Buscar

REDAÇÃO - CONCEITOS - FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS PARA REDAÇÃO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

REFERÊNCIAS FILOSÓFICAS E CULTURAIS PARA EXERCÍCIOS DE ARGUMENTAÇÃO
ALEGORIA DA CAVERNA (Platão) 
No livro VII da República, Platão narra uma história que se tornou célebre com o nome de mito ou alegoria da caverna. Seu objetivo é fazer compreender a diferença entre o conhecimento grosseiro, que vem de nossos sentidos e de nossas opiniões (doxa), e o conhecimento verdadeiro, ou seja, aquele que sabe apreender, sob a aparência das coisas, a ideia das coisas. Numa caverna, cuja entrada é aberta à luz, encontram-se alguns homens acorrentados desde sua infância, com os olhos voltados para o fundo, não podendo locomover-se nem virar as cabeças. Um fogo brilha no exterior, iluminando toda a caverna. Entre o fogo e a caverna passa uma estrada, ladeada por um muro da altura de um homem. Na estrada, por detrás do muro, vários homens passam conversando e levando nas cabeças figuras de homens e de animais, projetadas no fundo da caverna. Assim, tudo o que os acorrentados conhecem do mundo são sombras de objetos fabricados. Mas como não sabem o que se passa atrás deles, tomam essas sombras por seres vivos que se movem e Pilam. Mostrando serem homens que não atingiram o conhecimento verdadeiro. Platão descreve o processo dialético através do qual o prisioneiro se liberta e, lutando contra o hábito que tornava mais cômoda sua situação de prisioneiro, sai em busca do conhecimento da verdade, passando por diversos e sucessivos graus de conversão de sua alma. Até chegar à visão da ideia de bem. Uma vez alcançado esse conhecimento, o prisioneiro, agora transformado em sábio, deve retornar à caverna para ensinar o caminho aos outros prisioneiros, arriscando-se, inclusive, a ser rejeitado por eles.
ALIENAÇÃO (Marx)
A palavra alienação vem do Latim “alienus”, que significa “de fora”, “pertencente a outro”. A alienação é estar alheio aos acontecimentos sociais, ou achar que está fora de sua realidade. Karl Marx em sua obra Manuscritos econômico-filosóficos usou o termo para descrever a falta de contato e o estranhamento que o trabalhador tinha com o produto que produzia. A alienação na sociologia de Marx é descrita também como um momento em que os homens perdem a si mesmos e a seu trabalho no capitalismo. Para Marx as relações de classe eram alienantes, pois o trabalhador assalariado se encontrava em uma posição de barganha desigual perante o capitalista (empregador). Dessa forma o capitalista conseguia dominar a produção e o trabalhador. Marx considerava o trabalho a mais importante expressão da natureza humana e quando o homem perdia o controle sobre ele, entrava em um processo que conduziria à sociedade a uma ordem social alienada: desigualdade crescente, pobreza em meio a plenitude, antagonismo social e luta de classes.
ANIMAL POLÍTICO (Aristóteles)
Zoon Politikon (Animal Político) é uma expressão utilizada pelo filósofo grego Aristóteles de Estagira (384 a.C – 322 a.C), discípulo de a Platão, para descrever a natureza do homem – um animal racional que fala e pensa (zoon logikon) – , em sua interação necessária na cidade-Estado (pólis). O animal político aristotélico é um dos conceitos mais exaustivamente estudados na filosofa política e um dos argumentos fundamentais para a organização social e política. Em uma definição sumária, sem firulas e rodeios filosofantes, pode-se afirmar que, para Aristóteles, o homem é um animal político na medida em que se realiza plenamente no âmbito da pólis. Segundo Aristóteles, a “cidade ou a sociedade política” é o “bem mais elevado” e por isso os homens se associam em células, da família ao pequeno burgo, e a reunião desses agrupamentos resulta na cidade e no Estado (“Política”, cap.I, Livro Primeiro). (...) o homem é um animal político, pois, na pólis, ele consegue orientar-se pela conduta moral mediada por leis estabelecidas pelos elementos intelectuais (adquiridos no processo de formação) e moral (lapidada pelos hábitos racionais e pela experiência vivida). O homem é, portanto, um receptáculo pronto a receber e experimentar ensinamentos e vivências, sem os quais sua existência ficaria incompleta, sendo comandada apenas pelas vontades. A propósito, eis a razão para a prudência ser tão estimada na pólis aristotélica: somente com a experiência e a inteligência consegue-se antever as consequências de um ato desviante à moral do grupo. (...) Em suma, o homem busca a pólis para viver a plenitude de suas potencialidades enquanto espécie, e para suprir condições que outros agrupamentos (família, aldeia) estão, quando isoladas, aquém de proporcionar. A pólis não exclui a dimensão da família, na qual o homem se reproduz e se abriga; na verdade, a pólis é a arena na qual ele faz escolhas e se relaciona por meio de regras que podem levá-lo à virtude. Observo, por fim, que Aristóteles não vê os homens como “naturalmente” virtuosos; eles possuem, na realidade, os predicados necessários para, na condição de animal político, obter a felicidade e o bem comum. O seu sentido de completude.
* A negação da política, segundo Brecht - O pior analfabeto é o analfabeto político./ Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos./ Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão,/ do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio/ dependem das decisões políticas./ O analfabeto político é tão burro que se orgulha/ e estufa o peito dizendo que odeia a política./ Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política,/ nasce a prostituta, o menor abandonado,/ e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista,/ pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais. Bertold Brecht. O analfabeto político
ARTE (Ernest Fischer)
Um artista só pode exprimir a experiência daquilo que seu tempo e suas condições sociais têm para oferecer. Por essa razão, a subjetividade de um artista não consiste em que a sua experiência seja fundamentalmente diversa da dos outros homens de seu tempo e de sua classe, mas consiste em que ela seja mais forte, mais consciente e mais concentrada. A experiência do artista precisa apreender as novas relações sociais de maneira a fazer que outros também venham a tomar consciência delas; ela precisa dizer ‘hic tua res agitur’(é de seu interesse). Mesmo o mais subjetivo dos artistas trabalha em favor da sociedade. Pelo simples fato de descrever sentimentos, relações e condições que não haviam sido descritos anteriormente, ele canaliza-os do seu "Eu" aparentemente isolado para um "Nós"; e este "Nós" pode ser reconhecido até na subjetividade transbordante da personalidade de um artista. Esse processo, todavia, nunca é um retorno à primitiva coletividade do passado; ao contrário, representa um impulso na direção de uma nova comunidade cheia de diferenças e tensões, na qual a voz individual não se perde numa vasta unissonância. Em todo autêntico trabalho de arte, a divisão da realidade humana em individual e coletiva, em singular e universal, é interrompida; porém é mantida como fator a ser incorporado em uma unidade recriada./Só a arte pode fazer todas essas coisas. A arte pode elevar o homem de um estado de fragmentação a um estado de ser integro, total. A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como a transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade. A arte, ela própria, é uma realidade social. A sociedade precisa do artista, este supremo feiticeiro, e tem o direito de pedir-lhe que ele seja consciente de sua função social. Tal direito nunca foi discutido numa sociedade em ascensão, ao contrário do que ocorre nas sociedades em decadência. A ambição do artista que se apoderou das ideias e experiências do seu tempo tem sido sempre não só de representar a realidade como a de plasmá-la. O Moisés de Michelangelo não era só a imagem artística do homem do Renascimento, a corporificação em pedra de uma nova personalidade consciente de si mesma. Era também um mandamento em pedra dirigido aos contemporâneos de Miguel Ângelo e a seus dirigentes: "É assim quevocês precisam ser. A época em que vivemos o exige. O mundo a cujo nascimento presenciamos o requer". E Fischer, A necessidade da arte, p. 56-57.
CONSUMISMO/ SOCIEDADE DE CONSUMO
A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar. (...) Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas para que outro mundo vamos nos mudar?(...) A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje a única coisa que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, resultam ser voláteis como o capital que as financia e o trabalho que as gera. (...) A sociedade de consumo é uma armadilha caça-bobos. Os que têm a alavanca simulam ignorá-lo, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta. A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um defeito a superar: é uma necessidade essencial. Não há natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta. Eduardo Galeano, escritor uruguaio.
CONTRATO SOCIAL (Thomas Hobbes)
No estado de natureza, o homem tem direito a tudo: "O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam ‘jus naturale’, é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e, consequentemente, de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim"./ Ora, enquanto perdurar esse estado de coisas, não haverá segurança nem paz alguma. A situação dos homens deixados a si próprios é de anarquia, geradora de insegurança, angústia e medo. Os interesses egoístas predominam e o homem se torna um lobo para o outro homem (homo homini lupus). As disputas geram a guerra de todos contra todos (bellum omnium contra omnes), cuja consequência é o prejuízo para a indústria, a agricultura, a navegação, e para a ciência e o conforto dos homens./ Na sequência do raciocínio, Hobbes pondera que o homem reconhece a necessidade de "renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relação a si mesmo"./ A nova ordem é celebrada mediante um contrato, um pacto, pelo qual todos abdicam de sua vontade em favor de "um homem ou de uma assembleia de homens, como representantes de suas pessoas". O homem, não sendo sociável por natureza, o será por artifício. É o medo e o desejo de paz que o levam a fundar um estado social e a autoridade política, abdicando dos seus direitos em favor do soberano.
DEMOCRACIA (do gr. demos: povo e kratos: poder) 
1. Regime político no qual a soberania é exercida pelo *povo, pertence ao conjunto dos cidadãos, que exercem o sufrágio universal. "Quando, na república. o povo detém o soberano *poder, temos a democracia" (*Montesquieu). Segundo *Rousseau, a democracia, que realiza a união da *moral e da *política, é um estado de direito que exprime a *vontade geral dos cidadãos, que se afirmam como legisladores e sujeitos das leis. 2. Democracia direta é aquela em que o poder é exercido pelo povo, sem intermediário; democracia parlamentar ou representativa é aquela na qual o povo delega seus poderes a um parlamento eleito; democracia autoritária é aquela na qual o povo delega a um único indivíduo, por determinado tempo, ou vitaliciamente, o conjunto dos poderes. 3. Geralmente, as democracias ocidentais constituem regimes políticos que, pela separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário, visam garantir e professar os direitos fundamentais da pessoa humana, sobretudo os que se referem à liberdade política dos cidadãos.
Leituras complementares para DEMOCRACIA
A palavra democracia vem do grego (demos, povo; kratos, poder) e significa poder do povo. Não quer dizer governo pelo povo. Pode estar no governo uma só pessoa, ou um grupo, e ainda tratar-se de uma democracia – desde que o poder seja do povo. O fundamental é que o povo escolha o indivíduo ou grupo que governa, e que controle como ele governa./ O grande exemplo de democracia, no mundo antigo, é Atenas, especialmente no século 5 antes de Cristo. A Grécia não era um país unificado e, portanto, Atenas não era sua capital, o que se tornou no século 19. O mundo grego, ou helênico, se compunha de cidades independentes. Inicialmente eram governadas por reis: assim lemos em Homero./ Mas com o tempo ocorre uma mudança significativa. O poder, que ficava dentro dos palácios, oculto aos súditos, passa à praça pública, vai para tó mésson, "o meio", o centro da aglomeração urbana. Adquire transparência, visibilidade. Assim começa a democracia: o poder, de misterioso, se torna público. Em Atenas se concentra esse novo modo de praticar – e pensar – o poder./ Os gregos distinguiam três regimes políticos: monarquia, aristocracia e democracia. A diferença é o número de pessoas exercendo o poder – um, alguns ou muitos. Monarquia é o poder (no caso, arquia) de um só (mono). Aristocracia é o poder dos melhores, os aristoi, excelentes. São quem tem aretê, a excelência do herói. Assim, a democracia não se distingue apenas do poder de um só, mas também do poder dos melhores, que se destacam por sua qualidade. A democracia é o regime do povo comum, em que todos são iguais. Não é porque um se mostrou mais corajoso na guerra, mais capaz na ciência ou na arte, que terá direito a mandar nos outros. RIBEIRO, Renato Janine. A democracia. São Paulo, Publifolha, 2001. Com adaptações
* República, A (Politeia) - Um dos mais importantes e influentes diálogos de Platão, composto entre 389 e 369 a.C., consagrado à filosofia política e tendo como tema central a justiça. Podendo ser considerado uma reflexão sobre a decadência da democracia ateniense, propõe um modelo de cidade-estado (a polis grega) ideal. A estrutura deste Estado e o equilíbrio social são comparados ao equilíbrio individual. Assim como a sabedoria do indivíduo resulta de um equilíbrio entre os três elementos que o compõem (os desejos físicos, os sentimentos e a atividade intelectual), da mesma forma o equilíbrio de uma sociedade resulta de uma harmonia hierarquizada dos elementos que a compõem: a economia, a serviço dos desejos; o exército, elemento sentimental da nação; a direção política, semelhante à função racional. O Estado justo é aquele no qual reina uma harmonia que constitui a expressão de uma ordem hierárquica e de uma separação entre os filósofos dirigentes, os soldados e os artesãos. A frente do Estado devem ser colocados os melhores, aqueles que constituem a aristocracia do saber, o que explica a necessidade de serem educados no conhecimento filosófico.
* A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos. Winston Churchill, estadista britânico
* Democracia com fome, sem educação e saúde para a maioria, é uma concha vazia. Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul
* Não sei quem são os brasileiros que gritam nas ruas pedindo a volta da ditadura. Desconheço as pessoas que clamam por intervenção militar como se isso não fosse uma vergonha, uma indignidade, e sim a prerrogativa de “cidadãos de bem”. Acho que nunca tive tanto medo desse deformado discurso “do bem” quanto hoje, essa época em que todo o pudor foi perdido e a ignorância da História é ostentadacomo um troféu. Sei que são pessoas, porque só humanos são capazes de algo tão brutal. Eliane Brum, escritora brasileira.
DOGMATISMO
1. Toda doutrina ou toda atitude que professa a capacidade do homem atingir a certeza absoluta; filosoficamente, por oposição ao ceticismo, o dogmatismo é a atitude que consiste em admitir a possibilidade, para a razão humana, de chegar a verdades absolutamente certas e seguras. 2. No sentido vulgar, atitude que consiste em afirmar alguma coisa, de modo intransigente e contundente, sem provas nem fundamento. 3. Toda atitude de conhecimento que consiste em acreditar estar de posse da certeza ou da verdade antes de fazer a crítica da faculdade de conhecer (Kant). 4. A tradição marxista utiliza o termo "dogmatismo" para qualificar a tendência de se congelar uma teoria em fórmulas estereotipadas, cortando-as da prática e da análise concreta: "O marxismo não é um dogma. mas um guia para a ação" (Engels). 5. Observemos que, desde a Antiguidade, existem os filósofos céticos e os filósofos dogmáticos. Os primeiros se recusam a crer nas verdades estabelecidas, enquanto os segundos defendem as verdades de sua "escola". E com a representação kantiana da história da filosofia que o termo "dogmatismo" adquire um sentido novo: o criticismo só se define opondo-se aos dois perigos inversos, o empirismo e o dogmatismo. O dogmatismo consiste em crer que a razão pode edificar sistemas sólidos sem ter sido antes depurada pela crítica. Kant visa às filosofias de Leibniz e de Wolf, nas quais o conhecimento se desenvolve a priori, sem recorrer à experiência: visa também ao empirismo, que reduz tudo à experiência, sem se interrogar sobre as formas a priori.
ÉTICA (gr. ethike, de ethikós: que diz respeito aos costumes) 
Parte da filosofia prática que tem por objetivo elaborar uma reflexão sobre os problemas fundamentais da moral (finalidade e sentido da vida humana, os fundamentos da obrigação e do dever. natureza do bem e do mal, o valor da consciência moral etc.), mas fundada num estudo metafísico do conjunto das regras de conduta consideradas como universalmente válidas, Diferentemente da moral, a ética está mais preocupada em detectar os princípios de uma vida conforme à sabedoria filosófica, em elaborar uma reflexão sobre as razões de se desejar a justiça e a harmonia e sobre os meios de alcançá-las. A moral está mais preocupada na construção de um conjunto de prescrições destinadas a assegurar uma vida cm comum justa e harmoniosa.
1. Ética a Nicômaco - Principal tratado de ética de Aristóteles, aparentemente dirigido a seu filho Nicômaco. Nele defende a virtude como “justa medida”, que pode ser atingida pelo homem se este demonstrar prudência em suas decisões, o que lhe permite atingir a felicidade, que é a realização da vida do homem virtuoso. Teve grande influência no desenvolvimento das teorias éticas na tradição filosófica.
2. Imperativo categórico - Princípio ético formal da razão prática, absoluto e necessário, fundamento último da ação moral, segundo Kant, expresso pela seguinte fórmula: "Age de tal forma que a norma de tua conduta possa ser tomada como lei universal”. Trata-se de um princípio formal e universal, estabelecendo que só devemos basear nossa conduta em valores que todos possam adotar, embora não prescrevendo especificamente quais são esses valores.
3. Virtude (lat. Virtus) - Em um sentido ético, a virtude é uma qualidade positiva do indivíduo que faz com que este aja de forma a fazer o bem para si e para os outros. Platão considerava a virtude como inata, como uma qualidade que o indivíduo traz consigo e que, portanto, não pode ser ensinada. Contrariamente a Platão, Aristóteles considerava que a virtude podia ser adquirida, sendo na realidade resultado de um hábito. ‘A virtude é uma disposição adquirida voluntariamente, consistindo, em relação a nós, em uma medida definida pela razão conforme a conduta de um homem que age refletidamente. Ela consiste na medida justa entre dois extremos, um pelo excesso, outro pela falta’ (Ética a Nicômano). Oposto a vício. Na filosofia moderna, a palavra "virtude" passou a designar a força da alma ou do caráter. Nesse sentido moral, designa uma disposição moral para o bem: "A virtude é a força de resolução que o homem revela na realização de seu dever" (Kant). As virtudes designam formas particulares dessa disposição para o bem: a coragem. a justiça, a lealdade.
4. Ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três grandes questões da vida: (1) quero? (2) devo? e (3) posso? Nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu quero. Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que você pode e o que você deve. Mario Sergio Cortella, escritor e filósofo brasileiro. 
FATALISMO (do lat. fatalis, de fatum: destino) 
Doutrina segundo a qual todos os acontecimentos do universo, especialmente os da vida humana, encontram-se submetidos ao destino, quer dizer, acontecem por uma necessidade absoluta. em conformidade com aquilo que está escrito e dito no chamado "livro do destino", não restando nenhum lugar para a inteligência e a iniciativa humanas. Convém observar que a palavra "fatalismo" não implica a noção de causalidade. Fala-se do fatalismo dos astrólogos, mas eles fazem uma ressalva: "os astros conduzem, mas não obrigam" ou, no dizer de Sêneca: "os astros guiam aqueles que lhes fazem confiança, mas puxam os outros pelos cabelos". Por extensão, podemos chamar de fatalismo tudo aquilo que faz pressão sobre a vontade humana de modo aparentemente irreversível. Nesse sentido, há fatalidades: a morte para o indivíduo, por exemplo.
FELICIDADE (lat. felicitas) 
1. Estado de satisfação plena e global de todas as tendências humanas. 2. Entre os gregos, a busca da felicidade estava vinculada à procura do bem supremo e da virtude. Aristóteles faz da felicidade "a atividade da alma dirigida pela virtude", isto é, pelo exercício da virtude, e não da simples posse. 3. Kant critica as concepções que depositam a felicidade nos sentidos ou que fazem dela um objeto da razão pura. Para ele, "a felicidade é sempre uma coisa agradável para aquele que a possui", mas ela supõe, "como condição, a conduta moral conforme a lei". Em nossos dias, os filósofos da liberdade declaram que "não há moral geral" (Sartre), mas escolhas de existência. A felicidade não é mais um fim a ser atingido, mas uma função cíclica e intermitente, só surgindo na medida em que a afirmamos. Por sua vez, podemos falar da felicidade sem considerar a forma da sociedade em que ela se manifesta: "Freud estabeleceu o vínculo profundo entre a liberdade e a felicidade humana, de um lado, e a sexualidade. do outro: a sexualidade fornece a fonte original da felicidade e da liberdade e. ao mesmo tempo. a razão de suas restrições necessárias na civilização" (Herbert Marcuse). Assim, para Freud, "a felicidade não é um valor cultural": está subordinada às exigências do trabalho e da produção.
A ideia de felicidade segundo Zygmunt Bauman: A declaração de independência americana proclamou, entre os direitos invioláveis do ser humano, a sua (felicidade) busca: um marco para a civilização ocidental. As ideias de felicidade são muitas, mas que podem ser remetidas a duas categorias. A visão mais popular é a de uma vida plena de momentos agradáveis, sem problemas e desafios. A outra nos foi mostrada por Goethe. Já idoso, ele foi perguntado se a sua vida tinha sido feliz. Ele respondeu que sim, mas que não se lembrava de uma única semana em que o tivesse sido. Isso implica que ser feliz não significa não ter dificuldades, mas superá-las. Definir o que significa ser feliz é muito complexo. A própria ideia de felicidade parece conter em si o pressuposto da sua não existência no mundo. A felicidade deve ser conquistada, mas, no nosso sistema de consumidores, vendem-se promessas de promessas de algo que nos fará nos sentirmos melhor. O mercado, em teoria, deveria aspirar a satisfazer todas as necessidades. Satisfazer osconsumidores, na realidade, é o pesadelo do mercado: envolveria não ter mais nada para vender. Os especialistas, portanto, sabem nos manter continuamente insatisfeitos. A publicidade nos promete que seremos felizes com o novo celular, por exemplo, mas ela tinha feito o mesmo para o modelo anterior e vai refazer o mesmo para o posterior. Porém, milhões de pessoas correm para comprar. A atitude do sistema (capitalista) encoraja a ideia de que há algo que pode resolver todos os problemas e alimenta constantemente tal convicção. Isso torna os momentos de felicidade muito curtos. O problema é que somos constrangidos a gastar o dinheiro que ainda não ganhamos para comprar coisas das quais não precisamos para impressionar pessoas que não nos importam muito. Esse é o caminho para alongar os momentos de infelicidade.
IDEOLOGIA (fr. idéologie) 
1. Termo que se origina dos filósofos franceses do final do século XVIII, conhecidos como "ideólogos" (Destutt de Tracy, Cabanis, dentre outros), para os quais significava o estudo da origem e da formação das ideias. Posteriormente, em um sentido mais amplo, passou a significar um conjunto de ideias, princípios e valores que refletem uma determinada visão de mundo, orientando uma forma de ação, sobretudo uma prática política. Ex.: ideologia fascista, ideologia de esquerda, a ideologia dos românticos etc. 2. Marx e Engels utilizam o termo em A ideologia alemã (1845/1846), em um sentido crítico, para designar a concepção idealista de certos filósofos hegelianos (Feuerbach, Bauer, Stirner) que restringiam sua análise ao plano das ideias, sem atingir portanto a base material de onde elas se originam, isto é, as relações sociais e a estrutura econômica da sociedade. A ideologia é assim um fenômeno de superestrutura, uma forma de pensamento opaco, que, por não revelar as causas reais de certos valores, concepções e práticas sociais que são materiais (ou seja, econômicas), contribui para sua aceitação e reprodução, representando um "mundo invertido" e servindo aos interesses da classe dominante que aparecem como se fossem interesses da sociedade como um todo. Nesse sentido, a ideologia se opõe à ciência e ao pensamento crítico. "A produção das ideias, das representações, da consciência é diretamente entrelaçada com a atividade material e com as relações dos homens. Se na ideologia os homens e as suas relações aparecem de cabeça para baixo, como numa câmara escura, esse fenômeno deriva-se do processo histórico de suas vidas. Os pensamentos dominantes nada mais são do que a expressão ideológica das relações materiais dominantes concebidas sob a forma de pensamentos, por conseguinte as relações que fazem de uma classe a classe dominante, por conseguinte os pensamentos de sua dominação" (Marx e Engels, A ideologia alemã). 3. O termo "ideologia" é amplamente utilizado, sobretudo por influência do pensamento de Marx, na filosofia e nas ciências humanas e sociais em geral, significando o processo de racionalização — um autêntico mecanismo de defesa — dos interesses de uma classe ou grupo dominante. Tem por objetivo justificar o domínio exercido e manter coesa a sociedade, apresentando o real como homogêneo, a sociedade como indivisa, permitindo com isso evitar os conflitos e exercer a dominação.
Meu partido/ É um coração partido/ E as ilusões estão todas perdidas/ Os meus sonhos foram todos vendidos/ Tão barato que eu nem acredito/ Eu nem acredito/ Que aquele garoto que ia mudar o mundo/ (Mudar o mundo)/ Frequenta agora as festas do "Grand Monde"/ Meus heróis morreram de overdose/ Meus inimigos estão no poder/ Ideologia/ Eu quero uma pra viver/ Ideologia/ Eu quero uma pra viver (...) Cazuza. Ideologia.
JUSTIÇA (lat. justitia) 
1. Justiça distributiva: princípio ético-político que estabelece a atribuição a cada um do que lhe é devido. 2. Justiça comutativa: conjunto de princípios e leis que regulam as relações entre os indivíduos em uma sociedade e que devem ser cumpridos de modo rigoroso e igualitário. "Quando os homens são amigos não há necessidade de justiça" (Aristóteles). 3. Instituição jurídica que julga a aplicação da lei segundo um código estabelecido. Princípio moral que estabelece o direito como um ideal e exige sua aplicabilidade e seu acatamento. Por extensão, virtude moral que consiste no reconhecimento que devemos dar ao direito do outro.
LEI (lat. lex, legis) 
1. Em um sentido geral, é a expressão de uma relação causal de caráter necessário, que se estabelece entre dois eventos ou fenômenos. "As leis, em seu sentido mais amplo, são relações necessárias, derivadas da natureza das coisas e, nesse sentido, todos os seres têm suas leis" (Montesquieu). 2. Classicamente se estabelece uma distinção entre as leis humanas — que regulam as relações entre os homens e têm um caráter convencional, prescritivo, normativo, sendo originárias do uso, do costume, das práticas sociais — e as leis naturais, que descrevem os princípios que regem os processos naturais são, portanto, universais e necessárias. Hume, entretanto, questionou a natureza da necessidade expressa pela lei natural, considerando que seu caráter necessário resulta apenas de nossa forma de perceber as regularidades no real que, projetando-se sobre a própria realidade, acaba por atribuir a esta um caráter de necessidade que, no entanto, não pode ser encontrado na realidade como tal.
LEI DE GERSON
A lei de Gerson funciona como mais um elemento na definição da identidade nacional e o símbolo mais explícito da nossa falta de ética. Na arraigada cultura brasileira, a famigerada lei de Gérson é uma norma não-escrita, não oficial, segundo a qual a pessoa que gosta de levar vantagem em tudo segue-a no sentido negativo de se aproveitar de todas as situações em benefício próprio, sem se importar com questões éticas, morais ou legais.
Origem da expressão - O meio-campista Gérson ficou célebre não apenas por ter sido uma das maiores estrelas do tricampeonato brasileiro em 1970, mas por ter formulado, na propaganda do cigarro Vila Rica veiculada anos depois, aquela que viria a ser conhecida como lei de Gérson: “O importante é levar vantagem em tudo, certo?” – frase dita num carregado sotaque carioca, forçando os erres até o palato ficar encharcado. Gérson tentou por muito tempo se desvencilhar da fama de patrocinador dos espertalhões, patrono dos corruptos e propagandista dos canalhas, mas não teve jeito. A lei de Gérson pegou. Sociólogos, antropólogos e a nata da intelectualidade brasileira já gastaram horas e mais horas, tinta e mais tinta, neurônios e mais neurônios para condenar nossa brasileira condição gersoniana. Somos mesmo uma nação de egoístas, corruptos e sacanas, que só pensam em si e só querem saber de levar vantagem. Certo? Hélio Gurovitz. ‘Viva a Lei de Gerson!’. 
LIBERDADE (lat. libertas) 
Condição daquele que é livre. Capacidade de agir por si mesmo. Autodeterminação. Independência. Autonomia.
1. Em um sentido político, a liberdade civil ou individual é o exercício, por um indivíduo, de sua cidadania dentro dos limites da lei e respeitando os direitos dos outros. "A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro" (Herbert Spencer). Mais especificamente, a liberdade política é a possibilidade de o indivíduo exercer, em uma sociedade, os chamados direitos individuais clássicos, como direito de voto, liberdade de opinião e de culto etc. "A livre comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo cidadão deve, portanto, poder falar, escrever, imprimir, livremente, devendo, contudo, responder ao abuso dessa liberdade nos casos determinados pela lei" (Declaração dos direitos do homem, 1789). 2. Em um sentido ético, trata-se do direito de escolha pelo indivíduo de seu modo de agir, independentemente de qualquer determinação externa. "A liberdade consiste unicamente em que, ao afirmar ou negar, realizar ou enviar o que o entendimento nos prescreve, agimos de modo a sentir que. em nenhum momento, qualquer força exterior nos constrange" (Descartes). É discutível, doponto de vista filosófico, se o homem teria realmente a liberdade em um sentido absoluto, dados os condicionamentos biológicos, psicológicos e sociais que o limitam. Kant considera que a liberdade é a ação em conformidade com a lei moral que nós outorgamos a nós mesmos. A liberdade implica assim a responsabilidade do indivíduo por seus próprios atos. Sartre, em sua perspectiva existencialista, crê que o homem é livre, "porque somos aquilo que fazemos do que fazem de nós". Haveria sempre a possibilidade de escolha a partir da condição em que nos encontramos, porque o homem nunca é um ser acabado, predeterminado. Ainda segundo Sartre, "não há diferença entre o ser do homem e seu ser livre". 3. Livre-arbítrio: Faculdade que tem o indivíduo de determinar, com base em sua consciência apenas, a sua própria conduta; liberdade de escolha alternativa do individuo; liberdade de autodeterminação que consiste numa decisão, independentemente de qualquer constrangimento externo mas de acordo com os motivos e intenções do próprio indivíduo. Desde Santo Agostinho, passando pelos jansenistas e luteranos, o livre-arbítrio tem sido tema de grandes polêmicas em teologia e em ética. Oposto a determinismo. 
Liberdade, segundo Sartre - Qual é a diferença entre o homem e as coisas? É que só o homem é livre. O homem nada mais é do que o seu projeto. A palavra ‘pro-jeto’ significa, etimologicamente, "ser lançado adiante", assim como o sufixo ex da palavra existir significa "fora". Ora, só o homem existe (ex-siste) porque o existir do homem é um "para-si", ou seja, sendo consciente, o homem é um "ser-para-si" pois a consciência é autorreflexiva, pensa sobre si mesma, é capaz de pôr-se "fora" de si. Portanto, a consciência do homem o distingue das coisas e dos animais, que são "em-si", ou seja, como não são conscientes de si, também não são capazes de se colocar "do lado de fora" para se autoexaminarem. O que acontece ao homem quando se percebe "para-si", aberto à possibilidade de construir ele próprio a sua existência? Descobre que, não havendo essência ou modelo para lhe orientar o caminho, seu futuro se encontra disponível e aberto, estando portanto irremediavelmente "condenado a ser livre". É o próprio Sartre que cita a frase de Dostoiévski em Os irmãos Karamazov: "Se Deus não existe, então tudo é permitido", para relembrar que os valores não são dados nem por Deus nem pela tradição: só ao próprio homem cabe inventá-los. Se o homem é livre, é consequentemente responsável por tudo aquilo que escolhe e faz. A liberdade só possui significado na ação, na capacidade do homem de operar modificações no real.
MAIS-VALIA (Marx)
Conceito fundamental utilizado por Marx para sublinhar a exploração imposta ao proletariado pelo proprietário dos meios de produção: a força de trabalho dos operários é o único valor de uso capaz de multiplicar o valor. Ao vender sua força de trabalho ao empregador, em troca de um salário, ela se torna um valor da troca como qualquer outra mercadoria: "o valor da força de trabalho é determinado pela quantidade de trabalho necessária à sua produção". Todavia, o empregador prolonga ao máximo a duração do trabalho do operário. Este sobretrabalho cria um sobreproduto, uma mais-valia que não é paga ao trabalhador, que lhe é subtraída e marca a sua exploração. Quando a mais-valia é aumentada pela introdução de máquinas mais aperfeiçoadas, por um controle maior da produção individual ou por uma aceleração do ritmo de trabalho, falamos de mais-valia relativa. E o único modo, segundo a teoria marxista, de se acabar com a mais-valia, é substituir a propriedade privada pela propriedade coletiva dos meios de produção.
MANIQUEÍSMO (do lat. tardio manichaeus) 
1. Doutrina criada por Manes (século III), que se difundiu pelo Império romano e pelo Ocidente cristão, florescendo nesse período. Combina elementos do zoroastrismo, antiga religião persa, e de outras religiões orientais, além do próprio cristianismo. Mantém urna visão dualista radical, segundo a qual encontram-se no mundo as forças do bem ou da luz, e do mal, ou da escuridão, consideradas princípios absolutos, em permanente e eterno confronto. O maniqueísmo teve grande influência nos primórdios do cristianismo, sendo combatido por Santo Agostinho, que inicialmente o havia adotado. 2. Em um sentido genérico, "visão maniqueísta" é aquela que reduz a consideração de uma realidade a uma oposição simplista entre algo que representaria o bem e algo que representaria o mal.
MODERNIDADE LÍQUIDA (Zygmunt Bauman)
Diferentemente da sociedade moderna anterior, a que eu chamo de modernidade sólida, que também estava sempre a desmontar a realidade herdada, a de agora não o faz com uma perspectiva de longa duração, com a intenção de torná-la melhor e novamente sólida. Tudo está agora sempre a ser permanentemente desmontado, mas sem perspectiva de nenhuma permanência./ Tudo é temporário. É por isso que sugeri a metáfora da "liquidez" para caracterizar o estado da sociedade moderna, que, como os líquidos, se caracteriza por uma incapacidade de manter a forma. Nossas instituições, quadros de referência, estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades "autoevidentes". É verdade que a vida moderna foi desde o início "desenraizadora" e "derretia os sólidos e profanava os sagrados", como os jovens Marx e Engels notaram. Mas, enquanto no passado isso se fazia para ser novamente "reenraizado", agora as coisas todas - empregos, relacionamentos, know-hows etc. - tendem a permanecer em fluxo, voláteis, desreguladas, flexíveis. (...) Em "Liquid Love" [Amor Líquido], eu exploro o impacto dessa situação nas relações humanas, quando o indivíduo se vê diante de um dilema terrível: de um lado, ele precisa dos outros como do ar que respira, mas, ao mesmo tempo, ele tem medo de desenvolver relacionamentos mais profundos, que o imobilizem num mundo em permanente movimento. (...) Diferentemente dos perigos antigos, os riscos que envolvem a condição humana no mundo das dependências globais podem não só deixar de ser notados, mas também minimizados, mesmo quando notados. Do mesmo modo, as ações necessárias para exterminar ou limitar os riscos podem ser desviadas das verdadeiras fontes do perigo e canalizadas para alvos errados. Quando a complexidade da situação é descartada, fica fácil apontar para aquilo que está mais à mão como sendo causa das incertezas e ansiedades modernas. Veja, por exemplo, o caso das manifestações contra imigrantes que ocorrem pela Europa. Vistos como "o inimigo" próximo, eles são apontados como os culpados pelas frustrações da sociedade, como aqueles que põem obstáculo aos projetos de vida dos demais cidadãos. A noção de "solicitante de asilo" adquire, nesse quadro, uma conotação negativa, ao mesmo tempo em que as leis que regem a imigração e naturalização se tornam mais restritivas, e a promessa de construção de "centros de detenção" para estrangeiros confere vantagens eleitorais a plataformas políticas.
NIILISMO (do lat. nihil nada) 
1. Doutrina filosófica que nega a existência do *absoluto, quer como verdade, quer como valor ético. 2. Termo empregado por Nietzsche para designar o que considerou como o resultado da decadência europeia, a ruína dos valores tradicionais consagrados na civilização ocidental do século XIX. Caracteriza-se pela descrença em um futuro ou destino glorioso da civilização, opondo-se, portanto, à ideia de progresso e pela afirmação da "morte de Deus", negando a crença em um absoluto, fundamento metafísico de todos os valores éticos, estéticos e sociais da tradição. O niilismo nietzschiano deve, no entanto, levar a novos valores que sejam 'afirmativos da vida'', da vontade humana, superando os princípios metafísicos tradicionais como a "moral do rebanho" do cristianismo e situando-se "para além do bem e do mal". 3. O escritor russo Ivan Turgueniev usou a palavra "niilismo" em seu romance Pais e filhos, dando-lhe o novo significado de "ação revolucionária de iniciativa e cooperaçãode intelectuais", em reação à autocracia russa e recomendando a utilização do terrorismo para modificar o regime econômico, social e político da Rússia.
Niilismo, segundo o filósofo Claudemir Araldi (UFPel-RS) - Sem dúvida, o diagnóstico de Nietzsche sobre o niilismo é atual, pois vivemos numa crise de valores, quer ela seja admitida ou não. Heidegger nos mostrou muito bem, em seus escritos posteriores à Segunda Guerra Mundial, que o niilismo assume uma escala planetária, não se restringindo apenas ao mundo ocidental, com o desenvolvimento da técnica no século XX. E isso Nietzsche enfatizou bem: a crise de valores niilista não atinge somente os ateus, que se desgarraram da crença num Deus garantidor da verdade e do sentido da vida. O niilismo é um fenômeno planetário (hoje diríamos, global), pois tem a ver com uma questão que diz respeito a todos: como dar sentido à existência singular depois que ficou evidenciado o vazio da interpretação moral cristã? Deparamo-nos aqui com a controvertida afirmação de Nietzsche, de que “Deus morreu”. A “morte de Deus” não é uma invenção de Nietzsche. Mas é a constatação de que o homem moderno (e contemporâneo) já há muito não pauta suas ações pelos valores genuinamente cristãos. Ou seja, Deus não possuiria mais poder sobre as ações e desejos do homem, em sua destinação terrena. (...) Nietzsche afirmou que o projeto político da modernidade está esgotado, porque ele estava ancorado em valores de uma moral que perdeu seu sentido. Tanto o socialismo quanto o liberalismo acreditam num melhoramento “moral” dos seres humanos. As consequências dos projetos políticos da modernidade seriam niilistas, pois não fornecem uma saída para a crise de valores e sentido que atravessa nossa história ocidental. (...) Enquanto reinar o individualismo e o egocentrismo niilista em nossa sociedade, mais forte será a experiência da fragmentação e do relativismo dos valores. O que permite termos esperança de superar essas tendências niilistas é o desejo presente em quase todos os seres humanos de construir relações (amizades, amores, companheirismos) duradouras. Se percebemos ainda que esse mundo hipermoderno de competitivas e desumanas relações comerciais não nos traz realização e satisfação, então podemos esperar um futuro melhor para nossas vidas. E o mais importante, com essa percepção, é mobilizar nossas energias de vontade para a construção de novos valores, que não sejam apenas válidos para cada um. Mas é muito difícil pensar num solo comum para toda a sociedade, pois os indivíduos parecem ter desejos e interesses tão conflitantes. E se as próximas gerações não tiverem essa percepção, ou seja, se não tiverem consciência ou sentimento desses valores morais, antigos ou novos? Poderia o ser humano bastar-se, aquém da ética, com seu mundo individualizado de prazeres, desejos e bens de consumo? Seria precipitado oferecer respostas imediatas à altura desses questionamentos.
OTIMISMO/ PESSIMISMO (do lat. optimus: o melhor; do lat. pessimus: o pior) 
1. O otimismo representa a concepção segundo a.qual a realidade é intrinsecamente boa, sendo que, em última análise, o bem sempre prevalece sobre o mal, Dentre os que tradicionalmente defendem esta posição, temos a escola estóica, além de Espinosa e Leibniz. Este último, sobretudo, é considerado um dos principais representantes do otimismo filosófico, devido à sua ideia de que este mundo é "o melhor dos mundos possíveis". O mundo criado por Deus seria o melhor dentre todas as outras alternativas possíveis: "entre uma infinidade de mundos possíveis, há o melhor de todos, caso contrário Deus não teria chegado a criá-lo" (Leibniz, Teodicéia). Voltaire, em seu Cândido, ou O otimismo, ironiza a visão de Leibniz, considerando-a ingênua. 2. O pessimismo opõe-se ao otimismo e designa uma atitude ou visão negativa das coisas, esperando sempre que o pior aconteça, ou considerando a realidade adversa, sendo impossível mudar as coisas para melhor. Embora não designe uma escola filosófica propriamente, al-guns filósofos como Schopenhauer tiveram sua doutrina considerada como pessimista. O pensador alemão Oswald *Spengler (1880-1936), em A decadência do Ocidente (1918-1922), expressa uma visão pessimista em relação à sociedade europeia do início do século e a seu futuro, resultado de sua análise histórica do desenvolvimento de nossa civilização. A visão de Spengler é bastante representativa da atitude de diversos pensadores de sua época.
PATRIMONIALISMO
Patrimonialismo vem de patrimônio, do latim patrimonium – em seu sentido original, conjunto dos bens paternos, herança familiar. Mas o significado que vem ao caso nasce como um conceito cunhado pelo jurista alemão Max Weber (1864-1920), um dos pais da sociologia. Em linhas gerais, trata-se de uma forma de dominação política comum em regimes absolutistas, em que o governante não diferencia bens particulares de públicos, tratando a administração como assunto pessoal. O patrimonialismo weberiano encontrou solo fértil no pensamento brasileiro do século 20. O primeiro a usá-lo foi Sérgio Buarque de Hollanda no clássico Raízes do Brasil. “Para o funcionário ‘patrimonial’, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular”, escreve ele, parecendo falar do que ocorre hoje no Congresso. “As funções, os empregos e os benefícios que deles aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que prevalecem a especialização das funções e o esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos.”
Leitura complementar para PATRIMONIALISMO
A confusão entre os interesses de Estado e os interesses privados (das pessoas, das famílias, etc.) é fonte de crises políticas em todos os tempos. O primeiro a tratar do assunto foi Sófocles (século 5.º antes de Cristo), que expôs os conflitos entre público e privado no texto, sempre encenado, da tragédia Antígona.
Mas o primeiro grande pensador da Ciência Política a desenvolver o conceito de patrimonialismo como forma de governo foi Max Weber, em seu clássico Economia e Sociedade. Um tanto simplificadamente, é o tipo de governo e de dominação em que o dirigente toma como seus os recursos do Estado e os distribui entre os subordinados tanto para garantir apoio (legitimidade), como para governar por meio deles.
No Brasil, a partir dos anos 30 apareceram pensadores que se propuseram a estudar as nossas origens e características para entender por que somos como somos e buscar caminhos para nos livrar de heranças funestas, de maneira a nos tornarmos uma sociedade moderna.
Sérgio Buarque de Holanda, em seu livro Raízes do Brasil (1936), descreve como o caráter patrimonialista da administração pública brasileira deformou e segue deformando as relações de poder. Impede o reconhecimento do mérito como critério de escolha dos funcionários públicos e se torna o principal entrave para a eficiência do Estado. As nomeações não são feitas a partir da capacidade do funcionário, mas de acordo com as relações familiares e trocas de favores. A rigor, a administração nessas relações de poder não é assunto público; não passa de interesse particular, nem sempre disfarçado. Nesse caso, o funcionário nunca admite que está desviando verbas. Ao contrário, parte do princípio de que, se ele está lá, é porque vem cumprindo as regras do jogo. Entre elas, está o direito de tirar proveito próprio dos recursos do Estado, sem medo de ser feliz.
O estudioso que mais aprofundou as análises sobre a origem e metamorfoses das relações patrimonialistas de poder no Brasil foi Raimundo Faoro na sua obra clássica de 1958, Os donos do poder.
Ele mostra que tudo começou lá atrás, em Portugal, quando a coroa portuguesa ainda procurava controlar a aristocracia local. Foi a dinastia de Avis que buscou o apoio dos senhores de terras e os transformou em nobres, com o objetivo de garantir a administração do Estado, por meio de distribuição de títulos e de terras. A casa de Bragança ampliou essas práticas, transformoua administração pública em ramificações de negócios próprios do rei. Daí a importância do estatuto dos monopólios que passaram a ser administrados por concessões.
Com a descoberta do Brasil, os reis de Portugal ganharam um problemão: como administrar essa imensidão e como combater os predadores. A solução foi a criação das capitanias gerais hereditárias, transferidas a sesmeiros que, na condição de capitães gerais, exerciam o poder político e conduziam os monopólios.
Ao longo de toda a Colonização, dos reinados e dos Impérios, o modelo básico persistiu, embora com transmutações. Os traços básicos, alguns já residuais e outros consolidados, persistem na República. O pistolão, a carteirada, o tráfico de influência e o aparelhamento das repartições para proveito dos grupos influentes seguem fazendo estragos na administração pública e, pior do que isso, formatam a política econômica do governo. (Celso Ming. Raízes do patrimonialismo 1. O Estado de São Paulo, 24/1/2015. Trecho)
PODER (lat. vulgar potere) 
1. Capacidade, faculdade, possibilidade de realizar algo, derivada de um elemento físico ou natural, ou conferida por uma autoridade institucional. Ex.: poder criador, poder do fogo de derreter a cera, poder de nomear e demitir etc. 2. Em um sentido político, examina-se o fundamento do poder, do exercício do domínio político, seja na força: poder ditatorial, poder militar, seja em uma autoridade legitimamente constituída: poder constitucional. 3. Montesquieu formulou a doutrina dos três poderes, que estabelece o princípio do equilíbrio e da independência dos poderes executivo, legislativo e judiciário em um Estado, que devem agir autônomos e livremente para que se preserve a harmonia política. 4. Michel Foucault. sobretudo a partir de sua obra Vigiar e punir, se propôs realizar uma *genealogia do poder, um exame das relações entre saber e poder, ciência e dominação, controle. na formação da sociedade contemporânea. Essa "genealogia" parte da constatação de que o poder é exercido na sociedade não apenas através do Estado e das autoridades formalmente constituídas, mas de maneiras as mais diversas, em uma multiplicidade de sentidos, em níveis distintos e variados, muitas vezes sem nos darmos conta disso. Essa ideia é desenvolvida principalmente em sua obra Microfísica do poder.
Leituras complementares para PODER
* O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente (‘Power tends to corrupt and absolute power corrupts absolutely’). Lord Acton, historiador britânico, em carta escrita ao Bispo Creighton, em 1887.
* Para que não se possa abusar do poder é preciso que, pela disposição das coisas, o poder freie o poder. Montesquieu, filósofo francês.
* A Espada de Dâmocles - Dâmocles é protagonista de uma anedota moral que figurou originalmente na história perdida da Sicília por Timeu de Tauromênio (c. 356 - 260 a.C.). Cícero pode tê-la lido em Diodoro Sículo. Ele fez uso dela em suas Tusculan Disputationes V.61 - 62. Dâmocles era um cortesão bastante bajulador na corte do tirano Dionísio, de Siracusa. Ele dizia que, como um grande homem de poder e autoridade, Dionísio era verdadeiramente afortunado. Dionísio ofereceu-se para trocar de lugar com ele por um dia, para que ele também pudesse sentir o gosto de toda esta sorte, sendo servido em ouro e prata, atendido por garotas de extraordinária beleza, e servido com as melhores comidas. No meio de todo o luxo, Dionísio ordenou que uma espada fosse pendurada sobre o pescoço de Dâmocles, presa apenas por um fio de rabo de cavalo. Ao ver a espada afiada suspensa diretamente sobre sua cabeça, Dâmocles perdeu o interesse pela excelente comida e pelas belas garotas e abdicou de seu posto, dizendo que não queria mais ser tão afortunado. A espada de Dâmocles é uma alusão frequentemente usada para remeter a este conto, representando a insegurança daqueles com grande poder (devido à possibilidade deste poder lhes ser tomado de repente) ou, mais genericamente, a qualquer sentimento de danação iminente.
* O anel de Giges (Platão) - Nestes tempos de moral social degenerada, vale relembrar o filósofo Platão em sua obra A República, quando ele narra a lenda do pastor Giges. Certo dia, após uma tempestade, abre-se uma fenda no chão, e o rebanho do pastor é engolido. Ele resolve entrar na fenda e encontra, no fundo do abismo, o cadáver de um gigante, que trazia apenas um anel em um dedo. Giges coloca o anel e segue para a assembleia de pastores destinada a preparar relatório para o rei sobre a situação do rebanho. O pastor, então, percebe que, ao girar o anel para baixo, ele se torna uma pessoa invisível. Virando o anel para cima, ele volta a ficar visível. Eufórico com a descoberta, Giges vai ao palácio e, estando lá, gira o anel e fica invisível. Agora, longe de qualquer punição, Giges seduz a rainha, assassina o rei e usurpa o trono, iniciando sua longa dinastia. Platão nos conta que, ao desfrutar da invisibilidade e movido pelo desejo de poder, o pastor passa a agir sem escrúpulos, seduz, rouba e mata. E o filósofo nos propõe a seguinte questão: os homens são bons por escolha própria ou simplesmente porque temem ser descobertos e punidos? Imagine, caro leitor, que você tenha o anel de Giges e possa ficar invisível. Livre para fazer o que quiser sem ser punido pela sociedade, pelas leis e por Deus, você agiria com base na moral e na justiça? Platão disse: “Quer conhecer o homem, dê-lhe o poder”. O ser humano só é completamente moral quando, tendo o poder e estando livre da punição, ele age com base na moral, na virtude e na justiça. A observação da conduta cotidiana nos leva a concluir que, se o ser humano ficar entregue a seus próprios instintos naturais, muito provavelmente o egoísmo, a ganância e a sede de ter mais – poder, fama e dinheiro – o levariam a roubar, matar e trapacear. A narrativa de Platão permite concluir que mesmo uma pessoa virtuosa e justa, se tivesse em mãos o anel de Giges, agiria contrariamente à virtude e à justiça. Não todos, é claro. E Aristóteles alerta que “o homem guiado pela ética é o melhor dos animais. Quando sem ela, é o pior”. Por isso, a vida em sociedade exige um conjunto de normas gerais de conduta justa, iguais para todos (inclusive para o rei) e aplicáveis a um número incerto de casos futuros. A propensão humana à virtude é frágil; por isso, a paz social não dispensa as regras de conduta e a punição para quem as viola.
José Pio Martins. ‘A moral e o Anel de Giges’.
PROMETEU (Mito grego)
Para os antigos gregos, a conquista do fogo estava intimamente ligada à luta pela liberdade. Basta ver como eles contavam a história do domínio do fogo — num dos mais poderosos mitos já criados pelo homem. Existia no Olimpo, a montanha em que moravam os deuses, um titã (deus gigante) muito brincalhão, chamado Prometeu (que significa o que pensa antes), descendente do casamento de Urano, o céu, com Gea, a Terra. Eles tiveram, entre outros filhos, Japetos, que viria a ser pai de Prometeu. Como Zeus, a divindade suprema, era filho de Cronos, o tempo, irmão de Japetos, Zeus e Prometeu eram primos. Ora, Prometeu vivia fazendo artes e piadas. Uma de suas brincadeiras, justamente, foi criar o ser humano, ou melhor, só o homem, o sexo masculino, e colocar nele uma centelha do fogo divino, a alma. Os homens assim criados assumiram o compromisso de homenagear Zeus com sacrifícios animais. Em troca, podiam usar o fogo, até então considerado exclusivo das divindades. Mas pouco depois Prometeu fez outra brincadeira: escondeu a carne de um animal sacrificado, de modo que Zeus ficou só com os ossos e a gordura. Irritado ao descobrir o engano, Zeus retirou o fogo dos homens e proibiu que eles o utilizassem novamente. Os homens começaram a passar frio e fome, pois não podiam mais usar o fogo nem para se aquecer, nem para cercar a caça, nem para moldar as armas usadas na caça, nem para cozinhar os alimentos, dos quais muitos, como os cereais, deixaram assim de ser comestíveis. Penalizado com a situação dos homens — afinal ele fora o seu criador —, Prometeu fezuma brincadeira a sério: roubou uma brasa da forja de Hefaistos, o deus ferreiro, escondeu-a no oco de um pau, com o qual saiu do Olimpo, sem que os outros deuses percebessem que desse modo ele estava entregando o fogo de novo aos homens. Com isso, os homens puderam voltar a fazer tudo o que precisavam para sobreviver. Quando soube que o fogo tinha sido roubado do Olimpo, Zeus ficou furioso e resolveu se vingar duplamente: dos homens e de Prometeu. Dos homens, Zeus se vingou criando a primeira mulher, Pandora, com a ideia de que as mulheres passassem a infernizar-lhes a vida. E, de fato, Pandora logo seduziu Epimeteu (que significa, o que só pensa depois), um irmão menos esperto de Prometeu. E Epimeteu, ao contrário do que lhe aconselhava o irmão, casou-se com Pandora. Esta então abriu uma caixinha — os antigos, por sinal, designavam o objeto “caixinha” pela palavra “boceta”— e da caixinha ou boceta saíram todos os males que desde então têm atazanado os homens, como as discórdias, as doenças e a necessidade de trabalhar duro para sobreviver. Em seguida, Pandora fechou a tampa da caixinha, com o que ficou presa dentro dela a Esperança, desde então inacessível aos homens. Contra Prometeu, a vingança de Zeus foi particularmente cruel. O deus supremo ordenou que o deus ferreiro Hefaistos forjasse uma corrente indestrutível, de elos invioláveis — incumbência que ele aceitou de bom grado porque afinal fora de sua forja que Prometeu roubara o fogo. Com essa corrente a toda prova, Prometeu ficou acorrentado ao alto de um pico no Cáucaso — onde hoje fica a Geórgia, na União Soviética, portanto bem longe do Olimpo grego — condenado a ter o fígado eternamente devorado por uma águia. Cada vez que a águia terminava de devorar todo o fígado de Prometeu, a víscera renascia e a águia começava de novo a devorá-lo. Esse castigo impiedoso — e acima de tudo injusto, pois que mal podiam os homens mortais fazer com o fogo contra os deuses imortais? — deveria em princípio durar eternamente. E durou mesmo alguns séculos ou milênios, até que o herói Héracles (Hércules, para os romanos) entrou em cena. Para os gregos antigos, um herói era o filho de uma divindade com um ser humano, sendo portanto mais poderoso que um homem, mas não imortal como um deus. No caso, Héracles era filho de Zeus com a humana Alcmena. Ele matou a águia e com sua força literalmente hercúlea arrebentou a corrente dita indestrutível, libertando Prometeu. O mito de Prometeu acabou se tornando a metáfora de um mártir pela liberdade, a terrível saga de quem ousa se contrapor à tirania arbitrária dos que governam o destino humano, como no caso de Zeus. Prometeu representa também um símbolo da luta pela civilização e a cultura, pois diz a lenda que, com o fogo, ele outorgou também à humanidade, as artes e as ciências. A aventura da busca do conhecimento, a matéria-prima da liberdade, imprimiu na mente humana, desde os tempos antigos, um claro sentido de tragédia.
Prometeico - Adjetivo derivado de Prometeu, personagem da mitologia grega que, tendo roubado o fogo dos deuses para entregá-lo aos homens, foi acorrentado como castigo no monte Cáucaso. Diz-se, em geral, das pretensões humanas que, de alguma forma, buscam superar os limites da condição humana e igualar-se aos deuses; e também, das tentativas do homem de superar a si mesmo através da ciência e da técnica para dominar a natureza.
SOLIDARIEDADE
O princípio da solidariedade deve ser entendido como valor, que evoluiu historicamente, e passou de parte da doutrina cristã, que tinha como base a ideia do amor ao próximo, passando a constituir valor moral capaz de disciplinar as mais diversas relações em sociedade, vindo a se tornar princípio jurídico positivado, e por último direito humano universal, transformando o ordenamento jurídico, a sociedade e a política.
Julia Gonçalves Quintana e Jorge Renato dos Reis. Revista Constituição e Garantia de Direitos.
* Solidariedade é um substantivo feminino, que significa a condição de quem é solidário. A primeira definição para a palavra solidário, trazida pelo dicionário Houaiss, diz respeito à existência de responsabilidade recíproca ou interesse comum. Responsabilizar-se é responder por alguém ou por alguma situação. Nessa perspectiva, a solidariedade é uma atribuição profundamente humana, pois diz respeito ao reconhecimento do outro como a um igual, sobretudo nas situações em que esse outro se encontre com sua dignidade diminuída, por algum motivo. É a tradução existencial do ubuntu presente nas culturas africanas: eu sou porque nós somos. Uma pessoa solidária é aquela que se deixa afectar pelo outro, em sua existência que reclama cuidado, apoio, consolo... A solidariedade remete, entre outras coisas, à chamada regra de ouro (não fazer para o outro aquilo que não gostaríamos que fizessem conosco): buscar colocar-se no lugar do outro; ou, em outras palavras, buscar para o outro aquilo que gostaríamos para nós mesmos. Felipe Magalhães Francisco, teólogo. In: http://domtotal.com
Leitura complementar para SOLIDARIEDADE
Tipos de solidariedade social
O sociólogo Émile Durkheim, em sua teoria, preocupava-se com as mudanças que observava no contexto social em que vivia. Embora isso seja comum a todos os teóricos preocupados com os assuntos do mundo sociológico, Durkheim estava particularmente interessado na dimensão social que envolvia as relações de solidariedade social e moral. De forma mais clara, isso quer dizer que o teórico ocupava-se em abordar os aspectos da organização social responsáveis por manter sua coesão, ou seja, o que torna possível a convivência harmônica dos diferentes grupos sociais.
É em um dos seus trabalhos mais célebres, “A divisão do trabalho na sociedade” (1893), que Durkheim se volta para compreender as interações relacionadas com a solidariedade que permitem a coexistência dos indivíduos em sociedade. Nesse trabalho, o sociólogo trata das formas como a divisão do trabalho de uma sociedade, isto é, como estão organizados os papeis dos sujeitos no meio social em relação ao trabalho, interferem na relação de solidariedade.
Os esforços do autor são direcionados para a análise por comparação entre o que ele chama de “sociedades primitivas” e a sociedade moderna. Seu objetivo era explicar como a coesão social era possível no mundo moderno, em que a individualidade do sujeito aguçava-se gradualmente. Com essa indagação, Durkheim buscou respostas comparando as estruturas que se formaram em função do trabalho nos grupos sociais “primitivos” e as que surgiam no mundo social moderno.
As “sociedades primitivas”, segundo o autor, estavam estruturadas em torno de um agrupamento de valores comuns a todos aqueles que faziam parte do grupo. Isso equivale a dizer que a consciência coletiva comandava as ações dos indivíduos, que se pautavam por preceitos generalizados que sobrepujavam a vontade individual. É importante, portanto, entendermos que o conceito de solidariedade no trabalho de Durkheim faz alusão à existência de uma consciência coletiva, um conjunto de valores, noções morais, ideias e costumes que são compartilhados entre os sujeitos do grupo.
A solidariedade mecânica estava então inserida na realidade das sociedades tradicionais, anteriores à modernidade, em que a consciência coletiva restringia as ações do indivíduo, que pautava suas decisões em favor das noções comuns de seu mundo social. Isso resultava em uma coesão social muito mais forte e ao mesmo tempo em um policiamento muito mais rigoroso quanto ao comportamento do indivíduo, impossibilitando o desenvolvimento de personalidades de caráter individual, o que seria o ponto de diferenciação entre as organizações modernas e as tradicionais. O mundo tradicional observado por Durkheim estava disposto de forma muito mais compacta, e as instituições de controle social dispunham de grande força sobre o comportamento do sujeito.
Durkheim argumentou que foi diante da grande explosão populacional vista no início do período da Revolução Industrial e do consequente aumento da “densidade moral”, ouseja, o aumento do contato entre diferentes valores e costumes que existiam nos diferentes grupos quando fragmentados, que a força de policiamento moral que as sociedades tradicionais possuíam dissolveu-se. Concomitantemente a isso, a nova lógica econômica do trabalho assalariado e a competição pela obtenção de um trabalho serviram como fomento para o processo de individualização do sujeito. Além disso, a especialização da mão de obra serviu também como mais um agente fragmentador das formas de relação que haviam se estabelecido até então, mas ao mesmo tempo construía uma nova forma de interdependência entre os sujeitos. A especialização em uma área da produção significava não possuir capacitação para realizar outras funções.
Na ótica de Durkheim, os sujeitos estariam inseridos em uma lógica de solidariedade orgânica, uma vez que o construto social funcionaria como um organismo vivo, em que cada órgão do corpo estaria especializado em uma atividade específica. Portanto, não poderia o cérebro realizar a atividade do coração, mas eles seriam interdependentes, uma vez que um coração não bate sem um cérebro para comandá-lo e nem o cérebro sobrevive sem um coração para alimentá-lo.
Lucas de Oliveira Rodrigues. Fonte: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/sociologia/tipos-solidariedade-social.htm
SUSTENTABILIDADE
A palavra deriva de outro termo, chamado “desenvolvimento sustentável”, que foi reconhecido internacionalmente em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia. “O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”, é a sua definição mais comum e que fundamentou outros encontros, como a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), realizada em 1992 no Rio de Janeiro. A ECO-92 representou a primeira tentativa internacional de elaborar planos de ação e estratégias para assegurar o planeta. (Amcham Brasil. O Estado de São Paulo, 19 Maio 2017)
Os três pilares da sustentabilidade se dividem nos seguintes âmbitos: o social, o ambiental e o econômico. Cada um retrata um contexto em que a sustentabilidade é aplicada, ao mesmo tempo em que um depende do outro para se sustentar. O aspecto social refere-se diretamente ao elemento humano, como a criação de mecanismos que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos, leis de amparo às necessidades da população e desenvolvimento de políticas de melhorias em áreas como educação, segurança e lazer. Este pilar parte do princípio que a busca por uma sociedade sustentável deve passar pela ideia de se ter uma sociedade bem cuidada e saudável. O pilar ambiental tem as suas raízes nas muitas maneiras de se buscar a preservação do meio ambiente, dos recursos naturais, além da diminuição do desperdício de materiais. Esta etapa busca estudar as melhores formas de se desenvolver projetos com o menor impacto ambiental e encontrar alternativas saudáveis para práticas dentro do contexto de cada região. O terceiro pilar é o econômico, que vai além do seu significado superficial que é relacionado a dinheiro. Diz respeito às causas e efeitos de decisões de negócios feitas no âmbito ambiental dentro do contexto econômico. (https://www.pensamentoverde.com.br/sustentabilidade/voce-conhece-os-tres-pilares-da-sustentabilidade/)
A espécie humana surgiu na terra há cerca de três milhões de anos. E surgiu com uma vocação admirável: a de transformar tudo a sua volta. Transformamos pedra em ferramenta, planta em roupa, chão em milharal, milho em pipoca, trigo em pão, água em energia, papel em literatura, silício em videogame, petróleo em velocidade. Vivemos hoje uma cultura de transformações cada vez mais aceleradas e o fato de estarmos realizando plenamente nossa vocação é maravilhoso, não fosse por um detalhe. Um detalhe do tamanho do mundo. A terra não tem recursos suficientes para nosso ímpeto transformador. Já somos sete bilhões de pessoas e seremos muitos mais. Nosso impulso transformador só vai se expandir nos próximos anos. O que faremos diante de este enorme dilema? O homem vai parar de transformar o mundo? Vai abolir uma vocação tão bela e profunda da noite para o dia? Como vamos tornar compatíveis a continuidade de nosso desenvolvimento e nossa própria existência em nosso planeta Terra? (...) Sabemos que o homem não vai parar de transformar o mundo. A vontade de transformar está praticamente escrita no nosso código genético. Assim, se temos uma chance, é a de aplicar nossa vocação transformadora sobre ela mesma. Transformar a própria transformação. As sementes de hoje são ideias e atitudes capazes de fazer com que o homem passe a transformar o mundo de maneira mais limpa, mais pensada, mais responsável. (Rio+20 Desafios da Sustentabilidade)
Fonte: nacoesunidas.org
1. Erradicação da pobreza; 2. Erradicação da fome; 3. Saúde de qualidade; 4. Educação de qualidade; 5. Igualdade de gênero; 6. Água limpa e saneamento; 7. Energias renováveis; 8. Empregos dignos e crescimento econômico; 9. Inovações e infraestrutura; 10. Redução das desigualdades; 11. Cidades e comunidades sustentáveis; 12. Consumo responsável; 13. Combate às mudanças climáticas; 14. Vida debaixo da água; 15. Vida sobre a terra; 16. Paz e justiça; 17. Parceria pelas metas.
TÁBULA RASA (John Locke)
Expressão latina tornada célebre por Locke e Leibniz a propósito do debate em torno do inato e do adquirido. Para Locke, o espírito humano é, desde seu nascimento, como uma tabula rasa, adquirindo todos os seus conhecimentos pela experiência. Leibniz, ao contrário, acredita que há no espírito humano certos elementos inatos (como a ideia de causa, de comparação, de número etc.) e que não podem ser retirados da experiência.
Leituras complementares para TÁBULA RASA
* A crítica contra o inatismo - o pressuposto de que o homem possui ideias inatas, isto é, ideias que se encontram na alma desde o seu nascimento, e que, portanto, não deriva de qualquer experiência - levou Locke a conceber a alma humana, no momento do nascimento, como uma “tábula rasa”, uma espécie de papel em branco, no qual inicialmente nada se encontra escrito. Os homens nascem todos iguais e todos são dotados das mesmas faculdades, das mesmas fraquezas. Todos nascem nus e impotentes. Não há, portanto, entre eles nada que os diferencie. O conhecimento vai se formando com a experiência. A folha de papel está em branco e é preciso saber o que se vai escrever nesta folha em branco. Ela pode conter belas palavras que podem edificar o homem, mas também podem conter outras que podem perdê-lo, talvez para sempre. Locke se ocupará então de pensar a educação do novo homem, o cidadão dessa nova sociedade que surge (*). E, ao formular sua teoria ele pensa a formação do homem integral, do homem útil, não apenas a sua comunidade de nascimento, mas a essa comunidade de iguais chamada sociedade universal dos seres humanos. Ana Maria Brito Sanchez. ‘A teoria da educação liberal em John Locke’.
* Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como ela será suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo, numa palavra: da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento./ Empregada tanto nos objetos sensíveis externos como nas operações internas de nossas mentes, que são por nós mesmos percebidas e refletidas, nossa observação supre nosso entendimento com todos os materiais do pensamento. Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas as nossas ideias, ou as que possivelmente teremos. John Locke. Ensaio acerca do entendimento humano. 
VERDADE (lat. veritas) 
1. Classicamente, a verdade se define como adequação do intelecto ao real. Pode-se dizer, portanto,que a verdade é uma propriedade dos juízos, que podem ser verdadeiros ou falsos, dependendo da correspondência entre o que afirmam ou negam e a realidade de que falam. 2. Há, entretanto, várias definições de verdade e várias teorias que pretendem explicar a natureza da verdade. Segundo a teoria consensual, a verdade não se estabelece a partir da correspondência entre o juízo e o real, mas resulta, antes, do consenso ou do acordo entre os indivíduos de uma determinada comunidade ou cultura quanto ao que consideram aceitável ou justificável em sua maneira de encarar o real. A teoria da verdade como coerência considera a verdade de um juízo ou proposição como resultando de sua coerência com um sistema de crenças ou verdades anteriormente estabelecidas, como preservando assim a ausência de contradição dentro do sistema, sendo portanto o critério de verdade interno a um sistema ou teoria determinada. Para a teoria pragmática, a verdade de uma proposição ou de um conjunto de proposições se estabelece a partir de seus resultados, de sua aplicação prática, concreta, de sua verificação pela experiência. 3. Verdade necessária: as verdades necessárias são aquelas que não dependem da experiência, mas que são estabelecidas independentemente desta, a priori: por definição, são, portanto, nesse sentido, verdades analíticas. 4. Verdades primeiras são proposições ou enunciados considerados evidentes e indemonstráveis. Ex.: "O todo é maior que suas partes". Sinônimo de princípio ou de axioma. A "verdade primeira" de alguém ou de algum grupo frequentemente designa uma opinião ou um ‘pre-conceito’ que não se submete ao questionamento. 5. Verdades eternas designam, na filosofia escolástica, princípios que constituem as leis absolutas dos seres e da razão, emanadas da vontade divina e que o homem pode descobrir pelo pensamento. São proposições da razão, não de fato. Referem-se, não à existência ou inexistência deste ou daquele ser, mas à vinculação necessária das ideias. Ex.: numa figura de três lados retos, a soma dos ângulos internos é igual a dois ângulos retos; pouco importando se tal figura existe ou não fora de nosso espírito. 6. Conceitos: "Quem são os verdadeiros filósofos? Aqueles que amam a verdade" (Platão). "Há dois tipos de verdades: as do raciocínio e as de fato. As verdades do raciocínio são necessárias e seu oposto é impossível; e as de fato são contingentes e seu oposto é possível" (Leibniz). "A crença forte só prova a sua força, não a verdade daquilo em que se crê" (Nietzsche). "Não há verdade primeira, só há erros primeiros" (Bachelard).
* Duplipensamento (George Orwell. 1984) - A arte imita a vida, mas a ficção também pode ajudar a entender a realidade. Segundo editores, as vendas de 1984, de George Orwell, cresceram nos Estados Unidos após a posse de Donald Trump, esgotando as edições no país. O evento foi marcado por polêmicas. Além dos protestos que tomaram as ruas de Washington e outras cidades norte-americanas, alegações do próprio presidente e sua equipe levantaram discussão. Os paralelos entre a atual situação política dos EUA e o livro de Orwell foram reforçados no último domingo, quando Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, alegou que a posse de Trump teve o maior público da história - enquanto imagens mostram justamente o contrário. Kellyanne Conway, a conselheira do presidente, tentou atenuar as afirmações de Spicer dizendo se tratar de "fatos alternativos". / Ao pensar em fatos alternativos e na "pós-verdade", uma das palavras de 2016 segundo a Universidade de Oxford, lembramos também da Novafala de 1984. Publicada originalmente em 1949, a distopia futurista é um dos romances mais influentes do século XX, um inquestionável clássico moderno. O livro acompanha Winston, um homem aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico. Algumas das ideias centrais do livro dão muito o que pensar até hoje, como a contraditória Novafala imposta pelo Partido para renomear as coisas, as instituições e o próprio mundo, manipulando ao infinito a realidade para se manter no poder./ É daí que surge o "duplipensar", ação do livro de Orwell que tanto se assemelha com as falas de Donald Trump./ “Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente controla o passado”, rezava o lema do Partido. E com tudo isso o passado, mesmo com sua natureza alterável, jamais fora alterado. Tudo o que fosse verdade agora fora verdade desde sempre, a vida toda. Muito simples. O indivíduo só precisava obter uma série interminável de vitórias sobre a própria memória. “Controle da realidade” era a designação adotada. Em Novafala: “duplipensamento”./ [...] “Duplipensamento significa a capacidade de abrigar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias e acreditar em ambas. O intelectual do Partido sabe em que direção suas memórias precisam ser alteradas; em consequência, sabe que está manipulando a realidade; mas, graças ao exercício do duplipensamento, ele também se convence de que a realidade não está sendo violada. O processo precisa ser consciente, do contrário não seria conduzido com a adequada precisão, mas também precisa ser inconsciente, do contrário traria consigo um sentimento de falsidade e, portanto, de culpa. O duplipensamento situa-se no âmago do Socing, visto que o ato essencial do Partido consiste em usar o engodo consciente sem perder a firmeza de propósito que corresponde à total honestidade. Dizer mentiras deliberadas e ao mesmo tempo acreditar genuinamente nelas; esquecer qualquer fato que tiver se tornado inconveniente e depois, quando ele se tornar de novo necessário, retirá-lo do esquecimento somente pelo período exigido pelas circunstâncias; negar a existência da realidade objetiva e ao mesmo tempo tomar conhecimento da realidade que negamos — tudo isso é indispensavelmente necessário. “Mesmo ao usar a palavra duplipensamento é necessário praticar o duplipensamento. Porque ao utilizar a palavra admitimos que estamos manipulando a realidade; com um novo ato de duplipensamento, apagamos esse conhecimento; e assim por diante indefinidamente, com a mentira sempre um passo adiante da verdade. Em última instância, foi graças ao duplipensamento que o Partido foi capaz — e, até onde sabemos, continuará sendo por milhares de anos — de deter o curso da história” (George Orwell. 1984). Fonte: http://www.blogdacompanhia.com.br
 
UTOPIA 
1. Termo criado por Tomás *Morus em sua obra Utopia (1516), significando literalmente "lugar nenhum" (gr. ou: negação, topos: lugar), para designar uma ilha perfeita onde existiria uma sociedade imaginária na qual todos os cidadãos seriam iguais e viveriam em harmonia. A alegoria de Tomás Morus serviu de contraponto através do qual ele criticou a sociedade de sua época, formulando um ideal político-social inspirado nos princípios do humanismo renascentista. 2. Em um sentido mais amplo, designa todo projeto de uma sociedade ideal perfeita. O termo adquire um sentido pejorativo ao se considerar esse ideal como irrealizável e portanto fantasioso. Por outro lado, possui um sentido positivo quando se defende que esse ideal contém o germe do progresso social e da transformação da sociedade. No período moderno são formuladas várias utopias como as de Campanella e Fourier.
10

Outros materiais