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CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR

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CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO 
FAMILIAR 
 
 
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SUMÁRIO 
 
FUNÇÕES E TRANSFORMAÇÕES DA FAMÍLIA AO LONGO DA HISTÓRIA ........... 4 
MODELOS DE ESTRUTURA DE FAMÍLIA ................................................................. 7 
CONCEITOS DE FAMÍLIA ........................................................................................ 15 
FUNÇÕES E PAPÉIS DA FAMÍLIA ........................................................................... 18 
NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO................................................................ 20 
CONSIDERAÇÕES FUNDAMENTAIS SOBRE O CASAMENTO ............................. 22 
DA UNIÃO ESTÁVEL ................................................................................................ 24 
Evolução histórica da união estável .......................................................................... 25 
Conceito de união estável ......................................................................................... 28 
CONCUBINATO ........................................................................................................ 32 
A UNIÃO HOMOAFETIVA......................................................................................... 34 
Breve histórico da homoafetividade .......................................................................... 34 
Do “armário” para o campo jurídico ........................................................................... 38 
O reconhecimento da união homo afetiva no direito brasileiro .................................. 39 
Progressos legais e jurisprudenciais ......................................................................... 41 
OUTRAS FORMAS DE CONFORMAÇÃO FAMILIAR .............................................. 45 
A família decorrente do casamento ........................................................................... 46 
A união estável como entidade familiar ..................................................................... 47 
A família monoparental ............................................................................................. 48 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50 
 
 
 
 
 
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FUNÇÕES E TRANSFORMAÇÕES DA FAMÍLIA AO LONGO DA HISTÓRIA 
 
Como em outras situações da vida humana, o ciclo que compõe a vida 
familiar perpassa por etapas sucessivas durante o processo evolutivo. Esse fato leva 
a constante busca de teorias e conceitos que expliquem a origem e estruturação do 
grupo familiar. 
 Estudos apontam que, originalmente, as famílias organizavam-se sob a 
forma matriarcal, consequência da vida nômade dos povos primitivos. Nessa época, 
os homens ainda desconheciam as técnicas do cultivo da terra, e precisavam sair 
em busca de alimento. As mulheres permaneciam com a prole, que crescia 
praticamente sob a influência exclusiva da genitora. Essa situação genuinamente 
prepondera a figura materna e, em certas sociedades matriarcais essas mulheres 
possuíam o direito de propriedade e certos privilégios políticos. 
A organização familiar, contudo, não se restringe à espécie humana. 
Faremos uma síntese sobre os comportamentos familiares de alguns animais para 
reafirmar o estilo genérico dos agrupamentos familiares na trajetória da espécie 
humana. Há de se lembrar que entre os animais há famílias em que, após o 
acasalamento, a prole fica sob os cuidados de um dos genitores, geralmente a 
fêmea, porém, em alguns casos, também encontramos o macho como responsável 
pelos descendentes. Por sua vez, algumas espécies de aves vivem com a família 
durante o período da reprodução e com seus bandos nas demais épocas do ano. A 
exemplo da espécie humana, também no reino animal existem famílias ampliadas 
(ou extensas), em que os filhos mais velhos auxiliam na criação dos irmãos. As 
abelhas operárias, filhas estéreis das abelhas rainhas, constituem entre si uma 
comunidade de irmãs com funções de mútuos cuidados, proteção e alimentação. 
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 Segundo Morgan (apud OSÓRIO, 1996, p. 31), “havia originalmente uma 
promiscuidade absoluta, sem qualquer interdição para o intercurso sexual entre os 
seres humanos. Este teria sido o período da família consanguínea, estruturada a 
partir dos acasalamentos dentro de um mesmo grupo”. 
 Durante esse período, após a proibição do relacionamento sexual entre pais 
e filhos e entre irmãos, surgiu a família punaluana, também conhecida como família 
por grupo, onde os membros se uniam com componentes de grupos diferentes. 
Nesse contexto, os homens poderiam se casar somente com um elemento de 
outro grupo. Na família sindesmática ou de casal, a união acontecia entre casais 
que respeitavam o tabu do incesto, mas sem a obrigatoriedade do casamento 
intergrupos. Este tipo de família, encontrada entre os nômades, tinha como 
característica a convivência de vários casais no mesmo espaço e sob a autoridade 
matriarcal. 
Da divisão das obrigações, oriunda do desenvolvimento da agricultura, teria 
originado a família patriarcal, criada sob a autoridade absoluta do patriarca ou “chefe 
da família” que, na maioria das vezes, vivia em um regime poligâmico, tendo as 
mulheres isoladas em determinados locais chamados de gineceus e haréns. 
 A família monogâmica, modelo da civilização do Ocidente, cujas origens 
encontram-se ligadas à ideia de posse ao longo do processo civilizatório, tinha como 
condição exigida para o reconhecimento dos filhos e transmissão hereditária da 
propriedade, a fidelidade. Esse modelo de família é predominante no mundo 
ocidental até os dias atuais. 
 A origem etimológica da palavra família, que deriva do vocábulo latino 
famulus- que significa escravo doméstico, o que pressupõe que, primitivamente, se 
considerava a família como sendo o conjunto de escravos ou servos de uma mesma 
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pessoa. Isso nos remete à compreensão da natureza possessiva das relações 
familiares entre os povos primitivos. Nessa relação, a mulher obedecia seu 
companheiro como se fosse seu proprietário e dono. Os filhos pertenciam a seus 
pais, a quem deviam suas vidas e, por conseguinte, esses se julgavam com total 
direito sobre elas. O sentido de posse e de poder estava perceptivelmente ligado à 
origeme evolução do grupo familiar. Bilac (1953, p. 31- 231) discorrendo sobre o 
tema, cita Engels ao afirmar que: 
O termo família é derivado de famulus (escravo doméstico) – foi uma 
expressão inventada pelos romanos para designar um novo organismo social que 
surge entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e à escravidão 
legal. Esse novo organismo caracteriza-se pela presença de um chefe que mantinha 
sob seu poder, os filhos e um certo número de escravos, do poder de vida e morte 
sobre todos eles e um certo número de escravos, com poder de vida e morte sobre 
eles, o paterpolistas. 
Talvez as raízes da palavra família expliquem porque até hoje existam filhos 
e esposas submissos ao chefe de família, sem opinar ou questionar sobre os 
problemas dentro do seio familiar. 
Afirma Aries (1975) que, até o século XV, a família era “uma realidade moral 
e social, mas do que sentimental [...] A família quase não existia sentimentalmente 
entre os pobres, e, quando havia riqueza e ambição, o sentimento se inspirava no 
mesmo sentimento provocado pelas antigas relações de linhagem. 
 As famílias, até então, não tiveram necessariamente a reprodução cotidiana 
ou geracional como função especifica ou exclusiva, e, em muitos momentos, 
desempenharam simultânea e prioritariamente, funções políticas e econômicas. 
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Pelo exposto, podemos inferir que a família antiga era concebida como 
instituição fundada na e para a reprodução cotidiana e geracional dos seres 
humanos. Sua maior missão recaia na conservação dos bens, na prática comum do 
oficio. A ajuda mútua era essencial para a sobrevivência em um mundo em que 
seres humanos isolados não sobreviveriam. A função afetiva não pode ser 
identificada como algo fundamental à família nessa época, já que as trocas afetivas 
e contatos sociais aconteciam entre as pessoas mais próximas, não 
necessariamente membros familiares. 
 Assim, a instituição família consolidou-se na antiga aristocracia, não 
propriamente por laços afetivos, mas visando à questão econômica, ou seja, além 
do vínculo consanguíneo, a maior preocupação era assegurar que o poder aquisitivo 
não saísse das mãos de seus membros. 
 
MODELOS DE ESTRUTURA DE FAMÍLIA 
 
Para melhor compreensão, discorreremos sucintamente sobre 4 modelos de 
estrutura familiar, considerados de abordagem mais relevante quais sejam: família 
burguesa de meados do século XIX, a família aristocrática dos séculos XVI e XVII, a 
família camponesa dos séculos XVI e XVII e família da classe trabalhadora do início 
da Revolução Industrial. 
Em meados do século XIX, a família burguesa, nuclear por definição, 
habitava as áreas urbanas. Sabe-se que, de 1750 até o presente momento histórico, 
o padrão demográfico da família burguesa evoluiu gradualmente para um padrão de 
baixa fertilidade e baixa mortalidade. O planejamento familiar inicia-se nesse grupo. 
No dia a dia, as relações entre os componentes da família burguesa assumiram um 
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modelo característico de intensidade emocional e de privacidade. O casamento 
trouxe para esse grupo o conflito que oscila entre as necessidades da preservação 
da acumulação de capital e o valor de escolha individual. 
A sexualidade entre os componentes dessa classe é uma das características 
mais surpreendente da história moderna. A burguesia se esforçou para adiar a 
satisfação sexual como em nenhuma outra classe. As mulheres burguesas eram 
consideradas seres assexuais, angelicais, acima da luxuria animal. 
Para os homens dessa classe, o sexo estava dissociado dos sentimentos de 
ternura e era realizado como conquista de mulheres de classe inferior. A prostituição 
era requerida pelos homens burgueses porque a plena realização sexual tornou-se 
impossível para os cônjuges. A burguesia definiu-se moralmente, em contraste com 
o proletário promíscuo e a nobreza sensual, como uma classe dotada de virtuosa 
renúncia. O excesso desse comportamento “virtuoso” levou a burguesia à divisão 
entre o casamento e o amor, de um lado, e sexualidade de outro. 
O casamento burguês torna-se perene. Interesses sociais e financeiros 
predominavam nessas alianças. Entretanto, o jovem burguês era impulsionado por 
um amor romântico. Ao findar o século XIX, o amor romântico passava a ser a razão 
central do casamento. Porém, o mais estranho é que na classe média, o amor 
romântico raramente sobrevivia aos primeiros anos, e a expressão “felizes para 
sempre” traduzia o viver juntos não com paixão, mas com respeitabilidade. 
Na família burguesa, as relações eram consolidadas mediante rigorosas 
divisões de papéis sexuais. O marido era chefe dominante e provia seu sustento da 
família. A esposa era considerada ser não pensante e menos capaz, zelava apenas 
do lar, em alguns casos, com a ajuda de criadas. O principal interesse da esposa 
centrava-se nos filhos. 
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 Os filhos foram reavaliados pela burguesia tornando-se seres significativos 
para os pais. Uma relação mais intima, profunda e emocional se estabeleceu entre 
pais e filhos dessa classe. O sentimento de amor materno foi considerado natural 
nas mulheres, que não tinham somente o dever de zelar pela prole mas também a 
missão de orientá-la para um lugar respeitável na sociedade, além da atribuição de 
cuidar do lar e do marido. 
As relações internas das famílias burguesas eram preservadas pela 
sociedade. A família torna-se um santuário em cujo ambiente sagrado nenhum 
estranho tinha direito de adentrar. Sendo assim, até mesmo o local de trabalho dos 
homens da época não poderia ser próximo à residência, pois o lar não era um lugar 
de trabalho e sim de lazer, enquanto o ambiente de trabalho era destinado à ação, à 
razão. Torna-se assim, ambiente competitivo, hostil em contraposição ao ambiente 
de refúgio, aconchego, ternura e amor. 
 As crianças burguesas em idade pré-escolar, em maioria, não conviviam com 
outras crianças, mas com os adultos da casa. A partir de 1830, o Estado começou a 
elaborar orientação e normas que envolviam assuntos de família, mas, geralmente, 
só havia intervenção nos assuntos de famílias, ou seja, ninguém fiscalizava o 
tratamento das crianças burguesas. Com inovadoras formas de amor e autoridade, a 
família burguesa criou uma nova estrutura emocional. 
 
Família Aristocrática (Séculos XVI e XVII) 
 
O segundo modelo de estrutura familiar, oriundo da aristocrata europeia, 
incluía uma mistura de parentes, dependentes, criados e clientes. Consistia em 
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grupos com 40 até acima de 200 membros. Os aristocratas consideravam de suma 
importância a preservação da rede de relações de parentesco e linhagem. 
A composição da casa nobre estava longe de ser estável, criados e clientes 
entravam e saiam da casa nobre; crianças de ambos os sexos eram enviadas para 
serem criadas em outras residências nobres. Segundo demógrafos, os aristocratas 
erampropensos a terem mais filhos do que a classe inferior, e com índice de 
mortalidade infantil inferior. 
Os enormes castelos eram locais públicos e políticos. Simbolizavam, pela 
magnitude material, o poder sobre o campesinato. No castelo não havia privacidade. 
As construções não propiciavam a privacidade. Todos os que chegavam e saíam 
esbarravam-se pelos caminhos e eram obrigados a passarem por salas em que 
haviam outras pessoas em decorrência da estrutura física dos castelos. Os 
ocupantes dormiam em toda a parte. O mobiliário também era multifuncional. As 
relações entre os componentes da casa eram regidas por uma austera hierarquia, 
estabelecidas pelas tradições. 
Ali, a união matrimonial era um ato político da mais alta ordem. O destino da 
linhagem estava sujeito a casamentos que mantivessem intactas as propriedades da 
família. Aos pais, cabia a decisão de quem se uniria a quem. Os dotes eram 
pequenas fortunas e casar uma filha muitas vezes era oneroso. Sendo assim, o 
casamento pouco combinava com amor ou sexo. 
Os aristocratas relacionavam-se sexualmente com a criadagem e com outros 
da mesma classe. As concubinas eram aceitas publicamente. Quase sempre as 
mulheres eram consideradas criaturas tão sexuais como os homens e assuntos 
como sexo e amor não eram assuntos privativos e secretos. 
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A riqueza dessa pequena elite (cerca de 1,5% da população na França do 
século XVIII), consistia no controle da terra e, em certo grau, nos favores do 
monarca. A terra, principal forma de enriquecimento da aristocracia, de um modo 
geral não era considerada um capital a ser melhorado ou explorado. Era, antes de 
tudo, um patrimônio sob a prerrogativa da linha de família. A riqueza era para ser 
herdada e retransmitida, e não para se ganhar ou acumular. 
O trabalho dos nobres era na guerra, servindo o rei e mantendo a ordem. As 
esposas eram figuras altivas, mas suas funções principais era conceber filhos e 
organizar a vida social. Em geral, não se ocupavam da administração da casa e nem 
com a criação dos filhos. A ordem na casa era organizada hierarquicamente, 
independente de influência externa. O Rei procurava controlar os nobres, com 
exceção no ambiente familiar, interferia somente em ocasiões raras. 
Em virtude dos meios de transporte da época, os aristocratas em geral vivam 
longe de suas companheiras. Segundo estudos, as crianças aristocratas ficavam 
nas mãos da criadagem desde o momento de seu nascimento. Pai e mãe raramente 
se preocupavam com os filhos, principalmente nos primeiros anos de formação. Os 
cuidados com os filhos não eram considerados como procedimento relevantes e as 
mães ocupavam-se como damas da sociedade. As crianças eram consideradas 
pequenos animais e não seres que necessitassem de amor e atenção. Os recém-
nascidos nobres eram amamentados por amas de leite. A morte dos pequenos nas 
mãos das amas não era incomum, tanto que algumas amas eram conhecidas como 
“amas assassinas”. Os filhos não desejados eram certamente encaminhados a 
essas mulheres. 
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Torna-se perceptível que as famílias aristocratas dispensavam pouco valor à 
privacidade, cuidados maternos, amor romântico e relações íntimas com as crianças. 
A vida emocional dos filhos não girava em torno dos pais. 
 
A família camponesa (séculos XVI e XVII) 
 
A estrutura familiar camponesa dos povoados que viviam em aldeias era 
diferente da classe dominante. O campesinato europeu incluía grandes 
desigualdades econômicas. e de posse de riqueza. Abrangia diferentes modos de 
produção. Segundo os demógrafos, os camponeses casavam-se perto dos 30 anos 
de idade e tinham poucos filhos vivos (quatro ou cinco). Embora houvesse muitos 
nascimentos, poucos ou somente a metade sobreviria até a idade adulta. 
Embora fosse numericamente reduzida, a família camponesa estava 
interligada num vasto círculo de sociabilidade, onde a unidade básica da vida 
camponesa no início do período moderno não era a família conjugal, mas a aldeia. A 
aldeia era a família do camponês. 
A autoridade social não estava embutida na figura do pai, mas na própria 
aldeia. Em alguns locais, o senhor da terra e o pároco eram autoridades efetivas, 
mas no controle e nas regras do dia a dia prevaleciam os costumes e as tradições 
da aldeia. Nenhum fato importante acontecia no seio familiar sem que fosse 
conhecido ou fiscalizado pela aldeia. Casamento, relações entre marido e mulher, e 
entre pais e filhos tudo passava pelo crivo dos aldeões, que impunham regras e 
sanções. 
Camponeses e camponesas tinham funções separadas a desempenhar e, 
geralmente, as mulheres eram submissas, embora o trabalho dessas mulheres fosse 
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imprescindível para a sobrevivência da família e da comunidade. Nessa classe, as 
mulheres trabalhavam duramente por longas horas, cozinhavam, cuidavam dos 
filhos, dos animais domésticos e da horta e juntavam-se ao resto da aldeia nos 
períodos da colheita. As mulheres regulavam os casamentos e fiscalizavam os 
namoros. Agindo desta forma, o patriarcado camponês tornava-se diferente do 
aristocrata e do burguês. 
Os episódios emocionalmente importantes nas aldeias não tinham significado 
na família e sim no seio comunidade. Eventos como festividades, cultos, 
casamentos e até mesmo a morte eram abertos a toda comunidade. 
Em alguns lugares da aldeia, os pais tomavam as decisões sobre a união 
conjugal dos filhos, mas, em maioria, a comunidade tinha formas coletivas de 
namoro em que se providenciava a formação de casais adequados. A partir do 
século XVI, o Estado interveio nos casamentos, numa tentativa de reforçar a 
autoridade patriarcal. 
A supremacia da aldeia sobre o parentesco e a família, mesmo no casamento 
monogâmico, influenciava as relações de pais e filhos. As genitoras camponesas 
eram auxiliadas nos deveres de cuidar dos filhos por parentes, pessoas idosas e 
moças solteiras. As mulheres da aldeia transmitiam às mulheres mais jovens os 
conhecimentos sobre o aleitamento, enfaixamento, curas de enfermidades, etc. Esse 
repasse de informações, era fiscalizado pelos aldeões que queriam se certificar que 
os costumes e tradições estavam sendo realmente repassados para os mais jovens. 
No âmbito da família conjugal, as crianças não eram tidas como propriedades 
dos pais, nem tampouco consideradas o centro da vida. Os laços afetivos, em vez 
de limitados a pais e filhos, estendiam-se para fora, envolvendo a aldeia e 
antepassados. Os mortos eram considerados parte da comunidade. Segundo alguns 
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historiadores, as crianças camponesas, ainda muito pequenas, eram abandonadas 
durante o dia todo, tendo que se arranjarem sozinhas quando o campo exigia a 
presença de suas progenitoras. 
Assim, a autoridade da família camponesa difundia-se por toda a aldeia com 
vários adultos participando da vida da criança. A afetividade com que a criança se 
defrontava estava também dividida entre uma grande variedadede parentes e 
aldeões. 
As relações entre pai e filho não continham intimidade ou intensidade 
emocional, as sanções eram impostas com castigos físicos. Provavelmente não 
internalizava figuras parentais de forma profunda, uma vez que a vida emocional da 
criança era condicionada pelos ritmos da aldeia, e extensas tradições e costumes. 
 
A família da classe trabalhadora (meados séculos XIX) 
 
A classe trabalhadora surge entre o campesinato deslocado e os níveis mais 
baixos da sociedade urbana. e desenvolve uma estrutura de família sob condições 
de agonia social e econômica, Entretanto, no decorrer do tempo, a família da classe 
trabalhadora passou a se parecer muito com a família burguesa. 
A alta fertilidade, a alta mortalidade e a baixa expectativa de vida marcaram 
essa classe no período inicial da industrialização. Os salários eram baixos, crianças 
também precisavam trabalhar para ajudar no sustento da família. As condições de 
vida eram ruins, as horas trabalhadas giravam em torno de 14 a 17 horas diárias. Os 
filhos a partir dos 13 e 14 anos saiam de casa em busca de trabalho. 
Os jovens proletários declaravam muito cedo independência dos pais. Esses 
grupos de jovens, alvos de preocupação constante, eram denominados 
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“delinquentes juvenis”. Nessa classe os jovens estavam propensos a casarem-se 
mais cedo do que na burguesia .As relações entre homens e mulheres tendiam a 
subverter os padrões patriarcais, dado que as mulheres trabalhavam fora de casa e 
ainda faziam afazeres domésticos. 
Na família da classe trabalhadora, os filhos eram criados de maneira informal, 
mais antiga, sem a constante atenção e fiscalização da mãe. As crianças eram 
forçosamente amamentadas ao peito por mãe subalimentadas, cansadas e 
preocupadas. Nesse período, os cuidados com a higiene e controle genital eram 
negligenciados. Assim, os filhos do proletariado eram muito mais criados pela rua do 
que pela família. O padrão de autoridade imposto à criança da classe trabalhadora 
era semelhante à da classe dos camponeses, sem, contudo, ser fechada dentro de 
uma aldeia, mas jogada no mundo capitalista industrial. 
Infere-se que a maior influência sobre as condições de vida da classe 
trabalhadora, tenha sido os movimentos sindicalistas que, coletivamente, lutaram 
pela melhoria de vida dos operários da época. Nesse período também os operários 
do sexo masculino estavam predispostos a formar pequenos grupos que oscilavam 
entre trabalho e bar. As mulheres, por sua vez, passaram a formar comunidades nas 
residências. Dessa forma, a família passava por novas transformações de 
organização e atribuição. 
 
CONCEITOS DE FAMÍLIA 
 
Para Da Mata (1987, p. 145) 
Família não é apenas uma Instituição social capaz de ser individualmente, 
mas constitui também, e particularmente, um valor. Há uma escolha, por parte da 
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sociedade brasileira, que valoriza a família, como uma Instituição fundamental à 
própria vida social; é um grupo social e uma rede de relações; funda-se na 
genealogia e nos elos jurídicos, mas também se faz na consciência social, intensa e 
longa. 
Segundo Ferrari (1994, p.18) 
Família é aquela que propicia aportes afetivos e o bem-estar de seus 
componentes; ela desempenha papel decisivo na educação formal e informal; é em 
seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários onde se 
aprofundam laços de solidariedade; é também em seu interior que se constroem as 
marcas entre as gerações e são observadas os valores culturais. 
Assim, a família pode ser entendida como um conjunto de relações sociais 
baseadas em elos consanguíneos, adoção e uniões socialmente reconhecidas 
legalmente ou não. 
A família abordada enquanto unidade doméstica centra-se nas condições 
materiais, isto é, na manutenção da vida: alimentação, vestuário, habitação, 
repouso. No passado, o grupo familiar, era uma unidade de produção, 
encarregando-se, ela própria, da produção dos meios de sobrevivência. 
Enquanto instituição, a família pode ser entendida como um conjunto de 
normas e regras, historicamente constituídas, que governam as relações de sangue, 
adoção, aliança, e determinam a filiação, os limites do parentesco, da herança e do 
casamento. O conjunto de regras e normas está contido nos costumes e na 
legislação, apresentadas no Código Civil. 
A família também pode ser entendida como um conjunto de valores 
determinados como ideologia, estereótipos, preceitos, representações sobre o que 
ela deve ser. Ao longo da história no mundo ocidental, as teorias de como a família 
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deve ser couberam inicialmente à igreja, em seguida ao Estado, e, finalmente, à 
própria ciência. Estas entidades organizaram várias regras e recomendações de 
como deveria ser o comportamento das pessoas. Atualmente são os meios de 
comunicação que divulgam e “ditam” novas ideias, orientações e estudos 
comportamentais relativos à família e seus membros. 
A família proporciona o marco adequado para a definição e conservação das 
diferenças humanas, dando forma objetiva aos papéis distintos, mas mutuamente 
vinculados, do pai, da mãe e dos filhos, que constituem os papéis básicos em todas 
as culturas. (PICHON-RIVIÉRE, apud OSÓRIO, 1996, p.15). 
Muitas são as conjecturas formuladas sobre família, algumas se caracterizam 
pelas funções biológicas, outras, pelas funções psicossociais, apontando o início às 
questões concernentes aos laços consanguíneos, ou seja, aos papéis maternos e 
paternos como estruturadores do grupo familiar. Dizer que família é a unidade 
básica da interação social talvez seja a forma mais genérica e sintética de defini-la. 
Em todos os conceitos apresentados é comum observarmos que a família 
apresenta-se como uma estrutura social, uma construção humana que se consolida, 
transformando-se conforme a influência do meio social, sendo, portanto, 
historicamente construída. 
Assim sendo, é importante ressaltar que a estrutura familiar varia conforme os 
momentos históricos, fatores sócio-políticos, econômicos, religiosos e culturais, 
estando o conceito de família associado ao contexto social no qual está inserido, ou 
seja, precisamos, antes de qualquer ação, definir de que família estamos falando, a 
época em que ela vive e a qual segmento pertence. 
 
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FUNÇÕES E PAPÉIS DA FAMÍLIA 
A família funciona como agente educador. Exerce a função socializadora na 
transmissão da herança cultural e social durante os primeiros anos de vida da 
criança. É a família que repassa os usos da linguagem, costumes, valores e 
crenças, preparando a criança para o ingresso na sociedade. 
É no seio da família que o homem aprende as virtudes sociais, como amor, 
fraternidade e obediência, qualidades requeridas para que se enquadre no meio. 
No que concerne às atribuições que lhe são conferidas, Marconi e Presotto 
(1989, p. 106) consideram que 
As funções básicas da família podem ser desempenhadas de váriasmaneiras, dentro dos mais diversos sistemas culturais, tentando moldar as 
personalidades individuais. Como agente educador, a família pode combinar duas 
funções especificas: Socializadora – na medida em que transmite a herança cultural 
e Social, durante os primeiros anos de vida: linguagem, usos, costumes, valores, 
crenças (processo de endoculturação), preparando a criança para o seu ingresso na 
sociedade. Social – quando proporciona a conquista de diferentes status como 
étnico, o nacional, o religioso, o residencial, o de classe, o político e o educacional. 
 
Papéis Familiares 
 Os papéis familiares diferem conforme a composição familiar, confundindo-se 
devido à realidade da estrutura familiar. Para exemplificar, em um casal sem filhos 
os papéis familiares seriam tão somente os de marido e mulher. Já na família 
Nuclear seriam as de mãe-pai-irmãos e filhos. Na família extensa, há necessidade 
de incluir o papel dos avós, tios e demais agregados que dividem o mesmo teto. 
deve-se citar ainda, , na atualidade, as uniões entre pessoas do mesmo sexo. 
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 Na visão contemporânea, houve uma transformação desses papéis, e, em 
alguns casos, uma inversão. Tenha o casal filhos ou não, atribuir à mulher o papel 
de zelar pelo lar e do homem como provedor do sustento da família, seria um 
processo ultrapassado e não condizente com a realidade. O papel conjugal baseia-
se na interdependência das partes do casal, pautado na essência da sobrevivência 
das pessoas. São os atos de complementaridade, cooperação, reciprocidade e 
compartilhamento de tarefas e sentimentos que delimitam o papel conjugal, seja 
entre acordos verbais ou não. 
 
Papel Parental 
 
 O papel feminino apesar das diversas transformações ainda mantém uma das 
principais funções: o de gerar a vida. Porém, quanto às tarefas nutriciais, proteção e 
educação muito houve de absorção do papel paternal e pela pessoa remunerada 
para, na ausência da mãe, desempenhar o papel materno. 
 
Papel Fraterno 
 
O papel fraterno alterna entre dois comportamentos opostos: a rivalidade e a 
solidariedade. Por vezes o papel fraterno está deslocado para a relação entre 
marido e mulher ou entre filho e um dos progenitores. 
O papel fraterno reproduz fora do contexto familiar na relação entre sócios, 
colegas e amigos, assim como os papeis parental e filial terão sua representação 
social em relações tais como a dos chefes e seus subordinados, professores e 
alunos, médicos e pacientes e outras tantas mais. 
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Papel filial 
 O foco central do papel filial situa-se na subordinação do recém-nascido que 
depende dos cuidados dos pais para sobreviver. Salienta-se que há casos em que 
estas funções não são desempenhadas por papéis parentais. Os papéis, portanto, 
não são competências exclusivas do indivíduo a que normalmente se atribui. 
 As funções da família podem ser divididas em biológicas, psicológicas e 
sociais. Apesar dessa divisão, não há como estudá-la separadamente. 
 A função biológica da família é de garantir a sobrevivência da espécie com 
cuidados dispensados aos recém-nascidos. As funções psicossociais são essência, 
já que o alimento afetivo é o que faz o desenvolvimento do indivíduo psiquicamente 
saudável. São estas funções que, quando bem desempenhadas darão 
sustentabilidade e apoio aos indivíduos nos momentos de crise e anseios humanos. 
Quanto às funções sociais, não só podemos inferir a transmissão das questões 
culturais, como também a preparação para o exercício da cidadania. 
 Assim, podemos dizer que, se os pais influenciam o comportamento do filho, 
este também interfere nas atitudes dos pais. Esse processo é chamado de 
retroalimentação. 
 
NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO 
 
Em se tratando da natureza jurídica, diversas são as opiniões doutrinárias. 
Basicamente, três são as correntes que defendem a natureza jurídica do casamento: 
a institucional, a contratual e a mista. Assim sendo, com relação ao casamento, o 
Direito Canônico o tem por sacramento e também por contrato natural, que decorre 
da própria natureza humana, sendo algo intrínseco. Seria a concepção clássica. 
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Vale ressaltar que é bem verdade que a união entre o homem e a mulher preexiste à 
juridicidade deste vínculo. Para esta corrente, o elo é indissolúvel. 
O casamento de Direito Civil, quando surgiu, passou a sustentar o caráter 
contratualista da relação matrimonial, isso por envolver interesses de ordem 
patrimoniais em seu bojo, gerando obrigações e deveres para ambos os cônjuges, 
manifestos por uma manifestação da vontade de ambos de contraírem para si tais 
responsabilidades mútuas. 
A corrente majoritária, também tida por eclética ou mista, defende que o 
casamento tem natureza jurídica mista, por abranger ambos os aspectos defendidos 
pelas correntes supramencionadas, tais como direitos e deveres, bem como a 
affectio maritalis, interesses morais e pessoais, mais elevados do que os contidos 
em qualquer simples contrato. Une, portanto, o elemento volitivo ao elemento 
institucional, tornando-o um ato complexo. Seria, por essa razão, um contrato sim, 
mas um contrato especialíssimo. 
É importante lembrar, ademais, que o casamento difere dos contratos lato 
sensu em sua constituição, tanto ao modo de ser, quanto ao alcance de seus 
efeitos, bem como à sua durabilidade. 
O casamento estabelece um elo jurídico entre homem e mulher e, assim, a 
Lei estabelece finalidades e também diversos deveres e direitos que advém deste 
vínculo. É o casamento o negócio jurídico que confere o condão de família legítima 
aos contraentes. 
É ato pessoal e solene, quanto a isso não há o que se discutir. Como já se 
viu, é pessoal no sentido de que importa aos nubentes manifestarem sua vontade 
quanto ao casamento. Nesses termos, estabelece o Código Civil, em seu artigo 
1.514, in verbis: “O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher 
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manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz 
os declara casados”. 
Quanto a ser solene, há doutrinadores, a exemplo de Venosa, que acreditam 
ser o casamento, um dos atos mais solenes do Direito Brasileiro, bem como nas 
demais legislações. Com relação às solenidades, elas têm início com os editais, 
desdobrando-se na cerimônia de realização e consolida-se com o registro público. 
Tendo sido feitas tais considerações históricas, conceituais e de natureza 
jurídica, serão suscitadas as considerações fundamentais para compreensão do 
tema ora proposto. 
 
CONSIDERAÇÕES FUNDAMENTAIS SOBRE O CASAMENTO 
 
Nesta subseção, importante é que se façam algumas considerações 
reputadas por fundamentais no sentido de pontuar as especificidades do instituto do 
Casamento, para que se possa distingui-lo das demais entidades familiares que aqui 
hão de ser tratadas. 
A priori, cumpre-se definir quem é o cônjuge. Para tanto, recorrendo ao 
Dicionário Aurélio, (1989, p. 455) a fimde se buscar efetivamente uma definição que 
atenda a esta necessidade de conceituação e satisfaça a qualquer pessoa que por 
ela busque, tem-se: “cada uma das pessoas ligadas pelo casamento em relação à 
outra”. É neste conceito, que embora sucinto e desprovido de juridicidade, que 
reside a maior diferenciação dos cônjuges em relação aos demais entes das 
relações familiares. Cônjuge necessariamente é aquele que está vinculado a outrem 
pelos laços do casamento, e somente estes são assim considerados. 
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O casamento tem início com a celebração. Por sua vez, implica em adoção de 
regime de bens entre os cônjuges, sendo que, aos que não o fizerem explicitamente, 
presumir-se-á, segundo reza o Código Civil de 2002, em seu art. 1640, a adoção do 
Regime da Comunhão Parcial de Bens que tutelará a situação patrimonial entre 
ambos. 
Os regimes de bens poderão ser: Comunhão Universal de Bens; Comunhão 
Parcial de Bens; Separação de Bens, que se subdivide em Separação Convencional 
e Separação Obrigatória de Bens e, finalmente, a forma introduzida pela Lei Civil 
vigente, o Regime de Separação Final dos Aquestos. 
No campo das Sucessões, o cônjuge, com advento do Código Civil vigente, 
fora erigido à condição de herdeiro necessário na Ordem de Vocação Hereditária, 
tendo salvaguardada a sua legítima, conforme versam os artigos 1845 (“São 
herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.”) e 1846 
(“Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da 
herança, constituindo a legítima.”). Tal situação não se verifica, por exemplo, com 
relação ao convivente, tendo sido conferida tão somente ao cônjuge. 
Não obstante o dever de fidelidade, já ressaltado, é possível que se verifique 
a coexistência da situação de cônjuge com a do convivente ou companheiro, que 
seria o status de quem vive em união estável. Tal ocorrência fática pode ser 
verificada quando a dissolução do casamento não se deu por qualquer de suas vias 
legais e os cônjuges encontram-se separados de fato apenas. A referida situação 
não é impedimento à constituição da união estável e não se confunde com o que se 
tem por concubinato. Portanto, é possível que coexistam o cônjuge e o convivente, 
ambos ligados a uma mesma pessoa. 
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https://jus.com.br/tudo/uniao-estavel
 
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A título meramente exemplificativo, pode-se ilustrar a afirmação feita acima da 
seguinte forma: João é casado com Maria. Após anos de casamento, ambos se 
separam. Entretanto, não o fazem judicialmente. Desta feita, o vínculo subsiste 
formalmente, ainda que os ex-cônjuges não mais convivam maritalmente. Tendo 
passado algum tempo após a separação, João passa a conviver com Nora 
publicamente e de forma contínua com animus de com ela constituir uma relação 
duradoura. Porém, a situação com Maria permanece como estava à época da 
separação, ou seja, estão separados, mas apenas faticamente, não tendo sido 
tomadas quaisquer providências judiciais. Nesse caso prático e bastante comum, 
João, para efeitos legais, continua casado com Maria, embora viva em união estável 
com Nora. Dessa forma, com relação a João, Maria continua sendo casada e Nora é 
companheira. 
Observação importante a se fazer concerne à proibição contida no artigo 
1521, VI, do Novo Código Civil, que expressamente impede pessoa casada de se 
casar novamente. Assim, o separado de fato, ainda que nesta situação há 20, 30 
anos, não poderá casar-se de novo. Mas, reiterando o que já fora dito, quanto à 
constituição de união estável, não há obstáculos. 
Tendo sido feitos tais apontamentos acerca do casamento, ainda no âmbito 
das relações tuteladas pelo Direito de Família, passar-se-á a tratar da União Estável, 
de forma a traçar sua evolução histórica, bem como trazendo conceituações e 
principais repercussões. 
 
DA UNIÃO ESTÁVEL 
 
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 Evolução histórica da união estável 
 
Em se tratando do instituto da União estável, importante é que se trace a sua 
evolução ao longo da história, marcada por tantos avanços e também pelas 
inovações que foram sendo agregadas a cada passo dado, tanto no campo 
constitucional quanto no campo das legislações infraconstitucionais. 
No âmbito do Código Civil de 1916 e de acordo com o ideal social e moral da 
época, considerou-se como família apenas aquela resultante do casamento, sem 
dispensar o diploma qualquer atenção à união informal entre o homem e a mulher. 
Nesse contexto, cita Venosa (2003, p. 35) que: “O legislador do Código Civil 
de 1916 ignorou a família ilegítima, fazendo apenas raras menções ao então 
chamado concubinato unicamente no propósito de proteger a família legítima, nunca 
reconhecendo direitos à união de fato”. 
Renomado doutrinador argumenta ainda que fora a sociedade que, em 
determinado momento histórico, instituíra o casamento como regra de conduta, 
fazendo surgir a problemática da união conjugal sem casamento. (VENOSA, 2003, 
p. 49) 
 Como consequência dos reclamos sociais e da própria posição que passou a 
ser adotada pelos tribunais em defesa dos direitos dos companheiros, além de um 
ou outro aspecto em que o legislador se ocupou do assunto, viu-se o constituinte 
obrigado a declarar o que a realidade lhe apresentava, nisso inserida a existência de 
relações informais entre o homem e a mulher, ao que se reconheceu como entidade 
familiar. 
Assim, na trilha das mutantes concepções sociais que se delineiam ao longo 
da história da sociedade, aqui tratada a sociedade brasileira, aquilo que em certa 
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época era tido por moralmente inadequado passa a assumir moldura diversa, por 
conta das alterações dos costumes, verdadeira fonte do Direito, o que conduziu à 
revisão na forma como os fatos eram percebidos. 
Foi a Constituição Federal de 1988 que erigiu a união informal entre homem e 
mulher ao status de entidade familiar. Dispõe o art. 226, § 3º, da CRFB/88, in verbis: 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
(...) 
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre 
o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão 
em casamento. 
A união estável passou a ser modalidade de entidade familiar, de forma que o 
Estado passou a proteger relacionamentos outros além dos constituídos pelo 
casamento. Nesse sentido, leciona Rodrigues (2002, p. 284): “Assim, a família 
nascida fora do casamento, sempre que derive da união estável entre o homem e a 
mulher, ganha o novo status dentro do nosso direito”. 
Corrobora com o entendimento desse doutrinador Maria Berenice Dias (2007, 
p. 138): “A sacralização do casamento faz parecer que seja essa a única forma de 
constituir a família. Mas é à família, e não ao casamento, que a Constituição chama 
de base da sociedade, merecedora da especial atenção do Estado (CF227)”. 
Ainda nesse contexto, e pela mesma doutrinadora, tem-se a seguinte lição: 
A Constituição, ao garantirespecial proteção à família, citou algumas 
entidades familiares, as mais frequentes, mas não as desigualou. Limitou-se a 
elencá-las, não lhes dispensando tratamento diferenciado. O fato de mencionar 
primeiro o casamento, depois a união estável e, por último, a família monoparental 
não significa qualquer preferência nem revela escala de prioridade entre eles. Ainda 
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que a união estável não se confunda com o casamento, ocorreu a equiparação das 
entidades familiares, sendo todas merecedoras da mesma proteção. (DIAS, 2007, p. 
156-7). 
Entretanto, há outros doutrinadores, a exemplo de José Carlos Barbosa 
Moreira, que, contrariamente a esta posição, refutam a ideia de equiparação. Neste 
sentido: 
Não ocorreu, porém, equiparação entre os dois institutos, ao contrário do que 
se apressaram a sustentar alguns: a família resultante da união estável coexiste com 
a fundada no casamento, mas aquela não se identifica com este. Tanto assim, que, 
segundo o texto constitucional, a lei deve facilitar a conversão da união estável em 
casamento - o que não teria sentido se uma e outro já estivessem igualados. 
(MOREIRA, 2003, p. 7) 
Feitas tais considerações, entre os que defendem a equiparação dos 
institutos e os que rejeitam tal argumento, fato é que as leis 8.971/94 e 9278/96 
vieram regulamentar tal disposição constitucional. Após a edição desta Constituição 
Federal de 1988, a família foi pluralizada e assumiu diferentes feições, sendo o 
casamento e a união estável, dentre outras, espécies de entidade familiar. Então, 
atualmente o casamento não é mais única forma de constituição de família. O 
número de casais que optam por viverem juntos sem que para isso o façam 
mediante o casamento é enorme. 
Esta realidade remonta muitas décadas, não é fato novo. Homem e mulher 
unem-se em afeto mútuo a fim de constituírem para si uma família. 
Vê-se que a questão do afeto, princípio geral das relações familiares, 
amplamente defendido hoje no contexto na principiologia do Direito de Família, 
constitui-se mola propulsora que, agregada a outros valores, fez com que o 
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Legislador passasse a conferir respaldo jurídico às uniões que assim se formassem. 
Nesse sentido, alude Dias (2007, p. 155): “Não há lei, nem de Deus nem dos 
homens, que proíba o ser humano de buscar a felicidade”. 
Na cadeia histórica evolutiva, por fim, o Código Civil de 2002 trouxe consigo 
dispositivos que reproduzem a espírito do legislador constituinte, dispositivos estes 
que visam a regular a entidade familiar sem matrimônio. 
 
Conceito de união estável 
 
A exemplo do que ocorre quanto a conceituar o casamento, a conceituação 
da união estável não é tarefa fácil. Constitui-se conceito bastante amplo e variável 
na doutrina. A priori, é importante que se diga que, embora tais institutos encontrem 
entre si similaridades, os mesmos não se confundem, caso contrário não haveria a 
prerrogativa de conversão da união estável em casamento. 
Ainda segundo bem ressalta Diniz (2007, p. 354), ao perder o status de 
sociedade de fato e ganhar o de entidade familiar, a união estável não pode ser 
confundida com a união livre, pois nestas duas pessoas de sexos diferentes, além 
de não optarem pelo casamento, não têm qualquer intentio de constituir família. 
Partindo-se dessas premissas, tendo-se em conta o que fora exposto, far-se-á 
uma tentativa de conceituação elencando quais os pressupostos essenciais para a 
configuração e reconhecimento de união estável, de modo que, em vez de 
conceituá-la se possa compreendê-la. 
E é sob a égide desses pressupostos que enuncia o art. 1723, caput, do 
Código Civil: “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem 
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e a mulher, configurada na convivência pública contínua e duradoura e estabelecida 
com o objetivo de constituir família”. 
Reproduzindo o já citado dispositivo constitucional: “Para efeito de proteção 
do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade 
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. (CF, 226, § 3°). 
Considerando-se a questão do afeto, de que já se tratou anteriormente, 
encerra Dias (2007, p. 161): “Preocupa-se o legislador em identificar a relação pela 
presença de elementos de ordem objetiva, ainda que o essencial seja a existência 
de vínculo de afetividade, ou seja, o desejo de constituir família”. 
Sabe-se que a união estável é relação íntima e informal, pautada pelas bases 
do afeto mútuo, marcada pelo convívio duradouro, contínuo, com intuito de constituir 
família. É da essência não só do casamento, mas também da união estável, que 
haja fidelidade, isto é, que haja estabilidade e comprometimento material e imaterial 
entre os conviventes e conforme se vê do dispositivo constitucional, que possa ser 
convertida em casamento, não restando assim, qualquer impedimento para isto. 
Corroborando o preceito constitucional, prescreve o art. 1723, §1°, in fine, do Código 
Civil: “... não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se 
achar separada de fato ou judicialmente”. 
Tendo em vista esse artigo, a doutrinadora Diniz (2007, p. 365) conclui que: 
"Consequentemente a união estável pode configurar-se mesmo que: a) um dos seus 
membros ainda seja casado, desde que antes de iniciar o companheirismo estivesse 
já separado de fato ou judicialmente do cônjuge". Destarte, reitera-se aqui a 
afirmação já feita anteriormente com relação à coexistência do casamento não 
dissolvido formalmente e a configuração de união estável concomitantemente. 
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De forma idêntica ao que ocorre com relação ao casamento, a união estável 
pressupõe essencialmente diversidade de sexo. Portanto, a união de pessoas do 
mesmo sexo, chamadas uniões homo afetivas, não são consideradas união estável 
para efeitos da Lei. Com relação ao fato de viverem sob o mesmo teto, o que se 
teria por coabitação, a lei não impõe que os conviventes estejam sob o mesmo teto. 
Tal entendimento é ratificado pela doutrina de Venosa (2003, p. 50), que assim 
comenta: “Na união estável existe a convivência do homem e da mulher sob o 
mesmo teto ou não, mas more uxório, isto é, convívio como se marido e esposa 
fossem”. 
Vê-se que é prescindível o elemento da coabitação, mas, de modo distinto, é 
imprescindível a notoriedade da relação. É em consonância à afirmação em pauta 
que proclama a Súmula 382 do STF: “A vida em comum sob o mesmo teto, more 
uxório, não é indispensável à caracterização do concubinato”. Vale lembrar que a 
expressão “concubinato”, utilizada à época da edição da referida Súmula, era o 
termo usual para designar a situação dos que hoje se têm por companheiros. 
Finalmente, a exemplo do que se fez com relação ao cônjuge, cumpre 
determinar quem é o companheiro. No entanto, vale mencionar que a nomenclatura 
utilizada em referência àqueles que se unem sem vínculo matrimonial é diversa, 
dentre as quais as maisutilizadas são companheiros e conviventes. Assim, 
companheiro (a) é a designação que se dá ao homem (ou à mulher unida a um 
homem) unido por longo e contínuo tempo a uma mulher, como se seu esposo 
fosse, refletindo a intenção de constituir com ela uma família. 
 
Natureza jurídica da união estável 
 
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Para se estabelecer um paralelo e a efetiva diferenciação entre os institutos 
de Direito de Família até aqui tratados, importante é a lição de Venosa (2003, p. 50), 
segundo o qual “A união estável é um fato jurídico, qual seja, um fato jurídico que 
gera efeitos jurídicos. ” 
Dessa afirmativa é que se pode abstrair preciosa lição concernente aos 
institutos do casamento e da união estável. Enquanto o casamento constitui-se fato 
social e negócio jurídico, por sua vez precedido por formalismos e concretizado 
solenemente, passando a ser regido por um contrato, a união estável, embora gere 
efeitos jurídicos, é apenas fato jurídico, não lhe restando a obrigatoriedade de 
celebração para que passe a viger no mundo jurídico, nem que se estabeleça 
contrato entre as partes conviventes. A união estável não se estabelece por um ato 
jurídico único, como ocorre no casamento. Forma-se com o tempo. 
Portanto, a união estável é fato jurídico, gravado de efeitos que repercutem no 
universo jurídico. Ainda na lição de Venosa, é um fato do homem que, gerando 
efeitos jurídicos, torna-se um fato jurídico. Ressalte-se, entretanto, que tais efeitos, 
por sua vez, são similares aos gerados pelo matrimônio. No mesmo sentido pontua 
Gonçalves (2008, p. 554) citando Álvaro Villaça Azevedo: 
Realmente como um fato social, a união estável é tão exposta ao público 
como o casamento, em que os companheiros são conhecidos, no local em que 
vivem, nos meios sociais, principalmente de sua comunidade, junto aos 
fornecedores de produtos e serviços, apresentando-se enfim, como se casados 
fossem. 
Ainda no campo dos efeitos, mister se faz mencionar que o art. 1724 da Lex 
Civile regula as relações pessoais entre os companheiros, declarando assim: “As 
relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, 
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respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.”. Conclui-se que 
a união estável também gera deveres e que os deveres dos companheiros são 
praticamente idênticos aos deveres dos casados. 
Pode-se dizer que, embora não haja obrigatoriedade de celebração de 
contrato para que seja reconhecida união de fato entre um homem e uma mulher, o 
Código Civil manteve a possibilidade, prevista anteriormente no art. 5º da Lei 
9278/96, de os companheiros celebrarem contrato escrito que venha dispor sobre o 
regime de bens que prevalecerá entre eles, já que a Lei Civil, no art. 1725, enunciou 
que “Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às 
relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens”. 
Desse modo, caso queiram adotar outras disposições quanto aos reflexos da 
relação por eles constituída, haverá a possibilidade de se estabelecerem novas 
regras mediante contrato escrito. 
 
CONCUBINATO 
 
“A união prolongada entre o homem e a mulher, sem casamento, foi 
chamada, durante longo período histórico, de concubinato. ” (GONÇALVES, 2008, p. 
539). Em razão disso, os conceitos de união estável e concubinato se confundiam. 
Por esse motivo, às vezes se lê “concubinato” quando o tema, em boa verdade, 
refere-se a uma “união estável”. Entretanto, ao longo da história do Direito de 
Família, tornou-se imprescindível, pois, cuidar da adequada definição acerca do 
exato alcance terminológico dessas palavras e expressões, com efeito definir o que 
vinha a ser concubinato e o que vinha a ser união estável. 
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https://jus.com.br/tudo/uniao-estavel
 
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O grande passo, nesse sentido, foi dado pela Constituição Federal de 1988, 
no artigo 226, § 3º, conforme já se viu transcrito anteriormente, estabelecendo, a 
partir de sua edição e promulgação, que a relação familiar nascida fora do 
casamento passou a denominar-se união estável. 
Muitos autores, a exemplo de Gonçalves, utilizavam-se do concubinato de 
forma subdividida, considerando-o “puro” quando se referisse à convivência 
duradoura, como marido e mulher, sem impedimentos decorrentes de outra união, o 
que passou a ser considerado como união estável, e “impuro” aquele que se 
referisse a pessoas casadas, infringindo o dever de fidelidade, também conhecido 
como concubinato adulterino ou incestuoso, mantido de forma velada, paralelo ao 
casamento, do conhecimento apenas das partes envolvidas. 
Nesse ínterim, aproveita-se para delimitar a expressão “concubinato” 
conforme hoje se opera estritamente ao que diz respeito a relacionamentos 
amorosos, envolvendo pessoas casadas que infringem o dever de fidelidade e que, 
por já serem casadas, estão impedidas de se casar, conforme estabelecido pelo art. 
1727 do Código Civil, que assim reza: “As relações não eventuais entre homem e 
mulher, impedidos de casar, constituem concubinato. ”. 
Com relação a este último ponto, que se encontra destacado da leitura do 
artigo acima transcrito (art. 1727/CC), Gonçalves ainda aponta para o que 
considerou impropriedade da expressão utilizada, em função do que: 
[...] deve-se entender que nem todos os impedidos de casar são concubinos, 
pois o § 1º do art. 1723 trata como união estável a convivência pública e duradoura 
entre pessoas separadas de fato e que mantém o vínculo do casamento, não sendo 
separadas de direito. (GONÇALVES, 2008, p. 543). 
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Em suma, por meio de tais regramentos, instituiu-se nítida diferenciação entre 
concubinato e união estável. Reforçando esses apontamentos, comenta Venosa 
(2003, p. 49) que “... contemplada a terminologia união estável e companheiros na 
legislação mais recente, a nova legislação colocou os termos concubinato e 
concubinos na posição de uniões de segunda classe, ou aquelas para as quais há 
impedimento para o casamento. ” O (a) concubino (a) é o (a) amante! 
Para os fins desse instrumento, necessárias eram tais considerações para 
corroborar que nem legislação, jurisprudência ou doutrina têm por entidade familiar 
aquela fundada sob o concubinato. Se esse cuidado não fosse tomado, isto é, se 
não restasse bem definida a distinção entre esses institutos, então não seria 
possível entender porque alguns julgados dizem que a concubina tem alguns direitos 
e outros dizem que ela não tem aqueles mesmos direitos. E, nesse caso, não se 
cuida de mera divergência jurisprudencial. Cuida-se de soluções tomadas com base 
em instituto cujo conceito foi sendo gradativamente modificado. 
Assim, a distinção, como se vê, revela-se fundamental para que se possa 
decidir sobre a eventual existência de direitos decorrentes de uma e outra situação. 
Distinguindo o (a) concubino (a) do (a) companheiro (a), não há que se falar 
sob enfoques legais na esfera do Direito deFamília de direitos concernente aos 
concubinos, mas poderão ser conferidos, entretanto, na esfera obrigacional, pelo 
que alguns tribunais têm entendido por dever de solidariedade entre parceiros. 
 
A UNIÃO HOMOAFETIVA 
 
 Breve histórico da homoafetividade 
 
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Neste tópico, serão apresentadas algumas questões históricas sobre a união 
homo afetiva as quais merecem ser pontuadas a fim de se compreender uma 
trajetória que culmina nos dias de hoje. 
Etimologicamente, a palavra homossexualidade é um termo híbrido, pois é 
formada pela união dos radicais: grego e latino, sendo respectivamente homos 
(igual) + sexus (sexo) cujo significado é atração sexual por pessoa do mesmo sexo. 
Segundo Costa (1992:11) a palavra homossexualidade adquiriu sentido 
pejorativo ao longo do tempo, pois se relacionava à doença ou desvio. Ao ser 
concebida como doença, a homossexualidade foi inserida no rol de doenças 
médicas e, posteriormente, foi excluída da lista pela Organização Mundial de Saúde 
(OMS). Atualmente, a homossexualidade não é vista como doença ou distúrbio, pois 
se trata de uma forma natural de expressão da sexualidade. 
Costa (1992) sugere o termo homo erotismo por descrever os desejos dos 
homoeróticos em sua pluralidade. Na mesma linha de pensamento, Dias (2007:1) 
afirma que o exercício da sexualidade não distingue vínculos afetivos. Para ela “a 
identidade ou diversidade do sexo do par gera espécies diversas de 
relacionamento”. Nessa perspectiva a autora destaca as relações homo afetivas ou 
heteroafetivas e não relações homossexuais ou heterossexuais. 
Em relação às origens históricas da união homo afetiva, é importante ressaltar 
que as crenças de uma sociedade variam conforme a época. A respeito disso, 
Nunan (2003:24) citada por Pedro (2006:15) afirma: “[Não é correto] acreditar que os 
gregos antigos ou povos de outras sociedades (...) partilham de nossas convicções 
morais, científicas, religiosas e estéticas sobre o que é sexo (...) São realidades 
sócio históricas completamente diferentes da nossa”. 
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Rodrigues (2004) lembra que a prática homossexual já existia entre os 
primatas do mesmo gênero, assim como nas civilizações antigas, casos verificados 
na Grécia por meio da mitologia em particular e na cultura grega da época. Os 
gregos acreditavam que os jovens, após doze anos, só absorveriam as virtudes de 
um bom cidadão se mantivessem relações sexuais com os mais velhos. Dessa 
forma, as relações entre pessoas do mesmo sexo tinham caráter pedagógico. 
Segundo Rodrigues (2004) havia, no Império Romano, inúmeros casos de 
homossexualidade, envolvendo tanto imperadores quanto cidadãos comuns. Dentre 
os imperadores, podemos mencionar: Júlio César, Tibério, Calígula, Nero, Adriano, 
dentre outros. 
Percebe-se, assim, que a união entre pessoas do mesmo sexo era tratada 
com naturalidade. Todavia, após um período cristão, passou-se a reprimir tais 
uniões. 
Ainda segundo Rodrigues (2004), na Idade Média, período de soberania da fé 
cristã, foi instituída pelo Papa Gregório IX a Inquisição, que reprimia os 
homossexuais por meio de castigos e até mesmo pela morte. 
Com o surgimento do Renascimento, novos ideais emergem e assim a 
repressão aos homossexuais decai. Entretanto, mesmo sendo contrário a vários 
preceitos do Catolicismo Romano, o Protestantismo, no século XVI, manteve a 
doutrina de que o adultério e as relações homossexuais eram atividades 
pecaminosas. 
Muitos fiéis da Igreja Católica nessa época emigram para o Protestantismo. 
Assim, para não perder os fiéis, a Igreja Católica envia missionários a terras 
distantes com o objetivo de catequizar novos povos. A catequese implicava difundir 
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os “ensinamentos” da inquisição como, por exemplo, a proibição de práticas 
homoeróticas. 
Avançando um pouco mais no percurso histórico, é importante lembrar o 
confronto entre homossexuais e policiais ocorrido em 1969 em Nova Iorque. Esse 
conflito representou um marco do movimento gay. 
Mott (2003) verifica a importância do jornal O Lampião, o primeiro jornal gay 
do país, ao influenciar o movimento homossexual no Brasil. A partir desse 
movimento surgem grupos de defesa dos direitos dos homossexuais, tais como o 
Grupo Somos em São Paulo na década de 70, o Grupo Gay da Bahia em 1980, a 
Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis em 1995. 
Em setembro de 2003, o Congresso Nacional aprova o Dia Nacional do 
Orgulho Gay e da Consciência Homossexual. Tal fato levou às ruas mais de um 
milhão de pessoas em São Paulo. 
Assim, muitos adeptos assumem a condição homossexual observadas nas 
Paradas Gays. Outro fato importante foi o lançamento pelo Governo Brasileiro do 
programa de promoção da cidadania homossexual a fim de “proporcionar o 
desenvolvimento de políticas públicas para gays, lésbicas e transgêneros, no campo 
de combate à violência e à discriminação” (PEDRO, 2006:11). 
A partir do percurso histórico, percebe-se que houve uma naturalização das 
uniões homo afetivas e também estigmas criados pela sociedade. Diante desse 
cenário, as uniões homo afetivas merecem proteção do Estado, pois representam 
um modo de amar e de afetividade. 
No próximo tópico será abordada a contradição existente entre a ausência de 
lei e sua aplicação em casos concretos pelo judiciário referentes às uniões homo 
afetivas. 
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 Do “armário” para o campo jurídico 
 
Apesar da aparente mudança de mentalidade percebida em nossa sociedade, 
não há ainda regulamentação específica no ordenamento jurídico em relação às 
uniões homo afetivas. Todavia, Dias (2015:271) defende que não há impedimento 
para o casamento entre dois homens ou duas mulheres uma vez que há ausências 
de referência no ordenamento jurídico à diversidade de sexo do par. Segundo a 
autora (2015): 
Quase intuitivamente se reconhece como família exclusivamente a relação 
interpessoal entre um homem e uma mulher constituída pelos sagrados laços do 
matrimônio. É tão arraigada essa ideia que o legislador, quando trata do casamento 
não se refere se seguem a diversidade de sexo do par. Assim, na ausência de 
vedação constitucional ou legal, não há impedimento ao casamento homossexual. 
Não existir a lei não significa que não haja direito. A omissão do legislador 
não quer dizer que são relações que não merecem a tutela jurídica. Neste sentido, 
cabe ao Judiciário proferir decisões que conferem ou não direitos às relações homo 
afetivas. 
Em suma, apesar do englobamento do conceito de família trazido pela CR/88, 
em seu artigo 226, ainda não há no Brasil uma legislação específica para tratar das 
uniões homo afetivas, como também não há leis que as proíbam, o que demonstra 
um Estado conservador em suas práticas. Diante da inércia do legislativo em criar 
leis voltadas para as uniões homo afetivas, cabe ao Poder Judiciário preencher os 
vazios existentes na legislação e decidir a partir de casos concretos apresentadospela jurisprudência. 
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Assim dispõe o artigo 4º da LINDB: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o 
caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.” Da 
mesma forma aponta o artigo 140 do NCPC: “O juiz não se exime de decidir sob a 
alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico”. 
Com efeito, ao juiz é vedado desobrigar-se da prestação jurisdicional sob o 
argumento de ausência de lei. 
 
O reconhecimento da união homo afetiva no direito brasileiro 
 
Atualmente, há muitas questões em torno da união homo afetiva passíveis de 
suscitar o interesse pelo debate entre o meio jurídico, relacionando o tema a uma 
prática social que carece de regulamentações no domínio jurídico. Segundo Dias 
(2015:28), “a ausência de leis não significa ausência de direito. O juiz tem que julgar. 
Precisa encontrar uma resposta dentro do sistema jurídico obedecendo os 
parâmetros constitucionais que veda qualquer discriminação”. 
Nesse sentido, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) expediu a resolução 
175/2013 proibindo que qualquer autoridade recuse acesso ao casamento e à 
conversão da união estável em casamento entre pessoas do mesmo sexo. 
Ainda que o legislador tenha sido omisso quanto ao tratamento dado às 
uniões homo afetivas, não há possibilidade de deixá-las fora do atual conceito de 
família. Se duas pessoas têm vínculo afetivo, relação duradoura, pública e contínua, 
como se casados fossem, “formam um núcleo familiar à semelhança do casamento, 
independentemente do sexo a que pertencem”. (Dias, 2015:273) 
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A autora lembra que a única diferença entre a união estável entre homem e 
mulher e a união homo afetiva é a possibilidade de gerar filhos. Entretanto, tal 
diferença não serve de fundamento para surtir efeitos. 
Em sentido diverso, Farias e Rosenvald (2008:394-395) apontam que: 
Uniões homo afetivas, embora não reconhecidas como união estável, devem 
ser tuteladas como entidades familiares autônomas, protegidas no direito de família. 
O que não se pode tolerar é o seu tratamento como meras sociedades de fato, 
repercutindo apenas, no âmbito das relações obrigacionais (...) 
Diniz (2009:376-377) assevera que a união estável não se aplica à relação 
entre pessoas do mesmo sexo, pois para a autora as relações homo afetivas 
configuram sociedade de fato. 
Na mesma linha de raciocínio, Gonçalves (2010:592) aduz que a união entre 
pessoas do mesmo sexo não configura uma entidade familiar. 
Embora haja divergência na doutrina quanto ao afastamento ou aproximação 
da união homo afetiva à união estável, o Direito reconhece em âmbito administrativo 
alguns direitos concebidos, como os elencados por Dias (2015): pensão por morte, 
auxílio reclusão, pagamento de seguro DPVAT, expedição de visto de permanência 
para parceiro estrangeiro, inclusão do parceiro como dependente do IRRF e soma 
do rendimento do casal para concessão de financiamento imobiliário. 
Neste ínterim, segundo preceito estabelecido por Dias (2001), famílias homo 
afetivas encontram respaldo no fato de que “o afeto é o elemento norteador de toda 
e qualquer relação familiar, especialmente as formadas por pessoas do mesmo 
sexo”. 
Ao se levar uma demanda aos Tribunais no Brasil cuja questão envolva a 
união homo afetiva é estar em um circulo perverso: não há uma lei, logo o juiz não 
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pode se eximir de julgar sob a alegação de não haver lei. Dessa forma, Tal 
denegação afronta os direitos fundamentais. O juiz deve, portanto, buscar 
fundamentação jurídica que visa proteger a família homo afetiva para assegurar o 
direito à liberdade e à igualdade, assim como a dignidade da pessoa humana e a 
vedação ao preconceito. 
Sabendo-se que a sociedade não é homogênea, pelo contrário, está em 
constante transformação, o direito não pode ficar a mercê de convicções e 
preconceitos de seus legisladores para que aprovem ou revoguem leis, mas, 
sobretudo, o direito deve acompanhar o momento social, como ativismos sociais e 
judiciais. 
 
 Progressos legais e jurisprudenciais 
 
Dias (2015:275) aponta diversos avanços jurisprudenciais em relação às 
uniões homo afetivas. Em 1999, a competência dos juizados especializados, em 
casos de união homo afetiva, saiu das Varas Cíveis e foi para as Varas de Família. 
Em 2001, ocorre o reconhecimento da união de pessoas do mesmo sexo 
como entidade familiar na Justiça do Rio Grande do Sul, tendo sido deferido o direito 
de herança ao parceiro. 
Em 2006, por decisão unânime, o TJRS] deferiu “a parceira homossexual a 
adoção dos filhos que haviam sido adotados pela companheira” (2015:275). 
Dessa maneira, a jurisprudência estabelece condutas de caráter geral. O Juiz, 
ao julgar um caso concreto, funciona como agente transformador da sociedade. 
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Maluf (2016:425-430) faz um apanhado das Propostas de Emendas à 
Constituição (PEC’s) e Projetos de Lei (PL) encaminhados de 1995 a 2013 com 
intuito de garantir os direitos das pessoas do mesmo sexo. 
Em 1995, a Deputada Marta Suplicy (PT/SP) encaminha a PEC/139 com o 
objetivo de regulamentar as relações entre pessoas do mesmo sexo por meio da 
alteração dos artigos 3º e 7º da CR/88, regulamentando a união civil de pessoas do 
mesmo sexo. 
O Projeto de Lei 1151/95 da Deputada Marta Suplicy visava disciplinar “a 
união civil entre pessoas do mesmo sexo”. Objetivava-se principalmente, a garantia 
dos direitos fundamentais e patrimoniais às pessoas do mesmo sexo, não tendo, 
entretanto, o intuito de equiparar a união homo afetiva ao casamento. Em 1997, 
esse Projeto foi substituído pelo PL 1151A de autoria de Roberto Jefferson, que 
pretendia algumas mudanças no projeto original, como alteração da união civil para 
parceria civil. Ressalte-se que esses projetos, após anos de tramitação, ainda não 
foram apreciados (MALUF, 2016). 
Em 2001, O Projeto de Lei 5222, também de autoria de Roberto Jefferson, 
pretende destituir expressamente a orientação sexual como elemento de cunho 
discriminatório, podendo o estabelecimento de um pacto entre pessoas do mesmo 
sexo ou de sexo diferente. Segundo Maluf (2016) o Projeto de Lei ainda não foi 
incluído na pauta de votação, pois a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil 
(CNBB) se opôs ao Projeto. 
O Projeto de Lei 2285/2007 do Deputado Sergio Barradas Carneiro (PT/BA) 
denominado Estatuto das Famílias, contempla a proteção de diversas entidades 
familiares na contemporaneidade. Interessante notar que o Estatuto sintetiza regras 
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do casamento, da união estável, da união homo afetiva – atribuindo-se, assim, a 
todas as entidades familiares a mesma dignidade. 
O Projeto de Lei 4914/2009 do Deputado José Genuino (PT/SP) sobre união

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