Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Mecanismos—Cadeias Cinemáticas DEMEC-UFPE - 17 3 Cadeias Cinemáticas O conceito de mecanismo visto no capítulo anterior, como sendo um conjunto de corpos rígidos interligados e com possibilidade de movimentos relativos entre si, irá requerer um estudo mais detalhado do ponto de vista destas ligações e também destes movimentos. Neste capítulo iremos aprender novos conceitos para estes corpos rígidos atrelados entre si formando as “cadeias cinemáticas” e como conseqüência chegaremos a uma definição mais exata para o termo mecanismo, bem como iremos entender as suas relações e interdependências. 3.1. Coordenadas Generalizadas A configuração de um sistema mecânico com um número finito de pontos materiais ou corpos rígidos pode ser expressa por um número finito de variáveis reais chamadas coordenadas generalizadas. Cada ponto material poderá ser denotado pela sua n-úpula coordenada generalizada: Como exemplo, o sistema mostrado na figura 3.1 pode ser descrito com a utilização do ângulo θ que a barra AB forma com a horizontal e das coordenadas x e y de um ponto qualquer na barra. Nesta situação, as coordenadas generalizadas seriam (x, y, 0). Também poderíamos descrevê- 1 2 3( , , ,..., )nx x x x Mecanismos—Cadeias Cinemáticas 18 - DEMEC-UFPE lo utilizando as coordenadas cartesianas de dois pontos distintos da barra e o sistema de coordenadas generalizadas seria então dado por (x1, y2, x2, y2). Figura 3.1 - descrição do sistema (barra AB) em coordenadas generalizadas. 3.1.1. Restrições Pontos materiais de um sistema mecânico ou de partículas podem estabelecer vínculos entre si, que impõem limitações aos seus deslocamentos, estes vínculos também são chamados restrições. Figura 3.2 - em (a), sistema sem restrição em relação à reta t e em (b), com restrição imposta pela haste /. θA By 2 y 1 x1 x2 A B (a) t A B (b) t l Mecanismos—Cadeias Cinemáticas DEMEC-UFPE - 19 Se a restrição puder ser equacionada com a utilização de coordenadas generalizadas e do tempo de tal forma que se possa ter verdadeira a expressão: (3.1) Ela será dita holonômica, caso contrário será chamada não-holonômica. Saiba mais: Sistemas com órgão não rígidos onde não se pode prever expansões ou contrações devidas à dilatação térmica no tempo são sempre não-holonômicos. 3.1.2. Graus de Liberdade de um Sistema Mecânico Num sistema mecânico de partículas ou corpos rígidos em que as restrições, se houver, sejam todas do tipo holonômicas, define-se o número de graus de liberdade do sistema através da seguinte relação: (3.2) onde: f - número de graus de liberdade do sistema; n - número de coordenadas generalizadas usadas para descrever o sistema; r - número de equações de restrição existentes no sistema de coordenadas generalizadas adotado. Desta forma, o número de graus de liberdade é uma característica intrínseca do sistema e independe do sistema particular de coordenadas utilizado para sua descrição. Apenas ressalte-se que se o sistema for independente, o número de equações de restrição será diferente de um sistema para o outro, desde que os mesmos tenham número de coordenadas (independentes) diferentes. Em particular, é possível se achar um conjunto de coordenadas independentes tal que o número de equações de restrição seja nulo. Como exemplo elucidativo, vamos considerar uma haste (figura 3.3) no plano bidimensional (x, y) com uma extremidade fixa em (x0, y0) e podendo f(x1, x2, x3, ..., xn) = 0 f = nà r Mecanismos—Cadeias Cinemáticas 20 - DEMEC-UFPE rotacionar em torno deste. Na extremidade desta haste coloca-se uma outra, que também poderá girar. Figura 3.3 - sistema no plano com 2 graus de liberdade e duas equações de restrição. A configuração do sistema será então dada por quatro coordenadas xp1, yp1, xp2 e yp2 e, para este caso o número de equações de restrição é dois: (3.3) Note que aqui xpo, ypo, são constantes que podem ser utilizadas livremente nas equações de restrição, logo o número de graus de liberdade do sistema será: (3.4) Poderíamos também utilizar como coordenadas os ângulos θ1 e θ2 que as barras fazem com a horizontal. Neste caso, ficaríamos sem nenhuma equação de restrição envolvendo estas coordenadas θ1 e θ2. Saiba mais: Se o sistema de coordenadas generalizadas escolhido for linearmente independente, o número de equações de restrição será sempre nulo. (xP2 à xP1)2 + (yP2 à yP1)2 = l22 (xP1 à xP0)2 + (yP1 à yP0)2 = l21 f = nàm = 4à 2 = 2 θ P l 1 θ2 1 l2 1 P2 P0 Mecanismos—Cadeias Cinemáticas DEMEC-UFPE - 21 3.2. Pares Cinemáticos Neste estudo será designado barra a qualquer peça rígida que componha um mecanismo. Então, as barras adjacentes de um mecanismo devem ser convenientemente ligadas para que executem o movimento desejado umas em relação às outras. A cada uma destas ligações é dado o nome de par cinemático. Cada uma das partes que formam o par é chamada elemento cinemático. Fique ligado: No estudo dos mecanismos e das cadeias cinemáticas em geral, os corpos rígidos envolvidos levam simplesmente o nome de “BARRA”. 3.2.1. Classificação Os pares cinemáticos podem ser classificados em superiores e inferiores, sendo a distinção feita pela forma de contato entre as superfícies de cada elemento que forma o par. Para os pares inferiores, o contato se dá superficialmente, enquanto nos superiores, o contato é linear ou pontual. Decorre disto que os pares inferiores podem suportar cargas mais elevadas, ao passo que os superiores apresentam menores perdas por atrito. Tabela 3.1 - relação entre par superior e inferior PAR VANTAGENS DESVANTAGENS superior ♦ menores perdas por atri- to ♦ pequena dissipação de calor ♦ não suportam cargas eleva- das ♦ desgastam-se mais rapida- mente ♦ exigem maior refinamento inferior ♦ suportam cargas eleva- das ♦ são de fácil construção ♦ desgastam-se uniforme- mente ♦ grandes perdas por atrito ♦ velocidade de trabalho mo- derada Mecanismos—Cadeias Cinemáticas 22 - DEMEC-UFPE 3.2.2. Pares Inferiores Existem seis pares cinemáticos identificados por Reuleaux como inferiores. A tabela 3.2 os classifica relacionando os nomes e símbolos empregados. Seja a barra 2 no espaço, vinculada ao sistema cartesiano local (u, v, w) (figura 3.4), com possibilidade de movimento em relação à barra 1, vinculada ao sistema de referência (x, y, z), o número de graus de liberdade inicial da barra 2 em relação a 1 será 6, isto é, três deslocamentos lineares nas direções dos eixos coordenados, representados pelas variáveis (x, y, z) e três rotações em torno de cada eixo local, representadas por (θ, φ, ψ). Figura 3.4 – possibilidades de movimento relativo da barra 1 em relação à barra 2. Nossa análise será feita restringindo-se a possibilidade de alguns destes seis possíveis movimentos: a. Restringindo-se o movimento de translação em x, y e z, e de rotação em u e v, tem-se apenas possibilidade de rotação em torno de w. O movimento é então de rotação (θ) e o par chama-se rotativo, simbolizado por R. b. Restringindo-se todas as três rotações em relação a u, v e w, e os deslocamentos segundo x e y, fica-se com a possibilidade apenas de translação paralela a z. O par é chamado prismático e será simbolizado pela letra P. 2 1 vu w z y x Mecanismos—Cadeias Cinemáticas DEMEC-UFPE - 23 c. Supondo que a barra 2 gire sobre uma hélice em volta do eixo w, ela também irá se deslocar seguindo uma direção paralela a z. Este par é dito helicoidal e será representado por Sp, onde o índice p representa o passo da hélice. d. Quando se permite apenas rotação em torno de w e translação em relação a z, têm-se o chamado par cilíndrico, representado por C. e. Sendo permitido apenas rotação em torno de qualquer dos três eixos u, v e w, o par é dito esférico e será representado pela letra G de globular. f. Finalmente, quandosão permitidas apenas duas translações x e y e uma rotação em torno de um eixo paralelo a z, tem-se o par plano, denotado por F. Tabela 3.2 - pares inferiores, simbologia. Reuleaux considera os pares rotativo e prismático como caso especial do par helicoidal com passo zero e infinito respectivamente. Desta forma, é possível se representar o par rotativo por So e o par prismático por S∞ . Para todos os pares inferiores, com exceção do par plano, as ligações se verificam através de invólucros, porque em cada caso um elemento envolve o outro. A figura 3.5 ilustra estes seis diferentes tipos de pares cinemáticos inferiores. Tipo de Movi- mento Relativo Tipo de Par Símbolo Utilizado Graus de Liberdade Variáveis Para Descrição linear Rotativo prismático Helicoidal R P S 1 1 1 θ x x ou θ superficial Cilíndrico esférico Plano C G F 2 3 3 x, θ θ, φ,ψ x, y, θ Mecanismos—Cadeias Cinemáticas 24 - DEMEC-UFPE Figura 3.5 - o s s e i s t i p o s b á s i c o s d e p a r e s cinemáticos inferiores. Mecanismos—Cadeias Cinemáticas DEMEC-UFPE - 25 3.2.3. Pares Superiores Os pares superiores não seguem uma classificação rígida como no caso dos inferiores. Assim, cada problema deve ser tratado como um caso em separado. Como exemplos de pares superiores a contato pontual têm-se os mancais de esfera, as engrenagens helicoidais de eixos reversos e as juntas homocinéticas. Já o contato linear é encontrado em cames com seguidor de rolo, mancais cilíndricos e nas engrenagens em geral. Na maioria dos casos, o movimento relativo entre os elementos é bastante complexo, porém ocasionalmente é possível substituir as ligações formadas por pares superiores, por outras contendo apenas pares inferiores, como é o caso ilustrado na figura 3.6 abaixo. Figura 3.6 - substituição de um par superior por um equivalente inferior 3.3. Barras e Elementos Cinemáticos Como já mencionado, o termo “barra” será empregado para designar qualquer corpo material que possa transmitir movimento entre as várias partes de um mecanismo. A barra deverá conter elementos cinemáticos que representem um local de contato ou conexão à uma outra barra. As barras, em função do número de elementos cinemáticos, podem se classificar em: ♦ barra binária - possui dois elementos (n2) ♦ barra ternária - possui três elementos (n3) ♦ barra quaternária - possui quatro elementos (n4) e assim por diante. Mecanismos—Cadeias Cinemáticas 26 - DEMEC-UFPE 3.3.1. Representação Convencional e Representação Esquemática A figura 3.7 mostra as possíveis representações na forma convencional e na forma esquematizada de barras binárias, ternárias e de maior ordem. A representação esquemática simplifica o desenho da barra através de esboços rápidos efetivados por segmentos para o núcleo da barra e pequenos círculos nas extremidades ou cantos para representar os elementos cinemáticos. A convenção para o esquema de barras com mais de dois elementos cinemáticos não colineares, consiste em hachuriar o polígono que tem como vértices os elementos cinemáticos, figura 3.7 barras b e d. Figura 3.7 - representação esquemática das barras - em (a) barra binária, em (b) e (c) barra te rnár ia e em (d) bar ra com 5 elementos. A figura 3.8 mostra mais alguns exemplos de representação esquemática de barras binárias e ternárias contendo elementos cinemáticos do tipo rotativo e prismático. Mecanismos—Cadeias Cinemáticas DEMEC-UFPE - 27 Figura 3.8 - exemplos esquemáticos de barras contendo elementos cinemáticos de tipos diferentes. Muito embora possamos ter uma representação esquemática para os elementos cinemáticos do tipo helicoidal, cilíndrico, esférico e facial, nós não a apresentaremos aqui por se tratar de assunto mais específico para uma extensão deste curso. Fique ligado: Nas cadeias planas, que serão o objeto principal dos nossos estudos, os pares cinemáticos presentes serão exclusivamente do tipo Rotativo e Prismático. 3.4. Cadeia Cinemática Define-se cadeia cinemática como sendo uma coleção de barras ligadas entre si através de seus elementos cinemáticos. A cadeia é dita fechada quando todos os elementos cinemáticos estão ligados entre si, caso contrário ela será aberta (figura 3.9). A cadeia cinemática será dita simples quando for formada apenas por barras binárias. (a) (b) (c) (d) (e) (f) Mecanismos—Cadeias Cinemáticas 28 - DEMEC-UFPE Figura 3.9 - (a) cadeia cinemática fechada, (b) cadeia aberta e (c ) cadeia cinemática fechada simples. 3.5. Critério de Grübler para Mecanismos Planos Utilizando-se o sistema de coordenadas generalizadas (x, y, z) para a descrição de uma cadeia cinemática fechada, onde todos os pares cinemáticos são do tipo rotativo e no plano, contendo uma barra fixa como base, é possível se mostrar que o número de graus de liberdade do sistema poderá ser determinado em função apenas do número de barras n e do número de pares cinemáticos j da cadeia. De fato, se tivéssemos apenas uma barra no plano, a sua posição poderia ser determinada por três variáveis (xo, yo, θo), sendo portanto igual a 3 o número de graus de liberdade (figura 3.10a). Adicionando-se uma outra barra por meio de um par cinemático do tipo rotativo, o sistema resultante passará a ter 4 graus de liberdade (figura 3.10b), isto é, foi adicionado apenas mais um grau de liberdade e não 3 como se poderia inicialmente imaginar. Conclui-se então que o par cinemático reduz dois graus de liberdade da segunda barra. Assim para n barras no plano: (3.5) Se estas n barras formarem j pares cinemáticos, cada par cinemático vai reduzir dois graus de liberdade, e então: (3.6) (a) (b) (c) 1 4 2 3 5 6 7 R34 R45 R56 R16 R12 R23 R47 R17 1 2 4 3 R14 R34 R23 R12 1 2 4 3 R14 R34R23 R12 f = 3n f = 3nà 2j Mecanismos—Cadeias Cinemáticas DEMEC-UFPE - 29 Figura 3.10 - barra livre no plano (a) e conectada a uma segunda barra em (b). Agora fixando-se uma das barras, haverá redução de mais três graus de liberdade e chega-se ao chamado Critério de Grübler para os mecanismos planos: (3.7) onde: f = número de graus de liberdade da cadeia n = número total de barras na cadeia j = número de pares cinemáticos do tipo rotativo Observe que esta dedução se baseia nos mecanismos planos contendo apenas pares cinemáticos do tipo rotativo. A despeito disto, será visto mais adiante que levando-se em consideração certos critérios, a equação (3.7) também poderá ser aplicada em cadeias contendo pares prismáticos e até mesmo pares helicoidais em algumas situações. Fique ligado: Perceba que na dedução do Critério de Grübler se considerou apenas pares cinemáticos do tipo rotativo que têm um grau de liberdade, portanto o Critério pode ser aplicado para outros tipos de pares cinemáticos, desde que estes tenham um só grau de liberdade, como é o caso dos pares prismático e helicoidal. É possível também se estender o critério para cadeias contendo pares θ y x o θo θ1 o o y xo o 1 1 2 (a) (b) f = 3(nà 1)à 2j Mecanismos—Cadeias Cinemáticas 30 - DEMEC-UFPE cinemáticos superiores, notando que estes têm dois graus de liberdade, após considerações similares as feitas acima chega-se a: (3.8) Onde h denota o número total de pares superiores presentes na cadeia. Figura 3.11 - estruturas em a, b e c, em d e e mecanismos impostos de 4 barras, cadeia não imposta em f e mecanismos complexos em g e h. f = 3(nà 1)à 2jà h 1 2 3 4 5 6 12 4 5 6 8 7 3 n = 3 f = 0 j = 3 (a) n = 5 f = 0 j = 6 (b) n = 6 f = -1 j = 8 (c) n = 4 f = 1 j = 4 (d) n = 4 f = 1 j = 4 (e) n = 5 f = 2 j = 5 (f) n = 6 f = 1 j = 7 (g) n = 8 f = 1 j = 10 (h) Mecanismos—Cadeias Cinemáticas DEMEC-UFPE - 31 Se a solução da equação (3.7) for f ≤ 0, o movimento é impossível e o mecanismo forma umaestrutura; em particular para f = 0 têm-se uma estrutura estaticamente determinada e para f = -1 há uma barra redundante na cadeia que conduz a estrutura a ser estaticamente indeterminada ou hiperestática. Quando f = 1 diz-se que há movimento imposto, porém sendo f = 2 ou maior, só haverá imposição na cadeia se houver mais de um movimento de entrada perfeitamente conhecidos e em barras distintas. A figura 3.11 exemplifica várias cadeias onde é possível a aplicação do critério. Fique ligado: Perceba que as estruturas não sôo objeto de estudo nos cursos de mecanismos. 3.5.1. Cadeias Contendo Pares Prismáticos Os pares cinemáticos do tipo prismático semelhantemente às juntas rotativas, possuem um só grau de liberdade, tendo por isto em alguns casos, características semelhantes à estas. Isto permite que se adaptem ao Critério de Grubler, desde que sejam feitas três restrições indispensáveis: a. Nenhuma barra da cadeia deve conter somente pares prismáticos cujas direções de movimento sejam paralelas entre si. Figura 3.12 - à barra 3 é permitido movimento, sem que haja movimento das outras barras da cadeia. 1 2 4 3 R14 P34 P23 R12 Mecanismos—Cadeias Cinemáticas 32 - DEMEC-UFPE b. Barras binárias possuindo somente pares prismáticos (figura 3.13) não devem ser diretamente ligadas entre si. Figura 3.13 - as barras 3 e 4 podem mover-se para uma segunda posição sem que haja movimento das outras barras. c. Nenhum polígono fechado de barras da cadeia (figura 3.14) deve ter menos que dois pares cinemáticos do tipo rotativo. Figura 3.14 - notar a impossibilidade de rotação do par rotativo R34, imposta pelo par prismático P25. P45 R15 R12 R26 R56 P23 P343 6 1 4 2 5 P'23 P'343' R12 R16 R56 R34 P23 P25 P45 2 5 6 1 3 4 Mecanismos—Cadeias Cinemáticas DEMEC-UFPE - 33 3.5.2. Cadeias Impostas Quando f = 1 numa cadeia cinemática fechada com uma barra fixa, é possível um movimento vinculado de tal forma que a configuração, em determinado instante, de uma barra qualquer da cadeia possa predizer toda a configuração do sistema naquele instante. Neste caso diz-se que a cadeia tem movimento imposto. Este é o caso de maior interesse na síntese. O critério de Grubler com f = 1 permite então escrever: (3.9) e (3.10) onde n é o número total de barras na cadeia e j é o número total de pares cinemáticos rotativos e prismáticos. Desde que estes últimos satisfaçam os três critérios anteriormente descritos. Observando-se que j deve ser sempre um número inteiro, pois não é possível ter-se fração de par cinemático, a equação (3.10) obriga que n seja par. A tabela 3.3 fornece as primeiras cadeias impostas possíveis. Tabela 3.3 - cadeias impostas possíveis Agora considerando que haja n2 barras binárias, n3 barras ternárias, n4 barras quaternárias e assim por diante até que se chegue a nk barras com k elementos cinemáticos na cadeia. Onde k representa o número de elementos cinemáticos da barra de maior ordem. O número total de barras n da cadeia será dado por: (3.11) Sendo assim, o número total de elementos cinemáticos na cadeia será doado por 2n2 + 3n3 + 3n4 + ... + knk. Agora notando que cada par n = 3 2j + 4 j = 2 3nà 2 n ... j ... 2 1 4 4 10 13 8 10 6 7 n = n2 + n3 + n4 + ...+ nk Mecanismos—Cadeias Cinemáticas 34 - DEMEC-UFPE cinemático é formado por dois elementos cinemáticos, percebe-se que o número total de pares cinemáticos na cadeia deverá ser: (3.12) Considerações geométricas na imposição da cadeia permitem que se obtenha o número de elementos cinemáticos da barra de maior ordem em função do número total de barras, denotando este número será designado pela letra k e será então: (3.13) Um fato interessante a ser observado é que nas cadeias impostas haverá sempre a necessidade de se ter barras binárias envolvidas para se conseguir mobilidade. Em função do número de barras restantes é possível se chegar a: (3.14) A demonstração desta equação, que poderá ser feita substituindo-se (3.11) e (3.12) em (3.10), ficará a cargo do aluno. É importante notar que n2 não é constante para um determinado n, uma vez que é possível se ter qualquer dos nj (2 < j ≤ k = n/2) nulo em algumas permutações dos vários tipos de cadeias com n barras possíveis. Como exemplo, vamos verificar as possíveis combinações na formação de cadeias cinemáticas e mecanismos quando o número total de barras for igual a seis. As equações (3.10) e (3.13), para este caso nos fornece: j = 7 e k = 3 Substituindo em (3.11) e (3.12) é possível se construir o sistema de equações lineares: j = 2 1(2n2 + 3n3 + 4n4 + ...+ knk) k = 2 n n2 = 4+ P i=4 i=2 n (ià 3)ni n2+n3 = 6 2n2+3n3 = 14 ú Mecanismos—Cadeias Cinemáticas DEMEC-UFPE - 35 que, após resolvido fornecerá: Ou seja, só é possível se ter movimento imposto através de uma cadeia com seis barras, se esta cadeia contiver quatro barras binárias e duas barras ternárias. Como só foi possível se encontrar uma configuração envolvendo 4 barras binárias e 2 barras ternárias, diz-se que só há possibilidade de uma permutação para o sistema. Em verdade, uma segunda permutação seria possível (figura 3.16), porém esta resultaria em uma cadeia de apenas 4 barras, uma vez que duas barras binárias em conjunto com a barra quaternária formam uma estrutura. Estas permutações - em que há possibilidade de formação de estrutura para um conjunto de barras da cadeia - não serão detectadas sempre que se use a equação (3.13) na obtenção das cadeias possíveis . Figura 3.15 - variações possíveis, em (a) cadeia de Stephenson e em (b) cadeia de Watt. Examinando estas possibilidades, é possível se montar a cadeia de duas formas diferentes (figura 3.15a e 3.15b), permitindo portanto duas variações. A variação é entendida como as formas diferentes de conectar as barras dentro de uma permutação. n2 =4 n3 =2 ú (a) (b) 1 3 2 4 5 6 R23 R34 R45 R15 R12 R36 R 16 R56 R45R34 R14 R12 R16 R23 3 2 5 6 4 1 Mecanismos—Cadeias Cinemáticas 36 - DEMEC-UFPE Figura 3.16 - permutação que degenera-se em uma cadeia de quatro barras. A partir de uma variação, é possível se conseguir os vários mecanismos (cadeia fechada com uma barra fixa) através das inversões. Cada fixação de uma barra diferente produz uma inversão da cadeia e consequentemente um mecanismo de características diferentes. Perceba que as posições relativas entre as barras quando em movimento não se alteram em cada inversão. Neste exemplo, são possíveis apenas duas inversões distintas para a cadeia de Watt e duas para a de Stephenson. As demais são idênticas a uma destas duas. 3.6. Qualidade da Transmissão de Movimento A figura 3.17 mostra a conexão pelo par cinemático rotativo Rab, de duas barras adjacentes a e b, numa cadeia cinemática qualquer. Supondo que a barra a seja a transmissora de movimento, tem-se então a força Fab aplicada por esta à barra b, através do par cinemático Rab. Imaginando-se que o centro instantâneo de rotação da barra b seja o ponto C, a força que efetivamente impõe movimento à barra b será Fnb na direção normal à barra b. A força Ftb tangente à barra b, apesar de comprimí-la, não participa da realização de movimento desta barra, porém a sua reação no elemento cinemático B da barra a vai participar do movimento desta. De fato Fba pode também ser decomposta em Fna normal a a e Fta tangente à esta barra. Aqui, novamente Fta apenas comprime a barra a, ao passo que R56 R36 R13 R12 R23 R34 R45 3 4 5 6 1 2 Mecanismos—Cadeias Cinemáticas DEMEC-UFPE - 37 Fna participa efetivamente do movimento relativo do ponto B em relação ao ponto A. O ângulo formado pelas forças Fna e Fnb é de vital importância na transmissão do movimento, em particular, é fácil notar que se este ângulo fosse reto, Ftb inexistiria e em conseqüência, toda a força Fabseria aproveitada pela barra b. Figura 3.17 - transmissão de movimento em barras a d j a c e n t e s , e m ( a ) e s f o r ç o s transmitidos e em (b) velocidades relativas. A figura 3.17b substitui as força Fna e Fnb pelas velocidades vba - velocidade relativa do ponto B em relação A - e vbc velocidade absoluta de B em relação a C, uma vez que estamos tomando C como centro instantâneo de rotação da barra b. Em função disto, podemos agora definir: ângulo de transmissão - menor ângulo entre as direções do vetor velocidade relativa vBA da barra condutora e a direção da velocidade absoluta vBC da barra conduzida. O valor ótimo, do ponto de vista da transmissão é ϕ = 90o; a tolerância recomendada é de ± 50o. Assim sendo, um mecanismo cujo ângulo de transmissão em dado instante é ϕ = 90o - α, tem o mesmo mérito que um ângulo de transmissão ϕ = 90o + α, veja a figura 3.18a. Portanto, o ângulo formado pelas barras a e b, figura 3.18, também pode ser tomado como o ângulo de transmissão ϕ em qualquer instante. A C ba Fab Fba Fnb Ftb Fta Fna B tnb tna (a) A C ba vbc vba B tnb t na (b) ϕ Mecanismos—Cadeias Cinemáticas 38 - DEMEC-UFPE Figura 3.18 - o ângulo entre as velocidades VBA e VBC tem o mesmo efeito que o ângulo formado pelas barras, no que diz respeito à transmissão do movimento. Exercícios 1. Supondo que no sistema mecânico da figura 3.3, o ponto Po gire em torno de um ponto A, de coordenadas (xA, yA), com velocidade angular constante, determine um sistema de coordenadas generalizadas e o número de graus de liberdade para o mesmo. 2. Obtenha sistemas de coordenadas generalizadas para cada um dos pares cinemáticos da figura 2.5 e determine o número de graus de liberdade de cada um deles. 3. Obtenha sistemas de coordenadas generalizadas e o número de graus de liberdade para cada um dos braços mecânicos mostrados na figura 3.19 a seguir. (a) (b) A C ba B tnb t na ϕ α α90+o α90 -o A C ba B ϕ Mecanismos—Cadeias Cinemáticas DEMEC-UFPE - 39 Figura 3.19 - braços mecânicos utilizados nos robôs. 4. Como pode ser classificado o par cinemático formado pelo mecanismo de geneva mostrado na figura 3.20? Figura 3.20 - mecanismo de geneva. 5. Dê exemplos (desenhe) de cadeias contendo pares cinemáticos do tipo helicoidal, cilíndrico, esférico e plano. 6. Faça desenhos utilizando a representação convencional dos vários modelos de mecanismos existentes no laboratório de mecânica. (a) (b) (c) Mecanismos—Cadeias Cinemáticas 40 - DEMEC-UFPE 7. Tente encontrar uma fórmula extensiva do Critério de Grübler para cadeias espaciais. 8. Demonstre que numa cadeia imposta o número de elementos cinemáticos da barra de maior ordem é dado por: 9. Numa cadeia imposta, conhecidos o número de elementos “i” da barra de maior ordem, demonstre que o número de barras binárias é dado por: 10. Analise as possíveis combinações (permutaçõoes e inversões) para cadeias de oito barras. 11. Determine o ângulo de transmissão para o par rotativo R45 no mecanismo da figura 3.15b, supondo-se que a barra 2 é fixa. k = 2 n n2 = 4+ P i=4 i=2 n (ià 3)ni
Compartilhar