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1 1 DISCIPLINA Teoria Geral do Processo BIBLIOGRAFIA Básica DINAMARCO, Cândido Rangel; LOPES, Bruno Vasconcelos Carrilho. TEORIA GERAL DO NOVO PROCESSO CIVIL. São Paulo: Malheiros, 2016. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL em vigor. Complementar THEODORO JR., Humberto. CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL. V1. São Paulo: Grupo GEN Editora Forense, 2017. MARINONI, Luiz Guilherme. TEORIA GERAL DO PROCESSO, v1., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio; MITIDIERO, Daniel. CURSO DE PROCESSO CIVIL, v. 2: Tutela dos Direitos Mediante Procedimento Comum. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. CURSO AVANÇADO DE PROCESSO CIVIL. V1: TEORIA GERAL DO PROCESSO. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. DIDIER JR. Fredie. CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL. V. 1. Salvador: Juspodivm, 2017. MEDINA, José Miguel Garcia. Direito Processual Civil Moderno. Volume único. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. GONÇALVES, Marcos Vinícius Rios. DIREITO PROCESSUAL CIVIL ESQUEMATIZADO. São Paulo: Saraiva, 2017. AULA 1: APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA E CONCEITOS BÁSICOS 1. Direito Processual Ramo de direito público do estudo do direito composto por um conjunto de normas jurídicas aplicáveis para a obtenção da tutela jurisdicional. O processo é estudado como teoria geral, composto por regras e princípios gerais aplicáveis a todo tipo de processo e também nos ramos específicos conforme a especialidade da matéria: civil, constitucional, trabalhista e penal. 2. Institutos Fundamentais do Direito Processual A doutrina enumera institutos fundamentais que devem ser estudados de modo organizado: jurisdição, ação, defesa e processo. 3. A nova teoria geral do processo As transformações da metodologia jurídica também influenciam o direito processual. O reconhecimento da força normativa da Constituição, o desenvolvimento da teoria dos princípios, a expansão dos direitos fundamentais e a transformação da hermenêutica jurídica com o reconhecimento do papel criativo e normativo da atividade jurisdicional, permitiram o desenvolvimento da ideia de que a função jurisdicional é essencial ao desenvolvimento do direito. O direito positivo passa a ter um conteúdo mínimo ético, pautado no valor da dignidade da pessoa humana. 2 2 4. Constitucionalização do Direito Processual Fenômeno típico do direito contemporâneo em que se observa uma incorporação dos textos constitucionais em normas processuais. Estas passam a ser dispostas como direitos fundamentais e parâmetro de identificação de um modelo constitucional de processo. As normas processuais infraconstitucionais passam a ter o papel de concretizar a Constituição, o que levou ao aprimoramento da Jurisdição Constitucional e da aproximação entre processualistas e constitucionalistas. Artigo 1º do Novo CPC: “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste código.”. O forte caráter simbólico deste artigo permite constatar a constitucionalização das normas processuais e a importância dos valores constitucionais para o desenvolvimento do processo. Trata-se de norma elementar de um sistema constitucional, dada a sua obviedade, mas possui caráter pedagógico para demonstrar a posição do legislador que reconhece a força normativa da Constituição. 5. Processo e Direito Material “Processo é um método de exercício da jurisdição” (DIDIER, p. 37). A situação jurídica carecedora de tutela jurisdicional é o direito material processualizado. Em todo processo há um direito material subjacente, razão pela qual não pode haver processo neutro pois o direito material é seu objeto. Por esta razão, o processo serve à situação jurídica posta (direito material) e deve ser estruturado compreendido e estruturado para servir de instrumento de tutela. Relação circular entre direito material e processo: “O processo serve ao direito material, mas para que lhe sirva é necessário que seja servido por ele” (CARNELUTTI apud DIDIER JR.). Existem dois planos distintos: direito processual e direito material. Mas há um nexo de finalidade que une estes planos, capaz de unir o instrumento (direito processual) ao objeto (direito material). 6. Escopos do Processo Escopos, são os objetivos que devem ser alcançados por meio do processo. Sendo o processo um instrumento do direito, possui os seguintes escopos: • Social – pacificador e educador; • Político – estabilidade às instituições políticas e exercício da cidadania; • Jurídico – atuação da vontade concreta do DIREITO. Teoria Dualista do Direito Teoria Unitária do Direito • Ordem jurídica em dois planos distintos; • Direito material e substancial Direito Processual; • Decisão judicial REVELA a norma destinada a reger o caso em julgamento. • Ordenamento jurídico unitário; • Processo e direito material unidos; • Decisão judicial CRIA direitos. 7. Fontes do Direito Processual O estudo da Teoria Geral do Processo é fruto da autonomia científica alcançada pelo direito processual. Tem como foco o estudo do complexo de regras e princípios que regem o exercício 3 3 da jurisdição, da ação e do processo. Indicar a fonte do direito significa saber identificar a criação da norma jurídica e o modo como o direito se manifesta. Formais Não Formais • - Primária: Lei • Secundária: - Analogia, costumes, princípios gerais do direito; - Súmulas vinculantes do STF; - Precedentes judiciais vinculantes. - Doutrina; - Precedentes judiciais não vinculantes. 8. Tipos de Direito Processual Pela visão unitarista, a teoria geral do processo configura uma estrutura básica que permite uma condensação científica e metodológica dos principais conceitos e princípios que nortearão a atividade jurisdicional. Assim, o direito processual interno pode ser dividido em: Direito Processual Civil Direito Processual Penal Comum Especial Comum Especial • Processual do Trabalho; • Processual Eleitoral. • Processual Militar; • Processual Eleitoral. AULA 2: NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 1. Evolução histórica do direito processual • ANTIGUIDADE – Teoria imanentista: confusão entre processo e direito. Direito Processual não era reconhecido como ciência autônoma. Direito Processual fazia parte do direito material. O processo era oral e solene. Início do desenvolvimento de procedimentos. • IDADE MÉDIA – No período do formulário (fórmulas escritas), o direito e processo ainda se confundem. Simbiose entre o direito do império romano e o direito dos bárbaros, fundado em ritos e superstições. Início do desenvolvimento do processo no Direito Romano: base escrita, princípios e regras na extraordinária cognitio. • MODERNIDADE – processo como ciência, separado do direito material. Pressupostos processuais próprios, diferentes das relações de direito material. Amplo desenvolvimento do direito processual: natureza, conceitos, classificações e estudo de seus institutos fundamentais. Fase do processualismo: Oskar Von Bülow, Chiovenda, Carnelutti, Liebman e Capeletti, são alguns dos doutrinadores clássicos essenciais. • CONTEMPORANEIDADE – Fase do neoprocessualismo ou do formalismo valorativo. Busca de acesso à justiça e de satisfação mediante a atividade jurisdicional. Juris- satisfação. Reaproximação do direito com a moral permite a abertura do direito processual para a compreensão constitucional do processo. Influência do neoconstitucionalismo. Processo como instrumento de obtenção da justiça. Busca-se a tutela jurisdicional efetiva. 1.1. Fases do Direito Processual (Fredie Didier Jr.) 1) Praxismo ou sincretismo – o processo era a realização prática do direito material e não havia preocupação científica com o seu desenvolvimento. 2) Processualismo – o direito processual desenvolve-secomo ciência autônoma ao ser separado do direito material. 4 4 3) Instrumentalismo – relação circular de interdependência entre o direito processual e o direito material. O desenvolvimento do processo como ciência pauta-se na característica da efetividade. 4) Neoprocessualismo – com fundamento no neoconstitucionalismo, esta fase também é denominada de formalismo valorativo. Neoprocessualismo Formalismo valorativo ▪ Originário do neoconstitucionalismo; ▪ Revisão das categorias processuais a partir de novas premissas teóricas (“neo”); ▪ Jurisdição, ação, defesa e processo repensados a partir do Estado Constitucional e da Teoria dos Direitos Fundamentais. ▪ Doutrina de Carlos Alberto Álvaro de Oliveira (UFRGS); ▪ Destaca a importância dos valores da Constituição e reforça aspectos éticos do processo (princípio da cooperação, devido processo legal e boa-fé processual); ▪ Moralidade na aplicação das normas processuais. Observação: Tanto o formalismo valorativo como o neoprocessualismo pautam-se nas premissas do neoconstitucionalismo, que propõe uma revisão metodológica da teoria do direito a partir da reaproximação do direito com a moral, tendo por base a centralidade da Constituição no ordenamento jurídico (força normativa). 1.2. Evolução do Processo Civil no Brasil • PERÍODO COLONIAL – Ordenações Filipinas, proclamadas em Portugal, regulavam as relações durante o Império. • CONSTITUIÇÃO de 1891 – Na república, estabeleceu-se a capacidade dos Estados de legislar sobre processo: Justiça dos Estados e Códigos Estaduais. • CONSTITUIÇÃO de 1934 – Unificação do direito processual: competência exclusiva da UNIÃO para legislar sobre processo civil: Código de 1939, 1973 e de 2015. 2. Norma processual As normas processuais são regras e princípios de direito público estabelecidas pelo Estado brasileiro para a disciplina do exercício do poder jurisdicional. Possuem caráter instrumental, pois definem o modo como o conflito de interesses será examinado e a participação dos sujeitos no processo. Indicam o procedimento necessário para a composição da lide e solução da demanda. Normas processuais Normas procedimentais Só a UNIÃO institui: - Matéria processual. Ex: Código de Processo Civil. União, Estados e DF podem instituir: - Procedimentos em matéria processual (art. 24, XI, Cf/88); - Normas de organização judiciária (art. 96, I “a”e 125, §1º, CF/88). 2.1. Norma processual no tempo O artigo 1.046 do CPC afirma que a lei processual tem aplicação imediata, sendo vedado efeito retroativo. A lei processual passa a vigorar 45 dias após a sua publicação (art. 1º, LINDB), salvo disposição em contrário. Respeita-se o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. 5 5 NOVO CPC – o novo Código teve vacatio de 1 ano após a sua publicação, por disposição expressa. Atingiu-se os processos em curso, respeitando a eficácia de atos já realizados (isolamento dos atos processuais). 2.2. Norma processual no espaço Pelo princípio da territorialidade, as normas processuais são aplicadas em todo território brasileiro. Não se aplica lei processual estrangeira por juiz nacional. 2.3. Normas convencionais e negociação processual O novo Código estabelece no artigo 190 que as partes podem convencionar mudanças no procedimento para melhor adequá-lo à causa, cabendo ao juiz o controle de validade das convenções. A doutrina identifica este dispositivo como um negócio jurídico processual, pois se trata da possibilidade das partes estabelecerem mudanças na norma processual estabelecida pelo Estado no curso de uma relação jurídica processual de que façam parte. É importante que essa relação processual diga respeito a direito que admita a autocomposição, pois apenas interesses privados podem ser negociados desse modo. Normas cogentes Normas não cogentes Ordem pública Dispositiva Inderrogáveis Derrogáveis Interesse Público (Social) Interesse privado AULA 3: PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL 1. Princípios do novo direito processual No Código de 1973 os princípios eram considerados meramente como forma de supressão de lacunas no ordenamento jurídico. Isso se deve ao fato de que no início do século XX, os juristas se preocupavam em estudar as legislações, pois as Constituições não tinham muita importância normativa, já que eram consideradas apenas como consolidações de ideias políticas, servindo como um documento para organizar as estruturas do Estado. Em razão dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, o chamado NEOCONSTITUCIONALISMO surgiu como um novo movimento teórico capaz de transformar os estudos de Direito Constitucional. A partir de então, desenvolveu-se a teoria de princípios e a teoria dos Direitos Fundamentais, teorias responsáveis por conferir validade ao ordenamento infraconstitucional. Desse modo, hoje podemos dizer que não existe ramo do Direito que não se relacione com a Constituição. 2. Regras e Princípios Regras Princípios - Mandados de determinação; - Aplicados por subsunção; - Técnica do TUDO ou NADA; - Dimensão da VALIDADE e EFICÁCIA; - Aplicação direta do caso; - Em caso de conflito: critérios cronológico, especialidade e hierarquia. - Mandados de otimização; - Aplicados por sopesamento; - Técnica do MAIS ou MENOS; - Dimensão do VALOR; - Aplicação por interpretação; - Em caso de conflito: ponderação, peso e importância no caso concreto. 6 6 3. Princípios Constitucionais do Direito Processual • O Devido Processo Legal (Art. 5, LIV, CF): Conhecido como um supra princípio do direito processual, o devido processo legal é uma garantia contra o exercício abusivo de um poder. Com origens na Magna Carta inglesa, este princípio existe há mais de 700 anos e surgiu na Inglaterra como fair trail, sendo posteriormente conhecido nos EUA como due process of law. Com previsão constitucional, este princípio indica a necessidade de apresentar ao cidadão um processo justo, não apenas em consonância com a lei, mas com todo o direito. Possui conteúdo normativo aberto. A jurisprudência do STF refere muito ao devido processo legal substancial, definindo-o como o fundamento da máxima da proporcionalidade, utilizado como parâmetro para aferir a constitucionalidade dos atos estatais. Devido processo legal FORMAL controla - a forma das decisões Devido processo legal SUBSTANCIAL controla - o conteúdo das decisões. • Princípio da eficiência (Art. 5°, LIV e Art. 37, CF): O processo devido é eficiente. A eficiência trata da atuação do Poder Judiciário tanto na administração da justiça como também na direção processual. A eficiência refere-se a um processo que geral satisfação com o seu resultado, não se confundindo com a mera ideia de eficácia. • Princípio da Igualdade (Art. 5°, caput, CF): Defende a igualdade de tratamento entre as partes da relação jurídica processual. É a paridade de armas: mesmas oportunidades no processo para ambas as partes. • Princípio da duração razoável do processo ou Celeridade (Art. 5, LXXVIII, CF): O devido processo legal é um processo com duração razoável. Este princípio surgiu com a Emenda Constitucional 45/2004, como resultado do Pacto de San José da Costa Rica, que o Brasil é signatário. Segundo a Corte Europeia dos Direitos do Homem, para saber se um processo chega ao fim em prazo razoável envolve: 1) O comportamento dos litigantes e seus procuradores ou da acusação e da defesa; 2) A complexidade do assunto; 7 7 3) A atuação do órgão jurisdicional. Assim, nem sempre um processo célere é possível, de modo que a duração razoável deve considerar esses fatos para determinar a possível morosidade da justiça e a desobediência a este princípio. • Princípio do Contraditório (Art. 5, LV, CF): É um princípio típico, previsto expressamente na Constituição Federal, expressão do Estado Democrático de Direito. Ele se aplica a qualquer tipo de processo(jurisdicional, administrativo e privado). O princípio do contraditório é a garantia de ser ouvido, de participar do processo (dimensão formal), e principalmente, de poder influenciar a futura decisão (dimensão substancial). O contraditório garante a ampla defesa, não é a toa que estão no mesmo artigo da Constituição. • Princípio da Ampla Defesa (Art. 5, LV, CF): A ampla defesa nada mais é que o aspecto substancial do contraditório (a possibilidade de influenciar a decisão jurisdicional), razão pela qual, na prática, se utiliza sempre o contraditório acompanhado pela ampla defesa. • Princípio da Publicidade do Processo (Art.5, LX, CF): O processo, para ser devido, precisa ser público, de modo a garantir o controle do exercício do poder. Diferentemente do que ocorre no direito americano, não é possível qualquer decisão sigilosa no Brasil (art. 93, XIV da CF). Toda decisão é pública. É possível haver restrições pontuais (e justificadas) à publicidade em razão da necessidade de proteção da intimidade e no interesse público. Ainda nesses casos, a decisão continua pública, mas com restrições. • Princípio da Imparcialidade do juiz (Art. 5, XXXVII, CF): É pressuposto da relação processual que somente será válida se o juiz for a parte imparcial e desvinculada das outras partes integrantes do processo. A impessoalidade é obrigação dos agentes estatais (Art. 37, CF). Caso se constate que o juiz é parcial ele pode ser considerado SUSPEITO ou IMPEDIDO. • Princípio do Juiz Natural (Art. 5, LIII, CF): A Constituição e as leis definem as competências dos juízes, designando qual órgão jurisdicional é responsável pela condução do processo. A regra estabelecida deve ser seguida, considerando-se o juiz natural da causa aquele que tem a competência para julgá-la conforme as normas constitucionais e infraconstitucionais. • Princípio da Publicidade (Art. 5, LX, CF): Os atos processuais são públicos. Este princípio assegura a correta aplicação da justiça. Os atos sempre serão publicados para proteger as partes de juízos arbitrários e conceder à opinião pública a possibilidade de controle dos atos da Justiça. Por meio deste princípio também deve ser observado a regra da motivação das decisões. • Princípio da Inafastabilidade do controle jurisdicional ou do acesso à justiça (Art. 5, XXXV, CF): É o princípio que garante o acesso à ordem jurídica justa. Importa não apenas garantir o acesso ao Judiciário, como Poder do Estado, mas também como garantia de acesso à tutela jurisdicional efetiva. • Princípio do duplo grau de jurisdição: Permite a interposição de recursos no processo para viabilizar a revisão das causas por outro juiz. É a possibilidade de revisão da 8 8 decisão, de segunda opinião, pois a sentença pode ter imperfeições ou incorreções que precisam ser corrigidas ou invalidadas. 4. Outros Princípios O Código de Processo Civil ainda prevê a existência de outros princípios processuais derivados do devido processo legal e dos princípios constitucionais já expostos. A doutrina não é uniforme, mas entre os princípios indicados destacam-se o princípio da lealdade e da boa-fé processual, o princípio da motivação das decisões judiciais e o princípio da cooperação. AULA 4: JURISDIÇÃO – Parte I 1. Jurisdição no Estado Constitucional 1.1. Noção clássica Giuseppe CHIOVENDA – Criação da norma individual no caso concreto Francesco CARNELUTTI – Justa composição da lide 1.2. Transformação do princípio da legalidade Para Marinoni, a concepção de direito tem sido completamente transformada porque a lei perdeu seu posto de supremacia por estar substancialmente amarrada aos direitos positivados na Constituição. A aceitação do Estado Constitucional deu novo conteúdo ao princípio da legalidade, porque incorporou o qualificativo “substancial”. Assim, o princípio da legalidade substancial afeta as concepções de direito e jurisdição. As antigas teorias sustentavam a ideia de supremacia da lei, em que o juiz apenas tinha a função de declarar o direito que já estava posto (positivismo jurídico). 1.3. Modelo de juiz do Estado Constitucional O ordenamento jurídico deve ser compreendido a partir dos princípios constitucionais e dos direitos fundamentais, de modo que o juiz possui importante função interpretativa. De acordo com Marinoni, o processo civil precisa propor um conceito de jurisdição que seja capaz de abarcar esta nova realidade. O juiz do Estado constitucional deve ser capaz de tutelar o direito material mediante a observância de normas constitucionais e argumentação racional. 1.4. Conceito atualizado de Jurisdição (DIDIER JR.) É um PODER atribuído a TERCEIRO IMPARCIAL para, mediante um PROCESSO, RECONHECER (CERTIFICAR), EFETIVAR OU PROTEGER SITUAÇÕES JURÍDICAS CONCRETAMENTE DEDUZIDAS, de modo IMPERATIVO e CRIATIVO, em decisão INSUSCETÍVEL DE CONTROLE EXTERNO e com APTIDÃO PARA A COISA JULGADA MATERIAL (tornar-se indiscutível). • PODER: a Jurisdição é um Poder, ao lado do Poder Legislativo e Executivo, como manifestação de soberania; • TERCEIRO: o ente que julgará será estranho ao problema que será julgado. Consequências de a função jurisdicional ser exercida por terceiro: 9 9 • IMPARCIAL: é necessário que, além de ser terceiro, o juiz não tenha com a causa qualquer interesse direto ou indireto; • PROCESSO: a Jurisdição pressupõe um processo anterior para legitimar o seu exercício. O devido processo legal é um pressuposto do exercício da jurisdição, que não se realiza instantaneamente; • RECONHECER (certificar), EFETIVAR ou PROTEGER: vai-se ao Judiciário buscando verificar se tem direito, efetivar um direito que já se tem reconhecido ou protegê-lo. • SITUAÇÕES JURÍDICAS CONCRETAMENTE DEDUZIDAS: toda a atividade jurisdicional recai em um problema concreto, nos limites em que foi submetido (congruência da sentença). As situações podem ser ou não conflituosas; • MODO IMPERATIVO: como manifestação de Poder, a solução dada pelo juiz à situação deduzida é imperativa e não opinativa; • MODO CRIATIVO: ao exercer a jurisdição, o juiz inova o sistema jurídico, pois, ao julgar, interpreta o direito e dele extrai/cria/revela uma norma para regular o caso concreto; • DECISÃO INSCUSCETÍVEL DE CONTROLE EXTERNO: A jurisdição não se submete ao controle de nenhum outro Poder, que não o próprio Poder Judiciário. Lei ou ato administrativo não podem interferir no que foi julgado, mas a Jurisdição controla atos dos demais poderes; • APTIDÃO PARA A COISA JULGADA MATERIAL: só as decisões judiciais têm aptidão para a coisa julgada, para se tornarem incontroláveis/indiscutíveis, até mesmo para a própria Jurisdição. Só atos jurisdicionais têm aptidão para a definitividade. 2. Tutela jurisdicional Tutela é a proteção que o Estado, investido do poder jurisdicional, confere mediante o processo. Esta proteção obtida poderá ter diferentes finalidades: • TUTELA DE CONHECIMENTO – reconhecimento judicial; • TUTELA DE EXECUÇÃO – efetivação • TUTELA DE URGÊNCIA – proteção • TUTELA DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA – integração da vontade 3. Jurisdição como PODER É expressão do poder estatal de decidir imperativamente e impor decisões (DINAMARCO). Por esta razão devemos entender que há apenas um poder, por isso a jurisdição e UNA. O juiz que exerce a jurisdição tem vários poderes: DECISÓRIO – de julgar DIRETIVO – de dirigir o processo INSTRUTÓRIO – determinar a produção de provas 4. Jurisdição como FUNÇÃO O poder é único, mas na setorização das atividades do Estado é a função jurisdicional que é direcionada para a pacificação de conflitos. 5. Jurisdição como ATIVIDADE Para exercer o Poder e efetivar a sua FUNÇÃO pacificadora, a jurisdição precisa ser exercida por meio de uma ATIVIDADE disciplinada pela Constituição e pela lei, sob pena de arbitrariedade. 6. Princípios da Jurisdição • Princípio da Investidura: a jurisdição somente pode ser exercidapor quem tenha sido investido devidamente na função jurisdicional. 10 10 • Princípio da Inevitabilidade da Jurisdição: a jurisdição é inescapável. Mesmo que a pessoa não queira, não poderá deixar de se submeter à jurisdição, pois ela é um exercício de Poder, uma manifestação da soberania. • Princípio da Indelegabilidade: a função jurisdicional não pode ser delegada a outra pessoa. • Principio da Territorialidade: limitação ao exercício da jurisdição pelo juiz que a sempre a exerce sobre um dado território. O STF, por exemplo, tem jurisdição restrita ao território brasileiro. • Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de lesão a direito (garante a tutela preventiva: antes de sofrer lesão). Está previsto no art. 5º, XXXV da CF e garante o direito de ação. • Princípio do Juiz Natural: resulta da conjugação de dois incisos do art. 5º da CF: XXXVII (não haverá juízo ou tribunal de exceção1 ) e LIII (ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente). 7. Jurisdição voluntária (arts. 719 e seguintes do CPC – Parte Especial) Em situações em que se identifica conflito (lide) a jurisdição é chamada de contenciosa e o juiz participa para resolver a lide. No entanto, há situações em que não há lide, mas as partes precisam do juiz para efetivar situações jurídicas que necessitem da autoridade da sentença judicial. O juiz funciona como um administrador dos interesses das partes. Ex: Emancipação de incapaz; Alvará judicial. Apesar da ausência de lide, a jurisdição voluntária é sim JURISDIÇÃO, pois há obrigatoriedade do Poder Judiciário não para dirimir conflitos, mas para dar o EFEITO JURÍDICO necessário à determinadas situações. 8. Equivalentes jurisdicionais ou meios alternativos de solução de conflitos Equivalentes jurisdicionais são as técnicas de solução de conflito NÃO JURISDICIONAIS2 ou seja, resolvem conflitos ou certificam situações jurídicas, mas não importam em atuação da Jurisdição, no conceito acima disposto. Todas podem ser revistas pelo Poder Judiciário. É indiscutível que a jurisdição, como poder é monopólio do Estado, mas isso não significa que só ele possa exercê-la, como atividade. O Estado pode autorizar que outros exerçam a atividade jurisdicional (reconhecendo a outros entes o poder de resolver conflitos). Assim, nada impede que um ente não-estatal exerça a atividade jurisdicional, por autorização do Estado. Ex: árbitro, na arbitragem. AUTOTUTELA AUTOCOMPOSIÇÃO ARBITRAGEM - solução excepcional do conflito pela força; - decisão imposta por - solução por acordo de vontades; - partes chegam sozinhas à solução; - sacrifício integral ou parcial; - solução por meio do árbitro; - decisão imposta por 1 a garantia do juiz natural serve para impedir que se constitua um juiz para julgar determinada causa (o que configuraria juízo de exceção, criado para julgar um problema excepcionalmente), bem como proíbe o juiz constituído após o fato (ex post factum) e o juiz para o caso (juiz ad hoc). Com isso se evita a formação de tribunais de exceção, constituídos para julgar determinado problema, depois do fato. Ex: Tribunal de Nurembergue 2 Há intensa divergência doutrinária quanto a qualificação da arbitragem como Jurisdição. Para ideias favoráveis ver: DINAMARCO (Teoria Geral do Novo Processo Civil). Em sentido contrário: Luiz Guilherme Marinoni (Curso de Processo Civil, Volume I: Teoria Geral do Processo). 11 11 uma das partes; - sacrifício integral; ex: legítima defesa - direitos disponíveis; - pode ocorrer antes ou durante o processo. Ex: conciliação, mediação, transação, renúncia, submissão. terceiro; - regulada pela lei n. 9.307/96; - apenas para direitos disponíveis; - enfatiza a autonomia da vontade; - gera sentença que pode ser executada no PJ. HETEROCOMPOSIÇÃO – solução por terceiro imparcial. AUTOCOMPOSIÇÃO – solução por atuação das próprias partes. AULA 5: JURISDIÇÃO – Parte II 1. Poder Judiciário e organização da Justiça 1.1. Monopólio estatal A jurisdição é monopólio do Estado porque apenas este pode exercer a atividade de decidir conflitos e de dizer o direito no caso concreto. Admite-se a possibilidade da arbitragem como meio alternativo de solução de litígios, mas não se trata de poder e função jurisdicional, mas de entrega da atividade jurisdicional mediante autorização legislativa. 1.2. Características da Jurisdição CARACTERÍSTICAS CONTEÚDO Inevitabilidade No exercício da jurisdição o Estado dispensa a anuência do demandado. Imperatividade Os resultados do processo serão impostos às partes, independentemente de aceitação. Definitividade Aptidão para a produção da coisa julgada material. Atividade criativa Através da jurisdição se cria a norma jurídica do caso concreto. 1.3. Organização da Jurisdição no Estado brasileiro A jurisdição, enquanto função estatal, é essencialmente una. Contudo, seu exercício exige que, na prática, ocorra uma divisão de trabalho entre os diversos órgãos que compõem nosso Poder Judiciário. Todos os órgãos do Poder Judiciário exercem jurisdição, mas, obviamente, nem todos serão competentes para examinar determinado litígio. 12 12 O exercício da jurisdição pressupõe a organização do Poder Judiciário de acordo com as normas previstas na Constituição Federal. A organização deste poder para o desempenho da função estatal de jurisdição depende de uma estrutura capaz de estabelecer quais órgãos desempenham a atividade jurisdicional. 1.4. Jurisdição X Competência É um critério racional criado por meio de regras capazes de distribuir e facilitar o exercício da jurisdição nos diversos órgãos do poder judiciário. Trata-se de uma divisão de trabalho capaz de estabelecer os limites da jurisdição, pois cada órgão terá a sua de jurisdição legalmente atribuída. Assim, cada órgão do PODER Judiciário recebe a sua parcela de FUNÇÃO jurisdicional que legitima o exercício de sua ATIVIDADE nos limites estabelecidos. 1.5. Tutela constitucional da organização judiciária A organização judiciária corresponde à identificação de instituições e órgãos que funcionam na estrutura do judiciário como poder estatal. Trata-se da caracterização orgânica, vez que o judiciário é estudado como uma instituição estruturada em órgãos capazes de desempenhar certas funções. Órgãos do Poder Judiciário (art. 92, CF/88) Supremo Tribunal Federal (STF) Superior Tribunal de Justiça (STJ) Tribunais Regionais Federais (TRFs) e juízes federais Tribunais e juízes do trabalho Tribunais e juízes eleitorais Tribunais e juízes militares Tribunais e juízes dos Estados e do Distrito federal Conselho Nacional de Justiça (CNJ)3 Garantias institucionais do Poder Judiciário e dos juízes (art. 96, I; art. 99; art. 95, I- III, CF/88) Autogoverno Autonomia administrativa e financeira Vitaliciedade Estabilidade Irredutibilidade de vencimentos Estrutura judiciária brasileira Justiça Comum / Justiça Especial Jurisdição Inferior (1º graus) / Jurisdição Superior (2º grau) 3 Está no rol do artigo 92, portanto dentro da estrutura do Poder Judiciário, mas não exerce jurisdição, pois exerce função administrativa. 13 13 AULA 6: COMPETÊNCIA 1. Conceito de Competência A competência é o resultado de critérios que visam a distribuir, entre os vários órgãos, as atribuições relativas ao desempenho da jurisdição. Ou seja, é a medida da jurisdição. 2. Classificação a) Competência do foro e do juízo: A competência do foro é regulada pelo CPC e a do juízo é feita pelas leis de organização judiciária. • Foro - unidade territorial sobre a qual se exerce o poder jurisdicional. • Juízo - vara, cartório ou unidade administrativana qual o magistrado exerce suas funções. b) Competência Originária: Será originária a competência atribuída ao órgão jurisdicional diretamente, para conhecer da causa em primeiro lugar. Em regra, pertence aos juízes de primeira instância, mas, excepcionalmente, os tribunais podem ter competência originária (quando uma causa iniciar originariamente em um tribunal). Ex: Competência originária do STF conforme disposto na CF/88. c) Competência Derivada: Será derivada a competência recursal, que atribui ao órgão jurisdicional a revisão de decisão já proferida. Em regra, é o tribunal quem detém a competência derivada, mas, excepcionalmente, os juízes de primeira instância também podem ter. d) Competência absoluta: é aquela que deriva de regras fixadas paras atender exclusivamente ao interesse público, não podendo ser alterada pela vontade das partes. O desrespeito às regras de competência absoluta gera um vício muito grave que pode gerar nulidade dos atos decisórios já praticados. e) Competência relativa: atende preponderantemente ao interesse particular e pode vir a ser alterada pela vontade das partes (ex: eleição de foro em contrato) ou por lei (causas de conexão ou continência). Não gera nulidade de atos já praticados, que serão considerados válidos. 3. Momento de fixação e perpetuatio jurisdictionis (art. 43, CPC) A competência é determinada no momento do registro ou da distribuição da petição inicial. É a data da propositura que fixa a competência da ação. A ação é considerada proposta quando a petição for protocolada (art. 312). Após a fixação da competência, a ocorrência de fatos supervenientes não a modifica. Trata-se da perpetuação da jurisdição (perpetuatio jurisdictionis). A perpetuação só não acontecerá em caso de modificação da competência absoluta ou supressão de órgão jurisdicional. 4. Critérios para a determinação de competência (art. 111, CPC) 4.1. Critério objetivo Define a competência de acordo com o tipo de demanda proposta. O legislador considera os elementos da demanda como parâmetro para distribuir a competência: partes, pedido ou causa de pedir. Surgem então os sub-critérios: 14 14 a) Competência em razão da pessoa: determinada pelas partes. É hipótese de competência absoluta. Ex: causas em que a UNIÃO seja parte a competência é do juízo federal. b) Competência em razão da matéria: determinada pela causa de pedir e leva em consideração a natureza jurídica controvertida da causa. É hipótese de competência absoluta. Ex: Causa cível, trabalhista, penal, etc. c) Competência em razão do valor da causa: competência estabelecida em razão do pedido. Em regra, é hipótese de competência relativa. Ex: Juizados especiais. Atenção: os critérios podem ser combinados entre si. Ex: Uma vara privativa da Fazenda Pública (em razão da pessoa) com competência exclusiva para a desapropriação ou para ações tributárias (em razão da matéria). 4.2. Critério territorial: Distribui a competência em razão do lugar. É a competência de foro e indica a localidade em que a causa será proposta. Trata-se da determinação do território para o exercício da jurisdição. Em regra, é competência relativa. (art. 94 e seguintes do CPC). a) Foro do domicílio do réu: competente para ações pessoais e reais mobiliárias. São ações fundadas em direito pessoal ou real relativas a bens móveis; b) Foro da situação da coisa: somente para ações reais imobiliárias (art. 95). Atenção: quando a causa for sobre propriedade, vizinhança, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova o foro será sempre onde a coisa está, sendo hipótese de competência ABSOLUTA. 4.3. Critério funcional: Parte da doutrina estabelece uma hipótese de competência absoluta baseada em um critério em razão da função desempenhada pelo órgão jurisdicional dentro do processo. Trata-se de uma competência absoluta. É dividida em: a) Graus de jurisdição: originária, recursal ou derivada. Também é chamada de competência funcional vertical (Didier Jr. ); b) Fases do processo: cognição ou execução; c) Objeto do juízo: declaração de inconstitucionalidade ou competência do Tribunal do Júri para condenar ou absolver. 5. Princípio da identidade física do juiz (art. 132, CPC) O juiz que realizou a instrução deve ser o juiz que prolatará a sentença, em razão de sua competência funcional. Deve haver conclusão da audiência de instrução com produção de prova oral e o juiz não pode estar afastado ou impedido. 6. Causas de modificação de competência Apenas a competência relativa pode ser modificada. A modificação pode ser: • PARTICULAR ou VOLUNTÁRIA – Em razão de cláusula de eleição de foro, a competência é expressamente estipulada. As partes de um negócio decidem expressamente que as causas a ele relativas serão propostas no foro escolhido pelas partes. (art. 111, CPC). • LEGAL – quando ocorrer conexão ou continência. (art. 102, CPC) 15 15 7. Prorrogação da competência (art. 114, CPC) Será a competência relativa prorrogada quando o réu não se manifestar e o juízo que era relativamente incompetente se tornará competente. 8. Conexão ou continência (103 e 104, CPC) Trata-se de relação de semelhança entre causas diferentes que estão pendentes de julgamento em juízos distintos, mas que guardam um certo vínculo entre si. Não são causas iguais (litispendência), mas parecidas. A reunião dos processos será necessária para prestigiar a economia processual e evitar julgados contraditórios. ATENÇÃO: Haverá litispendência quando forem identificados processos idênticos pendentes de julgamento em juízos diferentes (mesmos elementos da ação: partes, pedido e causa de pedir). Um deles precisará ser extinto. Conexão (art. 103, CPC) Continência (art. 104, CPC) Há identidade de PEDIDO ou CAUSA DE PEDIR Há identidade de PARTES e CAUSA DE PEDIR e o PEDIDO de uma engloba o da outra ação. ATENÇÃO: Modifica-se a competência (relativa) para atribuir a outro juízo a função (competência funcional). A partir de então, o juízo competente passa a ter competência ABSOLUTA. O Juízo prevento passa a ter a competência funcional para a causa. A conexão muda uma competência relativa para gerar uma competência absoluta funcional de um juízo para julgar as causas conexas. 9. Prevenção A definição do juízo em que as causas serão reunidas ocorre pelo critério da prevenção, que é um instrumento para escolher qual juízo será escolhido. A identificação do juízo prevento se dá: a) Causas individuais – o juiz que despachou primeiro na mesma competência territorial (art. 106, CPC) ou onde ocorreu a primeira citação válida, em caso de juízos diferentes (art. 219, CPC). b) Causas coletivas – será prevento o juiz onde a primeira causa for ajuizada conforme a data da propositura da ação . 10. Conflito de competência (art. 66, CPC) Quando dois ou mais juízes se consideram competentes (conflito positivo) ou incompetentes (conflito negativo). O conflito é suscitado pelo juiz ou órgão, partes ou Ministério Público. 11. Incompetência A violação de regras de competência gera a incompetência do juiz e pode ter diferentes consequências para o processo: 16 16 Incompetência absoluta Incompetência Relativa Vício grave Vício não tão grave Juiz pode conhecer de ofício Não pode ser reconhecida de ofício Pode ser alegado a qualquer momento Na primeira oportunidade de manifestação do réu Qualquer parte pode alegar, de qualquer forma Só o réu pode alegar Não gera prorrogação de competência Gera prorrogação de competência Nulidade dos atos praticados Atos praticados serão preservados Viola regra de interesse público Viola regra de interesse particular 12. Princípio da Kompetenz-kompetenz Por este princípio, todo juiz será sempre competente para decidir sobre a sua própria competência. Ainda que seja incompetente, ele terá uma competência mínima que todo órgão jurisdicional possuipara se afirmar ou não competente. 13. Efeitos da declaração de incompetência A competência não gera a extinção do processo, mas a sua remessa ao juízo competente. Trata-se da chamada translatio iudicii (mudança de juízo). Em casos excepcionais, a incompetência gera a extinção do processo: incompetência no âmbito dos juizados especiais e a incompetência internacional. 14. Cooperação nacional (art. 66 e seguintes, CPC) Trata-se da interação entre os diferentes órgãos do Pode Judiciário para colaboração mútua na formação de uma rede jurisdicional em busca da efetividade do processo. A cooperação entre juízes nacionais de competência diversa ocorre pelas cartas precatórias e outros mecanismos de cooperação previstos no Novo CPC. Ao lado das cartas precatórias, o Novo CPC estabeleceu o auxílio direto em que os órgãos não necessitam observar forma específica, além da reunião ou apensamento de processo, prestação de informações e outros atos entre os juízes cooperantes. AULA 7: AÇÃO 1. Conceito No direito processual, a palavra AÇÃO pode significar 3 diferentes sentidos (Didier Jr.): 17 17 • SENTIDO MATERIAL – A ação é o direito material que se afirma ter ao provocar o Judiciário. Confunde-se com o próprio direito material. Ter ação contra alguém é ter direito material contra alguém. • SENTIDO CONSTITUCIONAL – A ação é direito fundamental que expressa o acesso à justiça. Trata-se de verdadeira pretensão de tutela jurídica, direito de ter acesso aos tribunais para obter a proteção. Está relacionado ao princípio da inafastabilidade jurisdicional. É o direito de ação. • SENTIDO PROCESSUAL – A Ação é demanda, um ato processual. Não é mais apenas direito material ou acesso à justiça. Refere-se a um agir em juízo, formando uma demanda contra alguém. IMPORTANTE: - O direito de ação é abstrato (qualquer problema pode ser levado ao Judiciário), mas a demanda é concreta, porque se refere a um problema específico. - O direito de ação é autônomo em relação ao direito material. Ex: Na cobrança de dívida, o direito de crédito é direito material exercido contra o réu e o direito de acesso ao Judiciário é exercido contra o Estado. A DEMANDA (sentido processual) é o exercício do DIREITO DE IR A JUÍZO (sentido constitucional), pelo qual se afirma um DIREITO MATERIAL (sentido material). DIREITO DE AÇÃO – abstrato AÇÃO – concreta. 2. Relação jurídica Relação jurídica é um fato que liga sujeitos e torno de um objeto. Em toda demanda há pelo menos a afirmação de um direito, configurando a existência de alguma relação jurídica alegada pelo autor. Os elementos da relação jurídica do direito material correspondem aos elementos da relação jurídica afirmada em juízo (relação jurídica processual). Relação Jurídica Parte geral do Código Civil Elementos da Ação Condições da ação Critérios objetivos de competência Sujeitos Das pessoas Partes Legitimidade de partes Competência em razão da pessoa Objeto Dos bens Pedido - Competência em razão do valor Fato Do fato jurídico Causa de pedir Interesse de agir Competência em razão da matéria 18 18 3. Elementos da ação Os elementos da ação são figuras que caracterizam e identificam a demanda, tornando-a única. Os sujeitos, o objeto e o fato da relação jurídica de direito material se comunicam com a demanda e se transformam em: PARTES – quem faz parte do processo. Podem ser parciais (autor e réu), quando atuam com em defesa de algum interesse ou imparcial (juiz), devendo atuar de forma neutra. PEDIDO – demonstra a pretensão do autor. Pode ser mediato (bem da vida) e imediato (prestação da atividade jurisdicional). CAUSA DE PEDIR – Composta de fato que gerou a demanda e fundamento jurídico do pedido que é o direito que se afirmar ter (direito subjetivo), decorrente da relação jurídica de direito material. A causa de pedir pode ser remota (fato jurídico) e próxima (o fundamento jurídico). ATENÇÃO: Há autores que invertem essa compreensão!!! (Ex: Nelson Nery Jr.) 4. Condições da Ação O novo CPC afirma que para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade (art. 17). Não há qualquer menção à possibilidade jurídica do pedido. Desse modo, a doutrina atualizou as condições da ação para somente 2: • INTERESSE – de agir é interesse processual. É instrumental porque representa o interesse pela tutela jurisdicional. Na prática deve representar a utilidade, a necessidade e a adequação da demanda. • LEGITIMIDADE - para agir em juízo (ad causam). É qualidade jurídica que demonstra a capacidade de conduzir o processo tanto do réu como do autor. Depende da relação jurídica discutida. Pode ser ordinária (pessoa defende em nome próprio, direito próprio) e extraordinária (pessoa em nome próprio, defende interesse alheio). 5. Teorias do Direito de Ação O direito de ação como hoje compreendemos faz parte de um processo histórico identificado por meio de teorias: • TEORIA IMANENTISTA, CIVILISTA ou CLÁSSICA – Quando o direito processual ainda não era reconhecido como ciência, o direito de ação não era autônomo, pois era compreendido como o próprio direito material em movimento. A ação era compreendida como a emanação do direito material. O poder era do indivíduo contra o seu adversário e não havia direito de exigir do Estado uma decisão jurídica. Base: Direito Romano. • TEORIA CONCRETA – Na fase do concretismo, o direito de ação era o direito a ter um julgamento favorável. Só exerceria direito de ação quem ganhasse ao final do processo. Há autonomia do direito de ação e do direito material, mas ainda há dependência. As condições da ação seriam aquelas necessárias para o julgamento favorável. Assim, a carência de ação e improcedência da ação significavam a mesma coisa. Teoria superada. Base: Direito Alemão (Adolph Wach) e Chiovenda (direito de ação como um direito potestativo contra o réu para fazer atuar a vontade concreta da lei). • TEORIA ABSTRATA – Em substituição ao concretismo, a fase abstrativista identificava o direito de ação como um direito a qualquer manifestação do juiz, qualquer que seja o conteúdo da decisão. Não havia condições da ação porque o direito de agir é abstrato e qualquer um pode acionar a atividade jurisdicional. A ação não é condicionada, mas o Brasil não adota esta teoria. 19 19 • TEORIA ECLÉTICA –O direito de ação é o direito a um julgamento de mérito, qualquer que seja seu conteúdo, mas a decisão deve ser de mérito e não uma decisão qualquer. A extinção do processo sem examinar o mérito afirma que o sujeito não tinha direito de ação. Teoria adotada no CPC de 1973, elaborada e introduzida no Brasil por ENRICO TULLIO LIEBMAN4. Nesta teoria adota-se as condições de ação: Legitimidade, Interesse e Possibilidade jurídica do pedido, mas foi fortemente criticada e hoje está parcialmente superada. • TEORIA DA ASSERÇÃO – Surgiu como uma forma de ajustar as condições da ação de LIEBMAN, possibilitando a análise das condições in statu assertionis, ou seja, a verificação era feita com base na afirmação do autor, deixando-se a produção de prova para um momento posterior. Essa teoria permitiu que a análise da possibilidade jurídica do pedido fosse superficial, pois caso fosse realmente analisada e provada já se estaria resolvendo o mérito da causa no início do processo. IMANENTISTA CONCRETA ABSTRATA ECLÉTICA ASSERÇÃO Direito de Ação = Direito Material Direito de Ação Direito Material Direito de Ação Direito Material Direito de Ação Direito Material Direito de Ação Direito Material Ausência de autonomia do Direito de Ação Autonomia do Direito de Ação Autonomia do Direito de Ação Autonomia do Direito de Ação Autonomia do Direito de Ação Direito de ação como poder do indivíduo contra o seu adversário Direito de ação como poder do indivíduo exigido do Estado + adversário Direitode ação como poder do indivíduo exigido do Estado Direito de ação como poder do indivíduo exigido do Estado Direito de ação como poder do indivíduo exigido do Estado Direito de ação é o próprio Direito material em juízo Direito de ação depende do Direito material Direito de ação independe do Direito material Direito de ação independe do Direito material Direito de ação independe do Direito material Não se fala em condições da ação porque não há autonomia do Direito de Ação Condição da ação: as necessárias para o julgamento favorável Não há condições da ação porque o Direito de Ação é abstrato. Condições da ação para o julgamento do mérito: Possibilidade jurídica do Condições da ação: análise superficial da possibilidade jurídica do pedido 4 Liebman foi um professor italiano que veio ao Brasil em meados da década de 30, por conta da perseguição dos judeus. Ele chegou aqui em uma época em que não havia estudos processualistas no Brasil. Liebman foi tão importante, que se deve a ele a formação da escola brasileira de direito processual, em São Paulo, que repercutiu em todo o país. Tanto que as primeiras obras de direito processual no Brasil surgiram na década de 50. Ao final da guerra, Liebman volta à Itália. No Golpe Militar, Alfredo Buzaid (ex-aluno de Liebman) é chamado para elaborar o Código de Processo Civil. O Código de 1973 é, assim, um tributo, uma homenagem a Liebman (ler a exposição de motivos). 20 20 pedido, interesse e legitimidade Pergunta: Qual seria a teoria da ação adotada pelo CPC de 2015? AULA 8: PROCESSO 1. Conceito de Processo A maioria da doutrina afirma que o processo é O INSTRUMENTO POR MEIO DO QUAL O ESTADO EXERCE A JURISDIÇÃO. Como o conceito de jurisidição à luz do Estado Democrático de Direito restou ampliado, não se restringindo apenas à mera solução de litígios, o processo passou a se caracterizar como um veículo por meio do qual se provoca a jurisdição. Portanto, hoje o processo serve para a realização do direito material, independentemente da existência de conflitos, já que haverá processo mesmo nos casos de jurisdição voluntária. ATENÇÃO: Segundo Fredie Didier Jr., não é qualquer processo que legitima o exercício da função jurisdicional, mas somente aquele que segue o modelo traçado na Constituição que consagra o direito fundamental ao devido processo legal. 2. Natureza Jurídica Diversas teorias já foram elaboradas com o intuito de identificar a natureza jurídica do processo: a) Processo = contrato: Tinha como ponto de partida em geral o Direito Romano e, em especial, a litiscontestatio, que representava a concordância das partes em sofrer os efeitos da demanda; b) Processo = quase contrato: Do francês Arnault de Guényvau, objetivava descobrir uma natureza jurídica de direito privado ao processo e não se aceitando tratar-se de um contrato, nem de um delito, a única saída viável seria tratar-se de um quase contrato; c) Processo = situação jurídica: Para Goldschimitdt, diferentemente do direito material, no processo predomina o estado de incerteza, de insegurança de deveres e obrigações entre aqueles que se encontram em conflito, até porque ninguém poderá prever o conteúdo da sentença. Desta forma, o processo seria caracterizado como um sistema de possibilidades e de ônus, ou seja, diferentes situações jurídicas, capazes de gerar para os sujeitos deveres, poderes, ônus, faculdades e sujeições. d) Processo = relação jurídica: Oscar Von Büllow consagrou a teoria que retirou o processo do âmbito privatista e alçou-o ao âmbito publicista que hoje se encontra. Cria a nítida distinção entre relação jurídica processual e relação jurídica material, sendo esta o objeto de discussão do processo, enquanto que a relação jurídica processual é a estrutura por meio do qual essa discussão ocorrerá. É a teoria predominante na doutrina brasileira. A relação processual pode ser: • Linear – quando se desenvolve entre autor e réu; • Angular – quando se desenvolve entre juiz-autor e juiz-réu; • Triangular – quando se desenvolve entre juiz-autor, juiz-réu e réu-autor. 21 21 ATENÇÃO: frequentemente os termos processo e relação jurídica processual são utilizados como sinônimos. Mas há autores que compreendem o processo como uma entidade complexa: - Dinamarco: processo = procedimento + relação jurídica processual (relação entre atos do processo + sujeitos do processo) - Fazzalari: Processo = procedimento + contraditório 3. O processo no Estado constitucional O direito processual civil antes marcado por uma visão positivista legalista está em fase de renovação. O processo do Estado constitucional almeja o comprometimento com o Estado democrático, com a tutela jurisdicional e com um Poder Judiciário eficiente. Os reflexos do movimento de constitucionalização do processo civil podem ser vistos tanto no anteprojeto do novo Código, como nos seus dispositivos, especialmente no seu artigo 1º. Diante desse novo paradigma, o processo necessita ser visto levando-se em consideração: a) A premissa de que a Constituição tem força normativa (Konrad Hesse) e, por consequência, também têm força normativa seus princípios e enunciados relacionados aos direitos fundamentais; b) A expansão da Jurisdição Constitucional (controle de constitucionalidade difuso e concentrado, como é o caso do Brasil); c) Desenvolvimento de uma nova hermenêutica constitucional (valorização dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade). Por outro lado, o exercício da jurisdição estatal passa a se legitimar pela: a) Efetiva participação das partes no procedimento e na formação da decisão; b) Adequação do procedimento às necessidades do direito material; c) Procedimento que considere os Direitos Fundamentais, especialmente o direito fundamental ao devido processo legal constitucional. ATENÇÃO: O devido processo legal é princípio que foi concebido na CF/88 como cláusula aberta, ou seja, possibilita ao magistrado realizar seu papel de modo criativo, limitado pela persuasão racional e pelo livre convencimento motivado. Desta forma, supera-se os problemas juspositivistas da mera declaração da lei sem retornar ao transcendentalismo dos jusnaturalistas. Também o atual sistema de precedentes possibilita a aproximação do modelo de Civil Law brasileiro com a Commom Law inglesa que, segundo Fredie Didier Jr., resultaria em uma mistura de sistemas caracterizado como Brazilian Law. 4. Pressupostos processuais Trata-se do conjunto de elementos de existência, requisitos de validade e condições de eficácia do procedimento. Isso porque a ausência desses ocasiona a extinção do processo sem resolução do mérito, com previsão no art. 485, IV, NCPC. Assim, são condições ou requisitos do processo. Podem ser: • Pressupostos de existência: requisitos indispensáveis para o processo existir. • Pressupostos de validade: certas qualidades identificadas uma vez existente o processo. 22 22 O processo do ponto de vista interno, é uma relação jurídica com a existência de elementos subjetivos (sujeitos) e objetivos (fato jurídico e objeto). Do ponto de vista externo, é um procedimento (ato jurídico complexo). Processo internamente: relação jurídica (sujeitos, fato e objeto) Processo externamente: ato jurídico complexo (procedimento) Portanto, existente o processo (relação jurídica processual), é possível discutir sobre a admissibilidade (validade) de todo o procedimento ou de cada ato jurídico que o compõe. 4.1. Pressupostos de existência Pressupostos indispensáveis para a existência do processo. Os pressupostos de existência podem ser: • Objetivos: abrangem a demanda, sendo essa o ato de pedir a tutela jurisdicional; • Subjetivos: abarcam o órgão investido de jurisdição e a capacidade de ser parte, ou seja, a aptidão de figurar no poloativo ou passivo de uma relação processual. 4.2. Pressupostos de validade Qualidades que admitem a existência do processo, mas inviabilizam sentença com julgamento de mérito se não estiverem presentes. São eles: a) competência e imparcialidade do magistrado; b) capacidade processual e postulatória; c) demanda regularmente ajuizada (respeito ao formalismo processual). ATENÇÃO: Didier admite a existência de requisitos de validade extrínsecos (ou negativos), ou seja, o pressuposto é a não existência de: perempção, litispendência, coisa julgada e convenção de arbitragem. AULA 9: SUJEITOS DO PROCESSO 1. Conceito de Parte Segundo Marinoni, aquele que toma “parte” no litígio ou dele faz “parte” deve ser considerado parte. Assim, são partes autor, réu e terceiros intervenientes regularmente admitidos no processo (segundo as exigências de cada espécie de intervenção; formas clássicas de intervenção – oposição, nomeação à autoria, chamamento ao processo e denunciação da lide), à exceção do assistente. A existência de partes é um dos pressuposto processual de existência ou constituição do processo. De três maneiras distintas pode alguém assumir a posição de parte num processo: a) tomando a iniciativa de instaurá-lo (autor); b) sendo chamado a juízo para ver-se processar (réu); c) intervindo em processo já existente entre outras pessoas (se tornará autor ou réu). 2. Terceiro Para Barbosa Moreira: “é terceiro quem não seja parte, quer nunca o tenha sido, quer haja deixado de sê-lo em momento anterior àquele que se profira a decisão”. Trata-se de conceito decorrente de inatividade em relação ao processo. 23 23 É aquele que é estranho ao litígio ou dele não faz “parte”, deve ser considerado terceiro. (Marinoni). 3. Capacidade processual Acerca da noção de “capacidade” deve ser observada a noção de TRÍPLICE CAPACIDADE: • capacidade de ser parte (pressuposto de existência ou constituição do processo); • capacidade para estar em juízo (pressuposto processual de validade do processo; • capacidade postulatória (também apontada como pressuposto processual subjetivo de validade). 3.1. Capacidade de ser parte Trata-se de um pressuposto processual subjetivo de existência, porque a capacidade de ser parte é a personalidade judiciária ou a aptidão para ser sujeito da relação jurídica processual (processo). A capacidade de ser parte é a aptidão para ser sujeito de uma relação jurídica processual ou a aptidão para ser titular de situações jurídicas processuais. Tem relação com a capacidade de direito, categoria do Direito Civil. Assim, todos aqueles que têm capacidade de direito, nos termos da lei civil, têm capacidade de ser parte em um processo judicial: pessoas físicas e jurídicas. A lei também atribui a alguns entes despersonalizados a capacidade de ser parte, ainda quando não lhes atribua personalidade jurídica, visando efetiva tutela de direitos. Assim, ainda que eles não tenham personalidade civil, têm, ao menos, personalidade processual: o nascituro, o condomínio, a sociedade de fato, a sociedade não personificada e a sociedade irregular, os entes formais (espólio, massa falida, herança jacente etc.), as comunidades indígenas ou grupos tribais e os órgãos públicos despersonalizados (MP, PROCON, Tribunais de Contas etc.). ATENÇÃO: os mortos e os animais não possuem capacidade de ser parte. 3.2. Capacidade para estar em juízo (capacidade processual) Trata-se da capacidade processual ou legitimatio ad processum e é pressuposto processual subjetivo de validade, pois é a aptidão para praticar atos processuais independentemente de assistência, pessoalmente, ou por meio das pessoas indicadas pela lei, tais como o síndico, administrador de condomínio, inventariante etc. Segundo Didier, as pessoas jurídicas precisam estar regularmente “presentadas” em juízo; não se trata de representação. A capacidade de ser parte (Pressuposto Processual subjetivo de existência) está para o processo como está a personalidade para o direito civil. Já a capacidade processual (Pressuposto Processual subjetivo de validade) está para o processo como está a capacidade civil para o direito civil. A capacidade processual como requisito de validade dos atos processuais sua falta é sempre sanável. No entanto, a falta de regularização da incapacidade processual gera consequências diversas, conforme se trate de autor (extinção do processo ou, em caso de litisconsórcio, exclui-se o autor incapaz), réu (prosseguimento à sua revelia) e terceiro (exclusão do processo). 24 24 3.3. Capacidade postulatória (ius postulandi) Alguns atos processuais (os postulatórios, pelos quais se solicita ao Estado-juiz alguma providência) exigem, além das duas outras capacidades, a capacidade postulatória ou técnica (ius postulandi). Em regra, são os advogados regularmente inscritos na OAB, o Ministério Público e a Defensoria Pública. Mas há casos excepcionais, em que as próprias pessoas (independentemente de ostentarem a condição de advogadas) possuem capacidade postulatória: • jus postulandi na Justiça do Trabalho (instâncias ordinárias); • Juizados Especiais cíveis (estaduais) em 1ª instância, em causas de até 20 salários- mínimos; • Habeas Corpus; • Governador do Estado em ADI e ADC; • quando, na Comarca, não houver advogado (art. 36 CPC) ou, embora haja, nenhum aceitar a causa; • pedido inicial em ação de alimentos; • requerimento de medidas protetivas por mulher que se diz vítima de violência doméstica, com base na Lei Maria da Penha; • nos Juizados Especiais Cíveis Federais, em primeira instância, a parte pode litigar, no polo ativo, sem advogado, até 60 salários mínimos; ATENÇÃO: quando o ato deveria ser praticado por advogado e for praticado por não advogado, ou seja, por quem não tem capacidade postulatória será nulo (art. 4º do Estatuto da OAB). 4. Legitimação (legitimatio ad causam) A legitimação para agir (legitimatio ad causam) é uma condição da ação. Trata-se da titularidade (ativa e passiva) da ação. Consiste em individualizar a pessoa a quem pertence o interesse de agir (e, portanto, a ação) e a pessoa com referência à qual ele existe. (Marinoni). Portanto, tem legitimidade para a causa aquele que detenha pertinência subjetiva com o objeto da demanda e tenha interesse de agir no caso concreto. Principais aspectos da legitimidade ad causam: • situação jurídica regulada pela lei; • é qualidade jurídica que se refere a ambas as partes do processo (autor e réu); • o objeto litigioso determina: toda legitimidade baseia-se em regras de direito material, embora se examine à luz da situação afirmada. 4.1. Espécies de legitimação a) Ordinária: é a coincidência entre o titular da relação jurídica material e o titular da relação jurídica processual. Na legitimação ordinária há pertinência subjetiva. Assim, afora casos expressamente previstos em lei, só pode pleitear em juízo o titular do direito material que relativo à demanda. Portanto, defende direito próprio em nome próprio. b) Extraordinária: quando a parte na relação jurídica processual diz estar defendendo direito subjetivo material alheio ou de terceiro. Na legitimação extraordinária, defende-se, em nome próprio, direito alheio. ATENÇÃO: Não se confunde com a representação. Representante não é parte, apenas representa a parte. Legitimado extraordinário é parte processual. O representante defende direito alheio (do representado), em nome do representado. 25 25 5. Substituição processual Parte da doutrina afirma que a legitimação extraordinária é gênero, do qual a substituição processual seria espécie. Assim, há substituição processual quando o legitimado extraordinário propõe a ação isoladamente, sem litisconsórcio com o suposto titular do direito material. De todo modo, a doutrina em geral emprega as locuções legitimado extraordinário e substituto processual comosinônimas. (art. 18, NCPC) 6. Sucessão Processual A substituição processual não se confunde com a sucessão processual. Sucessão Processual é a substituição da parte, em razão da modificação da titularidade do direito material afirmado em juízo. É a troca da parte. Uma outra pessoa assume o lugar do litigante originário, fazendo- se parte na relação processual. Ex: morte de uma das partes. AULA 10: LITISCONSÓRCIO E INTERVENÇÃO DE TERCEIROS 1. LITISCONSÓRCIO 1.1. Conceito É a pluralidade de sujeitos de um dos pólos do processo. Sempre que houver mais de um autor e/ou mais de um réu, haverá litisconsórcio. Ocorrerá quando houver (art. 113, CPC): • COMUNHÃO DE DIREITOS E OBRIGAÇÕES: pessoas com direitos ou de obrigações comuns relativas à lide; • CONEXÃO: entre as causas pelo pedido ou pela causa de pedir; • AFINIDADE DE QUESTÕES: por ponto comum de fato ou de direito. Segundo Marinoni, essas seriam as fontes do litisconsórcio no direito brasileiro e essas três hipóteses estão ligadas ao direito material e apresentam um grau de intensidade decrescente nas esferas jurídicas dos litisconsortes. 1.2. Classificação a) Quanto ao PÓLO em que está o litisconsórcio: ▪ LITISCONSÓRCIO ATIVO – quando ocorre apenas no pólo ativo ▪ LITISCONSÓRCIO PASSIVO – quando ocorre apenas no pólo passivo. ▪ LITISCONSÓRCIO MISTO – quando ocorre em ambos os pólos da demanda. b) Quanto ao MOMENTO DE FORMAÇÃO do litisconsórcio: COMUNHÃO CONEXÃO AFINIDADE 26 26 ▪ LITISCONSÓRCIO INICIAL – quando ele se forma concomitantemente à formação do processo. O processo já nasce em litisconsórcio. ▪ LITISCONSÓRCIO ULTERIOR – é algo excepcional. Ocorre quando o litisconsórcio se forma durante o processo. (ex: intervenção de terceiros) c) Quanto ao REGIME JURÍDICO de tratamento do litisconsórcio: ▪ LITISCONSÓRCIO UNITÁRIO – quando a decisão tem de ser a mesma para todos os litisconsortes, porque o direito material assim exige. O juiz trata todos os litisconsortes como se fossem uma só pessoa porque a relação jurídica de direito material que fundamenta a ação é incindível. (ex: negócio jurídico celebrado por marido e mulher; imóvel que possui vários coproprietários). ▪ LITISCONSÓRCIO SIMPLES – A solução de mérito pode ser diferente para os litisconsortes. Não há necessidade de decisão igualitária, podendo o juiz tratar os litisconsortes como pessoas distintas. ATENÇÃO: Essa distinção é feita em razão do DIREITO MATERIAL DISCUTIDO. Sem identificar qual o direito material discutido não é possível distinguir o litisconsórcio unitário do simples. Há litisconsórcio unitário quando dois ou mais sujeitos discutem em juízo uma única relação jurídica incindível/indivisível. Há litisconsórcio simples quando dois os mais sujeitos discutem em juízo uma única relação cindível ou quando discutem mais de uma relação jurídica. d) Quanto à OBRIGATORIEDADE DE SUA FORMAÇÃO: ▪ LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO – É o litisconsórcio que não se forma por imposição da lei, mas pela vontade das partes. Pode ser: a) Sucessivo: formado em razão da cumulação sucessiva de pedidos (cumulação própria). Ex: investigação de paternidade e alimentos em que o filho pede reconhecimento como filho e a mãe pede ressarcimento de despesas com o parto (cumulação de pedidos sucessiva heterogênea). O pedido da mãe só será acolhido se o do filho for acolhido e se assim acontecer haverá a formação de um litisconsórcio sucessivo. b) Eventual: formado em razão da cumulação imprópria de pedidos, em que a procedência de um pedido implicará na improcedência de outro. Assim, uma parte pode ser incluída na demanda em razão de outra por que há um pedido que é prioritário em razão de outro. c) Alternativo: formulação de mais de uma demanda pelo autor. Deriva do pedido alternativo. Ex: consignação de pagamento, em que, na dúvida, o autor pode se dirigir a duas pessoas. ▪ LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO – O litisconsórcio tem que se formar independentemente da vontade das partes, quando (art. 114, CPC): a) Por disposição de lei; b) Pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes. (ex: litisconsórcio na ação de divisão e demarcação de terras) 27 27 ATENÇÃO: ▪ litisconsórcio necessário por força de lei é simples; ▪ litisconsórcio unitário é, em regra, necessário5; ▪ nem todo litisconsórcio necessário é unitário (há o simples, por força de lei); 2. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS Todo aquele que não é parte será terceiro. Ocorre que algumas vezes o terceiro pode ser atingido por uma decisão tomada em determinado processo. Dessa forma o direito prevê formas para que seja viabilizada a participação do terceiro no processo. Há dois tipos de terceiro (MARINONI): Terceiro juridicamente indiferente: não possuem qualquer ligação com a coisa em litígio e por isso não possuem legitimidade para participar do processo. Terceiro juridicamente interessado: têm ligação com a relação em litígio porque participam direta ou indiretamente da própria relação jurídica deduzida em juízo ou porque têm interesse específico no debate da matéria. As formas de intervenção podem ser: VOLUNTÁRIA FORÇADA Assitência Denunciação da lide Amicus curiae Chamamento ao processo Intervenção anômala (Lei 9.469/97) Incidente de desconsideração da personalidade jurídica 2.1. Espécies: a) Assistência (art. 121 a 123) É intervenção voluntária e espontânea em qualquer dos pólos do processo sem qualquer pedido novo, apenas aderindo a manifestação de uma das partes. Para ser assistente é necessário que demonstre interesse jurídico na causa porque existe a possibilidade de ser indiretamente atingido na sua esfera jurídica. Além de prestar auxílio à parte assistida, o assistente fiscaliza a atuação das partes a fim de evitar violações. Ao ingressar no processo, o assistente não vira parte, pois não deixa de ser terceiro porque não é titular da relação jurídica. Não é atingido pela coisa julgada, mas sim pelos efeitos reflexos dela. Ocupa posição subalterna em relação à parte que assiste e pode ser substituto processual (art. 121, parágrafo único). Segundo a doutrina, pode ser simples ou litisconsorcial. No entanto, apenas a assistência simples é efetivamente assistência, pois a litisconsorcial é formação de litisconsórcio ulterior. b) Assistência litisconsorcial (art. 124) O interesse jurídico direto/imediato/forte gera a assistência litisconsorcial que decorre de um vínculo forte que o terceiro tem com a causa. Esse vínculo é identificado quando o terceiro faz parte da relação jurídica litigiosa, discutida em juízo. Sendo titular da relação discutida 5 Em regra porque para Didier existe a possibilidade de litisconsórcio facultativo unitário, quando o litisconsórcio unitário não é necessário. Para ele não há litisconsórcio necessário ativo, porque ele entende que todo litisconsórcio ativo é facultativo porque ninguém é obrigado a processar alguém, há sempre uma faculdade. Ex: condôminos em ação do condomínio; ação popular (qualquer cidadão pode propor); etc. O problema é que, para Didier, a coisa julgada atingiria inclusive aquele que não participou da lide como possível autor. 28 28 razão pela qual o assistente se transforma em um litisconsorte do assistido. A assistência litisconsorcial nada mais é do que um litisconsórcio facultativo unitário ulterior porque o assistente litisconsorcial é, na verdade, parte no processo. Ex: condômino que ingressa na ação reinvindicatória já proposta por outro condômino. Por ser parte do litígio o tratamento legal é equivalente: todos os poderes processuais, sem qualquer restrição. Também jamais será substituto processual do assistido. c) Intervenção anômala Modalidade de intervenção de terceiros por meio da qual a União (ou outra pessoajurídica de direito público), independentemente da demonstração de interesse jurídico (bastando o interesse econômico, ainda que indireto), intervém em processo no qual figura como autora ou ré autarquia, fundação pública, sociedade de economia mista ou empresa pública federal (art. 5º, lei nº 9.469/97). d) Amicus Curiae Amicus curiae significa amigo da cúria, do tribunal, da corte. Ele é um sujeito que intervém no processo para auxiliar o juiz na compreensão do tema, funcionando como uma espécie de conselheiro, mas o juiz não se vincula ao seu conselho. É admitido em qualquer processo, ainda que não haja expressa previsão legal, desde que se trate de um processo relevante e complexo e que o interventor tenha representatividade. Nas ações coletivas sua participação tem se tornado especialmente relevante (conferindo um caráter ainda mais democrático, por aumentar a participação nessas ações). O amicus curiae não pode ter interesse direito na causa, senão vira assistente (hipótese de intervenção de terceiro), mas não precisa ser um terceiro desinteressado, pois pode ter interesse no debate institucional. Assim, geralmente tem um interesse mediato na causa. Pode ser uma pessoa física ou jurídica, mas tem que ter aptidão para contribuir. Ex: a CNBB intervém para tratar de ação que discute aborto de anencéfalo. Assim, não é um sujeito imparcial (ele vai tentar demonstrar sua opinião no caso) e nem um perito (porque não trata dos fatos, mas sobre o modo de o juiz decidir). e) Chamamento ao processo É uma intervenção provocada pelo réu que tem por opção trazer ao processo outro devedor da mesma obrigação (devedor solidário). Somente o réu pode realizar o chamamento ao processo no prazo da contestação nas ações de conhecimento. A ideia que estrutura o chamamento ao processo é a solidariedade passiva entre o chamante (réu) e o chamado. Esse terceiro que ingressará no processo responderá junto com o réu pela dívida. Forma-se um litisconsórcio passivo ulterior facultativo. Para alguns autores, forma-se uma verdadeira ação incidental de regresso, porque caso o chamante não chamasse o terceiro, poderia ajuizar eventual ação de regresso em razão da solidariedade, pois o chamado tem o dever de reembolsá-lo. Ex: fiador demandado pode chamar o devedor. f) Denunciação da lide (art. 125 e seguintes) Intervenção de terceiro provocada pelo autor ou pelo réu e tem fundamento no direito de regresso porque o terceiro pode vir a sofrer algum prejuízo na demanda porque é garante do autor ou do réu. 29 29 Trata-se, segundo Marinoni, de uma nova ação dependente da principal que será examinada caso o denunciante venha sofrer prejuízo decorrente de sentença desfavorável na ação principal. Há sempre uma relação subsidiária à relação jurídica posta em juízo que também poderá ser discutida por meio da denunciação. Ocorre, tipicamente, nos casos de evicção (garantia em contratos de transferência de domínio de coisas) e em contratos de seguro, em que a seguradora está obrigada a indenizar em ação regressiva os prejuízos de alguém. A denunciação da lide é, ainda, uma demanda antecipada, pois demanda-se antes de se saber se haverá ou não o prejuízo (que só será causado na eventualidade de a sentença ser contrária ao denunciante). O denunciado possui dupla função: de uma lado funciona como assistente do denunciante porque tem interesse na sua vitória e, do outro, pode ser condenado na ação regressiva, razão pela qual ele é considerado neste caso um demandado (parte passiva/réu). O denunciado é um legitimado extraordinário na ação principal porque defende em nome próprio interesse de outrem. g) Incidente de desconsideração da personalidade jurídica Segundo o Código Civil, em caso de abuso de personalidade jurídica por desvio de finalidade ou confusão patrimonial, pode o juiz decidir que os efeitos de certas relações obrigacionais sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica (art. 50, CC). A desconsideração da personalidade jurídica é incidente previsto no novo Código de Processo Civil como forma de intervenção de terceiro que passa a ser alcançado pela eficácia da decisão judicial após o contraditório e o direito de prova. A demanda é originalmente da pessoa jurídica, estando os sócios na qualidade de terceiro que ingressam na demanda por meio do incidente de desconsideração. AULA 11: OUTROS SUJEITOS DO PROCESSO: juiz e auxiliares da justiça 1. DO JUIZ (art. 139 ao 148, CPC) O juiz representa o Estado na relação jurídica processual porque é quem desempenha a função jurisdicional no processo. Por este motivo, é a PARTE IMPARCIAL do processo, razão pela qual a imparcialidade é característica essencial do juiz. 1.1. Garantias constitucionais Para a preservação da característica da imparcialidade, o juiz possui prerrogativas traduziadas em garantias pela Constituição Federal (art. 95): ▪ Vitaliciedade: após 2 anos de efetivo exercício o juiz só perderá seu cargo em razão de sentença transitada em julgado. Diferencia-se da estabilidade do servidor público comum, porque este pode perder o cargo em razão de processo administrativo disciplinar. ▪ Inamovibilidade: Trata-se de prerrogativa que garante ao magistrado a impossibilidade de ser removido de um local para outro sem o seu consentimento. A única hipótese será em razão de interesse público relevante. ▪ Irredutibilidade de subsídios: o subsídio dos magistrados não pode ser reduzido, de forma a assegurar-lhes o livre exercício de suas atribuições. Inclui-se nos subsídios as 30 30 vantagens pessoais, e o seu valor não pode exceder o subsídio mensal em espécie dos Ministros do STF. No entanto, as parcelas de caráter indenizatório não estão computadas no valor do subsídio. 1.2. Vedações constitucionais aplicáveis aos juízes O artigo 95 da Constituição traz em seu parágrafo único um rol taxativo de vedações aos juízes: I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; I - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo; III - dedicar-se a atividade político-partidária; IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. 1.3. Impedimento e Suspeição O Código de Processo Civil enumera as hipóteses de impedimento e suspeição aplicáveis aos juízes. Essas situações, se ocorrerem, indicam uma probabilidade de prejuízo à imparcialidade, razão pela qual o juiz não poderá fazer parte do processo, apesar de competente para tanto. As causas de impedimento e suspeição atingem também os membros do Ministério Público ao membro do Ministério Público, os auxiliares da justiça e demais sujeitos imparciais do processo. (ex: perito) IMPEDIMENTO (144, CPC) SUSPEIÇÃO (145, CPC) Vícios mais graves, formalmente identificáveis. Suas funções são vedadas no processo quando identificadas as hipóteses trazidas pelo Código. Situações de ordem pessoal e subjetiva. Apesar de mais simples são mais difíceis de provar e identificar. ▪ Juiz participou do processo como mandatário da parte, perito, membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; ▪ O juiz conheceu o processo em outro grau de jurisdição e proferiu decisão; ▪ No processo há cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau do juiz postulando como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público; ▪ O juiz é parte no processo, bem como seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau; ▪ Juiz é amigo íntimo ou inimigo de qualquer
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