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1 
 
Direito Administrativo – I 
 
Professor: T. A. Bittar 
UNIDADE II 
Aula 6 
 
1. Poderes da Administração ou Poderes Administrativos: 
1.1. Classificação dos Poderes Administrativos conforme o grau de 
liberdade: 
1.1.1. Poder Vinculado; 
1.1.2. Poder Discricionário; 
1.2. Poder Hierárquico; 
1.3. Poder Disciplinar; 
1.4. Poder Regulamentar ou Normativo; 
1.5. Poder de Polícia: 
Atributos do Poder de Polícia: 
1.5.1. Autoexecutoriedade; 
1.5.2. Coercitividade; 
1.6. Abuso de Poder: 
1.6.1. Excesso de Poder; 
1.6.2. Desvio de Poder. 
 
 
1. PODERES ADMINISTRATIVOS; 
 
Já ficou bastante claro que a Administração Pública dispõe de 
privilégios e prerrogativas que lhe asseguram a consecução do interesse público. 
Portanto, à Administração foi conferido um plexo de poderes instrumentais (que 
não se confundem com poderes do Estado), os quais se materializam nos atos 
administrativos. 
Os poderes instrumentais referidos são os seguintes: Poder Hierárquico, 
Poder Disciplinar, Poder Regulamentar (ou Normativo) e Poder de Polícia. 
Antes de analisarmos esses poderes, um a um, é importante classificá-
los segundo o grau de liberdade que a lei confere ao administrador quando da 
prática dos atos administrativos. 
 CLASSIFICAÇÃO DOS PODERES DE ACORDO COM O GRAU 
DE LIBERDADE: 
Poder vinculado: não há liberdade, conveniência ou oportunidade para 
a prática do ato administrativo. Portanto suprimida está a possibilidade de o 
administrador exercer juízo de valor a fim de adotar uma ou outra possibilidade 
2 
 
legal, porquanto a lei não lhe permite possibilidade alguma, mas vincula sua 
atuação. 
Ex.: Licença paternidade (art. 208, da Lei 8.112/90). 
Poder discricionário: a lei confere a possibilidade de o Administrador 
exercer juízo de valor, escolhendo dentre as opções legais, a que for mais oportuna 
e conveniente ao interesse público. Portanto, o ato discricionário decorre de uma 
liberdade dada ao administrador público, mas sempre dentro dos limites legais. 
Contudo, não é um cheque em branco que pode ser preenchido segundo os 
caprichos próprios do administrador. A lei também estabelece limites, mas permite 
opções ao administrador, que diante da situação concreta deverá adotar a melhor 
delas, sempre do ponto de vista do interesse público. 
Ex.: autorização de uso de bem público 
Poder Hierárquico1: 
A administração pública é construída de forma verticalizada, havendo 
hierarquização em seus quadros. Isso faz com que os ocupantes de nível 
hierárquico superior disponham de um conjunto de prerrogativas funcionais 
exercíveis sobre os que ocupam níveis inferiores, dentre as quais se destacam: 
• Prerrogativa de controle e revisão de ofício sobre atos e decisões dos 
subordinados; 
• Poder de editar normas de funcionamento interno da estrutura 
administrativa; 
• Poder de dar ordens de acatamento obrigatório. Entre estas ordens, a mais 
relevante é o deslocamento vertical de competências (delegação e 
avocação). Lembrar da regrinha do DENOREX. 
Responsabilidade no acatamento de ordens: 
Quando a execução de um determinado ato implicar infração funcional 
ou dano aos particulares, a responsabilidade será exclusiva daquele que executou 
o ato. Portanto, quando o delegado executa um ato e causa danos, responderá 
individualmente por este, não atingindo o superior delegante. 
Aquele que ocupa nível hierárquico inferior possui a sujeição do dever 
funcional de obediência em relação a todos que ocupem níveis hierárquicos 
superiores. Desta forma, o subordinado não pode recusar, questionar, nem se 
omitir no cumprimento de uma ordem legal recebida. Qualquer uma dessas três 
hipóteses pode configurar “insubordinação funcional” e o crime de prevaricação 
 
1 Celso Antônio Bandeira de Mello denomina o Poder Hierárquico de Poder do Hierarca. 
3 
 
(art. 319 do CP), que na maioria dos regimes e regimentos evoca infração funcional 
punida com demissão. 
Mas e se a ordem emanada for manifestamente ilegal? 
R: Nesse caso não subsiste a obrigatoriedade da realização do ato, mas 
surge o dever de representar contra a ilegalidade (art. 116, IV a XII da Lei 
8.112/90). Todavia, se o delegado a cumprir, responderá juntamente com o 
delegante pelos danos causados a terceiros. 
Ex.: Delegado de Polícia que manda policial torturar o suspeito. 
 
Poder Disciplinar: 
O poder disciplinar está contido no Poder Hierárquico, visto que a 
aplicação de sanções funcionais é atribuição dos ocupantes de níveis superiores 
(relativamente ao infrator) na estrutura organizacional da Administração Pública. 
Não se deve confundir o Poder Disciplinar com o Poder Punitivo do 
Estado. Este é desempenhado com o fim de reprimir a prática de ilícitos penais, 
enquanto que o objeto em estudo refere-se àqueles que estão na intimidade da 
Administração Pública, ou seja, àqueles que se encontram exercendo funções 
públicas (agentes públicos). 
Ex.: imposição de multa de trânsito não é exercício do Poder Disciplinar, pois nada 
tem a ver com a estrutura interna da Administração Pública. Como veremos adiante, 
a imposição de multa de trânsito é atividade limitativa de um direito individual em 
prol da coletividade e, por isso, é manifestação do Poder de Polícia. 
A doutrina entende que o poder disciplinar tem preponderância 
discricionária, pois a penalidade aplicada dependerá da natureza e da gravidade da 
infração cometida. Confira o art. 128 da lei 8.112/90: 
 Art. 128. Na aplicação das penalidades serão consideradas a natureza e a 
gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o serviço público, 
as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes funcionais. 
A própria lei acima referida traz conceitos extremamente vagos de 
condutas tidas como infrações funcionais, como é o exemplo da prática de 
“conduta escandalosa”, prevista no art. 132, V, da Lei 8.112/90. 
Por assim ser, uma vez formada a comissão processante do servidor 
faltoso (que é formada por servidores integrantes de cargos superiores ao ocupado 
pelo processado), é essa comissão que irá incluir a conduta faltosa nesse ou naquele 
dispositivo. Também será a comissão que sugerir em relatório a aplicação da 
4 
 
penalidade correspondente (todas as penalidades estão previstas no art. 127 da lei 
8112/90). 
De toda sorte e com menos intensidade, esse poder apresenta traços de 
vinculação, pois, ocorrida falta ou crime funcional, a apuração do caso é 
obrigatória (por sindicância ou processo), sob pena de incorrer o superior 
hierárquico em outra infração funcional, ou nos crimes de prevaricação e 
condescendência criminosa. 
 
Poder Normativo (e/ou Poder Regulamentar): 
 
É o poder que autoriza a Administração Pública a editar atos normativos 
gerais e abstratos de diversas espécies, com o objetivo de auxiliar a facilitar a 
aplicação das leis, as quais possuem sempre natureza secundária ou derivada, visto 
que se reportam a um ato de caráter originário ou primário, isto é, à Lei (pelo art. 
5º, II, somente lei pode determinar obrigações e conferir direitos). 
Estamos a falar dos vários atos normativos hoje existentes na complexa 
estrutura administrativa: portarias, instruções normativas, resoluções, regimentos, 
deliberações, decretos etc. 
Ocorre que a doutrina moderna criou uma espécie de Poder dentro do 
Poder Normativo (mais abrangente), denominando-a de Poder Regulamentar2. 
Para essa doutrina o Poder Regulamentar refere-se à expedição de 
Decretos e Regulamentos, pelo Chefe do Executivo, com o objetivo de 
regulamentar uma lei. 
Como bem esclarece o art. 84, IV da CF, o chefe do poder executivo 
(em qualquer órbita) possui capacidade normativa suplementar (que, como visto, 
é indelegável). 
O art. 84, IV, da CF trata do chamado Decreto Regulamentar. Esse ato 
normativo tem a finalidade de complementar a previsão legal, permitindo sua fiel 
execução (exs.: Lei 10.520/02 e Decreto 3.555 e Lei 11.343 e portarianº 344/98 – 
Anvisa). Em regra, o regulamento se materializa por meio de Decreto (é a 
exteriorização do regulamento). 
 
2 Para a doutrina clássica, Poder Normativo e Poder Regulamentar são sinônimos. 
5 
 
O decreto ou regulamento sempre hão de se reportar à lei, ou seja, eles 
não podem inovar a ordem jurídica, pois quem o faz é tão somente a lei. 
Sua função, pois, é secundária e ligada à lei. “As leis devem ser 
redigidas em ermos gerais; o detalhamento necessário à sua aplicação é 
efetuado pelo poder Executivo, o qual não pode restringir, nem ampliar, 
muito menos contrariar, as hipóteses nela previstas”3 (destaquei). 
Se o decreto extrapolar os limites da lei, poderá ser anulado pelo Poder 
Judiciário, porquanto ilegal, ou mesmo pelo Poder Legislativo (art. 49, V, da CF). 
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: 
(...) 
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder 
regulamentar ou dos limites de delegação legislativa; 
Entretanto há outra modalidade de decreto, que não se reporta à lei, mas 
busca seu fundamento de validade na própria Constituição, ou seja, não há entre o 
decreto autônomo e a Constituição lei alguma (é como se ele exercesse o papel da 
própria lei). Estamos a falar do decreto autônomo, previsto no art. 84, VI, da 
Constituição Federal. 
Obs.: Os decretos autônomos podem ser delegados pelo Presidente da 
República (para um ministro, v.g.). É como autoriza o art. 84, parágrafo único da 
CF. É exceção à indelegabilidade da competência normativa (DENOREX). 
Obs.: Trata-se de situações excepcionalíssimas na Constituição, que 
dizem respeito apenas a questões internas da Administração: a) organização e 
funcionamento da Administração; e, b) extinção de cargos vagos. 
 
Poder de Polícia: 
 
Poder de Polícia é a atividade de compatibilização entre o exercício de 
um direito individual e os direitos coletivos. Isso porque, como curadora dos 
interesses públicos, a Administração Pública deve regular o exercício de certos 
interesses individuais, a fim de que não prejudiquem toda uma coletividade. A essa 
regulação de interesses, que ocorre por atos administrativos como fiscalização, 
vistoria, homologação, denegação, concessão, inspeção, licenciamento, 
 
3 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino. Direito Administrativo. 2ª Ed. p. 135. 
6 
 
autorização, dentre outros, deve-se entender como o exercício do Poder de Polícia 
do Estado. 
Nota-se que não há vínculo prévio algum entre o Estado no exercício 
desse poder e o cidadão que busca a regulação de um direito individual, porquanto 
tal poder calca-se no que a doutrina chama de supremacia geral. Se houver algum 
vínculo anterior, não estaremos a falar de supremacia geral, mas de supremacia 
especial e, portanto, nenhuma relação existirá com o poder em tela. 
Ex.1: a expulsão de um aluno de universidade federal pressupõe um vínculo anterior 
(supremacia especial) e não se trata de Poder de Polícia. 
Ex.2: ruptura de contrato administrativo com empresa vencedora de licitação, por 
inobservância dos prazos estabelecidos. Como há vinculo anterior não é poder de 
Polícia; 
Ex.3: demissão de funcionário público. Como há vínculo anterior (relação 
empregatícia pública por meio de aprovação em concurso público), não se fala em 
Poder de Polícia. 
Ex.4: Inspeção de qualidade de produtos vendidos em supermercado. Aqui temos o 
exercício do Poder de Polícia, pois não há vínculo pretérito algum entre o 
supermercado e o poder público, no que respeita ao exercício da inspeção. 
O art. 78 do CTN (Código Tributário Nacional) estabelece o conceito 
legal de Poder de Polícia, ao tratar do tema “Taxas”, espécie tributária cujo fato 
gerador pode ser o exercício de um poder de polícia. Mas a dicção normativa do 
mencionado dispositivo é deveras imprecisa e provoca mais dúvidas do que 
compreensões. 
Portanto, fiquemos com o conceito de Hely Lopes Meirelles4: 
Poder de polícia é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para 
condicionar e restringir o uso e gozo e bens, atividades e direitos individuais, em 
benefício da coletividade ou do próprio Estado. 
A Administração Pública, em todas as órbitas administrativas (União, 
Estados, DF e Municípios), exercerá esse poder-dever, porque há atividades que 
podem representar perigo ou ameaça aos interesses da coletividade, ainda que 
indiretamente. Portanto, faz-se necessária uma regulação e fiscalização do 
exercício de tais atividades, pois a coletividade não pode ficar a mercê do exercício 
de direitos individuais. 
O Poder de Polícia que limita direito individual não gera direito à 
indenização, pois o Estado não retira do “patrimônio jurídico” do particular o 
 
4 Apud Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo. Opus. Cit. P. 141. 
7 
 
direito, apenas define a maneira de exercê-lo (ainda que ao restringi-la), sempre 
em favor de interesses maiores. 
Infelizmente, a história triste de fatalidades de nosso país, já episódica 
por demais a ponto de manchar perpetuamente de sangue a incompetência de nossa 
Administração Pública, revelou que o Poder de Polícia não foi competentemente 
exercido na cidade de Santa Maria/RS, o que culminou com o falecimento de 241 
jovens universitários, cujas efêmeras vidas ainda rebrilhavam os albores da 
existência. Competia à Administração Pública do Rio Grande do Sul fiscalizar o 
exercício da manutenção de uma Casa Noturna, estabelecendo parâmetros de 
observância obrigatória no respeitante às saídas de emergências e mantas anti-
incêndio (inclusive sob a ameaça de imposição de sanções e fechamento do 
estabelecimento). 
Podemos citar outros exemplos do exercício do Poder de Polícia, como 
a concessão de autorização administrativa para a instalação de uma banca de 
jornal; fiscalização de locais proibidos para menores; limitação de altura para 
construção de prédios em determinadas localidades; emissão de passaporte; 
fiscalização de máquinas, caldeiras industriais, elevadores e motores; 
condicionamento de emissão de poluentes para as indústrias. 
Obs.: o Poder de Polícia, que a doutrina chama de polícia 
administrativa, não se confunde com o Estado Policial! A este incumbe realizar 
prisões, perícias, investigações, dentre outras funções de auxílio à Justiça Criminal, 
tudo após a ocorrência do delito (persecutio criminis) e, portanto, atua de forma 
repressiva. Ex.: polícias militar (ostensiva) e civil (judiciária). 
Meios de atuação do Poder de Polícia (Marcelo Alexandrino e Vicente 
Paulo): 
Poder de polícia originário: é aquele exercido diretamente pelos 
órgãos dos entes políticos (União, Estados, DF e Municípios); 
Poder de polícia delegado (outorgado): é o poder exercido por meio 
de descentralização, modalidade outorga, da Administração Direta em favor de 
entidades da Administração Pública Indireta. Ex.: Fiscalização realizada pelo 
IBAMA, autarquia federal. 
Indagação importante: o poder de Polícia pode ser delegado às pessoas 
de direito privado? 
R: A corrente doutrinária clássica entende que por se tratar de ius 
imperii (poder de império), o Poder de Polícia somente pode ser exercido pelo 
Poder Público, sendo, assim, indelegável às pessoas privadas, ainda que 
8 
 
prestadoras de serviço público. Não obstante, a doutrina vanguardista venceu uma 
discussão acerca da possibilidade de delegação de algumas etapas do poder de 
polícia (que veremos logo abaixo), como por exemplo, cita-se a multa fotográfica 
de trânsito, que é realizada por empresa privada, a qual apenas obtém a foto por 
meio de equipamento que ela mesma instala e administra, mas o poder de aplicar 
a penalidade (sancionar) é sempre do município. 
 
Atributos do Poder de Polícia: 
 
Predominantemente discricionário: conforme veremos nas apostilas 
seguintes, o ato administrativo discricionário é aquele cuja prática conta com 
margem de liberdade para atuação do agente público, sempre conferida pela Lei.Assim, a lei permite que o agente público, diante do caso concreto, avalie os 
motivos fáticos/jurídicos da ocasião e eleja o melhor ato adm. (objeto) à luz do 
interesse público. 
Parte da doutrina entente, conduto, que se a lei determinar um 
comportamento, sem conferir margem de liberdade ao agente, nessa hipótese, 
como hipótese excepcional, o exercício do poder de polícia será vinculado – ex.: 
licença para dirigir (se o postulante à CNH foi aprovado em todas as fases 
avaliativas, terá direito adquirido à licença). 
 
Predominantemente autoexecutável: invocamos novamente as lições 
do mestre Hely Lopes Meirelles5, para quem a autoexecutoriedade “consiste na 
possibilidade que certos atos administrativos ensejam de imediata e direta 
execução pela própria Administração, independentemente de ordem judicial”. 
Isso significa que o Poder de Polícia, na qualidade de ius imperii possui 
a força necessária para ser executado independentemente de autorização do Poder 
Judiciário, ainda que imponha restrições a direitos individuais. Isso porque o poder 
de Polícia tem seu fundamento, sempre e sempre, na lei e essa permite que 
determinados atos sejam executados pela própria administração. 
Ex.2: revogação de autorização de uso de bem público, com a determinação de 
devolução do status quo ante (retire a barraca de camelô da calçada!). 
Lembram Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, a despeito de a 
Administração Pública não precisar se socorrer do Poder Judiciário, que há 
 
5 Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo Op. Cit. p. 145 
9 
 
circunstâncias em que a prévia autorização judicial se mostra conveniente (nunca 
obrigatória), especialmente nos casos em que seja presumível forte resistência dos 
administrados. Vejamos o seguinte trecho6: 
A obtenção de prévia autorização judicial para a prática de determinados atos de 
polícia é uma faculdade da Administração. Ela costuma recorrer previamente ao 
Judiciário quando tenciona praticar atos em que seja previsível forte resistência dos 
particulares envolvidos, como na demolição de edificações irregulares, embora seja, 
como dito, facultativa a obtenção de tal autorização. 
Outros exemplos são: fechamento do estabelecimento; demolição de 
edificação condenada. Nalguns casos, a Administração pode até requisitar apoio 
policial, se julgar necessário. 
Cuidado! Nem todo ato administrativo que corresponde ao Poder de 
Polícia dispõe de autoexecutoridade. É o caso de multa, por exemplo. Afinal, se o 
particular não pagar o débito nos termos legais, a Administração Pública não 
poderá utilizar da força para compeli-lo a fazer, tampouco poderá “cofiscar ou 
penhorar” seus bens. O único instrumento cabível será a via judicial (ex.: execução 
fiscal), sempre mediante provocação do Poder Judiciário. 
Assim, excepcionalmente quando o ato administrativo não dispuser de 
autoexecutoriedade, terá tão somente exigibilidade, conceito de que deve ser 
entendido como prerrogativa que garante o cumprimento do ato pelo seu 
destinatário mediante meios indiretos de coação (mulas pelo descumprimento, 
protesto, juros etc.). 
Coercibilidade (ou imperatividade): o Poder de Polícia é impositivo, 
de observância obrigatória pelo particular (não é uma faculdade ou sugestão). 
Enquanto não houver manifestação provocada do poder Judiciário suspendendo a 
medida, ela continua a ser obrigatória. 
 
Aprofundamento - Ciclos do Poder de Polícia7: 
O Superior Tribunal de Justiça, ao julgar um caso muito específico 
cunhou a teoria dos 4 ciclios do Pode de Polícia. Para o STJ, os ciclos são: 
1. Ordem/legislação; 
2. Consentimento; 
3. Fiscalização; 
4. Sanção. 
 
6 Opus. Cit. p. 145. 
7 Dica de artigo excelente: https://www.conjur.com.br/2019-ago-31/constitucional-delegacao-poder-
policia-particulares 
https://www.conjur.com.br/2019-ago-31/constitucional-delegacao-poder-policia-particulares
https://www.conjur.com.br/2019-ago-31/constitucional-delegacao-poder-policia-particulares
10 
 
Veja o aresto e depois explico rapidamente os conceitos: 
ADMINISTRATIVO. PODER DE POLÍCIA. TRÂNSITO. SANÇÃO 
PECUNIÁRIA APLICADA POR SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. 
IMPOSSIBILIDADE. 
1. Antes de adentrar o mérito da controvérsia, convém afastar a preliminar de 
conhecimento levantada pela parte recorrida. Embora o fundamento da origem tenha 
sido a lei local, não há dúvidas que a tese sustentada pelo recorrente em sede de 
especial (delegação de poder de polícia) é retirada, quando o assunto é trânsito, dos 
dispositivos do Código de Trânsito Brasileiro arrolados pelo recorrente (arts. 21 e 
24), na medida em que estes artigos tratam da competência dos órgãos de trânsito. O 
enfrentamento da tese pela instância ordinária também tem por consequência o 
cumprimento do requisito do prequestionamento. 
2. No que tange ao mérito, convém assinalar que, em sentido amplo, poder de 
polícia pode ser conceituado como o dever estatal de limitar-se o exercício da 
propriedade e da liberdade em favor do interesse público. A controvérsia em 
debate é a possibilidade de exercício do poder de polícia por particulares (no caso, 
aplicação de multas de trânsito por sociedade de economia mista). 
3. As atividades que envolvem a consecução do poder de polícia podem ser 
sumariamente divididas em quatro grupo, a saber: (i) legislação, (ii) 
consentimento, (iii) fiscalização e (iv) sanção. 
4. No âmbito da limitação do exercício da propriedade e da liberdade no trânsito, 
esses grupos ficam bem definidos: o CTB estabelece normas genéricas e abstratas 
para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (legislação); a emissão da 
carteira corporifica a vontade o Poder Público (consentimento); a Administração 
instala equipamentos eletrônicos para verificar se há respeito à velocidade 
estabelecida em lei (fiscalização); e também a Administração sanciona aquele que 
não guarda observância ao CTB (sanção). 
5. Somente o atos relativos ao consentimento e à fiscalização são delegáveis, pois 
aqueles referentes à legislação e à sanção derivam do poder de coerção do Poder 
Público. 
6. No que tange aos atos de sanção, o bom desenvolvimento por particulares 
estaria, inclusive, comprometido pela busca do lucro - aplicação de multas para 
aumentar a arrecadação. 
7. Recurso especial provido. 
(REsp 817.534/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA 
TURMA, julgado em 10/11/2009, DJe 10/12/2009). 
 
Assim, podemos definir os conceitos do seguinte modo: 
 
1. Ordem/legislação: norma legal que estabelece as condições e 
restrições para o exercício de determinadas atividades ou para o uso 
de determinados bens (ex: CTB). 
2. Consentimento: anuência dada pelo Estado, normalmente por um 
ato administrativo, para que o particular desenvolva determinadas 
atividade ou utilize alguma propriedade (ex.: licença para dirigir e 
licença para construir) 
11 
 
3. Fiscalização: meio pelo se verifica se o particular cumpriu com a 
ordem e com o consentimento de polícia, podendo ser de ofício ou 
por provação dos particulares (ex.: empresas privadas que fazem 
“vistorias veiculares”). 
4. Sanção: penalidade aplicada aos particulares pelo Poder Público em 
caso de descumprimento da ordem ou dos limites impostos pelo 
estado (ex.: multa de trânsito). 
A jurisprudência entende que os atos de ordem e sanção do poder de 
Polícia não podem ser delegados à iniciativa privada, pois derivam do ius 
imperii Estatal (função típica de Estado), sendo que as fases de consentimento e 
fiscalização podem ser delegadas. 
 
ABUSO DE PODER: 
 
O Abuso de Poder traduz uma atuação administrativa alheia ao alcance 
do interesse público, seja porque violou a lei ou a Constituição, ou mesmo porque 
fez tabula rasa dos princípios reitores da Administração Pública. 
O Abuso de Poder se divide em: a) Excesso de Poder e b) Abuso de 
Poder 
a) Excesso de Poder: ocorre quando o agente público age além de sua 
competência administrativa, invadindoatribuições outras que a lei não lhe 
conferiu. 
Ex.: delegado que ultrapassa os limites legais do depoimento e tortura o investigado. 
b) Desvio de Poder (ou Desvio de Finalidade): ocorre quando o agente 
público pratica um ato com aparência de legalidade, mas que contém um vício na 
finalidade perseguida pelo agente. Nesses casos a finalidade não é a legal, mas 
pessoal do agente, embora se esteja agindo dentro dos limites legais. 
Ex.: desapropriação de propriedade de desafeto do Chefe do poder Executivo; 
Ex.2: delegado determina o cumprimento de um mandado de prisão de desafeto em 
festa de casamento, para que ele seja humilhado em público e em frente aos seus 
familiares e amigos.

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