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UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação ii UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação ii Agradecimentos Este trabalho não poderia ser terminado sem a ajuda de diversas pessoas às quais presto minha homenagem: Aos meus pais e irmã, que sempre me apoiaram e possibilitaram que eu cursasse Engenharia na UNIFEI. A minha namorada e amigos de república, por ajudarem sempre e estarem ao meu lado em todos os momentos. Ao Thomas Priels pela ajuda e pelos dias passados no Hangar. Ao meu orientador, Bruno Sousa, ao meu co-orientador, Antonio Ancelotti, e coordenadora de curso, Patrícia Alexandrino, pelo apoio, ajuda, prontidão e suporte na confecção e realização deste trabalho. A Akaer, a Kraüss Aeronáutica e aos projetos de extensão UIRÁ Aerodesign e Coyotes MotoRacing pelo fornecimento dos manuais e por ajudarem com ferramentas. A todos os servidores da UNIFEI que participaram da confecção deste trabalho de forma direta ou indiretamente. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação iii “Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar.” Friedrich Nietzsche UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação iv Resumo Este trabalho apresenta o estudo do impacto da alteração do material da estrutura da fuselagem da aeronave Aero Boero AB-115 de metálico para compósito laminado. Estudo esse que irá abranger desde a história da aeronave como surgimento da empresa, como foi a entrada do AB-115 no mercado brasileiro, passando por levantamento de dados de projeto como distribuição de sustentação, Diagrama V-N, até a parametrização de sua estrutura e análise em elementos finitos. Junto a isso, será proposto uma modificação de material, alterando a estrutura metálica para composta de carbono, onde será avaliado o impacto dessa modificação no âmbito estrutural, fornecendo uma redução de peso de cerca de 60% e um aumento da resistência em aproximadamente 25%. Palavras-chave: Estudo; elementos finitos; material compósito; impacto; Aero Boero. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação v Abstract This work presents the method of impact of the material of the structure of the aeronautical fuselage AB-115 of metal for laminated composite. Evaluation of the progress of the company's history as a training company, such as the entry of the AB-115 in the Brazilian market, through the survey of project data such as the support distribution, Diagram V-N, to the parameterization of its structure and finite element analysis . Next to this, will be propose a modification in the material, a metallographic change to the carbon composition, by eliminating the impact of that change in the structural layout, a weight reduction of about 60%, and an increase in strength by about 25%. Key words: Study; finite element; composite material; impact; Aero boero aircraft. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação vi Lista de Figuras Figura 2.1 – Logo Aero Boero S.A e três vistas AB-93 ................................................. 4 Figura 2.2 – Esboço três vistas AB-115 ......................................................................... 5 Figura 2.3 – Motor Lycoming O-235 ............................................................................. 6 Figura 2.4 – Hélice SENSENICH modelo 72CK-050 .................................................... 7 Figura 2.5 – Tipos de Wing Tips .................................................................................... 8 Figura 2.6 – Asa AB-115 ................................................................................................ 9 Figura 2.7 – Perfil NACA23012 ..................................................................................... 9 Figura 2.14 – Exemplo de envelope de voo ................................................................. 10 Figura 3.1 – Tipos de compósitos ................................................................................. 11 Figura 3.2 – Camada na fibra de vidro ......................................................................... 13 Figura 3.3 – Fibra de Aramida ...................................................................................... 14 Figura 3.4 – Fibra de Carbono ...................................................................................... 15 Figura 3.5 – Prendedores .............................................................................................. 18 Figura 4.1 – Aero Boero AB-115 presente no hangar .................................................. 20 Figura 4.2 – AB-115 sem asas, empenagens e trem de pouso ...................................... 21 Figura 4.3 – Interior AB-115, em destaque treliças e espuma isolante ........................ 22 Figura 4.4 – Partes cabine AB-115 ............................................................................... 23 Figura 4.5 – Girafa hidráulica ....................................................................................... 23 Figura 4.6 – Aeronave suspensa e parcialmente apoiada em um dos cavaletes ........... 24 Figura 4.7 – AB-115 desmontado ................................................................................. 24 Figura 4.8 – Eixo de referência para medidas .............................................................. 25 Figura 4.9 – Esboço plano paralelo 2 ........................................................................... 26 Figura 4.10 – Pontos representativo dos nós da treliça ................................................ 26 Figura 4.11 – Cockpit em linhas ................................................................................... 27 Figura 4.12 – Cockpit interligado por superfícies ........................................................ 27 Figura 4.13 – Chassi cockpit completo ......................................................................... 28 Figura 5.1 – Tipos de análises no software XFLR5 ..................................................... 31 Figura 5.2 – Gráfico Cl × Alpha ................................................................................... 32 Figura 5.3 – Gráfico Cl/Cd × Alpha ............................................................................. 32 Figura 5.4 – Gráfico de fator de arrasto induzido ......................................................... 34 UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação vii Figura 5.5 – Linhas de corrente asa AB-115 ................................................................ 35 Figura 5.6 – Distribuição de sustentação asa AB-115 .................................................. 35 Figura 5.7 – Diagrama V-N AB-115 ............................................................................ 36 Figura 6.1 – Exemplo de tipos de elementos finitos ..................................................... 39 Figura 6.2 – Elemento BAR do tipo tubo ..................................................................... 42 Figura 6.3 – Estrutura AB-115 em elementos finitos ................................................... 43 Figura 6.4 – Modelo FEM final com aplicação das massas ......................................... 43 Figura 6.5 – Modelo FEM completo para condição de 1G .......................................... 44 Figura 7.1 – Deslocamento total condição 1G em mm ................................................ 46 Figura 7.2 – Máxima tensão combinada condição 1G em daN/mm² ........................... 46 Figura 7.3 – Deslocamento total condição 3,8G em mm.............................................. 47 Figura 7.4 – Máxima tensão combinada condição 3,8G em daN/mm² ........................ 47 Figura 7.5 – Deslocamento total condição -1,52G em mm .......................................... 48 Figura 7.6 – Máxima tensão combinada condição -1,52G em daN/mm² ..................... 48 Figura 7.7 – Deslocamento total condição 3,8G × 1,5 em mm .................................... 49 Figura 7.8 – Máxima tensão combinada condição 3,8G × 1,5 em daN/mm² ............... 49 Figura 7.9 – Deslocamento total condição 1G material compósito em mm ................. 51 Figura 7.10 – Máxima tensão combinada condição 31G material compósito em daN/mm² ................................................................................................................................... 51 Figura 7.11 – Deslocamento total condição -1,52G material compósito em mm ........ 52 Figura 7.12 – Máxima tensão combinada condição -1,52G material compósito em daN/mm² ................................................................................................................................... 52 Figura 7.13 – Deslocamento total condição 3,8G material compósito em mm ............ 53 Figura 7.14 – Máxima tensão combinada condição 3,8G material compósito em daN/mm² ................................................................................................................................... 53 Figura 7.15 – Deslocamento total condição 3,8G × 1,5 material compósito em mm .. 54 Figura 7.16 – Máxima tensão combinada condição 3,8G × 1,5 material compósito em daN/mm² ................................................................................................................................... 54 Figura 8.1 – Conexões de metal ................................................................................... 56 Figura 8.2 – Estrutura Final do AB-115 ....................................................................... 57 UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação viii Lista de Tabelas Tabela 2.1 – Dados conjunto motopropulsor. ................................................................. 6 Tabela 2.2 – Velocidades limites de operação ................................................................ 7 Tabela 3.1 – Características Fibra de Vidro ................................................................. 12 Tabela 3.2 – Características Fibra de Aramida ............................................................. 13 Tabela 3.3 – Características Fibra de Carbono ............................................................. 14 Tabela 3.4 – Comparativo principais resinas Termorrígidas ........................................ 16 Tabela 3.5 – Características gerais resinas Termorrígidas ........................................... 16 Tabela 3.6 – Comparativo principais resinas Termoplásticas ...................................... 17 Tabela 3.7 – Características gerais resinas Termoplásticas .......................................... 17 Tabela 3.8 – Materiais mais utilizados em prendedores ............................................... 17 Tabela 3.9 – Principais tratamentos superficiais em prendedores ................................ 18 Tabela 4.1 – Lista de ferramentas utilizadas ................................................................ 21 Tabela 4.2 – Ferramentas de medição utilizadas .......................................................... 25 Tabela 5.1 – Dados asa desenhada no XFLR5 ............................................................. 35 Tabela 5.2 – Comparação entre os CLmáx encontrados .................................................. 36 Tabela 5.3 – Cargas máximas atuantes na aeronave ..................................................... 37 Tabela 5.4 – Resumo casos de carga ............................................................................ 38 Tabela 6.1 – Dados do material aço SAE 4130 ............................................................ 40 Tabela 6.2 – Propriedades do tubo SKU 46404 ........................................................... 41 Tabela 6.3 – Ply table tubo de carbono ........................................................................ 41 Tabela 7.1 – Erros nos métodos de CLmáx ..................................................................... 45 Tabela 7.2 – Resultados de M.S. e F.S. obtidos para o material original ..................... 50 Tabela 7.3 – Resultados de M.S. e F.S. obtidos para o material composto .................. 55 Tabela 8.1 – Alterações do reprojeto ............................................................................ 57 UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação ix Lista de Siglas e Abreviaturas ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil α – Ângulo de ataque AR – Aspect Ratio, Alongamento Cd – Coeficiente de arrasto do perfil CL – Coeficiente de sustentação da asa Cl – Coeficiente de sustentação do perfil CLmáx – Coeficiente de sustentação máxima da asa DAC – Departamento de Aviação Civil F – Força F.S. – Fator de segurança FAA – Federal Aviation Administration I.V.D – Ion Vapor Deposition LTA – Laboratório de Tecnologias Aeronáuticas m – Massa M.S. – Margem de segurança MSG – Maintenance Steering Group MSI – Maintenance Significant Items MTOW – Maximum Take-Off Weight FEM – Método dos Elementos Finitos SSI - Structural Significant Item 𝜎𝑦𝑒𝑙𝑑 – Tensão de escoamento 𝜎𝑢𝑙𝑡 – Tensão última VA – Velocidade de manobra VFE – Velocidade máxima com flapes estendidos VNE – Velocidade nunca exceder VNO – Velocidade de cruzeiro máxima estrutural Vs – Velocidade de estol VS0 – Velocidade de estol com flapes estendidos VS1 – Velocidade de estol com flapes recolhidos UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação x SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................... 1 1.1 Motivação e Objetivos .......................................................................................... 1 1.2 Estrutura do Trabalho ........................................................................................... 1 1.3 Revisão da Literatura ............................................................................................ 2 CAPÍTULO 2 – A AERONAVE AERO BOERO AB-115 ........................................... 3 2.1 Introdução ............................................................................................................. 3 2.2 História ................................................................................................................. 3 2.3 A Aeronave ........................................................................................................... 4 2.3.1 Conjunto motopropulsor e sistema de combustível ....................................... 5 2.3.2 Limites de velocidade e peso .......................................................................... 7 2.3.3 Asa .................................................................................................................. 8 CAPÍTULO 3 – MATERIAIS COMPÓSITOS ........................................................... 11 3.1 Materiais Compósitos ......................................................................................... 11 3.1.1 Fibra de vidro ............................................................................................... 12 3.1.2 Aramida ........................................................................................................ 13 3.1.3 Carbono ........................................................................................................ 14 3.1.4 Matrizes ........................................................................................................ 15 3.2 Prendedores ou Fixadores ................................................................................... 17 CAPÍTULO 4 – MODELAGEM COMPUTACIONAL .............................................. 20 4.1 Introdução ........................................................................................................... 20 4.2 Desmontagem da Aeronave ................................................................................ 20 4.3 Aquisição de Medidas ......................................................................................... 25 4.4 Modelagem no Software ..................................................................................... 25 CAPÍTULO 5 – CARGAS NA AERONAVE .............................................................. 29 5.1 Introdução ........................................................................................................... 29 5.2 Metodologia de Cálculo ...................................................................................... 29 5.3 Cargas na asa ...................................................................................................... 30 5.3.1 Distribuição de sustentação .......................................................................... 33 5.4 Diagrama V-N .................................................................................................... 36 5.5 Cargas Totais ...................................................................................................... 37 UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação xi CAPÍTULO 6 – ANÁLISES ESTRUTURAL EM ELEMENTOS FINITOS ............. 39 6.1 Método dos Elementos Finitos ........................................................................... 39 6.2 Materiais ............................................................................................................. 40 6.3 Propriedades ....................................................................................................... 41 6.4 Geometria e malha .............................................................................................. 42 6.5 Condições de carga e contorno ........................................................................... 43 CAPÍTULO 7 – ANÁLISES E RESULTADOS .......................................................... 45 CAPÍTULO 8 – NOVA ESTRUTURA E CARACTERÍSTICAS ............................... 56 CAPÍTULO 9 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................................................................................................................. 58 9.1 Conclusões .......................................................................................................... 58 9.2 Sugestões para Trabalhos Futuros ...................................................................... 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 59 APÊNDICE A – Medidas Cockpit AB-115 .................................................................. 61 UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 1 CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO Nos dias de hoje tem sido cada vez mais comuns novidades tecnológicas e avanços em materiais como: materiais compósitos, materiais inteligentes, uso de nanotecnologia, entre outras. Sendo então produzidos dispositivos e aeronaves cada vez mais eficientes, modernas e mais seguras. Entretanto, em algumas áreas essas atualizações não foram implementadas, maior exemplo disso na aviação brasileira são as aeronaves utilizadas para instrução nos aeroclubes e também nas forças aéreas. As principais são os Aero Boeros AB-115 e AB-118, e também o Paulistinha, sendo aquelas de 1980 e essa de 1960. Diante disso, é observada uma necessidade de atualização e modernização dessas aeronaves visto sua ampla utilização, a necessidade de uma instrução mais fidedigna à realidade encontrada pelos pilotos após a instrução e a possibilidade de aumento de eficiência das aeronaves. 1.1 Motivação e Objetivos Este trabalho final de graduação tem como objetivo reprojetar uma aeronave que, até os dias de hoje, é muito utilizada e que faz parte da história da aviação de instrução brasileira. A motivação para a realização desse projeto é a atual demanda mundial por aeronaves mais eficientes estruturalmente, sendo possível isso com o uso de materiais especiais, como os compósitos. Também, a facilidade de acesso à aeronave e suas partes junto ao potencial de desenvolvimento de um protótipo da aeronave em carbono. 1.2 Estrutura do Trabalho No Capítulo 1 é apresentada uma breve introdução sobre o trabalho, como será sua estrutura e os principais pontos que serão tratados em cada um dos capítulos. No Capítulo 2 é apresentada a aeronave e suas características gerais, de desempenho e aerodinâmicas. Já no Capítulo 3 são detalhados o processo de desmontagem, aquisição de medidas e parametrização da aeronave. No Capítulo 4 serão discutidos e apresentados os UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 2 resultados do processo descrito no Capítulo 3, e por fim, no Capítulo 5 serão apresentadas sugestões para continuação deste trabalho e também as conclusões. 1.3 Revisão da Literatura Foi utilizada a metodologia de (RODRIGUES, 2009) para obtenção dos resultados de projeto do AB-115 como curva de sustentação por alpha, diagrama V-N, assim como (MIRANDA, 2010). Já para embasamento teórico, foram utilizadas principalmente (MARTINEZ, 2011), (ANCELOTTI, 2016) e (PARDINNI, 2006) para a área de materiais compósitos, referências que possibilitaram um melhor entendimento do assunto por inteiro, abrangendo tanto a fibra quanto a matriz. Também, (PRIELS, 2018) e (TOLENTINO, 2014) serviram como base e direcionamento para a análise em elementos finitos, com exemplos de aplicações, condições de contorno e modos de obtenção de cargas. Além disso, teve-se como base a análise e uso dos manuais de voo, manutenção e operação da aeronave, fornecidos pela fabricante de aeronaves Kraüss Aeronáutica. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 3 CAPÍTULO 2 – A AERONAVE AERO BOERO AB-115 2.1 Introdução A aeronave escolhida para o projeto foi a AeroBoero AB-115 presente no Laboratório de Tecnologias Aeronáuticas (LTA) da UNIFEI. Um pouco de sua história e principais características estão descritas a seguir. 2.2 História “A Aero Boero S.A. foi uma fabricante de aeronaves monomotoras idealizada em 1956 pelos irmãos Hector e Caesar Boero. A empresa, com sede em Córdoba na Argentina, atuava na produção de aeronaves monomotoras, sendo que, com a perda de mercado, acabou dedicando-se apenas a serviços de manutenção e fornecimento de peças, fechando suas portas por volta do ano 2000” (LIASCH, 2009). Entretanto, a Aero Boero possuiu “anos de glória” em terras brasileiras. Com o sucateamento da frota de Paulistinhas e a necessidade de novas aeronaves de treinamento, a empresa argentina ganhou foco, visto que “A Cessna havia encerrado a fabricação de todas as aeronaves leves, a Piper ainda se reerguia de seu processo de falência, e a Embraer estava desativando sua linha de produção de aeronaves leves para se concentrar na fabricação de aeronaves comerciais e militares” (FILHO, 2009). “Assim, em 1987 a Aero Boero S.A. ganhou da sua rival argentina Chincul o contrato com o antigo Departamento de Aviação Civil (DAC), atualmente Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), fornecendo cerca de 400 aeronaves para o governo brasileiro. Estas que eram as aeronaves AB-115 e AB-180, semelhantes ao modelo pioneiro da empresa, o AB-93 (Figura 2.1), entretanto com novos motores (Lycoming O-235 e O-360 respectivamente) devido à dificuldade para obtenção de motores Continental O-200 a partir de 1968” (LIASCH, 2009). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 4 Figura 2.1 – Logo Aero Boero S.A e três vistas AB-93 Fonte: Aero Boero (2010). “Muitas das aeronaves AB-115 e AB-180 ainda são utilizadas em boa parte dos aeroclubes brasileiros para instrução. Mesmo que um pouco ultrapassados, os Aero Boeros apresentam boa visibilidade para frente, são estáveis em voo, tornando várias manobras didáticas e previsíveis, além de possuírem estol suave, simétrico e bem advertidos” (AUTOR, 2018). 2.3 A Aeronave “O Aero Boero AB-115 é uma aeronave monomotora, equipada com flaps, dotada de trem de pouso convencional, asa alta, conjunto de cauda convencional e estrutura mista, esta composta por tubos de aço soldados, ligas de alumínio, tela e fibra de vidro. Já sua fuselagem é do tipo treliça reticular de aço tratado contra corrosão. Além disso, apresenta na estrutura semi-cantiliéver do trem fixo dois montantes ligados à asa” (AUTOR, 2018). As principais medidas da aeronave podem ser vistas na Figura 2.2 em que está presente um esboço das três vistas. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 5 Figura 2.2 – Esboço três vistas AB-115 Adaptado de: Manual AB-115 (2006). 2.3.1 Conjunto motopropulsor e sistema de combustível A aeronave é equipada com o motor O-235 da fabricante Lycoming Motor, Figura 2.3, esse com 115 HP de potência (caracterizando o código da aeronave), 4 cilindros e 3,85 litros cilindradas. Junto a ela costuma-se utilizar hélice bipá de metal, Figura 2.4 (AERO BOERO, 1998). Para a alimentação do conjunto motopropulsor existem dois taques de combustível, alojados nas asas, com 57,5 litros de capacidade cada, garantindo uma autonomia de cerca de 5 horas de voo, sendo indicado o uso de gasolina de aviação 80/87 octanas. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 6 Com isso, tem-se de forma resumida na Tabela 2.1, as características principais do conjunto motopropulsor: Tabela 2.1 – Dados conjunto motopropulsor. Motor Fabricante AVCO LYNCOMING Modelo O-235-C2A Regime máx. de decolagem (a 2800rpm) 87,7 kW (115 HP) Regime máx. contínuo (a 2800rpm) 87,7 kW (115 HP) Hélice Fabricante SENSENICH Modelo 72CK-0-50 Nº de pás 2 Diâmetro [mm] 1778 - 1829 Passo Fixo [mm] 1270 Material Alumínio forjado 2025 Fonte: Manual AB-115 (2006). Figura 2.3 – Motor Lycoming O-235 Fonte: Operator’s Manual Lycoming O-235 Series. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 7 Figura 2.4 – Hélice SENSENICH modelo 72CK-050 Fonte: SENSENICH (2018). 2.3.2 Limites de velocidade e peso A aeronave apresenta MTOW (Maximum Take-Off Weight) de 770,0 kg tendo o auxílio dos flaps, em suas três posições (15º, 30º e 45º) para atingir de forma mais segura e rápida a sustentação máxima. Além disso, a AB-115 possui 559,9 kg de peso vazio e suporta até 25,0 kg de peso de bagagem segundo (MANUAL AB-115, 2006). Também, é importante conceituar as principais velocidades limites da aeronave, sendo elas apresentadas na Tabela 2.2: Tabela 2.2 – Velocidades limites de operação Limites de velocidade Velocidade nunca exceder (VNE) [km/h] 220,0 Velocidade de cruzeiro máxima estrutural (VNO) [km/h] 180,0 Velocidade de manobra (VA) [km/h] 119,0 Velocidade máxima com flapes estendidos (VFE) [km/h] 113,0 Velocidade de estol com flapes recolhidos (VS1) [km/h] 84,0 Velocidade de estol com flapes estendidos (VS0) [km/h] 68,0 Fonte: Manual AB-115 (2006). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 8 2.3.3 Asa A asa da AB-115 é do tipo retangular e é equipada com Wing Tips em suas pontas, dispositivos inseridos nas pontas das asas para diminuição dos vórtices que geram maior arrasto. Assim seu uso pode resultar em economia de combustível e aumento do alcance da aeronave, além de outros benefícios variando de acordo com seu tipo, Figura 2.5 (FERREIRA, 2017). No caso do AB-115 é utilizado o tipo Drooped. Figura 2.5 – Tipos de Wing Tips Fonte: Ferreira (2017). Outro dispositivo presente nas asas são os flaps, superfícies hipersustentadoras que geram um ganho de sustentação nas asas, possibilitando à aeronave carregar maiores cargas ou diminuir a distância de decolagem. Entre os vários tipos, o AB-115 utiliza do tipo plain em parte do bordo de fuga. A estrutura da asa é de liga de alumínio reforçada com barras de compressão de aço e, suas wing tips, de fiberglass. Além disso, possui envergadura de 10,90 m, corda de 1,61 m, e alongamento, do inglês Aspect Ratio (AR) dado pela Equação (2.1), de 6,96. As principais medidas da asa podem ser vistas na Figura 2.6. 2b AR S (2.1) Sendo b é a envergadura em metros e S a área da asa em metros quadrados. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 9 Figura 2.6 – Asa AB-115 Adaptado de: Manual AB-115 (2006). 2.3.3.1 Perfil O Aero Boero utiliza do perfil assimétrico NACA 23012, Figura 2.7, sendo também utilizado flaps plain nos últimos ¾ do perfil da asa segundo (MANUAL AB-115, 2006). A Figura 2.7 foi gerada por meio do software XFLR5. Figura 2.7 – Perfil NACA23012 Fonte: Autor (2018). 2.3.3.2 Diagrama V-N O Diagrama V-N, ou envelope de voo, é uma maneira gráfica de representar e verificar as limitações estruturais de uma aeronave, calculada em função da velocidade de voo e do fator de carga (n). Este fator é a razão entre a sustentação (L) e o peso da aeronave (W), avaliando quantas vezes aquela é maior que esta, medindo em gravidades [g’s], obtido pela Equação (2.2). L n W (2.2) UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 10 Assim, o envelope de voo é importante para evitar que o piloto faça manobras que submetam a aeronave a cargas dinâmicas que possam destruí-la ou que possam gerar deformações permanentes. O Diagrama V-N, Figura 2.8, geralmente é dividido em cinco grandes regiões: região de estol, região de deformação permanente, região de falha estrutural e região segura. Figura 2.8 – Exemplo de envelope de voo Fonte: MIRANDA (2009). Sendo as curvas AB e AE representativas da região de estol, sendo a primeira para voo normal e construída pela Equação (2.3) e a segunda em voo de dorso, sendo dada pela Equação (2.4). Já as retas BC e ED representam o fator de carga máxima, fator de carga limite, ou seja, aquele no qual a estrutura da aeronave irá se deformar plasticamente durante uma manobra. Por fim, a reta CD marca a υD, a velocidade de mergulho que não deve ser excedida (MIRANDA, 2009). 2 2 Lmáxv S Cn W (2.3) lim lim0,4neg posn n (2.4) Sendo S a área da asa em planta, v a velocidade, ρ a densidade do ar e CLmáx o máximo coeficiente de sustentação da asa. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 11 CAPÍTULO 3 – MATERIAIS COMPÓSITOS Os avanços tecnológicos têm atingido todas as áreas da engenharia, uma em especial tem crescido muito, a engenharia de materiais. É perceptível o surgimento ou processamento de materiais mais leves, resistentes ou ecológicos e também o uso desses materiais em várias áreas e lugares. Um desses materiais que vem ganhado bastante espaço na aviação são os materiais compósitos devido à baixa densidade aliada a uma maior resistência em relação aos materiais metálicos. A pouco tempo, apenas em algumas peças esses materiais eram utilizados, hoje em dia já estão sendo realizados testes com aeronaves inteiramente de materiais compósitos. 3.1 Materiais Compósitos Um material compósito é um “material estrutural formado de duas ou mais partes constituintes que são combinadas em um nível macroscópico e não são solúveis umas nas outras”, portanto, “a característica básica dos compósitos é combinar a nível macroscópico, pelo menos, duas distintas denominadas de matriz e reforço” (PARDINI, 2006). Esse material é formado por uma matriz que recebe reforços, podendo então ser classificado quanto aos tipos de reforços que o formam, podendo ser (Figura 3.1) (MARTINIZ, 2010): Figura 3.1 – Tipos de compósitos Fonte: Martinez (2011). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 12 - Particulado: os reforços são partículas imersas de forma aleatória na matriz, gerando um comportamento isotrópico no material. Assim, há melhora na resistência, aumento a temperatura de operação, resistência a oxidação, entre outras; - Fibras: são fibras curtas ou longas, podendo essas serem contínuas ou não. Garantem maior resistência na direção coincidente a das fibras, permitem várias camadas e comportamento anisotrópico; - Laminados: conjunto de camadas planas de fibras unidirecionais empilhadas. Desse modo garantem maior resistência também na espessura além de permitirem o combinado de direções aumentando suas propriedades. 3.1.1 Fibra de vidro A fibra de vidro é a mais utilizada, não só no ramo aeronáutico, mas também nas demais indústrias e também é a mais presente no dia-a-dia, como em piscinas, algumas cadeiras, etc. Esse grande uso, deve-se a boa relação entre peso e propriedades além de possuir custo acessível e oferta considerável. Na Tabela 3.1 encontra-se as principais vantagens e desvantagens desse reforço e na Figura 3.2 é mostrado um tecido de fibra. Tabela 3.1 – Características Fibra de Vidro Vantagens Desvantagens Baixo custo Baixo módulo de elasticidade Alta resistência a tração Auto-abrasividade Grande inércia química Baixa resistência à fadiga (quando associado em compósito) Fonte: Pardini (2006). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 13 Figura 3.2 – Camada na fibra de vidro Fonte: Autor (2017). 3.1.2 Aramida “A aramida, mais conhecida por seu nome comercial Kevlar®, é uma fibra sintética largamente utilizada em funções que exigem alta resistência ao impacto, como em coletes a prova de balas, capacetes, roupas de pilotos de Fórmula 1 entre outros” (ANCELOTTI, 2016). Suas principais características são encontradas na Tabela 3.2 e na Figura 3.3 é apresentada a fibra. Tabela 3.2 – Características Fibra de Aramida Vantagens Desvantagens Alta resistência ao impacto Baixa resistência a compressão e flexão Alta resistência ao calor Elevada absorção de humidade Funciona também como isolante térmico e acústico Má adesão a resinas Baixa densidade Custo relativamente elevado Fonte: Pardini (2006). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 14 Figura 3.3 – Fibra de Aramida Fonte: Autor (2017). 3.1.3 Carbono As fibras de carbono são compósitos filamentosos, em sua maioria das aplicações, constituídos por mais de 90% de cadeias de carbono. A fibra, Figura 3.4, com ampla utilização na aviação e uma das mais famosas, devido às várias vantagens (Tabela 3.3). Tabela 3.3 – Características Fibra de Carbono Vantagens Desvantagens Elevada resistência à tração Reduzida resistência ao impacto Baixa massa específica Elevada condutibilidade térmica Baixo coeficiente de dilatação térmica Baixa resistência a compressão Bom comportamento em altas temperaturas Custo elevado Fonte: Ancelotti (2016). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 15 Figura 3.4 – Fibra de Carbono Fonte: Autor (2017). 3.1.4 Matrizes “As matrizes são substâncias aglutinogênicas, de baixas propriedades mecânicas ao serem comparadas às fibras, e que tem como principais funções: manter a coesão das fibras, dar ao composto maior resistência na direção transversal e distribuir o carregamento pelas fibras. Sendo que, elas podem ser do tipo polimérica, cerâmica, carbônica ou metálica, sendo as mais utilizadas no meio aeronáutico e objeto de estudo a polimérica. Ainda dentro desse tipo, é possível separá-la em dois grandes tipos: termoplásticas e termorrígidas” (PARDINI, 2006). 3.1.4.1 Resina Termorrígida Segundo (PARDINI, 2006) as resinas termorrígidas são aquelas que, após aquecidas, não são capazes de retornar ao seu estado inicial, geralmente líquido. Isso acontece pois, com o aquecimento as ligações químicas, os “croos links”, são formados e para que isso ocorra são necessárias temperaturas mais altas, assim essa ligação apresenta maior energia, sendo também mais resistente que as ligações das resinas termoplásticas. Além disso, as resinas mais utilizadas nessa categoria são: epóxi, fenólica, poliéster e bismaleimida. Sendo que, o que define o usa de cada um é o conjunto de características que melhor atende ao projeto. Na Tabela 3.4 é possível observar as principais características dessas resinas, sendo XXX considerado alto, XX médio e X baixo. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 16 Por fim, na Tabela 3.5 tem-se as principais vantagens e desvantagens das resinas termorrígidas. Tabela 3.4 – Comparativo principais resinas Termorrígidas Propriedade Epóxi Fenólica Bismaleimida Poliéster Processabilidade XXX XX XXX XXX Propriedades Mecânicas XXX X XXX X Resistências ao calor XX XXX XXX X Preço XX XX XXX X Resistência a delaminação XXX XXX XXX XX Tenacidade XX X XX X Utilização Estrutural Interiores Áreas quentes Não estrutural Fonte: Ancelotti (2016). Tabela 3.5 – Características gerais resinas Termorrígidas Vantagens Desvantagens Baixa temperatura de processamento Longo tempo de processamento Boa molhabilidade da fibra Armazenamento rigoroso Conforma em geometria complexa Requer refrigeração para armazenamento Baixa viscosidade Fonte: Ancelotti (2016). 3.1.4.2 Resinas Termoplásticas “Os termoplásticos são polímeros de alta massa molar molecular, constituídos de cadeias lineares e, em alguns casos, apresentam ramificação. As cadeias são emaranhadas permitindo que o material apresente integridade física, mas que são passíveis de deformação plástica quando submetidos a tensões” (PARDINI, 2006). Geralmente são sólidas antes do processamento, sendo que são capazes de retornar a forma inicial por meio de um processo de resfriamento. As três principais resinas termoplásticas utilizadas são: PEEK (Poliéter-cetona- cetona), PPS (Polisufeto de fenileno) e PEI (Poliéter-imida) (ANCELOTTI, 2016). Sendo que, apresentam como principais características a Tabela 3.6. Do mesmo modo, as principais características das resinas termoplásticas podem ser observadas na Tabela 3.7. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 17 Tabela 3.6 – Comparativo principais resinas Termoplásticas Propriedade PEEK PPS PEI Tipo de polímero Semicristalino Semicristalino Amorfo Temperatura de serviço 120ºC 70 – 120ºC 150ºC Temperatura de processamento XXX X X Propriedades mecânicas XXX XX XX Fonte: Ancelotti (2016). Tabela 3.7 – Características gerais resinas Termoplásticas Vantagens Desvantagens Processamento rápido Alta temperatura de processamento Reciclável Alta pressão de processamento Resistência a solventes Matéria prima de alto custo Armazenamento simples Ferramental de alto custo Reparo de peças é fácil Fonte: Ancelotti (2016). 3.2 Prendedores ou Fixadores Devido a nova ideia de estrutura, que será apresentada mais à frente, será necessário o uso de prendedores ou fixadores. Entretanto, primeiramente é necessário saber quais os tipos para uma adequada escolha. Segundo (ANCELOTTI, 2016), fixadores são dispositivos que são usados para fixar, unir ou prender uma ou mais estruturas. Existem três tipos principais, que são diferenciados quanto a sua aplicação, sendo eles: bolts, utilizados em montagens estruturais devido a sua elevada resistência; screws, utilizados quando o fator estrutural não é decisivo; e rivets, ou rebites, que são utilizados em montagens permanentes e em locais com difícil acesso ou onde ele seja restrito. Alguns exemplos de prendedores são mostrados na Figura 3.5. Em sua maioria, os prendedores são feitos de materiais metálicos e, boa parte das vezes, recebem tratamentos superficiais para melhoria de alguma propriedade ou característica. Os principais materiais e tratamentos são listados nas Tabela 3.8 e Tabela 3.9. Tabela 3.8 – Materiais mais utilizados em prendedores Ligas de Alumínio (2117, 7050, 5056) Ligas de Aço Carbono (4130, 4340, 8620) Aço Inoxidável (A286) Ligas de Titânio (Ti-6Al-4V, Ti-6Al-6V-2Sn) Ligas de Níquel (MONEL, INCONEL) Fonte: Ancelotti (2016). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 18 Tabela 3.9 – Principais tratamentos superficiais em prendedores Anodização (Crônica e Sulfúrica) Conversão Química (ALODINE) Cadmiagem Aluminum Coating / I.V.D. (Ion Vapor Deposition) Passivação Fonte: Ancelotti (2016). Figura 3.5 – Prendedores Fonte: Internet (2016) Para seleção de um prendedor, deve-se levar em conta os seguintes fatores (ANCELOTTI, 2016): 1. Temperatura de serviço: visto que, alguns prendedores são submetidos a elevadas temperaturas em serviço, podendo essas alterar as propriedades mecânicas do prendedor, podendo até vaporizar alguns elementos de liga; 2. Carga aplicada: fator importante para definir qual será o material do prendedor, observando seus limites de cargas; 3. Torque de montagem: para cada parafuso e junta há um limite de torque evitando que a força em excesso rompa o pino ou danifique o furo. 4. Corrosão: “materiais da junta, podem formar pares galvânicos gerando necessidade da utilização de selantes e tratamentos superficiais para não gerarem corrosão” (ANCELOTTI, 2016). 5. Fadiga: quando fator de risco, o prendedor deve atender a uma série de requisitos como: diâmetro mínimo, rosca rolada, sem furo na cabeça, etc; UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 19 6. Vibração: pode, com o tempo, soltar alguns prendedores ou diminuir o torque da junta; 7. Acesso: sua localização deve facilitar operações de instalação, remoção e manutenção do prendedor e das estruturas as quais estão presas; 8. Peso: item que deve ser considerado apenas quando crítico, sendo mais priorizado em projetos com um grande número de prendedores. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 20 CAPÍTULO 4 – MODELAGEM COMPUTACIONAL 4.1 Introdução Como não há o desenho parametrizado da aeronave, foi necessário a confecção do mesmo. Como dispunha-se de dois modelos da aeronave no LTA da UNIFEI, utilizou-se de um deles para aquisição de medidas e parametrização. Entretanto, para isso foi preciso desmontar parte da estrutura e retirada de telas e camadas. Neste capítulo, será descrito o processo de desmontagem, aquisição de medidas e parametrização. 4.2 Desmontagem da Aeronave Uma das aeronaves encontrava-se no LTA como na Figura 4.1 e a segunda parcialmente desmontada, sem suas asas, motor e trem-de-pouso. Para o trabalho utilizou-se essa sendo necessário apenas continuar sua desmontagem. Paro isso, utilizou-se as ferramentas presentes na Tabela 4.1. Figura 4.1 – Aero Boero AB-115 presente no hangar Fonte: Autor (2018). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 21 Tabela 4.1 – Lista de ferramentas utilizadas Ferramentas Furadeira de impacto 13mm Makita 680W Martelo Chave de fenda Chaves de boca 8, 9, 10 e 12mm Serra Brocas 2,5mm e 4mm Estilete Tesoura Fonte: Autor (2018). Com estas ferramentas, seguiu-se os seguintes passos para desmontagem: 1º. Primeiramente, desmontou-se as asas, empenagens e trem de pouso, deixando- a nivelada com o chão (Figura 4.2); Figura 4.2 – AB-115 sem asas, empenagens e trem de pouso Fonte: Autor (2018). 2º. Após isso, com o estilete e a tesoura removeu-se toda a tela que cobre a estrutura (Figura 4.3); UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 22 Figura 4.3 – Interior AB-115, em destaque treliças e espuma isolante Fonte: Autor (2018). 3º. Com parte da estrutura exposta, o próximo passo foi remover a camada de espuma isolante, utilizada como isolante térmico e acústico; 4º. As portas, para-brisa, e algumas estruturas do montante presas por parafusos e porcas foram removidos; 5º. Para finalizar a remoção das partes móveis ou não fixas, foram retirados os bancos; 6º. Em seguida, focou-se na retirada das chapas de alumínio 32 a 34 (conjunto para-lama, painel de revestimento lateral esquerdo e direito), como pode ser visto na Figura 4.4. Parte de suas bordas estavam presas por fixadores do tipo rebites sólidos e de repuxo, tendo sido necessário o uso de furadeira para retirá- los; UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 23 Figura 4.4 – Partes cabine AB-115 Fonte: Catálogo de Partes AB-115 (1988). 7º. Para retirada de parte dos fixadores do conjunto para-lama e também para remoção do painel de revestimento inferior (35), e das chapas cobertas esquerda, direita e central, 36 a 38 respectivamente como mostrados na Figura 17, viu-se necessário a elevação da aeronave. Para isso, foi utilizada uma girafa hidráulica, Figura 4.5, fornecida pela universidade e foram confeccionados cavaletes de metal para manter a aeronave suspensa e também para garantir maior segurança. Os cavaletes possuem 0,80 m de altura e 1,00 m de largura. (Figura 4.6) Figura 4.5 – Girafa hidráulica Fonte: Autor (2018). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 24 Figura 4.6 – Aeronave suspensa e parcialmente apoiada em um dos cavaletes Fonte: Autor (2018). 8º. Com a aeronave já erguida e fixada, o painel inferior e as chapas de cobertura foram retiradas, deixando à mostra todo o chassi da cabine (Figura 4.7), sendo possível assim a aquisição de todas as medidas necessárias para a parametrização da AB-115. Figura 4.7 – AB-115 desmontado Fonte: Autor (2018). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 25 4.3 Aquisição de Medidas Com a aeronave já desmontada e sua estrutura exposta, iniciou-se o processo de aquisição das medidas para parametrização da estrutura no software de desenho parametrizado. Foram utilizadas as ferramentas apresentadas na Tabela 4.2. Tabela 4.2 – Ferramentas de medição utilizadas Ferramentas Paquímetro digital Starret® 200 mm Trena Cromada com trava BRASFORT 5 m Escala de metal STANLEY 60 cm Goniômetro PROTRACTOR Fonte: Autor (2018). Assim, o cockpit foi dividido em quatro regiões: traseira (superior e inferior), lateral direta, lateral esquerda e frontal; sendo feitas as medidas de comprimento, diâmetro dos tubos e angulações nos planos de referência XY e ZX do software, Figura 4.8. Os ângulos presentes no plano XY foram desconsideradas visto a dificuldade para aferição dos mesmos e também pelo fato de com os dados coletados já serem suficientes para confecção do modelo. Os valores estão computados e apresentados no Apêndice A. Figura 4.8 – Eixo de referência para medidas Fonte: Autor (2018). 4.4 Modelagem no Software Com as medidas já aferidas, o próximo passo foi a parametrização da carenagem utilizando o software de desenho parametrizado. A partir disso, foi iniciado o desenho iniciando pela parte frontal. Fez-se o esboço da parte frontal, seguindo-se para os planos UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 26 paralelos. Um dos esboços feitos está representado na Figura 4.9. Detalha-se o uso de linhas de construção, isso foi feito pois para computar os pontos a partir da estrutura seria muito trabalhoso além de poder apresentar um erro maior. Com isso, optou-se por desenhar as linhas com os dados mensurados e, a partir do esboço, tornar os pontos de intersecção das treliças do tipo padrão e as linhas como de construção. Figura 4.9 – Esboço plano paralelo 2 Fonte: Autor (2018). A partir dos pontos criados (Figura 4.10), ligou-se um a um por linhas no espaço, criando o esboço do cockpit em linhas (Figura 4.11). Figura 4.10 – Pontos representativo dos nós da treliça Fonte: Autor (2018). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 27 Figura 4.11 – Cockpit em linhas Fonte: Autor (2018). A partir desse esboço iniciou-se a criação de superfícies cilíndricas, os tubos, utilizando as linhas do esboço como linha de centro e guia, e também utilizando os diâmetros encontrados na aquisição de medidas. Essa criação das superfícies ocorreu com o uso da ferramenta de varredura, utilizando um perfil circular do tipo centro e raio. Obtendo-se dessa forma o desenho mostrado na Figura 4.12. Figura 4.12 – Cockpit interligado por superfícies Fonte: Autor (2018). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 28 Por fim, utilizou-se a ferramenta de fechar superfícies para fechar aquelas que geraram os tubos e o material metálico foi aplicado à superfície, finalizando assim o modelo da Figura 4.13. Figura 4.13 – Chassi cockpit completo Fonte: Autor (2018). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 29 CAPÍTULO 5 – CARGAS NA AERONAVE 5.1 Introdução Uma aeronave está sujeita a várias cargas durante sua vida, tanto durante o voo quanto em solo e essas cargas e carregamentos podem causar danos como deformações, fraturas e até acidentes. Por isso, é de extrema importância definir quais as cargas críticas pelas quais a aeronave está sujeita e avaliar se essas estão abaixo das cargas permissíveis, ou seja, “a carga mínima necessária para o início de ocorrência de falhas estruturais no componente que comprometam a sua função” (SKOLD,2009). Também, vale ressaltar que as cargas podem ser de três principais tipos: forças de inércias (decorrentes das acelerações às quais a massa do corpo está sujeita), forças elásticas (decorrentes das reações elásticas do corpo que se desloca) e forças aerodinâmicas (decorrentes do escoamento de fluido ao qual o corpo está sujeito). Outra classificação seria quanto ao tempo de aplicação, sendo dividias entre cargas estáticas, aquelas que não variam com o tempo, e cargas dinâmicas, aquelas que variam com o tempo. Apesar das cargas dinâmicas serem menores e bem abaixo dos limites máximos, elas podem levar a falha da estrutura por fadiga, enquanto, para cargas estáticas, apenas há falhas quando a força excede o limite permissível. Entretanto, para os devidos fins desse trabalho, serão consideradas apenas as cargas estáticas, visto que elas apresentam maior risco para a integridade dos componentes e também pelo fato de, por meio delas, ser capaz de identificar os fatores de resistência da estrutura. 5.2 Metodologia de Cálculo Para os cálculos de cargas seguir-se-á, em partes, a metodologia proposta por (ANDERSON, 1999) em que são seguidos os seguintes passos: 1- Cargas totais / Condições de voo; 2- Carga nos componentes; 3- Cargas distribuídas; UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 30 4- Efeitos estáticos; 5- Efeitos dinâmicos. Neste processo, determina-se as condições de voo e, por meio dessas, consegue-se as condições gerais de velocidade, acelerações e configurações de voo, permitindo assim definir as cargas totais que atuam na aeronave. A partir disso, é possível desmembrar as cargas e suas parcelas nos respectivos componentes nas quais esses carregamentos atuam. Parte-se então para a decomposição dessas cargas em cada componente em: esforços de flexão, esforços cortantes, momentos de torção, etc. Assim, tem-se as informações necessárias para as análises estáticas e dinâmicas. 5.3 Cargas na asa Objetivando obter algumas características aerodinâmicas do perfil e da asa e também conflitar com os valores obtidos, simulou-se o perfil com flapes recolhidos e estendidos em sua máxima deflexão (45º) e foi desenhada a asa no software XFLR5. Neste programa computacional, existem quatro tipos de análise sendo as mais utilizadas a tipo 1 e 2. Inicialmente, para os perfis, foi utilizada a análise 2D do tipo 1, em que a velocidade do perfil é considerada fixa, sendo ela determinada por meio do número de Reynolds e pelo número de Mach da aeronave. O número de Reynolds é calculado pela Equação (5.1), tendo a viscosidade dinâmica do ar (μ) como 1,7894x10-5 kg/ms, a massa específica do ar (ρ) por 1,225 kg/m³ e considerando como velocidade a VNO, 50 m/s, obtendo-se assim um número de Reynolds de aproximadamente 5,5 × 106, com escoamento ainda laminar. Enquanto isso, na análise tipo 2 há o fornecimento de dados da aeronave como corda, envergadura e massa, e o software calcula e fixa a sustentação, variando a velocidade. As análises do Tipo 1 e 2 podem ser vistas na Figura 5.1. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 31 Figura 5.1 – Tipos de análises no software XFLR5 Fonte: XFLR5 (2018). Re v c (5.1) Já o número de Mach, foi calculado segundo a Equação (5.2), com a VNO, obtendo aproximadamente 0,14. s V M V (5.2) Com isso, obteve-se da análise no XFLR5 os gráficos de Coeficiente de Sustentação do perfil (Cl) pelo ângulo de ataque do perfil (α) (Figura 5.2) e Cl por Coeficiente de Arrasto do perfil (Cd) por α (Figura 5.3). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 32 Figura 5.2 – Gráfico Cl × Alpha Fonte: XFLR5 (2018). Figura 5.3 – Gráfico Cl/Cd × Alpha Fonte: XFLR5 (2018). No gráfico da Figura 5.2 é possível observar que o perfil, com flaps recolhidos (curvas em azul e verde) ou estendidos (curva em amarelo), apresenta curvas de sustentação com inclinação boa, propiciando um coeficiente de sustentação máximo satisfatório e um estol em elevados ângulos de ataque, por volta de 18 graus, garantindo maior segurança em voo. Já na Figura 5.3, percebe-se que o uso dos flaps não é eficiente visto que o arrasto a mais gerado pelo seu uso não aumenta a eficiência (Cl/Cd) do perfil. O que não é observado -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 9 11 13 15 18 20 23 25 Cl Alpha (°) Cl × α Cl (tipo 1) Cl (tipo 2) Cl flap -150 -100 -50 0 50 100 150 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 9 11 13 15 18 20 23 25 Cl/Cd Alpha (°) Cl/Cd × α Cl/Cd Cl/Cd Cl/Cd flap UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 33 quando os flaps estão recolhidos, onde o perfil possui grande eficiência e para uma ampla margem de α. 5.3.1 Distribuição de sustentação Para a análise 3D do perfil, ou seja, da asa, foram utilizados três métodos diferentes: análise dos dados do manual de voo, análise teórica e análise computacional. A primeira, por estar no manual e ser utilizada pelos pilotos, foi considerada como padrão para comparação. Como a Velocidade de Estol (𝑣𝑠) é calculada para a situação mais crítica de voo, ou seja, com a aeronave voando com MTOW, tem-se seu cálculo pela Equação (5.3): 2 s ref Lmáx MTOW v S C (5.3) Sendo Sref a área da asa em planta, CLmáx o Coeficiente de Sustentação máximo da asa e ρ a densidade do ar. Assim, ao manipular a Equação (5.3), isolando CLmáx, consegue-se obter, com os valores de referência do manual, os valores padrão dessa constante aerodinâmica para a condição mais crítica de voo com e sem o uso de flaps (Equação (5.4)). 2 2 Lmáx ref s MTOW C S v (5.4) Já pelo método teórico é utilizada a teoria de asas com alto alongamento, visto que o AB-115 apresenta AR de aproximadamente 7. Nessa teoria, primeiramente obtém-se a inclinação da curva Cl versus α do perfil pelo próprio gráfico. Como em sua faixa de atuação na asa a curva pode ser considerada linear, calcula-se sua inclinação pela Equação (5.5). 2 1 0 2 1 l l ldC C Ca d (5.5) A partir disso, ao plotar a relação corda da ponta por corda da raiz da asa (c/cr) junto ao AR, obtém-se o fator de arrasto induzido δ na Figura 5.4. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 34 Figura 5.4 – Gráfico de fator de arrasto induzido Adaptado de: Miranda (2010). Para a aeronave em questão, por apresentar asa retangular a razão c/cr é 1,0 e com o AR de 7,0, obtém-se da Figura 5.4, interpolando, um valor de 0,07 para o fator de arrasto induzido. Com esse fator é possível calcular o fator de Oswald e, Equação (5.6). 1 1 e (5.6) Seguindo, consegue-se calcular de forma aproximada a inclinação da curva CL versus α a partir da inclinação da curva do perfil pela Equação (5.7): 0 01 a a a e AR (5.7) E por fim obter o CL pela Equação (5.8). 0L LC a (5.8) Onde a é a inclinação da curva Cl versus α do perfil, α é o ângulo de interesse e 0L o ângulo em que a sustentação é nula. O último método foi realizado por simulação computacional no software XFLR5. Inicialmente desenhou-se a asa seguindo os parâmetros apresentados na Tabela 5.1 que posteriormente foi simulada seguindo o tipo 1, mesmo utilizado na análise 2D. Nas Figura δ Razão de aspecto c/cr UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 35 5.5 e Figura 5.6 é possível observar a distribuição de sustentação e as “stream lines do escoamento para 17º de ângulo de incidência, visto que esse é o ângulo de maior sustentação para o perfil. Tabela 5.1 – Dados asa desenhada no XFLR5 Perfil NACA23012 Diedro [º] 2 Envergadura [m] 10,90 Torção [º] 2 Corda [m] 1,61 Posição CG eixo X [m] 0,435 Ângulo de incidência [º] 2,5 AR 6,8 Fonte: XFLR5 (2018). Figura 5.5 – Linhas de corrente asa AB-115 Fonte: XFLR5 (2018). Figura 5.6 – Distribuição de sustentação asa AB-115 UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 36 Fonte: XFLR5 (2018). Assim, obteve-se com os três métodos os CLmáx para flaps recolhidos e estendidos, apresentados na Tabela 5.2. Tabela 5.2 – Comparação entre os CLmáx encontrados Configuração CLmáx manual CLmáx teórico CLmáx XFLR5 Sem Flap 1,37 2,04 1,55 Com Flap 2,09 1,85 2,78 Fonte: Manual AB-115 (2006), XFLR5 (2018). 5.4 Diagrama V-N Utilizando a metodologia apresentada na Seção 2.3.3.2, plotou-se o Diagrama V-N da aeronave, obtendo-o na Figura 5.7. Figura 5.7 – Diagrama V-N AB-115 Fonte: Autor (2018). Uma observação que deve ser feita é que a velocidade de manobra encontrada no envelope de voo difere daquela fornecida pelo manual da aeronave (Tabela 2.2) de 33 m/s, uma hipótese seria o fornecimento de uma velocidade abaixo da calculada para haver uma segurança operacional. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 37 5.5 Cargas Totais Para o modelo que será utilizado no software de elementos finitos, basta a aplicação das cargas totais ou as cargas nos componentes que o solver do software consegue analisar os efeitos estáticos. Assim é necessário apenas a definição das cargas totais e aplicação das mesmas no modelo. Essas cargas estão apresentadas na Tabela 5.3 considerando a gravidade de 10 m/s² e as unidades em DecaNewton (daN), medida essa amplamente utilizada na indústria aeronáutica além de facilitar na visualização visto que 1 daN seria, aproximadamente, uma força de gerada por 1 kg. Tabela 5.3 – Cargas máximas atuantes na aeronave Natureza Peso [daN] Estrutura 105 Tripulação 180 Bagagem 25 Motor 110 Asas 100 Combustível 115 Outros 135 Fonte: Manual AB-115. Sendo que a soma de todas as cargas totais deve ser de 770 daN, o valor do MTOW da aeronave. Junto a isso, será aplicada uma força de 42,35 daN para representar a tração do motor. Essa força foi calculada seguindo a lei (Equação (5.9)): F ma (5.9) Sendo m a massa da aeronave, MTOW para o caso mais crítico, e a a aceleração. Para o cálculo dessa, estimou-se em 60 s o tempo da aeronave, partindo do repouso, para atingir a velocidade máxima de manobra, 119 km/h (33 m/s). Assim, consegue-se chegar à Equação (5.10): 𝐹 = 𝑚 ∙ 𝑎 = 𝑚 ∙ ( 𝑣 𝑡 ) = 770 ∙ ( 33 60 ) = 423,5 𝑁 = 42,35 𝑑𝑎𝑁 (5.10) Essas cargas estão presentes na Tabela 5.3 para um fator de carga 1. Junto a essa condição serão calculadas outras 3 condições que são: UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 38 1- Fator de carga máximo (3,8G): As massas serão mantidas, mas a aceleração da gravidade e a força de sustentação serão multiplicada por 3,8; 2- Fator de carga mínimo (-1,52G): As massas serão mantidas, mas a aceleração da gravidade e a força de sustentação serão multiplicada por -1,52; 3- Fator de carga máximo (3,8G) e cargas multiplicadas por 1,5: As massas serão mantidas, mas a aceleração da gravidade e a força de sustentação serão multiplicada por 5,7, ou seja, será considerada a condição mais crítica de fator de carga, 3,8, e ainda será aplicado um fator para atingir as cargas limites da aeronave; Na Tabela 5.4 é mostrado um resumo das cargas para cada caso: Tabela 5.4 – Resumo casos de carga Caso de carga Gravidade Massas Tração do motor [daN] Sustentação [daN] 1G 1 mantida 42,35 770 -1,52G -1,52 mantida 42,35 -1170,4 3,8G 3,8 mantida 42,35 2926 3,8G x 1,5 5,7 mantida 42,35 4389 Fonte: Autor (2019). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 39 CAPÍTULO 6 – ANÁLISES ESTRUTURAL EM ELEMENTOS FINITOS Com o avanço dos processadores e dos softwares de simulações, os recursos dos softwares têm sido cada vez mais utilizados no ramo da engenharia, principalmente na área estrutural, entregando resultados cada vez mais confiáveis e fidedignos à realidade. Além disso, esses softwares têm apresentado uma gama enorme de aplicações e análises, desde análises estáticas até análises de fadiga com interações fluido-estrutura e estrutura-estrutura. Assim, nesse trabalho a análise da estrutura do aeroboero utilizará desses recursos para simulações estáticas. 6.1 Método dos Elementos Finitos O Método dos Elementos Finitos (FEM) tem como objetivo a determinação do estado de tensão e de deformação de um sólido de geometria arbitrária sujeito a ações exteriores. No FEM a estrutura estudada é dividida em pequenos subdomínios, em elementos, sendo que esse processo é chamado de discretização. Esses elementos podem ser de diferentes formatos e tipos, como pode ser visto na Figura 6.1, sendo sua escolha dependente da estrutura a ser analisada. Esses elementos são formados por arestas e vértices, sendo que, seus vértices são chamados de nós ou pontos nodais. Os nós definem um elemento contínuo, podendo esse atribuir mais graus de liberdade a um elemento contínuo. Figura 6.1 – Exemplo de tipos de elementos finitos Fonte: Priels (2018). A análise por FEM envolve quatro etapas: UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 40 1- Discretização do FEM; 2- Definição das equações que regem os elementos; 3- Conexão de todos os elementos; 4- Resolução das equações resultantes. Sendo que em softwares são realizadas de forma manual as etapas 1 e 3, em que são definidos os elementos e a malha é feita. Uma importante etapa feita no software é a definição das cargas e das condições de contorno. A etapa de discretização do modelo, pode ser subdividida nas seguintes partes: - Definição do material e suas propriedades; - Criação de propriedades para cada tipo de modelo (barra, sólido, placa, etc); - Geração da malha; - Definição das cargas e condições de contorno. Essas fazem parte da parte de pré-processamento. Com essas etapas bem definidas é possível realizar a análise e adentrar na parte de pós-processamento, que seria o estudo dos resultados das análises. 6.2 Materiais Para a análise inicial foi utilizado como material o aço SAE 4130, com suas propriedades retiradas de (MAT WEB, 2019) e apresentadas na Tabela 6.1. A densidade mostrada na tabela é a real, para o modelo ela foi alterada para atingir o peso real da estrutura juntamente com os componentes como aviônicos, painéis, bancos, entelagem entre outros. Essa alteração se deu seguindo a Equação (6.1). 𝑑𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑚𝑜𝑑𝑒𝑙𝑜 = 𝑑𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑎𝑙 × 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑟𝑒𝑎𝑙 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑚𝑜𝑑𝑒𝑙𝑜 (6.1) Tabela 6.1 – Dados do material aço SAE 4130 E [daN/mm²] 19000 υ 0,285 Densidade [kg/mm³] 7,85E-6 σult [daN/mm²] 45 σyeld [daN/mm²] 65 Fonte: MMPDS (2019) UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 41 Já para a análise com a mudança do material, modificou-se seu material para tubos de fibra de carbono comercial, da empresa Rock West Composites, com 20 mm de diâmetro externo e espessura de 1,3 mm. Para esse novo tubo não foram encontrados todos as suas propriedades (Tabela 6.2), entretanto com os dados presentes foi possível criar um novo material no software com as propriedades finais do tubo, mesmo não sabendo as propriedades das suas camadas. Tabela 6.2 – Propriedades do tubo SKU 46404 E1 [daN/mm²] 81300 E2 [daN/mm²] 77900 υ 0,34 Densidade [kg/mm³] 1,30E-6 σult [daN/mm²] 50,3 Fonte: Rock West Composites (2019). Sendo que a distribuição das camadas no tubo (Ply Table) está mostrada na Tabela 6.3. Tabela 6.3 – Ply table tubo de carbono Camda Orientação Localização 1 0°/90° Inside 2 90° 3 90° 4 0° 5 0° 6 0° 7 0° 8 0/90° Outside Fonte: Rock West Composites (2019). 6.3 Propriedades A carenagem foi modelada no software de FEM com elementos de linha, 1D, do tipo BAR com formas de tubo, como pode ser visto na Figura 6.2. Criou-se uma propriedade para cada diâmetro de tubo. Os diâmetros dos tubos são mostrados no ANEXO A, sendo que foi definido e medido uma espessura de 1 mm para todos os tubos de aço e de 1,3 mm para o tubo de carbono. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 42 Figura 6.2 – Elemento BAR do tipo tubo Fonte: Software de Elementos Finitos (2019) Vale ressaltar que foram utilizados elementos do tipo 1D – “Beam”, dessa forma materiais ortotrópicos, 2D ou 3D, não são passíveis de aplicação, apresentando comportamento isotrópico. Mas, como a maior parte das cargas são axiais, compressão ou tração, e os módulos transversal e longitudinal do material são próximos, é possível a utilização desse material como isotrópico para a análise. Uma opção para não realizar essa aproximação seria modelar os tubos com elementos de barra, entretanto isso iria requerer alto grau de refinamento devido aos pequenos diâmetros e espessuras, exigindo esforço computacional acima do disponível. Já para a aplicação das cargas de massa, foram utilizados elementos do tipo “Mass” com a massa de cada elemento, seguindo-se os valores apresentados na Tabela 5.3 de cargas, sendo eles posicionados em seus respectivos centroides aproximados, visto que alguns centros de gravidade, como do piloto e co-piloto, além da bagagem e motor, não foram encontrados. 6.4 Geometria e malha Por meio da geometria gerada no CAPÍTULO 4 juntamente com os pontos representativos do restante da fuselagem obtidos por (PRIELS, 2018) foram geradas linhas de referência para os tubos. A partir das propriedades, malhou-se toda a estrutura com um grau de refino máximo de 5 elementos por linha, devido a limitação computacional, obtendo-se o modelo mostrado na Figura 6.3. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 43 Figura 6.3 – Estrutura AB-115 em elementos finitos Fonte: Autor (2019). Os elementos de massa criados foram ligados à estrutura por elementos rígidos do tipo RBE2, rigidez infinita, para realização de análises mais conservadoras. Figura 6.4 – Modelo FEM final com aplicação das massas Fonte: Autor (2019). 6.5 Condições de carga e contorno Os casos de carga serão aplicados juntamente com uma condição de contorno que simula o pouso da aeronave, ou seja, condição mais crítica. Para simular essa condição foram UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 44 geradas condições de contorno no trem de pouso e na bequilha travando esses nós em todas as translações TXYZ (T123) e também em todas as rotações RXYZ (R456) para simular a condição imediatamente no momento do impacto em que as rodas estão totalmente travadas. Junto a isso, será adicionada uma condição para simular o engaste da asa na fuselagem, em que foram travados os nós do engaste na estrutura em todas as translações e rotações (123456), assim foi acrescentada maior rigidez a ligação, tendo um caso mais conservador, como pode ser visto na Figura 6.5. Nessa figura os números 123456 representam essas condições de contorno de travamento, sendo 123 nas translações X, Y e Z respectivamente e os números 456 as rotações em torno do eixo X, Y e Z respectivamente. Figura 6.5 – Modelo FEM completo para condição de 1G Fonte: Autor (2019). Já os casos de carga foram aqueles presentes na Tabela 5.4. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 45 CAPÍTULO 7 – ANÁLISES E RESULTADOS A partir dos resultados encontrados na Seção 5.3.1 e comparando-os com aqueles adquiridos pelo Manual de voo, classificou-se os métodos utilizados como satisfatórios para o uso sem flap, obtendo erros próximos a 10%, como pode ser visto na Tabela 7.1. Tabela 7.1 – Erros nos métodos de CLmáx Configuração CLmáx manual CLmáx teórico CLmáx XFLR5 Sem Flap 1,37 2,04 1,55 Com Flap 2,09 1,85 2,78 Erro s/ flap - 49% 13% Erro c/flap - -11% 33% Fonte: Autor (2018). Essas diferenças encontradas entre os valores do manual e os teóricos podem ser explicadas por: acúmulo de erro das curvas obtidas pelo software; desconsideração da torção, incidência e diedro. Já as diferenças encontradas em relação ao software XFLR5 podem ser explicadas pela ausência do refinamento do desenho (adição da fuselagem e outros componentes de arrasto), desconsideração da parte da asa que não gera sustentação e a consideração de uma situação próxima à perfeita, tendo obtido eficiência, fator de Oswald, de 0,951. Além disso, para o desenho do cockpit foram necessárias adaptações de valores devido à limitação das ferramentas de medição, recorrendo-se a elementos estéticos ou adaptações geométricas pelo esboço. Mesmo assim, o resultado obtido foi considerado bom e capaz de ser utilizado nas análises. Com o modelo pronto, criou-se os conjuntos de análise associando os casos de carga com suas respectivas condições de contorno. A partir disso, o solver do software realiza a análise obtendo-se os resultados das Figura 7.1 a Figura 7.8, sendo que os deslocamentos totais estão em milímetros (mm) e as tensões em daN/mm². UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 46 Figura 7.1 – Deslocamento total condição 1G em mm Fonte: Autor (2019). Figura 7.2 – Máxima tensão combinada condição 1G em daN/mm² Fonte: Autor (2019). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 47 Figura 7.3 – Deslocamento total condição 3,8G em mm Fonte: Autor (2019). Figura 7.4 – Máxima tensão combinada condição 3,8G em daN/mm² Fonte: Autor (2019). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 48 Figura 7.5 – Deslocamento total condição -1,52G em mm Fonte: Autor (2019). Figura 7.6 – Máxima tensão combinada condição -1,52G em daN/mm² Fonte: Autor (2019). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 49 Figura 7.7 – Deslocamento total condição 3,8G × 1,5 em mm Fonte: Autor (2019). Figura 7.8 – Máxima tensão combinada condição 3,8G × 1,5 em daN/mm² Fonte: Autor (2019). Todos os resultados, tanto de deslocamento quanto tensão, apresentam valores coerentes, sendo já previsto cargas mais altas para as condições de maior fator de carga. Entretanto, mesmo altas estão abaixo das tensões de escoamento e última. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 50 É possível mensurar e comparar o impacto da mudança de material por meio de dois parâmetros, a margem de segurança e o fator de segurança, dados pelas Equações (7.1) e (7.2) respectivamente. 𝑀. 𝑆. = (𝜎𝑢𝑙𝑡−𝜎) 𝜎𝑢𝑙𝑡 [%] (7.1) 𝐹. 𝑆. = 𝜎𝑢𝑙𝑡 𝜎 (7.2) Em alguns casos, como será neste trabalho, substitui-se a tensão última do material (𝜎𝑢𝑙𝑡) pela tensão de escoamento (𝜎𝑦𝑒𝑙𝑑), visto que não se deseja que a estrutura apresenta deformações plásticas. Assim, para estas análises utilizou-se da máxima tensão encontrada para cálculo das margens, obtendo-se os valores da Tabela 7.2. Também é possível observar na tabela o deslocamento máximo para cada caso de carga. Vale ressaltar que esses deslocamentos são dos elementos, ou seja, dos tubos, sendo bem baixos, mostrando a quão superdimensionada é a estrutura. Tabela 7.2 – Resultados de M.S. e F.S. obtidos para o material original Caso de carga: Deslocamento máximo [mm] Tensão máxima [daN/mm²] M.S. F.S. 1G 0,708 4,55 89,90% 9,90 -1,52 G 1,0766 5,85 87,86% 7,70 3,8 G 2,691 16,09 64,25% 2,80 3,8 G × fator 1,5 4,0364 23,92 46,84% 1,88 Fonte: Software de Elementos Finitos (2019). Com a mudança de material, obteve-se os resultados apresentados nas Figura 7.9 a Figura 7.16. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 51 Figura 7.9 – Deslocamento total condição 1G material compósito em mm Fonte: Autor (2019). Figura 7.10 – Máxima tensão combinada condição 31G material compósito em daN/mm² Fonte: Autor (2019). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 52 Figura 7.11 – Deslocamento total condição -1,52G material compósito em mm Fonte: Autor (2019). Figura 7.12 – Máxima tensão combinada condição -1,52G material compósito em daN/mm² Fonte: Autor (2019). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 53 Figura 7.13 – Deslocamento total condição 3,8G material compósito em mm Fonte: Autor (2019). Figura 7.14 – Máxima tensão combinada condição 3,8G material compósito em daN/mm² Fonte: Autor (2019). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 54 Figura 7.15 – Deslocamento total condição 3,8G × 1,5 material compósito em mm Fonte: Autor (2019). Figura 7.16 – Máxima tensão combinada condição 3,8G × 1,5 material compósito em daN/mm² Fonte: Autor (2019). Com os dados do resultado obteve-se os fatores mostrados na Tabela 7.3. UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 55 Tabela 7.3 – Resultados de M.S. e F.S. obtidos para o material composto Caso de carga: Deslocamento máximo [mm] Tensão máxima [daN/mm²] M.S. F.S. 1G 0,085 4,37 91,31% 11,51 -1,52 G 0,0849 4,33 91,39% 11,62 3,8 G 0,212 15,38 69,42% 3,27 3,8 G × fator 1,5 0,318 22,85 54,57% 2,20 Fonte: Software de Elementos Finitos (2019). UNIFEI/IEM Trabalho Final de Graduação 56 CAPÍTULO 8 – NOVA ESTRUTURA E CARACTERÍSTICAS Diante do apresentado, é possível ver a nova carenagem projetada na Figura 8.2. Nela a geometria da antiga carenagem é mantida, alterando apenas o diâmetro de alguns tubos, padronizando-os. Quanto ao material, optou-se por modernizar a aeronave trocando os tubos de aço SAE 4130 por tubos de carbono laminado da empresa Rock West Composites de número 46404, alteração essa que promoverá a redução de peso e o aumento da resistência, entretanto, deverá haver um aumento do preço da aeronave devendo ser feita a análise dessa modificação no ponto de vista financeiro em trabalhos futuros. Além disso, pode-se, com o mesmo material, moldar uma carenagem mais aerodinâmica sem muita dificuldade devido aos avanços tecnológicos nos processos de fabricação. Os tubos serão unidos por conexões de metal, Figura 8.1, com os tubos presos por rosca, feita através de usinagem, ou por material adesivo e um reforço por um prendedor passante. Existem também conexões de material compósito, entretanto, não foram considerados pelo preço
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