deparar com processos físicos e, nesses casos, é preciso conhecer o procedimento a ser seguido. Então, nas partes em que são descritos procedimentos válidos apenas Edilson Aguiais [18] para os autos físicos, eu faço a devida referência para que, com isso, caso o leitor prefira, possa seguir adiante, sem perda de conteúdo. Em termos bem práticos, o que eu quero com esse livro é ensinar profissionais de diversas especialidades e diferentes formações profissionais a falar uma única linguagem, que é a linguagem do rito processual pericial. Esse é o segredo para que você possa colocar em prática as especialidades da profissão que você já exerce (ou área que você acabou de se formar). Aqui vou ensinar a você o que é preciso fazer dentro do rito processual pericial para colocar os conhecimentos técnicos e científicos da profissão que você já domina a serviço do Poder Judiciário no Brasil. Esse livro foi projetado para pessoas que estão dispostas a ingressar em uma carreira profissional que tem crescido muito nos últimos anos. A perícia judicial é uma excelente opção para quem quer gerar renda extra e uma oportunidade ímpar para aqueles que desejam se inserir no mercado em sua área de formação. Cada dia mais pessoas têm decidido se tornar peritos judiciais devido à segurança dessa atividade profissional dentre as quais se destacam: flexibilidade de horários e prazos de entrega do laudo. Atualmente existem mais de 100 milhões de processos em trâmite no judiciário e quase 1 milhão de advogados atuando nesses processos1. Este é o tamanho do mercado da profissão do perito judicial no Brasil. Para atuar como perito judicial não é necessário prestar concurso público ou realizar pós-graduação, nem estar vinculado a entidades de perícia ou emprego oficial. Podem se tornar peritos: administradores, economistas, contadores, agrimensores, profissionais de TI e de turismo, engenheiros, profissionais das áreas de comércio exterior, 11 Justiça em números, CNJ, 2019 Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 19 ] médicos, biomédicos, psicólogos, enfermeiros, assistente sociais e todos os profissionais que possuam curso superior completo2. Até o final do livro você terá todo conhecimento de como é a atuação do perito dentro do poder judiciário brasileiro e terá acesso a praticamente todos os modelos de documentos e petições que você irá usar no seu dia a dia como perito judicial. Nesse ponto, eu disponibilizei na Parte II do livro mais de 50 modelos de petições que você necessitará para atuar com sucesso nessa honrosa carreira. Ao longo do livro serão abordados os pontos fundamentais para se tornar um perito judicial, desde como fazer um bom curriculum, como se apresentar ao juiz, como fazer a proposta de honorários, como receber os seus honorários e muito mais. Esse é o livro mais completo com o foco na formação de peritos judiciais disponível no mercado. O leitor ideal para esse livro é qualquer profissional que seja formado no ensino superior ou esteja cursando um curso superior nas áreas de administração, ciências contábeis, economia, engenharia civil, engenharia elétrica, engenharia mecânica, química industrial, engenharia em segurança do trabalho, medicina, biomedicina, odontologia, serviço social, enfermagem, etc. e que esteja em busca de criar ou aumentar a sua renda colocando seus conhecimentos à disposição do Poder Judiciário no Brasil. Entretanto, apesar de habilitado legalmente a exercer sua profissão, antes de realizar os contatos iniciais buscando obter a primeira nomeação como perito judicial é importante você estar atualizado quanto ao que se denomina rotina e 2Mesmo os profissionais que não possuam curso superior podem atuar como peritos, em situações excepcionais e a escolha do juízo, desde que sejam especializados nos assuntos que serão discutidos no processo. Edilson Aguiais [20] burocracia forense. Esse é o objetivo desse livro e, por isso, é de suma importância que você o tenha sempre em mãos, fazendo a leitura do mesmo quantas vezes forem necessárias para o completo entendimento do modo de funcionamento da burocracia forense, porque os conhecimentos da sua área de formação eu sei que você já possui. Lembre-se: a perícia requer conhecimentos técnicos e científicos para esclarecer aquilo que o leigo não tem conhecimento, mas é preciso conhecer a burocracia forense para executar um trabalho pericial com confiança. Essa obra trabalha de forma prática e clara os principais aspectos da perícia e sobre a atuação do perito no processo judicial, atentando para as recentes modificações introduzidas no ordenamento jurídico introduzidas pelo novo Código de Processo Civil - CPC (Lei n. 13.105/2015). Com exemplos práticos e modelos dos principais documentos utilizados pelo perito no cotidiano de sua atuação profissional, esse livro atende aos interesses dos mais diversos tipos de leitores, desde estudantes até profissionais experientes, detalhando a fundamental importância do conhecimento da rotina forense para o sucesso profissional. Sei que é muita pretensão acreditar que isso caberia em um livro, mas aqui deixo a minha singela contribuição. O autor Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 21 ] PARTE I – FUNDAMENTAÇÃO Edilson Aguiais [22] Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 23 ] UNIDADE I - A PERÍCIA E O PERITO Edilson Aguiais [24] Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 25 ] 1 QUEM PODE SER PERITO JUDICIAL? O perito judicial é um cidadão comum que tenha vasto conhecimento sobre determinado assunto e que é chamado pela justiça para esclarecer questões técnicas e científicas em um processo judicial. Por isso mesmo é que podem ser peritos judiciais praticamente todos os profissionais legalmente habilitados, de ambos os sexos e de qualquer idade. Ou seja, cada profissional será o perito exercendo sua própria área de formação e especialidade. Dessa forma: médicos farão perícias de medicina; engenheiros farão as perícias de engenharia; administradores, contadores e economistas farão perícias de cálculos financeiros e cálculos trabalhistas; e assim por diante3. Existem inúmeros motivos para se atuar nessa atividade profissional, dentre os quais destacam-se: I - carreira sólida: as pessoas que trabalham na iniciativa privada, tanto em grandes empresas quantos nas menores, certamente se sentem inseguras quanto ao futuro do seu emprego. Mesmo que você atue em uma área que tenha carreira estável, existe a possibilidade de ser demitido, por um motivo ou outro. Os casos de demissão são quase 3 Como esse livro é destinado a profissionais das mais diferentes áreas de formação (administradores, contadores, economistas, médicos, biomédicos, engenheiros, psicólogos, veterinários, assistentes sociais, etc.) não se buscou fazer uma clara limitação das áreas de atuação de cada profissional, mesmo sabendo que existem áreas específicas de atuação de cada um dos profissionais peritos. Edilson Aguiais [26] sempre imprevisíveis. Diferentemente do que acontece no mercado de trabalho formal, a atividade de perito judicial, por suas próprias características de auxiliar do juízo, pouco depende de fatores externos ou do humor do mercado e, exatamente por isso, tem se tornado muito atrativa para aqueles que buscam segurança em uma atividade profissional II - renda extra: a atuação como perito judicial pode ser utilizada como uma importante fonte de renda extra, principalmente para servidores públicos. É bastante comum encontrar funcionários públicos ou servidores de estatais que também atuam na área pericial, graças à flexibilidade de horários que é possível obter como perito. Conheço casos de funcionários públicos que, devido ao volume razoável de perícias, preferiram se aposentador no seu trabalho para viver unicamente de perícia. III - fonte alternativa de renda: os atrativos da atividade pericial são tão grandes que até mesmo pessoas que já se aposentaram, mas que ainda se sentem em condições de trabalhar, têm encontrado na atuação como perito judicial uma oportunidade para utilizar seus conhecimentos adquiridos ao longo de sua vida profissional. Considerando que em 2019 tramitaram no judiciário brasileiro cerca de 110 milhões de processos, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça - CNJ4, é possível estimar o tamanho do mercado de atuação para o perito. Além disso, segundo o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB existem, no Brasil, mais de 1 milhão de advogados. Considerando que o perito também pode atuar como assistente técnico5, é uma carreira em franca expansão. 4 CNJ, Conselho Nacional de Justiça. Justiça em números 2019: ano-base 2018. Brasília: CNJ: 2019. 5 Enquanto o perito judicial é um auxiliar da justiça, o assistente técnico (ou perito- assistente) é um auxiliar da parte. Portanto, para cada processo que tenha como Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 27 ] Por esses dias o síndico do condomínio onde moro resolveu contratar uma nova empresa de contabilidade. Segundo ele, a empresa que nos atendia não estava sendo suficientemente profissional e ele precisava fazer essa mudança. Mesmo não sendo necessário, ele preferiu levar esse assunto para a reunião de condomínio. No momento de apresentar o novo profissional que seria o responsável pela gestão contábil do condomínio por várias vezes ele ressaltou que, além de contador, ele era perito judicial especializado em condomínios. O mais interessante era ver a expressão no rosto dos condôminos ao falarem pessoalmente com um perito judicial. Nem precisa contar o resultado, né? Aprovado por unanimidade. Até eu fiquei mais tranquilo ao saber que estávamos contratando um perito, não um aventureiro qualquer. Esse é o poder de marketing que a sua atuação como perito pode trazer para a sua carreira. Além disso, a perícia judicial pode ser importante fonte de renda também para os profissionais liberais. Isso acontece porque grande parte dos conhecimentos exigidos para se atuar como perito judicial já faz parte das atividades cotidianas desses profissionais. Ou seja, até mesmo para aquelas pessoas que escolheram atuar no mercado como profissionais liberais, atuar como perito judicial pode ser uma importante complementação de renda. E, mais do que complemento de renda, ser perito judicial permite novas experiências que, além de contribuir para o seu aprimoramento profissional, servem como um bom diferencial de marketing na escolha do seu cliente. Para os mais jovens e para aqueles que, mesmo formados em curso superior ainda não conseguiram se inserir na sua área de atuação, a oportunidade de trabalho fundamento alguma questão técnica ou científica será necessário, no mínimo, 3 profissionais especializados (1 perito e 2 assistentes técnicos). Edilson Aguiais [28] como perito judicial ou assistente técnico pode ser a forma de se inserir efetivamente no mercado. A lógica é bastante simples: com a evolução da educação formal, cada dia mais as pessoas estão se tornando conscientes de seus direitos. Ora, se há uma violação do direito de alguma pessoa, o normal é ela buscar socorro junto ao judiciário, ficando nas mãos do juiz a decisão sobre ‘a quem cabe a razão’. Nesse caso, se a solução da questão exigir conhecimento técnico, ou seja, se a fonte desse direito violadoé de natureza técnica, é obrigação do juiz constituir um perito judicial para auxiliá-lo elidir a questão, conforme explicado anteriormente. 1.1 OS BENEFÍCIOS DA CARREIRA Existem tantos benefícios em se atuar como perito judicial que mesmo aquelas pessoas que estão buscando alguma oportunidade profissional mais concorrida, ter em seu curriculum uma atuação como perito é muito importante e, com certeza, será um fator competitivo em qualquer entrevista de seleção. Uma atuação de sucesso como perito leva o profissional a se especializar cada vez mais na sua área de atuação, como o que acontece com administradores, contadores e economistas encontram nos cursos sobre perícias em cheque especial, cálculos trabalhistas, recuperação judicial, lucros cessantes, leasing, sistema financeiro da habitação e outros contratos financeiros a sua forma de se especializar como perito. Do mesmo modo, engenheiros, arquitetos e corretores de imóveis vão buscar maiores conhecimentos nas técnicas de avaliação de imóveis, etc. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 29 ] Outra área que tem crescido muito ultimamente é a perícia grafotécnica, que é um procedimento técnico no qual o profissional especializado em escrita irá determinar, por meio de técnicas próprias, a validade de determinado documento, sendo muito utilizada em análise de testamentos, escrituras antigas, etc. É importante lembrar que o perito não é um funcionário público, ou seja, não é preciso fazer algum concurso público para começar a sua atuação como perito judicial. O perito é uma pessoa designada pela justiça, em caráter momentâneo, para fornecer um laudo elucidando algum ponto duvidoso ao juízo e que exija a aplicação de algum conhecimento técnico ou científico. O seu papel é de auxiliar a justiça, nos termos do art. 149, CPC, in verbis. Art 149. São auxiliares da justiça, além de outros cujas atribuições sejam determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias. Como um auxiliar da justiça, a atuação do perito se dará de modo bem parecido com um profissional liberal, sendo nomeado exclusivamente nos processos que necessitem de seu conhecimento técnico ou científico. Por isso que o perito nomeado deve possuir especialidade no assunto que a matéria periciada exigir, pois seu papel é suprir as ineficiências naturais do juiz, que é um profundo conhecedor das leis, mas que, como esperado, não possui conhecimentos avançados em finanças, engenharia ou medicina, por exemplo. Edilson Aguiais [30] Ora, o resultado da perícia será a emissão de um laudo técnico, esclarecendo as questões de modo detalhado para que o juiz possa tomar sua decisão do modo mais justo possível, não se atendo apenas às características da lei, mas, principalmente, às particularidades do caso concreto. Ou seja, o juiz irá emitir a sua sentença tendo como uma de suas fundamentações o documento técnico elaborado pelo perito. 1.2 ONDE O PERITO TRABALHA? Você pode ser perito na justiça estadual, federal ou do trabalho ou, ao mesmo tempo, em ambas. Aliás, aqueles profissionais que dedicam mais tempo à perícia acabam sendo nomeados em pelo menos duas delas. Além disso, o perito pode atuar em diversos processos a um só tempo, em sua cidade ou em cidades vizinhas. Isso acontece porque não há um limite legal de processos que um profissional pode trabalhar ao mesmo tempo, tudo depende da sua capacidade técnica e da qualidade do trabalho que você vai oferecer ao judiciário. Veja a fundamentação legal para a nomeação do perito nos processos judiciais, conforme regra definida no art. 156, CPC: Art. 156 - O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. Interessante é ver que uma leitura menos atenta desse artigo faz parecer que há uma escolha do juiz em nomear ou não um perito, naqueles processos em que seja necessária a aplicação do conhecimento técnico ou científico. Entretanto, cabe observar que essa é uma norma cogente, ou Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 31 ] seja, há aqui a imposição da lei para que o juiz seja auxiliado por perito nos processos que tenham como essência da lide questões técnicas. 1.3 O PERITO É ESSENCIAL NO PROCESSO Por esse motivo entende-se que “a nomeação do perito é indispensável, mesmo que o juiz tenha conhecimento técnico pertinente” (THEODORO JR, 2015 p. 592). Em outras palavras, o juiz “não pode substituir critérios técnicos [de perito] por sua própria análise”6 visto que a produção da prova técnica pericial é um direito das partes, ancorada no contraditório técnico, o que não aconteceria caso o juiz atuasse também como perito. Assim, “se não existe juiz- testemunha, também não pode existir juiz-perito” (Dinamarco, 2019 p. 585) Então, mesmo que o juiz tenha alguma formação em medicina, ele não pode julgar como se fosse um médico pois o seu papel no processo é atuar como magistrado. Assim, em um caso como esse, é preciso que seja nomeado um perito médico, especializado no assunto do qual é objeto a perícia e, a partir das provas produzidas pelo perito, o juiz irá tomar a sua decisão. O mesmo caso se aplica caso o juiz tenha conhecimentos em engenharia, contabilidade, economia etc. A proibição que tem o juiz de se utilizar de seu conhecimento em matérias que exijam conhecimento técnico ou científico especializado advém da própria norma processual, que dispõe em seu art. 375, que: 6 STJ, 2ª T., REsp 815.191/MG, Rel. p/ ac. Min. Eliana Calmon, ac. 12.02.2006, DJU 05.02.2007, p. 207. Edilson Aguiais [32] Art. 375. O juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece e, ainda, as regras de experiência técnica, ressalvado, quanto a estas, o exame pericial. Sobre esse tema, importante lição é apresentada pelo prof. Reinaldo Alberto Filho ao afirmar que ‘o juiz não pode usar de seu virtuoso conhecimento cultural-técnico-científico, devendo agir como homo medius, mesmo que também seja um engenheiro, médico, et coetera, sob pena de nulidade de todo o processo, a partir de sua manifestação, como se um técnico fosse.”7. “Em se tratando de matéria complexa, em que se exige o conhecimento técnico ou científico, a perícia deve ser realizada. O juiz, ainda que não esteja vinculado às conclusões do laudo pericial, não pode realizar os cálculos ‘de próprio punho’. Isso porque, com a determinação da perícia, as partes terão a oportunidade de participar da produção probatória, com a nomeação de assistentes técnicos e a formulação de quesitos”. STJ, AgRg no AREsp 184563 / RN, j 16.08.2012. Em outros termos, considerando a norma cogente8 de nomeação do perito naqueles processos em que a solução da demanda dependa de conhecimento especializado, há entendimento pacificado da necessidade desse profissional, não podendo o juiz, mesmo que tenha conhecimento para tal, adentrar à análise das questões técnicas. 7 ALBERTO FILHO, op. cit., 2015, p.18. 8 Norma cogente: Aquela que impõe de modo absoluto; obrigatória e necessária à organização e ao equilíbrio da vida social (SANTOS, 2001, p. 146). Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 33 ] Apesar de ser essa a noção dominante no meio jurídico, o Prof. Alberto Franqueira Cabral, em seu Manual da Prova Pericial, define que “quando o juiz não dispõe de tempo para se aprofundar na matéria e proceder, direta e pessoalmente à verificação e apreciação de certos fatos, suas causas e consequências, o trabalho visando a tal objetivo se fará através da perícia”. Ou seja, mesmo queo CPC seja bastante específico quanto à essencialidade da atuação do perito para a efetivação da Justiça, alguns autores ainda apresentam seus conceitos muito mais ligados à falta de tempo do julgador para estudar a matéria em específico. Como o perito terá sua atuação como um auxiliar do juízo, substituindo o juiz nas matérias técnicas das quais ele não tem conhecimento, entende-se que o magistrado é o peritus peritorum (perito dos peritos) e, exatamente por isso, a sua decisão não deverá ficar circunscrita às conclusões obtidas no laudo pericial. Essa regra, inclusive, está descrita no artigo 436, CPC. Art. 436: o juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos. Grosso modo, ao emitir a sentença o juiz irá analisar todo o conjunto probatório existente no caderno processual e, partir disso, irá formar sua convicção sobre a verdade dos fatos e, por conseguinte, decidir a quem cabe o direito. Como já foi dito anteriormente, apesar da importância da perícia como meio de prova em um processo judicial, não há de se falar em hierarquia das provas, ou seja, todas as provas deverão ser ponderadas quando da decisão judicial. Apesar de não existir um meio de prova que seja considerado mais importante que o outro, o art. 371 do CPC Edilson Aguiais [34] impõe ao magistrado a exigência de esclarecer na sua decisão quais foram as suas razões de convencimento, considerando o alcance do princípio do livre convencimento motivado. Na mesma linha, ao destacar a importância do artigo citado, o art. 479 traz como regra que o juiz deve elucidar na ‘sentença os motivos que o levaram a considerar ou deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método utilizado pelo perito’9. Ou seja, tal é a importância da prova pericial que a sua desconsideração vai além da mera escolha do juiz, por este ou por aquele motivo. É preciso apresentar uma argumentação filosófica de conteúdo. Em suma, é exigido que o juiz faça firme fundamentação e argumentação para desconsiderar os resultados obtidos pela prova técnica. Nesse sentido: PROVA PERICIAL - PREVALÊNCIA -Frise-se que o julgador não está adstrito ao laudo pericial oficial (artigo 436 do CPC), pois a perícia é meio elucidativo e não conclusivo, podendo formar sua convicção com outros fatos ou elementos presentes nos autos, segundo o princípio da persuasão racional livre e convencimento motivado. Todavia, somente diante de elementos de convicção consistentes em sentido contrário é que a prova técnica pode ser desprezada pelo julgador. Não sendo elididos os levantamentos periciais, prevalecem, as conclusões do expert. (TRT-3 - RO: 03218201203103000 0003218-17.2012.5.03.0031, Relator: Marcio Flavio Salem Vidigal, Quinta Turma, Data de Publicação: 05/05/2014,02/05/2014. DEJT/TRT3/Cad.Jud. Página 262. Boletim: Não.) Ora, a prova técnica pericial é necessária para que se possa esclarecer os fatos que dependam de conhecimento 9 Art. 479, Lei n. 13.105/2015. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 35 ] especializado em determinada área. Dessa forma, é imperativo que o juízo venha a se valer da perícia em quaisquer casos em que exista premente necessidade de aplicação de conhecimento técnico ou científico. Nesse ponto é importante ressaltar que a realização da perícia é um direito das partes e, em caso de uma negativa que não seja suficientemente fundamentada, as partes que litigam no processo podem suscitar o cerceamento de defesa, pelo impedimento da realização da prova técnica10. 1.4 PRECISO TER PÓS-GRADUAÇÃO? Outro ponto importante que já citado anteriormente: para se tornar perito é preciso ser legalmente habilitado na sua profissão e especializado no assunto da perícia que está sendo exigida. É esse o entendimento do art. 465 do CPC que define que: Art 465 - o juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo. Aqui cabe importante observação: com o crescimento do número de processos em tramitação no poder judiciário11 houve um aumento considerável da demanda por peritos (mais pessoas conscientes de seus direitos geram demandas mais específicas e, na maioria delas, é necessário o conhecimento especializado de um perito). Por isso, vários cursos de pós-graduação (lato sensu) foram criados para atender esse público que, nos termos da lei, para ser 10 STJ, REsp. 1549510 / RJ, j. 23.02.2016. 11 CNJ, op. cit. 2018. Edilson Aguiais [36] nomeado pelo juiz, precisa ser “especializado no objeto da perícia”. O ponto em questão é que você não precisa estar cursando ou ter concluído uma pós-graduação em perícia para poder atuar como perito (judicial ou extrajudicial), mesmo sabendo que será muito bom para sua carreira profissional se você fizer uma pós-graduação nessa área. Diferentemente do que alguns mais incautos acreditam, uma pós-graduação em perícia irá apenas te certificar como especialista em determinado assunto, não como especializado12. O profissional especializado é um profissional experimentado, que tem grande conhecimento sobre determinado assunto. Em suma, você não é obrigado estar cursando ou ter concluído uma pós-graduação em perícia judicial (ou qualquer outra nomenclatura atribuída pelos profissionais do marketing) para poder trabalhar na função de perito. O fundamento está no parágrafo primeiro do art. 156 do CPC que diz o seguinte: Art 156 - § 1º os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. Em outros termos, a nomeação do perito se dará apenas entre os profissionais que sejam legalmente habilitados e que estejam inscritos no cadastro feito pelo próprio tribunal. Cabe relembrar que não é no cadastro de 12 especialista é uma certificação que você recebe de uma instituição após concluir uma pós-graduação lato sensu enquanto o termo especializado está mais ligado ao nível de conhecimento sobre determinado assunto que uma pessoa possui, mesmo sem possuir o título de especialista. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 37 ] nenhuma associação, instituto ou qualquer outra entidade de classe. Nessa mesma esteira, o Conselho Nacional da Justiça – CNJ fez publicar a Res. 233/2016 determinando que todos os tribunais criassem um Cadastro Eletrônico de Peritos e Órgãos Técnicos e Científicos – CPTEC e, mais do que isso, vedou a nomeação de profissional que não estivesse devidamente incluído neste ‘banco de peritos’. Cabe aqui outra importante observação: até a edição do Código de Processo Civil de 2015, corretores de imóveis, técnicos em segurança do trabalho, técnicos em agrimensura e grafotécnicos eram os únicos profissionais de nível técnico que poderiam ser peritos, tanto judiciais quanto extrajudiciais13. Essa regra mudou a partir da vigência do CPC/2015. Isso acontece porque, o §1º do art. 156, que é quem define as pessoas que poderão ser nomeados como peritos, deixou de exigir formação superior, como estava descrito no CPC/1973. Então, para ser perito, a lei não mais exige que o profissional tenha algum curso superior completo. A exigência é apenas que seja legalmente habilitado e especializado no objeto da perícia. Ora, o entendimento desse preceito legal é que para ser perito você precisa apenas ser um profissional legalmente habilitado (ter uma lei que te habilite a fazer tal 13 Havia uma regra no CPC/1973 de que só poderiam ser peritos os profissionais de formação universitária como, de certo modo, garantir a ‘pureza da prova técnica pericial. O CPC/2015 retirou essa obrigatoriedade de ensino superior para atuar como perito, exigindo apenas a habilitaçãolegal (em alguns casos, a regra é mais rígida) e a especialidade (que, apesar de recomendada, não era uma realidade com o CPC/1973). Edilson Aguiais [38] trabalho)14 e estar inscrito no cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. Aqui cabem muitas discussões que não entrarei no mérito, mas o importante é você saber que, estando registrado e adimplente com o seu órgão de fiscalização da profissão (CRM, CRC, CRA, CORECON, CREA, etc.) você está autorizado pelo CPC para ser perito. Não é obrigatório estar em cadastro de nenhum outro órgão, apenas no cadastro do tribunal ao qual o juiz está vinculado. Em se tratando de profissionais legalmente habilitados, no caso de profissionais que possuem um órgão de fiscalização profissional (exemplo: CRM, CREA, CRECI, CORECON, CRC, CRA, dentre outros), esse profissional deve estar ativo e regular com suas obrigações pecuniárias junto ao seu órgão de fiscalização, para que não sejam suspensos seus direitos de profissional desta categoria. Mas, lembre-se: conselhos são órgãos de fiscalização profissional, não são entidades de classe (como associações, sindicatos, institutos, etc.), cuja inscrição é facultativa. Em outras palavras: se a sua profissão possuir algum órgão de fiscalização profissional, você deve estar registrado e adimplente junto a esse órgão para que seja considerado legalmente habilitado e, portanto, possa ser nomeado perito. Por outro lado, se a sua profissão não tiver uma entidade que promova a fiscalização da profissão, não é obrigatório estar vinculado a nenhuma associação de peritos, instituto de perícia ou outras denominações quaisquer15. 14 Aqui o sentido de lei é lato sensu, ou seja, desde que haja alguma resolução, portaria, etc. de um ente com atribuições legais para definir a área de atuação de uma determinada categoria profissional. 15 O CPC foi silente acerca dos profissionais que não possuem conselhos de fiscalização profissional, tais como profissionais de TI, Letras, Pedagogia, etc. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 39 ] 1.5 O CADASTRO DO PERITO NO TRIBUNAL À luz dessa inovação trazida pelo CPC de 2015 (e confirmada pela Res. 233/2016 – CNJ), de que passa a ser necessário estar cadastrado em ‘cadastro mantido pelo tribunal’, surgiram milhares órgãos, institutos e associações profissionais se dizendo as únicas representantes dos peritos e organizando os mais diferentes tipos de cadastro (e cobrando por isso). A meu ver, essa confusão foi gerada pelo parágrafo segundo do art. 156 ao definir que: Art 156 - § 2º para formação do cadastro, os tribunais devem realizar consulta pública, por meio de divulgação na rede mundial de computadores ou em jornais de grande circulação, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a indicação de profissionais ou de órgãos técnicos interessados. Pelo disposto na legislação, a conclusão é bem simples: se haverá uma consulta às universidades, a conselhos de classe, ao ministério público e etc. o normal seria que esses órgãos, de antemão, criassem uma lista dos profissionais que tivessem interesse em atuar como peritos para que, em caso de ser feita uma consulta pelo tribunal, essa lista fosse gentilmente cedida ao Poder Judiciário. Ora, esse mandamento do CPC gerou uma infinidade de outras regras infralegais, onde diversos conselhos profissionais começaram criar critérios para que os Edilson Aguiais [40] profissionais fiscalizados por esse conselho pudessem participar dessa lista, em um efeito cascata16. Não cabe a mim decidir se a postura desses conselhos em criar procedimentos para impedir o acesso de todos seus inscritos à provável lista que seria demandada pelo poder judiciário foi certa ou errada. A minha observação é apenas quanto à literalidade do texto legal que elenca vários outros meios de formação do cadastro de peritos, não apenas as listas fornecidas ao judiciário pelos conselhos de fiscalização profissional. Entretanto, esse imbróglio ultrapassa, em muito, os limites desse livro. 1.6 A ATUALIZAÇÃO DO PERITO Continuando a nossa análise do texto legal, o §3º do art. 156 define que é preciso que o perito se mantenha constantemente atualizado e, daí advém a importância de se participar de programas de formação continuada. Esse entendimento ficou definido legalmente da seguinte forma: Art. 156 - § 3º os tribunais realizarão avaliações e reavaliações periódicas para manutenção do cadastro, considerando a formação profissional, a atualização do conhecimento e a experiência dos peritos interessados. Novamente, pela ordem emanada o legislador, quem é o responsável pela manutenção do cadastro de peritos é o próprio tribunal ao qual o juiz está vinculado e, portanto, cabe a ele realizar as avaliações e reavaliações periódicas 16 Diversos conselhos profissionais entenderam que, diante da possibilidade de consulta pelo Poder Judiciário, conforme previsto no CPC, seria necessário criar cadastros de profissionais habilitados a fazer perícias judiciais, com critérios de inserção, exclusão e permanência. Além disso, surgiram inúmeros cadastros Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 41 ] para manutenção do seu cadastro. Entretanto, apesar da literalidade da lei, talvez pela dificuldade prática em se realizar tal feito, essa tarefa foi transferida extraoficialmente aos conselhos profissionais e demais órgãos de representação profissional. Assim, foram criados diversos programas de formação continuada, visando manter os peritos atualizados em suas respectivas áreas de atuação e, com isso, elevar a qualidade técnica do trabalho oferecido ao Poder Judiciário. Do mesmo modo, foram criados programas de certificação em muitos institutos e associações visando dar destaque aos profissionais mais qualificados e, com isso, inibir a entrada de aventureiros que, por falta de qualificação técnica, possam promover um desserviço à justiça brasileira. Entretanto, mesmo com todos os benefícios advindos dos programas de formação continuada e dos programas de certificação profissional criados no âmbito dos conselhos profissionais e demais órgãos de representação profissional, a intenção do legislador era manter a cargo do próprio Poder Judiciário a manutenção do cadastro de peritos habilitados. Corrobora com esse entendimento o que está expressamente disposto no parágrafo segundo do art. 157 do CPC que define: Art. 157 - § 2º será organizada lista de peritos na vara ou na secretaria, com disponibilização dos documentos exigidos para habilitação à consulta de interessados, para que a nomeação seja distribuída de modo equitativo, observadas a capacidade técnica e a área de conhecimento. Ou seja, de acordo com o texto legal, a vara ou secretaria do tribunal fará e manterá a lista de peritos. Esse procedimento, segundo a legislação processual, seria Edilson Aguiais [42] necessário para que se tenha uma distribuição mais justa e equitativa dos trabalhos periciais, de acordo com a capacidade técnica de cada perito. Ora, da leitura da lei se percebe que o perito deve ter cadastro na vara do tribunal ao qual o juiz está vinculado, não em algum site de instituto de perícia ou associação com qualquer nome. Não custa ressaltar que você não está impedido de participar (ou até mesmo organizar) algum instituto ou associação que reúna os peritos da sua cidade ou estado. Na verdade, esse é um excelente meio de se obter networking e solidificar os seus conhecimentos sobre a atividade pericial. Minha observação é apenas para te orientar que você não está obrigado a se inscrever (nem a permanecer inscrito) nos quadros de nenhum outro órgão que não seja o seu conselho profissional ou, para as profissõesque não possuem conselhos profissionais, no órgão de representação de sua categoria profissional. 1.7 NOMEAÇÃO DE ÓRGÃO TÉCNICO Evoluindo a conceituação legal sobre quem pode ser perito, o §4º do art. 156 define que, quando a nomeação for de algum órgão técnico ou científico, é preciso informar ao juiz os dados de qualificação técnica dos profissionais que participarão da atividade, como forma a garantir que o trabalho está sendo feito por profissionais especializados no objeto da perícia. Nos termos do §4º: Art 156 - § 4º para verificação de eventual impedimento ou motivo de suspeição, nos termos dos arts. 148 e 467, o órgão técnico ou científico nomeado para realização da perícia informará ao juiz os nomes e os dados de qualificação dos profissionais que participarão da atividade. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 43 ] Nesse ponto há uma celeuma que eu deixei de abordar quando comentei o caput do art. 156: acerca da nomeação de órgãos técnicos ou científicos para o procedimento pericial. No meu entendimento, ao incluir os órgãos técnicos e científicos no rol daqueles habilitados a fazerem perícia, o legislador estava se referindo unicamente àquelas entidades públicas, especializadas em determinado assunto. Por exemplo, imagine um processo que tramite na Justiça Federal contestando, por algum motivo, o custo de uma obra executada por alguma empreiteira à União. Nesse caso, aplicando o disposto no art. 156 do CPC, o juízo poderia nomear algum órgão técnico especializado em obras civis para atuar como perito naquele caso, visto que ele tem em seus quadros funcionais profissionais altamente especializados no objetivo da perícia. Em casos como a situação hipotética apresentada acima, assume notável importância a regra definida no §4º do art. 156 visto que será necessário que tal órgão informe ao juízo que os profissionais que atuarão naquela perícia não estão sujeitos a impedimento ou suspeição (art. 148 e 467, CPC). 1.8 CONCLUSÕES GERAIS Por fim, sabemos que o Brasil é um país continental e profundamente marcado por desigualdades regionais. Ora, nas regiões mais populosas normalmente há grande número de peritos para esclarecer tecnicamente as demandas levadas pela população ao Poder Judiciário. Entretanto, nas comarcas menores não é tão simples achar um profissional legalmente habilitado e que seja especializado no objeto da Edilson Aguiais [44] perícia. O que fazer então? O CPC já deu a solução, nos termos do §5º do art. 156, que define: Art. 156 - § 5º na localidade onde não houver inscrito no cadastro disponibilizado pelo tribunal, a nomeação do perito é de livre escolha pelo juiz e deverá recair sobre profissional ou órgão técnico ou científico comprovadamente detentor do conhecimento necessário à realização da perícia. Ora, pela leitura do texto da lei já dá pra perceber que, nas regiões onde não exista um número muito grande de profissionais à disposição do judiciário (ou não exista cadastro de peritos), o juiz poderá escolher livremente o profissional que melhor lhe aprouver, desde que essa pessoa consiga comprovar que é detentor do conhecimento técnico ou científico necessário à realização da perícia. Esse entendimento foi reafirmado na Res. 233/2016 – CNJ ao vedar a nomeação de qualquer profissional que não esteja regularmente inscrito em cadastro feito pelo tribunal, exceto nos casos do art. 156, §5º, CPC visto que se trata de uma situação excepcional exatamente para quando não houver na localidade profissional inscrito no ‘banco do peritos’ desenvolvido pelo tribunal. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 45 ] 2 O PERITO JUDICIAL A palavra perito é de origem latina, sendo um adjetivo oriundo de peritus. Esse termo tem como sinonímia: expert (em inglês), expertise (em francês) ou experto (português), sendo por vezes chamado também de Louvado em muitos expedientes forenses. Nesse ponto é preciso uma ressalva que é de vital importância para o profissional que está iniciando a sua carreira profissional como perito judicial ou assistente técnico. Até a publicação das Ordenações Afonsinas, os Arbitradores eram chamados pelo mesmo nome dos Louvados ou Fiéis. Entretanto, com a evolução da sociedade, o Árbiter – palavra também de origem latina – passa a ter o significado de juiz, de árbitro. Tanto esse entendimento é verdadeiro que o juiz arbitral nada tem a ver com o perito pois tem o poder de decisão enquanto o perito é apenas um auxiliar daquele que decide, sendo cabível a utilização da perícia inclusive nos procedimentos levados à termo nas cortes arbitrais17. Diferentemente do árbitro, o perito, lato sensu, é pessoa (grupo de pessoas ou órgão técnico) que atua como 17 Não custa lembrar que o árbitro irá decidir a questão controvertida como se fosse um juiz, tendo a sua decisão um poder definitivo de decisão. Tanto é esse o entendimento que a Lei nº 9.307 de 1996, que dispõe sobre a Arbitragem, define o documento emitido pelo árbitro como sentença arbitral, que apenas será homologada pelo juiz togado sendo, portanto, irrecorrível. Edilson Aguiais [46] auxiliar da justiça18 sendo nomeado pelo juiz, sempre que for necessário o esclarecimento de assuntos técnicos ou científicos que extrapolem os permissivos legais do magistrado. Por isso, “a nomeação do perito é indispensável, mesmo que o juiz possua conhecimento técnico pertinente à apuração do fato probando”19. Diferentemente do que acontecia no antigo código processual, o CPC atual define que o perito é mais que um mero auxiliar e pessoa de confiança do juiz, ele é um auxiliar da própria justiça20 e, como tal, deve se portar com absoluta independência, focado sempre nos limites que a questão técnica lhe impõe. Ressalta-se ainda que o perito judicial é um auxiliar de atuação eventual, sendo nomeado ad hoc , funcionando apenas nos casos em que a decisão do magistrado demande o conhecimento técnico da sua especialidade. Assim, sempre que a solução da lide depender da aplicação de conhecimento técnico ou científico o juiz deverá estar assessorado por um perito. Ao reconhecer a importância da prova pericial para a solução justa da lide, o CPC prestigia o perito, exigindo grande transparência para sua nomeação e reforçando a necessidade de que o perito escolhido seja detentor de conhecimento técnico especializado. 2.1 QUEM É O PERITO JUDICIAL? O perito judicial é um cidadão comum que tenha vasto conhecimento sobre determinado assunto e que é chamado 18 Art. 149, Lei n. 13.105/2015. 19 THEODORO JR, H. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum. 56. ed. rev. atual. e ampl. ed., Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 592. 20 Art. 149, Lei n. 13.105/2015. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 47 ] pela Justiça para esclarecer questões técnicas e científicas em um processo judicial. Trata-se, portanto, de um auxiliar eventual por necessidade técnica do juízo. Assim, sempre que houver controvérsia acerca de uma questão técnica ou científica, a legislação impõe ao magistrado a necessidade de nomear um profissional especializado naquele assunto para que o auxilie na correta prestação jurisdicional visto que “não se pode exigir conhecimento pleno do juiz a respeito de todas as ciências humanas e exatas”21. Nesta linha, o Direito Canônico, no entendimento dado pelo Padre Jesús Hortal, define que são peritos ‘as pessoas legitimamente citadas para comparecer em juízo, em virtude de seus conhecimentos particulares de caráter científico e técnico, a fim de – prévio exame de pessoas ou coisas – emitir um parecer que ajude o juiz a comprovar a veracidade de um fato alegado ou a natureza de alguma coisa”22. O mesmosentido é dado pelo Dicionário Jurídico Brasileiro ao definir que perito é a “pessoa com erudição técnica, específica e comprovada aptidão e idoneidade profissional, nomeada pela jurisdição judicial, com a finalidade de ajudar a Justiça nas suas investigações, fornecendo sua avaliação técnica sobre o objeto da demanda ou alguma coisa com ela relacionada”23. Não poderia seguir conceituação diferente o Vocabulário Jurídico de De Plácido e Silva, que define o perito como sendo o “homem hábil (experto), que, por suas qualidades ou conhecimentos, está em condições de 21 NEVES, D. A. Manual de direito processual civil: volume único. Salvador: JusPodivm 2016, p. 1328. 22 HORTAL, J. Código de Direito Canônico. São Paulo: Loyola, 1997 p. 377-378. 23 SANTOS, W. d. Dicionário jurídico brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey 2001, p. 186. Edilson Aguiais [48] esclarecer a situação do fato ou do assunto que se pretender aclarar ou por em evidência, para uma solução justa e verdadeira da contenda”24. Por fim, o Professor Reinaldo Alberto Filho, em seu livro Da Perícia ao Perito, traz uma conceituação mais atual em face das alterações promovidas pelo legislador ao definir que o “perito é o profissional legalmente habilitado [e os órgãos técnicos e científicos], devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado, com autorização profissional para elucidar sobre um fato objeto de qualquer contenda, sendo judicial ou administrativa, desde que com o espeque em conhecimentos técnicos ou científicos”25. 2.2 UM CONCEITO DE PERITO JUDICIAL Por essas conceituações apresentadas, entende-se que o perito judicial nada mais é do que um é um cidadão comum, que tenha vasto conhecimento sobre determinado assunto, e que é chamado pela Justiça no curso de um processo judicial para esclarecer questões técnicas e científicas atinentes àquele processo. É, portanto, o portador da prova técnica e, como tal, deve se utilizar de seu amplo conhecimento sobre a matéria que está sendo periciada para esclarecer o juízo os assuntos que não sejam de domínio do juiz e que são essenciais para a solução da lide. Assim, sempre que a solução da lide depender da aplicação de conhecimento técnico ou científico o juiz deverá estar assessorado por um perito26. Ao reconhecer a 24 SILVA, D. P.. Vocabulário Jurídico (31 ed.). Rio de Janeiro: Forense, 2014 p. 1.569. 25 ALBERTO FILHO, op. cit., 2015, p. 30. 26 Art. 156, Lei n. 13.105/2015. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 49 ] importância da prova pericial para a solução justa da lide, o CPC prestigia o perito, exigindo grande transparência para sua nomeação e reforçando a necessidade de que o perito escolhido seja detentor de conhecimento técnico especializado. Em outras palavras, o perito judicial é o profissional especializado que, face aos seus conhecimentos técnicos e científicos, é chamado para auxiliar o juiz no descobrimento da verdade sobre determinado fato. Assim, o perito passa a ser considerado, por disposição legal, auxiliar da justiça, realizando tarefa que, teoricamente, o próprio magistrado deveria fazer, mas que, por limitação técnica ou científica, se vê obrigado a recorrer à assistência de um expert. O perito judicial é, portanto, pessoa estranha ao quadro de funcionários permanentes do poder judiciário, que deverá ser escolhido pelo juiz para atuar, mediante remuneração, em um processo específico. Visto que se busca nesse profissional exatamente suas qualificações técnicas, dentre as quais, salvo nas localidades onde não existam profissionais qualificados, deverá ser legalmente habilitado (inscrito no respectivo órgão de classe e adimplente) e especializado na matéria objeto da perícia. A função do perito é suprir o juiz das noções que ele humanamente não consegue ter conhecimentos suficientes. O resultado desse trabalho será materializado em um laudo técnico pericial27, que é a aplicação do conhecimento técnico ou científico sobre o assunto que está em discussão no juízo. Por isso, o perito é um auxiliar da justiça e deverá executar o seu trabalho de modo leal e honrado. 27 “documento escrito, no qual é relatado o exame feito pelos peritos, ali expondo tudo o que fizeram e o resultado de sua investigação e observações.” (SANTOS, op. cit. 2001, p. 143) Edilson Aguiais [50] É importante sempre lembrar que a função do perito é comprovar tecnicamente, na especialidade do expert, a veracidade ou não de determinada questão técnica, deixando a discussão sobre a quem assiste o direito em relação à realidade verificada para aquele que detém o poder da toga, ou seja, ao juiz. Assim, a perícia tem a função de declaração de caráter técnico sobre determinado objeto, ato ou fato, ou seja, a perícia tem o objetivo de auxiliar o juiz com um conhecimento especializado que ele não possui. Cabe, neste ponto, ressaltar que a prova gerada pelo perito deve estar adstrita ao esclarecimento das questões técnicas que interessem à causa, e que lhe sejam submetidas por meio dos quesitos apresentados pelas partes e/ou pelo juízo, “não podendo enveredar por questões jurídicas, nem emitir opinião sobre o julgamento. O seu papel é apenas o de fornecer subsídios técnicos para que o juiz possa melhor decidir”28 Além do perito, outros profissionais atuam como auxiliares da justiça. Mesmo não sendo objeto principal desse livro, convém citar, brevemente, o papel de cada um. 2.3 OS AUXILIARES DA JUSTIÇA Os auxiliares da justiça se dividem em dois grupos: os ordinários e os eventuais. Os auxiliares ordinários são aqueles servidores públicos concursados para auxiliar a efetiva prestação jurisdicional do Estado. São esses: o escrivão (ou chefe de secretaria), o oficial de justiça, o conciliador judicial, o partidor, o distribuidor e o contabilista. Essa regra é oriunda do texto legal apresentado no art. 149 do Código de Processo Civil, que dispõe: 28 GONÇALVES, M. V. Direito processual civil esquematizado - 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 677. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 51 ] Art. 149. São auxiliares da justiça, além de outros cujas atribuições sejam determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias. Por outro lado, existem os auxiliares da justiça eventuais, que são convidados a prestar serviços de ordem técnica, auxiliando a prestação jurisdicional mesmo sem serem servidores. Passemos a descrever brevemente a atuação de cada um desses profissionais. 2.3.1 O ESCRIVÃO O escrivão ou chefe de secretaria é o servidor público, aprovado em concurso público que, à exceção do juiz, é o mais importante dos elementos que compõe o juízo. Com a função de juntar petições aos autos, atender ao público e aos advogados, realizar o "cumprimento" do processo, ou seja, executar as determinações que o juiz faz via despacho, expedir os mandados de citação ou intimação, ofícios, mandados de averbação, alvarás, mandados de levantamento judicial, mandado de prisão e mais uma série de documentos. Em suma, é o profissional responsável por escrever, na devida forma ou estilo forense, todos os termos do processo e demais atos praticados em juízo em que servir. É o responsável por diligenciar para que se cumpram todas as ordens emanadas do juízo, chefiar o cartório, dentre outras atividades da rotina forense. Dica: é importante que perito o tenha bom relacionamento com o escrivão visto que questões como Edilson Aguiais [52] expedição de alvará de levantamento de honorários, mandados de intimação e outros atos processuais dependem diretamentedo trabalho feito por esse profissional. Como sempre digo, tratar as pessoas com urbanidade é uma característica do Judiciário, mas, no caso do chefe de secretaria, a cortesia passa a ser quase uma questão de sobrevivência. 2.3.2 OFICIAL DE JUSTIÇA O oficial de justiça é o servidor público, aprovado em concurso público do poder judiciário, dotado de fé pública, que materializa a aplicação da lei ao caso concreto. É esse profissional que fica responsável pela execução dos procedimentos que tenham repercussão externa ao juízo. Em suma, os oficiais de justiça são os mensageiros e executores de ordens judiciais. Por isso, o oficial de justiça é peça fundamental à prestação jurisdicional e uma função essencial à justiça, pois de nada adiantariam as decisões judiciais se não existisse quem as fizesse cumprir. 2.3.3 O TRADUTOR E O INTÉRPRETE O tradutor é a pessoa que passa um texto ou um documento de um idioma para outro. É importante saber que a atuação desse profissional não se confunde com a atuação do intérprete visto que sua função é traduzir textos e documentos em sua integralidade. Ou seja, pode haver um tradutor e um intérprete no mesmo processo29. 29 Dentre as muitas funções que podem ser exercidas pelos profissionais formados nos cursos de Letras está a possibilidade de atuar como Tradutor em processo judiciais. Isso acontece porque os concursos para ‘Tradutor Juramentado” não são feitos há algum tempo e, com isso, abriu-se uma importante área de atuação para esses profissionais que, por sua própria formação, são no mínimo bilíngues. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 53 ] O intérprete, por sua vez, é o profissional que traduz para o vernáculo, de modo que todos os interessados no pleito entendam, o que a parte, assistente, testemunha ou outra pessoa que seja portadora de deficiência exprimiu no processo. Sua atuação é de natureza semelhante à do perito, pois auxilia o juiz quando este julgar necessário e não possa fazê-lo ele próprio face a limitações de ordem técnica. Com o avanço da acessibilidade da justiça aos portadores de necessidades especiais, esse será o profissional responsável por transmitir a mensagem repassada oralmente em outra língua, pela linguagem de sinais ou pela forma de escrita braile à linguagem forense30. O intérprete deverá analisar também eventuais dúvidas suscitadas, em alguma parte do texto, de documento já traduzido pelo tradutor. Na função de intérprete, não poderá, pois, promover a efetiva e integral tradução do documento. A função do intérprete abrange também, por consequência, a tradução das perguntas do juiz e das partes para a língua do depoente de modo que este possa respondê- las de modo adequado. Ou seja, pode haver um tradutor e um intérprete atuando em momentos distintos no mesmo processo. 30 Importante destacar a aprovação da “Convenção sobre os direitos da pessoa com deficiência”, tratado internacional de Direitos Humanos, assinada em 30 de março de 2017 e ratificada pelo Brasil em 1º de agosto de 2008 que, nos termos do Art. 5º, §3º da Constituição passa a ter força de Emenda Constitucional. Além disso, a Lei n. 10.098/2000 estabeleceu normas e critérios gerais para a promoção da acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Ou seja, nos próximos anos haverá uma forte demanda por intérpretes para atender às demandas do poder público no quesito acessibilidade. Edilson Aguiais [54] 2.3.4 O CONTABILISTA, O DEPOSITÁRIO E O ADMINISTRADOR JUDICIAL O contabilista tem a incumbência de calcular o quantum correspondente a qualquer direito ou obrigação, seja em favor das partes ou do juízo. Quando a definição do valor de um processo depender de meros cálculos matemáticos, esses serão enviados ao contabilista. Dentre os auxiliares da justiça, são considerados eventuais: o perito, o depositário, o administrador judicial, o intérprete, o leiloeiro, o partidor, o regulador de avarias. O depositário é o profissional responsável pela guarda e conservação dos bens penhorados, arrestados, sequestrados ou arrecadados em sede de processo judicial. O depositário deverá empregar toda a sua diligência para evitar que os bens se extraviem ou deteriorem. O administrador judicial tem uma função que se assemelha ao depositário, ou seja, de guarda e conservação dos bens a eles confiados. Entretanto, além das responsabilidades de depositário, o administrador judicial tem a incumbência complementar de manter em atividade e produção o estabelecimento penhorado. 2.3.5 OS LEILOEIROS E OUTROS AUXILIARES Os leiloeiros são classificados como agentes delegados que recebem a incumbência de execução de determinada atividade ou serviço público, mas sob as normas do Estado e fiscalização do delegante, chamados de comitentes. Além de ser responsável pela captação de clientes, o leiloeiro é responsável pelo gerenciamento do leilão e pela prestação de contas. Devido á lisura do leilão e sua capacidade de fomentar o melhor resultado financeiro para os comitentes ou credores, o judiciário está aderindo fortemente a sistemática Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 55 ] de leilões, a fim de agilizar a venda dos bens expropriados dos devedores de obrigação por quantia certa31. A profissão dos leiloeiros é fundamentada pelo decreto-lei nº. 21.981/32. Cabe esclarecer sua distinção em relação aos chamados “porteiros de auditório” que são serventuários da justiça investidos de função semelhante ao de leiloeiro, contudo, sem as mesmas prerrogativas profissionais. Em outras palavras, são funcionários da própria justiça, geralmente oficiais de justiça, que na ausência de leiloeiro oficial, realizam o pregão em cumprimento a uma determinação judicial. Essa diferenciação é importante porque não são pessoas treinadas e dotadas de técnicas típicas de um leiloeiro gabaritado, como: a impostação vocal e técnicas gestuais para estimular que os participantes do leilão possam oferecer lances maiores. O regulador de avarias é um auxiliar do juízo que, no procedimento especial de regulação de avaria (comum ou não particularizada), faz a apuração ou ajustamento das perdas e danos nas avarias ocorridas em navios para fins de rateio entre pessoas envolvidas ou interessadas. Incumbe a esse profissional produzir o laudo de regulação. Assim como os demais auxiliares, tem direito a honorários fixados pelo juiz e se sujeita aos impedimentos e suspeições processuais. Por fim, o perito é o profissional que, face aos seus conhecimentos técnicos e científicos, é chamado para auxiliar o juiz no descobrimento da verdade sobre determinado fato. Alguns processualistas entendem que já está superada a visão do exame pericial como simples meio de prova. Assim, 31 Agravo de Instrumento - Agravos - Recursos - Processo Cível e do Trabalho. 15 - 0009806-37.2018.4.02.0000 Número antigo: 2018.00.00.009806-8 (PROCESSO ELETRÔNICO) Edilson Aguiais [56] o perito passa a ser considerado, por disposição legal, auxiliar do juízo, realizando tarefa que, teoricamente, o próprio magistrado deveria fazer, mas que, por limitação técnica ou científica, se vê obrigado a recorrer à assistência de um expert, conforme previsto no Código de Processo Civil. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 57 ] 3 A PERÍCIA A palavra perícia vem do latim peritia, que significa conhecimento adquirido pela experiência, saber, habilidade. De modo geral, para o nosso foco de estudo, esse conceito está intimamente ligado à habilidade de aplicar conhecimentos técnicos na construção de uma prova pericial, que poderá ser utilizada no juízo ou fora deste. Por isso, por sua própria característica, a perícia sempre versará sobre área do conhecimento humano especializado, tais como medicina,engenharia, economia, finanças, informática, agrimensura, etc. Pelo conceito etimológico da palavra entende-se que a perícia é uma habilidade que só se adquire por meio de sólido conhecimento em determinada área, seja ela técnica ou científica. Ademais, essa inteligência pode ser adquirida no decorrer da vida pela expertise obtida por meio da repetição dos trabalhos realizados ou pela correta aplicação de uma metodologia previamente definida, nos assuntos em que a solução demande conhecimento científico. Por longo período na evolução histórica da atividade pericial, acreditava que só poderiam ser peritos aqueles profissionais mais velhos e, portanto, mais experientes em sua área de atuação. De certo modo, a própria etimologia da palavra remetia a esse tipo de comportamento, tanto por parte dos magistrados quanto das pessoas de modo geral. Edilson Aguiais [58] Entretanto, com a disseminação do conhecimento científico nas mais diferentes áreas e a definição clara de suas metodologias, mesmo profissionais mais jovens - e menos experientes na repetição de procedimentos - têm se inserido de modo eficiente nessas carreiras visto que, quando se demanda a aplicação do conhecimento científico, é mais importante a correta aplicação da metodologia do que a experiência do profissional. Por exemplo, em um processo que se busca a declaração da paternidade, é inegável a importância da prova técnica do DNA. Essa prova será feita por um perito, que pode ser um médico, biomédico, etc. Esse profissional (ou órgão técnico) especializado em exames de DNA irá apenas aplicar uma metodologia previamente definida em diversos estudos científicos e, pelo resultado dos exames, poderá determinar a paternidade de acordo com os graus de confiabilidade do exame. Como esse é um procedimento que tem um modus operandi previamente definido, é mais importante a correta aplicação dos conhecimentos do que a experiência do profissional, sendo perfeitamente possível ser feito por um jovem perito. É importante ressaltar que não se trata de ignorar a experiência acumulada pelos profissionais mais experimentados. Não há dúvidas que quanto mais experiência tiver o profissional na sua área de atuação, melhor será a qualidade do seu trabalho técnico. Entretanto, nas áreas onde o conhecimento técnico está no ‘estado da arte’32 a aplicação correta da metodologia é mais importante que o número de repetições feitas pelo expert. 32 Ou ‘estado da técnica’ é o mais alto nível de desenvolvimento de uma técnica ou de uma ciência. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 59 ] 3.1 CONCEITUANDO PERÍCIA Vários autores tentam dar uma definição completa para o termo perícia e, dentre as definições mais conhecidas, temos aquela dada pelo Prof. José Frederico Marques, em seu Manual de Direito Processual Civil, define a perícia como ‘a prova destinada a levar ao juiz elementos instrutórios sobre algum fato que dependa de conhecimentos especiais de ordem técnica’33. Na mesma linha de argumentação e, a meu ver, ampliando a sua adjetivação e incorporando a devida essencialidade da prova técnica na solução da lide que está sendo levada ao juízo, o Curso de Direito Processual Civil do Professor Eduardo Arruda Alvim cuida que “a prova pericial é a modalidade de prova que se faz necessária quando o juiz necessita de pessoas munidas de conhecimentos especiais (técnicos, como por exemplo, agricultores e mecânicos, ou científicos, como, por exemplo, engenheiros e médicos), que possam informar o juízo acerca do significado desses mesmos fatos.”34 Por isso, entende-se que a perícia seja principalmente um instrumento de constatação, de prova ou de demonstração científica ou técnica da veracidade de alguma situação, coisa ou fato sendo, portanto, feita para suprimir a falta de conhecimentos específicos do juízo da causa sobre o objeto que está sendo demandado. 33 MARQUES, J. F. Manual de Direito Processual Civil, vol. II, 2º ed. Millenium Editora, 2000 p. 309. 34 ALVIM, E. A. Curso de Direito Processual Civil, vol. 1: Revista dos Tribunais, 1999 p. 552). Edilson Aguiais [60] Se filiando a essa corrente, o Professor J. M. Othon Sidou, em seu livro Processo Civil Comparado, publicado pela Editora Forense Universitária, entende que a prova pericial deve ser “levada a efeito por pessoa dotada de conhecimento científico ou técnico, em torno de uma pessoa, coisa ou fato cuja revelação se faz necessária para a formação da convicção do juiz sobre o objeto da demanda”35. Por fim, o Professor Reinaldo Alberto Filho, em seu livro Da Perícia ao Perito, apresenta o entendimento que, a meu ver, melhor coaduna com o definido atual Código de Processo Civil (Lei n 13.105/2015), posto que incluiu os órgãos técnicos e científicos no rol dos habilitados a fazer perícia judicial. Assim, a obra define a perícia como ‘a diligência realizada, como meio de prova, por pessoa ou pessoas físicas e por órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos no cadastro mantido pelo tribunal ao qual estão vinculados, com a finalidade de apurar tecnicamente um fato, como precípuo escopo de instrução de um procedimento.”36 De modo bem sintético, tentando fazer uma conceituação mais simples da atividade, pode-se definir perícia como o exame, vistoria ou avaliação realizado por um profissional especializado e legalmente habilitado com o objetivo de geração de prova, judicial ou extrajudicial. Ora, é a perícia um meio de prova consistente para se obter a melhor solução da lide, ou seja, o perito não é quem vai decidir o processo, mas o seu 35 OTHON SIDOU, J. M. Processo Civil Comparado. 1º ed.: Forense Universitária, 1997, p. 239. 36 ALBERTO FILHO, op. cit., 2015, p.18. Curso de Formação de Peritos Judiciais [ 61 ] trabalho é fundamental para esclarecer os pontos técnicos que o juiz precisa conhecer para proferir uma sentença justa. 3.2 PERÍCIA OU DILIGÊNCIA? Aqui é importante fazer uma observação que, apesar de salutar, pode passar desapercebido por alguns profissionais, principalmente aos menos experientes. Sempre que um autor tenta fazer a definição de algum termo, o seu objetivo é trabalhar com todas as nuances daquele objeto que está sendo analisado e, assim como o conceito, o entendimento desse conceito está sujeito a alterações legais e também a equívocos de interpretação. Digo isso frente à definição apresentada pelo Dicionário Jurídico editado pela Editora Forense em 1982 sobre o que seria a atividade do perito. Nesse livro, se define que perícia “é a diligência realizada ou executada por peritos, a fim de que se esclareçam ou se evidenciem certos fatos” (grifei). Ora, a meu ver, há aqui uma definição muito simplista do que é a perícia e de seu papel no processo e, principalmente, é posta pelos termos acima uma confusão entre a perícia e um dos instrumentos utilizados pelo perito para executar seu encargo: a diligência. É importante ressaltar que, se a perícia envolve um terreno urbano situado na Rua X, nº Y, bairro Z, o perito tem o dever legal de executar a diligência indo ao local determinado pelo juízo, medindo toda a área a ser avaliada com instrumentos adequados, inclusive registrando em seu laudo os dados técnicos acerca do instrumento de medição utilizado (modelo, ano de fabricação, etc.). Não é difícil imaginar a hipótese de que, ao fazer a medição ad corpus, se Edilson Aguiais [62] constate divergência entre o resultado obtido pelo perito e o tamanho descrito no Cartório de Registro de Imóveis. Se a perícia é a prova técnica utilizada para esclarecer a realidade dos fatos, a meu ver, não há o menor sentido lógico que essa avaliação seja feita apenas com base no que está descrito no documento de registro do imóvel. Suponha a determinação de uma perícia
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