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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI LICENCIATURA EM HISTÓRIA WELLINGTON CARLOS GONÇALVES RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO I Diamantina 2016 WELLINGTON CARLOS GONÇALVES RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO I Relatório de Estágio Supervisionado I, apresentado as disciplinas de Ensino de História II e Estágio Supervisionado I do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM, como pré- requisito para aprovação na disciplina, sob orientação do Prof. Dr. Luciano Magela Roza. Diamantina 2016 AGRADECIMENTOS Neste momento, gostaria de agradecer a todos que de alguma forma contribuíram para a realização desta vivência fundamental para compreender os processos e as relações existentes nos espaços educacionais, contribuindo significativamente para minha formação. Agradeço a UFVJM, a Faculdade Interdisciplinar em Humanidades, ao Curso de Licenciatura em História, ao professor Dr. Luciano Magela Roza pelas orientações e várias discussões esclarecedoras e emancipadoras, no âmbito da educação e ensino de História. Agradeço a direção da Escola Municipal Dr. João Antunes de Oliveira, em especial a diretora Rita Brant, a supervisora Creusa Ribeiro, ao professor Vanderson Morette, e por último, e não menos importante, aos alunos do sexto 6º ano ao 9º ano desta instituição. "A Alegria de ensinar Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais" Rubem Alves SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 6 2. OBJETIVOS ...................................................................................................................................... 7 3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................................................... 7 4. DESENVOLVIMENTO .................................................................................................................... 8 4.1 – HISTÓRICO DA ESCOLA ..................................................................................................... 8 4.2 – A ESTRUTURA DA ESCOLA ............................................................................................. 10 4.3 – O PERFIL DOS ALUNOS ................................................................................................... 12 4.4 – EXPERIÊNCIAS EM SALA DE AULA ............................................................................... 14 5 – AVALIAÇÃO ESCOLAR ............................................................................................................ 19 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................... 20 8 – ANEXOS ....................................................................................................................................... 22 6 1. INTRODUÇÃO O presente relatório de estágio apresenta as observações, reflexões e análises realizadas, entre 23 de maio e 10 de junho de 2016, com as turmas do 6º ao 9º ano da Escola Municipal Dr. João Antunes de Oliveira, situada na Rua da Glória, n. 469, Centro, na cidade de Diamantina – MG. Sob a orientação do professor Dr. Luciano Magela Roza,1 vinculado ao curso de História da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM, docente responsável pelas disciplinas Ensino de História II e Estágio Supervisionado I, e supervisionado pelo professor Vanderson Morette da Silva,2 docente responsável pela disciplina de História, profissional vinculado ao quadro de servidores efetivos da Escola Municipal Dr. João Antunes de Oliveira, a confecção deste relatório realizou- se em dois módulos. Num primeiro momento, observei a Escola, seus espaços, documentos, professores, funcionários e público atendido. Esta etapa abrangeu uma carga horária de 10 horas. Posteriormente, realizei a observação de 12 aulas de História ministradas pelo professor Vanderson Morette da Silva, nas turmas do 6º ao 9º ano, em 10 horas. Perfazendo uma carga horária total de 20 horas, dividida em 5 horas semanais, dentro do período proposto. O estágio supervisionado é um momento de fundamental importância no processo de formação do professor e, constitui-se, em um treinamento que, possibilita ao licenciando, vivenciar o que foi debatido no ambiente acadêmico, fazendo uma ponte entre as teorias e as práticas. Ainda que, a formação acadêmica (na Universidade) seja importante, sozinha, não é capaz de formar e preparar o licenciando para o exercício de sua profissão. Deste modo, é necessária a inserção do aluno de licenciatura no meio educacional para observar, analisar e aprender com as práticas cotidianas dos profissionais da docência.3 1 Luciano Magela Roza possui graduação em História (2001), mestrado (2009) e doutorado em Educação (2014) pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na área de educação, com ênfase em ensino de História, História afro-brasileira, livros didáticos e música no ensino de história. Atualmente é Professor Adjunto na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), nas áreas de História da África e Ensino de História. Fonte: http://lattes.cnpq.br/. Acessado em 10/06/2016. 2 Vanderson Morette da Silva possui graduação em História (1999) pela Fundação Educacional do Vale do Jequitinhonha - FEVALE. Tem experiência na área de História. É servidor municipal da cidade de Diamantina, lecionando na Escola Municipal Dr. João Antunes de Oliveira e servidor estadual, lecionando na Escola Estadual João César de Oliveira, no distrito de Inhaí, também em Diamantina. Fonte: http://lattes.cnpq.br/. Acessado em 10/06/2016. 3 PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade, teoria e prática. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1995. 7 2. OBJETIVOS De acordo com o Manual de Estágio Supervisionado do Curso de Licenciatura em História da Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri, os objetivos do Estágio Supervisionado I são: “refletir sobre a função social da escola e da escolarização a partir da observação, registro e reflexão de práticas pedagógicas. Observar, registrar e problematizar o cotidiano escolar, considerando os rituais, a arquitetura, os usos dos espaços e tempos e a organização do trabalho pedagógico.”4 Ou seja, a proposta é facultar e incentivar o contato entre licenciandos e as realidades das escolas, visto que o processo de ensino-aprendizagem nos cursos de licenciatura não podem, de modo algum, desvincular as teorias das práticas e, muito menos, dissociar o ambiente acadêmico da universidade dos mundos da educação das escolas de ensino fundamental e médio. 3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Atento às propostas dos objetivos gerais do Manual de estágio do curso de História e, em contato com as realidades observadas na Escola investigada, elenquei os seguintes objetivos como ponteiros para a consecução deste projeto de intervenção: a) Observar o espaço escolar e a sua estruturação física; b) Analisar a documentação escolar da Escola, como o seu regimento e o Projeto Político Pedagógico; c) Observar aulas da disciplina de História em diferentes turmas; d) Observar o andamento das atividades escolares de alunos, professores e funcionários e, se possível, suas relações intra e extra-escolares, com o fimde diagnosticar como as relações pessoais e transversais entre os vários sujeitos que compõem, ou frequentam, a Escola se pautam. Assim, questões como classe, raça e gênero poderão, porventura, ser mais bem observadas. 4 LAGE, Ana Cristina Pereira; SEABRA, Elizabeth Aparecida Duque. Manual de Estágio Supervisionado do Curso de Licenciatura em História. Diamantina: UFVJM, 2013. 8 4. DESENVOLVIMENTO 4.1 – HISTÓRICO DA ESCOLA Para compreender a trajetória da criação da Escola Municipal Dr. João Antunes de Oliveira, efetuei algumas pesquisas documentais e bibliográficas.5 Deste modo, foi possível depreender que Escola esteve intimamente ligada à criação do Centro Integrado de Apoio ao Menor – CIAME. Instituído no fim da década de 1970, a instituição destinava-se, exclusivamente, ao ensino feminino, com a atenção voltada para o ensino profissional.6 Anos mais tarde, o CIAME deu lugar ao Centro de Apoio a Criança - CAC, passando a atender um público misto, ou seja, meninos e meninas. Em 1989, mais uma vez, a instituição mudou de nome, passando a se chamar Fundação do Bem Estar do Menor – FUMBEM. Assim como a denominação, seus objetivos também mudaram e, ela passou a ter como finalidade, desenvolver uma política de proteção a criança e ao adolescente em situação de vulnerabilidade social.7 Em 1991 foi criada a Escola Municipal da FUMBEM de Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série8 com a denominação de Centro Integrado para Educação e Trabalho – CIET, a qual obteve autorização de funcionamento da Secretaria Estadual de Educação em 1992. Em 1994, a instituição passou por uma mudança de denominação, passando de Centro Integrado para Educação e Trabalho para Escola da FUMBEM.9 Segundo o Regimento da Escola da FUMBEM, a entidade tinha por finalidade proporcionar a criança e ao adolescente de 7 a 14 anos, educação fundamental de 1ª a 4ª série. A proposta, além da alfabetização e escolarização, era criar oportunidades para que o aluno adquirisse melhores condições de sobrevivência, 5 As pesquisas foram realizadas nos arquivos da Secretaria Municipal de Educação de Diamantina, da Escola Municipal Dr. João Antunes de Oliveira e no acervo virtual da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Uma lista completa dos documentos utilizados encontra-se ao final deste relatório. 6 Secretaria Municipal de Educação. Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Dr. João Antunes de Oliveira. Diamantina: SME, s/d. 7 Idem. 8 De acordo com a regulamentação e políticas educacionais aplicadas, o ensino fundamental neste período o ensino fundamental possuía 08 (oito) anos de duração, sendo denominado 1ª a 8ª séries. Após a implementação da Lei nº 11. 114, de 16 de maio de 2005 – tornou-se obrigatória a matrícula das crianças de seis anos de idade no Ensino Fundamental. Em de 6 de fevereiro de 2006 a Lei nº 11.274 – amplia o Ensino Fundamental para nove anos de duração, com a matrícula de crianças de seis anos de idade e estabeleceu o prazo de implantação, pelos sistemas, até 2010. 9 Secretaria Municipal de Educação. Regimento da Escola da FUMBEM. Diamantina: SME, s/d. 9 preparando-o para a vida participativa na comunidade e, assistindo-o, proporcionando assistência alimentar, médica, odontológica e pedagógica. Em 2001, a Escola da FUBEM foi autorizada a oferecer turmas de 1ª a 8ª série: O artigo 1º da Resolução da Secretaria Estadual de Educação do Estado de Minas Gerais nº 7002, de 05/03/93, autoriza a extensão de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental, na Escola da FUMBEM (1ª a 4ª), situada na Rua Glória, 469, em Diamantina. O citado estabelecimento passa a identificar-se como Escola da FUMBEM de Ensino Fundamental (1ª a 8ª série).10 Ainda em 2001, foi autorizado o funcionamento da Educação de Jovens e Adultos, no período noturno, com turmas de 1ª a 8ª séries. Em 2006, a Escola mudou, mais uma vez de nome, passando a se chamar Escola Municipal João Antunes de Oliveira. 11 Na ocasião, a instituição oferecia o ensino fundamental regular de 1º a 8º série e Educação de Jovens e Adultos, também de 1º a 8º série. É importante lembrar que, a FUMBEM não foi extinta, atualmente tem 27 anos existência, funciona no mesmo prédio da Escola e oferece o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI, 12 que atende cerca de 80 crianças e adolescentes e o Programa Jovem Aprendiz13 que atende 30 adolescentes.14 Atualmente, a Escola segue orientações da Secretaria Municipal de Educação e da Superintendência Regional de Ensino de Diamantina, oferecendo o ensino fundamental regular de 6º ao 9º ano (matutino) e Educação de Jovens e Adultos de 1º ao 5º ano em uma única turma multisseriada. A Escola está sob a direção da professora Rita Nascimento Brant e conta 120 alunos e 26 profissionais de diversas áreas. 10 Jornal Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 25-08-2001. 11 O nome da Escola é uma homenagem ao ex-prefeito João Antunes de Oliveira. Nascido em Turmalina (MG), em 1918. Bacharelou-se em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1946. Atou profissionalmente em Diamantina e cercanias. Foi prefeito da cidade nas gestões 1969-1972, 1989-1992 e 1997-2000. Faleceu em 2002. 12 De acordo com o site do Ministério Social e Agrário do Governo Federal, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) teve início, em 1996, como ação do Governo Federal, com o apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT), para combater o trabalho de crianças em carvoarias da região de Três Lagoas (MS). Sua cobertura foi, em seguida, ampliada para alcançar progressivamente todo o país num esforço do Estado Brasileiro para implantação de políticas públicas voltadas ao enfrentamento do trabalho infantil, atendendo as demandas da sociedade, articuladas pelo Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI). 13 O programa do Governo Federal Jovem Aprendiz, foi criado em 2005. Conta com a parceria de empresas e entidades públicas, como prefeituras. Os Jovens que pretendem se candidatar necessitam estar em situação de vulnerabilidade social, que é comprovada com o Cadastro Único do Governo Federal com base na renda familiar, possuir entre 15 e 18 anos de idade para poder se candidatar para vagas das áreas administrativas e possuir entre 17 anos e 9 meses e 21 anos e 11 meses para se candidatar vagas nas refinarias e em laboratórios de pesquisa e principalmente estar frequentando as aulas do Ensino Regular. 14 Secretaria Municipal de Educação. Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Dr. João Antunes. Diamantina: SME, s/d. 10 4.2 – A ESTRUTURA DA ESCOLA O atual prédio da Escola tem uma longa história. Ele foi construído na década de 1950 para abrigar uma fábrica de torta de caroço de algodão.15 A Usina Juscelino Kubitschek, como era denominada, foi criada em 1956.16 Ao que parece, a fábrica destinada à produção de torta de algodão durou até 1961, quando aquele espaço passou a ser destinado à produção de óleo de mamona, contudo, mantendo a mesma denominação de Usina Juscelino Kubitschek.17 A fábrica, durante toda a sua existência, esteve ligada à Companhia Agrícola de Minas Gerais (CAMIG) e, parece ter tido uma produção considerável dos produtos que beneficiava.18 Não consegui localizar informações sobre um possível fechamento da fábrica. Contudo, no final da década de 1970, o prédio anteriormente ocupado por ela foi utilizado pela Prefeitura como espaço educacional e beneficente do CIAME e CAC, posteriormente a FUMBEM e nos dias de hoje, a Escola. Igualmente, também não localizei nenhum documento sobre os primeiros anos de utilização do prédio como espaço educacional. Quanto à Escola e o seu espaço físico, notadamente, percebe-seque ele não foi construído para abrigar uma instituição de ensino. Através das marcas deixadas pelas modificações, vêem-se inúmeras adaptações. O prédio possui salas distante umas das outras e grandes espaços vagos. O ambiente não atende somente a Escola, já que existem salas destinadas a FUMBEM para desenvolvimento do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e Programa Menor Aprendiz. E, uma sala, destina-se ao Pólo de Informática EAD/UFVJM. O espaço reservado para o funcionamento da escola, consta com uma sala para a direção, uma sala para a secretaria, uma sala para os professores e supervisão, 06 salas de aula, uma sala de vídeo, uma sala para a biblioteca, cozinha, refeitório, dispensa, banheiros e uma quadra de esportes. 15 A torta do caroço de algodão é o subproduto da extração do óleo contido no grão do algodão, que ao ser esmagado é conhecido por torta. Tal produto pode ser utilizado como fertilizante na indústria de corantes, na alimentação animal e na fabricação de farinhas alimentícias, após desintoxicação. No entanto, sua principal aplicação é na elaboração de rações animais, devido ao seu alto valor protéico. 16 Jornal A Estrela Polar, Diamantina, 02-12-1956. 17 Jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 29-04-1961. 18 Jornal A Estrela Polar, Diamantina, 12-04-1959. Para mais detalhes sobre a atuação da CAMIG em Diamantina, cf. FIGUEIREDO, Anísia de Paula (Org.). A terra, o pão, a justiça social: a importância da participação da Igreja nas políticas públicas do Brasil. Belo Horizonte: FUMARC, 2010, p. 112-118. 11 Na tentativa de criar um ambiente acessível para o público atendido, inúmeras adaptações foram realizadas. Primeiro, a entrada da escola possui três degraus. As rampas de acesso levam a apenas alguns ambientes e algumas são íngremes, o que pode impossibilitar uma possível locomoção de um cadeirante. Há apenas um bebedouro para atender a Escola e as outras instituições presentes no prédio, e ele está no topo de duas escadas. Uma hipótese para o desprezo com a acessibilidade, talvez, possa estar ligado com os costumes e hábitos da sociedade diamantinense. Observados os espaços privados e públicos da cidade, vê-se que não há a preocupação com a acessibilidade. Essa falta de interesse justifica-se, na maioria das vezes, por reconhecerem nas “cidades históricas” lugares intocáveis que devem ser mantidos como relíquias, desprezando o diverso público atendido por esses espaços. Esta hipótese pode ser confirmada, visto que, não há políticas de inclusão que tornem acessíveis espaços e serviços como, por exemplo, ônibus adaptados para usuários com necessidades especiais, rampas de acessos a museus e órgãos públicos. A entrada da Escola possui um jardim, porém, as crianças não podem utilizá- lo. No prédio funcionam outras entidades, o que faz com que o espaço reservado para os alunos torne-se limitado. Os portões ficam abertos e fugas podem acontecer, o que é uma lástima, pois, no intervalo, os discentes ficam submetidos a uma determinada área da Escola. Há uma profissional na escola denominada “disciplinadora” e sua função é tolher as crianças de coisas simples e naturais da idade, como correr, conversar, brincar, mesmo no intervalo. A distribuição da merenda é feita da seguinte forma: as crianças vão para o intervalo, porém, elas são dividas em grupos de quatro, que devem esperar sentadas para serem chamadas para pegar a merenda. Esse sistema faz com que a criança permaneça vigiada e, muitas vezes, não dá tempo de todas elas merendarem durante o intervalo, atrasando o retorno de alguns as salas. Esse esquema de distribuição de merenda tira a liberdade e deturpa o caráter do intervalo, além de não estimular o desenvolvimento e a emancipação dos alunos. Em meu tempo de escola, comíamos rápido para brincar, conversar, correr, ir à biblioteca. A interpretação do intervalo é entendida apenas como um tempo para merendar e não como um momento de descanso, sociabilidade e ludicidade. 12 Essas práticas podem ser integradas ao conceito de “currículo oculto”.19 Para Antônio Flávio Moreira e Vera Maria Candau, o currículo oculto corresponde a práticas cotidianas, que, na maioria das vezes, não são questionadas e estão ligadas aos modos de organizar o espaço e o tempo, distribuição de alunos, layout da sala de aula, hierarquização entre professores e alunos. O currículo oculto faz parte das coisas consideradas óbvias no ambiente escolar e o óbvio deve ser questionado. A naturalização de algumas práticas pode ser prejudicial ao processo de ensino, aprendizado e desenvolvimento dos alunos. Contudo, fugir dessas práticas parece não ser fácil, já que, uma série de valores construídos ao longo do tempo é intrínseco aos saberes escolares, o que certamente, caracteriza essas práticas como algo natural e comum. 4.3 – O PERFIL DOS ALUNOS Desde os tempos do Centro Integrado de Apoio ao Menor até a Escola Municipal Dr. João Antunes, as instituições ali existentes, possuíam caráter assistencialista e o público atendido era formado por crianças e adolescentes em vulnerabilidade social. Essa conjuntura pode ser uma explicação para o fato de esta escola ser estigmatizada pela comunidade diamantinense. O fato de ela atender, prioritariamente, alunos dos bairros periféricos (Palha, Bela Vista, Vila Operária, Maria Orminda, Gruta de Lourdes, Cidade Nova, Pedra Grande e Cazuza), distritos e subdistritos da cidade (Guinda, Algodoeiro, Extração (Curralinho), Biribiri, Covão, Fazenda Jazilda, Brauna, Formação), também, pode ser uma possibilidade para compreendermos a estigmatização negativa sofrida pela escola e seus integrantes. Com a intenção de conhecer o perfil do público atendido pela Escola, foi aplicado, em 22 de fevereiro de 2016, um formulário (ver em anexo) pelos bolsistas Amilton Vieira, Danilo Fróes, Diego Silva, Juliana Araújo e Wellington Gonçalves, vinculados ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri, que executam seus projetos na referida Escola. 19 Compartilhamos da descrição de “currículo oculto” segundo as definições de: MOREIRA, Antônio Flávio; CANDAU, Vera Maria. Indagações sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. 13 De acordo com o formulário, a faixa etária atendida pela Escola, nas turmas de 6º ao 9º ano, para o ano de 2016, varia entre 10 a 19 anos. Uma das demandas da Escola é atender, principalmente, alunos oriundos da zona rural da cidade, conforme o gráfico abaixo: As crianças que se deslocam da zona rural até a Escola, pertencem a pequenas comunidades que ficam em torno de Diamantina. A Prefeitura Municipal por meio da Secretária Municipal de Educação oferece transporte diariamente a essas crianças. Algumas delas levam em torno de 3 horas para chegar Escola. Parece que, para a Prefeitura é mais viável, ou interessante, trazer essas crianças para estudarem em escolas da zona urbana, do que manter escolas em localidade rurais. Para essas crianças é oferecido um lanche quando chegam à Escola e, almoço antes de partirem, pois, alguns chegam e casa por volta de três horas da tarde. Segundo os dados do questionário, 40% dos alunos residem nas áreas periféricas de Diamantina, e mesmo morando na cidade recebem o mesmo atendimento que os alunos das áreas rurais. Outro diagnóstico levantado pelo questionário revela que os alunos da região urbana da cidade residem nos seguintes bairros, Palha, Rio Grande, Cazuza, Cidade Nova, Vila Operária e Pedra Grande. Todos distantes da região central da cidade e, considerados, favelas ou núcleos populacionais constituídos, emsua maioria, por famílias pobres. O questionário traz informações importantes como o perfil familiar. As respostas revelam uma infinidade de composições familiares. Muitos residem com pais, tios, avós, irmãos, outros tantos somente com a mãe, ou somente com o pai, muitas vezes apenas com os irmãos, ou padrinhos, terceiros, entre outros. Onde Você mora - Questionário aplicado individualmente a alunos da Escola. M. Dr. João Antunes de Oliveira em 22/02/2016. As análises foram realizadas entre fevereiro e março do mesmo ano1. 14 Pelo questionário, 24% dos alunos exercem algum tipo de função, nem sempre remunerada, como: garçonete, servente de pedreiro, buscando crianças na escola, roçando, capinando, tratando das galinhas, cuidando da casa, entre outras funções. Lançar olhares sobre o perfil dos estudantes da Escola pode ser uma boa oportunidade para nós - professores, funcionários, bolsistas e estagiários - conhecermos a realidade e experiências sociais dessas crianças e jovens. Os resultados do questionário mostraram que os alunos também são sujeitos sociais e carregam uma rica bagagem cultural adquirida fora dos muros da Escola. Essa obviedade, muitas vezes, é desprezada pelos profissionais da educação, e os alunos são tratados como sujeitos sem história e sem cultura, incluídos numa massa homogênea, onde todos recebem o mesmo tratamento, como se fossem todos iguais. À vista disso, torna-se imprescindível olharmos os alunos como agentes sociais e valorizarmos suas experiências, enfatizando a sua diversidade social e cultural. 4.4 – EXPERIÊNCIAS EM SALA DE AULA Neste momento, serão apresentadas as práticas pedagógicas utilizadas pelo professor no seu cotidiano em sala de aula. Essa experiência não pode ser tomada apenas como observação, houve interação entre o professor, o estagiário e os alunos. O intento dessas observações e interação é identificar as estratégias de ensino empregadas pelo professor, os seus recursos utilizados, sua relação com o livro didático, as atividades aplicadas, a receptividade e a participação dos alunos na aula de História. As experiências em sala de aula foram realizadas em todas as turmas da Escola, que se compõem do seguinte modo: são 4 turmas, uma do 6º ano, uma do 7º ano, uma do 8º ano e do uma do 9º ano. Acompanhei 2 aulas na turma do 6º ano, 4 aulas na turma do 7º ano, 2 aulas na turma do 8º ano e 4 aulas na turma do 9º ano. De acordo com o professor, suas aulas são preparadas através do livro didático, pesquisas na internet e livros. O professor interpreta o livro didático como meio de trabalho e ressalta que, na conjuntura social em que os alunos estão inseridos, o livro didático torna-se o principal meio de acesso ao conteúdo histórico, e é a base a para realização de atividades, leituras e síntese do aprendizado. 15 O livro didático utilizado pertence à coleção Para Viver Juntos – História 6°, 7°, 8° e 9º ano, de autoria de Ana Lúcia Lana Nemi e Muryatan Santana Barbosa e publicado pela Editora SM Ltda em 2012. Ambos os organizadores do livro são professores de História e pesquisadores da área. Ana Lúcia Lana Nemi obteve o título de mestrado em História Social pela Universidade de São Paulo (1994) e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Campinas (2003). É professora de História Contemporânea na Universidade Federal de São Paulo, e desenvolve suas pesquisas nas áreas de historiografia ibérica e história ibérica contemporânea. 20 Muryatan Santana Barbosa bacharelou-se em História (2001), obteve os títulos de mestre em Sociologia (2004), e doutor em História Social (2012), todos pela Universidade de São Paulo. É professor da Universidade Federal do ABC. Suas pesquisas concentram-se na área de História da África.21 Nas palavras dos autores, os principais objetivos do livro são “entender as sociedades anteriores à nossa, com suas diferenças e particularidades, como fruto de seu tempo e da ação de seus sujeitos”.22 Além do livro didático, tomado como suporte principal para as aulas de História, o professor utiliza também recursos de multimídia oferecidos pela Escola, como aparelhos de DVD, Datashow, TV e caixas de som. Quando possível, ele também explora filmes, tidos, segundo sua concepção, como outra possibilidade de conhecimento dos conteúdos abordados. Na turma do 6º ano, foram assistidas 02 (aulas). Essa turma é grande, em torno de 21 alunos, com faixa etária entre 10 e 15 anos e, em sua maioria, são oriundos da zona rural. O professor começou utilizando seu tempo fazendo a chamada. Era uma segunda-feira e, geralmente, nas segundas a frequência é baixa, sem justificativas por parte dos alunos e responsáveis. Uma vez por semana, de acordo com as práticas pedagógicas indicadas pela Escola, os professores de todas as disciplinas fazem uma intervenção pedagógica dentro de seu próprio conteúdo, ou seja, eles deixam de seguir o conteúdo e aplicam outras atividades que dialoguem com a matéria, por exemplo, leitura em voz alta de textos, busca por verbetes no dicionário, produção de texto, entre outras atividades. Nessa referida 20 Fonte: http://lattes.cnpq.br/. Acessado em 12/06/2016. 21 Fonte: http://lattes.cnpq.br/. Acessado em 12/06/2016. 22 NEMI, Ana Lúcia Lana; BARBOSA, Mauryatan Santana (Orgs.). Para Viver Juntos: História, 7º ano: ensino fundamental. 3ª ed. São Paulo: Edições SM, 2012, p. 3. 16 aula, os alunos fizeram uma leitura em voz alta. Cada aluno ficou responsável por ler um parágrafo do texto, desta forma, o professor conseguiu identificar e diagnosticar dificuldades pontuais na leitura e interpretação textual dos alunos. Uma vez diagnosticados, os alunos com maior dificuldade, passam a assistir, nos primeiros horários, todos os dias, aulas de reforço com um pedagogo. Percebe-se que, um grande número de alunos tem dificuldades de leitura, falta-lhes entonação, leitura pontuada e conhecimento das palavras. Uma hipótese para tal quadro é a possível falta da prática da leitura pelos alunos. O corpo docente e pedagógico da escola justifica a liberação dos alunos com dificuldade em todas as primeiras aulas, por entenderem, que o reforço escolar com um profissional especializado, lhes ajudará a superar dificuldades básicas como leitura e escrita, portanto, perder algumas aulas e seus conteúdos que não são acompanhados corretamente por falta de domínio de ferramentas básicas é a justificativa central dessa manobra. Na segunda aula acompanhada, ainda na turma do sexto ano, o professor fez a chamada, como de costume e, em seguida passou para a correção de atividades aplicadas em uma aula anterior à intervenção pedagógica. O professor foi lendo as questões extraídas do livro didático e alguns alunos foram respondendo. O professor, à medida que os alunos iam respondendo, elaborava a resposta no quadro, para que os discentes que fizeram incorretamente o exercício, o corrigissem. Após o término das correções, o docente passa de carteira em carteira corrigindo o caderno dos alunos, com a finalidade de certificar que o exercício foi realizado. No sétimo ano, turma com 21 alunos e faixa etária entre 11 e 19 anos, foram apreciadas 4 aulas. As duas primeiras foram expositivas e com o auxílio do livro didático, o professor explanou sobre a “A mineração no século XVIII nas Minas Gerais”, geralmente, esse tema causa interesse por parte dos alunos, pois Diamantina foi um dos palcos deste contexto. Percebi que, quando os discentes se interessam pelo conteúdo da aula, ela torna-se dinâmica e atrativa tanto para o professor quanto para os alunos. É importante mencionar que, em todas as turmas, há alunos que não participam e não fazem atividades. A aula expositiva do professor é pautada no livro didático e à medida que vai explicando o conteúdo, ele se reportaao livro para exemplificar, utilizando imagens e textos da obra. 17 Na terceira aula, o professor usou o tempo com atividades sobre o tema estudado nas duas aulas anteriores: a mineração. Ele fez um recorte nas questões oferecidas pelo livro didático, pois, entendeu que algumas questões são complexas para serem realizadas pelos alunos, como leituras de gráficos e perguntas mais elaboradas. Os alunos usaram toda a aula para realizar a atividade, contando com a ajuda do professor e do estagiário. Notei uma dificuldade interpretativa na leitura e interpretação das perguntas que, em suma, eram voltadas para a busca de respostas nos textos do livro didático. Na quarta e última aula, o professor corrigiu as questões aplicadas na aula anterior. Do mesmo modo que em outras turmas, a correção foi feita oralmente, onde os alunos expuseram suas respostas e, em consenso, o professor as validou escrevendo-as no quadro para que as respostas erradas fossem corrigidas pelos alunos. Em seguida o professor passou de carteira em carteira para verificar se os alunos fizeram as correções. A turma do 8º ano possui 12 alunos, e foram acompanhadas 02 aulas, sendo uma delas a intervenção pedagógica. Na primeira aula, o professor fez a correção de exercícios sobre o “Período Regencial”, seguindo a mesma metodologia, a partir do livro didático, ele corrigiu perguntas aplicadas na aula anterior. A segunda aula coincidiu com a intervenção pedagógica. O professor solicitou que cada aluno lesse em voz alta um parágrafo do texto extraído do livro didático. De modo geral, os alunos desta turma apresentaram facilidade com a leitura dos textos. Por vezes, algumas palavras mais complexas geraram dificuldades, mas, de modo geral, a turma apresentou bom resultado. A turma do 9º ano, possui 8 alunos, é a menor turma da Escola. Nesta classe acompanhou-se 4 aulas, onde 2 foram expositivas relacionadas à “Segunda Guerra Mundial”, 1 aula utilizada para a intervenção pedagógica e a última foi utilizada para a exibição do filme Pearl Harbor. 23 Temas relacionados as guerras chamam a atenção de meninos e meninas, e não foi diferente com a turma do 9º ano. Durante a aula expositiva, eles fizeram várias perguntas. O conteúdo foi explanado pelo professor com base no uso do livro didático. Porém, temas como as guerras e, principalmente, a Segunda Guerra Mundial, ligadas ao Nazismo, Fascismo, 23 Pearl Harbor é um filme norte-americano de 2001, produzido por Jerry Bruckheimer, dirigido por Michael Bay e distribuído pela Touchstone. A trama narra os episódios que marcaram o atentado à base naval norte-americana em Pearl Harbor, ocorrido no dia 7 de dezembro de 1941, no calor das disputas da Segunda Guerra Mundial. O atentado oi promovido pelo Japão e foi um dos fatores responsáveis pelo ingresso dos EUA na Segunda Guerra Mundial. 18 Franquismo e Stalinismo devem ser problematizados e, ressaltados seus prejuízos para a humanidade, bem como as lutas travadas para conter tais atrocidades desumanas. A posição de alunos simpáticos com os valores e ideias nazistas, bem como a reprodução exacerbada da suástica nazista no quadro, tornou-se algo preocupante, e deixou dúvidas e incomodo sobre a compreensão do conteúdo por parte dos alunos. A terceira aula foi utilizada para a intervenção pedagógica, e o professor utilizou o texto complementar oferecido pelo livro didático no final do capítulo para que os alunos lessem em voz alta. Dois alunos se recusaram a fazer a leitura, porém, os alunos que leram apresentaram uma capacidade avançada de leitura e interpretação, alguns tiveram dificuldades em algumas palavras, pois os textos relacionados à Segunda Guerra trazem expressões em outras línguas, mas, com a ajuda do professor e dos próprios colegas, deu-se continuidade a leitura. Na última aula, os alunos foram direcionados para a sala de vídeo, onde o professor exibiu o filme Pearl Harbor. Na sala de vídeo, os alunos se sentaram e o filme começou a ser exibido e, os hipnotizou. Todos permaneceram calados e atentos até o sinal que os liberava da aula. O vídeo foi exibido em uma TV com aproximadamente 21 polegadas. Apesar de existir um Datashow na Escola, aparelho que poderia ter reproduzido o filme de maneira mais visível e dinâmica, o mesmo não foi usado. Sobre o cinema como uma ferramenta pedagógica para o professor de História, Roberto Catelli afirma: Talvez o principal problema que o historiador ou professor de História tenha que enfrentar seja o conteúdo do filme, isto é, a veracidade da fonte. Nem a fotografia, nem o filme, nem qualquer documento de arquivo significa uma prova da verdade. Toda crítica externa ou interna que a metodologia da pesquisa histórica impõe ao manuscrito impõe igualmente ao filme.24 É importante ressaltar aos alunos o caráter representativo dos filmes em relação à realidade e aos fatos ou episódios ocorridos. Quando se trata de uma grande produção, sempre existe uma história de amor e um heroísmo, além das intencionalidades do produtor e do próprio cineasta ao produzir um filme. Questionar quando, quem e porque o filme foi realizado é ideal para entendermos suas intenções. Sobre o filme, foi discutido com os alunos o seu enredo, mas o professor deixou de lado informações importantes, como suas intenções, autores, produtores, país de origem, informações que revelam muito sobre a trama. 24 CATELLI JUNIOR, Roberto. Temas e Linguagens da História: ferramentas para sala de aula no ensino médio. São Paulo: Scipione, 2009, p. 60. 19 5 – AVALIAÇÃO ESCOLAR Durante o período em que se realizou o estágio, não foi possível observar como se dão os processos avaliativos na escola como um todo, sabe-se que no âmbito pedagógico, além das provas aplicadas ao final de cada bimestre, atividades avaliativas ao longo do processo são realizadas pelos professores em seus exercícios individuas que a profissão exige. Por outro lado, como abordado na descrição das experiências em sala de aula, no tocante à avaliação pedagógica, há entre os profissionais da escola uma preocupação coletiva em avaliar, diagnosticar a capacidade dos alunos em realizar operações fundamentais, como leitura, interpretação e operações básicas da matemática. Uma vez apontados os alunos que possuem dificuldades, estes são direcionados para aulas complementares que acontecem todos os dias nos primeiros horários, entre 7h e 7h50min. Este tipo de intervenção avaliativa pode ser entendido como uma avaliação formativa, quando a avalição acontece ao longo do processo, com o objetivo de dirigir e reorientar o estudante, diferentemente da avalição somática, que se propõe a avaliar somente ao final do processo. Justifica-se essa iniciativa por acreditar que o apoio pedagógico realizado por um profissional qualificado, contribuirá para o melhor andamento das atividades e compreensão pelos alunos dos conteúdos abordados nas demais disciplinas que compreendem o currículo do ensino fundamental. Contudo, as recentes abordagens acerca dos processos avaliativos apontam que a avaliação é um importante instrumento no processo de ensino e aprendizagem, portanto, não pode ser considerada como fator isolado e unicamente pedagógico, e seu caráter deve ser coletivo, como aponta Cláudia de Oliveira Fernandes e Luíz Miguel de Freitas: Há avaliação da aprendizagem dos estudantes o professor tem um protagonismo central, mas há também a necessária avaliação da instituição como um todo, na qual o protagonismo é coletivo dos profissionais que trabalham e conduzem um processo complexo de formação na escola, guiados por um projeto político-pedagógico coletivo. E, finalmente, há ainda a 20 avalição do sistema escolar, na qual a responsabilidade principal é dopoder público.25 Considerando o papel social da educação é necessária uma ampliação das discussões e participação da comunidade escolar. Sendo, a comunidade escolar entendida e composta por professores, funcionários, pais, alunos e a comunidade local. Desta forma, o peso das decisões e avalições não ficarão em sobrecarga para professores e a direção escolar, estabelecendo vínculo e representatividade a todos os sujeitos envolvidos neste sistema, portanto, compartilhando as responsabilidades. Diante dos inúmeros métodos avaliativos, conceitos e implicações sobre o sobre avaliações, é importante compreendermos a sua importância, seja como instrumento coletivo e/ou individual. Avaliamo-nos constantemente, quando tomamos decisões e repensamos atividades cotidianas. No ambiente e no fazer profissional do professor não deve ser diferente, autoavaliar a nossa atuação é um constante aprendizado, seja revendo os erros e/ou mantendo acertos. 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS O estágio supervisionado é uma importante etapa que concilia as teorias e as práticas. Permanecer no ambiente escolar com um olhar reflexivo nos faz perceber a escola a partir do ponto de vista profissional, diferentemente do olhar de estudantes de licenciatura ao qual estamos habituados. O ambiente escolar, em breve, será palco de nossa atuação, e o estágio, sem dúvida, nos auxilia na compreensão, planejamento e melhoria desses espaços. No período observado na Escola, não me deparei com indisciplina ou desobediência, como parece ser recorrente nestes espaços. Observei crianças e adolescentes com a necessidade de brincar e gastar energia, pois a escola não é só espaço de aprendizagem, mas, também, de sociabilidade e congraçamento. Há um silenciamento por parte dos professores e funcionários quanto a questões de gênero e étnico-raciais. Uma possível explicação para tal quietude pode estar ligado ao despreparo dos professores e demais profissionais da Escola para 25 FERNANDES, Cláudia de Oliveira; FREITAS, Luíz Carlos de. Indagações sobre currículo: currículo e avaliação. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007, p. 18. 21 lidar com tais situações. Frases preconceituosas aleatórias e até xingamentos entre os alunos são comuns na presença de alguns profissionais da Escola, mas, são ignorados. Em contrapartida, a Escola adere e divulga ações de igrejas, como por exemplo, panfletos incentivando a participação na Campanha da Fraternidade, desrespeitando a laicidade do Estado e a diversidade religiosa existente na comunidade escolar e na sociedade diamantinense. Para finalizar, cabe a nós, futuros profissionais da educação, repensar algumas práticas naturalizadas no ambiente escolar. Não será uma tarefa simples. Compreender a bagagem trazida pelo discente e incorporá-la a vivência escolar, respeitando-as, incentivando-as e valorizando-as é imprescindível para a formação humana e social dos alunos. Sabe-se das dificuldades diárias enfrentadas por professores e profissionais da educação, no entanto, escolhemos ser professores e devemos nos esforçar visando um desempenho satisfatório e gratificante para alunos e professores. 7 – ARQUIVOS E FONTES Secretaria Municipal de Educação Secretaria Municipal de Educação. Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Dr. João Antunes de Oliveira. Diamantina: SME, s/d. Secretaria Municipal de Educação. Regimento da Escola da FUMBEM. Diamantina: SME, s/d. Jornal Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 25-08-2001. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional Jornal A Estrela Polar, Diamantina, 05-06-1949. Jornal A Estrela Polar, Diamantina, 02-12-1956. Jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 29-04-1961. Jornal A Estrela Polar, Diamantina, 12-04-1959. Escola Municipal Dr. João Antunes de Oliveira Secretaria Municipal de Educação. Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Dr. João Antunes de Oliveira. Diamantina: SME, s/d. Secretaria Municipal de Educação. Regimento da Escola da FUMBEM. Diamantina: SME, s/d. 7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 22 CATELLI JUNIOR, Roberto. Temas e Linguagens da História: ferramentas para sala de aula no ensino médio. São Paulo: Scipione, 2009. FERNANDES, Cláudia de Oliveira; FREITAS, Luíz Carlos de. Indagações sobre currículo: currículo e avaliação. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. FIGUEIREDO, Anísia de Paula (Org.). A terra, o pão, a justiça social: a importância da participação da Igreja nas políticas públicas do Brasil. Belo Horizonte: FUMARC, 2010. LAGE, Ana Cristina Pereira; SEABRA, Elizabeth Aparecida Duque. Manual de Estágio Supervisionado do Curso de Licenciatura em História. Diamantina: UFVJM, 2013. MOREIRA, Antônio Flávio; CANDAU, Vera Maria. Indagações sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. NEMI, Ana Lúcia Lana; BARBOSA, Mauryatan Santana (Orgs.). Para Viver Juntos: História, 7º ano: ensino fundamental. 3ª ed. São Paulo: Edições SM, 2012. PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade, teoria e prática. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1995. 8 – ANEXOS 8.1 – Questionário aplicado pelo PIBID 8.2 – Termo de Compromisso de Estágio Obrigatório 8.3 – Plano de Atividades de Estágio 8.4 – Ficha de Frequência 8.5 – Ficha de autoavaliação do estagiário 8.6 – Atestado de conclusão de e avaliação das atividades de Estágio Supervisionado
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