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NOTA DE AULA 1- ESTADO DE DEFESA - SÍTIO_20190906141814

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INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS E ORDENS CONSTITUCIONAIS
NOTA DE AULA 1
Prof.ª Ms: Carolina Vasques Sampaio
Estado de Defesa e Estado de Sítio
Unidade I: A defesa do Estado e das Instituições Democráticas
O texto constitucional protege valores dos mais diversos grupos da sociedade e estabelece distribuição de poderes, de modo que, haja um equilíbrio estável e nenhum desses grupos possa dominar os demais, tampouco romper o equilíbrio constitucional desejado.
É por meio desse equilíbrio que a ordem constitucional é preservada. Assim enquanto a concorrência entre os diferentes grupos estiver ocorrendo dentro dos limites constitucionais, a democracia e as instituições estarão preservadas, todavia, havendo extrapolação dos parâmetros constitucionais, instaura-se uma crise constitucional, que uma vez não sendo bem administrada pode gerar a fragilizada das instituições.
Ressalta-se que esse equilíbrio poderá também ser afetado não só pela desarmonia entre os grupos sociais, a exemplo da guerra externa, agressão armada estrangeira ou calamidades de grande proporção da natureza.
Constatada a crise, a Constituição Federal autoriza a adoção de medidas de exceção: estado de defesa e estado de sítio, objetivando a volta da normalidade. Quando uma dessas situações de exceção se instaura, ocorre a chamada manifestação do “sistema constitucional das crises” que nada mais é do que o conjunto ordenado de normas constitucionais que pelos princípios da temporalidade e necessidade, tem por objeto as situações de crise e a finalidade da manutenção ou restabelecimento da normalidade constitucional.
Nessas situações, o Estado deve e só pode agir dentro dos limites e termos estabelecidos pela Constituição Federal, sob pena de nulidade e da ulterior responsabilização, política, criminal e cível dos executores da medida. Além disso, nem todos os direitos e garantidas dos indivíduos estão restritos ou suspensos, mas somente aqueles em que há expressa autorização constitucional. Ex: valor a vida, honra, acesso ao Poder Judiciário, devem ser preservados.
A execução dessas medidas só será validada com a presença de três requisitos:
1) Necessidade – situações em que tornem imprescindível sua atuação
2) Temporalidade – apenas pelo prazo necessário, sob pena de se converterem em arbítrio ou ditadura
3) Obediência irrestrita aos comandos constitucionais – a atuação do Estado deve obedecer aos limites constitucionais, sob pena de ulterior responsabilização política, criminal e cível dos executores
Estado de Defesa
A Constituição Federal estabelece que o PRESIDENTE DA REPÚBLICA, ouvidos os CONSELHOS DA REPÚBLICA e o CONSELHO DA DEFESA NACIONAL, pode decretar estado de defesa para preservar ou restabelecer em locais restritos e determinados a ordem pública ou paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza (art. 136).
Logo, são dois requisitos para a decretação:
1) Existência de grave e iminente instabilidade institucional que ameace a ordem pública ou a paz social
2) Calamidades de grandes proporções na natureza, que atinjam a ordem pública ou a paz social.
É mais brando que o estado de sítio, NÃO exigindo autorização prévia do Congresso Nacional para sua decretação.
PASSO A PASSO:
Presidente decreta e, ulteriormente, em 24h, submete o ato com justificativa para o Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta.
Caso o Congresso Nacional esteja em recesso será convocado extraordinariamente, no prazo de 5 dias, devendo apreciar o decreto em 10 dias contados do seu recebimento e continuar vigorando enquanto durar o estado de defesa.
Ao apreciar a medida poderá APROVAR ou REJEITAR. Se aprovar, segue para execução; se rejeitar cessa os efeitos da medida imediatamente, sem prejuízo de apuração dos resultados pelos ilícitos cometidos pelos seus executores.
Obs: a decretação do estado de defesa exige a prévia audiência do Conselho da República e Conselho da Defesa Nacional. Os dois conselhos devem se manifestar de modo obrigatório, sob pena de inconstitucionalidade da decretação do estado de defesa, porém, a manifestação é meramente opinativa, não vinculante.
O decreto deverá conter o tempo de duração, as áreas a serem abrangidas e indicará nos termos da lei as medidas coercitivas.
Prazo: não pode ser superior a 30 dias, admitindo-se uma ÚNICA prorrogação por igual período ou período menor, se persistirem as razões que justificaram a decretação. Expirado esse prazo, incluindo a prorrogação, sem o restabelecimento da ordem pública ou paz social, a solução será a decretação do estado de sítio.
Abrangência: locais restritos e determinados. O Presidente deve especificar no decreto a área, não podendo ter uma amplitude nacional, pois nesse caso deve-se adotar o estado de sítio.
Medidas Coercitivas: poderão vigorar certas medidas coercitivas restritivas de direitos e garantidas fundamentais dos indivíduos: exemplos
1) Restrições aos direitos de reunião, sigilo de correspondência e de sigilo de comunicação telegráfica ou telefônica;
2) Ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes 
Na prisão por crime contra o Estado determinada pelo executor da medida, será comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial. Essa comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua autuação.
Também, pode o executor da medida determinar a prisão de qualquer pessoa por outros motivos, mas, nesse caso, a prisão ou detenção não poderá ser superior a 10 dias, salvo se autorizada pelo Judiciário.
Controle: a decretação do estado de defesa está sujeita a controle político e jurisdicional.
Controle político é feito pelo CONGRESSO NACIONAL.
1) Compete ao Congresso apreciar em 10 dias, contados do seu recebimento, o decreto que institui ou prorroga, por maioria absoluta aprovar ou rejeitar;
2) O legislativo exerce um controle concomitante da execução do estado de defesa; a Mesa do Congresso Nacional, ouvido os líderes partidários, designará uma Comissão composta de 5 de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de defesa;
3) O Congresso também realiza um controle posterior (sucessivo), pois após a cessação o Presidente deverá relatar as medidas adotadas durante sua vigência em mensagem ao Congresso, com especificação e justificação das providências tomadas, com relação nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas;
Controle Jurisdicional é feito pelo JUDICIÁRIO, durante e após a execução do estado de defesa. Durante o judiciário pode ser provocado para reprimir eventuais abusos e ilegalidades cometidas pelos executores, e após poderá ser chamado para apurar a responsabilidade pelos ilícitos cometidos pelos seus executores e agentes. Obs: a doutrina e jurisprudência afirmam que esse controle se restringe ao controle de LEGALIDADE, logo o Judiciário, não tem competência para o exame de juízo de conveniência e oportunidade do Presidente para a decretação da medida. O ato do Presidente não é passível de fiscalização pelo Judiciário.
Estado de Sítio
A Constituição Federal estabelece que o PRESIDENTE DA REPÚBLICA, ouvidos os CONSELHOS DA REPÚBLICA e o CONSELHO DA DEFESA NACIONAL, pode solicitar autorização ao Congresso Nacional para decretar estado de sítio nas hipóteses:
1) Comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia da medida durante o estado de defesa;
2) Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira
Medida mais grave. Ao ser decretado estabelece-se uma legalidade constitucional extraordinária.
Requisitos para a decretação:
1) Prévia audiência do Conselho da República e do Conselho da Defesa Nacional- manifestação obrigatória, porém meramente opinativa e não vinculante
2) Exigência de prévia autorizaçãodo Congresso Nacional- Presidente deve solicitar autorização do Congresso, sob pena de absoluta inconstitucionalidade do ato – deve justificar os motivos determinantes do pedido e o Congresso decidirá por maioria absoluta. Se a autorização for solicitada em recesso, o Presidente do Senado, convocará imediatamente o Congresso para se reunir em 5 dias, a fim de apreciar o ato e permanecendo em funcionamento até o término das medidas coercitivas.
3) Expedição do decreto pelo Presidente da República
Deverá o decreto indicar sua duração, normas necessárias para execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas e depois de publicado, o Presidente designará o executor da medida e as áreas abrangidas.
Prazo: se o motivo da decretação for por grave repercussão nacional ou ineficácia da medida tomada durante o estado de defesa, não poderá ser decretado por mais de 30 dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior a 30 dias. Obs: a expressão de cada vez significa que pode ser prorrogado sucessivas vezes desde que cada prorrogação não passe os 30 dias. A prorrogação deve ser fundamentada pelo Presidente e previamente autorizada pelo Congresso por maioria absoluta dos membros.
Se for por conta de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira – a medida poderá ser decretada por todo o tempo que durar a guerra ou a agressão.
Abrangência: após a publicação do decreto que institui o estado de sítio, o Presidente designará o executor da medida e as áreas abrangidas. Assim, as áreas não precisarão constar no decreto que o institui, podendo ser posteriormente designadas pelos Presidente.
Medidas Coercitivas: se o estado de sítio for com base no Inciso I, art 137 (grave repercussão nacional ou ineficácia da medida tomada durante o estado de defesa) são as seguintes medidas:
1) Obrigação de permanência em localidade determinada
2) Detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns
3) Restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão na forma da lei
4) Suspensão da liberdade de reunião
5) Busca e apreensão em domicílio
6) Intervenção nas empresas de serviços públicos
7) Requisição de bens
Obs: não se inclui a possibilidade de vedação à difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas casas legislativas, desde que liberada pela respectiva mesa;
No caso do Inciso II, art. 137 (por conta de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira), a Constituição não estabeleceu limites. Dessa forma, as restrições podem ser mais amplas, além das trazidas pelo art. 139. Todavia necessita do preenchimento de requisitos:
1) Justificação quanto à necessidade de adoção das medidas pelo Presidente da República
2) Aprovação pelo Congresso por maioria absoluta
3) Previsão expressa da adoção das medidas no decreto que instituir o estado de sítio
Controle: Controle político e jurisdicional
- Controle Político: exercício pelo Congresso e pode ser em três momentos
a) preventivo: a decretação do estado de sítio depende de uma autorização prévia do Congresso
b) concomitante: a Mesa do Congresso, ouvidos os líderes partidários, designará comissão composta de 5 de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas
c) sucessivo: cessado o estado de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão reportadas pelos Presidente, em mensagem, ao Congresso, com especificação e justificação das providências tomadas, com relação nominal dos atingidos e indicações das restrições aplicadas.
- Controle Jurisdicional: pelo Judiciário durante e a após o estado de sítio. Obs: após será depois de cessados os efeitos da medida. Durante a execução da medida, o Judiciário pode ser invocado para reprimir eventuais abusos e ilegalidades cometidos pelos executores e após poderá ser chamado para apurar a responsabilidade pelos ilícitos cometidos pelos seus executores e agentes.
Qualquer pessoa que se sinta prejudicada pelas medidas adotadas pelo Presidente, ou pelos executores, com desrespeito às prescrições e limites constitucionais, poderá recorrer ao Judiciário para responsabilizá-los e requerer a reparação do dano.
A doutrina e jurisprudência afirmam que esse controle se restringe ao controle de LEGALIDADE, logo o Judiciário, não tem competência para o exame de juízo de conveniência e oportunidade do Congresso Nacional que autoriza a medida e do Presidente que decreta a medida. O ato do Presidente e do Congresso Nacional não é passível de fiscalização pelo Judiciário.
OBS: DIFERENÇA ENTRE ESTADO DE CALAMIDADE, DEFESA, SÍTIO E INTERVENÇÃO FEDERAL: 
Estado de calamidade: situação anormal. A capacidade de ação do Poder Público municipal ou estadual fica comprometida. Fruto de um desastre, que pode ser da natureza ou outros motivos (econômicos, sociais etc.). Nesses casos, o governo federal atua intervindo para auxiliar o ente a superar a situação. 
Como ocorre?
1 – Um desastre ocorre afetando o município.
2 - Se for muito grave o município ou estado decreta o estado de calamidade.
3 - reconhecida a situação, o governo federal determina quais medidas de apoio serão tomadas e os gastos.
4 - antes de agir, o executivo federal precisa reconhecer o estado de calamidade.
Ex: libera recursos; envia defesa civil militar, envia kits de emergência. 
Obs: no Brasil essa prerrogativa é reservada para as esferas estaduais e municipais. Quem decreta são governadores e prefeitos. Presidente não utiliza desse instrumento, pois tem os chamados estados de defesa e sítio.
Defesa/Sítio: explicado acima.
Intervenção federal: nas hipóteses dos artigos 34, 36 CF.
A Intervenção Federal também ocorre em situações de anormalidade em que a autonomia do ente federativo temporariamente será suprimida. As hipóteses são restritivas.
· Intervenção Federal significa intervenção realizada pela UNIÃO nos ESTADOS e no DISTRITO FEDERAL (artigo 34 da CF).
Espécies?
1. Espontânea – o Presidente da República age de ofício – art 34 I, II, III e V.
I – Manter integridade nacional
II – Repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da federação em outra
III – grave comprometimento da ordem pública
V -  reorganizar as finanças da unidade da Federação que: 
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
2. Provocada por solicitação – artigo 34, IV combinado com artigo 36, I, primeira parte – na hipótese de coação ou impedimento recaírem sobre o Poder Legislativo ou Executivo, impedindo o exercício desses poderes nas unidades da federação. Para que o Presidente possa decretar precisará de solicitação do Poder Legislativo ou Executivo coacto ou impedido.
3. Provocada por requisição – artigo 34, IV, combinado com artigo 36, I, segunda parte – se a coação for contra o Poder Judiciário, precisará de requisição do STF OU artigo 34, VI, segunda parte, combinado com artigo 36, II – caso de desobediência à ordem ou decisão judicial, dependerá de requisição do STF, STJ ou TSE, de acordo com a matéria.
4. Provocada, dependendo de provimento de representação – artigo 34, VII, combinado com artigo 36, III, primeira parte – ofensa aos princípios constitucionais sensíveis, precisará de provimento pelo STF, de representação do Procurador Geral da República. Artigo 34, VI, primeira parte, combinado com artigo 36, III, segunda parte, execução de lei federal, provimento de representação do Procurador Geral da República pelo STF.
APENAS O PR PODE DECRETAR E EXECUTAR A INTERVENÇÃO FEDERAL.
NECESSIDADE DE OITIVA DOS CONSELHOS (PARECER OPINATIVO).
O DECRETO PRESIDENCIAL CONTERÁ O TEMPO, AMPLITUDE, CONDIÇÕES DA EXECUÇÃO E QUANDO COUBER NOMEARÁ O INTERVENTOR.
Congresso nacional faz controle? SIM, político. Prazo de 24 horas. Supondo que o congresso esteja em recesso, deverá ser feita uma convocação extraordinária em 24h. aprovará ourejeitará a medida sempre por decreto legislativo.
· Duas hipóteses em que dispensa o congresso: execução de lei federal, ordem ou decisão judicial – artigo 34, VI ou afronta aos princípios sensíveis da CF – artigo 34, VII.
SE for necessário o PR poderá no decreto nomear um interventor afastando as autoridades envolvidas.

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