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CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 1 Coordenação de Ensino FAMART http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 2 CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 3 SUMÁRIO FUNÇÕES E TRANSFORMAÇÕES DA FAMÍLIA AO LONGO DA HISTÓRIA ........... 4 MODELOS DE ESTRUTURA DE FAMÍLIA ................................................................. 7 CONCEITOS DE FAMÍLIA ........................................................................................ 15 FUNÇÕES E PAPÉIS DA FAMÍLIA ........................................................................... 18 NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO................................................................ 20 CONSIDERAÇÕES FUNDAMENTAIS SOBRE O CASAMENTO ............................. 22 DA UNIÃO ESTÁVEL ................................................................................................ 24 Evolução histórica da união estável .......................................................................... 25 Conceito de união estável ......................................................................................... 28 CONCUBINATO ........................................................................................................ 32 A UNIÃO HOMOAFETIVA......................................................................................... 34 Breve histórico da homoafetividade .......................................................................... 34 Do “armário” para o campo jurídico ........................................................................... 38 O reconhecimento da união homo afetiva no direito brasileiro .................................. 39 Progressos legais e jurisprudenciais ......................................................................... 41 OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR .............................................. 45 A família decorrente do casamento ........................................................................... 46 A união estável como entidade familiar ..................................................................... 47 A família monoparental ............................................................................................. 48 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50 http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 4 FUNÇÕES E TRANSFORMAÇÕES DA FAMÍLIA AO LONGO DA HISTÓRIA Como em outras situações da vida humana, o ciclo que compõe a vida familiar perpassa por etapas sucessivas durante o processo evolutivo. Esse fato leva a constante busca de teorias e conceitos que expliquem a origem e estruturação do grupo familiar. Estudos apontam que, originalmente, as famílias organizavam-se sob a forma matriarcal, consequência da vida nômade dos povos primitivos. Nessa época, os homens ainda desconheciam as técnicas do cultivo da terra, e precisavam sair em busca de alimento. As mulheres permaneciam com a prole, que crescia praticamente sob a influência exclusiva da genitora. Essa situação genuinamente prepondera a figura materna e, em certas sociedades matriarcais essas mulheres possuíam o direito de propriedade e certos privilégios políticos. A organização familiar, contudo, não se restringe à espécie humana. Faremos uma síntese sobre os comportamentos familiares de alguns animais para reafirmar o estilo genérico dos agrupamentos familiares na trajetória da espécie humana. Há de se lembrar que entre os animais há famílias em que, após o acasalamento, a prole fica sob os cuidados de um dos genitores, geralmente a fêmea, porém, em alguns casos, também encontramos o macho como responsável pelos descendentes. Por sua vez, algumas espécies de aves vivem com a família durante o período da reprodução e com seus bandos nas demais épocas do ano. A exemplo da espécie humana, também no reino animal existem famílias ampliadas (ou extensas), em que os filhos mais velhos auxiliam na criação dos irmãos. As abelhas operárias, filhas estéreis das abelhas rainhas, constituem entre si uma comunidade de irmãs com funções de mútuos cuidados, proteção e alimentação. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 5 Segundo Morgan (apud OSÓRIO, 1996, p. 31), “havia originalmente uma promiscuidade absoluta, sem qualquer interdição para o intercurso sexual entre os seres humanos. Este teria sido o período da família consanguínea, estruturada a partir dos acasalamentos dentro de um mesmo grupo”. Durante esse período, após a proibição do relacionamento sexual entre pais e filhos e entre irmãos, surgiu a família punaluana, também conhecida como família por grupo, onde os membros se uniam com componentes de grupos diferentes. Nesse contexto, os homens poderiam se casar somente com um elemento de outro grupo. Na família sindesmática ou de casal, a união acontecia entre casais que respeitavam o tabu do incesto, mas sem a obrigatoriedade do casamento intergrupos. Este tipo de família, encontrada entre os nômades, tinha como característica a convivência de vários casais no mesmo espaço e sob a autoridade matriarcal. Da divisão das obrigações, oriunda do desenvolvimento da agricultura, teria originado a família patriarcal, criada sob a autoridade absoluta do patriarca ou “chefe da família” que, na maioria das vezes, vivia em um regime poligâmico, tendo as mulheres isoladas em determinados locais chamados de gineceus e haréns. A família monogâmica, modelo da civilização do Ocidente, cujas origens encontram-se ligadas à ideia de posse ao longo do processo civilizatório, tinha como condição exigida para o reconhecimento dos filhos e transmissão hereditária da propriedade, a fidelidade. Esse modelo de família é predominante no mundo ocidental até os dias atuais. A origem etimológica da palavra família, que deriva do vocábulo latino famulus- que significa escravo doméstico, o que pressupõe que, primitivamente, se considerava a família como sendo o conjunto de escravos ou servos de uma mesma http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 6 pessoa. Isso nos remete à compreensão da natureza possessiva das relações familiares entre os povos primitivos. Nessa relação, a mulher obedecia seu companheiro como se fosse seu proprietário e dono. Os filhos pertenciam a seus pais, a quem deviam suas vidas e, por conseguinte, esses se julgavam com total direito sobre elas. O sentido de posse e de poder estava perceptivelmente ligado à origeme evolução do grupo familiar. Bilac (1953, p. 31- 231) discorrendo sobre o tema, cita Engels ao afirmar que: O termo família é derivado de famulus (escravo doméstico) – foi uma expressão inventada pelos romanos para designar um novo organismo social que surge entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e à escravidão legal. Esse novo organismo caracteriza-se pela presença de um chefe que mantinha sob seu poder, os filhos e um certo número de escravos, do poder de vida e morte sobre todos eles e um certo número de escravos, com poder de vida e morte sobre eles, o paterpolistas. Talvez as raízes da palavra família expliquem porque até hoje existam filhos e esposas submissos ao chefe de família, sem opinar ou questionar sobre os problemas dentro do seio familiar. Afirma Aries (1975) que, até o século XV, a família era “uma realidade moral e social, mas do que sentimental [...] A família quase não existia sentimentalmente entre os pobres, e, quando havia riqueza e ambição, o sentimento se inspirava no mesmo sentimento provocado pelas antigas relações de linhagem. As famílias, até então, não tiveram necessariamente a reprodução cotidiana ou geracional como função especifica ou exclusiva, e, em muitos momentos, desempenharam simultânea e prioritariamente, funções políticas e econômicas. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 7 Pelo exposto, podemos inferir que a família antiga era concebida como instituição fundada na e para a reprodução cotidiana e geracional dos seres humanos. Sua maior missão recaia na conservação dos bens, na prática comum do oficio. A ajuda mútua era essencial para a sobrevivência em um mundo em que seres humanos isolados não sobreviveriam. A função afetiva não pode ser identificada como algo fundamental à família nessa época, já que as trocas afetivas e contatos sociais aconteciam entre as pessoas mais próximas, não necessariamente membros familiares. Assim, a instituição família consolidou-se na antiga aristocracia, não propriamente por laços afetivos, mas visando à questão econômica, ou seja, além do vínculo consanguíneo, a maior preocupação era assegurar que o poder aquisitivo não saísse das mãos de seus membros. MODELOS DE ESTRUTURA DE FAMÍLIA Para melhor compreensão, discorreremos sucintamente sobre 4 modelos de estrutura familiar, considerados de abordagem mais relevante quais sejam: família burguesa de meados do século XIX, a família aristocrática dos séculos XVI e XVII, a família camponesa dos séculos XVI e XVII e família da classe trabalhadora do início da Revolução Industrial. Em meados do século XIX, a família burguesa, nuclear por definição, habitava as áreas urbanas. Sabe-se que, de 1750 até o presente momento histórico, o padrão demográfico da família burguesa evoluiu gradualmente para um padrão de baixa fertilidade e baixa mortalidade. O planejamento familiar inicia-se nesse grupo. No dia a dia, as relações entre os componentes da família burguesa assumiram um http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 8 modelo característico de intensidade emocional e de privacidade. O casamento trouxe para esse grupo o conflito que oscila entre as necessidades da preservação da acumulação de capital e o valor de escolha individual. A sexualidade entre os componentes dessa classe é uma das características mais surpreendente da história moderna. A burguesia se esforçou para adiar a satisfação sexual como em nenhuma outra classe. As mulheres burguesas eram consideradas seres assexuais, angelicais, acima da luxuria animal. Para os homens dessa classe, o sexo estava dissociado dos sentimentos de ternura e era realizado como conquista de mulheres de classe inferior. A prostituição era requerida pelos homens burgueses porque a plena realização sexual tornou-se impossível para os cônjuges. A burguesia definiu-se moralmente, em contraste com o proletário promíscuo e a nobreza sensual, como uma classe dotada de virtuosa renúncia. O excesso desse comportamento “virtuoso” levou a burguesia à divisão entre o casamento e o amor, de um lado, e sexualidade de outro. O casamento burguês torna-se perene. Interesses sociais e financeiros predominavam nessas alianças. Entretanto, o jovem burguês era impulsionado por um amor romântico. Ao findar o século XIX, o amor romântico passava a ser a razão central do casamento. Porém, o mais estranho é que na classe média, o amor romântico raramente sobrevivia aos primeiros anos, e a expressão “felizes para sempre” traduzia o viver juntos não com paixão, mas com respeitabilidade. Na família burguesa, as relações eram consolidadas mediante rigorosas divisões de papéis sexuais. O marido era chefe dominante e provia seu sustento da família. A esposa era considerada ser não pensante e menos capaz, zelava apenas do lar, em alguns casos, com a ajuda de criadas. O principal interesse da esposa centrava-se nos filhos. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 9 Os filhos foram reavaliados pela burguesia tornando-se seres significativos para os pais. Uma relação mais intima, profunda e emocional se estabeleceu entre pais e filhos dessa classe. O sentimento de amor materno foi considerado natural nas mulheres, que não tinham somente o dever de zelar pela prole mas também a missão de orientá-la para um lugar respeitável na sociedade, além da atribuição de cuidar do lar e do marido. As relações internas das famílias burguesas eram preservadas pela sociedade. A família torna-se um santuário em cujo ambiente sagrado nenhum estranho tinha direito de adentrar. Sendo assim, até mesmo o local de trabalho dos homens da época não poderia ser próximo à residência, pois o lar não era um lugar de trabalho e sim de lazer, enquanto o ambiente de trabalho era destinado à ação, à razão. Torna-se assim, ambiente competitivo, hostil em contraposição ao ambiente de refúgio, aconchego, ternura e amor. As crianças burguesas em idade pré-escolar, em maioria, não conviviam com outras crianças, mas com os adultos da casa. A partir de 1830, o Estado começou a elaborar orientação e normas que envolviam assuntos de família, mas, geralmente, só havia intervenção nos assuntos de famílias, ou seja, ninguém fiscalizava o tratamento das crianças burguesas. Com inovadoras formas de amor e autoridade, a família burguesa criou uma nova estrutura emocional. Família Aristocrática (Séculos XVI e XVII) O segundo modelo de estrutura familiar, oriundo da aristocrata europeia, incluía uma mistura de parentes, dependentes, criados e clientes. Consistia em http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 10 grupos com 40 até acima de 200 membros. Os aristocratas consideravam de suma importância a preservação da rede de relações de parentesco e linhagem. A composição da casa nobre estava longe de ser estável, criados e clientes entravam e saiam da casa nobre; crianças de ambos os sexos eram enviadas para serem criadas em outras residências nobres. Segundo demógrafos, os aristocratas erampropensos a terem mais filhos do que a classe inferior, e com índice de mortalidade infantil inferior. Os enormes castelos eram locais públicos e políticos. Simbolizavam, pela magnitude material, o poder sobre o campesinato. No castelo não havia privacidade. As construções não propiciavam a privacidade. Todos os que chegavam e saíam esbarravam-se pelos caminhos e eram obrigados a passarem por salas em que haviam outras pessoas em decorrência da estrutura física dos castelos. Os ocupantes dormiam em toda a parte. O mobiliário também era multifuncional. As relações entre os componentes da casa eram regidas por uma austera hierarquia, estabelecidas pelas tradições. Ali, a união matrimonial era um ato político da mais alta ordem. O destino da linhagem estava sujeito a casamentos que mantivessem intactas as propriedades da família. Aos pais, cabia a decisão de quem se uniria a quem. Os dotes eram pequenas fortunas e casar uma filha muitas vezes era oneroso. Sendo assim, o casamento pouco combinava com amor ou sexo. Os aristocratas relacionavam-se sexualmente com a criadagem e com outros da mesma classe. As concubinas eram aceitas publicamente. Quase sempre as mulheres eram consideradas criaturas tão sexuais como os homens e assuntos como sexo e amor não eram assuntos privativos e secretos. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 11 A riqueza dessa pequena elite (cerca de 1,5% da população na França do século XVIII), consistia no controle da terra e, em certo grau, nos favores do monarca. A terra, principal forma de enriquecimento da aristocracia, de um modo geral não era considerada um capital a ser melhorado ou explorado. Era, antes de tudo, um patrimônio sob a prerrogativa da linha de família. A riqueza era para ser herdada e retransmitida, e não para se ganhar ou acumular. O trabalho dos nobres era na guerra, servindo o rei e mantendo a ordem. As esposas eram figuras altivas, mas suas funções principais era conceber filhos e organizar a vida social. Em geral, não se ocupavam da administração da casa e nem com a criação dos filhos. A ordem na casa era organizada hierarquicamente, independente de influência externa. O Rei procurava controlar os nobres, com exceção no ambiente familiar, interferia somente em ocasiões raras. Em virtude dos meios de transporte da época, os aristocratas em geral vivam longe de suas companheiras. Segundo estudos, as crianças aristocratas ficavam nas mãos da criadagem desde o momento de seu nascimento. Pai e mãe raramente se preocupavam com os filhos, principalmente nos primeiros anos de formação. Os cuidados com os filhos não eram considerados como procedimento relevantes e as mães ocupavam-se como damas da sociedade. As crianças eram consideradas pequenos animais e não seres que necessitassem de amor e atenção. Os recém- nascidos nobres eram amamentados por amas de leite. A morte dos pequenos nas mãos das amas não era incomum, tanto que algumas amas eram conhecidas como “amas assassinas”. Os filhos não desejados eram certamente encaminhados a essas mulheres. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 12 Torna-se perceptível que as famílias aristocratas dispensavam pouco valor à privacidade, cuidados maternos, amor romântico e relações íntimas com as crianças. A vida emocional dos filhos não girava em torno dos pais. A família camponesa (séculos XVI e XVII) A estrutura familiar camponesa dos povoados que viviam em aldeias era diferente da classe dominante. O campesinato europeu incluía grandes desigualdades econômicas. e de posse de riqueza. Abrangia diferentes modos de produção. Segundo os demógrafos, os camponeses casavam-se perto dos 30 anos de idade e tinham poucos filhos vivos (quatro ou cinco). Embora houvesse muitos nascimentos, poucos ou somente a metade sobreviria até a idade adulta. Embora fosse numericamente reduzida, a família camponesa estava interligada num vasto círculo de sociabilidade, onde a unidade básica da vida camponesa no início do período moderno não era a família conjugal, mas a aldeia. A aldeia era a família do camponês. A autoridade social não estava embutida na figura do pai, mas na própria aldeia. Em alguns locais, o senhor da terra e o pároco eram autoridades efetivas, mas no controle e nas regras do dia a dia prevaleciam os costumes e as tradições da aldeia. Nenhum fato importante acontecia no seio familiar sem que fosse conhecido ou fiscalizado pela aldeia. Casamento, relações entre marido e mulher, e entre pais e filhos tudo passava pelo crivo dos aldeões, que impunham regras e sanções. Camponeses e camponesas tinham funções separadas a desempenhar e, geralmente, as mulheres eram submissas, embora o trabalho dessas mulheres fosse http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 13 imprescindível para a sobrevivência da família e da comunidade. Nessa classe, as mulheres trabalhavam duramente por longas horas, cozinhavam, cuidavam dos filhos, dos animais domésticos e da horta e juntavam-se ao resto da aldeia nos períodos da colheita. As mulheres regulavam os casamentos e fiscalizavam os namoros. Agindo desta forma, o patriarcado camponês tornava-se diferente do aristocrata e do burguês. Os episódios emocionalmente importantes nas aldeias não tinham significado na família e sim no seio comunidade. Eventos como festividades, cultos, casamentos e até mesmo a morte eram abertos a toda comunidade. Em alguns lugares da aldeia, os pais tomavam as decisões sobre a união conjugal dos filhos, mas, em maioria, a comunidade tinha formas coletivas de namoro em que se providenciava a formação de casais adequados. A partir do século XVI, o Estado interveio nos casamentos, numa tentativa de reforçar a autoridade patriarcal. A supremacia da aldeia sobre o parentesco e a família, mesmo no casamento monogâmico, influenciava as relações de pais e filhos. As genitoras camponesas eram auxiliadas nos deveres de cuidar dos filhos por parentes, pessoas idosas e moças solteiras. As mulheres da aldeia transmitiam às mulheres mais jovens os conhecimentos sobre o aleitamento, enfaixamento, curas de enfermidades, etc. Esse repasse de informações, era fiscalizado pelos aldeões que queriam se certificar que os costumes e tradições estavam sendo realmente repassados para os mais jovens. No âmbito da família conjugal, as crianças não eram tidas como propriedades dos pais, nem tampouco consideradas o centro da vida. Os laços afetivos, em vez de limitados a pais e filhos, estendiam-se para fora, envolvendo a aldeia e antepassados. Os mortos eram considerados parte da comunidade. Segundo alguns http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 14 historiadores, as crianças camponesas, ainda muito pequenas, eram abandonadas durante o dia todo, tendo que se arranjarem sozinhas quando o campo exigia a presença de suas progenitoras. Assim, a autoridade da família camponesa difundia-se por toda a aldeia com vários adultos participando da vida da criança. A afetividade com que a criança se defrontava estava também dividida entre uma grande variedadede parentes e aldeões. As relações entre pai e filho não continham intimidade ou intensidade emocional, as sanções eram impostas com castigos físicos. Provavelmente não internalizava figuras parentais de forma profunda, uma vez que a vida emocional da criança era condicionada pelos ritmos da aldeia, e extensas tradições e costumes. A família da classe trabalhadora (meados séculos XIX) A classe trabalhadora surge entre o campesinato deslocado e os níveis mais baixos da sociedade urbana. e desenvolve uma estrutura de família sob condições de agonia social e econômica, Entretanto, no decorrer do tempo, a família da classe trabalhadora passou a se parecer muito com a família burguesa. A alta fertilidade, a alta mortalidade e a baixa expectativa de vida marcaram essa classe no período inicial da industrialização. Os salários eram baixos, crianças também precisavam trabalhar para ajudar no sustento da família. As condições de vida eram ruins, as horas trabalhadas giravam em torno de 14 a 17 horas diárias. Os filhos a partir dos 13 e 14 anos saiam de casa em busca de trabalho. Os jovens proletários declaravam muito cedo independência dos pais. Esses grupos de jovens, alvos de preocupação constante, eram denominados http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 15 “delinquentes juvenis”. Nessa classe os jovens estavam propensos a casarem-se mais cedo do que na burguesia .As relações entre homens e mulheres tendiam a subverter os padrões patriarcais, dado que as mulheres trabalhavam fora de casa e ainda faziam afazeres domésticos. Na família da classe trabalhadora, os filhos eram criados de maneira informal, mais antiga, sem a constante atenção e fiscalização da mãe. As crianças eram forçosamente amamentadas ao peito por mãe subalimentadas, cansadas e preocupadas. Nesse período, os cuidados com a higiene e controle genital eram negligenciados. Assim, os filhos do proletariado eram muito mais criados pela rua do que pela família. O padrão de autoridade imposto à criança da classe trabalhadora era semelhante à da classe dos camponeses, sem, contudo, ser fechada dentro de uma aldeia, mas jogada no mundo capitalista industrial. Infere-se que a maior influência sobre as condições de vida da classe trabalhadora, tenha sido os movimentos sindicalistas que, coletivamente, lutaram pela melhoria de vida dos operários da época. Nesse período também os operários do sexo masculino estavam predispostos a formar pequenos grupos que oscilavam entre trabalho e bar. As mulheres, por sua vez, passaram a formar comunidades nas residências. Dessa forma, a família passava por novas transformações de organização e atribuição. CONCEITOS DE FAMÍLIA Para Da Mata (1987, p. 145) Família não é apenas uma Instituição social capaz de ser individualmente, mas constitui também, e particularmente, um valor. Há uma escolha, por parte da http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 16 sociedade brasileira, que valoriza a família, como uma Instituição fundamental à própria vida social; é um grupo social e uma rede de relações; funda-se na genealogia e nos elos jurídicos, mas também se faz na consciência social, intensa e longa. Segundo Ferrari (1994, p.18) Família é aquela que propicia aportes afetivos e o bem-estar de seus componentes; ela desempenha papel decisivo na educação formal e informal; é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários onde se aprofundam laços de solidariedade; é também em seu interior que se constroem as marcas entre as gerações e são observadas os valores culturais. Assim, a família pode ser entendida como um conjunto de relações sociais baseadas em elos consanguíneos, adoção e uniões socialmente reconhecidas legalmente ou não. A família abordada enquanto unidade doméstica centra-se nas condições materiais, isto é, na manutenção da vida: alimentação, vestuário, habitação, repouso. No passado, o grupo familiar, era uma unidade de produção, encarregando-se, ela própria, da produção dos meios de sobrevivência. Enquanto instituição, a família pode ser entendida como um conjunto de normas e regras, historicamente constituídas, que governam as relações de sangue, adoção, aliança, e determinam a filiação, os limites do parentesco, da herança e do casamento. O conjunto de regras e normas está contido nos costumes e na legislação, apresentadas no Código Civil. A família também pode ser entendida como um conjunto de valores determinados como ideologia, estereótipos, preceitos, representações sobre o que ela deve ser. Ao longo da história no mundo ocidental, as teorias de como a família http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 17 deve ser couberam inicialmente à igreja, em seguida ao Estado, e, finalmente, à própria ciência. Estas entidades organizaram várias regras e recomendações de como deveria ser o comportamento das pessoas. Atualmente são os meios de comunicação que divulgam e “ditam” novas ideias, orientações e estudos comportamentais relativos à família e seus membros. A família proporciona o marco adequado para a definição e conservação das diferenças humanas, dando forma objetiva aos papéis distintos, mas mutuamente vinculados, do pai, da mãe e dos filhos, que constituem os papéis básicos em todas as culturas. (PICHON-RIVIÉRE, apud OSÓRIO, 1996, p.15). Muitas são as conjecturas formuladas sobre família, algumas se caracterizam pelas funções biológicas, outras, pelas funções psicossociais, apontando o início às questões concernentes aos laços consanguíneos, ou seja, aos papéis maternos e paternos como estruturadores do grupo familiar. Dizer que família é a unidade básica da interação social talvez seja a forma mais genérica e sintética de defini-la. Em todos os conceitos apresentados é comum observarmos que a família apresenta-se como uma estrutura social, uma construção humana que se consolida, transformando-se conforme a influência do meio social, sendo, portanto, historicamente construída. Assim sendo, é importante ressaltar que a estrutura familiar varia conforme os momentos históricos, fatores sócio-políticos, econômicos, religiosos e culturais, estando o conceito de família associado ao contexto social no qual está inserido, ou seja, precisamos, antes de qualquer ação, definir de que família estamos falando, a época em que ela vive e a qual segmento pertence. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 18 FUNÇÕES E PAPÉIS DA FAMÍLIA A família funciona como agente educador. Exerce a função socializadora na transmissão da herança cultural e social durante os primeiros anos de vida da criança. É a família que repassa os usos da linguagem, costumes, valores e crenças, preparando a criança para o ingresso na sociedade. É no seio da família que o homem aprende as virtudes sociais, como amor, fraternidade e obediência, qualidades requeridas para que se enquadre no meio. No que concerne às atribuições que lhe são conferidas, Marconi e Presotto (1989, p. 106) consideram que As funções básicas da família podem ser desempenhadas de váriasmaneiras, dentro dos mais diversos sistemas culturais, tentando moldar as personalidades individuais. Como agente educador, a família pode combinar duas funções especificas: Socializadora – na medida em que transmite a herança cultural e Social, durante os primeiros anos de vida: linguagem, usos, costumes, valores, crenças (processo de endoculturação), preparando a criança para o seu ingresso na sociedade. Social – quando proporciona a conquista de diferentes status como étnico, o nacional, o religioso, o residencial, o de classe, o político e o educacional. Papéis Familiares Os papéis familiares diferem conforme a composição familiar, confundindo-se devido à realidade da estrutura familiar. Para exemplificar, em um casal sem filhos os papéis familiares seriam tão somente os de marido e mulher. Já na família Nuclear seriam as de mãe-pai-irmãos e filhos. Na família extensa, há necessidade de incluir o papel dos avós, tios e demais agregados que dividem o mesmo teto. deve-se citar ainda, , na atualidade, as uniões entre pessoas do mesmo sexo. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 19 Na visão contemporânea, houve uma transformação desses papéis, e, em alguns casos, uma inversão. Tenha o casal filhos ou não, atribuir à mulher o papel de zelar pelo lar e do homem como provedor do sustento da família, seria um processo ultrapassado e não condizente com a realidade. O papel conjugal baseia- se na interdependência das partes do casal, pautado na essência da sobrevivência das pessoas. São os atos de complementaridade, cooperação, reciprocidade e compartilhamento de tarefas e sentimentos que delimitam o papel conjugal, seja entre acordos verbais ou não. Papel Parental O papel feminino apesar das diversas transformações ainda mantém uma das principais funções: o de gerar a vida. Porém, quanto às tarefas nutriciais, proteção e educação muito houve de absorção do papel paternal e pela pessoa remunerada para, na ausência da mãe, desempenhar o papel materno. Papel Fraterno O papel fraterno alterna entre dois comportamentos opostos: a rivalidade e a solidariedade. Por vezes o papel fraterno está deslocado para a relação entre marido e mulher ou entre filho e um dos progenitores. O papel fraterno reproduz fora do contexto familiar na relação entre sócios, colegas e amigos, assim como os papeis parental e filial terão sua representação social em relações tais como a dos chefes e seus subordinados, professores e alunos, médicos e pacientes e outras tantas mais. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 20 Papel filial O foco central do papel filial situa-se na subordinação do recém-nascido que depende dos cuidados dos pais para sobreviver. Salienta-se que há casos em que estas funções não são desempenhadas por papéis parentais. Os papéis, portanto, não são competências exclusivas do indivíduo a que normalmente se atribui. As funções da família podem ser divididas em biológicas, psicológicas e sociais. Apesar dessa divisão, não há como estudá-la separadamente. A função biológica da família é de garantir a sobrevivência da espécie com cuidados dispensados aos recém-nascidos. As funções psicossociais são essência, já que o alimento afetivo é o que faz o desenvolvimento do indivíduo psiquicamente saudável. São estas funções que, quando bem desempenhadas darão sustentabilidade e apoio aos indivíduos nos momentos de crise e anseios humanos. Quanto às funções sociais, não só podemos inferir a transmissão das questões culturais, como também a preparação para o exercício da cidadania. Assim, podemos dizer que, se os pais influenciam o comportamento do filho, este também interfere nas atitudes dos pais. Esse processo é chamado de retroalimentação. NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO Em se tratando da natureza jurídica, diversas são as opiniões doutrinárias. Basicamente, três são as correntes que defendem a natureza jurídica do casamento: a institucional, a contratual e a mista. Assim sendo, com relação ao casamento, o Direito Canônico o tem por sacramento e também por contrato natural, que decorre da própria natureza humana, sendo algo intrínseco. Seria a concepção clássica. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 21 Vale ressaltar que é bem verdade que a união entre o homem e a mulher preexiste à juridicidade deste vínculo. Para esta corrente, o elo é indissolúvel. O casamento de Direito Civil, quando surgiu, passou a sustentar o caráter contratualista da relação matrimonial, isso por envolver interesses de ordem patrimoniais em seu bojo, gerando obrigações e deveres para ambos os cônjuges, manifestos por uma manifestação da vontade de ambos de contraírem para si tais responsabilidades mútuas. A corrente majoritária, também tida por eclética ou mista, defende que o casamento tem natureza jurídica mista, por abranger ambos os aspectos defendidos pelas correntes supramencionadas, tais como direitos e deveres, bem como a affectio maritalis, interesses morais e pessoais, mais elevados do que os contidos em qualquer simples contrato. Une, portanto, o elemento volitivo ao elemento institucional, tornando-o um ato complexo. Seria, por essa razão, um contrato sim, mas um contrato especialíssimo. É importante lembrar, ademais, que o casamento difere dos contratos lato sensu em sua constituição, tanto ao modo de ser, quanto ao alcance de seus efeitos, bem como à sua durabilidade. O casamento estabelece um elo jurídico entre homem e mulher e, assim, a Lei estabelece finalidades e também diversos deveres e direitos que advém deste vínculo. É o casamento o negócio jurídico que confere o condão de família legítima aos contraentes. É ato pessoal e solene, quanto a isso não há o que se discutir. Como já se viu, é pessoal no sentido de que importa aos nubentes manifestarem sua vontade quanto ao casamento. Nesses termos, estabelece o Código Civil, em seu artigo 1.514, in verbis: “O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 22 manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados”. Quanto a ser solene, há doutrinadores, a exemplo de Venosa, que acreditam ser o casamento, um dos atos mais solenes do Direito Brasileiro, bem como nas demais legislações. Com relação às solenidades, elas têm início com os editais, desdobrando-se na cerimônia de realização e consolida-se com o registro público. Tendo sido feitas tais considerações históricas, conceituais e de natureza jurídica, serão suscitadas as considerações fundamentais para compreensão do tema ora proposto. CONSIDERAÇÕES FUNDAMENTAIS SOBRE O CASAMENTO Nesta subseção, importante é que se façam algumas considerações reputadas por fundamentais no sentido de pontuar as especificidades do instituto do Casamento, para que se possa distingui-lo das demais entidades familiares que aqui hão de ser tratadas. A priori, cumpre-se definir quem é o cônjuge. Para tanto, recorrendo ao Dicionário Aurélio, (1989, p. 455) a fimde se buscar efetivamente uma definição que atenda a esta necessidade de conceituação e satisfaça a qualquer pessoa que por ela busque, tem-se: “cada uma das pessoas ligadas pelo casamento em relação à outra”. É neste conceito, que embora sucinto e desprovido de juridicidade, que reside a maior diferenciação dos cônjuges em relação aos demais entes das relações familiares. Cônjuge necessariamente é aquele que está vinculado a outrem pelos laços do casamento, e somente estes são assim considerados. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 23 O casamento tem início com a celebração. Por sua vez, implica em adoção de regime de bens entre os cônjuges, sendo que, aos que não o fizerem explicitamente, presumir-se-á, segundo reza o Código Civil de 2002, em seu art. 1640, a adoção do Regime da Comunhão Parcial de Bens que tutelará a situação patrimonial entre ambos. Os regimes de bens poderão ser: Comunhão Universal de Bens; Comunhão Parcial de Bens; Separação de Bens, que se subdivide em Separação Convencional e Separação Obrigatória de Bens e, finalmente, a forma introduzida pela Lei Civil vigente, o Regime de Separação Final dos Aquestos. No campo das Sucessões, o cônjuge, com advento do Código Civil vigente, fora erigido à condição de herdeiro necessário na Ordem de Vocação Hereditária, tendo salvaguardada a sua legítima, conforme versam os artigos 1845 (“São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.”) e 1846 (“Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.”). Tal situação não se verifica, por exemplo, com relação ao convivente, tendo sido conferida tão somente ao cônjuge. Não obstante o dever de fidelidade, já ressaltado, é possível que se verifique a coexistência da situação de cônjuge com a do convivente ou companheiro, que seria o status de quem vive em união estável. Tal ocorrência fática pode ser verificada quando a dissolução do casamento não se deu por qualquer de suas vias legais e os cônjuges encontram-se separados de fato apenas. A referida situação não é impedimento à constituição da união estável e não se confunde com o que se tem por concubinato. Portanto, é possível que coexistam o cônjuge e o convivente, ambos ligados a uma mesma pessoa. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br https://jus.com.br/tudo/uniao-estavel CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 24 A título meramente exemplificativo, pode-se ilustrar a afirmação feita acima da seguinte forma: João é casado com Maria. Após anos de casamento, ambos se separam. Entretanto, não o fazem judicialmente. Desta feita, o vínculo subsiste formalmente, ainda que os ex-cônjuges não mais convivam maritalmente. Tendo passado algum tempo após a separação, João passa a conviver com Nora publicamente e de forma contínua com animus de com ela constituir uma relação duradoura. Porém, a situação com Maria permanece como estava à época da separação, ou seja, estão separados, mas apenas faticamente, não tendo sido tomadas quaisquer providências judiciais. Nesse caso prático e bastante comum, João, para efeitos legais, continua casado com Maria, embora viva em união estável com Nora. Dessa forma, com relação a João, Maria continua sendo casada e Nora é companheira. Observação importante a se fazer concerne à proibição contida no artigo 1521, VI, do Novo Código Civil, que expressamente impede pessoa casada de se casar novamente. Assim, o separado de fato, ainda que nesta situação há 20, 30 anos, não poderá casar-se de novo. Mas, reiterando o que já fora dito, quanto à constituição de união estável, não há obstáculos. Tendo sido feitos tais apontamentos acerca do casamento, ainda no âmbito das relações tuteladas pelo Direito de Família, passar-se-á a tratar da União Estável, de forma a traçar sua evolução histórica, bem como trazendo conceituações e principais repercussões. DA UNIÃO ESTÁVEL http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 25 Evolução histórica da união estável Em se tratando do instituto da União estável, importante é que se trace a sua evolução ao longo da história, marcada por tantos avanços e também pelas inovações que foram sendo agregadas a cada passo dado, tanto no campo constitucional quanto no campo das legislações infraconstitucionais. No âmbito do Código Civil de 1916 e de acordo com o ideal social e moral da época, considerou-se como família apenas aquela resultante do casamento, sem dispensar o diploma qualquer atenção à união informal entre o homem e a mulher. Nesse contexto, cita Venosa (2003, p. 35) que: “O legislador do Código Civil de 1916 ignorou a família ilegítima, fazendo apenas raras menções ao então chamado concubinato unicamente no propósito de proteger a família legítima, nunca reconhecendo direitos à união de fato”. Renomado doutrinador argumenta ainda que fora a sociedade que, em determinado momento histórico, instituíra o casamento como regra de conduta, fazendo surgir a problemática da união conjugal sem casamento. (VENOSA, 2003, p. 49) Como consequência dos reclamos sociais e da própria posição que passou a ser adotada pelos tribunais em defesa dos direitos dos companheiros, além de um ou outro aspecto em que o legislador se ocupou do assunto, viu-se o constituinte obrigado a declarar o que a realidade lhe apresentava, nisso inserida a existência de relações informais entre o homem e a mulher, ao que se reconheceu como entidade familiar. Assim, na trilha das mutantes concepções sociais que se delineiam ao longo da história da sociedade, aqui tratada a sociedade brasileira, aquilo que em certa http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 26 época era tido por moralmente inadequado passa a assumir moldura diversa, por conta das alterações dos costumes, verdadeira fonte do Direito, o que conduziu à revisão na forma como os fatos eram percebidos. Foi a Constituição Federal de 1988 que erigiu a união informal entre homem e mulher ao status de entidade familiar. Dispõe o art. 226, § 3º, da CRFB/88, in verbis: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...) § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. A união estável passou a ser modalidade de entidade familiar, de forma que o Estado passou a proteger relacionamentos outros além dos constituídos pelo casamento. Nesse sentido, leciona Rodrigues (2002, p. 284): “Assim, a família nascida fora do casamento, sempre que derive da união estável entre o homem e a mulher, ganha o novo status dentro do nosso direito”. Corrobora com o entendimento desse doutrinador Maria Berenice Dias (2007, p. 138): “A sacralização do casamento faz parecer que seja essa a única forma de constituir a família. Mas é à família, e não ao casamento, que a Constituição chama de base da sociedade, merecedora da especial atenção do Estado (CF227)”. Ainda nesse contexto, e pela mesma doutrinadora, tem-se a seguinte lição: A Constituição, ao garantirespecial proteção à família, citou algumas entidades familiares, as mais frequentes, mas não as desigualou. Limitou-se a elencá-las, não lhes dispensando tratamento diferenciado. O fato de mencionar primeiro o casamento, depois a união estável e, por último, a família monoparental não significa qualquer preferência nem revela escala de prioridade entre eles. Ainda http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 27 que a união estável não se confunda com o casamento, ocorreu a equiparação das entidades familiares, sendo todas merecedoras da mesma proteção. (DIAS, 2007, p. 156-7). Entretanto, há outros doutrinadores, a exemplo de José Carlos Barbosa Moreira, que, contrariamente a esta posição, refutam a ideia de equiparação. Neste sentido: Não ocorreu, porém, equiparação entre os dois institutos, ao contrário do que se apressaram a sustentar alguns: a família resultante da união estável coexiste com a fundada no casamento, mas aquela não se identifica com este. Tanto assim, que, segundo o texto constitucional, a lei deve facilitar a conversão da união estável em casamento - o que não teria sentido se uma e outro já estivessem igualados. (MOREIRA, 2003, p. 7) Feitas tais considerações, entre os que defendem a equiparação dos institutos e os que rejeitam tal argumento, fato é que as leis 8.971/94 e 9278/96 vieram regulamentar tal disposição constitucional. Após a edição desta Constituição Federal de 1988, a família foi pluralizada e assumiu diferentes feições, sendo o casamento e a união estável, dentre outras, espécies de entidade familiar. Então, atualmente o casamento não é mais única forma de constituição de família. O número de casais que optam por viverem juntos sem que para isso o façam mediante o casamento é enorme. Esta realidade remonta muitas décadas, não é fato novo. Homem e mulher unem-se em afeto mútuo a fim de constituírem para si uma família. Vê-se que a questão do afeto, princípio geral das relações familiares, amplamente defendido hoje no contexto na principiologia do Direito de Família, constitui-se mola propulsora que, agregada a outros valores, fez com que o http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 28 Legislador passasse a conferir respaldo jurídico às uniões que assim se formassem. Nesse sentido, alude Dias (2007, p. 155): “Não há lei, nem de Deus nem dos homens, que proíba o ser humano de buscar a felicidade”. Na cadeia histórica evolutiva, por fim, o Código Civil de 2002 trouxe consigo dispositivos que reproduzem a espírito do legislador constituinte, dispositivos estes que visam a regular a entidade familiar sem matrimônio. Conceito de união estável A exemplo do que ocorre quanto a conceituar o casamento, a conceituação da união estável não é tarefa fácil. Constitui-se conceito bastante amplo e variável na doutrina. A priori, é importante que se diga que, embora tais institutos encontrem entre si similaridades, os mesmos não se confundem, caso contrário não haveria a prerrogativa de conversão da união estável em casamento. Ainda segundo bem ressalta Diniz (2007, p. 354), ao perder o status de sociedade de fato e ganhar o de entidade familiar, a união estável não pode ser confundida com a união livre, pois nestas duas pessoas de sexos diferentes, além de não optarem pelo casamento, não têm qualquer intentio de constituir família. Partindo-se dessas premissas, tendo-se em conta o que fora exposto, far-se-á uma tentativa de conceituação elencando quais os pressupostos essenciais para a configuração e reconhecimento de união estável, de modo que, em vez de conceituá-la se possa compreendê-la. E é sob a égide desses pressupostos que enuncia o art. 1723, caput, do Código Civil: “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 29 e a mulher, configurada na convivência pública contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituir família”. Reproduzindo o já citado dispositivo constitucional: “Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. (CF, 226, § 3°). Considerando-se a questão do afeto, de que já se tratou anteriormente, encerra Dias (2007, p. 161): “Preocupa-se o legislador em identificar a relação pela presença de elementos de ordem objetiva, ainda que o essencial seja a existência de vínculo de afetividade, ou seja, o desejo de constituir família”. Sabe-se que a união estável é relação íntima e informal, pautada pelas bases do afeto mútuo, marcada pelo convívio duradouro, contínuo, com intuito de constituir família. É da essência não só do casamento, mas também da união estável, que haja fidelidade, isto é, que haja estabilidade e comprometimento material e imaterial entre os conviventes e conforme se vê do dispositivo constitucional, que possa ser convertida em casamento, não restando assim, qualquer impedimento para isto. Corroborando o preceito constitucional, prescreve o art. 1723, §1°, in fine, do Código Civil: “... não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente”. Tendo em vista esse artigo, a doutrinadora Diniz (2007, p. 365) conclui que: "Consequentemente a união estável pode configurar-se mesmo que: a) um dos seus membros ainda seja casado, desde que antes de iniciar o companheirismo estivesse já separado de fato ou judicialmente do cônjuge". Destarte, reitera-se aqui a afirmação já feita anteriormente com relação à coexistência do casamento não dissolvido formalmente e a configuração de união estável concomitantemente. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 30 De forma idêntica ao que ocorre com relação ao casamento, a união estável pressupõe essencialmente diversidade de sexo. Portanto, a união de pessoas do mesmo sexo, chamadas uniões homo afetivas, não são consideradas união estável para efeitos da Lei. Com relação ao fato de viverem sob o mesmo teto, o que se teria por coabitação, a lei não impõe que os conviventes estejam sob o mesmo teto. Tal entendimento é ratificado pela doutrina de Venosa (2003, p. 50), que assim comenta: “Na união estável existe a convivência do homem e da mulher sob o mesmo teto ou não, mas more uxório, isto é, convívio como se marido e esposa fossem”. Vê-se que é prescindível o elemento da coabitação, mas, de modo distinto, é imprescindível a notoriedade da relação. É em consonância à afirmação em pauta que proclama a Súmula 382 do STF: “A vida em comum sob o mesmo teto, more uxório, não é indispensável à caracterização do concubinato”. Vale lembrar que a expressão “concubinato”, utilizada à época da edição da referida Súmula, era o termo usual para designar a situação dos que hoje se têm por companheiros. Finalmente, a exemplo do que se fez com relação ao cônjuge, cumpre determinar quem é o companheiro. No entanto, vale mencionar que a nomenclatura utilizada em referência àqueles que se unem sem vínculo matrimonial é diversa, dentre as quais as maisutilizadas são companheiros e conviventes. Assim, companheiro (a) é a designação que se dá ao homem (ou à mulher unida a um homem) unido por longo e contínuo tempo a uma mulher, como se seu esposo fosse, refletindo a intenção de constituir com ela uma família. Natureza jurídica da união estável http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 31 Para se estabelecer um paralelo e a efetiva diferenciação entre os institutos de Direito de Família até aqui tratados, importante é a lição de Venosa (2003, p. 50), segundo o qual “A união estável é um fato jurídico, qual seja, um fato jurídico que gera efeitos jurídicos. ” Dessa afirmativa é que se pode abstrair preciosa lição concernente aos institutos do casamento e da união estável. Enquanto o casamento constitui-se fato social e negócio jurídico, por sua vez precedido por formalismos e concretizado solenemente, passando a ser regido por um contrato, a união estável, embora gere efeitos jurídicos, é apenas fato jurídico, não lhe restando a obrigatoriedade de celebração para que passe a viger no mundo jurídico, nem que se estabeleça contrato entre as partes conviventes. A união estável não se estabelece por um ato jurídico único, como ocorre no casamento. Forma-se com o tempo. Portanto, a união estável é fato jurídico, gravado de efeitos que repercutem no universo jurídico. Ainda na lição de Venosa, é um fato do homem que, gerando efeitos jurídicos, torna-se um fato jurídico. Ressalte-se, entretanto, que tais efeitos, por sua vez, são similares aos gerados pelo matrimônio. No mesmo sentido pontua Gonçalves (2008, p. 554) citando Álvaro Villaça Azevedo: Realmente como um fato social, a união estável é tão exposta ao público como o casamento, em que os companheiros são conhecidos, no local em que vivem, nos meios sociais, principalmente de sua comunidade, junto aos fornecedores de produtos e serviços, apresentando-se enfim, como se casados fossem. Ainda no campo dos efeitos, mister se faz mencionar que o art. 1724 da Lex Civile regula as relações pessoais entre os companheiros, declarando assim: “As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 32 respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.”. Conclui-se que a união estável também gera deveres e que os deveres dos companheiros são praticamente idênticos aos deveres dos casados. Pode-se dizer que, embora não haja obrigatoriedade de celebração de contrato para que seja reconhecida união de fato entre um homem e uma mulher, o Código Civil manteve a possibilidade, prevista anteriormente no art. 5º da Lei 9278/96, de os companheiros celebrarem contrato escrito que venha dispor sobre o regime de bens que prevalecerá entre eles, já que a Lei Civil, no art. 1725, enunciou que “Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens”. Desse modo, caso queiram adotar outras disposições quanto aos reflexos da relação por eles constituída, haverá a possibilidade de se estabelecerem novas regras mediante contrato escrito. CONCUBINATO “A união prolongada entre o homem e a mulher, sem casamento, foi chamada, durante longo período histórico, de concubinato. ” (GONÇALVES, 2008, p. 539). Em razão disso, os conceitos de união estável e concubinato se confundiam. Por esse motivo, às vezes se lê “concubinato” quando o tema, em boa verdade, refere-se a uma “união estável”. Entretanto, ao longo da história do Direito de Família, tornou-se imprescindível, pois, cuidar da adequada definição acerca do exato alcance terminológico dessas palavras e expressões, com efeito definir o que vinha a ser concubinato e o que vinha a ser união estável. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br https://jus.com.br/tudo/uniao-estavel CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 33 O grande passo, nesse sentido, foi dado pela Constituição Federal de 1988, no artigo 226, § 3º, conforme já se viu transcrito anteriormente, estabelecendo, a partir de sua edição e promulgação, que a relação familiar nascida fora do casamento passou a denominar-se união estável. Muitos autores, a exemplo de Gonçalves, utilizavam-se do concubinato de forma subdividida, considerando-o “puro” quando se referisse à convivência duradoura, como marido e mulher, sem impedimentos decorrentes de outra união, o que passou a ser considerado como união estável, e “impuro” aquele que se referisse a pessoas casadas, infringindo o dever de fidelidade, também conhecido como concubinato adulterino ou incestuoso, mantido de forma velada, paralelo ao casamento, do conhecimento apenas das partes envolvidas. Nesse ínterim, aproveita-se para delimitar a expressão “concubinato” conforme hoje se opera estritamente ao que diz respeito a relacionamentos amorosos, envolvendo pessoas casadas que infringem o dever de fidelidade e que, por já serem casadas, estão impedidas de se casar, conforme estabelecido pelo art. 1727 do Código Civil, que assim reza: “As relações não eventuais entre homem e mulher, impedidos de casar, constituem concubinato. ”. Com relação a este último ponto, que se encontra destacado da leitura do artigo acima transcrito (art. 1727/CC), Gonçalves ainda aponta para o que considerou impropriedade da expressão utilizada, em função do que: [...] deve-se entender que nem todos os impedidos de casar são concubinos, pois o § 1º do art. 1723 trata como união estável a convivência pública e duradoura entre pessoas separadas de fato e que mantém o vínculo do casamento, não sendo separadas de direito. (GONÇALVES, 2008, p. 543). http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 34 Em suma, por meio de tais regramentos, instituiu-se nítida diferenciação entre concubinato e união estável. Reforçando esses apontamentos, comenta Venosa (2003, p. 49) que “... contemplada a terminologia união estável e companheiros na legislação mais recente, a nova legislação colocou os termos concubinato e concubinos na posição de uniões de segunda classe, ou aquelas para as quais há impedimento para o casamento. ” O (a) concubino (a) é o (a) amante! Para os fins desse instrumento, necessárias eram tais considerações para corroborar que nem legislação, jurisprudência ou doutrina têm por entidade familiar aquela fundada sob o concubinato. Se esse cuidado não fosse tomado, isto é, se não restasse bem definida a distinção entre esses institutos, então não seria possível entender porque alguns julgados dizem que a concubina tem alguns direitos e outros dizem que ela não tem aqueles mesmos direitos. E, nesse caso, não se cuida de mera divergência jurisprudencial. Cuida-se de soluções tomadas com base em instituto cujo conceito foi sendo gradativamente modificado. Assim, a distinção, como se vê, revela-se fundamental para que se possa decidir sobre a eventual existência de direitos decorrentes de uma e outra situação. Distinguindo o (a) concubino (a) do (a) companheiro (a), não há que se falar sob enfoques legais na esfera do Direito deFamília de direitos concernente aos concubinos, mas poderão ser conferidos, entretanto, na esfera obrigacional, pelo que alguns tribunais têm entendido por dever de solidariedade entre parceiros. A UNIÃO HOMOAFETIVA Breve histórico da homoafetividade http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 35 Neste tópico, serão apresentadas algumas questões históricas sobre a união homo afetiva as quais merecem ser pontuadas a fim de se compreender uma trajetória que culmina nos dias de hoje. Etimologicamente, a palavra homossexualidade é um termo híbrido, pois é formada pela união dos radicais: grego e latino, sendo respectivamente homos (igual) + sexus (sexo) cujo significado é atração sexual por pessoa do mesmo sexo. Segundo Costa (1992:11) a palavra homossexualidade adquiriu sentido pejorativo ao longo do tempo, pois se relacionava à doença ou desvio. Ao ser concebida como doença, a homossexualidade foi inserida no rol de doenças médicas e, posteriormente, foi excluída da lista pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Atualmente, a homossexualidade não é vista como doença ou distúrbio, pois se trata de uma forma natural de expressão da sexualidade. Costa (1992) sugere o termo homo erotismo por descrever os desejos dos homoeróticos em sua pluralidade. Na mesma linha de pensamento, Dias (2007:1) afirma que o exercício da sexualidade não distingue vínculos afetivos. Para ela “a identidade ou diversidade do sexo do par gera espécies diversas de relacionamento”. Nessa perspectiva a autora destaca as relações homo afetivas ou heteroafetivas e não relações homossexuais ou heterossexuais. Em relação às origens históricas da união homo afetiva, é importante ressaltar que as crenças de uma sociedade variam conforme a época. A respeito disso, Nunan (2003:24) citada por Pedro (2006:15) afirma: “[Não é correto] acreditar que os gregos antigos ou povos de outras sociedades (...) partilham de nossas convicções morais, científicas, religiosas e estéticas sobre o que é sexo (...) São realidades sócio históricas completamente diferentes da nossa”. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 36 Rodrigues (2004) lembra que a prática homossexual já existia entre os primatas do mesmo gênero, assim como nas civilizações antigas, casos verificados na Grécia por meio da mitologia em particular e na cultura grega da época. Os gregos acreditavam que os jovens, após doze anos, só absorveriam as virtudes de um bom cidadão se mantivessem relações sexuais com os mais velhos. Dessa forma, as relações entre pessoas do mesmo sexo tinham caráter pedagógico. Segundo Rodrigues (2004) havia, no Império Romano, inúmeros casos de homossexualidade, envolvendo tanto imperadores quanto cidadãos comuns. Dentre os imperadores, podemos mencionar: Júlio César, Tibério, Calígula, Nero, Adriano, dentre outros. Percebe-se, assim, que a união entre pessoas do mesmo sexo era tratada com naturalidade. Todavia, após um período cristão, passou-se a reprimir tais uniões. Ainda segundo Rodrigues (2004), na Idade Média, período de soberania da fé cristã, foi instituída pelo Papa Gregório IX a Inquisição, que reprimia os homossexuais por meio de castigos e até mesmo pela morte. Com o surgimento do Renascimento, novos ideais emergem e assim a repressão aos homossexuais decai. Entretanto, mesmo sendo contrário a vários preceitos do Catolicismo Romano, o Protestantismo, no século XVI, manteve a doutrina de que o adultério e as relações homossexuais eram atividades pecaminosas. Muitos fiéis da Igreja Católica nessa época emigram para o Protestantismo. Assim, para não perder os fiéis, a Igreja Católica envia missionários a terras distantes com o objetivo de catequizar novos povos. A catequese implicava difundir http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 37 os “ensinamentos” da inquisição como, por exemplo, a proibição de práticas homoeróticas. Avançando um pouco mais no percurso histórico, é importante lembrar o confronto entre homossexuais e policiais ocorrido em 1969 em Nova Iorque. Esse conflito representou um marco do movimento gay. Mott (2003) verifica a importância do jornal O Lampião, o primeiro jornal gay do país, ao influenciar o movimento homossexual no Brasil. A partir desse movimento surgem grupos de defesa dos direitos dos homossexuais, tais como o Grupo Somos em São Paulo na década de 70, o Grupo Gay da Bahia em 1980, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis em 1995. Em setembro de 2003, o Congresso Nacional aprova o Dia Nacional do Orgulho Gay e da Consciência Homossexual. Tal fato levou às ruas mais de um milhão de pessoas em São Paulo. Assim, muitos adeptos assumem a condição homossexual observadas nas Paradas Gays. Outro fato importante foi o lançamento pelo Governo Brasileiro do programa de promoção da cidadania homossexual a fim de “proporcionar o desenvolvimento de políticas públicas para gays, lésbicas e transgêneros, no campo de combate à violência e à discriminação” (PEDRO, 2006:11). A partir do percurso histórico, percebe-se que houve uma naturalização das uniões homo afetivas e também estigmas criados pela sociedade. Diante desse cenário, as uniões homo afetivas merecem proteção do Estado, pois representam um modo de amar e de afetividade. No próximo tópico será abordada a contradição existente entre a ausência de lei e sua aplicação em casos concretos pelo judiciário referentes às uniões homo afetivas. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 38 Do “armário” para o campo jurídico Apesar da aparente mudança de mentalidade percebida em nossa sociedade, não há ainda regulamentação específica no ordenamento jurídico em relação às uniões homo afetivas. Todavia, Dias (2015:271) defende que não há impedimento para o casamento entre dois homens ou duas mulheres uma vez que há ausências de referência no ordenamento jurídico à diversidade de sexo do par. Segundo a autora (2015): Quase intuitivamente se reconhece como família exclusivamente a relação interpessoal entre um homem e uma mulher constituída pelos sagrados laços do matrimônio. É tão arraigada essa ideia que o legislador, quando trata do casamento não se refere se seguem a diversidade de sexo do par. Assim, na ausência de vedação constitucional ou legal, não há impedimento ao casamento homossexual. Não existir a lei não significa que não haja direito. A omissão do legislador não quer dizer que são relações que não merecem a tutela jurídica. Neste sentido, cabe ao Judiciário proferir decisões que conferem ou não direitos às relações homo afetivas. Em suma, apesar do englobamento do conceito de família trazido pela CR/88, em seu artigo 226, ainda não há no Brasil uma legislação específica para tratar das uniões homo afetivas, como também não há leis que as proíbam, o que demonstra um Estado conservador em suas práticas. Diante da inércia do legislativo em criar leis voltadas para as uniões homo afetivas, cabe ao Poder Judiciário preencher os vazios existentes na legislação e decidir a partir de casos concretos apresentadospela jurisprudência. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 39 Assim dispõe o artigo 4º da LINDB: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.” Da mesma forma aponta o artigo 140 do NCPC: “O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico”. Com efeito, ao juiz é vedado desobrigar-se da prestação jurisdicional sob o argumento de ausência de lei. O reconhecimento da união homo afetiva no direito brasileiro Atualmente, há muitas questões em torno da união homo afetiva passíveis de suscitar o interesse pelo debate entre o meio jurídico, relacionando o tema a uma prática social que carece de regulamentações no domínio jurídico. Segundo Dias (2015:28), “a ausência de leis não significa ausência de direito. O juiz tem que julgar. Precisa encontrar uma resposta dentro do sistema jurídico obedecendo os parâmetros constitucionais que veda qualquer discriminação”. Nesse sentido, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) expediu a resolução 175/2013 proibindo que qualquer autoridade recuse acesso ao casamento e à conversão da união estável em casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ainda que o legislador tenha sido omisso quanto ao tratamento dado às uniões homo afetivas, não há possibilidade de deixá-las fora do atual conceito de família. Se duas pessoas têm vínculo afetivo, relação duradoura, pública e contínua, como se casados fossem, “formam um núcleo familiar à semelhança do casamento, independentemente do sexo a que pertencem”. (Dias, 2015:273) http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 40 A autora lembra que a única diferença entre a união estável entre homem e mulher e a união homo afetiva é a possibilidade de gerar filhos. Entretanto, tal diferença não serve de fundamento para surtir efeitos. Em sentido diverso, Farias e Rosenvald (2008:394-395) apontam que: Uniões homo afetivas, embora não reconhecidas como união estável, devem ser tuteladas como entidades familiares autônomas, protegidas no direito de família. O que não se pode tolerar é o seu tratamento como meras sociedades de fato, repercutindo apenas, no âmbito das relações obrigacionais (...) Diniz (2009:376-377) assevera que a união estável não se aplica à relação entre pessoas do mesmo sexo, pois para a autora as relações homo afetivas configuram sociedade de fato. Na mesma linha de raciocínio, Gonçalves (2010:592) aduz que a união entre pessoas do mesmo sexo não configura uma entidade familiar. Embora haja divergência na doutrina quanto ao afastamento ou aproximação da união homo afetiva à união estável, o Direito reconhece em âmbito administrativo alguns direitos concebidos, como os elencados por Dias (2015): pensão por morte, auxílio reclusão, pagamento de seguro DPVAT, expedição de visto de permanência para parceiro estrangeiro, inclusão do parceiro como dependente do IRRF e soma do rendimento do casal para concessão de financiamento imobiliário. Neste ínterim, segundo preceito estabelecido por Dias (2001), famílias homo afetivas encontram respaldo no fato de que “o afeto é o elemento norteador de toda e qualquer relação familiar, especialmente as formadas por pessoas do mesmo sexo”. Ao se levar uma demanda aos Tribunais no Brasil cuja questão envolva a união homo afetiva é estar em um circulo perverso: não há uma lei, logo o juiz não http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 41 pode se eximir de julgar sob a alegação de não haver lei. Dessa forma, Tal denegação afronta os direitos fundamentais. O juiz deve, portanto, buscar fundamentação jurídica que visa proteger a família homo afetiva para assegurar o direito à liberdade e à igualdade, assim como a dignidade da pessoa humana e a vedação ao preconceito. Sabendo-se que a sociedade não é homogênea, pelo contrário, está em constante transformação, o direito não pode ficar a mercê de convicções e preconceitos de seus legisladores para que aprovem ou revoguem leis, mas, sobretudo, o direito deve acompanhar o momento social, como ativismos sociais e judiciais. Progressos legais e jurisprudenciais Dias (2015:275) aponta diversos avanços jurisprudenciais em relação às uniões homo afetivas. Em 1999, a competência dos juizados especializados, em casos de união homo afetiva, saiu das Varas Cíveis e foi para as Varas de Família. Em 2001, ocorre o reconhecimento da união de pessoas do mesmo sexo como entidade familiar na Justiça do Rio Grande do Sul, tendo sido deferido o direito de herança ao parceiro. Em 2006, por decisão unânime, o TJRS] deferiu “a parceira homossexual a adoção dos filhos que haviam sido adotados pela companheira” (2015:275). Dessa maneira, a jurisprudência estabelece condutas de caráter geral. O Juiz, ao julgar um caso concreto, funciona como agente transformador da sociedade. http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 42 Maluf (2016:425-430) faz um apanhado das Propostas de Emendas à Constituição (PEC’s) e Projetos de Lei (PL) encaminhados de 1995 a 2013 com intuito de garantir os direitos das pessoas do mesmo sexo. Em 1995, a Deputada Marta Suplicy (PT/SP) encaminha a PEC/139 com o objetivo de regulamentar as relações entre pessoas do mesmo sexo por meio da alteração dos artigos 3º e 7º da CR/88, regulamentando a união civil de pessoas do mesmo sexo. O Projeto de Lei 1151/95 da Deputada Marta Suplicy visava disciplinar “a união civil entre pessoas do mesmo sexo”. Objetivava-se principalmente, a garantia dos direitos fundamentais e patrimoniais às pessoas do mesmo sexo, não tendo, entretanto, o intuito de equiparar a união homo afetiva ao casamento. Em 1997, esse Projeto foi substituído pelo PL 1151A de autoria de Roberto Jefferson, que pretendia algumas mudanças no projeto original, como alteração da união civil para parceria civil. Ressalte-se que esses projetos, após anos de tramitação, ainda não foram apreciados (MALUF, 2016). Em 2001, O Projeto de Lei 5222, também de autoria de Roberto Jefferson, pretende destituir expressamente a orientação sexual como elemento de cunho discriminatório, podendo o estabelecimento de um pacto entre pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente. Segundo Maluf (2016) o Projeto de Lei ainda não foi incluído na pauta de votação, pois a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se opôs ao Projeto. O Projeto de Lei 2285/2007 do Deputado Sergio Barradas Carneiro (PT/BA) denominado Estatuto das Famílias, contempla a proteção de diversas entidades familiares na contemporaneidade. Interessante notar que o Estatuto sintetiza regras http://www.famart.edu.br/ mailto:atendimento@famart.edu.br CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR www.famart.edu.br | atendimento@famart.edu.br | +55 (37) 3241-2864 | Grupo Famart de Educação 43 do casamento, da união estável, da união homo afetiva – atribuindo-se, assim, a todas as entidades familiares a mesma dignidade. O Projeto de Lei 4914/2009 do Deputado José Genuino (PT/SP) sobre união
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