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ARV T. CORDEIRO =1 l--~ r 11=1 ! I 1\1-1 11~] 1=1 , -- -~~ ! - ' e ... Teosofia Filosofia Chinesa Cinco Elementos Tai-Chi-Chuan Psiquismo Homeopatia ,Ioga I King Macrobiótica Astrologia Chinesa "Bem fácil é chegar-se a um acordo com o ignorante; mais fácil ainda com aquele que sabe distinguir as coisas; porém, a um homem enfatuado e de saber insignificante, nem mesmo Brahmá é capaz de convencer." (Do Niti-Xataca de Bhartricar) "Os homens não acreditam no que ignoram e freqüentemente tentam es- conder a sua ignorância atrás de um sorriso irônico': (Conde de Ariberto) I o objetivo maior deste trabalho é demonstrar em visão panorâmica global o que é a Acupuntura em toda a sua extensão e profundidade, por isso mesmo que em cada caprtulo procuramos, em srntese, demonstrar o quanto outras terapêuticas podem ser entendidas e justificadas pelos ensi- namentos da Medicina Tradicional Chinesa (MTC). O ato simples de estimular com uma agulha certos pontos da pele tem como suporte um tão grande arcabouço filosófico e fisiológico que jul- gamos importante ressaltar o valor deste ato e de suas benéficas conse- qüências e implicações. Em geral o cliente procura a Acupuntura por indicação de alguém que, sofrendo do mesmo mal, já obteve resultados satisfatórios e, freqüen- temente, pensa que este é o limite do raio de ação da Acupuntura, sem saber que realmente se trata de uma terapêutica total, tanto do trsico quanto do psrquico, quer se apresente como enxaqueca, asma, reumatis- mo ou dores na coluna como de uma depressão ou excitação nervosa, porque a Acupuntura "não trata a doença e sim o doente". Deve, ·pois, o cliente da Acupuntura, relatar ao seu terapeuta não s6 o motivo básico de sua visita, como também tudo aquilo que lhe pareça fora do normal e quais as medidas que já tomou, deixando ao acupunturista a tarefa de completar a anamnese que, tal como na homeopatia, é extensa e detalhada, abrangendo todos os sintomas e peculiaridades, além da carac- terização do biótipo do consulente. Não há exagero na afirmação de que aquele que "encontra" a Acu- puntura é um privilegiado porque será beneficiado com uma terapêutica que procurará estimular de modo natural suas funções orgânicas e equili- brar seu psfquico-mental, sem introduzir nenhuma substância estranha, ex- terior, que modificaria artificialmente seu "meio qurmico", com conseqüên- cias imprevisfveis. A Acupuntura ajuda o indivrduo a realizar seu máximo de potenciali- dade, sem drogas ou quaisquer outros artitrcios que o tornariam sempre um dependente, e este, acredito, é o mais alto prêmio que recebe quem confia na mais antiga terapêutica do mundo. Através dos milênios, a humanidade tem "inventado" um sem número de métodos de cura que apareceram ..• e desapareceram; mas a Acupun- tura sobreviveu justamente porque é incontestável na teoria e soberana na prática, não havendo nenhuma outra que se lhe compare, já tendo sido apontada como a "medicina do passado, do presente e do futuro", não 05 sendo, portanto, de estranhar que, de há muito é a terapêutica que conta com maior número de usuários, sobrepujando, e cada vez mais, a própria Alopatia. Não se trata aqui de fazer propaganda da Acupuntura porque nossos clientes sabem tão bem quanto nós até onde foram ajudados. Trata-se de render homenagem não só à própria MTC como também a todos aqueles que a ela se dedicaram e que, com seus esforços, conseguiram que che- gassem até nós conhecimentos que nos tornam mais aptos e dignos da "arte de curar". • • • 06 ACUPUNTURA E . . . Introdução A Medicina Tradicional Chinesa é tão antiga quanto a humanidade. Afinal, pode-se dizer que ela existe desde quando o primeiro homem pres- sionou ou massagiou seu corpo instintivamente ao sentir uma dor. Entretanto, este ato reflexo de levar a mão a um ponto doloroso não significa que a MTC seja uma simples e pura reflexologia ou que sua complexa e abrangente doutrina tenha tido origem no "soi-disant" espfrito de observação dos orientais. A tradição de todos os povos nos ensina, através do raciocfnio analó- gico, que o macrocosmo - o universo - se manifesta no microcosmo em tudo e todas as coisas e principalmente no homem. "O que está em baixo é como o que está em cima", já afirmava Hermés, e com esta base pode- mos atingir o pináculo da cultura em sua quádrupla expressão: ciência, ar- te, religião e filosofia. Demonstrar o relacionamento destes aspectos do conhecimento tra- dicional com a MTC constitui o ambicioso propósito deste trabalho: é co- mo descrever um colar de pérolas de tamanhos e cores diferentes ligadas por um mesmo fio que pode ser chamado Taoismo, Teosofia, "Gupta Vy- dia", Conhecimento Tradicional, Sabedoria Iniciática das Idades ou Eubio- se. Cada caprtulo trata, aparentemente, de um assunto independente, sintetizado para facilitar a compreensão do todo, mas que se pretende mais tarde desenvolver em publicações posteriores. Os conceitos básicos, imutáveis, aqui expostos, são os frutos de mais de vinte anos de estudos, pesquisas e meditação; as conclusões, e só es- tas, podem ser objeto de restrições ou polêmica porque exprimem as idéias do autor em áreas que nem sempre são as de sua especialidade. Inspirado nos ensinamentos do Prof. Henrique José de Souza e a ele prometido, este estudo é dedicado ao Grande Mestre, sem que por isto se deseje dividir a responsabilidade dos conceitos emitidos. • • • 07 ACUPUNTURA E MEDICINA TRADICIONAL CHINESA (MTC) Capítulo I A MTC é tão completa e complexa que dificilmente encontraremos uma terapêutica - passada ou presente - que não esteja englobada em um de seus múltiplos aspectos. Acupuntura, moxa, massagem, do-in, shiatsu, fitoterapia, hidroterapia, tai-chi-chuan, exercfcios respiratórios, regras de higiene, procedimentos se- xuais, meditação, dietética, são expressões da arte de curar que os chine- ses conhecem desde a pré-história e cuja base única, comum a todas é o "equilfbrio energético". O lugar de destaque sempre merecidamente ocupado pela Acupuntu- ra deve-se a vários fatores e entre eles ao de que através desta arte-ciên- cia podem ser conhecidas as energias celestes e telúricas que deram ori- gem à vida na Terra, à evolução do ser h[Jmano e às modificações do meio ambiente. Assim, é preciso ressaltar que a Acupuntura não significa o simples conhecimento da localização de pontos cutâneos e seu relacionamento com os órgãos e respectivas funções. Muito mais e bem mais importante, é saber como apareceu e se desenvolveu a vida no globo terráqueo até atingir o estágio atual em sua mais ampla e perfeita manifestação - o ser humano - e o que representa cada pequenina fração do corpo - o ponto de Acupuntura - em relação com as demais partes deste corpo e quais as suas interações com as outras manifestações macrocósmicas e micro- cósmicas. Resumindo, o corpo humano é o resultado da ação milenar das ener- gias cósmicas e telúricas e da sua reação, consciente ou inconsciente, a estas energias. Com seus alicerces fincados na Filosofia Taoista, a MTC e, conse- qüentemente, a Acupuntura e todos os seus aspectos terapêuticos, parte do princfpio de que tudo o que existe no universo é constitufdo de duas formas de energia - inn e iang - resultantes da polarização da energia primordial essencial e única. Nada é totalmente inn ou iang, razão porquê a predominância de uma ou outra destas energias é que determina a clas- sificação básica dos seres e das coisas. Uma segunda classificação resulta desta primeira em função do dinamismo destas forças: é o que nos ensina 08 a "Escola dos Cinco Elementos", também pertencente à Filosofia Taoista, que, relativamente ao corpo humano, associa as funções orgânicas aos elementos, movimentos ou agentes. Assim, os elementos em seu aspecto inn dizem respeito: elemento fogo = çoração, elemento água = rins, elemento metal = pulmões, elemento madeira = trgado, elemento terra = baço-pâncreas;enquanto que relativamente ao aspecto iang: elemento fogo = intestino delgado, elemento água = bexiga, elemento metal = intestino grosso, elemento madeira = vesfcula biliar e elemento terra = estômago. No capitulo referente à Filosofia Taoista serão amplamente explica- dos estes conceitos, mas é preciso desde logo esclarecer que os órgãos e vfsceras mencionados são representativos das funções de que fazem par- te; assim, por exemplo, da função respiratória representada pelos pulmões também fazem parte os brônquios, as vias aéreas superiores, etc. Cada função possui uma série de pontos na superffcie do corpo uni- dos por uma linha denominada meridiano e uma determinada posição no pulso que permite não só diagnosticar como também prognosticar possf- vels desequilfbrios energéticos. O excesso ou a insuficiência de energia inn ou iang, global ou parcial - nas funções - constitui a base da anamne- se acupuntural, determinando quais os pontos que devem ser estimulados para restabelecimento do equilfbrio energético. • • • 09 ACUPUNTURA E TEOSOFIA OU EUBIOSE Capítulo 11 Também conhecida como "Gupta Vydia" ou "Sabedoria Iniciática das Idades", a Teosofia é a base de toda ciência, arte e religião: é o fio do co- lar, em todos os seus aspectos. Através da história da humanidade encontramos em cada época wm povo se destacando em determinado ramo do conhecimento oculto, como um farol iluminando os do seu tempo; assim nasceram as "medicinas sa- gradas" da India, do Tibet e da China, pois sabemos que a medicina nas- ceu nos templos, confundindo-se a figura do sacerdotel com a dorriédico; e assim também a astrologia, a cabala, o I king, a alquimia, a ioga e a fito te- . rapia como instrumentos destes conhecimentos. Em que pesem as restrições que outras escolas espiritualistas fazem à Teosofia, é inegável que se trata de uma forma de iniciação, a mais adequada para nosso século e, por isso mesmo, mal compreendida pelos saudosistas desejosos ainda de iniciações menos profundas e voltadas. pa- ra a matéria mais densa. Apegados à figura do asceta hindú vivendo nas grutas e cavernas, li~ berado em etapa iniciática anterior, já ultrapassada, os crIticos da "Neo- Teosofia" fundada por H. P. Blavatski e complementadà pelo Professor Henrique José de Souza, parecem não fazer distinção entre iniciação real e iniciação simbólica, entre missão individual e missão coletiva, esta perti- nente aos Colégios Iniciáticos que sempre tiveram como objetivo maior auxiliar a evolução da humanidade. Em determinada fase da história da China parece ter havido uma ex- plosão de novos conhecimentos, em geral atribufdos ao imperador Hoang- Ti que, lendário ou histórico, é tido como autor da maioria destes . novos descobrimentos. É desta época o aparecimento da bússola, da pólvora, dos livros sagrados (o I king e o Nei king entre outros), da Acupuntura, e até do macarrão. Relativamente à Acupuntura, é pueril que se pretenda ser esta tera- pêutica fruto do espfrito de observação dos chineses através dos tempos, pois a teoria global em que se assentam as suas premissas nos indica 'o método dedutivo como básico para todo o seu maravilhoso arcabouço, isto é, os conceitos gerais, sintéticos, é que deram origem aos detalhes e não o contrário. 10 Por outro lado, os poderes paranormais que atualmente ocupam lugar de destaque nos estudos e experiências cientrficas, sempre existiram, in- dependentemente de serem ou não aceitos pela "ciência oficial" e grandes figuras da história da humanidade constituem prova cabal desta realidade. Os exemplos máximos que poderiamos invocar seriam daqueles que, tal- vez sem esta intenção, fundaram as grandes religiões: catolicismo, budis- mo, islamismo, etc. O que estes seres realmente fundaram foram "escolas de iniciação" dando os ensinamentos necessários para a realização de seus discfpulos e para a evolução da humanidade em cada ciclo. Chame-se ou não a estes ensinamentos "revelações", a verdade é que contribufram sempre para eleger um povo como portador do que, em cada época, foi chamado de "conhecimento divino"; tivemos, então, e nun- ca é demais repetir, o I king, a astrologia chinesa, o Nei king e outros livros sagrados, com seus complexos e extensos conceitos sobre o céu, a terra e os homens, que deram nascimento à MTC e à sua expressão máxima: a Acupuntura. Não seria de estranhar se a Acupuntura se apresentasse como tera- pêutica "revelada", pois ainda hoje, é comum acontecer sermos surpreen- didos por pessoas que "vêem" os pontos e não só os descrevem como também indicam o trajeto dos meridianos a que pertencem. • • • 11 ACUPUNTURA E FILOSOFIA CHINESA Capítulo 111 Até meados do século 11 AC o pensamento chinês se compunha de tantas correntes que os próprios chineses as chamavam de "cem escolas" e só com Sseu-ma Tan encontramos o primeiro ensaio de classificação, num trabalho intitulado "Sobre as idéias essenciais das seis escolas", onde são analisadas as escolas maiores que compunham o pensamento filosó- fico da época. A primeira é a escola do inn-iang ou dos cosmologistas, tendo por origem os astrônomos oficiais; a segunda: escola Pou-kia ou escola dos le- trados, conhecida como a escola de Confúcio; a terceira escola é a Mo-kia ou moista fundada por Mo-tseu; a quarta: Ming-kia ou escola dos números, a quinta: Fa-kia ou escola dos legistas; a sexta: Tao-to-kia ou escola taois- ta. Fong Yeou-Lan oferece subsfdios valiosos para nosso estudo (Précis d'Historie de la Philosophie Chinoise), principalmente em relação à escola inn-iang que é a base filosófica da MTC e, por conseguinte da Acupuntura. Segundo este autor esta escola nasceu com os ocultistas e astrônomos e na "História da Dinastia dos Han Anteriores" as artes ocultas são agrupa- das em seis categorias: 1 ª - astrologia: compreende o estudo das vinte e oito constelações, do movimento dos cinco planetas, 'do sol e da lua; 2ª - dos almanaques: servindo "para dispor em ordem conveniente as quatro estações, para ajustar as épocas dos equinócios e solstfcios e observar a concordância das fases do sol, da lua e dos cinco planetas para determinar as variações do frio e do calor, da vida e da morte". 3ª - dos cinco elementos: "tem por fundamento as revoluções das cinco potências - cinco elementos - e, se levarmos a seus limites ex- tremos, nada existe que não seja alcançado". 4ª - da adivinhação: pelo caule das mil-folhas (I king), pela carcaça das tartarugas e pelos omoplatas dos bois. 5ª - adivinhação: por todas as outras formas. 6ª - sistema das formas: principalmente a fisiognomia e o "fong- chouei", literalmente "o vento e a água". O "fong-chouei" é baseado na idéia de que o homem é um produto do universo e, por isto, também a sua 12 casa e seu túmulo devem ser construfdos em harmonia com as forças da natureza. Fong Yeou-Lan segue uma linha de pensamento que nos ajuda a en- tender a MTC: "O ocultismo ou a magia tiveram, sem dúvida, a superstição por base, mas estiveram freqüentemente na origem da ciência. As artes ocultas dividem com ela o desejo de interpretar a natureza de maneira po- sitiva e de conquistá-Ia para colocá-Ia a serviço do homem. O ocultismo torna-se ciência quando abandona a crença nas forças sobrenaturais e ten- ta interpretar o universo unicamente em termos de forças naturais". A sexta escola - Tao kia ou Taoismo - apresenta bases filosóficas que explicam o pensamento médico chinês. Sua força parece ter tido ori- gem entre os séculos 111 e V AC - segundo H. Maspero - como oposição à escola dos letrados que se ocupava dos problemas dos homens na so- ciedade e no universo sem se interessar pelo homem como indivfduo, da sua salvação, do desenvolvimento de sua vida interior e da possibilidade de seu contato com os deuses. Alguns estudiosos consideram o Taoismo uma escola filosófica en- quanto outros vêem nele uma religião. Uns e outros têm razão: o Taoismo é uma filosofia, pois se enquadra na definiçãoclássica: "Filosofia é um conjunto de concepções práticas ou teóricas, do ser, dos seres, do homem e de seu papel no universo"; mas não deixa 'de ser uma religião enquanto persegue como objetivo a salvação do homem pela imortalidade. A diferença entre a religião católica e o Taoismo é que neste a imor- talidade que se persegue é total, ou seja, do corpo e do espfrito, pois am- bos são dois aspectos da mesma essência, e o católico luta pela imortali- dade da alma, muito embora acredite na possibilidade da ressurreição da carne. H. Maspero esclarece bem esta posição quando escreve: "O Taoismo é uma religião de salvação que se propõe conduzir os fiéis à vida eterna. E se os taoistas, na procura da "longa vida", a conceberam não como uma imortalidade espiritual, mas como uma imortalidade material do próprio corpo, não é por escolha deliberada entre as diversas soluções possfveis do problema da im0r:talidade no outro mundo: é porque esta solução era para eles a única possfvel. No mundo grego-romano tornou-se hábito opor o espfrito à matéria, o que, nas concepções religiosas se traduziu pela oposição da alma espiritual única ao corpo material. Para os chineses, que jamais separaram espfrito e matéria, para os quais o mundo é um contfnuo que passa sem interrupção do vazio às coisas materiais, a alma não tem o papel de contrapartida invisfvel e espiritual do corpo visfvel e material". 13 o adepto taoista assume várias obrigações para atingir seu objetivo: a imortalidade total. As técnicas necessárias resumem-se em "nutrir o cor- po" e "nutrir o espfrito". As primeiras procuram tornar o corpo livre das im- purezas tornando-o tão sutil que "ã luz do sol não fazem sombra", enquan- to que as técnicas para "nutrir o espfrito" almejam reforçar o prindpio da unidade tornando o corpo e o espfrito uma só essência. "Nutrir o corpo" é inicialmente manter o equilfbrio energético a que chamamos "saúde perfeita" e, pelo aperfeiçoamento e continuidade deste estado, atingir a união completa com o espfrito. A Acupuntura e a massagem, a dietética, a fitoterapia e os exerdcios (ginástica) são as técnicas necessárias para "nutrir o corpo", enquanto que a Acupuntura, a meditação e os exerdcios (respiratórios) são as usadas para "nutrir o espfrito". O Taoismo afirma a existência de milhares de deuses no interior do corpo relacionados não só com os dias dos anos mas também e principal- mente com os pontos da Acupuntura, onde cada ponto tem o seu Deus ou demônio - o Kouei das antigas tradições. Nos capftulos posteriores referentes'ã Macrobiótica e ao Tai-chi-chuan encontraremos ainda ensinamentos da escola taoista que serviram de ba- se ã MTC. Na escola inn-iang, já dissemos, encontramos o mesmo pensamento básico de que no principio do universo existia uma energia única, primor- dial que polarizada deu origem à dualidade inn-iang, ou seja, duas ener- gias complementares e antagônicas de cujas caracterfsticas participam to- das as coisas e também o próprio homem e todos os seres vivos. O Tai-chi é bem o simbolo e a representação desta primeira polariza- ção que, transportada para o pensamento ocidental cristão, significa o princfpio da "queda do espfrito na matéria". IANG IN N Na parte branca - iang - existe a semente do inn e na parte escu- . ra - inn - a semente do iang. Neste simbolo está contida a idéia do mo- vimento continuo de ascensão e queda a que tudo está submetido: quando uma das energias atinge seu ponto máximo declina e se transforma na ou- tra. 14 Graficamente o iang, força ativa, positiva, masculina, é representado por um traço contfnuo, enquanto o inn, energia passiva, negativa, feminina, é representado por um traço interrompido. A evolução destas duas energias, numa segunda polarização, dá ori- gem aos bigramas que representam o princfpio quaternário encontrado no céu, na Terra e nos homens, como resultado da alteração quantitativa do inn e do iang. Os sfmbolos dos bigramas: Velho Jovem Velho Jovem inn inn iang iang Representados em forma de cruz e com a aplicação do raciocfnio analógico, nos dão o quaternário da tradição relativamente às quatro fases da vida do homem, os quatro pontos cardiais, as quatro fases do dia e da lua, os quatro elementos, os quatro temperamentos hipocráticos etc. As- sim: sul juventude fogo verão meio-dia vermelho sangüfneo este oeste infância + maturidade madeira metal primavera = -- outono aurora crepúsculo verde branco bilioso nervoso -- norte velhice água inverno meia-noite preto linfático 15 Este princfpio quaternário foi provavelmente descoberto também re- lacionado com as estações do ano, com a ajuda do "gnomon", que consis- te em simples vara fincada no solo, cuja sombra aumenta e diminui de tamanho durante o ano em ciclos distintos, permitindo a determinação das estações: -ti- -·ti· Y-<. _w_ '.' I -~. ~y, gnomon) I I I I I I / / / primo ver. out. inv.j linha do horizonte Por outro lado, a representação inn-iang através dos bigramas tem sua evolução natural justapondo-se a cada um mais um monograma - li- nha inn ou iang - e teremos os trigramas que, em número de oito, combi- nados dois a dois nos dão os 64 (8 vezes 8) hexagramas que compõem o livro das mutações, o I king, cuja importância e profundidade Confúcio não se cansou de proclamar, pois teria afirmado que "se me fossem dados mais cinqüenta anos de vida eu os dedicaria exclusivamente ao estudo do I king". A doutrina ocidental dos quatro elementos ou agentes encontrada no oriente sob a representação simbólica dos quatro bigramas, foi l dinamizada no Taoismo dando origem à doutrina dos cinco elementos ou movimentos. Há uma verdadeira integração das duas escolas da filosofia taoista: a es- cola inn-iang e a escola dos cinco elementos. A evolução de quatro para cinco tem por base a adição do elemento "terra" que, ponto central na dou- trina dos quatro elementos porque trata-se do ponto de observação dos ou- tros elementos, passa a constituir um quinto fator. Da representação gráfi- ca em forma de cruz passamos ao pentágono ou pentagrama estrelado, usado como sfmbolo pelos pitagóricos. A descentralização da "terra" e sua constituição como um quinto elemento posicionada entre os elementos "fogo" e "metal" ainda nos deixa margem para uma observação interessan- te: o elemento "fogo" corresponde ao planeta Marte; o elemento "madeira" à Jupiter; o elemento "metal" à Venus; o elemento "água" à Mercúrio. Co- locando-se o elemento "terra" entre os elementos "madeira" e "fogo" de um lado e os elementos "água" e "metal" de outro, obedece-se à posição astronômica do planeta Terra que, em sua órbita em torno do Sol, é o 3º planeta, isto é, está posicionado entre Jupiter e Marte de um lado e Venus ' e Mercúrio do outro. Os cinco elementos ou movimentos serão objeto do próximo caprtulo. • • • 16 o pentagrama dos Cinco Elementos \ ! 17 ACUPUNTURA E TAOISMO Escola Taoista dos Cinco Elementos Capítulo IV A escola dos cinco elementos ou movimentos, já vimos, é uma das escolas taoistas e base fundamental para entender a Acupuntura em toda a sua profundidade filosófica, demonstrando que nesta terapêutica nada é arbitrário. A seleção dos pontos que devem ser estimulados durante uma sessão é sempre precedida de normas imutáveis que o acupunturista competente deve conhecer para não se tornar um simples "enfiador de agulhas". A Acupuntura é a única terapêutica sustentada por um sistema filosó- fico que, além do mais, nos faz entender o homem em si e no seu relacio- namento com o meio ambiente e, por extensão, com o Universo, o que torna o ato terapêutico praticado na sessão de acupuntura como o mais perfeito, correto e adequado. Conseqüência natural dos quatro elementos, os cinco elementos ou movimentos se sucedem ininterruptamente, cada um dando origem ao que lhe sucede: o "fogo" dá origem à "terra", (nossa ciência também assim o diz); a "terra" dá origemao "metal" (porque o contém); o "metal" dá origem à "água" (porque se liquefaz); a "água" dá origem à "madeira" (porque dá vida ao vegetal); a "madeira" dá origem ao "fogo" (porque é combustfvel). Do mesmo modo que nos quatro elementos dos bigramas, nos cinco elementos do pentagrama, por raciocfnio também analógico, encontramos pela "Lei de correspondência" dados importantes tanto para o diagnóstico.· quanto para o tratamento. Nos compêndios de Acupuntura é praticamente obrigatória a apresentação do "Quadro de Correspondência" que transcre- vemos a seguir: 18 Quadro de Correspondência dos Cinco Elementos Madeira Fogo Terra Metal Água Pontos Este Sul Centro Oeste Norte Cardeais Planetas: Júpiter Marte Saturno Venus Mercúrio Estações: Primavera Verão 5~ Estação Outono Inverno Energias: Vento Calor Umidade Secura Frio Cores: Verde Vermelho Amarelo Branco Preto Órgãos: Ffgado Coração Baço-Pâncr. Pulmões Rins Vfsceras: Vesic.Bil. In1.Delg. Estômago In1.Grosso Bexiga Sentidos: Visão Tato Paladar Olfato Audição Sabores: Ácido Amargo Doce Picante Salgado Secreções: Lágrima Suor Saliva Muco Urina Tecidos: Músculos Vasos Carne Pele Ossos Manif.ext.: Unhas Tez Lábios Pêlos Cabelos Emoções: Cólera Prazer Reflexão Tristeza Medo Qualidades: Imaginação Criatividade Vontade Intuição Prudência , Proteção: Pêlos Penas Nú 'Couraça Escamas VoZ: Grito Fa1a Canto ' Lamento :Gemido Carne: Galinha Carneiro Boi Cavalo Porco Cereal: Trigo Milho Centeio Arroz Feijão Fruta: Ameixa Abricó Jujuba Pêssego Castanha Para Exemplificar a) AuxOio ao diagnóstico: fraqueza cios músculos .(distensões freqüentes) elou das unhas (quebradiças ou desfolhantes) indicam ·insuficiência do elemento "madeira", portanto, insuficiência hepática. b) Auxrtio ao tratamento: na insuficiência hepática devemos fazer uso de alimentos ácidos e aumentar o consumo .dos que contiverem trigo, das ameixas e de carne de galinha. 19 o equilrbrio energético de cada elemento se estabelece pelo impulso positivo de engendramento que cada um recebe do elemento que lhe dá origem (chamado mãe) e pelo impulso negativo ou de repressão recebido de outro elemento (chamado dominante). -- ciclo de engendramento ciclo de repressão ou dominância --/.. - - -'\-- I \ I \ '--, \ " " ,,\" I ..... '" .... '" ..... '" ~,..... ...... - o ciclo de repressão se justifica pelo equilfbrio que deve haver em cada elemento - e por conseguinte no órgão e vrscera respectivo - co- mo resultado do estfmulo de ação (do elemento mãe) e de inibição (do elemento dominante). Já vimos como a tradição explica o ciclo de engen- dramento em que cada elemento dá nascimento a outro. Vejamos agora como justifica o ciclo de dominância, chamado pelos chineses de ciclo Ko: a "madeira" domina a "terra" (porque a cobre); a "terra" domina a "água" (porque a absorve); a "água" domina o "fogo" (porque o apaga); o "fogo" domina o "metal" (porque o derrete); o "metal" domina a "madeira" (o ma- chado de metal abate a árvore). Ainda poderfamos acrescentar ao quadro de correspondências os vá- rios tipos de pontos "Su" - os chamados pontos antigos. São os mais im- portantes da Acupuntura porque só através deles é possfvel transferir energia de uma função para outra, sendo todos os demais pontos do nosso corpo apenas sintomáticos, complementares daqueles. . . A corrente de energia que percorre os meridianos é comparada à cor- rente de um rio, desde a sua nascente até a sua foz, onde deságua no mar; dar a designação dos pontos "Su" que significam: 20 tos: TING: poço; manancial d'onde brota a água. IONG: regato, pequeno filete de água. lU: riacho; pequeno rio. KING: rio caudaloso. HO: foz; ponto de encontro do rio com o mar. Nas funções inn os pontos "Su" correspondem aos seguintes elemen- Nas funções iang: TING: elemento madeira; ffgado. IONG: elemento fogo; coração. lU: elemento terra; baço-pâncreas. KING: elemento metal; pulmões. HO: elemento água; rins. TING: elemento metal; intestino grosso. IONG: elemento água; bexiga • lU: elemento madeira; vesfcula biliar. KING: elemento fogo; intestino grosso. HO: elemento terra; estômago. Independentemente da ação que se pode exercer sobre um ponto pa- ra tratamento de um problema local (algias, distensões, etc.), o tratamento básico consiste em equilibrar as energias inn e iang em cada função que, a grosso modo, podem estar em excesso ou em insuficiência, isto é, podem conter energia exagerada, por exemplo, pelo fenômeno da estagnação re- sultante de não conseguir passar adiante a energia recebida ou, pelo con- trário, estar carente de energia por não recebê-Ia da função que lhe ante- cede. Deve-se "dispersar' ou "sedar" a função em excesso e "tonificar' a função em insuficiência usando-se os pontos de tonificação e de dispersão que foram rigorosamente determinados segundo a lei que a tradição cha- mou de "lei mãe-filho": deve-se tonificar usando-se o ponto relativo ao elemento "mãe" e dispersar usando-se o ponto relativo ao elemento "filho". Sabendo-se que "mãe" é o elemento que antecede e "filho" o elemento que sucede, no exemplo de uma insuficiência do ffgado teremos que toni- ficar seu ponto "HO" como conclusão do seguinte raciocfnio: o ffgado cor- responde ao elemento "madeira"; a "mãe" do elemento "madeira" é o ele- mento "água" que, nas funções inn corresponde ao ponto "HO". No caso de uma congestão - excesso - de energia no ffgado te- 21 rfamos que estimular seu ponto "IONG"; pois o filho do elemento "madeira" é o elemento "fogo" que corresponde ao ponto "IONG". Para finalizar este capftulo uma informação preciosa: os pontos Ting estão situados nas extremidades dos dedos e dos artelhos; os pontos long estão nas falanges; os pontos lu nos metacarpos e metatarsos; os pontos King nos pulsos e tornozelos e os pontos Ho na altura dos cotovelos e joelhos. • • • 22 ACUPUNTURA E TAI-CHI CHUAN (TCG) Capítulo V Considerado por uns como ginástica e por outros como "box chinês", o Tai-Chi-Chuan é na verdade a Acupuntura em movimento. O fato de se poder traduzir "chuan" por punho não autoriza que o in- terpretemos como "arte de combate", nem como esporte - o que implica- ria em competição - e muito menos como "arte marcial", pois "chuan" também significa "mãos nuas" que se movimentam em conjugação com o resto do corpo: pernas, pés, cintura, cabeça, etc. Originário dos mosteiros Taoistas é evidente sua finalidade inicial de preparar a união do corpo com o espfrito, obedecendo ao objetivo taoista de conseguir a imortalidade conjunta de ambos: corpo e espfrito; eis por- que os procedimentos do Tai-Chi-Chuan são de três naturezas: movimen- tos corporais, técnicas de respiração e meditação. Difere da ioga hindú porque esta é estática, de naturreza inn, pois os movimentos servem ape- nas para se conseguir determinada postura (asana), enquanto que no TCC os movimentos fazem parte integrante do exercfcio, são circulares (iang) e contfnuos, onde o fim de um movimento lconstitui · o princfpio de outro. TCC e Ioga têm o mesmo ideal, apesar dos dois povos se expressa- rem usando conceitos aparentemente diferentes: o hindú afirma que procu- ra atingir o niryana através do samadhi (êxtase) pela purificação do corpo e com o equilfbrio dos "chacras", dos "nadis" e das energias; o chinês procu- ra a realização, a "libertação", pela união do corpo com o espfrito através dos "campos de cinábrio" e do fluxo energético perfeito dos pontos de Acupuntura e nos meridianos-funções. Os "chacras" são centros de força, os chamados "pontos da acupuntura"; os "nadis" são as vias por onde fluem as energias: os meridianos. Inicialmente, portanto, uma técnica de realização, posteriormente o TCC foi usado pelos monges para sua defesa pessoal contra as hordas de bárbaros que atacavam os mosteiros e assim, pouco a pouco, foi se trans- formando em arte de combate com o aparecimento de dezenas de escolas diferentes, já agora nãomais apenas com as "mãos nuas" e sim, também, com armas que vão desde o simples bastão de madeira até a espada, a lança e o sabre. 23 André Protin sintetiza muito bem a pretensão de seus praticantes quando escreve: "Praticadas pelos "busch" (nobres militares) com fins mor- tais, as artes de combate se desenvolveram tanto em quantidade como em qualidade. A prática do "bujutsu", que compreende o conhecimento das armas, suas técnicas de utilização, as estratégias, a aquisição do controle do ser e o desenvolvimento da força, foi espalhada em razão mesmo do seu aspecto puramente utilitário. Na realidade, o "bujutsu" foi, em todos os tempos, muito mais que um treinamento no manejo das armas, uma práti- ca que permite dispor de um método eficaz nas circunstâncias de comba- te. Ao objetivo puramente ~ilitar se acrescentam visões mais ambiciosas. Toda arte marcial tem a pretensão de figurar entre as disciplinas que con- duzem a um desenvolvimento mais completo do individuo." A partir dos monges taoistas, o TCC se vulgariza como arte de com- bate a "mãos nuas", técnica apropriada para a aplicação do principio da não resistência e da espiritual idade, só usada como defesa pessoal, mais tarde transformado em arte de combate com armas, com objetivos milita- res totalmente diferentes e distanciados dos primitivos conceitos. O TCC original tem a leveza do espfrito e a graça de uma dança, pois o seu praticante mais parece dançar no ar que movimentar-se com os pés no chão. Seu objetivo consiste em conscientizar o movimento com to- das as partes de seu corpo, ao mesmo tempo incrementando a energia que deve circular sem entraves, de maneira fluente e contfnua por todos os canais - meridianos. Tal como o hindú, o chinês sabe que todo nosso conhecimento é ob- tido através dos cinco sentidos que são falhos e ilusórios, ferramentas de nosso corpo ffsico, incapazes de permitir a apreensão não só da realidade ffsica como também, e muito mais, da realidade mental, pslquica e/ou es- piritual. Por outro lado, entre a percepção dos movimentos exteriores e a res- posta que se deve dar como reação a tais movimentos há um lapso de tempo que freqüentemente ultrapassa a necessidade da rapidez da reação, tornando-a inadequada ou inútil; e isto, mesmo admitindo-se que a percep- ção do movimento exterior tenha sido correta, o que nem sempre ocorre. Com a prática do TCC o discipulo liga o esplrito à matéria, tornando. a percepção mais aguçada, perfeita e rápida, anulando o tempo entre o movimento exterior e a reação de resposta; entre o ataque e a defesa não há diferença de tempo, permitindo ainda que a força usada pelo atacante seja usada pelo atacado com a aplicação do principio da não resistência: 24 eis porque o TCC transformou-se de técnica para realização espiritual em arte de combate. Em 1964 a Direção dos Esportes da República Popular da China co- dificou 400 movimentos de base a serem usados pelos ginastas; original- mente eram 108 que poderiam ser reduzidos a 60 como método slntese. Provavelmente cada movimento objetiva no flsico estimular um ponto de Acupuntura, sendo de observar que dividindo-se 108 por 12 (número das funções-meridianos) obtem-se 9 como resultado, sendo este o menor número de pontos que possuem algumas funções (C - CS). Também não se pode deixar de relacionar os 60 movimentos slntese com os 60 pontos "Su" ou pontos antigos das 12 funções (5 pontos Su vezes 12 funções). Dentre os muitos métodos do TCC destacamos o do Mestre Hua To, baseado nos movimentos de ataque e defesa de cinco animais, cada um relacionado com um dos cinco elementos que, como vimos, é a base de uma das Escolas Taoistas, cujos prindpios alicerçam filosoficamente a Medicina Tradicional Chinesa e, portanto, a Acupuntura. De modo geral podemos dividir as Escolas do TCC em dois gru- pos: 1) as exotéricas, que perseguem unicamente mais eficiência na arte de combate (artes marciais ou de guerra) e 2) as esotéricas que também estudam as artes de combate e as das artes terapêuticas. As exotéricas podem se destinar à guerra ou ao combate indivi- duai - por esporte·ou não. As esotéricas que se destinam ao combate sempre o fazem como meio de defesa, dentro do principio da não resistência: ao ataque de tercei- ro respondem com esquiva e contra-ataque aproveitando a força do ata- cante. As esotéricas terapêuticas têm dois objetivos que se confundem: 1 Q) alcançar o equillbrio conjunto do corpo e do esplrito; 2Q) atingir a reali- zação ou libertação suprema com a aquisição de um mental superior e, concomitantemente a identificação com o principio único - universal. Além da Escola Zoomorfa de Mestre Hua To existem muitas outras esotéricas mas s6 citaremos mais uma para não fugir às dimensões deste trabalho: a do TCC Pa Kua, em que os movimentos estão relacionados com os oito trigramas de Fo Hi e seus desdobramentos nos 64 hexagra- mas que constituem o I King, o Livro das Mutações, e que, por isso mes- mo, tal como este livro sagrado, permite atingir vários planos de consciên- cia sucessivos, desde o flsico até o da identificação com o "UM" indivisfvel a que nos referimos acima. 25 o TCC não é completo nem atinge seu ideal se for limitado apenas aos movimentos corporais: é preciso, concomitantemente, a prática da "respiração embrionária", técnica que substitui a que é produzida no em- brião pela oxigenação conduzida pelo sangue da mãe através do cordão umbilical; outrossim é imprescindfvel uma grande concentração que deve visualizar a energia que circula pelo corpo inteiro nos canais - meridia- nos. Resumindo, o TCC se constitui: 1) de movimentos ffsicos que energizam os pontos de Acupuntura; 2) da "respiração embrionária" que absorve as energias externas, aumentando e equilibrando sua circulação; 3) de concentração - estimulando a vivência pura do "aqui e agora" com a integração do corpo e do espfrito. • • • 26 ACUPUNTURA E PSIQUISMO Capítulo VI A Medicina Tradicional Chinesa ensina que o mental e o ffsico têm origem na mesma essência que em sua manifestação maior se apresenta como o corpo ffsico - inn. - e em sua ' manifestação menor, como men- tal - iang. Trata-se, pois, da mesma energia em nfveis diferentes, con- cluindo que há uma interação total entre estes aspectos do homem e, por- tanto, as atividades mentais dependem da energia dos órgãos do mesmo modo que, reciprocamente, influenCiam a energia do ffsico. O pensamento chinês não separa o corpo da mente - ou da al- ma - como faz o ocidental; considera o indivfduo como um todo, de ma- neira global e, por isso, as caracterfsticas psfquicas de cada um orientam o terapeuta para o diagnóstico concomitante do estado ffsico e psfquico do paciente. Conseqüentemente, a ação da Acupuntura no corpo ffsico reper- cute inevitavelmente no estado psfquico. Sempre tendo por base a filosofia taoista - Escola dos cinco ele- mentos - considera-se que as atividades mentais-psTquicas estão relacio- nadas com as cinco funções orgânicas "inn; assim, ao'coração corresponde o CHENN, ao 'frgado o ROUN, aos pulmões o PRO. aos rins o TCHE e ao baço-pâncreas o I. E o que são estas atividades mentais a que Faubert e outros estu- diosos convencionaram denominar de "Entidades Viscerais"? CHENN Corresponde ao "consciente". Seu domicflio é o coração. Seu ideograma significa "o que cai do céu e atravessa o corpo". É á sTntese das quatro seções de que se compõe ,o psiquismo (I, PRO, TCHE, ROUN); é a inteligência global, a razão guiada pelos princf- pios e pela moral e não pelos instintos e pela necessidade. Elemento imaterial da energia astral é a força cósmica que através de suas ondas anima a forma dando-lhe a razão e a inteligência. J. Choaim afirma que "o homem não é senão a consciência mais avançada da matéria." 27 Faubert esclarece que "o CHENN é recebido na concepção; significa inteligência global ••. é a possibilidade mais ou menos desenvolvida de analisar e sintetizar o conjunto dasinformações recebidas com o prop6sito de torná-Ias operacionais. Influencia permanentemente as outras "entida- des viscerais" constituindo o elemento referencial da vida mental. Quando se afirfTIa que o CHENN se localiza no coração, trata-se do coração celes- te, o psiquismo cuja srntese se efetua no cérebro. Quando há excesso energético do CHENN - e, portanto, do cora- ção - há excitação mental, alegria e riso exagerados. Na insuficiência há abatimento, muitas queixas, incapacidade de es- forço ffsico e mental. Seu domicflio é o baço-pâncreas. Seu ideograma significa o sol (ou a palavra) que se levanta acima do coração-espfrito. É a concentração de esprrito, a faculdade de compreender, a reflexão. É a faculdade de repetir as imagens de 'que se tem consciência; é a me- morização que permite a reflexão. A imaginação consciente depende do I; assim, a técnica psicanalftica do "sonho acordado dirigido" (Desoille) s6 deve ser aconselhada na insufi- ciência do I. Para Faubert "ao I corresponde a possibilidade de reflexão, o desejo e a mem6ria". As informações que o "fichário-mem6ria" possui são constituídas de sensações, lembranças e imaginação (estabelecidas a partir das sensa- ções e das lembranças). O I é dedutivo e funciona por distinções e analogias: estabelece se duas coisas são iguais ou diferentes, quais as semelhanças e quais as di- ferenças. Quando há excesso há obsessões voltadas para o passado; idéias fi- xas, repetições. Na insuficiência há esquecimento, mem6ria fraca, ausência de dese- jo, desgosto e ansiedade. ROUN Corresponde ao subconsciente freudiano. 'Seu domicflio é o ffgado. 28 . I . I Seu ideograma significa palavra e fantasma (espectro). É a inteligência instintiva ou inteligência coletiva das células, não guiada pelos princfpios e pela razão como o Chenn. É a vitalidade ffsica oposta à energia mental e moral do CHENN. Quando o organismo é ameaçado em sua perpetuação e precisa agir rapidamente, o "I" (reflexão) é desconectado e o ROUN, que age por exci- tação-reflexo, toma o comando. Durante tais perrodos as sensações são registradas e depositadas no Roun sem que este efetue qualquer classifi- cação 16gica ou analógica: é o que acontece nas lutas em que não há tempo para "pensar" qual o tipo de defesa adequado para determinado tipo de ataque e s6 a reação instintiva comandada pelo Roun permite a res- posta rápida e adequada (Tai-Chi-Chuan). Nesta parte do organismo são armazenadas as ordens-defesas do ambiente e uma parte da mem6ria hereditária (outra parte ficará no Pro). O Roun não estabelece diferenças e analogias; todas as informações são de valor idêntico; são registradas sem serem selecionadas e, por isto, nos momentos de urgência ou de perigo (mesmo que s6 supostamente como tal), pode restituir até mesmo as alienações ditando ações conforme modelos considerados como seguros porque anteriormente o foram. É literal na interpretação das palavras e dos atos. O Roun controla o sistema nervoso e é através dele que são implan- tadas as ordens hipn6ticas. Os pesadelos indicam que a energia do ffgado está perturbada e, por- tanto, também o Roun. No excesso há irritabilidade e cólera. Na insuficiência há falta de imaginação e de coordenação das idéias. TCHE Seu domicflio são os rins. Seu ideograma significa coração e ministro: execução das intenções. A tenacidade, a coragem e o espfrito de decisão dependem do T che. O ato sexual depende da essência energética dos rins; dar as conse- qüências para o T che, com nefasta repercussão para o Chenn, dos exces- sos ou das insuficiências por abuso ou repressão do ato sexual. Certos grupos taoistas evitam a conclusão do ato sexual para que não haja diminuição energética dos rins e, portanto, do Tche e do Chenn. É a força que anima as três seções do psiquismo (I, PRO e ROUN), permitindo maior ou menor manifestação do CHENN. 29 / Na plenitude obseNa-se temeridade e autoritarismo. Na insuficiência temos indecisão, angústia, medo visceral, ausência de propósitos e fraqueza de caráter. PRO Os pulmões são o seu domicflio. É o inconsciente freudiano. Seu ideograma significa brancura (forma abreviada figurando o "si mesmo") e espectro, ou seja, a própria sombra psTquica, a parte incons- ciente do "eu". É a parte obscura e "mal iluminada" que determina se agi- remos ou não, se aceitamos ou rejeitamos. Aqui estão registradas as dores ffsicas, enquanto que as dores emo- cionais estão no ROUN. O PRO significa também a inteligência animal profunda das células; representa, portanto o programa celular, o instinto. Os mecanismos glandulares estão, sob seu controle: as endócrinas possuem dados para cada situação e podem assim responder imediata- mente ao "stress" do ambiente ou às diretrizes do CHENN, do I ou do ROUN. Em excesso o PRO determina agressividade, obsessão do futuro, tristeza e romantismo. Na insuficiência há perda de reflexo e do instinto de conseNação (suicidas em potencial) e desinteresse pelas coisas. G. S. M. vê no ROUN, no PRO e no CHENN os três planos do psT- quico: O PRO é o plano inferior a que denomina "Primata", correspondendo ao "arquicortex" ou cérebro reptiliano de Mac-Lean, podendo ser detectado para fins de diagnóstico no pulso esquerdo, profundo, adiante do pulso 111 - seria o pulso IV. O ROUN é o plano médio e "graças à ação prática obtida sobre ele, mostra-se duplo: a) os lóbulos parietais direitos parecem comandar a memória heredi- tária, os dons inatos bons ou maus; memória inteiramente inconsciente. Faz agir sem reflexão. É por ele que se cumpre nosso destino. Quando ou- ' tras partes do psTquicb ou do meio são em contradição ele pode levar às neuroses ou às psicoses se a razão não é sólida. É o "Autômato" (GSM 295). 30 b) os lóbulos parietais esquerdos parecem agir sobre duas formas de memória: consciente, podendo evocar as imagens e as palavras à vontade; semi-consciente, registrando sem saber imagens, ritmos, slogans ouvidos mas não escutados, mas que, entretanto, influen- ciam e podem sob certas circunstâncias reaparecer na memória consciente. É o "Papagaio" (GSM pág. 295). No pulso esquerdo - IV - em profundidade média, no rebordo radial da artéria diagnosticamos o "Autômato" e no rebordo mediai o "Papagaio". Corresponde ao mesocortex (dos mamíferos inferiores) de MacLean. O CHENN é o plano superior que GSM denomina "EvoluTdo". É o neo-cor- tex de MacLean. É ainda GSM que afirma: "a palavra "Evolufdo" parece a mais apro- priada como tradução de CHENN que o dicionário explica assim: torna-se um homem; é evolufdo, não é mais um animal; este nome é ainda empre- gado para os gênios, os sábios; para a alma. Vê-se que, além do conscien- te de Freud, este plano ! possui a razão e a consciência moral, o sentido das realidades." O pulso IV, esquerdo, superficial, lhe pertence. Faubert e Choain são categóricos: "as atividades mentais estão sob a dependência direta da energia dos órgãos. Primeiro os órgãos, o corpo e em seguida, como a fumaça menos manifestada se desprendendo da le- nha mais manifestada, a atividade mental. Sabemos que a atividade mais manifestada (inn) do corpo permite a atividade psTquica (iang) da pes- soa ..• assim, a vida psfquica é animada pela energia dos órgãos mas esta não a engendra." A alegria e o riso são relativos ao CHENN, o canto e a reflexão ao I, o choro e a tristeza ao PRO, os gemidos e o medo visceral ao TCHE e os gritos e a cólera ao ROUN. Assim, de acordo com o ciclo "KO" de inibição em que cada um dos cinco elementos domina outro, a alegria e o riso do- minam a tristeza, a reflexão e o canto dominam o medo etc. Em conclusão, apresentamos três esquemas que, provavelmente, com mais clareza farão entender melhor o que se convencionou chamar de "Entidades Viscerais". • • • 31 PRÉ-NASCIMENTO CÉU ANTERIOR INATIVIDADE CARACTERES HEREDITÁRIOS ESQUEMA 1 ESQUEMA 2 NASCIMENTO PÓS-NASCIMENTO CÉU POSTERIOR ATIVIDADECARACTERES ADQUIRIDOS Srntese e utilização r-----l das informações recebidas informações memorisadas adquiridas depois .?-----l .do nascimento · Os elementos hereditârios ESQUEMA 3 Elementos hereditârios do passado ancestral: comportamento previsrvel são modificados pelos elementos adquiridos' comportamento variâvel 32 I t b) os lóbulos parietais esquerdos parecem agir sobre duas formas de memória: consciente, podendo evocar as imagens e as palavras à vontade; semi-consciente, registrando sem saber imagens, ritmos, slogans ouvidos mas não escutados, mas que, entretanto, influen- ciam e podem sob certas circunstâncias reaparecer na memória consciente. É o "Papagaio" (GSM pág. 295). No pulso esquerdo - IV - em profundidade média, no rebordo radial da artéria diagnosticamos o "Autômato" e no rebordo mediai o "Papagaio". Corresponde ao mesocortex (dos mamíferos inferiores) de MacLean. O CHENN é o plano superior que GSM denomina "Evolufdo". É o neo-cor- tex de MacLean. É ainda GSM que afirma: "a palavra "Evolufdo" parece a mais apro- priada como tradução de CHENN que o dicionário explica assim: torna-se um homem; é evolufdo, não é mais um animal; este nome é ainda empre- gado para os gênios, os sábios; para a alma. Vê-se que, além do conscien- te de Freud, este plano ! possui a razão e a consciência moral, o sentido das real idades." O pulso IV, esquerdo, superficial, lhe pertence. Faubert e Choain são categóricos: "as atividades mentais estão sob a dependência direta da energia dos órgãos. Primeiro os órgãos, o corpo e em seguida, como a fumaça menos manifestada se desprendendo da le- . nha mais manifestada, a atividade mental. Sabemos que a atividade mais manifestada (inn) do corpo permite a atividade psfquica (iang) da pes- soa • . • assim, a vida psfquica é animada pela energia dos órgãos mas esta não a engendra." A alegria e o riso são relativos ao CHENN, o canto e a reflexão ao I, o choro e a tristeza ao PRO, os gemidos e o medo visceral ao TCHE e os gritos e a cólera ao ROUN. Assim, de acordo com o ciclo "KO" de inibição em que cada um dos cinco elementos domina outro, a alegria e o riso do- minam a tristeza, a reflexão e o canto dominam o medo etc. Em conclusão, apresentamos três esquemas que, provavelmente, com mais clareza farão entender melhor o que se convencionou chamar de "Entidades Viscerais". • • • 31 PRÉ-NASCIMENTO CÉU ANTERIOR INATIVIDADE CARACTERES HEREDITÁRIOS ESQUEMA 1 ESQUEMA 2 NASCIMENTO PÓS-NASCIMENTO CÉU POSTERIOR ATIVIDADE CARACTERES ADQUIRIDOS \-----------1 Srntese e utilização ,-------ldas informações recebidas informações memorisadas adquiridas depois ;::><----l .do nascimento Os elementos hereditários Elementõ-s hereditários do passado ancestral: comportamento previsrvel são modificados pelos elementos adquiridos' comportamento variável ESQUEMA 3 32 I.' • "simillimum" e na Acupuntura a escolha do "ponto de comando" a ser es- timulado. Assim é que nasceram as diversas classificações baseadas na cons- tituição e no temperamento não só do homem doente como também do homem são, com a intenção primordial de perceber a herança genética, hereditária, que, aliada a fatores existenciais, permitem detectar as ten- dências mórbidas do indivfduo. É interessante observar que tais caracterfs- ticas desvendam o passado, escrevem o presente e antecipam o futuro ff- sico e psfquico de cada um. Também a astrologia, tanto a oriental como a ocidental, pretende conseguir o mesmo objetivo substituindo os sintomas e caracterfsticas individuais pela hora, dia, mês, ano e local de nascimento. Algumas teorias tipológicas merecem ser lembradas: - os tipos constitucionais de Vannier (carbôn ico, fluórico, fosfórico e mix- to), cada um relacionado com grupos de remédios que apresentam as caracterfsticas de cada tipo; - a teoria humoral de Galeno classificando os indivfduos em quatro tem- peramentos: nervoso, bilioso, sangüfneo e fleugmático; - as quatro diáteses: psora, tuberculismo, sicose e luetismo; - os tipos constitucionais do "SO OUENN" relacionando cada um a um elemento, um planeta, a uma função orgânica etc. A tipologia pode acrescentar um terceiro elemento ao procedimento terapêutico homeopático e acupuntural: ~ TiPOIOgia~ sintomas Y . terapêutica ou seja, os sintomas peculiares de cada paciente orienta o terapeuta a classificá-lo em determinado tipo (seja qual for a nomenclatura adotada). De posse destes dados (sintomas + caracterfsticas = tipo) é possfvel a de- terminação do tratamento adequado. Exemplificando com a Acupuntura, imaginemos um paciente que apresenta os seguintes sintomas: urina colorida, rara; pés quentes, pesa- dos, dolorosos; Ifngua seca; cefaléias freqüentes. Tais queixas sugerem uma patologia renal ligada à tipologia água-mercúrio. Em seguida confir- mamos nosso julgamento constatando que o indivfduo tem voz sonora, muito timbrada, gestos rápidos e todo o conjunto de pessoa autoritária e decidida. 35 Provavelmente a semelhança maior entre a Acupuntura e a Homeo- patia é, como afirma GSM, "a ação paralela das duas ciências provada pela identidade de ação das dinamizações e dos pontos de comando". Ambas agem diretamente sobre a energia sem necessidade de introduzir qualquer substância no corpo .Hsico para substituir a ação natural do orga- nismo. Weihe aumenta a identidade entre as duas terapêuticas quando des- cobre que cada ponto doloroso se relaciona com um conjunto de sintomas que, ao mesmo tempo corresponde a determinado remédio homeopático; sem conhecer a Acupuntura Weihe descreve os mesmos grupos de sinto- mas que a ciência da energia há milênios já descrevia e relacionava com os mesmos pontos indicados pelo médico alemão. Ferreyrolles e De la Fuye, ambos discfpulos de GSM, procuraram completar o trabalho de Weihe, principalmente o segundo que conhecendo bem a Acupuntura e a Homeopatia, percebeu a grande lacuna na falta de indicação de pontos dolorosos nos membos, justamente onde se encon- tram os pontos antigos - SU - com os Quais, e somente com eles, é pos- sfvel transferir a energia de uma função para outra, o que os toma os mais importantes da Acupuntura. Em seu Tratado, no Tomo 11, De la Fuye apre- senta as conclusões de sua pesquisa indicando em cada ponto o medica- mento correspondente. Resumindo, além da semelhança entre os pontos de comando e os pontos de Weihe, além da identidade na técnica de abordagem do cliente para determinar seu tipo, as duas terapêuticas se aproximam ainda em: a) objetivar a cura pelo equilfbrio das energias; b) pelo estfmulo das ações e reações naturais do organismo; c) tratar o doente e não a doença que é a manifestação individual, pecu- liar a cada um, do desequilfbrio energético; d) não se utilizar de "substãncia" material que alterando o meio qufmico do organismo, em geral o prejudicam; e) observar as fases de melhora ou agravamento em função da hora, da estação do ano, das fases da lua, do clima etc., para melhor caracterizar o quadro global individual. Muitos outros paralelos poderiam ser apontados entre as duas tera- pias sem causar surpresa; desde que nos lembremos que ambas tendo· como objetivo-base equilibrar as energias vitais, tudo o que as pode in- fluenciar deve ser levado em consideração, desde a alimentação e o tipo de vida, até as próprias energias celestes e telúricas a. que estamos per- manentemente submetidos. 36 Qual a origem, o que são e como se manifestam estas energias e quais os dados necessários para a classificação tipol6gica do indivfduo, são conhecimentos que integram a sabedoria tradicional de que faz parte a Filosofia Taoista, mas que o ocidente conhece desde Hipocrates - e talvez antes. Inegavelmente, é na MTC que encontramos, relativamente às ener- gias, os mais completos e profundos estudos concementes às suas origens - respiração, alimentação e herança genética -, às suas manifestações no corpo e seu relacionamentocom os órgãos e funções e seus respectivos sintomas de desequilfbrio. O que hoje é uma verdade cientffica, os chineses já conheciam há 5.000 anos: a matéria é uma forma de energia que se manifesta aos nos- sos sentidos como sólida e compacta apenas em função de sua maior - ou menor - vibração e em razão da limitação de nossos sentidos. Cada órgão, cada função, cada parte do corpo tem um comprimento de onda pe- culiar que encontra ressonância nas substâncias minerais, vegetais e ani- mais que o homeopata utiliza em doses infinitesimais para conseguir a mesma vibração do órgão que deseja equilibrar. é a lei da Analogia em ação. Em adendo a este capftulo apresentamos a trtulo ilustrativo alguns pontos de acupuntura relacionand(H)s com os pontos de Weihe e de De la Fuye e os respectivos remédios homeopáticos. • • • 37 PONTOS DE WEIHE / PONTOS DE ACUPUNTURA E HOMEO-SINIÁTRICOS DE DE LA FUYE Alguns exemplos: Pontos da Acupuntura E14 E16 E18 R13 R14 R20 R26 Pontos da Acupuntura C5 C9 ID8 B54 B67 R1 TR3 Tr15 VB43 VB38 F2 F9 IG11 Pontos de WEIHE Direito Arnica Drosera Nux mosc. Rhododendron Platina Gummi dut. Borax Pontos de De La Fuye Phosphorus Digitalis Oenantha cr. Luesinum Kali carb. Lycopodium Silicea Natrum Sulfuricum China Berberis Bryonia Ammon. carb. Alumina 38 Esquerdo Viola Tr. Spongia Evonimus Pulsatila Kali bichr Arsenicum Actaea ACUPUNTURA E IOGA Capítulo VIII A semelhança entre os objetivos e as técnicas para alcançá-los, na Ioga hindu e na Filosofia taoista chinesa, sugere uma origem comum, qualquer que seja, na Mongólia ou no Tibet ou até na discutida Atlântida. Libertação, salvação, imortalidade, são expressões como tantas ou- tras que definem o ideal a ser alcançado, porque ao mesmo tempo signifi- cam a finalidade do homem. A diferença entre os métodos reside na variedade de temperamento dos povos: o ocidental possui na religião católica a esperança de salva- ção, religião que se baseia na fé, ato da vontade deliberada sustentada pela emotividade; o oriental, que também possui aspectos de religiosidade mfstica, prefere, entretanto, em sua maioria, métodos ativos de realização, que se estendem desde o controle fisiológico do corpo até o perfeito domf- nio das funções psico-mentais e da mudança dos estados de consciência que lhe permitem até tomar-se "uno com a divindade". O ocidental ama um Deus antropomórfico, exterior; o oriental parte do principio de que existindo em todas as coisas Deus também existe em seu interior, bastando-Ihe apenas unir a sua consciência à d'Ele. Dentro deste ponto de vista - o homem é parte integrante de Deus - a Ioga e o Taoismo procuram conduzir a consciência, que normalmente es- tá focalizada no plano fTsico, para nfveis superiores em sintonia com a cen- telha divina que ilumina cada um e a todos os seres. Tan~o na Ioga, que quer dizer "união" - união com a divindade - quanto no Taoismo, expressão derivada de ''Tao'' que significa caminho ou via que leva ao divino, a saúde fTsica e psiquica são fundamentais: as téc- nicas da Ioga devem contribuir ao mesmo tempo, para o perfeito funcio- namento do fTsico quanto para o aperfeiçoamento espiritual; a Filosofia Taoista, através da MTC -especialmente da Acupuntura, cuida do equilf- brio energético fTsico, suporte da realização superior - psiquica. A Acupuntura permite entender os procedimentos da Ioga que, princi- palmente no ocidente, são seguidos sem explicação racional competente para seu mecanismo de ação. Aliás, no Brasil e na maioria dos pafses oci- dentais, o individuo adquire alguns livros sobre Hatha Ioga, pratica um pouco os exercicios e logo abre uma "academia" e torna-se "guru". 39 (Infelizmente fato idêntico está acontecendo com a Acupuntura). Pergunte- se por que tal ou qual postura "assana" - é benéfica para este ou aquele órgão ou, ainda, por que os exercicios respiratórios devem fazer parte inte- grante da Hatha Ioga e não teremos resposta satisfatória. Ginástica, exercfcios respiratórios e controle mental são, em resumo, os métodos preconizados pela Ioga e pelo Taoismo para a realização do discfpulo; são os caminhos que conduzem à perfeição, à salvação e à imortalidade e todos são caminhos que passam pela saúde, pelo equilíbrio energético que deve preceder à iluminação. A maior diferença entre as técnicaS hindús e chinesas encontra-se na ginástica: o hindú com o Hatha Ioga, as posturas, estáticas por natureza; o chinês com o Tai-Chi-Chuan, movimentado e dinâmico. Uma e outra pro- curam estimular as correntes energéticas que percorrem o corpo: os nadis- hindús, chamados meridianos pela Acupuntura, constitufdos pelos centros de energia que são os pontos de Acupuntura, na índia denominados "cha- kras". Cada postura do Hatha Ioga e cadq movimento do Tai-Chi-Chuan é uma forma de influenciar as funções orgânicas e os estados psfquico-men- tais, razão por que a cada um devem ser aconselhados determinados mo- vimentos - ou posturas - tendo em vista as suas necessidades, seus pon- tos fracos, os desequilfbrios a serem corrigidos. Na índia o guru-vidente "lê o aura" do discfpulo e recomenda a postura adequada; na China, os méto- dos próprios de diagnóstico da MTC dispensa a vidência para determinar os movimentos ou os pontos a serem estimulados. A ciência da respiração é a segunda alavanca que permite ao homem evoluir ffsica e psiquicamente. Podendo a respiração ser consciente ou inconsciente, constitui-se assim numa verdadeira "porta de entrada" para o comando consciente das funções inconscientes, da vida vegetativa controlada pelo sistema nervoso central, passo básico que possibilita mudanças de estado de consciência necessárias para o completo desenvolvimento do praticante. A respiração superficial e incompleta que inconscientemente usamos durante toda a existência serve apenas para a manutenção da vida. Um estudo aprofundado da energia que absorvemos do ar através da respira- ~ ção e seus possfveis mecanismos de ação nos estimulará a tentar um melhor aproveitamento desta poderosa força que negligenciamos por igno- rância. 40 Pela respiração, nos ensina a MTC, absorvemos a energia celeste - iang -, da mesma maneira que pelos alimentos obtemos a energia ter- restre - inn -, que juntamente com a energia ancestral, hereditária, genéti- ca, constituem o "triângulo da vida" e a chave para compreender os misté- rios do Universo. A Ioga clássica, codificada por Patanjali - Raja Ioga ou Ioga Real - enumera oito etapas escalonadas que o discipulo deve observar: 1) Yama - abstinência; 2) Niyamas - disciplinas ou obrigações; 3) Assanas - posturas; 4) Pranayama - controle da respiração; 5) Pratyahara - retração dos sentidos; 6) Oharhana - concentração; 7) Ohyana - contemplação; 8) Samadhi - identificação, união. As duas primeiras etapas - Yama e Niyama - estão relacionadas com os aspectos moral e emocional, respectivamente com as proibições e com as obrigações a que o discfpulo deve obedecer; a terceira etapa - as posturas - objetiva o controle do corpo e o equilfbrio das energias vitais para eliminar os obstáculos ffsicos que impediriam o praticante de realizar as etapas mais avançadas. A quarta etapa - pranayama - tem por finalidades: a) absorver eficientemente a energia cósmica; b) distribuir equilibradamente esta energia; c) tornar consciente funções normalmente inconsciente; d) controlar os estados emocionais, psfquicos e mentais; A técnica para alcançar estes fins reside, principalmente: a) na altura da respiração (baixa, média e alta); b) na divisão em quatro tempos do processo respiratório (puraka ou inspi- ração, kumbaka ou retenção do alento e rekaka ou expiração); c) no ritmo; d) na concentração do discfpulo no ato respiratório. Todos estes detalhes são devidamente explicados, justificados e pre- conizados pela MTC. Tomemos como exemplo a "altura da respiração" com seus três nfveis, cada um energizandouma das três funções do "triplo rea- quecedor", o TR. Para os que não conhecem Acupuntura esclarecemos que o TR é assim denominado - triplo - porque corresponde a três funções que são localizadas em perfeita identidade com os três nfveis da respiração: 41 1 º - nfvel baixo: TR inferior, do pubis ao umbigo, relativo às funções geni- to-urinárias; 2º - nfvel médio: TR médio, do umbigo à linha do diafragma, relativo à função digestiva; 3º - nfvel superior: TR superior, da linha do diafragma à linha dos om- bros, relativo às funções cárdio-respiratórias. Também na divisão em quatro tempos do processo respiratório a jus- tificativa de sua eficiência é praticamente a mesma, na tradição hindú e na chinesa: a primeira ensina que a energia retirada do ar é distribufda pelo "chacra esplênico" e a segunda acentua a importância desta técnica expli- cando que na retenção da respiração o baço também distribui as energias que são retiradas dos alimentos e as transfere para as várias funções or- gânicas de acordo com os sabores peculiares a cada uma. Os mestres hindús aconselham que inicialmente a respiração deve ser praticada em doze tempos: quatro tempos para a inspiração, dois tem- pos para a retenção do ar com os pulmões cheios, 'quatro tempos para a expiração e dois tempos para a retençãe:> com os pulmões vazios. Trata-se de obedecer ao ritmo cardfaco normal em que quatro batimentos devem corresponder a cada inspiração e a cada expiração e a retenção a dois ba- timentos cardfacos. A MTC explica que nos quatro tempos da inspiração são absorvidas e preparadas as energias que são distribufdas nos dois tempos de retenção depois da inspiração (kumbakha interior); na expiração são eliminadas as energias nocivas e nos dois tempos seguintes de reten- ção (kumbakha exterior) o organismo limpo de impurezas, energizado e equilibrado, conduz o discfpulo a planos mais elevados. Ao estudar o relacionamento da Ioga com a Acupuntura GSM men- ciona outros quatro tipos de respiração: a) purificante, 2) vi talizante, 3) para a voz e 4) para estimular o cérebro, mas acentua a importância da respira- ção tripla (baixa, média e alta) ensinando até a ordem e como deve ser praticada: inspirar enchendo primeiro o ventre, depois o tórax e por fim a parte superior dos pulmões; expirar esvaziando primeiro o fundo dos pul- mões (parte inferior) retraindo o ventre, em seguida o tórax e por últ imo a parte superior dos pulmões, abaixando os ombros. Seguindo os oito passos da codificação de Patanjali, depois do col')- trole da respiração - pranayama - que pode ser considerado como a fron- teira entre o ffsico e o psfquico, o discfpulo deverá entrar em pratyhara - retração dos sentidos - como base para a concentração e meditação atin- gindo em seguida ° estado de dhyana e, finalmente, a união - o samadhi. 42 O adepto taoista também percorre estas etapas - com nomes dife- rentes - observando o' preceito básico: "lutai contra a febre de tudo saber; é pela ausência de pensamento e de reflexão que se pode iniciar o Tao". O ideal taoista é a imortalidade e o caminho começa com os procedimen- tos terapêuticos que objetivam a saúde: acupuntura, fitoterapia e dietética. Do mesmo modo que na China, as correntes se multiplicaram na in- dia, porém, de modo geral, com o mesmo fim da imortalidade, razão por que até hoje se discute se devem ser classificadas como Escolas Filosófi- cas ou Religiosas. Ultrapassa as dimensões deste trabalho traçar um paralelo maior e mais detalhado entre a índia e a China no que diz respeito aos procedimentos psfquicos-religiosos, já tendo sido abordados em capftulo anterior (Acupuntu- ra e Psiquismo) os fundamentos da MTC relativos aos aspectos mentais. Mas vale lembrar, para concluir, a importância que os hindús atribuem aos sete chacras principais, centros de energia que os chineses têm estu- dado profundamente, pilares de todos os procedimentos que levam à evo- lução e à libertação da roda da vida e dos ciclos de reencarnação (roda de samsara), 5 deles com rafzes nos pontos de Acupuntura situados nas cos- tas ao lado da coluna vertebral e que, como se fossem flores do lotus, de- sabrocham na frente do corpo em outros pontos de Acupuntura de funções perfeitamente conhecidas, fazendo a fusão do inn com o iang chinês, de fohat e kundalini, segundo a terminologia hindú. A ascensão de kundalini - o desenrolar da serpente - percorrendo as rafzes dos sete chacras desde a base até o centro superior - chacra coronal do hindú e ponto VG 20 Pae- Roe da Acupuntura - corresponde à interação da energia inn do meridiano Jenn-Mo (Vaso da Concepção) com a energia iang do meridiano Tou-Mo (Vaso Governador), meridianos que dividem o corpo em duas metades, em linhas verticais, o primeiro na parte anterior do corpo onde se encontram as flores do lotus e o segundo na face posterior onde estão as rafzes dos chacras. Estimulando certos pontos destes meridianos os acupunturistas esta- rão contribuindo para o equilfbrio ffsico e psfquico, e inegavelmente tam- bém à integração das duas energias no homem e, por extensão, no Uni- verso. Agindo nos pontos de Jenn-Mo, na frente do corpo, na parte inn, o acupunturista está agindo na parte ffsica, material, nas funções respiratória e digestiva, enquanto que ao trabalhar os pontos do Tou-Mo, nas costas, parte iang, está aumentando a absorção das vibrações imateriais através de ondas ressonantes no sistema nervoso e que constituem nossa "nutri- ção espiritual". • • • 43 ACUPUNTURA E MACROBiÓTICA Capftulo IX Acupuntura e Macrobiótica têm pontos comuns porque ambas podem ser analisadas com a aplicação dos princípios da Filosofia Taoista. A dife- rença, lamentável diferença, consiste em que a Macrobiótica limita-se a aplicar as bases da Escola Inn-Iang sem tomar conhecimento da Escola dos Cinco Elementos que poderia levá-Ia a um lugar de destaque como parte integrante da MTC. Partindo da dietética zen-budista G. Ohsawa criou a Macrobiótica com seus dez tipos de regimes em que o mais severo é constitufdo apenas de cereais (o nº 7-sete) e os demais, abrandando gradativamente, permite a inclusão de legumes, sopas, produtos animais, saladas, frutas, sobreme- sas e até Ifquidos em pequenas quantidades. A par da inconteste eficácia terapêutica da Macrobiótica, com resul- tados surpreendentes em distúrbios onde outras terapias têm fracassado, verificamos efeitos negativos, às vezes irreversíveis, com evidentes prejuf- zos para a saúde de alguns pacientes, pela sua adoção indiscriminada. Realmente, temos visto curas que nos pareciam diffceis, talvez impossf- veis, mas, ao mesmo tempo, não foram poucos os que abreviaram seu tempo de vida insistindo na sua prática, apesar de definharem progressi- vamente a olhos vistos, pela inobservância de regras que a MTC estabele- ce. Os divulgadores desta dietética relacionam os alimentos de acordo com a classificação inn-iang, observando ainda certas caracterfsticas como o clima, condições geográficas e topográficas etc., mas esquecem as rela- ções analógicas pertinentes aos cinco elementos e relativas aos biótipos, classificando toda a humanidade em apenas dois tipos - inn ou iang -, quando toda a tradição oriental e ocidental ensina uma classificação mais detalhada. Assim, por exemplo, a alimentação do indivíduo iang, tipo "fo.: go" não pode ser a mesma do iang tipo "madeira", sob pena de aumen- tarmos o desequilíbrio das funções correspondentes àqueles elementos. Inúmeras outras divergências podem ainda ser citadas entre os ensi- namentos da MTC e os de G. Ohsawa: 44 a) - a afirmativa de que a divisão entre os órgãos inn e iang na MTC é de origem metaffsica, pois os intestinos, a bexiga, o estômago e a vesf- cuia são classificados como de natureza "iang" quando, fisicamente devem ser considerados como "inn", é afirmativa gratuita que não se encontra em nenhum dos clássicos da MTC; b) - em sua obra "A filosofia da medicina oriental" - pág. 20 - Ohsawa escreve: "Amelhor proporção de K/Na (potássio-sódio) corresponde a cinco. Todos aqueles que tiverem uma relação superior a cinco são "inn" e todos os inferiores são "iang". O Na (sódio) pode ser conside- ~~do" como i~dicador do grupo "iang" e o K (potássio) dos elementos Inn . A funçao K/Na é muito prática uma vez que Na e K encontram- se em quase todas as composições qufmicas." Também não encon- tramos amparo nos ensinamentos tradicionais relativamente a tal as- s:rtiva; e ? próprio Ohsawa se contradiz quando anota: "Aqueles que sao constituídos de mais força "inn" do que de força "iang" são cog- nominados de "inn". No caso contrário de "iang". E, mais adiante, ao catalogar os "sete princfpios universais do universo infinito": " 5 - Tudo que tem uma face tem um dorso. 6 - Quanto maior é a face maior é o dorso. " É fora de dúvida que o ideal, segundo a lei da complementaridade e dos opostos, será o equilfbrio perfeito entre as duas forças: a toda manifestação "iang" deve corresponder uma manifestação "inn" de igual intensidade. c) - A posição privilegiada que os macrobióticos dão aos cereais não se fundamenta em ensinamentos taoistas; pelo contrário, são até consi- der~dos nocivos como se vê nas citações de H. Maspero em "Le taolsme e I~s religions chinoises" - pág. 367: "Aqueles que querem procurar a Vida Eterna devem logo expulsar os "três vermes" declara o imortal Liu Gen. Para isto recorre-se a procedimentos dietéticos onde o primeiro ponto é "interromper os cereais" - guegu -, quer di- zer, cessar de comer os cinco cereais que formam a base da alimen- tação chinesa: arroz, milho, chá, aveia e feijão; diz-se também "se abster ~e cereais" ,- b~gu -, ou ainda "suspender os grãos" - xiuliang -. Os cinco cereais sao as tesouras que cortam a vida ' elas corrom- pem as cinco vfsceras ..• " E, à pág. 369: "Privado de grãos e de carne aquele que pratica este regime está sub-alimentado; e os autores 45 taoistas admitem que a prindpio pode haver numerosas perturba- ções, umas gerais (sonolência, dificuldade para se mover etc.) e ou- tras locais (diarréia, constipação etc.). Aconselham, entretanto, de perseverar afirmando que desaparecem dentro de algumas semanas e que cedo o corpo se sente como antes e mesmo melhor ainda, mais calmo e mais alegre ••• As receitas de drogas para ajudar a prá- tica da "Abstenção dos Cereais" são numerosas: o ginseng, a canela, o sésamo, a digitalis, a alcaçuz e todos os fortificantes chineses tra- dicionais que têm ar uma função preponderante." Não conhecemos nenhuma contestação por parte dos ITderes da macrobiótica às adver- tências acima, mas podemos imaginar uma: a de que tais preceitos seriam válidos apenas para os adeptos que desejam atingir a imorta- lidade e seria ainda H. Maspero que responderia: - pág. 365: "O que causa a morte é o hábito de se nutrir de cereais. Com efeito, os ce- reais dão nascimento no corpo a "vermes" que corroem a vitalidade". d) - M; Kushi em sua obra "Le livre de la macrobiotique" procura preen- cher a lacuna existente nos ensinamentos de seu mestre quando alerta para "a necessidade de aju'stes e modificações da dieta se- gundo: 1 º a tradição; 2º o clima; 3º a mudança das estações; 4º as condições geográficas; 5º as condições sociais; 6º as diferenças pes- soais compreendendo as diferenças de idade, sexo, atividade e todas as outras possrveis diferenças." Nada mais correto do que a observância destas peculiaridades, mas não é isto que se vê nos restaurantes macrobióticos, onde pratos idênticos são servidos para todos os frequentadores independente de suas diferen- ças; outrossim, a explicação do "como" e "por que" de tais ajustes é in- completa e, portanto, insuficiente, senão vejamos: à pág. 73 Kushi escreve que "mesmo vivendo sob o mesmo clima, no mesmo momento e no mes- mo lugar, cada pessoa tem uma constituição, uma atividade e uma ocupa- ção diferentes, ao mesmo tempo que diferenças de idade e sexo. Aqueles que têm mais atividade mental devem comer ligeiramente mais "inn" en- quanto que aqueles que são mais ativos fisicamente devem comer mais "iang". Os primeiros tomarão menos alimentos e Ifquidos enquanto os se- gundos poderão tomar mais." Kushi chegou ao limiar da questão ••• e pa- rou. Ao dizer que cada pessoa tem uma constituição tocou na pedra an-- guiar do problema que, para ser resolvido, bastava ir mais adiante, avan- çando os ensinamentos da "Escola Inn-Iang" para a "Escola dos Cinco Elementos". 46 r . ' " , A aplicação da Lei Analógica aos Cinco Elementos com as respecti- vas funções e órgãos representativos, os cinco tipos humanos (cap. LXIV do Nei King) e os cinco sabores (cap. X do So-Quenn) é a base da dietéti- ca preconizada pela MTC, todos estes dados naturalmente dependentes dos métodos de diagnóstico peculiares à terapêutica acupuntural. Assim sendo, não basta saber apenas se o indivTduo tem mais ou menos necessidade de alimentos inn ou iang mas também diagnosticar as insuficiências ou excessos que possam existir em cada uma das funções, procurando a origem de tal desequilfbrio através de uma anamnese onde o paciente é estudado de modo global mas detalhado. Para melhor compreensão vamos rememorar os ensinamentos bási- cos em que se assenta a dietética segundo a MTC: a) - os cinco elementos - madeira, fogo, terra, metal e água, correspon- dem, respectivamente; b) - às funções - hepática, cardfaca, digestiva, respiratória e urinária, que se relacionam, na mesma ordem, com; c) - os sabores - ácido, amargo, doce, picante e salgado. Em caso de ex- cesso em qualquer função devemos evitar o alimento que lhe corres- ponde e em caso de insuficiência, procurá-lo. Por exemplo, na insufi- ciência renal devemos aumentar o consumo de alimentos salgados do mesmo modo que no caso de uma congestão das vias respirató- rias devemos evitar os alimentos picantes. O procedimento não é tão simples como pode parecer à primeira vista porque é preciso levar em conta também que cada elemento e, portanto, cada função, tem dominância ou inibição sobre outra, razão porque o alimento que be- neficia uma função pode agir em sentido contrário na função domi- nada, dependendo de vários outros fatores. A M'TC p8de ainda esclarecer vários preceitos dietéticos da Macro- biótica como, por exemplo, a mastigação demorada dos alimentos, proce- dimento que tende a salivá-los bastante e, já que a saliva é "inn", aumen- tar esta energia para equilibrá-Ia com os ácidos estomacais que são de na- tureza "iang". Não avançaremos mais em detalhes porque fugiriamos ao escopo deste trabalho que é dar ao leitor uma visão panorâmica, sintética, das interações entre a dietética Macrobiótica e a preconizada pela tradição oriental. Mas não podemos encerrar este capftulo sem citar novamente M. Kushi que foi buscar na MTC a grande verdade, já citada por nós em capT- tulo precendente, de que "o homem come os alimentos materializados e o 47 ar graças aos sistemas digestivo e respiratório situados na parte anterior de seu corpo e absorve os alimentos de natureza vibratória, as ondas, as radiações que constituem o ambiente imaterial e invisfvel, graças ao sis- tema nervoso situado na parte posterior do corpo e à rede de meridianos. Pode-se chamar à primeira "nutrição material" e à segunda "nutrição espiri- tual". • • • 48 , " ACUPUNTURA E I KING Capítulo X o I King é indefinfvel, pois definir é sempre limitar e até onde conse- guimos saber, o I King é tão abrangente, tão vasto em seu relacionamento com a arte, ciência e religião que tentar defini-lo seria correr o risco de ficar na situação dos cegos que jamais tendo visto um elefante tentarem defi- ni-lo baseados no tato, cada um descrevendo a parte que conseguira tocar. I King significa "livro das mutações" ou transformações, "I", segundo Legge - um dos poucos tradutores confiáveis - "é o sfmbolo das trans- formações, formado do sinal "sol" colocado acima do sinal "lua" e King, nome genérico dado aos livros canônicos. Originalmente
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