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Contabilidade e Mercado de Trabalho Aula 8 - Processo de internacionalização da Contabilidade – Brasil e Normas Internacionais de Contabilidade INTRODUÇÃO O crescente e acelerado desenvolvimento tecnológico de diversas áreas – notadamente da informação e das comunicações – facilita a mobilidade internacional do capital, o que permite a mudança da estrutura econômica dos países e o surgimento de novos mercados. Nesse contexto, a padronização internacional de regras e normas contábeis, que devem ser seguidas pelos países, tem se tornado cada vez mais necessária. Atualmente, não basta ao profissional de Contabilidade conhecer apenas as técnicas e a legislação do país em que está atuando. Os contadores precisam estar atentos aos padrões internacionais mencionados. Esta aula trata do processo de convergência da Contabilidade brasileira para padrões internacionais. OBJETIVOS Reconhecer o processo de internacionalização dos procedimentos contábeis. Identificar os principais reflexos decorrentes da aderência do Brasil às Normas Internacionais de Contabilidade. INTERNACIONALIZAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS A linguagem sempre constituiu uma dificuldade para a comunicação entre os povos. Como linguagem dos negócios, a Contabilidade sofre forte influência do meio no qual está inserida e também apresenta dificuldades de entendimento por parte de seus muitos usuários, espalhados ao redor do planeta. Além disso, por ser uma ciência social, a Contabilidade é diretamente influenciada por aspectos culturais, econômicos e sociais, o que, para além das barreiras impostas pela linguagem, assevera ainda mais as dificuldades de entendimento das informações divulgadas através das demonstrações contábeis. Com a globalização da economia, muitas organizações espalharam unidades por diferentes países e passaram a ser apropriadamente rotuladas como “Multinacionais”. Nesse cenário global, tornou-se fundamental a adoção de uma linguagem que permita o mesmo entendimento sobre as informações geradas pela Contabilidade. Afinal, as práticas contábeis e os sistemas de contabilização variam de país para país, e o processo de convergência tem por objetivo exatamente minimizar tais diferenças. Atualmente, quando mencionamos a internacionalização dos procedimentos contábeis, não estamos nos referindo apenas à Contabilidade internacional (glossário). Internacionalizar a Contabilidade significa buscar sua convergência para um padrão que seja adotado pelos diferentes países, de forma a superar as diferenças decorrentes de múltiplos idiomas, culturas e condições (econômicas e sociais). A necessidade de estabelecimento de um padrão contábil internacional teve origem nos mercados de capitais, nos quais as informações geradas e divulgadas através das demonstrações contábeis (glossário) são fundamentais para a tomada de decisão por parte dos investidores e demais interessados. E é exatamente a Contabilidade que tem como objetivo fornecer a seus usuários informações úteis para a avaliação econômica e financeira da entidade. Iudícibus (2010, p. 71) enfatiza: “[...] uma das finalidades da Contabilidade é a avaliação de desempenho de períodos passados, além de fornecer informações hábeis para tomada de decisões gerenciais a respeito do futuro”. Dessa forma, tornou-se indispensável o estabelecimento de um padrão internacional de Contabilidade que constitua um ponto comum entre as demonstrações contábeis produzidas nos contextos de diferentes países. ESTRUTURA DAS NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE As Normas Internacionais de Contabilidade são estruturadas por cinco diferentes tipos de pronunciamentos técnicos. São eles: ORGANISMOS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE Em nível internacional, os esforços para elaboração de normas de Contabilidade harmônicas e aceitas entre os países são conduzidos por diversas instituições, entre as quais duas se destacam: 1- Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (IASB); 2 - Federação Internacional de Contadores – International Federation of Accountants (IFAC). A diferença entre a atuação das duas entidades é que o IASB se dedica ao estudo e a edição de normas de Contabilidade, enquanto a IFAC tem como principal foco o estudo e a edição de normas de auditoria. CONVERGÊNCIA DO BRASIL PARA PADRÕES INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE No Brasil, o processo de convergência da Contabilidade para padrões internacionais teve início em 1990. Nessa época, por iniciativa da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), foram formadas comissões para avaliar as necessidades de atualização de diversos aspectos das Leis nº 6.404/1976 e nº 6.385/1976, inclusive a parte contábil, para a qual foi proposta a adoção de conceitos utilizados por países desenvolvidos. As propostas de alteração foram encaminhadas para apreciação do Poder Executivo, mas, após discussão, foram aprovados apenas os dispositivos relativos às questões societárias. A parte referente aos aspectos contábeis ficou para posterior apreciação, o que só veio a ser formalmente tratado no ano 2000 através do Projeto de Lei nº 3.741. Logo depois da publicação da Lei nº 11.638, no último dia útil do mês de dezembro de 2007, em 1º de janeiro de 2008, a Contabilidade brasileira iniciou, de fato, o processo de convergência para padrões internacionais de Contabilidade, seguindo o mesmo caminho de diversos países. No início, a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade ficou restrita às Sociedades Anônimas e às Empresas de Grande Porte. Posteriormente, a partir de 2010, a implantação das normas alinhadas às IFRS passou a ser aplicada às pequenas e médias empresas (Resolução CFC nº 1.255/2009). Para as Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (glossário), o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) publicou a ITG 1000 – Modelo Contábil para Microempresa e Empresa de Pequeno Porte (Resolução do CFC nº 1.418/2012). Trata-se de um módulo simplificado de Contabilidade destinado às empresas desses portes, que tem o objetivo de criar padrões contábeis baseados nas IFRS. Mas foi somente a partir do ano de 2010 que as empresas brasileiras começaram a seguir efetivamente as IFRS, em observância às recomendações dos seguintes órgãos normativos: O Comunicado BACEN nº 14.259/2006 divulgou os procedimentos para convergência das normas de Contabilidade e auditoria aplicáveis às instituições financeiras e às demais instituições autorizadas a funcionar pelo BACEN, com as normas internacionais promulgadas pelo IASB e pela IFAC. Foi solicitado que as demonstrações contábeis das instituições brasileiras inseridas no escopo do referido comunicado fossem elaboradas e publicadas com base no padrão contábil internacional estabelecido pelo IASB. De forma alinhada com o BACEN, a CVM, através da Instrução CVM nº 457/2007 (glossário), determinou que as sociedades abertas elaborassem e publicassem, a partir de 2010, suas demonstrações contábeis consolidadas, adotando o padrão contábil internacional estabelecido pelo IASB. Nessa mesma direção, a SUSEP, através da Circular SUSEP nº 357/2007 (glossário), determinou que, no âmbito de sua atuação, fossem desenvolvidas ações com o objetivo de identificar as necessidades de convergência às Normas Internacionais de Contabilidade, emitidas pelo IASB, aplicáveis às sociedades seguradoras, resseguradores locais, sociedades de capitalização e entidades abertas de previdência complementar. A ideia era adotar procedimentos para a elaboração e publicação das demonstrações financeiras consolidadas, referentes ao exercício findo em 31 de dezembro de 2010, em consonância com o padrão contábil internacional estabelecido pelo IASB. O processo de convergência da Contabilidade brasileira para padrões internacionais se materializa a partir do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que promove a tradução e a adaptação das IFRS às especificidades brasileiras. Em seguida, o CPC emite um Pronunciamento Técnico formal sobre a norma, que posteriormente seguepara aprovação pelo CFC, pela CVM, pelo BACEN e por outros órgãos reguladores, nas suas respectivas áreas de competência, de acordo com a matéria tratada. Após aprovada e publicada pelo órgão regulador, a norma passa a integrar o arcabouço normativo brasileiro, tornando-se de observância obrigatória por parte das entidades sob seu alcance. CONSEQUÊNCIAS DA ADOÇÃO DAS IFRS NO BRASIL As autoridades fiscais, o CPC, o CFC, a CVM e o BACEN, continuam participando do esforço de adaptação da Contabilidade brasileira à nova realidade. Desde 2007, o CFC tem editado Resoluções, a fim de tratar das adaptações necessárias aos padrões internacionais de Contabilidade, visando à adequação às IFRS para as companhias em geral. Também no campo das sociedades de capital aberto, a CVM editou as Instruções CVM, correlacionadas com as Resoluções do CFC, entre as quais destacamos: • A estrutura conceitual para a elaboração das demonstrações contábeis; • A Demonstração do Fluxo de Caixa; • O tratamento de partes relacionadas; • As operações de arrendamento mercantil; • A subvenção e assistência governamental; • Os pagamentos com ações; • Os contratos de seguros; • A atividade imobiliária etc. Uma das principais consequências da aderência às IFRS foi a significativa alteração da qualidade da informação contábil, utilizada por investidores, contadores, analistas financeiros, economistas e demais interessados. Com a adoção de normas contábeis alinhadas com padrões internacionais, o Brasil se afastou da visão contábil meramente voltada para as questões fiscais. O País passou, então, a aplicar à Contabilidade tratamentos que permitem aos gestores dispor de informações contábeis de caráter gerencial – fundamentais no processo de tomada de decisão. ATIVIDADE 1 - Ao adentrarmos no ambiente internacional da Contabilidade, deparamo-nos com muitas siglas além daquelas que utilizamos no Brasil. Identifique a entidade, o documento ou o sistema aos quais as siglas da tabela abaixo se referem: 1. AIC 2.BACEN 3. CFC 4. CILEA 5. CPC 6. CVM 7. GLENIF 8. IAS 9. IASB 10. IASC 11. IFAC 12. IBRACON 13. IFRIC 14. IFRS 15. ISAR 16. SIC 17. SUSEP Resposta Correta 2 - Que fenômeno gerou a necessidade de estabelecimento de um padrão contábil internacional? a) A edição da Lei nº 11.638/2007, que determinou a criação de um padrão contábil internacional. b) Os prejuízos causados pelas fraudes contábeis descobertas em empresas norte-americanas na década de 1990. c) O movimento de padronização da Contabilidade, promovido pela Federação Internacional de Contadores. d) A globalização, que implicou a necessidade de informações padronizadas por parte dos mercados de capitais. e) As sucessivas crises econômicas, que evidenciaram a necessidade de união das Contabilidades dos países. Justificativa 3 - O IASB é a entidade responsável por: a) Elaborar e editar as Normas Internacionais de Contabilidade. b) Elaborar e editar Normas Internacionais de Auditoria. c) Elaborar e editar as Normas Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. d) Fiscalizar a adesão dos países às Normas Internacionais de Contabilidade e Auditoria. e) Elaborar e editar as Normas Internacionais voltadas para a regulamentação dos mercados de capitais. Justificativa 4 - No processo de convergência da Contabilidade brasileira para padrões internacionais, que entidade promove a tradução e a adaptação das IFRS às especificidades brasileiras? a) CFC b) CVM c) CPC d) BACEN e) SUSEP Justificativa 5 - Considere as seguintes afirmativas: I. Uma das principais consequências da aderência às IFRS foi a significativa alteração da qualidade da informação contábil, utilizada por investidores, contadores, analistas financeiros, economistas e demais interessados. II. No início, a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade ficou restrita às Sociedades Anônimas e às Empresas de Grande Porte. III. As Normas Internacionais de Contabilidade são estruturadas por cinco diferentes tipos de pronunciamentos técnicos. Entre os itens anteriores, está(ão) CORRETO(S): a) Apenas I b) I e II c) I e III d) II e III e) I, II e III Justificativa 6 - Considerando a adoção pelo Brasil de normas contábeis alinhadas com padrões internacionais, é CORRETO afirmar que: a) As empresas brasileiras tiveram assegurada uma linha especial de financiamento junto ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional. b) O País passou a aplicar à Contabilidade tratamentos que permitem aos gestores dispor de informações contábeis de caráter gerencial, e não meramente voltadas para as questões fiscais. c) A Contabilidade tornou-se mais fácil para as empresas de todos os países, que passaram a compreender, de forma clara e objetiva, as informações contidas nas demonstrações contábeis emitidas por empresas brasileiras. d) O governo brasileiro ficou em posição confortável diante da comunidade financeira internacional, demonstrando a intenção de dar total transparência às demonstrações contábeis emitidas pelas empresas de sua nacionalidade. e) As empresas brasileiras – principalmente aquelas de capital aberto – ficaram mais bem posicionadas na avaliação das agências de classificação de risco. Justificativa Glossário CONTABILIDADE INTERNACIONAL Esta tem como principal objetivo equalizar as informações contábeis provenientes de diferentes países, harmonizando-as e adaptando-as aos padrões da Contabilidade da nação na qual a holding ou o segmento empresarial interessado na informação está localizado. INFORMAÇÕES GERADAS E DIVULGADAS ATRAVÉS DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Exemplos • Resultados (econômicos e financeiros); • Capacidade de geração de caixa; • Nível de endividamento; • Composição do capital; • Características patrimoniais; • Grau de liquidez etc. MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE Sociedade empresária, sociedade simples, empresa individual de responsabilidade limitada ou empresário a que se refere o artigo 966 da Lei nº 10.406/2002 (Código Civil), que tenha auferido, no ano calendário anterior, receita bruta anual até os limites previstos na Lei Complementar nº 123/2006. INSTRUÇÃO CVM Nº 457/2007 Aquela que dispõe sobre a elaboração e divulgação das demonstrações financeiras consolidadas com base nos padrões contábeis internacionais emitidos pelo IASB. CIRCULAR SUSEP Nº 357/2007 Aquela que dispõe sobre o processo de convergência às Normas Internacionais de Contabilidade.
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