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Brasília-DF. LegisLação ambientaL, Licenciamento ambientaL e sustentabiLidade Elaboração Silvia Barreira Zambuzi Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ........................................................................................................................ 9 CAPÍTULO 1 PROTEÇÃO DAS ÁREAS – UM PROCESSO ANCESTRAL ............................................................. 10 CAPÍTULO 2 MUDANÇAS E AVANÇOS NA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA ........................................... 18 CAPÍTULO 3 OUTRAS LEIS AMBIENTAIS ........................................................................................................ 43 UNIDADE II LICENCIAMENTO AMBIENTAL ................................................................................................................ 47 CAPÍTULO 1 O BRASIL E O LICENCIAMENTO AMBIENTAL – HISTÓRICO ......................................................... 48 CAPÍTULO 2 ESTUDOS AMBIENTAIS E MATRIZ DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO ................................................... 67 UNIDADE III SUSTENTABILIDADE ............................................................................................................................... 91 CAPÍTULO 1 MOVIMENTO AMBIENTALISTA: UM BREVE HISTÓRICO ................................................................ 92 CAPÍTULO 2 CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: AS PRIMEIRAS IDEIAS E O ECODESENVOLVIMENTO....................................................................................................... 101 CAPÍTULO 3 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE .................................................................................... 110 PARA NÃO FINALIZAR ..................................................................................................................... 130 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 132 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução A ação do homem sobre o meio ambiente ocorre desde o início de sua existência, com o uso dos recursos naturais como fonte de vida e sobrevivência. Ao longo das civilizações, os povos passaram a reconhecer os locais onde haviam características geográficas especiais e passaram a, naturalmente, protegê-las. Esses locais ora estavam associados a fatos históricos, ora a mitos e lendas, ou à proteção de fontes de água, plantas medicinais e madeira para aquecimento (DIEGUES; ARRUDA, 2001). Ao longo do processo evolutivo, a preocupação com as disputas e conquistas de territórios fizeram com que o uso dos recursos naturais passasse a ser intenso, não apenas para subsistência, mas também para a ganância de uso dos territórios. Neste contexto, começam a surgir normas para disciplinar a conduta humana sob um meio ambiente que já não consegue retomar, naturalmente, seu ciclo natural de renovação. As leis ambientais evoluíram ao longo desse processo evolutivo, sendo distintas e específicas para cada país, local ou particularidade de ambiente, entretanto muito ainda deve ser discutido e evoluído a este respeito, em todo o mundo. O Licenciamento Ambiental faz parte deste contexto, sendo uma normatização recente e repleta de imperfeições, deve ser analisada de forma crítica e profunda. Só assim é possível garantir a sustentabilidade nas ações antrópicas que, invariavelmente, precisam ocorrer, para que esse processo evolutivo de nossa espécie prossiga de forma harmoniosa com o planeta em que vivemos. Objetivos Os principais objetivos do tema de estudo são: » Descrever o processo evolutivo da legislação ambiental no mundo e no Brasil. » Apontar as principais leis ambientais brasileiras. » Analisar o processo de Licenciamento Ambiental no Brasil. » Descrever o conceito de Sustentabilidade, sua evolução e os procedimentos e ferramentas utilizadas atualmente para discutir o desenvolvimento sustentável. 8 9 UNIDADE ILEGISLAÇÃO AMBIENTAL Para compreender as leis ambientais atuais, é preciso acompanhar o processo evolutivo do tema ambiental na conjuntura histórica, tanto do Brasil quanto do mundo. A história da Legislação ambiental brasileira acompanha, ora de forma alinhada, ora de forma anacrônica, os acontecimentos e tendências mundiais sobre o tema, especialmente pensando nas consequências das ações do homem ao longo do processo de desenvolvimento econômico industrial e urbano. Por isso, não é possível descrever esses processos no Brasil e no mundo sem que haja uma sincronicidade, uma vez que, naturalmente, o processo evolutivo da discussão do tema é concomitante e precisa ser compreendidoem seu todo. 10 CAPÍTULO 1 Proteção das áreas – um processo ancestral A relação homem e natureza, desde os primórdios da nossa espécie, tem sido conturbada. Ao longo das civilizações, muitas destas pagaram um alto preço por não terem se atentado para a possibilidade de ocorrer o esgotamento dos recursos naturais, por exemplo. Um exemplo emblemático dessa relação são os Rapanui, civilização que habitava a Ilha de Páscoa até o Século XVII e que desapareceu após entrar em colapso, no qual muitos atribuem ao esgotamento dos recursos naturais da ilha. A exploração de madeira excessiva – causando o desmatamento e o consequente esgotamento do solo – além do uso das águas, são uns dos elementos que podem ter feito com que várias civilizações tivessem um destino semelhante. O fato é que, da mesma forma, várias civilizações vieram a proteger locais que, de alguma forma, eram reconhecidos por estes povos antigos como locais associados a mitos e crenças, rituais, locais históricos marcantes etc. Posteriormente, passaram a proteger locais de abastecimento de água, que possuíam plantas medicinais, etc., sempre pensando na sua sobrevivência. Os povos da Antiguidade, por exemplo, já faziam referência à proteção ambiental. Platão, na Grécia Antiga, fazia referência à importância das florestas como defensoras do solo contra a erosão e Cícero, em Roma, já atuava protegendo as florestas da Macedônia contra os inimigos. A famosa Lei das XII Tábuas (450 AC) já continha disposições para prevenir a devastação das florestas, e o famoso explorador Marco Polo já citava os líderes mongóis como defensores das aves contra a caça no período de reprodução destas (FREITAS FILHO, 2016). Legislação ambiental Da mesma forma que ocorreu com as leis fundamentais gerais, as leis ambientais passaram por um processo de evolução histórica desde a Antiguidade, mas se consolidaram de forma mais tardia, somente com a formação dos Estados. Atualmente, o tema passou a ser uma preocupação mundial, a partir não só de leis, mas de tratados internacionais. Foi na década de 1960 que a preocupação com o meio ambiente veio mais à tona em todo o mundo, especialmente graças às pressões públicas coletivas, um reflexo das consequências do avanço industrial e exploratório dos recursos de forma desmedida. Neste período, surgem leis de diferentes países na busca de um regramento de atividades 11 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I poluidoras das águas, ar e solo, sendo criados diversos órgãos internacionais especiais para o meio ambiente. Um exemplo disso é a Carta Europeia das Águas, escrita em 1968, estabelecendo o princípio de que as águas não conhecem fronteiras, posteriormente reconhecendo que não só as águas como a atmosfera também não conhecem fronteiras. Tais instrumentos deram início a uma onda ecológica em toda a Europa, motivando outros continentes a fazer o mesmo. Na África, no mesmo ano, surgiu a Convenção Africana para conservação da natureza e dos recursos naturais, substituindo a Convenção de Londres de 1933, firmada entre os países colonizadores. A Convenção da Organização da União Africana é tida “como um modelo pelos princípios ali estabelecidos (criação de reservas, regulamentação da caça, da captura, da pesca e proteção especial de certas espécies: fauna e flora) não só no que tange às espécies, mas também a seu “Habitat”, como a responsabilidade dos Estados que tenham, em seu território, uma espécie rara” (NAZO; MUKAI, 2001). Seguiu-se das discussões sobre o meio ambiente, no desenvolvimento do tema nas décadas seguintes, a necessidade de se discutir a relação deste ambiente com o homem. A ONU (organização das Nações Unidas) tem um papel importante neste período, com Pactos Internacionais e Declarações de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e Direitos Civis e Políticos, trazendo a tônica de assegurar os direitos fundamentais do homem à vida, à saúde, ao trabalho, à educação, para ter condições mínimas de desenvolvimento considerando o meio em que vivem. Veremos mais adiante como a discussão acerca da temática do meio ambiente foi mais profunda na década de 1970 em diante, na Unidade III – Sustentabilidade. Legislação Ambiental no Brasil O modelo de desenvolvimento brasileiro foi baseado, desde o descobrimento pela coroa portuguesa, na exploração dos recursos naturais existentes nas extensas terras do território, os quais pareciam ilimitados. A legislação portuguesa possuía, até então, alguns ordenamentos de proteção à natureza em seus registros, como por exemplo, a proibição do furto de aves em 1326 e o corte deliberado de árvores frutíferas, por volta de 1393. Essas medidas foram reunidas nas chamadas Ordenações Afonsinas, que estavam em vigor na época do descobrimento do Brasil e introduzidas – aquelas que de fato atendiam aos interesses da Coroa portuguesa – na colônia (BORGES, REZENDE E PEREIRA, 2009). 12 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL As ordenações Manuelinas, editadas em 1521, também possuíam normas de caráter ambiental, como a caça de alguns tipos de animais com instrumentos entendidos como cruéis, e a proibição da comercialização de colmeias sem preservar as abelhas. O corte de algumas árvores frutíferas (com valor econômico alto) teria como punição a extradição do degradado para o Brasil. Durante o período que o Brasil passou para o domínio espanhol, as Ordenações Filipinas indicaram uma preocupação maior com as águas, proibindo o despejo de materiais que pudessem matar os peixes em rios e lagos (NAZO; MUKAI, 2001). É importante lembrar que a abundância de recursos naturais – especialmente florestais - do Brasil colônia tinham grande importância estratégica para Portugal, em fase de plena expansão de navegação, que demandavam grandes quantidades de madeira para a construção das embarcações, enquanto estes recursos já apresentavam escassez no país europeu. À medida que a exploração florestal ao longo da costa foi tornando-se cada vez mais escassa, foi necessária a exploração das florestas mais interiores, com determinações específicas para corte e comercialização da madeira, e o descumprimento destas resultavam em altas penas e multas. “Madeira de Lei” Essa expressão, que hoje usamos para identificar as madeiras resistentes e de valor comercial alto, como o mogno, cedro etc., surgiu no período colonial quando os portugueses a criaram para designar as madeiras que só podiam ser derrubadas se a Coroa portuguesa autorizasse, ou seja, o corte dependia de uma permissão por lei. 13 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Figura 1. Diversas são as representações da exploração do Pau-Brasil, primeira madeira considerada “de lei” do Brasil. Fonte: (COSTA, 2017). O pau-brasil foi a primeira madeira classificada de lei, para impedir que esta fosse contrabandeada pelos espanhóis, franceses ou ingleses que aportavam na costa do nosso país (MUNDO ESTRANHO, 2011). A conservação das florestas ao longo da costa brasileira foi determinada em 1800, com a promulgação de uma Carta Régia, que incluía patrulhas para a fiscalização da atividade de exploração de madeira. Em 1802, surgiram as primeiras instruções que recomendavam o reflorestamento de partes da costa brasileira já muito devastada, especialmente no entorno das cidades que estavam em crescimento. Um marco significativo em todo o desenvolvimento das leis – ambientais ou não - foi a chegada da família real ao Brasil em 1808. A criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em 1811, é um exemplo do período, ainda que sua função não possuía interesse de conservação, apenas o estudo da flora brasileira com interesses econômicos. (KENGEN, 2001 in BORGES, REZENDE E PEREIRA, 2009). Ainda assim, a criação do Jardim Botânico foi um ato relevante para a evolução das discussões relativas à legislação ambiental no país, sendo considerado o primeiro passo para a regulamentação das áreas protegidas, até chegarmos no que hoje é o Sistema Nacional de Unidades de Conservação– SNUC, que veremos adiante. Em 1821, a primeira legislação sobre o uso da terra foi promulgada, na qual previa a manutenção de reservas florestais na sexta parte das áreas vendidas ou doadas, para preservar as madeiras existentes. Essa iniciativa é também precursora de leis atuais, 14 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL como as chamadas Reservas Legais de propriedades rurais, previstas no Código Florestal Brasileiro, que veremos adiante. Com a extinção do monopólio imperial sobre o pau-brasil em 1831, aliado ao intenso crescimento da agricultura e ao estímulo à ocupação do território brasileiro, o período foi de pouca preocupação ambiental, com leis mais brandas, até a criação do primeiro Código Florestal, em 1934, já no Estado Novo. O destaque desse Código foi a classificação das florestas em protetoras, remanescentes, modelo e de rendimento. As florestas consideradas protetoras conservavam as águas, evitavam a erosão e abrigavam a fauna, além de proteger fronteiras do país. As florestas remanescentes eram destinadas à conservação, enquanto as florestas modelo eram plantadas (com espécies nativas ou exóticas). As florestas de rendimento eram aquelas em que era permitida a exploração intensa de seus recursos. No mesmo ano foi criado o Código de Caça e Pesca, que disciplinou o uso de equipamentos, tornou obrigatório o uso de licenças para caça e pesca e proibiu a caça de alguns animais úteis à agricultura. O Código das Águas (também criado em 1934) estabeleceu, pela primeira vez, regras para o uso particular das águas e geração de energia. O surgimento dessas leis, bem como da Constituição de 1934, embora com uma visão utilitarista dos recursos naturais, impulsionaram o desenvolvimento do que é a legislação ambiental brasileira atualmente (HENDGES, 2016). A década de 1930 marcou também a criação do primeiro Parque Nacional do país, localizado em Itatiaia – RJ. (BORGES, REZENDE E PEREIRA, 2009). Deste período até a década de 1960, foram criados mais de 14 Parques Nacionais. Em 1965, foi criado um novo Código Florestal, Lei no 4.771/1965, que substituiu o anterior de 1934 e trouxe as florestas como bem comum a toda a população. Além disso, definiu duas linhas políticas aos recursos florestais: uma de proteção, criando as Áreas de Preservação Permanente (APP), Reservas Legais e áreas de uso indireto, como parques; outra linha, de conservação, por meio do uso racional e exploração de florestas nativas, uso múltiplo de áreas e “permitindo ao Estado uma interferência direta no uso das florestas particulares quando necessária à defesa de interesses coletivos” (HENDGES, 2016). Em 1967, foi criado o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, o que depois se tornaria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, que falaremos adiante. A década de 1970 foi marcada, no Brasil e no mundo, pelo início das discussões ambientalistas, como uma reação ao choque do petróleo e do crescimento urbano e 15 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I industrial sem controle. O Brasil estava em pleno “milagre econômico” e indiferente a este levante ambiental mundial. A criação dos Planos Nacionais de Desenvolvimento durante o período militar brasileiro foi desastrosa para o meio ambiente, sendo os incentivos dados ao governo para a exploração das terras do país os piores possíveis, causando a destruição em massa dos recursos naturais. Na Conferência de Estocolmo – que veremos mais detalhadamente adiante – em 1972, enquanto o mundo buscava formas de frear esse crescimento argumentando que o planeta não poderia reagir à essa velocidade de degradação, o Brasil defendeu o crescimento a qualquer custo, como forma de superar o subdesenvolvimento. Segundo Borges, Rezende e Pereira (2009), “A Delegação Brasileira na Conferência de Estocolmo declara que o país está aberto à poluição, porque o que precisa é dólares, desenvolvimento e empregos” (MEDINA, 2009). Apesar disso, ocorreram ações no país como um reflexo das novas discussões e preocupações ambientais do mundo. Em 1973 foi criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA, para trabalhar em parceria com o IBDF. Em 1981, também como resultado dessa nova tendência, foi criada a Política Nacional de Meio Ambiente, Lei no 6.938/1981, o primeiro grande marco da legislação ambiental do país. O segundo grande marco foi a criação da Lei nº 7.347/1985 da Ação Civil Pública, onde enfim os danos ao meio ambiente poderiam efetivamente chegar ao Poder Judiciário (GODOY; FACIO, 2013). A redemocratização do país trouxe uma nova Constituição em 1988, terceiro grande marco, que refletiu, de certa forma, nas influências de movimentos sociais e ambientais do mundo, para que fossem incluídos princípios relativos ao tema, especialmente baseados nos conceitos de desenvolvimento sustentável surgido no documento da ONU, intitulado Nosso Futuro Comum – Relatório Brundtland, criado em 1987. Como resultado, o artigo 225 da Constituição é totalmente dedicado ao meio ambiente, dispondo que ““Todos tem direito ao meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (HENDGES, 2016). O quarto importante marco da legislação ambiental ocorreu com a criação da Lei no 9.605/1998 – Lei de Crimes Ambientais, que incluiu sanções penais às atividades prejudiciais ao meio ambiente. A constituição e seus dispositivos legais trouxeram consigo um conjunto de leis que consolidaram definitivamente a legislação ambiental brasileira como sendo uma das mais avançadas e completas do mundo. Embora não haja confluência entre as leis e o 16 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL que de fato é praticado em grande parte dos setores – privados ou públicos – devemos considerar os avanços significativos destas normatizações. É importante lembrar que, apesar de haver uma certa ordem cronológica nos fatos, a legislação ambiental é marcada ora por avanços, ora por retrocessos, uma vez que ela sempre está vinculada aos interesses dos governantes, ao grau de impacto das ações e às discussões sobre meio ambiente do respectivo período (BORGES, REZENDE E PEREIRA, 2009). O autor Neder (2002) traçou, em um quadro, três dos principais momentos políticos/ legais do país e os comparou em relação à situação da questão ambiental no âmbito jurídico institucional. Esse quadro é uma síntese de muitos assuntos que vocês já viram até agora e que vão ainda ver nesse material, portanto, veja atentamente todo o processo histórico da questão ambiental do Brasil para entender onde estamos atualmente na questão. Quadro 1. Momentos históricos do Brasil e a questão ambiental. Período militar Assembleia Constituinte até 1998 1998-atual Percepção dos problemas ambientais » - Problemas vistos como pontuais; » - Poluição nas grandes cidades; » - Necessidade de criação de Unidades de Conservação sem a presença humana. » - A partir de Bruntdland, problemas são vistos como globais; » - Desmatamento na Amazônia e perda da biodiversidade; » - Visão socioambiental- homem inserido no meio ambiente. - Aquecimento global e perda de habitats; - Economia ambiental- valoração econômica dos recursos naturais. Cenário político-econômico-social » - Governo autoritário, com pouca / nenhuma participação popular; » - Maioria da população sem acesso a bens de consumo; » - Início do movimento ambientalista, ainda com visão romântica e separação homem- natureza. » - Clube de Roma / Conferência de Estocolmo. » - Democratização, com maior participação popular; » - Multiplicação de ONGs socioambientalistas; » - Transição entre crise e estabilidade econômica; » - Brundtland- Nosso Futuro Comum, surgimento do conceito de Desenvolvimento Sustentável e Rio-92. » - Estabilidade e crescimento econômico; » - Ascensão de grande parte da populaçãoe acesso a bens de consumo; » - Grandes obras de infraestrutura; » - Expansão do agronegócio e exploração de petróleo e energias limpas; » -Kyoto, Rio + 10, Rio +20; Acordo de Paris. Principais legislações ligadas ao licenciamento ambiental » - Política Nacional do Meio Ambiente e Res. CONAMA 01/86 » - Resolução CONAMA 237/97 e Lei de Crimes Ambientais. » - Novo Código Florestal (2012), Lei Complementar 140. Dinâmica das instituições » - Criação da SEMA, ligada ao ministério do Interior. » - Criação do IBAMA, com a junção da SEMA, IBDF, SUDEPE e SUDHEVEA; » - Criação do MMA posteriormente à criação do IBAMA. » - Descentralização da gestão ambiental; » - Divisão do IBAMA, com a criação do ICMBio, ANA etc. Fonte: Adaptado de Neder (2002). 17 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Conforme podemos observar no quadro, nos três contextos históricos distintos, a questão ambiental tem um papel importante na transformação social – e vice-versa – uma vez que as tendências de novas ideologias e avanços sociais também refletiram no papel e importância na qual o meio ambiente assume perante a sociedade. Cabe destacar nessa evolução o papel do componente humano nas relações com o meio ambiente. Se antes, até o período militar, o ser humano é visto como um elemento perturbador das condições ambientais e da preservação do ecossistema, essa visão vai mudando após a década de 1970, a partir das novas discussões sobre o desenvolvimento sustentável, no qual engloba o ser humano como elemento que compõe, de alguma forma, esse meio ambiente e, portanto, é responsável por ele – também para sua preservação. É importante lembrarmos o contexto no qual algumas das leis ambientais foram desenvolvidas – e vigentes até hoje – inclusive para notar que estas foram escritas sob outro viés de pensamento, trazendo o homem como agente de destruição e não um elemento de composição do meio ambiente, por exemplo. Outra questão importante que se alterou ao longo do processo histórico são as instituições públicas. Durante o período ditatorial, uma das principais características era a centralização do poder público, e isso também ocorria com as instituições de gestão ambiental. E esse processo mudou ao longo dos anos, com a tendência atual de descentralização dos serviços, o que atualmente ocorre. Ainda que, atualmente, essa descentralização compromete grande parte dos serviços – e não somente os ligados à gestão ambiental - pela falta de estruturação das instituições municipais, por exemplo, essa tendência é global e, quando realizada de forma estruturada, com diálogo entre as estruturas das demais esferas do governo, é uma transformação positiva da gestão pública. 18 CAPÍTULO 2 Mudanças e avanços na Legislação Ambiental Brasileira Quando pensamos no Brasil, é possível entender porque não é tão simples assim a questão ambiental. Um país quase com o tamanho de um continente, com a quinta maior nação do mundo, em um território que recobre cerca de 5,6% de toda a superfície terrestre do planeta, possuindo grande quantidade de água doce (cerca de 12% das reservas globais), além de uma grande biodiversidade de animais e espécies vegetais em um local de relevo e clima favoráveis (LOPES, 2017). O país, conforme já dissemos anteriormente, criou muitas de suas leis ambientais de forma precursora, antes mesmo do auge das discussões mundiais sobre o tema. Isso permitiu, de certa forma, que tais leis fossem evoluindo ao longo dos anos, ora acolhendo temas antes não discutidos, ora adaptando-se às novas realidades existentes no país. Embora, muitas vezes, tais leis são consideradas falhas, injustas ou até mesmo rigorosas excessivamente, podemos afirmar que essa precocidade em desenvolver meios que assegurassem (mesmo que inicialmente por interesses econômicos) a conservação e regulassem o uso dos recursos naturais do país fizeram do Brasil um dos países considerados mais avançados em termos de leis ambientais propriamente ditas. Para compreender esses avanços e/ou mudanças nas principais leis, vamos descrever as leis básicas e suas mudanças principais. Código Florestal Assim como a Constituição Federal, a denominação Código Florestal era inédita quando foi promulgada, em 1934, por Getúlio Vargas, por meio do Decreto no 23.793/1934, com o objetivo de refletir as preocupações do período e de normatizar o uso das florestas, reconhecendo-as como de interesse social comum ao povo brasileiro. O Código Florestal surgiu no contexto do avanço industrial do país, que precisava se recuperar dos reflexos da crise mundial de 1929, quando houve a queda da bolsa de Nova Iorque. O Brasil, que tinha no café seu principal produto, precisava diversificar sua economia e passou a investir na indústria de base, como as metalúrgicas e as siderúrgicas, que necessitavam de investimentos em mineradoras e madeireiras para 19 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I o fornecimento de matérias-primas. Neste sentido, era necessário regulamentar a extração destes recursos para que não se esgotassem (SANTOS FILHO, 2015). Destaca-se entre as diretrizes deste Código que “Nenhum proprietário de terras cobertas de matas poderá abater mais de três quartas partes da vegetação existente [...]” (Decreto Federal 23.793/1934, Art. 23). Além disso, definiu o conceito de florestas protetoras que, “apesar de similar ao conceito das áreas de preservação permanente (APP), não previa as distâncias a serem preservadas” (PRAES, 2015). Conforme dito anteriormente, as florestas foram, neste Código de 1934, classificadas em 4 tipos: protetoras, remanescentes, modelo, e de rendimento (BRASIL, 1934). As florestas protetoras (art.4°) seriam as que tinham como fins: » Conservar o regime das águas. » Evitar a erosão das terras pela ação dos agentes naturais. » Fixar dunas. » Auxiliar a defesa das fronteiras, de modo julgado necessário pelas autoridades militares. » Assegurar condições de salubridade pública. » Proteger sítios que por sua beleza mereçam ser conservados. » Asilar espécimes raras da fauna indígena. As chamadas floretas remanescentes (art.5°) seriam as de características: » Que formarem os parques nacionais, estaduais ou municipais. » Em que abundarem ou se cultivarem espécimes preciosas, cuja conservação se considerar necessária por motivo biológico ou estético. » Que o poder público reservar para pequenos parques ou bosques, de gozo público. As florestas tidas como modelo (art.6°) seriam as artificiais, ou seja, plantadas com vegetação nativa ou exótica, mas a lei não se atém a muitos critérios ou descrições em relação ao procedimento de plantio ou bioma, ou qualquer outro detalhe necessário para o manejo adequado da floresta. As demais florestas, que não se enquadravam nestas categorias descritas, eram consideradas florestas de rendimento. 20 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Outro destaque relevante deste Código Florestal de 1934 foi a criação do Fundo Florestal (art.98°), onde determinada que os recursos oriundos de contribuições das empresas, companhias, institutos ou doações de particulares interessados na conservação das florestas seria administrado pelo Ministério da Agricultura. Apesar de precursora, obviamente que essa lei apresentava limitações e falhas – como a questão da fiscalização pouco detalhada destas áreas a serem preservadas – e, por isso, esta sofreu alterações ao longo das décadas seguintes até a década de 1960, quando o aumento das discussões e movimentos ambientalistas em todo mundo refletiu na criação de um novo Código Florestal. Assim, foi promulgada a Lei no 4.771/1965, refletindo à época a política intervencionista da ditadura militar sobre as propriedades rurais, com destaque para a criação das chamadas Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente (APP’s), e o proprietário rural deve, a partir disso, preservar tais áreas estando sujeito às sanções e à recomposição de tais áreas. ReservaLegal A Reserva Legal é uma área dentro de cada propriedade com vegetação preservada, podendo ser explorada economicamente somente de forma sustentável, ou seja, com a conservação desta flora e também da fauna existente. O Código Florestal de 1965 definiu como limites para a Reserva Legal 50% da área da propriedade localizada na floresta Amazônica e 20% para as demais regiões do país, limitando o uso do solo e a exploração da vegetação natural existentes na propriedade. Posteriormente, com a Medida Provisória no 216/67 (art. 16o), estes limites foram aumentados para 80% de reserva legal para florestas da Amazônia, 35% para o Cerrado da Amazônia e 20% para as demais regiões do país. Área de Preservação Permanente (APP) Conforme o Art 2o, eram consideradas Áreas de Preservação Permanente as florestas ou formas de vegetação situadas: “a) ao longo dos rios ou de outro qualquer curso d’água, em faixa marginal cuja largura mínima será: 1- de 5 (cinco) metros para os rios de menos de 10 (dez) metros de largura: 21 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I 2- igual à metade da largura dos cursos que meçam de 10 (dez) a 200 (duzentos) metros de distância entre as margens; 3- de 100 (cem) metros para todos os cursos cuja largura seja superior a 200 (duzentos) metros. b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais; c) nas nascentes, mesmo nos chamados “olhos d’água”, seja qual for a sua situação topográfica; d) no topo de morros, montes, montanhas e serras; e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive; f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas; h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, nos campos naturais ou artificiais, as florestas nativas e as vegetações campestres. Figura 2. Limites definidos para APP’s no Código Florestal de 1965. Fonte: <https://www.senado.gov.br/NOTICIAS/JORNAL/EMDISCUSSAO/upload/201105%20-%20dezembro/ed09_imgs/ed09_p56_info.jpg> Em 1986, a Lei nº 7.511 alterou os limites de APP, com um significativo aumento destas: 1. de 30 (trinta) metros para os rios de menos de 10 (dez) metros de largura; 2. de 50 (cinquenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; 22 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 3. de 100 (cem) metros para os cursos d’água que meçam entre 50 (cinquenta) e 100 (cem) metros de largura; 4. de 150 (cento e cinquenta) metros para os cursos d’água que possuam entre 100 (cem) e 200 (duzentos) metros de largura; igual à distância entre as margens para os cursos d’água com largura superior a 200 (duzentos) metros (Brasil, 1986). Figura 3. Limites estabelecidos pela Lei 7.511/1986 para as APP’s. As alterações dessa lei tornaram irregulares os imóveis que obedeciam aos limites antigos das APP’s. Fonte: <https://www.senado.gov.br/NOTICIAS/JORNAL/EMDISCUSSAO/upload/201105%20-%20dezembro/ed09_imgs/ed09_p56_ info.jpg> As mudanças ocorridas em 1986, por meio desta lei, tinham influência significativa das novas discussões sobre o meio ambiente e o uso dos recursos naturais, cada vez mais latente em todo o mundo e não sendo diferente no Brasil. Em 1989, a Lei no 7.803 incluiu um parágrafo ao art. 2º do Código Florestal vigente que incluiu como APP também as áreas urbanas que se enquadrariam nas descrições da lei, que até então só se referia às áreas rurais quando tratava das APP’s, sempre observando os Planos Diretores Municipais e leis de Uso do Solo para definir os limites destas APP’s. 23 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Figura 4. A Lei 7.803/1989 definiu a medição da APP a partir da margem dos cursos d’água na época das cheias. Fonte: <https://www.senado.gov.br/NOTICIAS/JORNAL/EMDISCUSSAO/upload/201105%20-%20dezembro/ed09_imgs/ed09_p56_ info.jpg> O país, por deter grandes áreas de florestas e uma abundância de recursos como água e minerais, estava na mira dessas novas discussões mundiais e, não à toa, foi sede da Conferência Rio-92, organizada pela ONU e considerada um marco para a evolução da temática ambiental e popularização do tema, especialmente para o Brasil. Apesar disso, a prática estava cada vez mais distante das teorias de preservação e os anos seguintes registraram um intenso aumento do desmatamento da Amazônia. Para tentar conter essas ações, o governo do período promoveu a modificação da Lei 4.771/1965, através da Medida Provisória de nº 2.166, sendo esta medida reeditada 67 vezes até o ano de 2001 (PRAES, 2015). Em 2000, a Medida Provisória no 1956 trouxe outra novidade para a classificação de APP’s. Em seu texto, havia a indicação de que não seria necessária a presença de mata nativa para ser considerada área de APP, incluindo no art.1o do Código Florestal o parágrafo: “Art. 1º; Parágrafo 2º. Para os efeitos deste Código, entende-se por: II – área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2º e 3º desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a 24 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”. Uma das principais ações para coibir esse desmatamento foi o surgimento da Lei de Crimes ambientais nº 6.905/1998, que previa severas sanções para os desmatadores. Falaremos mais adiante sobre essa lei. Novo Código Florestal Brasileiro - Lei 12.651/2012 Em 2009, iniciou-se a revisão do Código Florestal, por uma bancada de deputados composta, em grande parte, pelos chamados “ruralistas”, ou seja, deputados que possuíam alguma relação com terras – especialmente na Amazônia – sendo muitos donos de grandes propriedades e latifúndios, o que pautava o teor das discussões acerca da revisão do Código Florestal, gerando polêmicas especialmente com ambientalistas que alegavam que a revisão da lei favorecia à toda classe de grandes produtores rurais, pecuaristas e latifundiários. A comunidade científica, além dos ambientalistas, também criticou duramente as diversas modificações da lei, afirmando que as propostas seriam um retrocesso na preservação ambiental. Até que em abril de 2012 o texto final foi aprovado e foi publicada a Lei 12.651/2012, após mais de 10 vetos e 30 modificações no texto proposto inicialmente. Algumas regulamentações foram dadas pelo Decreto no 7.830/2012. Mas quais as polêmicas em relação à essa lei? Vamos destacar as principais alterações da lei de 2012 em relação ao Código Florestal de 1965: » Permissão de uso nas APP’s: admite-se o plantio de culturas temporárias e sazonais de vazante de ciclo curto na faixa de terra exposta no período de vazante dos rios e lagos – desde que não haja novas supressões de vegetação nativa – para as pequenas propriedades exploradas por empreendedores familiares rurais, incluindo assentamentos e projetos de reforma agrária (Art. 4o, § 5o). » Permissão para a prática de aquicultura e infraestrutura ligada à tal prática nas APP’s dos imóveis rurais com até 15 (quinze) módulos fiscais desde que estejam regulares com os Planos de Bacia, não necessite de novas supressões de vegetação nativa, tenha regulamentado o licenciamento ambiental competente e esteja inscrito no CAR. 25 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I » Permissão para incluir as APP’s no cálculo de Reserva Legal das propriedades, desde que a área esteja em recuperação ou conservada e incluída no CAR (Art. 15), o que pode diminuir as áreas totais protegidas. » Possibilidade de realizar recomposição de Reserva Legal com espécies exóticas (Art 66), o que pode comprometer a biodiversidade natural do ambiente. » Compensação da Reserva Legal em outra área: permissão para instituir RL em regime de condomínio ou coletiva, entre diversas propriedades, respeitando o percentual previsto. Embora hajaa obrigatoriedade desta compensação ser no mesmo bioma da RL original, pode-se perder a identidade ecológica e as características especificas do local que deveria ser recomposto. » Anistia de multas para alguns casos em que produtores/proprietários tenham desmatado áreas protegidas até 22 de junho de 2008, com a obrigação de recomposição parcial da área desmatada. Embora haja essa obrigação, os ambientalistas criticam essa alteração da lei por abrir brechas jurídicas e precedentes que incentivem o desmatamento. Afinal, por que a data de 22 de julho de 2008? Nessa data foi publicado o Decreto no 6.514, que trata sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente. A lógica do Novo Código Florestal é de que quem cometeu infrações até essa data, não poderá ser punido pois não havia leis competentes para tais sanções anteriormente. » Cota de Reserva Ambiental (CRA) é um mecanismo proposto pela nova lei para que seja criado um mercado de negociação de áreas excedentes de Reserva Legal de uma propriedade para que outro produtor que tenha reserva insuficiente a utilize, como um título, negociável, inclusive, na Bolsa de Valores. Entretanto, na prática, ainda não há iniciativas existentes dessa prática (ORENSTEIN, 2017). » Possibilidade de redução da Reserva legal na Amazônia, pois embora a lei tenha mantido o valor de 80% de RL nesse bioma, este pode ser reduzido a até 50% caso haja autorização dos órgãos competentes. 26 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL » As APP’s, que antes eram medidas a partir do leito maior dos rios, passaram a ser medidas a partir do leito regular, ou seja, pode haver uma diminuição do leito e, consequentemente, da APP deste. Resumindo as APP’s (REINIS, 2016): » Até 1965, não existiam as Áreas de Preservação Permanente, sendo que as áreas na beira dos cursos d’água com vegetação nativa podiam livremente ser suprimidas. » Entre a criação da Lei no4.771/1965 até a Lei no7.511/1986, os proprietários de terrenos em áreas rurais que tivessem áreas nativas no entorno dos rios e cursos d’água tinham a obrigação de preservá- los nos 5 metros do entorno da margem, mas isso só era obrigatório para áreas rurais. » A partir da criação desta lei, em 1986, os proprietários de terras em áreas rurais com vegetação nativa no entorno dos cursos d’água passaram a ser obrigados a preservar 30 m da margem, enquanto nas áreas urbanas surgiu a restrição de acordo com as leis de parcelamento de solo específicas. » Em 1989, a criação da Lei no 7.803 fez com que as leis municipais e seus Planos Diretores passassem a obedecer os limites e princípios do Código Florestal, ou seja, nas áreas urbanas, os limites de preservação para as margens no entorno de rios e cursos d’água também passaram para 30 metros. » Em 2000, com a Medida Provisória no1956, passou a ser necessária a preservação de qualquer área no entorno dos cursos d’água, não necessariamente as áreas de vegetação nativa, mas qualquer área que se enquadre nesse entorno. » Com a criação do novo Código Florestal em 2012, excluíram-se os cursos d’água efêmeros das APP’s, bem como foi liberado às pequenas propriedades o plantio de culturas temporárias e sazonais de ciclo curto em áreas de vazantes (§ 5o), e a prática da aquicultura ara imóveis com até 15 módulos fiscais (§ 6o), desde que nada disso decorra à necessidade de supressão de vegetação, seja realizado o 27 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I licenciamento ambiental (no caso da aquicultura) e a propriedade tenha Cadastro Ambiental Rural – CAR. Cadastro Ambiental Rural – CAR Uma das inovações consideradas positivas pela nova lei é a criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), para que – teoricamente – os órgãos ambientais conheçam a localização de cada imóvel rural e sua situação ambiental. O CAR é um sistema nacional virtual que reúne informações de todas as propriedades rurais, com nome do proprietário ou possuidor da terra, a planta georreferenciada do perímetro do imóvel, informações sobre a APP, Reservas Legais e/ou Áreas de Uso Restrito deste. Todas essas informações vão para o chamado Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SICAR), dentro do chamado Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (SINIMA). Esse cadastro é obrigatório conforme a lei, sendo critério determinante para possibilitar a aquisição de créditos agrícolas, por exemplo. O principal objetivo do CAR é compor uma base de dados para o controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento. Após a inscrição no CAR, os proprietários ou possuidores de imóveis rurais com passivos ambientais (especialmente ligados à supressão de vegetação nativa) ocorridos até 22 de julho de 2008 em áreas de APP, de Reserva Legal ou de Uso Restrito podem solicitar adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) do respectivo Estado. O PRA é mais uma das novidades do novo Código Florestal, para que os Estados orientem os produtores rurais na implementação de ações para a recomposição das áreas com passivos ambientais nas suas propriedades, seja em APP’s ou Reserva Legal. O PRA dará os procedimentos para recuperação, recomposição, regeneração ou compensação (este último para as RL’s suprimidas até a data). Passivos ambientais são as obrigações – voluntárias ou involuntárias – de preservação, recuperação e/ou proteção do meio ambiente pela qual empresas ou particulares são responsáveis. O Programa de Regularização Ambiental – PRA foi previsto em lei para agregar as ações para a regularização ambiental das propriedades, sendo sua adesão obrigatória para os inscritos no CAR. Para isso, o proprietário ou responsável pelo imóvel rural assina um Termo de Compromisso para recompor, manter ou recuperar as áreas degradadas nas suas APP’s, Reservas Legais e Uso Restrito. A partir da assinatura do Termo de Compromisso serão suspensas as sanções decorrentes das infrações relativas 28 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL à supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de Áreas de Uso Restrito cometidas antes de 22/07/2008, nas denominadas “áreas rurais consolidadas”, ou seja, com ocupação antrópica onde deveria haver área preservada conforme a lei. Essa medida é muito questionada pelos ambientalistas, pois é considerada uma anistia aos que devastaram áreas protegidas por lei até esta data. Neste sentido, as pequenas propriedades são favorecidas, uma vez que há na lei regras diferenciadas para as propriedades com até 4 módulos fiscais para a regularização da Reserva Legal. As discussões acerca do chamado Novo Código Florestal envolvem os chamados ruralistas, acadêmicos e ambientalistas que divergem de opinião sobre a revisão do texto original. Enquanto ruralistas afirmavam que o antigo Código Florestal impedia o desenvolvimento econômico da agropecuária, acadêmicos e ambientalistas concordavam em afirmar que não havia embasamento e estudos para as novas determinações do Código. O fato é que conciliar interesses sociais, econômicos e ambientais em uma lei que promova, ao mesmo tempo, a conservação dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico da agropecuária. Para os chamados ruralistas, é necessário expandir as fronteiras agrícolas para o aumento da produção, o que era dificultado pelo Código Florestal anterior; para os acadêmicos, é importante desenvolver a agricultura, mas essas mudanças devem ser embasadas pela ciência; para os ambientalistas, a facilidade para desmatar que as leis trazem provocam desequilíbrio ecológico, o que prejudica inclusive a agricultura (PRAES, 2015). De fato, algumas pesquisas afirmam que as terras já existentes para a produção agropecuária poderiam ser suficientes para dobrar a produção, apenas com o melhoramento e desenvolvimento de tecnologias para tal (SPAROVEK et al. 2011 em PRAES, 2015). Embora houve consenso na revisão do Código Florestal de 1965, os divergentesinteresses dificultaram na reformulação do texto final do novo Código Florestal. Essas divergências prejudicam a busca por um real desenvolvimento sustentável do país. É preciso fazer uma análise crítica sobre o tema e não estar somente de um lado, mas realizar uma reflexão do que podemos fazer para compatibilizar o desenvolvimento do setor agropecuário com a sustentabilidade ambiental. Esse é o desafio às próximas gerações. 29 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Para esclarecer melhor todos os itens do chamado Novo Código Florestal, o CI Florestas ilustrou as mudanças e os conceitos da lei. Acesse: <http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/index.html> Lei das águas à Política Nacional de Recursos Hídricos O crescimento da população aliado ao uso intenso de recursos hídricos em atividades como a agricultura e indústria – para suprir as necessidades desta população em crescimento – fez com que as águas fossem utilizadas ao longo da história de forma deliberada, tanto para o abastecimento quanto para a diluição de efluentes, irrigação e produção industrial. Isso ocorreu em todo o mundo, em períodos distintos da evolução de cada região. O Brasil, por apresentar dimensões de um continente e uma grande abundância de recursos hídricos, precisou dar a devida importância para estes na construção de medidas com a finalidade de normatizar o uso destas. A primeira lei que buscou isso foi o “Código de Águas”, Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934, criada por Getúlio Vargas. O decreto fala dos tipos de água (públicas, comuns e particulares), das desapropriações caso sejam necessárias para o bem do aproveitamento da água, das concessões, autorizações e penalidades, bem como do uso para aproveitamento de energia hidráulica. Sobre as penalidades, o decreto prevê que quem poluísse as águas, ainda que as particulares, poderia ter responsabilidades criminais, no entanto, não dá maiores detalhes sobre quais responsabilidades seriam estas, além da recuperação das águas: Art. 109. A ninguém é lícito conspurcar ou contaminar as águas que não consome, com prejuízo de terceiros. Art. 110. Os trabalhos para a salubridade das águas serão executados à custa dos infratores, que, além da responsabilidade criminal, se houver, responderão pelas perdas e danos que causarem e pelas multas que lhes forem impostas nos regulamentos administrativo. Art. 111. Se os interesses relevantes da agricultura ou da indústria o exigirem, e mediante expressa autorização administrativa, as águas poderão ser inquinadas, mas os agricultores ou industriais deverão providenciar para que as se purifiquem, por qualquer processo, ou sigam o seu esgoto natural (BRASIL, 1934). http://www.ciflorestas.com.br/cartilha/index.html 30 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL O Código das Águas foi a lei mais importante para normatizar o uso das águas até a Constituição Federal de 1988, quando foi extinto o domínio privado das águas, passando a ser de domínio público todo o tipo de água, desde a subterrânea até a superficial, as nascentes, etc. Desde 1988, portanto, as águas podem ser consideradas (BORGES; REZENDE e PEREIRA, 2009): » Domínio da União: rios e lagos que banhem mais de uma unidade federada, ou que sirvam de fronteira entre essas unidades, ou entre o território do Brasil e o país vizinho ou deste provenham ou para o mesmo se estendam; » Domínio dos estados, para suas águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso as decorrentes de obras da União. Em 1997 foi criada a Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH pela Lei no 9.433/1997, lei que objetivava modernizar as normas para o uso das águas numa perspectiva já voltada à sustentabilidade destes recursos a partir das discussões ambientais crescentes no período em todo o mundo. É possível verificar a influência destas novas perspectivas ambientais nos objetivos desta lei, em seu art. 2o, onde diz “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos” (BRASIL, 1997). Enquanto o Decreto de 1934 prioriza o direito da propriedade das águas, a Lei que instituiu a PNRH reforça a supremacia do domínio público das águas sobre o privado, ou seja, para alguns aproveitamentos e explorações, o interessado precisa seguir os termos legais e solicitar autorizações especificas dos órgãos competentes (CAVALCANTI e CAVALCANTE, 2016). A Lei busca organizar o planejamento e a gestão dos recursos hídricos com a criação de diversos instrumentos políticos para o setor: » Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh): o sistema tem como objetivo implementar a PNRH, coordenando a gestão das águas, controlando o uso, a preservação e a recuperação, bem como participar do processo de cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Como partes integrantes do Singreh estão: » o Conselho Nacional de Recursos Hídricos; » a Agência Nacional de Águas; 31 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I » os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; » os Comitês de Bacia Hidrográfica; » os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais que estejam relacionados à gestão dos recursos hídricos; » as Agências de Água. Podemos assim dizer que essa lei sustenta-se por dois pilares prioritários: o planejamento e aproveitamento de uso e a participação de todos os setores usuários na tomada de decisões, visando uma gestão participativa e descentralizada, com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Em 2000, foi criada por lei a Agência Nacional das Águas – ANA, pela Lei no 9.984/00, com o objetivo de executar a PNRH. A ANA, enquanto autarquia (ou seja, com autonomia administrativa e financeira) é vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, e foi criada para viabilizar condições técnicas para a efetivação da Lei das Águas (BORGES; REZENDE e PEREIRA, 2009). A ANA segue, basicamente, quatro linhas de ações (ANA, 2017): » Regulação: regula o acesso e o uso das águas que são de domínio da União, os serviços de irrigação e adução, além de emitir e fiscalizar as outorgas para o uso de água e também fiscalizar a segurança das barragens. » Monitoramento: a ANA é o órgão responsável por acompanhar a situação dos níveis, vazões, quantidade de chuva, além de definir as regras para a operação dos reservatórios das Usinas Hidrelétricas em parceria com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a fim de regular o uso da água represada. » Aplicação de lei: é uma das atuações mais importantes da ANA, uma vez que auxilia na coordenação e implementação da PNRH, a partir do apoio à programas e projetos, articulando com os órgãos estaduais gestores dos recursos hídricos e os Comitês de Bacia Hidrográfica. » Planejamento: participa da elaboração de estudos como os Planos de Bacias hidrográficas, Relatórios Técnicos, entre outros, em parceria com outros órgãos públicos ou instituições. 32 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Conheça mais sobre o que a ANA, veja documentos produzidos e mapas dos recursos hídricos do Brasil no site: <http://www.ana.gov.br>. Outra ação legal significativa para normatizar o uso destes recursos hídricos foi a criação da Resolução CONAMA n° 357 de 2005, que substituiu a Resolução no 20/1986, e classificou e enquadrou as águas, estabelecendo padrões de uso permitidos para cada uma destas e para o lançamento de efluentes em cada uma. O novo enquadramento surgiu da necessidade de se reformular a antiga classificação, a fim de melhorar as condições e padrões de qualidade para atender as necessidades da população. As principais mudanças entre as duas Resoluções estão relacionadas aos valores de concentração máxima de alguns elementos e as condições para a emissão de efluentes, além das exigências de toxicidade. Estas exigências foram modernizadas e algumas tiveram valores mais restritivos.A Resolução de 2005 manteve a classificação para as águas doces, com as mesmas 5 classes (CONAMA, 2005): - I - classe especial: águas destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção; b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e, c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral. - II - classe 1: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; b) à proteção das comunidades aquáticas; c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000; d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; e e) à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas. - III - classe 2: águas que podem ser destinadas: 33 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; b) à proteção das comunidades aquáticas; c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000; d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e e) à aquicultura e à atividade de pesca. - IV - classe 3: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; c) à pesca amadora; d) à recreação de contato secundário; e e) à dessedentação de animais. - V - classe 4: águas que podem ser destinadas: a) à navegação; e b) à harmonia paisagística. Porém, a nova Resolução aumenta o número de classificação das águas salinas e salobras, de duas para quatro categorias. Se compararmos com a resolução CONAMA no 20, a nova Conama no 357 estipula padrões mais exigentes que os de Classe 1 para cursos d’água utilizados em pesca ou cultivo de organismos de consumo intensivo industrial. Além disso, substitui o conceito de emissão de efluentes por limite de concentração pelo de fixação de carga poluidora máxima, ou seja, permite levar em conta a real capacidade do corpo d’água para receber a descarga diária de efluentes. Essa mudança ajuda a diferenciar as emissões para cada rio, curso d’água ou mar, dependendo da sua classificação. “Se ele for especial, por exemplo, não admitirá nenhum tipo de emissão. Se for classe 1, terá uma exigência maior, que será reduzida progressivamente até 34 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL chegar na última e mais poluída classificação: no caso de águas doces, classe 4, e de águas salinas e salobras, classe 3” (FURTADO, 2005). Cabe lembrar que ainda em 2000, foi publicada a Resolução CONAMA no 274, sobre a balneabilidade das águas doces, salobras e salinas, classificando-as como próprias ou impróprias de acordo com os parâmetros estabelecidos. Cabe aos órgãos de controle ambiental competentes a aplicação da lei e a divulgação das condições de balneabilidade das praias, bem como da fiscalização. No Estado de São Paulo, por exemplo, quem faz essa análise e determina o parâmetro específico de uma praia, por exemplo, é a CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, onde semanalmente são coletadas amostras de água para determinar a qualidade para o uso recreativo. Nas praias de todo o litoral do Estado são fixadas bandeiras que indicam a qualidade da água amostrada: verde indica uma praia apta ao banho, pois a qualidade da água está boa, conforme podemos ver na figura a seguir, enquanto a bandeira vermelha indica uma má qualidade das águas, consideradas impróprias para banho. Figura 5. Imagem da bandeira utilizada pela CETESB para indicar a qualidade das águas de uma determinada praia. Fonte: <http://cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/2017/01/Milion%C3%A1rios-Capa.jpg> Em 2008, alguns parâmetros da Resolução no 357 foram alterados pela publicação da Resolução CONAMA n° 397/2008. No mesmo ano, a Resolução CONAMA no 396/2008 estabeleceu parâmetros mais específicos de enquadramento para as águas subterrâneas, Outra Resolução importante foi a CONAMA n° 430, em 13 de maio de 2011, que trata das condições, parâmetros, padrões e diretrizes para a gestão do lançamento de http://cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/2017/01/Milion%C3%A1rios-Capa.jpg 35 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I efluentes em corpos d’agua receptores, alterando os conceitos sobre o assunto das resoluções anteriores. Essa Resolução manteve as classificações e enquadramentos de corpos d’água anteriores, mas determinou que os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados diretamente nos corpos receptores após o tratamento conveniente, segundo as orientações legais. Além disso, as disposições dessa norma devem ser seguidas quando houver lançamento indireto de efluentes caso o órgão ambiental competente não possuir normas específicas sobre isso. Lei de Crimes Ambientais A Lei de Crimes Ambientais nº 6.905/1998 surgiu para aprimorar as penalidades para quem estivesse em desacordo com as normas existentes para o meio ambiente, responsabilizando os infratores na esfera civil e também penal, além de contemplar itens sobre a recuperação dos danos causados. Foi a partir dessa lei que os delitos contra o meio ambiente passaram a ser crimes, não somente contravenções penais. A partir disso, as penas ficaram mais severas com o intuito de diminuir os delitos que só causavam, no máximo, algumas multas anteriormente à lei. Em 2008, a Lei de Crimes Ambientais foi regulamentada pelo Decreto nº 6.514/2008, que exigia inclusive a averbação das áreas de Reserva Legal – já descritas anteriormente – sendo que o não cumprimento impediria o proprietário rural de ter alguns benefícios, como receber do governo financiamentos rurais, por exemplo. Esse é o decreto que “anistia” os proprietários que desmataram áreas de RL até 22 de julho de 2008 de sanções segundo o Novo Código Florestal Lei no 12.651/2012. O Decreto no 9.179, de 23 de outubro de 2017 foi publicado em consonância ao novo Código Florestal, alterando parte do decreto citado anteriormente, no que tange as infrações e conversões de multas. O Decreto instituiu, para isso, o Programa de Conversão de Multas Ambientais, ligado ao SISNAMA. Segundo o art. 140: “São considerados serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, as ações, as atividades e as obras incluídas em projetos com, no mínimo, um dos seguintes objetivos: I - recuperação: a) de áreas degradadas para conservação da biodiversidade e conservação e melhoria da qualidade do meio ambiente; 36 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL b) de processos ecológicos essenciais; c) de vegetação nativa para proteção; e d) de áreas de recarga de aquíferos; II - proteção e manejo de espécies da flora nativa e da fauna silvestre; III - monitoramento da qualidade do meio ambiente e desenvolvimento de indicadores ambientais; IV - mitigação ou adaptação às mudanças do clima; V - manutenção de espaços públicos que tenham como objetivo a conservação, a proteção e a recuperação de espécies da flora nativa ou da fauna silvestre e de áreas verdes urbanas destinadas à proteção dos recursos hídricos; VI - educação ambiental; ou VII - promoção da regularização fundiária de unidades de conservação. § 1° Na hipótese de os serviços a serem executados demandarem recuperação da vegetação nativa em imóvel rural, as áreas beneficiadas com a prestação de serviço objeto da conversão deverão estar inscritas no Cadastro Ambiental Rural - CAR. § 2° O disposto no § 1o não se aplica aos assentamentos de reforma agrária, aos territórios indígenas e quilombolas e às unidades de conservação, ressalvadas as Áreas de Proteção Ambiental.” (NR)” (BRASIL, 2017). PolíticaNacional de Meio Ambiente A Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981 é a lei que define os mecanismos e instrumentos de proteção do meio ambiente no país, e serviu para, de certa forma, unificar as leis ambientais estaduais, o que auxilia na sistematização, normatização e torna-as mais eficientes. A lei é anterior à Constituição Federal de 1988, embora dê efetividade ao artigo 225 desta, que afirma que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988). 37 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I Entre os principais objetivos da PNMA estão a compatibilização entre o desenvolvimento econômico e social com a preservação do meio ambiente; a definição de áreas prioritárias de ação; o fomento ao desenvolvimento de pesquisas ligadas aos recursos naturais, além do estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e manejo dos recursos; a exigência na recuperação dos danos causados aos recursos naturais/ ambientais é um ponto importante da lei, com a aplicação de multas e indenizações relativas aos danos causados (EBBESEN, 2016). Para viabilizar tais objetivos, a PNMA descreveu instrumentos (Art 9º) que podem ser utilizados pela administração pública, de qualquer ente federativo. De tais instrumentos, é importante enfatizar alguns: » Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental onde o CONAMA tem papel importante a partir do desenvolvimento das normas e Resoluções que padronizam a gestão de questões como a qualidade do ar, das águas, os ruídos, etc. A Resolução CONAMA no 5, de 1989, por exemplo, criou o Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar (PRONAR), estabelecendo limites de poluentes no ar, enquanto a Resolução no 3/ 1990 definiu o conceito de poluentes. A Resolução n.º 1 de 1990 do CONAMA deu validade à NBR n.º 10.152 da ABNT, que avalia a intensidade dos ruídos em áreas habitadas. Da mesma forma, para as águas, o CONAMA instituiu uma série de Resoluções com ao no 357/2005 que classifica as águas doces, salgadas e salinas, conforme já vimos anteriormente (RODRIGUES, 2014). » Zoneamento Ambiental o que viabilizou, por exemplo, a regulamentação do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) por meio do Decreto nº 4.297, de 10 de julho de 2002, além do zoneamento industrial e urbano, entre outros. O ZEE estabelece padrões de proteção ambiental para assegurar a qualidade ambiental dos recursos e é de competência federal realizá-lo. O zoneamento é um importante instrumento jurídico de ordenamento do uso do solo, e está previsto também na Constituição Federal de 1988, onde consta que cabe ao município promover esse ordenamento territorial (Art. 30), especialmente com a elaboração dos chamados Planos Diretores. O zoneamento ambiental também consta no Estatuto das Cidades, lei no 10.257/2001 com o intuito de contribuir com a sustentabilidade dos municípios (RODRIGUES, 2014). » A Avaliação dos Impactos Ambientais, o Licenciamento e a revisão de atividades potencialmente poluidoras, normatizada anos mais tarde 38 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL pela Resolução Conama nº 001, de 23 de janeiro de 1986, que também veremos adiante. » A criação de Áreas de Proteção Ambiental, normatizado posteriormente com a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que veremos adiante. » A penalização para quem não cumprir as medidas para a preservação ambiental, entre outros instrumentos. Para viabilizar a efetivação de todos os instrumentos preconizados, através das ações de competência da União, dos Estados e dos Municípios, a PNMA, no Art 6o, criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, estruturado por órgãos federais, estaduais e municipais para proteger e melhorar a qualidade ambiental. São membros do SISNAMA: » Conselho de Governo. » CONAMA, com principal órgão consultivo e deliberativo para propor as normas e padrões para a qualidade ambiental. » Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República. » O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Instituto Chico Mendes, principais executores da política ambiental no país. » Órgãos e entidades estaduais, que são os responsáveis pela execução dos programas, projetos e pela fiscalização das atividades que podem provocar impactos ou degradações ambientais. O CONAMA tem um papel de destaque na PNMA e no SISNAMA como um todo, uma vez que, conforme o Art. 8o, além do estabelecimento de normas e padrões de qualidade ambiental, cabe a ele também: “II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, 39 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990) (BRASIL, 1981). Isso torna o CONAMA um órgão fundamental no processo de licenciamento ambiental no país, uma vez que participa de perto de processos decisórios e de avaliações dos estudos solicitados para a obtenção de licenças ambientais por meio de empreendimentos. Falaremos mais sobre o assunto na Unidade II a seguir. Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC) – Lei n°9.985/2000 Embora o processo de criação de Unidades de Conservação no país já começasse a partir da década de 1930, com a criação do Parque Nacional de Itatiaia, criado em 1937, seguido dos Parques Nacionais do Iguaçu e Serra dos Órgãos em 1939, estes ainda não tinham como objetivo principal a proteção da natureza como foco de criação. O Código Florestal de 1965 trouxe como conceituação legal a criação de Unidades de Conservação de uso indireto – Parques nacionais, estaduais, municipais e as Reservas Biológicas – que não permitiam o uso dos recursos, e de uso direto – Florestas nacionais e Parques de Caça – que permitiam a exploração dos recursos (DRUMMOND,1997). Em 1981, a Lei nº 6.902 foi criada para instituir as estações ecológicas e as áreas de proteção ambiental, enquanto as Reservas extrativistas surgiram por meio de uma Portaria do INCRA, após pressão de ribeirinhos da região amazônica que necessitavam explorar a floresta como subsistência, sendo reconhecidas em 1990 por meio do Decreto no 98.897. Nesse período surgiram diversas categorias de unidades de conservação em uma tentativa de, ao mesmo tempo, proteger as áreas naturais e seguir as tendências mundiais de mudanças no panorama da conservação ambiental, pressões internacionais e ampliação no interesse social sobre o assunto (BARROS, 2000). Diante disso, a Lei no 9.985 surgiu em 2000 para consolidar e regulamentar a criação de áreas de preservação e proteção da biodiversidade que eram citados desde o Código Florestal, na Política Nacional de Meio Ambiente e na Constituição Federal de 1988. É possível dizer que a criação do SNUC regulamentou o artigo 225, § 1°, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal (BORGES, REZENDE E PEREIRA, 2009). O SNUC foi regulamentado pelo Decreto nº. 4.340 de 22 de agosto de 2002. 40 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL As áreas de preservação anteriores ao SNUC foram reclassificadas e enquadradas em dois grupos: » Unidades de Proteção Integral: com o objetivo de preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto (com exceções). São compostas por cinco categorias de unidades de conservação: Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. Em muitas destas, nem avisitação pública é permitida, nem a permanência de moradores tradicionais e nenhum tipo de exploração da área, apenas a pesquisa mediante autorização dos órgãos competentes. » Unidades de Uso Sustentável: permite a exploração do ambiente de forma que se garanta a perenidade dos recursos naturais renováveis, mantendo a biodiversidade, de forma socialmente justa e economicamente viável. As Unidades de Uso Sustentável são as Áreas de Proteção Ambiental; Áreas de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural. É nessas UC’s que se concentram grande parte das populações - tradicionais ou não - que necessitam explorar as áreas naturais para a sobrevivência, como os caiçaras, ribeirinhos, quilombolas, entre outros. Embora o SNUC atue de forma importante para normatizar as Unidades de Conservação, há ainda entraves na classificação padronizada de áreas tão distintas e heterogêneas ao longo de um país tão extenso como o Brasil. Muitas áreas tidas como de proteção integral, por exemplo, possuem populações tradicionais que poderiam contribuir para ações de conservação, entretanto, sofrem com a pressão e a burocratização dos seus modos de vida, sendo impedidos de exercê-las. A polarização entre as visões conservacionistas e socioambientais das Unidades de Conservação impede que haja um debate que possa, de fato, enriquecer as ações de preservação das áreas realmente importantes ao mesmo tempo que conserve tradições e meios de vida culturais. O artigo RIBEIRINHOS E CAIÇARAS: A VIDA ENTRE TERRA E ÁGUA, escrito por Renato Azevedo Matias Silvano e Alpina Begossi (2017) retrata um pouco da vida destas 41 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL │ UNIDADE I populações tradicionais – muitas vezes marginalizadas – e também os conflitos de suas atividades e Unidades de Conservação. Acesse:<http://www.comciencia.br/ribeirinhos-e-caicaras-vida-entre-terra-e- agua/> Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS - Lei 12.305/2010 A Política Nacional de Resíduos Sólidos foi uma das últimas grandes leis publicadas que estão relacionadas à problemáticas ambientais importantes, como a gestão dos resíduos no país, depois de décadas em tramitação. A lei foi regulamentada pelo Decreto no 7.404/2010. A primeira iniciativa de haver uma lei sobre o assunto, segundo Costa (2017), começou a tramitar em 1989, sobre a disposição final de resíduos de saúde, mas somente em 2007 foi dado o seguimento para a criação do que é a atual lei. Nesse período, cerca de 100 projetos relacionados ao tema foram apensados e tramitaram na Câmara. A questão mais problemática da PNRS é a logística reversa, que prevê a responsabilidade de fabricantes e distribuidores na destinação correta dos resíduos, o que – obviamente – encontrou resistência do setor industrial, atrasando ainda mais a publicação da lei final (COSTA, 2017). E mesmo após a publicação da lei, as ações relativas à logística reversa ainda são pouco eficazes e são bem restritas à alguns setores e localizações geográficas. A lei também enfatizou a obrigatoriedade da elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) por parte do setor privado, uma exigência já de muitos processos de licenciamento ambiental. Embora publicada há alguns anos, a PNRS ainda precisa engrenar muitos conceitos e ações, entretanto, algumas iniciativas e exigências legais tendem a dar certo, embora a lei não tenha levado em consideração realidades distintas ao longo do país, como entre as grandes metrópoles e pequenas cidades, ou regiões industriais e agrícolas, por exemplo, dificuldades enfrentadas sempre em que há generalizações. Plano Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC – Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009. A lei, que foi regulamentada pelo Decreto nº 7.390 / 2010, foi uma inédita e importante iniciativa para a redução de emissão de CO2 e outras medidas que contribuem para a 42 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL discussão, pautada nas tendências ambientais desde a Conferência de Estocolmo na década de 1970 até a criação do Protocolo de Kyoto, em 1998 e as discussões atuais. A Lei trata do tema de forma coletiva, onde estabelece-se como obrigação de todos para atuar na redução dos impactos sobre o clima, para o benefício desta e das futuras gerações. Embora de iniciativa precursora, a lei pouco põe em prática os conceitos estabelecidos para, de fato, essa redução de impactos. Mas é impossível negar a importância do início das discussões sobre as mudanças do clima, que certamente serão intensificadas nas próximas décadas. 43 CAPÍTULO 3 Outras Leis Ambientais Outras leis ambientais são importantes para a história do país no que tange à proteção ambiental. Entre as principais estão: » Lei 7.735/1989 – Criou o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama e integrou a gestão ambiental no Brasil através da fusão Secretaria de Meio Ambiente – SEMA, Superintendência da Borracha – SUDHEVEA, Superintendência da Pesca – SUDEPE e Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF. » Lei 7.797/1989 – Cria o Fundo Nacional de Meio Ambiente com o objetivo de desenvolver projetos que incentivem o uso racional e sustentável dos recursos naturais, a manutenção, recuperação e melhoria da qualidade ambiental e da vida da população. » Decreto 99.274/1990 – Regulamenta a Política Nacional de Meio Ambiente – lei 6.938/1981 e dispõe sobre a criação de Estações ecológicas e Áreas de Proteção ambiental. » Lei 8.490/1992 – Criou o Ministério do Meio Ambiente. » Decreto nº 1.141, de 19 de maio de 1994 - Dispõe sobre a Comissão Intersetorial de Ações de Proteção do Meio Ambiente, Saúde e Atividades Produtivas para Comunidades Indígenas (FUNAI). » Medida Provisória 1.511/1996 – Primeira de uma série que definem e conceituam as Reservas Legais e as Áreas de Preservação Permanentes, fixando as primeiras em 80% na Amazônia Legal. » Lei 9.433/1997 – Política Nacional de Recursos Hídricos: regulamenta o artigo 21, inciso XIX da Constituição Federal. Estabelece o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, estabelece que a água é um bem de domínio público, uso múltiplo e gestão descentralizada com participação dos usuários. O Decreto 4.613/2003 – Regulamenta o Conselho Nacional dos Recursos Hídricos, suas competências e composição. » Lei 9.795/1999 – Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA: inclui a educação ambiental inter, multi e transdisciplinar em todos os níveis e modalidades formais do ensino e não formal como práticas educativas 44 UNIDADE I │ LEGISLAÇÃO AMBIENTAL desenvolvidas pelas organizações da sociedade civil, empresas, sindicatos, organizações não governamentais, meios de comunicação e cidadãos para a sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais, sua organização e defesa do meio ambiente. O Decreto 4.281/2002 – Regulamenta a Política Nacional de Educação Ambiental, sua execução e gestão. » Lei 9.666/2000 – Sobre a prevenção, controle e fiscalização dos lançamentos de óleos e substâncias perigosas ou nocivas nas águas nacionais. A resolução Conama nº 306/2002 estabelece os requisitos para as auditorias ambientais de avaliação dos sistemas de gestão e controle ambiental nos portos, plataformas e refinarias com objetivos de cumprimento da legislação e dos licenciamentos ambientais pelas indústrias petrolíferas, gás natural e derivados. » Lei 11.326/2006 – Estabelece os conceitos, princípios, instrumentos e políticas públicas relacionadas à agricultura familiar e empreendimentos familiares rurais. » Lei 11.516/2007 – Cria o Instituto Chico Mendes – ICMBio como responsável pela gestão e fiscalização das Unidades de Conservação. » Lei 11.445/2007 – Política Nacional de Saneamento Básico – PNSB: diretrizes nacionais para o saneamento básico englobando o abastecimento de água, esgotamento sanitário,
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