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_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM 21 2.3 MÉTODO DAS TENSÕES ADMISSÍVEIS O método das tensões admissíveis serviu de base às normas de dimensionamento de estruturas até recentemente. Este método introduz a segurança no dimensionamento estrutural de duas maneiras: 1°) Nos elementos submetidos a solicitações estabilizantes (decorrentes da tração) é utilizado o coeficiente de segurança interno ( iγ ). 2°) Nos elementos que podem apresentar instabilidade por flambagem (decorrentes da compressão) é utilizado o coeficiente de segurança externo ( eγ ), como por exemplo, em pilares (comprimidos), em vigas de aço (esbeltas) que não possuem adequadas contenções laterais e que podem apresentar flambagem lateral com torção quando submetidas à flexão, entre outros. Críticas ao método das tensões admissíveis: A medida da segurança introduzida por este método é bastante deficiente. 1ª CRÍTICA: Os coeficientes de segurança γ devem depender, entre outros fatores, da dispersão (ou variabilidade) das resistências dos elementos componentes de uma estrutura, as quais dependem dos parâmetros mecânicos do material (módulo de elasticidade longitudinal E, tensão de escoamento σe ou fy e tensão de ruptura σrup ou fu) e dos parâmetros geométricos da estrutura (dimensões das seções transversais, vãos, etc.). Quanto maior a dispersão nas resistências dos elementos da estrutura (resistência à tração, compressão, flexão, flexocompressão, etc.), maiores deveriam ser os coeficientes γ . As figuras a seguir mostram um exemplo de uma barra em uma estrutura de aço submetida a um esforço normal de tração e uma barra em uma estrutura de madeira submetida ao mesmo esforço, o qual tem um valor determinístico S. Como a barra de aço apresenta uma dispersão menor na resistência, por apresentar uma menor variabilidade nos parâmetros mecânicos do material (E, fy e fu), a probabilidade de que a resistência à tração seja inferior à solicitação de tração será menor, comparada à barra de madeira. _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM 22 A probabilidade de que a resistência seja inferior à solicitação é chamada de probabilidade de ruína ou probabilidade de falha (Pf), a qual é uma medida conceitualmente perfeita da segurança estrutural, como será estudado nos métodos probabilísticos. Estrutura de aço: Estrutura de madeira: Para que a probabilidade de falha Pf seja a mesma nos dois casos (barra de aço e barra de madeira), o valor médio da resistência da barra de Frequência normalizada S, R f.d.p. da resistência à tração de uma barra (perfil) de aço S Rd Rm γ mR Considerando a solicitação de tração com um valor determinístico S A probabilidade de que a resistência à tração seja inferior à solicitação de tração S é igual à área hachurada da f.d.p. da resistência da barra (perfil) de aço 2 m2R γ S Frequência normalizada S, R f.d.p. da resistência à tração de uma barra de madeira Rd Rm1 1 m1R γ Considerando a solicitação de tração com um valor determinístico S A probabilidade de que a resistência à tração seja inferior à solicitação de tração S é igual à área hachurada da f.d.p. da resistência da barra de madeira Rm2 _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM 23 madeira Rm1 deveria ser aumentado para Rm2, o que resultaria num coeficiente de segurança maior para obter a mesma resistência de cálculo Rd, isto é, γ2 > γ1. Isto justifica, por exemplo, a utilização de 2 =γ em uma estrutura de aço e a utilização de 4 =γ em uma estrutura de madeira, o que não significa que a estrutura de madeira vai ter uma segurança maior do que a estrutura e aço. Na verdade, se deseja que as duas estruturas tenham a mesma segurança. Esta simples consideração mostra que o coeficiente de segurança γ não é uma boa medida da segurança. Pergunta: Se duas estruturas, uma de madeira e outra de aço, são projetadas com 2 =γ qual das duas terá a maior segurança? Por quê? Resposta: A estrutura de aço, porque possui uma dispersão menor nas funções densidade de probabilidade (f.d.p.) da tensão de escoamento σe (ou fy), da tensão de ruptura σrup (ou fu) e do módulo de elasticidade longitudinal do aço E, consequentemente uma menor dispersão na resistência das barras de aço, em relação à estrutura de madeira. Conclusão: Apenas o valor de γ não define corretamente a segurança de uma estrutura. 2ª CRÍTICA: No método das tensões admissíveis existe a preocupação apenas com o estabelecimento de uma distância conveniente entre a situação de utilização e a situação que corresponde à ruptura ou colapso da estrutura. Não existe a preocupação com a verificação de outras condições que possam invalidar o uso da estrutura, como por exemplo, deformações e deslocamentos exagerados. OBS : No método das tensões admissíveis os valores nominais adotados são, em geral, valores médios. _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM 24 Sn → Solicitação nominal (esforço normal, esforço cortante, momento fletor ou momento de torção nominal), que neste caso é um valor médio (Sm). Sn é função das cargas e da geometria da estrutura. Rn → Resistência nominal, que neste caso é um valor médio (Rm). Rd → Resistência de cálculo (ou de projeto). R R e n d γ = Rn e Rd dependem do material e da geometria da estrutura. Condições para o dimensionamento: dn R S ≤ 4° EXEMPLO - Barra comprimida (pilar ou coluna) de seção constante: Determinar a tensão admissível no pilar calculado no exemplo anterior, agora com seção transversal de 14,2 x 40 cm e solicitado por uma carga axial P, a fim de obter γe = 2. design S, R Frequência normalizada f.d.p da Solicitação S Sm Rd Rm f.d.p da Resistência R e mR γ _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM 25 No último exemplo bastava dividir a carga de colapso por γe para obter a máxima carga que poderia ser aplicada. Agora, para obter a tensão admissível σadm (ou σ ) basta dividir a tensão de flambagem (σflamb) por γe. . A P σ σ σ e flamb e flamb adm γ = γ == 2 min 2 2 flamb min 2 Ecrflamb )(K I E )( I E P P P ll π = π === → K = 2 → depende da vinculação. 4 3 ymin cm 9544,29 12 14,2 40 I I =⋅== 2kN/cm 20500 E = kN 12000 )200 2( 9544,29 . 20500 . P P P 2 2 Ecrflamb ≅⋅ π === (flamb. elástica) 2flamb flamb kN/cm 21,13 40 . 14,2 12000 A P σ === Para que a flambagem ocorra no regime elástico do material: yflamb f σ < 14,2 cm Seção transversal 40 c m y z x 2m P y Carga de flambagem ou carga crítica de Euler (válida para flambagem elástica) _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM 26 onde: r K min l =λ → Índice de esbeltez. rmin = raio de giração mínimo da seção. A Ι r minmin = 2 e flamb e flamb adm kN/cm 10,56 2 . 40) . (14,2 12000 . A P σ σ σ == γ = γ == Este último resultado conduz a uma carga admissível Padm dada por: kN 6000 ) 40 . 14,2 ( . 10,56 A σ Padm === A carga admissível é exatamente o valor da carga de colapso dividido por γe: kN 6000 2 12000 P P e flamb adm ==γ = Lembrando que: serviço de Carga colapso de Carga e =γ Neste caso: Carga de colapso = Pflamb Depende das imperfeições iniciais, tensões residuais, excentricidades, etc. Ruptura plástica Flambagem elástica Tensão crítica de Euler: E A P σ σ 2 2 flamb flambcr λ π === Realidade σc λ σe ou fy _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ECC 1012 – SEGURANÇA ESTRUTURAL Prof. Dr. João Kaminski Junior – UFSM 27 serviço de Carga P flambe =γ então: P P serviço de Carga e flamb adm γ =≤