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Família como realização discursiva

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aRtigo
* Este artigo é uma tradução do 
original, que pode ser visto em: 
Martins, P. P. S., McNamee, 
S., & Guanaes-Lorenzi, C. 
(2014). Family as a discursive 
achievement: A relational 
account, Marriage & Family 
Review, 50(7), 621-637. doi: 
10.1080/01494929.2014.938290 
http://www.tandfonline.com/
doi/abs/10.1080/01494929.201
4.938290
Pedro PAblo sAmPAIo 
mArtIns
Psicólogo. Mestre e 
Doutorando no Programa de 
Pós-Graduação em Psicologia.
FFCLRP-USP, Ribeirão Preto, 
São Paulo, Brasil.
Contato: 
pedropablomartins@gmail.com
sheIlA mcnAmee
Docente do Departamento de 
Comunicação da University of 
New Hampshire, EUA.
Fundadora e vice-presidente 
do Taos Institute.
Contato: 
sheila.mcnamee@unh.edu
cArlA gUAnAes-
lorenzI
Docente do Departamento de 
Psicologia da FFCLRP-USP. 
Ribeirão Preto, São Paulo, 
Brasil.
Coordenadora do LAPEPG-USP 
(Laboratório de Pesquisa e 
Estudos em Práticas Grupais).
Contato: 
carlaguanaes@gmail.com
Recebido em: 02/04/2015
Aprovado em: 03/06/2015
Família Como Realização DisCuRsiva: 
uma expliCação RelaCional
FAMILy AS A DISCURSIVE ACHIEVEMENT: A RELATIONAL ACCOUNT
Apoio: FAPESP. Processo número: 2011/02365-0
Resumo: Partindo de um entendimento de fa-
mília como construção social, este artigo sugere 
que as pessoas ativamente produzem sentidos 
sobre família no intercâmbio social. A ideia é que 
família pode ser concebida como uma realização 
discursiva: Família é definida em termos do que as 
pessoas, utilizando-se de diferentes discursos so-
cialmente produzidos disponíveis, descrevem jun-
tas como sendo família. Propomos que diferentes 
realidades sobre família são criadas por meio de 
processos de negociação de sentidos no momen-
to interativo. Portanto, há muitas versões diferen-
tes de família e cada uma delas tem implicações 
diversas para o mundo social. Exemplos dessas 
implicações para as teorias psicológicas, pesquisa 
e terapia familiar são apresentados, considerando 
como podem ser úteis para o campo da psicologia.
palavRas-Chave: família, relações familiares, 
terapia familiar, teoria psicológica, construcionis-
mo social.
abstRaCt: Beginning with an understanding of 
family as a social construction, this article sug-
gests that people actively make meanings about 
family during social interchanges. The idea is that 
family can be conceived as a discursive achieve-
ment: Family is defined in terms of what people 
who are drawing on various available socially pro-
duced discourses describe together as family. We 
propose that different realities regarding family are 
created via social processes of negotiating mea-
ning in the interactive moment. Therefore, there 
are many different versions of family, and each of 
them has diverse implications for the social world. 
Examples of these implications for psychological 
theories, research, and family therapy are also 
presented, in considering how they might be use-
ful in the field of psychology.
KeywoRDs: family, family relations, family thera-
py, psychological theory, social constructionism.
O que é família? Ela já foi chamada de instituição, o primeiro lugar de cuidado 
e o verdadeiro valor de ser humano. A família já foi descrita de várias maneiras: 
como sendo a conexão entre indivíduos e sociedade, um lugar confortável para se 
estar no mundo e uma produtora de psiques únicas. Também já foi dito que as fa-
mílias são um lugar de relações de gênero desiguais; um grupo de pessoas do qual 
espera-se que o indivíduo se diferencie; e uma hierarquia a ser respeitada. Muitas 
descrições a respeito da definição de família foram oferecidas nos últimos séculos. 
De fato, ficamos tão acostumados a estas concepções de família em nossas vidas 
que pode parecer difícil – senão impossível – questionar a existência de uma es-
sência de família no mundo. A Psicologia interessou-se especialmente pelo assun-
to desde os anos de 1950, quando a família, em si mesma, tornou-se um objeto de 
análise. Curiosamente, apesar de muitas diferentes versões de família terem sido 
articuladas, as teorias psicológicas tradicionalmente conceberam-na como uma 
realidade e, portanto, discutiram este conceito como um fato objetificado (veja, 
por exemplo, Ackerman, 1958).
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Entretanto, em forte contraste com 
este tipo de tratamento, o campo dos 
Estudos de Família já reconhece e tem 
interesse há muito tempo na constru-
ção social da família. Há pelo menos 
quatro décadas, diferentes perspecti-
vas como a interacionista simbólica 
(Hess & Handel, 1959), a fenomeno-
lógica (McLain & Weigert, 1979), a 
feminista (Lloyd, Few & Allen, 2009) 
e a teorização pós-moderna (Doherty, 
1999) têm sido influentes no campo. 
Em várias publicações, pesquisado-
res e teóricos articularam sobre os 
processos sociais a partir dos quais 
os indivíduos determinam seus rela-
cionamentos familiares uns com os 
outros (por exemplo, Carsten, 1999; 
Gubrium & Holstein, 1990; Stacey, 
1990), e diferentes conceitos como 
o parentesco “fictício” ou escolhido, 
por exemplo, emergiram para suplan-
tar o presumido “fato” biológico dos 
laços familiares (Chatters, Taylor & 
Jayakody, 1994; Stack, 1974). Na mes-
ma linha, desconfortos a respeito de 
versões essencialistas de família tam-
bém começaram a surgir no campo 
da Psicologia (por exemplo, Ander-
son & Goolishian, 1988; Silverstein & 
Auerbach, 1999).
Sabemos que já houve muitos es-
forços influentes e bem-sucedidos 
nos dois campos – Estudos de Famí-
lia e Psicologia – no sentido de supe-
rar versões simplistas, naturalizadas e 
essencialistas do conceito de família. 
Também notamos que estudos sobre 
o tema geralmente focaram na discus-
são sobre o conceito de família e suas 
implicações para práticas sociais, tais 
como terapia familiar, políticas de fa-
mília ou adoção, por exemplo. Nós ad-
miramos tais esforços e muito do nosso 
argumento aqui segue suas realizações 
e preocupações com os efeitos prag-
máticos de nossas formas acadêmicas 
de descrever família. Entretanto, nes-
te artigo, queremos responder a uma 
questão específica: como as pessoas de 
fato fazem uso de diferentes discursos 
sociais sobre família em suas vidas co-
tidianas? Parece-nos muito raro que 
as pessoas explicitamente recorram a 
conceitos acadêmicos institucionali-
zados ao engajarem-se com seus pares 
em conversas do dia a dia. Pelo con-
trário, no fluxo da vida cotidiana, as 
pessoas parecem encontrar formas de 
entender família utilizando um tipo 
muito diferente de linguagem daquele 
da academia. Mas, exatamente, como 
isso acontece? Será que podemos pro-
duzir uma explicação teórica para o 
tipo de processo que ocorre quando as 
pessoas conversam sobre suas ativida-
des comuns e naturalizadas?
Considerando estas perguntas, o 
presente artigo tem como objetivo 
elaborar uma opção discursiva para 
entender a maneira como a ideia de 
família se torna possível nas conversas 
conjuntas das pessoas. Para isto, con-
sideramos as contribuições do movi-
mento construcionista social em psi-
cologia (Gergen, 1997; Shotter, 2008), 
que desafiou conceitos e práticas tra-
dicionais no campo. As ideias cons-
trucionistas convidam profissionais e 
acadêmicos a focar nos diferentes rela-
cionamentos em que primeiro nos en-
gajamos e a partir dos quais extraímos 
os sensos de realidade com os quais vi-
vemos. A construção social está inte-
ressada em explorar as maneiras como 
as pessoas constroem conjuntamente 
os termos a partir dos quais entendem 
o mundo. O foco está nas interações, 
situadas em contextos culturais especí-
ficos. Assim, o sentido é negociado em 
cada momento interativo que, por sua 
vez, está sempre relacionado a discur-
sos sociais mais amplos disponíveis na 
cultura. Como observa Gergen (1997), 
o conhecimento é criado por meio de 
práticas compartilhadas.
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realização discursiva: 
Uma explicação relacionalPedro Pablo Sampaio Martins 
Sheila McNamee 
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O argumento central desse artigo 
parte do entendimento de que conhe-
cimento é um produto de negociação. 
Se diferentes realidades são construí-
das nas negociações locais das pessoas, 
então as formas específicas utilizadas 
para descrever o mundo são resulta-
do desses processos sociais. Palavras e 
ações ganham sentido via negociação 
e, assim, tornam-se “sensíveis” dentro 
de diferentes realidades construídas 
discursivamente. Como, então, pode-
mos entender o conceito de família no 
contexto dessas ideias? Comecemos 
mantendo em mente a ideia de que, a 
partir de uma perspectiva construcio-
nista social, família pode ser descrita 
como uma realização discursiva – fa-
mília é definida em termos do que as 
pessoas, que estão utilizando de varia-
dos discursos socialmente produzidos 
disponíveis, descrevem juntas como 
família no contexto de suas interações.
Vamos construir os entendimentos 
teóricos e pragmáticos sobre os quais 
nosso argumento a respeito da família 
se sustenta. O filósofo Ludwig Witt-
genstein (1953) nota que nossa parti-
cipação em jogos de linguagem, isto é, 
nossas formas culturais e naturaliza-
das de interação, cria formas de vida 
específicas. Por exemplo, há jogos de 
linguagem particulares que são consi-
derados apropriados para uma intera-
ção de vendas, e outros que são consti-
tutivos de um relacionamento íntimo. 
Nossas formas de conversar e agir 
juntos literalmente criam uma “forma 
de ser” no mundo (ou uma forma de 
vida). Wittgenstein chama nossa aten-
ção a uma observação de que criamos 
realidades ao persistentemente con-
versar e agir de certas maneiras. Pode-
riam as noções de jogos de linguagem 
e formas de vida serem úteis ao ex-
plorarmos o que constitui uma famí-
lia? Que tipos de jogos de linguagem 
criam o que viemos a conhecer como 
família? O que aceitamos como a reali-
dade da família atualmente? Mais im-
portante, há uma realidade de família?
dIscUrsos domInAntes e 
PrÁtIcAs sItUAdAs
Uma breve verificação na vida social 
nos mostra a importância do concei-
to de família em como organizamos 
nossas vidas. De acordo com o nosso 
conceito culturalmente sustentado de 
família, pensamos na primeira inser-
ção das pessoas no mundo por meio 
de suas famílias. Utilizamos sobreno-
mes familiares para conectar indiví-
duos uns aos outros e essas relações 
familiares mediam nossas conversas 
com outras pessoas. Temos regula-
mentações que dão conta da família 
como instituição e sustentamos um 
conceito a respeito da maneira como 
a herança deve, por direito, fluir para 
os familiares. Além disso, tratamen-
tos acadêmicos, tais como os enten-
dimentos psicológicos, sociológicos e 
antropológicos de família, continuam 
a examinar como a família molda um 
indivíduo, uma sociedade e uma cul-
tura. Se decidirmos aprofundar nossa 
busca, inevitavelmente nos daremos 
conta de que a ideia de família sustenta 
tantas práticas sociais que a vida seria 
quase ininteligível sem ela. Em resumo 
– pegando emprestada a formulação 
de Hacking (1999) – a ideia de família 
é atualmente naturalizada.
Assim, começamos a nos perguntar 
sobre as implicações destas observa-
ções. Primeiro, poderíamos ser leva-
dos a pensar que, se a família é sim-
plesmente um aspecto natural e óbvio 
do mundo social, então o que nós fa-
zemos nas famílias tem poucos efeitos 
sobre essa realidade. Em outras pala-
vras: “A família é o que é; é assim que 
as coisas são”. Entretanto, exploremos 
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o que é este entendimento “natural”, 
ou naturalizado. O discurso dominan-
te sobre família no Ocidente descreve 
um homem e uma mulher adultos, 
engajados em um casal heterossexual, 
vivendo na mesma casa que seus fi-
lhos biológicos. Entretanto, considere 
a reflexão de Gergen e Davis (1997): 
“Como pode um único modelo de 
família adequadamente servir a uma 
sociedade diversa e heterogênea?” (p. 
8). Nós acreditamos que, no mundo 
complexo de hoje, vale a pena des-
construir a ideia de família como uma 
descrição inquestionada, unificada e 
historicamente universal. Felizmente, 
voltando aos nossos comentários so-
bre os Estudos de Família, vimos que 
este campo já estabeleceu as bases para 
o entendimento da família como uma 
construção social, o que nos permite 
engajar-nos em investigações sobre 
diferentes entendimentos de “família”. 
Acreditamos que vale bastante a pena 
explorar como famílias e familiares, 
comunidades e culturas, assim como 
períodos históricos, constroem o que 
conta como família.
VArIAção cUltUrAl de “FAmílIA”
Exploremos as contribuições de es-
tudos feministas e antropológicos 
que nos mostram que os sentidos de 
“família” variam dramaticamente en-
tre grupos culturais. A partir de uma 
perspectiva construcionista, devemos 
considerar este tipo de análise como 
uma crítica ideológica (Gergen, 1997), 
porque entendemos que algumas ma-
neiras de descrever família criam for-
mas de vida que servem a certos inte-
resses, como dominação de gênero, de 
geração, de raça ou de classe.
Retomando mais de duas décadas de 
pensamento feminista, Thorne (1992) 
identificou cinco tendências centrais 
ao que ela chama de “abordagem crí-
tica à família”. A primeira destas ten-
dências argumenta que ocorreu uma 
transformação de um entendimento 
de “família” como uma unidade natu-
ral arraigada em processos biológicos 
para um entendimento no qual família 
é definida como um produto histórica 
e ideologicamente situado. A segun-
da tendência enfatiza as estruturas de 
gênero, geração, sexualidade, raça e 
classe que facilitaram a emergência do 
conceito de família geralmente susten-
tado na sociedade ocidental. A terceira 
refere-se a uma rejeição da noção de 
família como uma unidade autoconti-
da, autônoma e isolada da sociedade; e 
a quarta tendência redefine as respon-
sabilidades de cuidado em termos de 
uma crítica às oposições entre família 
e comunidade e entre grupos públicos 
e privados. Na última tendência, a di-
versidade de experiências que as pes-
soas têm com a família é reconhecida e 
apreciada. Esta tendência é apresenta-
da em oposição à ideia tradicional de 
que a família é sempre um lugar segu-
ro e protegido (para ensaios relaciona-
dos a todos esses temas, veja Thorne 
& Yalom, 1992). Assim, de acordo com 
Thorne (1992), a família está vivendo 
um período de rápida mudança, no 
qual a complexidade de suas configu-
rações, a partir de uma perspectiva vi-
sionária, pela primeira vez na história, 
pode ter uma chance de uma ordem de 
gênero e parentesco verdadeiramente 
democrática.
Uma antropóloga feminista bra-
sileira, Fonseca (2007), aponta que a 
família tem um valor importante para 
muitos indivíduos. Entretanto, somos 
lembrados que usar “família” como 
um termo analítico cria certos tipos 
de risco, na medida em que a ciência 
é colocada a favor de verdades conser-
vadoras. Nesse sentido, “... a família 
passa a ser analisada como uma no-
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ção política e científica historicamente 
situada” (p. 26). Assim, podemos ver 
que as feministas trazem uma postura 
crítica aos estudos de família e privi-
legiam seu entendimento através das 
lentes de processos históricos e sociais.
Estudos em comunidades indígenas 
apresentados por Carsten (2000) nos 
ajudam a ampliar esse entendimento. 
Eles foram conduzidos com o objetivo 
de comparar culturas de conectivida-
de. A autora explica que escolhe utili-
zar o conceito de conectividade, ao in-
vés de “parentesco” porque este último 
carrega uma série de pressuposições. 
Ao discutirconectividade, ela procura 
entender os efeitos que “estar conecta-
do” cria para certas pessoas e favorece 
um entendimento de que este fenôme-
no pode ser determinado de maneiras 
culturais bastante específicas, para 
além da noção de ancestralidade. Por 
exemplo, dependendo da comunidade 
em observação, vários componentes de 
conectividade, tais como sangue, sê-
men, leite materno, alimentação con-
junta e, até mesmo, o engajamento em 
atividades cotidianas compartilhadas 
são determinantes para a criação dos 
tipos de relacionamentos profundos e 
duradouros tipicamente associados ao 
parentesco e à família.
Entretanto, estas diferenças não 
aparecem apenas no contexto da ava-
liação entre diferentes sociedades. 
Consideremos a maneira como a res-
posta à pergunta “o que é uma famí-
lia?” tem variado amplamente com o 
tempo no contexto cultural específico 
do Brasil. Vaitsman (1995) traça o mo-
delo prevalente da família brasileira de 
classe média a um processo histórico 
marcado tanto pela divisão de gêne-
ro, quanto por uma separação entre 
os domínios públicos e privados, que 
mantiveram as mulheres confinadas 
à área doméstica da vida familiar por 
várias décadas. De acordo com sua 
explicação, mudanças no contexto so-
cial ocorridas durante o período pós-
-moderno e o avanço das mulheres 
até o ponto de superarem as divisões 
claras entre os domínios público e pri-
vado desafiaram o modelo patriarcal 
de família e prepararam o terreno para 
uma variedade de arranjos familiares. 
Assim, a heterogeneidade foi legiti-
mada como culturalmente dominante 
e a família tornou-se plástica e flexí-
vel; aspectos familiares anteriormente 
considerados desviantes podem agora 
existir ao lado de uma variedade de ca-
racterísticas.
De acordo com Watarai e Roma-
nellli (2009), podem ser traçadas asso-
ciações entre a ampliação de arranjos 
familiares e uma série de mudanças 
sociais, particularmente a inclusão 
das mulheres na força de trabalho, 
que permitiu a elas uma crescente au-
tonomia com relação aos homens. Os 
autores afirmam, então, que vários 
modelos de família estão atualmente 
no processo de tornarem-se aceitos e 
serem considerados válidos. A partir 
de uma perspectiva construcionista 
social, a linguagem é vista como per-
formática. Isso significa que descrever 
as coisas não é um processo passivo 
e representativo, mas, ao invés disso, 
uma ação ativa no mundo. Portan-
to, estas variadas formas de família 
podem ilustrar “múltiplas definições 
mutantes” do conceito de família e 
sustentam a ideia de que “a noção do 
que é uma família continua a mudar 
drasticamente para incluir uma rica 
e cada vez maior variedade de uni-
dades familiares” (Anderson, 1997, p. 
81). Então, não é apenas o fato de as 
unidades ou organizações familiares 
previamente existentes simplesmen-
te passarem a ser reconhecidas como 
famílias a partir de um determinado 
ponto. De fato, o próprio processo de 
definir família de uma ou outra ma-
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neira, para então reconhecer arranjos 
familiares específicos como se ajustan-
do à definição, dá a alguns destes ar-
ranjos o status pragmático de família, 
ao mesmo tempo em que exclui outras 
organizações. Essa explicação só pode 
fazer sentido se pensarmos a partir de 
uma perspectiva situada de o que conta 
como família, para quem, em que mo-
mento e a partir de quais padrões?
Por exemplo, um Projeto de Lei bas-
tante controverso conhecido como o 
“Estatuto da Família” está atualmente 
em discussão no Congresso Nacional 
Brasileiro. De acordo com esse projeto, 
“a entidade familiar” deve ser definida 
como “o núcleo social formado a par-
tir da união de um homem e uma mu-
lher, por meio do casamento ou união 
estável, ou ainda por comunidade for-
mada por qualquer dos pais e seus des-
cendentes”*. Se um projeto retrógrado 
como este for aprovado, definir família 
desta forma significaria que, pelos pa-
drões dos direitos legais para o gover-
no brasileiro naquele momento, mui-
tos arranjos familiares sequer seriam 
considerados “família” em primeiro 
lugar. Isto teria efeitos reais e sérios 
para as vidas de milhões de pessoas 
que de fato chamam a si mesmas de 
“famílias” a partir de definições dife-
rentes daquelas propostas pela lei. Este 
argumento deverá ficar mais claro ao 
desenvolvermos nossa proposta neste 
artigo. Por ora, entretanto, enfatize-
mos que entender a família como uma 
construção social reconhece-a como 
um produto emergente de processos 
sociais, históricos e culturais em cons-
tante progresso. Essa definição tam-
bém destaca as várias maneiras possí-
veis de se descrever família.
Considere: se, de fato, há algo que 
se parece com uma realidade absoluta 
da família – ao contrário de uma no-
ção de sua construção social – então 
alguns elementos essenciais, estáveis e 
imutáveis devem existir e podem ser 
usados para determinar o que cons-
titui uma família. Contudo, podemos 
rapidamente ver que a família não foi 
sempre vista e entendida da mesma 
maneira que hoje. De fato, notamos 
distinções culturais em nossos enten-
dimentos sobre o que é uma família; 
ela não é a mesma ao redor do mundo. 
Quando nos damos conta dos proces-
sos sociais envolvidos na construção e 
na substância das realidades que habi-
tamos, nos preocupamos com as con-
sequências de aceitar nossos conceitos 
atuais de família sem questioná-los. 
Como, então, uma explicação cons-
trucionista social pode nos ajudar a 
lidar com estas questões? Por quais 
meios várias realidades de família são 
criadas?
constrUIndo reAlIdAdes em 
Processos mIcrossocIAIs
Vários entendimentos a respeito do 
conceito de família surgem a partir 
de diferentes perspectivas. Na acade-
mia, o campo da terapia familiar tem 
se interessado especificamente pelo as-
sunto. No início, terapeutas familiares 
começaram trabalhando com famílias 
a partir de um enquadre teórico psi-
canalítico que deu atenção especial às 
interações entre membros da família e 
suas personalidades (Scharff & Schar-
ff, 2003). Contudo, nos anos 1950, 
inspirados pelo trabalho pioneiro de 
Gregory Bateson e seus colegas Paul 
Watzlawick, Don Jackson, Janet Beavin 
e outros, a abordagem psicanalítica da 
família deu espaço para uma aborda-
gem sistemicamente orientada. Em seu 
trabalho inovador sobre esquizofrenia, 
Bateson e seus colaboradores introdu-
ziram o que, à época, foi uma aborda-
gem radical ao estudo da patologia. Ao 
invés de focar nas relações psicanalíti-
* Projeto de Lei tramitando 
no Congresso Nacional, 
disponível em http://
www.camara.gov.br/
proposicoesWeb/prop_mostra
rintegra?codteor=1159761&fil
ename=PL+6583/2013, acesso 
em 22 de maio de 2014.
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Família como 
realização discursiva: 
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cas entre membros da família, o foco 
mudou para os padrões de comunica-
ção dentro das famílias (veja Jackson, 
1968a; 1968b). Aproximadamente 
cinquenta anos mais tarde, olhando 
para trás, podemos ver atualmente que 
mesmo essa abordagem sistêmica radi-
cal ainda utilizava conceitos situados 
de alguma forma em uma ideologia 
individualista, porque eles tendiam a 
observar a dinâmica dos sistemas fa-
miliares como sendo composta por 
partes individuais inter-relacionadas, 
mas ainda separadas. Entretanto, de-
vemos admitir que este foi o início de 
um novo entendimento empolgante do 
que significa ser família.
A abordagem sistêmica, tão popular 
nos anos 1960 e 1970, deu espaço para 
o que é conhecido como uma aborda-
gem cibernética de segunda ordem nos 
anos 1980 (veja Maturana & Varela, 
1992; von Foerster, 1981). Aqui, proxi-
mamente alinhado com nosso próprio 
argumento, o “observador” (terapeuta 
ou outro profissional) era reconhecido 
como participandoda construção da 
família, por meio de suas perguntas, 
comentários e interações com a mes-
ma. Esses terapeutas/profissionais co-
meçaram a questionar a possibilidade 
de conhecimento objetivo sobre o sis-
tema familiar, argumentando que não 
parecia possível fazer uma distinção 
entre o observador e o observado (Be-
cvar, 2003). Ao focalizar em processos 
de comunicação, tanto a teoria dos sis-
temas quanto a cibernética de segunda 
ordem transformaram nossos enten-
dimentos do mundo social, deixando 
de entender que ele existe e espera por 
ser descoberto, passando a entendê-lo 
como um produto de nossas intera-
ções uns com os outros – não apenas 
interações dentro da família, mas en-
tre família e profissionais/outros.
Enquanto essas ideias se desen-
volveram, ideias do construcionismo 
social estimularam uma transição em 
direção ao entendimento dos sistemas 
humanos como sistemas linguísticos a 
partir dos quais sentidos são constru-
ídos. Este entendimento tem conse-
quências importantes para a maneira 
como a família pode ser compreendi-
da (Anderson, 1997; Anderson e Go-
olishian, 1988). Em um exame retros-
pectivo, podemos ver uma progressão 
lógica de um movimento que se dis-
tanciava da visão da família como um 
conjunto de indivíduos (identifican-
do, assim, os membros individuais 
como a unidade de análise) em dire-
ção a uma visão da interação (proces-
sos e padrões de comunicação) como 
o foco analítico.
Uma vez que o interesse de uma 
postura construcionista está nos pro-
cessos de interação, nossa atenção 
deve ser direcionada ao que as pessoas 
fazem juntas em qualquer momento 
interativo. Ao focar processos intera-
cionais, as qualidades ou atributos dos 
indivíduos ficam em segundo plano e 
os processos de comunicação tornam-
-se centrais. Neste caso, a investigação 
necessariamente tem que ser sensível 
aos discursos culturais e históricos 
nos quais as pessoas se situam (Mc-
Namee, 2010), isto é, àquelas versões 
mais ou menos estáveis e prevalentes 
do que conta como família nos grupos 
e sociedades dos quais somos parte. 
Entretanto, quando pragmaticamente 
escolhemos focar nossa atenção em 
processos microssociais de interação, 
podemos também destacar as manei-
ras como as pessoas, em ação conjunta 
(Shotter, 2008), criam e manejam sen-
tidos sobre família em suas próprias 
atividades locais e cotidianas. Este tipo 
de abordagem coloca nossa atenção no 
uso da linguagem no cotidiano para a 
construção das versões de família que 
as pessoas utilizam para operar em 
suas vidas. Assim, chegamos à posi-
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ção de que a “família” é uma realização 
discursivamente produzida a partir de 
processos interacionais.
FAmílIA como reAlIzAção 
dIscUrsIVA
Consideremos um casal homossexual 
hipotético. Em uma decisão recente 
no Brasil, o Superior Tribunal Federal 
concedeu a homossexuais o direito le-
gal de casarem-se e, consequentemen-
te, adquirirem o status de entidade 
familiar. Entretanto, podemos facil-
mente entender que uniões estáveis 
entre parceiros homossexuais não são 
fato histórico recente. Isto coloca uma 
série de perguntas:
•	 antes da decisão do tribunal, se 
ambos os parceiros de um casal 
homossexual viviam juntos na 
mesma casa por dez anos, eles 
eram uma família?
•	 se o casal vivia junto na mesma 
casa por um ano? Eles eram uma 
família?
•	 Considere os parceiros de um ca-
sal homossexual que namoram 
há quinze anos, mas vivem em ca-
sas separadas. O que os definiria 
como compondo uma família? O 
que os excluiria de ser uma?
Como discutimos anteriormente, 
a noção do que conta como uma fa-
mília pode ser vista como construída 
socialmente, ao invés de uma entida-
de existente em si mesma e natural 
no mundo. Entretanto, se a família é 
socialmente construída, então como é 
possível vermos, observarmos e, mais 
importante, vivermos a experiência da 
família como uma entidade ou objeto 
existente no mundo? Em uma tenta-
tiva de responder a esta pergunta, va-
mos recorrer à noção construcionista 
de produção de sentidos. Aqui, encon-
tramos um foco em práticas de lingua-
gem, ou seja, o que as pessoas fazem 
e o que este fazer produz. Novamente, 
somos lembrados do foco construcio-
nista em processos interativos, e não 
em entidades ou objetos. No discurso 
dominante de hoje (Moderno), a famí-
lia é uma entidade inquestionada – um 
objeto natural no mundo que, ainda 
que possivelmente variante, espera 
para ser estudado e descrito como real-
mente é. Contudo, para o construcio-
nista, o intercâmbio social é um espa-
ço privilegiado onde os participantes 
negociam a ordem social. Esta ordem, 
é claro, inclui a família.
A teoria relacional do significado 
(Gergen, 1997) afirma que o sentido 
é uma realização conjunta surgida das 
interações situadas onde os participan-
tes coordenam suas ações. Isto está em 
contraste direto com o entendimento 
mais tradicional sobre o sentido como 
localizado dentro da mente individu-
al e transmitido para um interlocutor 
por meio de uma linguagem passiva 
representativa. A fala de uma pessoa 
não tem sentido em si mesma; ao in-
vés disso, a construção do sentido de 
fato se inicia com as ações suplemen-
tares tomadas por um interlocutor em 
potencial (isto é, quando ele responde 
de uma forma específica). Ao fazê-lo, 
a responsabilidade por qualquer sen-
tido que emerge não é de nenhum dos 
participantes isolados. O sentido está 
nos processos de relacionamento en-
tre as pessoas; não dentro da cabeça. 
Cada movimento em uma conversa, 
ao mesmo tempo, abre possibilidades 
para a produção de um novo sentido 
e restringe outras. No desenrolar de 
cada ação no processo de se relacio-
nar, o sentido continua “a caminho”. 
Isto é, o sentido nunca está finalizado 
(Frank, 2005); ele sempre está aberto a 
mais suplementação. “Os sentidos es-
tão sujeitos à contínua reconstituição 
por meio do domínio expansivo da 
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Família como 
realização discursiva: 
Uma explicação relacional
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suplementação” (Gergen, 1997, p. 267) 
e são, portanto, realizações temporá-
rias situadas em momentos interativos 
particulares. Shotter (2008) também 
descreve como os sentidos podem 
ser alcançados das formas mais im-
previsíveis e não-intencionais na ação 
conjunta entre os interlocutores; con-
versas corporificadas tornam possível 
a produção de conhecimento sobre o 
mundo e sobre nós mesmos.
Devemos manter em mente que não 
há “o início” de uma interação: sempre 
estamos situados em um fluxo conver-
sacional mais amplo e imersos em uma 
série de relacionamentos diversos. A 
implicação para a nossa situação neste 
contexto é que entendimentos local-
mente construídos não são, de nenhu-
ma maneira, separados de discursos 
sociais mais amplos. Assim, a partir 
da teoria relacional do significado, po-
demos entender que estamos sempre 
imersos no universo da produção de 
sentido. Então, toda vez que tentamos 
definir família, estamos recorrendo a 
vocabulários socialmente produzidos, 
situados em tempos históricos espe-
cíficos e que nos permitem produzir 
versões do que uma família pode ser. 
Assim, tentar chegar a uma definição 
verdadeira do que a família essencial-
mente é torna-se uma tarefa fútil sem 
fim possível neste contexto.
A esta altura, nos afastamos da per-
gunta inicial sobre o que essencialmen-
te constitui uma família, aproximan-
do-nos de uma pergunta diferente, 
qual seja, a pergunta de quais versões 
de família se tornam possíveis em cada 
conversa específica, relacionalmente 
contextualizada. Isto nos leva de volta 
ao nosso argumento inicial: família é o 
que as pessoas descrevem juntas como 
família. Entender família como uma 
realização discursiva é dar-se conta de 
que os contornos e limitesdo que conta 
ou não como um aspecto definidor da 
família são construídos como conhe-
cimento válido no processo de nego-
ciação de sentido que ocorre durante 
conversas, enquanto as pessoas fazem 
uso de diferentes discursos sociais so-
bre família em seu cotidiano. Portanto, 
o conhecimento que surge durante a 
conversação confere o status de real às 
versões associadas de família que são 
construídas. Como Anderson (1997, p. 
80) colocaria: “A família é uma realida-
de baseada na comunicação”.
Podemos ilustrar este processo ao 
revisitar o exemplo anterior do casal 
homossexual. Suponhamos que désse-
mos a duas pessoas a tarefa de observar 
um casal homossexual em um ambien-
te público por aproximadamente uma 
hora, depois da qual elas terão que res-
ponder se as duas pessoas que observa-
ram são uma família. Presumindo que 
os observadores levem sua tarefa a sé-
rio, podemos facilmente imaginar que 
apenas a observação não é suficiente 
para resolver a questão, uma vez que 
os dois observadores devem chegar a 
uma resposta colaborativamente cons-
truída. No mínimo, eles precisariam de 
alguns minutos de conversa para deter-
minar os critérios que adotarão para 
responder à pergunta. Estes critérios 
não apenas devem satisfazer aos ob-
servadores e serem válidos para tomar 
uma decisão justa, mas também devem 
ser convincentes para as pessoas sen-
do observadas e para outras pessoas 
externas em potencial, incluindo a nós 
mesmos, como aqueles que fizeram a 
pergunta. Como os observadores po-
deriam chegar a uma resposta?
Como podemos ilustrar com este 
exemplo, qualquer resposta possível 
para esta pergunta aparentemente sim-
ples deveria ser negociada e construí-
da na conversa entre as duas pessoas a 
quem o desafio foi colocado. É em seu 
processo conversacional que elas po-
dem chegar a uma série de critérios que 
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descrevem o que uma família é, e que 
lhes permitirá decidir na sequência se 
aquele casal específico se enquadra na 
definição ou não. Assim, um conceito 
de família momentaneamente será al-
cançado durante a atividade discursiva 
e, então, sustentará uma resposta. É im-
portante enfatizar o argumento de que 
não há critérios objetivos em si mesmos 
sobre os quais uma resposta possa ser 
construída. Ao invés disso, a escolha de 
critérios é sempre uma decisão relativa 
específica a cada momento interativo 
de linguagem em uso. Isto não signifi-
ca sugerir que os discursos dominantes 
circulando em uma comunidade ou 
cultura não tenham bastante peso so-
bre a questão. Entretanto, para o cons-
trucionista, as formas naturalizadas de 
se falar sobre família apenas se mantêm 
inquestionadas e apenas ganham o sen-
so de “real” ou “verdadeiro” enquanto 
os participantes continuam a fazer uso 
delas. Engajar-nos em uma análise fou-
caultiana (1969) localiza nosso enten-
dimento de família em momentos his-
tóricos, culturais e locais específicos, 
e oferece meios pelos quais podemos 
começar a nos perguntar quais outros 
entendimentos de “família” podem ser 
possíveis em circunstâncias históricas, 
culturais e locais diferentes.
Três observações sobre este exem-
plo devem ser consideradas. Primei-
ro, trata-se apenas de um exemplo 
com a intenção de ilustrar os proces-
sos de produção de sentido a respeito 
da ideia de família. Em uma tentativa 
de tornar o processo claro, o exemplo 
descreve uma situação hipotética; o 
processo de produção de sentidos pro-
vavelmente não ocorreria de maneira 
tão explícita na vida real. Entretanto, 
a clareza de um exemplo simples nos 
permite prestar atenção a como cer-
tos recursos conversacionais são em-
pregados em momentos particulares 
na conversa (McNamee, 2004). Isto 
significa dizer que quaisquer sentidos 
sobre família alcançados durante uma 
dada conversa são realizações relacio-
nais socialmente circunscritas. Assim, 
determinar se um casal específico é ou 
não uma família (como fato dado) não 
cabe aos observadores, nem ao casal, 
nem a ninguém em específico. Ao in-
vés disso, o argumento é que qualquer 
resposta à pergunta “este casal é uma 
família?” é mais uma resposta, consis-
tente com alguma versão particular do 
que uma família pode ser. Obviamen-
te, não produzimos sentido no nada. 
Dependendo das posições sociais de 
onde diferentes indivíduos estão fa-
lando, dos contextos nos quais eles se 
encontram, das relações de poder das 
quais fazem parte e assim por diante, 
diferentes vozes podem ser mais fortes 
ou fracas, mais ou menos validadas por 
outros a respeito de certas questões e 
podem, portanto, criar descrições com 
mais potencial para serem comumente 
sustentadas do que outras.
Em segundo lugar, devemos prestar 
atenção à palavra “momentaneamente”, 
pois ela nos ajuda a lembrar que quais-
quer sentidos construídos entre os dois 
observadores em nosso exemplo são 
apenas válidos para o enquadre rela-
cional específico no qual eles se situam. 
Os sentidos construídos sobre família 
durante a tarefa estão sujeitos a trans-
formação como resultados de uma va-
riedade de diferenças contextuais. Por 
exemplo, fatores contextuais como se 
os observadores estão sendo assistidos 
ou não durante sua conversa, se eles 
acreditam que o casal saberá de sua 
resposta, se eles têm amigos ou familia-
res próximos que são homossexuais, se 
eles mesmos são homossexuais ou não, 
se são parceiros íntimos, etc., podem 
resultar em diferenças no processo de 
negociação e em seus resultados.
A terceira observação é pragmática. 
Considerar uma resposta como uma 
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realização momentânea de nenhuma 
forma a desvaloriza. De fato, as des-
crições relacionalmente produzidas 
pelos dois observadores terão impac-
tos diretos e específicos sobre as ações 
das pessoas que realizaram a tarefa de 
tomar uma decisão sobre o casal, as-
sim como as ações do próprio casal. 
Suponha que os observadores sejam 
os donos de uma loja na qual o casal 
fazia compras e que eles decidam que 
os dois membros do casal constituem 
uma família. Este casal pode ganhar 
o “desconto para famílias” oferecido 
pela loja naquela semana. Este efeito 
hipotético da produção de sentidos é 
apenas um efeito imediato e pequeno 
que afeta poucas pessoas. Entretanto, o 
mundo social é muito mais complexo 
do que tarefas com respostas de “sim 
ou não”. O que aconteceria, por exem-
plo, se os donos da loja decidissem que 
o casal era de fato uma família, mas 
depois o casal dissesse a eles que não 
se consideram uma? Quão mais com-
plexo poderia se tornar o processo de 
negociação de sentido ao expandir-
mos o domínio da suplementação? 
Dando ainda mais um passo, e se con-
siderarmos o mesmo processo como 
ocorrendo durante o curso da vida co-
tidiana, no qual não apenas a bilhões 
de civis se oferece a mesma tarefa (ex-
plicitamente ou não), mas também a 
profissionais, organizações, governos 
e instituições? O que podemos tomar 
como as implicações de entender que 
a família está ativamente sendo produ-
zida durante nossas conversas?
lIngUAgem de FAmílIA em Uso: 
ImPlIcAções
Fica em aberto a tarefa de refletir so-
bre as implicações de descrever famí-
lia como uma realização discursiva. Se 
nosso argumento ficou claro, reconhe-
cemos que a descrição de família que 
resulta de defini-la como uma reali-
zação discursiva não é uma versão fi-
nalizada de família e suas implicações 
para o mundo social apenas podem 
ser conhecidas após estarem em movi-
mento em contextos relacionais locais, 
reais e específicos. Em outras palavras, 
nossa explicação permanece aberta à 
suplementação. Ainda assim, o exer-
cício reflexivo de considerar os efeitos 
de nossas descrições sobre o mundo é 
muitoimportante.
Do nosso ponto de vista, a principal 
implicação de adotar uma concepção 
discursiva de família é a possibilidade 
de manter uma postura aberta que nos 
permita entender as diferentes formas 
com que as pessoas descrevem suas 
conexões com outros e como esses re-
lacionamentos funcionam no contexto 
de suas realidades situadas. Nos pa-
rágrafos a seguir, discutimos algumas 
das formas de enxergar a ideia de fa-
mília como uma realização discursiva, 
acreditando que pode ser útil para o 
desenvolvimento de teorias psicológi-
cas de família, pesquisa e práticas de 
terapia familiar.
ImPlIcAções PArA teorIzAção
Sustentar todas as descrições de famí-
lia como conhecimento válido (devido 
a seu uso em comunidades) sugere 
uma mudança do entendimento de 
teorias psicológicas sobre família que, 
presume-se, retratam ou representam 
a essência do que família realmente 
é. De maneira alternativa, passamos 
a entender essas teorias como formas 
particulares de discutir e descrever fa-
mílias, desenvolvidas para atingir cer-
tos objetivos. Assim, teorias de família 
podem ser vistas como produtos de 
um fluxo conversacional acadêmico 
contínuo que, ao fazer afirmações so-
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bre família, também são responsáveis 
por criar diferentes realidades para ela. 
Isto, por sua vez, oferece um convite 
aos psicólogos para reconhecer, ques-
tionar e tornar suas premissas claras 
ao estudarem, teorizarem e escreve-
rem sobre família. Este convite tam-
bém encoraja psicólogos a ilumina-
rem tanto os processos por meio dos 
quais suas descrições e explicações se 
tornam possíveis, quanto as implica-
ções que estas teorias podem ter para 
o mundo social (Gergen, 1997). Mais 
ainda, esta explicação situa teorias de 
família como opções discursivas, no 
sentido em que se tona desnecessário 
escolher uma explicação única, fina-
lizada e última de família; ao invés 
disso, uma definição discursiva de 
família posiciona teorias psicológicas 
como “formas potencialmente viáveis 
e generativas de engajarmo-nos rela-
cionalmente uns com os outros, bem 
como com nossos clientes” (McNa-
mee, 2004, p. 236).
ImPlIcAções PArA A PesqUIsA
Podemos também imaginar as impli-
cações que este tipo de descrição tem 
para a pesquisa. Em um nível, pesqui-
sadores que compartilham a noção 
da família como uma realização dis-
cursiva são encorajados a refletir con-
tinuamente sobre as pressuposições 
que fazem sobre família e suas razões 
para tal. Os pesquisadores também re-
conhecerão que qualquer escolha em 
particular a respeito de uma forma 
específica de descrever família tem 
suas próprias implicações. Ao fazerem 
suas pesquisas, eles deveriam questio-
nar tanto quais tipos de família estão 
favorecendo, quanto quais tipos são 
deixados de fora ou não são escutados. 
As respostas a estas questões estão di-
retamente relacionadas aos tipos de 
ação social prováveis de serem facili-
tadas ou restringidas por qualquer co-
nhecimento que resulte de um estudo 
em particular (McNamee, 2010). Em 
outro nível, os pesquisadores tam-
bém são convidados a explorar mais 
profundamente as maneiras como as 
pessoas criam diferentes realidades a 
respeito da família ao trabalharem co-
operativamente para produzir sentido. 
Os pesquisadores podem querer en-
tender os tipos de recursos conversa-
cionais aos quais as pessoas recorrem 
ao serem convidadas a conversar sobre 
o assunto da família; eles podem estar 
interessados em situar a influência dos 
diferentes discursos sociais na cons-
trução de descrições locais de família; 
e eles podem tentar entender os efeitos 
de entendimentos específicos de famí-
lia para as vidas das pessoas. Muitas 
possibilidades podem ser exploradas.
ImPlIcAções PArA A PrÁtIcA de 
terAPIA FAmIlIAr
Finalmente, podemos refletir sobre 
como a abordagem discursiva e rela-
cional à definição de família apresen-
tada nesse artigo contribui para o de-
senvolvimento de práticas de terapia 
familiar. Primeiro, uma descrição dis-
cursiva de família coloca a atenção do 
terapeuta no processo conversacional 
ocorrendo durante a sessão, pois ele se 
dá conta de que a conversa terapêuti-
ca é um contexto para a produção de 
sentidos, a partir do qual diferentes 
versões de família podem ser constru-
ídas. Isto também posiciona todos os 
participantes da conversa, incluindo 
o terapeuta, como responsáveis pelas 
versões de família criadas, porque o 
terapeuta também é uma parte ativa 
do processo de produção de sentidos 
por meio de suas respostas suplemen-
tares (comentários, perguntas, respos-
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tas corporificadas, etc.). O profissional 
pode encontrar-se engajado em um 
tipo de conversa responsiva, uma “for-
ma de buscar na conversa de alguém 
para dar a seus interlocutores oportu-
nidades de dizer sobre e explorar mais 
eventos e experiências que lhes foram 
importantes em suas vidas” (Shotter, 
2009, p. 21).
Por sua vez, isto também coloca 
a atenção do terapeuta em suas pró-
prias premissas sobre família e como 
as mesmas têm um papel no contí-
nuo processo de negociação de sen-
tido. A seguir, devemos considerar 
quem deve ser convidado ao cenário 
terapêutico. Podemos imaginar que 
qualquer modelo abstrato de família 
não pode responder a essa questão. 
Ao contrário, a própria decisão de 
quem deveria ser incluído na conver-
sa terapêutica pode ser um processo 
discutido por aqueles que já estão 
participando. Isto está proximamen-
te alinhado com a ideia de Anderson 
(2012) a respeito de que uma prática 
terapêutica relacionalmente respon-
sável é sensível às diversas definições 
– de self , de problemas e de família, 
por exemplo – negociadas a partir de 
dentro do processo entre terapeuta e 
clientes. Em nosso caso, isso chama 
atenção para uma série de questões: 
Quem é construído como perten-
cendo à família com o progresso da 
conversa? Que tipos de descrições as 
pessoas na sala estão criando juntas? 
Alguém se sente oprimido por uma 
descrição dominante? Parece que 
alguém está sendo excluído ou ig-
norado? Que descrições funcionam 
melhor para um grupo específico de 
clientes em um momento específi-
co? Os participantes podem traba-
lhar juntos em direção à construção 
de diferentes versões de sua família? 
Em outras palavras, uma conversa 
sobre o sentido de família pode ser 
usada como um recurso terapêutico 
a partir do qual a construção de vá-
rias versões de uma família podem 
apontar para novas possibilidades 
relacionais para os clientes.
em conclUsão
As contribuições do movimento cons-
trucionista social nos ajudam a des-
naturalizar a ideia de família como 
uma entidade ontológica, inevitável, 
necessária e autocontida no mundo. 
Entender família como construção so-
cial tem implicações importantes para 
o campo da psicologia ao considerar 
que, se há muitas versões possíveis do 
que constitui uma família, ao invés de 
uma única família, podemos conside-
rar se cada uma dessas versões é útil 
para certas pessoas e certos propósitos 
em certos momentos.
Então, de volta à nossa pergunta 
original, “como as pessoas de fato fa-
zem uso de diferentes discursos sociais 
sobre família em suas vidas cotidia-
nas?”, uma resposta simples pode ser: 
as pessoas engajam-se em processos 
de produção de sentido. É no proces-
so incessante de lidar com a ideia de 
família; nas conversas contínuas sobre 
o assunto; e na coordenação fluída de 
ações a respeito do conceito; que dife-
rentes sentidos de família são produzi-
dos no curso da vida cotidiana. Quan-
do focamos em uma microperspectiva 
de construção social, vemos que os 
discursos sobre família não são usados 
em suas versões completas, acadêmi-
cas e coerentes.Ao invés disso, eles 
estão vivos “entre” as pessoas, enquan-
to elas negociam sentidos. Neste caso, 
discursos sociais podem ser mistura-
dos, justapostos, contraditos e modifi-
cados enquanto as pessoas fazem uso 
deles no cotidiano de acordo com suas 
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demandas específicas, pragmáticas e 
momentâneas da vida social. Anali-
ticamente, queremos saber de quem 
são os padrões que estamos utilizando 
em qualquer conversa para discutir a 
realidade específica de família com a 
qual estamos lidando. Queremos criar 
formas significativas e úteis de ca-
minhar juntos (Wittgenstein, 1953). 
Queremos ser capazes de refletir sobre 
as implicações de nossas descrições e, 
mais importante, queremos entender 
a que nível diversas descrições de fa-
mília podem ser úteis a interesses es-
pecíficos em certos momentos e quais 
possibilidades alternativas podem ser 
úteis em diferentes contextos.
Quando mudamos o foco de nosso 
entendimento sobre família de uma 
postura essencialista para uma postu-
ra construcionista, somos convidados 
a tomar uma postura de curiosidade 
para entender como as pessoas estão 
ativamente produzindo sentidos so-
bre família enquanto coordenam suas 
ações em conversas sobre o assunto e 
são responsáveis por criar diferentes 
versões – e realidades – de família. 
Cada descrição pode ser considerada 
como uma realização discursiva que 
é tanto situada quanto sustentada em 
um contexto relacional específico e 
aos quais as pessoas se referem duran-
te o curso de suas vidas cotidianas.
Os psicólogos são assim encoraja-
dos a explorar as diferentes maneiras 
pelas quais as pessoas criam relacio-
namentos significativos umas com as 
outras e as maneiras como elas ex-
ploram e existem em uma variedade 
de maneiras possíveis de família. Esta 
explicação favorece uma postura com-
prometida para a Psicologia como dis-
ciplina, em que ela está consciente de 
seus efeitos na sociedade e interessada 
em discutir não apenas o que as famí-
lias já são, mas também o que podem 
vir a ser.
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