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F10-Formacao-de-mediadores-de-educacao-para-patrimonio (2)

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Formação de 
Mediadores de Educação 
para Patrimônio
Carla Vieira
Turismo 
e patrimônio
SUMÁRIO
1. Apresentação ........................................................................................147
2. Para começo de conversa: o que é Turismo? .................................148
3. Políticas públicas para o Turismo no Brasil ..................................... 151
4. Turismo cultural: questões relativas 
à preservação e desenvolvimento ...................................................155
Referências ................................................................................................159
1.
APRESENTAÇÃO
gora que aprendemos so-
bre o que é patrimônio cul-
tural, sua caracterização 
e sua importância para as 
sociedades, estudamos so-
bre as principais políticas 
públicas e os instrumentos 
de proteção ao patrimônio 
cultural brasileiro, eu lhes 
convido a refletir sobre as 
ligações entre o patrimônio cultural, a me-
mória social, as identidades culturais e 
uma das atividades econômicas cujo poten-
cial de impacto sobre o patrimônio cultural 
é bastante relevante: a atividade turística.
Em nosso módulo, veremos como a 
atividade turística apropria-se do patri-
mônio cultural como espaço e suporte 
para o seu desenvolvimento. Observa-
remos também a complexidade das ma-
neiras como essa apropriação acontece. 
Que ela pode ser nociva e predatória, 
por meio de um “turismo de massa”, que 
tende a degradar e transformar, segundo 
seus interesses, os espaços culturais. Mas 
que ela pode, sim, mais importante, ser 
de maneira sustentável e positiva, opor-
tunizando, por meio do desenvolvimen-
to da atividade econômica, o reconhe-
cimento e a preservação do patrimônio 
cultural, seja ele material ou imaterial.
Ao final, apresentamos a bibliografia 
que fundamentou as reflexões realizadas 
em nosso conteúdo e que também servi-
rá como um pequeno roteiro àqueles que 
pretenderem se ater mais às questões 
aqui propostas, que inter-relacionam os 
campos do turismo e do patrimônio. Espe-
ramos que apreciem o nosso passeio.
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 147
2.
PARA COMEÇO 
DE CONVERSA: O 
QUE É TURISMO?
s estudos sobre a Teoria 
do Turismo, enquanto 
atividade econômica, são 
bastante recentes, o que 
faz com que não tenha-
mos uma conceituação 
mais rígida sobre o que 
é turismo. Ainda assim, 
para o propósito desse 
fascículo, vamos eleger 
alguns entendimentos do que é o turismo, 
que podem ser vistos como consensuais. 
O primeiro deles compreende o tu-
rismo como um sistema de atividades e 
serviços que envolvem o planejamento, a 
promoção e a execução de uma viagem, 
seja ela especificamente atrelada ao lazer 
ou não (MOESCH, 2002).
148 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
Quando se pensa em uma viagem a um 
destino fora daquele onde residimos, não 
apenas o destino em si importa – país, esta-
do, cidade –, mas todas as questões relacio-
nadas ao atendimento dos nossos objetivos 
como viajantes, a exemplo da hospedagem, 
do receptivo, da infraestrutura de demais 
serviços e dos pontos a serem visitados no 
destino escolhido. É ao atendimento de 
todas essas necessidades que se propõe a 
atividade turística que, como atividade eco-
nômica – não percamos de vista – visa prin-
cipalmente à produção de riquezas.
Outro conceito que podemos tomar é 
o expresso pela Organização Mundial de 
Turismo (OMT), órgão internacional de 
caráter intergovernamental, hoje agên-
cia especializada da Organização das Na-
ções Unidas (ONU), que visa à promoção 
e ao desenvolvimento da atividade turís-
tica através de políticas e instrumentos de 
apoio à área. Ela apresenta o turismo como 
“um fenômeno social, cultural e econômi-
co, que envolve o movimento de pessoas 
para lugares fora do seu local de residência 
habitual, geralmente por prazer (NACIO-
NES UNIDAS/ UNWTO, s/d, apud TROCCO-
LI, 2014). Esse entendimento dá ênfase às 
relações sociais, culturais e econômicas 
da atividade turística, ligando-a principal-
mente ao tempo livre e à cultura do lazer.
Historicamente, foi em meados do sé-
culo XX, sobremaneira após a Segunda 
Guerra Mundial, que uma onda otimista 
cercou os grandes centros urbanos, re-
construindo suas economias e oportuni-
zando o cultivo da ideia do direito ao lazer 
pago e a de que as férias representam um 
período importante dentro do calendário 
laboral, servindo como forma de renova-
ção do trabalhador (URRY, 2001). 
É justamente esse tempo livre possibilita-
do ao lazer, como finais de semana, feriados 
ou férias, o principal incentivador da busca 
pelo Turismo como necessário ao bem-es-
tar, importante para a qualidade de vida de 
todas as pessoas, sem que esqueçamos sua 
importância no desenvolvimento econômi-
co e sua influência política e cultural.
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 149
SE
LIGA!
Em muitas cidades, a atividade turís-
tica passou a ter enorme destaque, movi-
mentando vultosas somas e impactando a 
vida de milhares de pessoas. 
Devemos avaliar esse impacto de 
duas formas: 
1. uma que incide sobre a economia, 
que envolve todas as cadeias de 
serviços ligados direta ou indire-
tamente – como empresas de tu-
rismo, guias, hotéis, restaurantes 
etc. – aos processos que compre-
endem a chegada, a permanência 
e a partida do turista; e
2. a que impacta sobre o usuário 
desses processos, o turista, que 
é modificado em sua forma de 
compreender o mundo, uma vez 
que suas viagens lhe proporcio-
nam o conhecer não apenas de 
outros espaços, alheios aos seus 
rotineiros, mas outros “olhares” a 
outras culturas, um conhecer nas-
cido ante à diferença de outras for-
mas de organização do mundo.
Todas essas questões nos fazem pen-
sar sobre a importância do turismo para 
as sociedades.
As palavras inglesas tourism e 
tourist aparecem em documentos 
britânicos desde o ano de 1760. É 
também da Inglaterra aquele que é 
considerado “o pai das agências de 
viagens”, Thomas Cook, que teria 
organizado, em 1841, a primeira 
excursão “turística” da história, 
quando elaborou os preparativos e 
a viagem de 578 pessoas da cidade 
de Loughborough a Leicester, para 
participarem de um congresso 
antialcoolismo. Foi ele o criador 
da primeira agência de viagens 
(OLIVEIRA, 2001).
SAIBA 
MAIS
A OMT tem, na verdade, uma 
história bem mais longeva que a 
iniciada na década de 1970. A Orga-
nização tem origem no I Congresso 
Internacional de Associações Ofi-
ciais de Tráfego Turístico, aconteci-
do em Haia, em 1925. 
O evento objetivava tratar 
dos desafios até então 
apresentados pelo crescente 
desenvolvimento do turismo. 
Ao longo das décadas, muitas 
organizações sucederam-se até a 
formação da OMT e sua posterior 
vinculação à ONU, em 2003.
150 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
3. 
POLÍTICAS 
PÚBLICAS PARA 
O TURISMO 
NO BRASIL
turismo no Brasil é carac-
terizado pela oferta de 
inúmeros atrativos natu-
rais espalhados por todo 
o seu território e pautados 
na exuberante beleza de 
seus biomas, mas tam-
bém por um diverso re-
pertório de bens culturais, 
materiais e imateriais, que 
contam sobre a história e a cultura brasi-
leiras a todos que visitam nosso território. 
Essas características tornam o país um 
destacado lugar de atratividade turística, 
que ao longo dos anos vem demandando 
a elaboração de políticas públicas para re-
grar e regulamentar, bem como estabele-
cer objetivos, diretrizes e estratégias para 
a sua promoção e o seu desenvolvimento 
em território brasileiro, uma tarefa que 
não tem sido necessariamente fácil. 
Data da década de 1950 a elaboração 
dos primeiros instrumentos de regu-
lação do turismo no Brasil, quando da 
criação do Conselho Nacional de Tu-
rismo (CNT), da Empresa Brasileira de 
Turismo (Embratur) e do Fundo Geral de 
Turismo (Fungetur). 
Nas últimas décadas, o governo brasilei-
ro tem demonstrado uma maior disposição 
para implementar políticas de regulação e 
desenvolvimento do setor. Em 2003 – atra-
vésde um Decreto, posteriormente con-
vertido na Lei nº 10.683, de 28 de maio do 
referido ano – a pasta do Turismo ganhou 
autonomia dentro do governo federal, 
saindo do antigo Ministério do Esporte e do 
Turismo, ganhando um Ministério próprio.
Atualmente, é de competência do Mis-
tério do Turismo (Portaria nº 36, de 29 de 
janeiro de 2019):
I. a política nacional de desenvolvi-
mento do turismo;
II. a promoção e a divulgação do turis-
mo nacional, no país e no exterior;
III. o estímulo às iniciativas públicas 
e privadas de incentivo às ativida-
des turísticas;
IV. o planejamento, a coordenação, 
a supervisão e a avaliação dos 
planos e dos programas de incen-
tivo ao turismo;
V. a criação de diretrizes para a inte-
gração das ações e dos programas 
para o desenvolvimento do turismo 
nacional entre os governos federal, 
estaduais, distrital e municipais;
VI. a formulação, em coordenação 
com os demais ministérios, de po-
líticas e ações integradas destina-
das à melhoria da infraestrutura e 
à geração de emprego e renda nos 
destinos turísticos;
VII. a gestão do Fundo Geral de Turis-
mo (Fungetur); e
VIII. a regulação, a fiscalização, e o 
estímulo à formalização, à certi-
ficação e à classificação das ati-
vidades, dos empreendimentos e 
dos equipamentos dos prestado-
res de serviços turísticos.
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 151
Quando pensamos na busca do patri-
mônio cultural como atrativo turístico, 
importa-nos observar que muitas das 
discussões que aconteceram nas últimas 
décadas falam da urgência da realização 
de um turismo sustentável como forma 
de realização de atividades que atendam, 
com o mesmo grau de importância, às 
necessidades econômicas e sociais dos 
agentes promotores do turismo e das po-
pulações das regiões receptoras.
No entanto, conforme anunciado, 
essa não tem sido tarefa fácil, uma vez 
que muitas das formas de turismo, so-
bremaneira aquelas entendidas como 
“turismo de massa”, trazem um número 
descontrolado de visitantes que usu-
fruem de maneira irresponsável dos es-
paços visitados e de seus recursos, tra-
zendo, às vezes, mais prejuízos do que 
desenvolvimento às populações locais. 
Pode-se, inclusive, gerar o esgotamento 
dos recursos naturais ou o esvaziamen-
to de significados dos espaços culturais, 
que são desfigurados para o atendimen-
to imediato das expectativas da ativida-
de turística ou ainda problemas de natu-
reza social, como o desenvolvimento de 
polos de turismo sexual, o aumento da 
venda e consumo de drogas ilícitas, entre 
outros fatores nocivos.
PARA OS
CURIOSOS
O seu estado ou cidade 
possuem Planos Estaduais 
ou Municipais de Turismo? 
Caso positivo, que tratamento 
esse documento oferece à 
necessidade de sustentabilidade 
sociocultural? 
O que se diz, se garante 
ou recomenda sobre a preservação 
do patrimônio cultural?
152 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
PARA OS
CURIOSOS
Como se realizam as políticas 
públicas de proteção ao patrimônio 
em sua cidade ou estado e 
como elas podem favorecer o 
desenvolvimento do turismo? 
Caso não existam, que projetos 
ou ações você pode sugerir 
aos poderes públicos locais ou 
organizações da sociedade civil?
Há que se realizar um planejamento 
baseado em pontos de partida que visem 
à sustentabilidade das áreas receptoras 
(RUSCHMANN, 2001). Os Planos Nacionais 
de Turismo, expressos em metas, diretrizes 
e programas, trazem tal preocupação. O 
mais recente deles, o Plano Nacional de 
Turismo 2018-2022, estabelece, em sua Di-
retriz 3.4, a promoção da sustentabilidade, 
entendida como a “preservação não ape-
nas dos recursos naturais, mas da cultura e 
da integridade das comunidades visitadas”.
O documento, que deve servir de “car-
ta de navegação” ao desenvolvimento das 
políticas públicas para o turismo no Bra-
sil, bem como estabelece compromissos 
a serem cumpridos pelo governo federal, 
destaca a importância da sustentabili-
dade sociocultural, que deve assegurar 
a preservação das culturas locais e dos 
valores morais das populações, da mes-
ma forma que deve fortalecer as iden-
tidades das comunidades e contribuir 
para o seu desenvolvimento.
O Plano 2018-2022 traz também, como 
uma de suas iniciativas principais, a de apri-
moramento da oferta turística nacional, ten-
do como primeira estratégia a promoção da 
valorização do patrimônio cultural e natural, 
entendendo-se que, para que os destinos 
turísticos do país sejam mais atrativos, eles 
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 153
devem destacar-se não somente pela qua-
lidade de infraestrutura, equipamentos e 
serviços, mas, fundamentalmente, por sua 
capacidade de inovação e criatividade.
Como exemplo dessa capacidade, po-
demos citar os recentes títulos de Cidades 
Criativas atribuídos pela Unesco às cidades 
de Fortaleza (CE) e Belo Horizonte (MG). As 
capitais foram reconhecidas por promove-
rem o desenvolvimento sustentável através, 
respectivamente, do design e da culinária.
Com o título, as capitais têm a opor-
tunidade, entre outras, de participar de 
projetos internacionais de fomento à 
indústria criativa de forma sustentável 
e inclusiva (O POVO, 31 de dezembro de 
2019), contribuindo não apenas para seu 
desenvolvimento, mas para a valorização 
de seu patrimônio cultural.
Essa valorização, para que seja apro-
veitada como atrativo turístico, depende 
das comunidades onde os referidos bens 
culturais estão inseridos. Exige envolvi-
mento e a capacitação de seus membros, 
além da construção de sólidas relações de 
pertencimento, impedindo a elaboração 
de cenários e experiências artificiais que 
visem tão somente a destacar elementos 
exóticos de atração para os turistas, preju-
dicando o reconhecimento e a valorização 
dos patrimônios culturais locais.
Nesse sentido, a educação patrimonial 
precisa assumir seu papel nas elaboração 
e execução das políticas públicas – não so-
mente voltadas ao turismo, mas para várias 
áreas possíveis – promovendo e difundindo 
a importância do patrimônio cultural pe-
PARA OS
CURIOSOS
O Brasil é formado por seis 
diferentes biomas de aspectos 
bastantes distintos, sendo esses 
a Amazônia, a Caatinga, o Cerrado, 
a Mata Atlântica, os Pampas e o 
Pantanal, todos eles abrigando 
uma incontável riqueza de 
biodiversidade, de flora e fauna. 
Conheça mais sobre esses 
biomas em: www.mma.gov.br/
biomas.html.
las comunidades, que devem assimilá-lo e 
apropriar-se dele de maneira mais consis-
tente, contribuindo para o entendimento 
e o fortalecimento de suas identidades, 
como também tornando mais eficientes os 
elos da cadeia econômica do turismo.
Nesse processo, a atuação conjunta 
dos órgãos responsáveis pelos bens cultu-
rais, como aqueles relacionados ao meio 
ambiente e à cultura, apresenta-se como 
fundamental para a criação e a efetivação 
de programas, projetos e ações de gestão 
das áreas onde está assentado o patrimô-
nio cultural que se quer evidenciar.
154 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
SE
LIGA!
4.
TURISMO CULTURAL: 
QUESTÕES RELATIVAS 
À PRESERVAÇÃO 
E AO DESENVOLVIMENTO
odemos afirmar que “toda 
viagem turística é uma expe-
riência cultural”, afinal, ao ex-
perimentar espaços diferen-
tes do seu habitual, o turista 
experimenta também outros 
olhares, sabores e visões de 
mundo. Para que consigamos 
diferenciar um turista comum 
do turista cultural, precisamos 
observar suas motivações. 
O turismo cultural é realizado por 
meio da busca por destinos turísticos que 
se constituem previamente como atrativos 
culturais, sejam de natureza material ou 
imaterial, chancelados ou não por órgãos 
oficiais, excluindo-se aqueles locais que, 
embora de alguma maneira estabeleçam 
relações com cultura de um povo, tenham 
suas características naturais como o princi-
pal incentivo à visitação (BRASIL, 2010).
Dessa forma, o turismo cultural desen-
volve-se em espaços onde não é a natureza, 
mas os aspectos relacionados à atividade 
humana, às relações de um universocultu-
ral diferente daquele experimentado pelo 
turista em seu cotidiano habitual, que se 
apresentam como foco principal. Ou seja, 
a motivação do turista cultural é a busca 
pela diferença, que lhe é apresentada por 
lugares de memória e manifestações de 
caráter único, carregados de simbologia 
expressa através da história, da arte, da ar-
quitetura ou de manifestações religiosas e 
festivas de caráter popular, onde a música, 
a dança e inúmeras outras linguagens com-
põem um todo diferenciado.
A origem do turismo cultural 
antecede às outras formas 
de turismo, podendo ser 
encontrada no Grand Tour, 
viagem realizada mormente 
pelos filhos da aristocracia 
inglesa de finais do século XVII, 
em busca de conhecimentos 
através de viagens a lugares 
como Paris e algumas das cidades 
italianas. Durante as viagens, os 
estudantes ocupavam-se com 
a identificação e a descrição de 
grandes monumentos europeus, 
relacionando-os à história das 
civilizações (URRY, 2001). Ainda 
que bastante seletivas, uma vez 
que bastante caras e muito mais 
ligadas à educação dos jovens que 
as experimentavam, tais viagens 
são o princípio do que hoje 
chamamos de turismo cultural. 
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 155
Ao longo do território brasileiro, como 
vimos nos módulos deste curso, são inú-
meras as cidades, os espaços e as mani-
festações culturais que dão conta da plu-
ralidade de características do nosso povo 
e da força das muitas identidades que o 
compõem. Não por acaso, cada vez mais 
a busca por destinos turísticos culturais 
ganha força e movimenta atores e capi-
tais para a sua realização. Em decorrên-
cia, são muitos os problemas que desse 
movimento podem surgir.
Vimos também, em fascículos anterio-
res, que há um repertório de leis e progra-
mas de proteção ao patrimônio cultural 
brasileiro, replicado, com algumas nuan-
ces, por muitos estados e municípios. Mes-
mo com esses instrumentos de proteção, 
é importante pensarmos que o tratamen-
to desse patrimônio como “produto” a ser 
comercializado pela atividade turística, 
sem o devido planejamento, tende a be-
neficiar apenas os sujeitos promotores 
do turismo (LEITE, 2004).
Como atividade relacionada ao fluxo 
de pessoas, o turismo estabelece o in-
tercâmbio de diferentes culturas. Sua 
interferência nos lugares visitados pode 
ir desde a degradação física de monu-
mentos e outros patrimônios materiais, 
devido a uma visitação em massa sem 
regramentos ou fiscalização devidos 
(como o caso de turistas que gravam suas 
iniciais em sítios arqueológicos ou remo-
vem fragmentos de fachadas e edifícios 
históricos para levarem como suveni-
res), à desfiguração e consequente esva-
ziamento de sentidos ocasionados pela 
transformação de tradições e espaços de 
manifestações culturais em “mercado-
ria” estilizada ao gosto de turistas ansio-
sos pelo exotismo da “cultura do outro” 
(como a espetacularização exacerbada 
de folguedos e festas populares).
156 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
A medida que um bem cultural assu-
me um valor comercial, o risco da perda 
de sua autenticidade aumenta expo-
nencialmente, pois sobre ele passam 
a atuar outros atores e interesses que 
não aqueles que originalmente os cons-
tituíram (OMT, 2001).
Os governos, aliados à iniciativa priva-
da, sempre tiveram clara a necessidade 
de investimento em infraestrutura turís-
tica, como hotéis, restaurantes, bares e 
atrações culturais, objetivando a dina-
mização da oferta e procura turística em 
um dado espaço. Porém, cada vez mais se 
impõe a necessidade de investimento em 
planejamento para a exploração do tu-
rismo cultural de forma sustentável, de 
modo que sejam respeitados os modos 
de vida, as tradições e as identidades 
das regiões receptoras, principalmente 
potencializando a inserção das comuni-
dades nessa cadeia produtiva.
Muitos museus e sítios arqueológicos 
estabelecem políticas rígidas de visita-
ção, como horários e número limitado 
de pessoas para determinadas ativida-
des ou a proibição do consumo de ali-
mentos ou bebidas durante as visitas, 
entre outros. Mas os exemplos positivos 
mais significativos vêm do que se con-
vencionou chamar de turismo de base 
comunitária, que surge em oposição ao 
turismo de massa e contribui para que 
empreendedores externos não dominem 
as tomadas de decisão sobre o espaço e 
o cotidiano das comunidades.
O turismo de base comunitária, ou 
simplesmente turismo comunitário, é 
um modelo de gestão da atividade turís-
tica protagonizado pela comunidade, no 
qual as decisões e os benefícios auferidos 
são coletivos, “promovendo a vivência in-
tercultural, a qualidade de vida, a valoriza-
ção da história e da cultura dessas popu-
lações, bem como a utilização sustentável 
dos recursos para fins recreativos e educa-
tivos” (ICMBIO, 2018).
Tal modalidade de turismo objetiva não 
apenas a oferta do espaço e das manifesta-
ções ao usufruto do visitante, mas oportu-
niza a troca de experiências entre dife-
rentes grupos, com diferentes culturas 
e modos de vida. Para tanto, as atividades 
do turismo comunitário devem surgir como 
complemento às atividades tradicionalmen-
te realizadas pelas comunidades, gerando 
emprego e renda, sem que isso modifique 
de forma profunda a dinâmica local. Deve 
ser uma troca em várias direções, oportuni-
zando a reflexão e o aprendizado para mo-
radores e visitantes, sem perder de vista as 
características identitárias dos nativos, 
onde as mudanças e as permanências de-
vem ser problematizadas coletivamente.
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 157
Um interessante exemplo vem da ci-
dade de Nova Olinda, situada no Cariri 
cearense, morada de muitas referências 
dos saberes tradicionais, conhecidos 
como Tesouros Vivos. A região constitui 
um verdadeiro caldeirão efervescente de 
inúmeras manifestações culturais, como 
reisados, grupos de coco e de maneiro-
-pau, rabequeiros, ceramistas, cabacei-
ros, xilógrafos, poetas populares, mestres 
do couro e muitos mais. Além de agregar 
tesouros do patrimônio natural, especial-
mente ligados à Geologia e Paleontolo-
gia, no âmbito do Geopark Araripe, pri-
meiro parque geológico das Américas 
reconhecido pela Unesco, como vimos 
em nosso terceiro módulo. 
Diante de tamanha profusão cultural, 
a procura pela região como atração turís-
tica vem-se impondo, acompanhada da 
necessidade de preservação do patrimô-
nio ali verificado. 
Por essa razão, a Fundação Casa Gran-
de: memorial do Homem do Kariri, or-
ganização não-governamental localizada 
em Nova Olinda, vem desenvolvendo há 
mais de 25 anos uma série de atividades 
de fomento à cultura da região, ao empre-
endedorismo juvenil e à geração de renda 
voltada ao turismo.
Situada em uma casa de arquitetura 
tradicional do sertão cearense, a Fundação 
possui museu, biblioteca, Gibiteca (talvez a 
de maior acervo no Ceará), videoteca, esta-
ção de rádio, estúdio de música e vídeo, la-
boratório de Arqueologia, restaurante, dois 
Tesouros Vivos
São parte da política 
do Governo do Estado 
do Ceará para o 
reconhecimento, a 
valorização e a proteção 
do patrimônio cultural 
imaterial cearense. 
Anualmente, através de 
edital público, indivíduos 
e grupos detentores de 
saberes tradicionais são 
diplomados e recebem da 
Universidade Estadual do 
Ceará o título de Doutor 
Honoris Saber, além 
de uma remuneração 
vitalícia do estado, 
passando a integrar as 
programações de diversos 
equipamentos culturais 
públicos, nos quais 
divulgam seu saber para 
as futuras gerações.
cafés, uma lojinha e o Teatro Violeta Arraes: 
engenho de Artes Cênicas. Suas atividades 
são dirigidas por crianças e geridas por 
elas, de forma coletiva e sob a supervisão 
de alunos mais velhos da instituição. 
Além dessas ações, foi criada a Coope-
rativa de Amigos da Casa Grande (Coopa-
gran). Por meio dela, os turistas que visitam 
a região podem hospedar-se nas pousadas 
domiciliares que ficam nas casas dos co-
operados, famílias das crianças daCasa 
Grande. Lá, os visitantes convivem e fazem 
as refeições preparadas pelos moradores, 
oportunizando trocas culturais de imenso 
valor. Podem ainda conhecer muitos luga-
res da região e os Tesouros Vivos, tendo os 
cooperados como guias turísticos.
A ação tem como foco o fortalecimen-
to das mulheres, donas das casas, e dos 
jovens, que se atualizam constantemente 
em cursos de formação e realizam o recep-
tivo turístico. Como resultado, o trabalho 
da OSC estimulou o turismo na cidade 
de Nova Olinda e a tornou referência de 
turismo comunitário no estado do Ceará, 
rendendo-lhe diversas condecorações: o 
Prêmio Unicef de Criatividade Patativa do 
Assaré, em 2002; o Prêmio Fellow Empre-
endedor Social Ashoka, 2002; a Ordem do 
Mérito Cultural, dada pelo Ministério da 
Cultura, em 2004; o título de Casa do Patri-
mônio da Chapada do Araripe, Iphan 2009; 
e o Prêmio Economia Criativa 2012, do Mi-
nistério da Cultura.
As iniciativas da Fundação, que se so-
mam às de outras instituições espalhadas 
pelo país, são um bom exemplo de inter-
face possível entre o reconhecimento, a 
valorização, a preservação cultural e o de-
senvolvimento da atividade turística. 
Dada a sua inegável importância, 
urge a necessidade de encontrar-se um 
equilíbrio para o seu desenvolvimento 
ordenado, sendo o bom planejamento, 
fundamentado nas prerrogativas da sus-
tentabilidade e da educação patrimo-
nial, ferramentas fundamentais.
158 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
REFERÊNCIAS
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Fortaleza. Anais, 2014.
URRY, John. O olhar do turista: lazere 
viagens nas sociedades contemporâneas. 
São Paulo: Nobel/ SESC, 2001.
AUTORA
Carla Vieira é historiadora 
licenciada pela Universidade 
Estadual do Ceará (Uece), 
especialista em História da Arte 
e mestre em História Social 
pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo (PUC/SP). 
É autora dos livros 
O Theatro José de Alencar do 
Início do Século XX: modernidade 
e sociabilidades (Secult, 2010) 
e Sociabilidade e Lazer: Fortaleza 
do início do século XX (Inesp, 2015). 
Atua nas áreas de Patrimônio 
e Museologia. Desde 2013 
é gestora do Museu do Ceará 
 e do Museu Sacro São José 
de Ribamar (Aquiraz/CE).
ILUSTRADOR
Daniel Dias é ilustrador e artista 
gráfico, com extensa produção em 
projetos editoriais, sendo a maior 
parte destinada ao público infantil 
e infantojuvenil. Seu trabalho 
tem como base a pesquisa de 
materiais e estilos, envolvendo 
estudo de técnicas tradicionais 
de pintura, desenho, fotografia e 
colorização digital.
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 159
Este fascículo é parte integrante do projeto 
Formação de Mediadores de Educação 
Patrimonial, em decorrência do Termo de 
Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito 
Rocha e a Secretaria Municipal de Cultura de 
Fortaleza, sob o nº 02/2019.
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
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EXPEDIENTE: 
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
João Dummar Neto 
Presidente 
André Avelino de Azevedo 
Diretor Administrativo-Financeiro 
Marcos Tardin 
Gerente Geral 
Raymundo Netto 
Gerente Editorial e de Projetos 
Emanuela Fernandes 
Analista de Projetos
UNIVERSIDADE ABERTA 
DO NORDESTE (UANE)
Viviane Pereira
Gerente Pedagógica 
Marisa Ferreira
Coordenadora de Cursos
Joel Bruno 
Designer Educacional
Thifane Braga 
Secretária Escolar
CURSO FORMAÇÃO DE MEDIADORES 
DE EDUCAÇÃO PARA PATRIMÔNIO
Raymundo Netto 
Coordenador Geral, Editorial e Revisor
Cristina Holanda
Coordenadora de Conteúdo 
Amaurício Cortez 
Editor de Design e Projeto Gráfico
Miqueias Mesquita
Diagramador 
Daniel Dias
Ilustrador
Thaís de Paula 
Produtora
ISBN: 978-85-7529-951-7 (Coleção) 
ISBN: 978-85-7529-961-6 (Fascículo 10)
Realização
Apoio
Universidade 
Estadual do Ceará

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