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Resenha capítulo 5 - O Capital no Século XXI - Piketty

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Resenha do Capítulo 5 – A relação capital/renda no longo prazo
No quinto capítulo do livro, “O Capital do século XXI”, o autor escreve a respeito da relação capital/renda no longo prazo. Apresenta, assim, para mostrar uma relação de proporção entre os fatores, a segunda lei fundamental do capitalismo: β = s/g. No longo prazo, a razão capital / renda β se relaciona de forma simples e transparente com a taxa de poupança s do país considerado e com a taxa de crescimento g de sua renda nacional, por meio dessa equação, é denotado uma realidade mais importante: um país que poupe muito e cresça lentamente acumula, no longo prazo, um enorme estoque de capital. Isso, em contrapartida, pode ter consequências relevantes para a estrutura social e a distribuição de riqueza.
Ao examinar as taxas médias de poupança no período 1970-2010, o autor observou também variações importantes entre países: a taxa de poupança privada situa-se geralmente em torno de 10-12% da renda nacional, mas cai para apenas 7-8% nos Estados Unidos e no Reino Unido, subindo para 14-15% no Japão e na Itália. Há de se notar, igualmente, que os países que poupam mais costumam ser aqueles onde a população é a mais estagnada e envelhecida (o que pode se justificar por uma preocupação com a poupança na aposentadoria ou perto dela), mas essa relação está longe de ser sistemática. Há inúmeras razões para explicar as diferentes escolhas de poupança, e, portanto, não há nada de surpreendente nessas divergências entre países — elas podem resultar de fatores culturais, percepções sobre o futuro e cada história nacional particular. O mesmo vale para as escolhas de fertilidade ou de política imigratória, que no final das contas determinam a taxa de crescimento demográfico. Se combinarmos as variações das taxas de crescimento com as das taxas de poupança, nota-se que é possível explicar com facilidade por que diferentes países acumulam quantidades distintas de capital, e também por que a relação capital / renda teve um crescimento forte desde 1970.
Para que a análise seja completa, deve-se salientar que a poupança privada compreende dois componentes: a poupança direta dos indivíduos (a parte da renda disponível das famílias que não é consumida de imediato); e a poupança das empresas em benefício dos indivíduos que as detêm diretamente, no caso das empresas individuais, ou indiretamente, por meio de seus investimentos financeiros. Esse segundo componente corresponde aos lucros reinvestidos pelas firmas (chamados de “lucros retidos” ou retained earnings), que podem representar o equivalente à metade da poupança privada total em certos países. Se ignorássemos esse segundo componente e levássemos em conta somente a poupança das famílias, concluiríamos que os fluxos de poupança em todos os países seriam insuficientes para explicar o crescimento da riqueza privada e que ele poderia ser atribuído, em grande parte, à alta estrutural do preço relativo dos ativos, sobretudo dos preços das ações.
Ao falar sobre renda, é necessário pontuar que a renda disponível das famílias, ou simplesmente a “renda disponível”, mensura a renda monetária da qual dispõem as famílias em um país. Por definição, para passar da renda nacional à renda disponível devem se deduzir todos os impostos, taxas, débitos, e somar as transferências monetárias (pensões e aposentadorias, seguro-desemprego, assistência às famílias, benefícios em geral). O papel do Estado aumentou consideravelmente ao longo do século XX, e com isso a renda disponível passou a representar hoje não mais do que uns 70-80% da renda nacional nos diversos países ricos. Deve-se salientar que a diferença entre renda disponível e renda nacional mede, por definição, o valor dos serviços públicos de que as famílias desfrutam diretamente, sobretudo os de educação e saúde financiados pelo governo. Tais “transferências em espécie” têm tanto valor quanto as transferências monetárias contidas na renda disponível: elas evitam que as pessoas tenham de gastar quantias comparáveis — ou até superiores — com os provedores privados de serviços de educação e saúde.
A forte alta da riqueza privada observada nos países ricos entre 1970 e 2010 explica-se principalmente pela desaceleração do crescimento e pela manutenção de uma poupança elevada. Isso foi amplificado devido ao movimento de privatização e transferência gradual da riqueza pública para a riqueza privada e o fenômeno de recuperação no longo prazo dos preços dos ativos. Além disso, uma parte significativa da poupança privada é absorvida pelos déficits públicos. Assim, a poupança nacional (privada + pública) torna-se mais frágil do que a poupança privada.
Conclui-se, portanto, que a relação capital/renda a longo prazo depende, sobretudo, das taxas de poupança e crescimento, as quais variam de acordo com decisões individuais influenciadas por diversos fatores. Desse modo, é possível identificar a dificuldade do estudo dessa relação nos diversos países.

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