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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental I-043 – ATUAÇÃO DO MEIO FILTRANTE NA RETENÇÃO DE ALGAS EM FILTROS DE ESCOAMENTO ASCENDENTE E DESCENDENTE UTILIZANDO A TECNOLOGIA DE FILTRAÇÃO DIRETA Ana Raquel Teixeira Engenheira Civil pela Escola de Engenharia da UFMG, mestre e doutoranda em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos Civil pela Escola de Engenharia da UFMG. Eliane Prado Cunha Costa dos Santos Engenheira Civil pela Escola de Engenharia da UFMG e mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos Civil pela Escola de Engenharia da UFMG. Cristina Poggiali Almeida Bióloga pelo Unicentro Izabela Hendriz. Valter Lúcio de Pádua Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da UFMG, mestre e doutor em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP) e Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG. Marcelo Libânio(1) Engenheiro Civil e mestre em Engenharia Sanitária pela Escola de Engenharia da UFMG, Doutor em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP) e Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG. Endereço(1): Av. Contorno, 842 – 8° andar - Centro - Belo Horizonte - MG - CEP: 30110-060 - Brasil - Tel: (31) 3238-1004 - e-mail: mlibanio@ehr.ufmg.br RESUMO O trabalho consiste na avaliação do desempenho de unidades-piloto de filtração direta em linha de escoamento ascendente e descendente na remoção de algas, vislumbrando o comportamento dos filtros no início e final da carreira de filtração, bem como investigar a redução da concentração de algas ao longo da espessura do meio filtrante. Foram aplicadas taxas de filtração de 180 e 240 m3/m2.dia em duas etapas distintas utilizando água oriunda de reservatório de acumulação que apresentava baixa turbidez e presença de algas. O efluente das unidades filtrantes apresentou resultados satisfatórios no que tange à qualidade, calcada na premissa da turbidez filtrada inferior a 0,5 uT, apesar das curtas carreiras de filtração para a unidade de escoamento descendente. Houve menor retenção de algas flageladas (fitoflagelados) e elevada remoção dos grupos sistemáticos Cyanophyta e Chlorophyta e da classe Bacillariophyceae. A remoção de algas deu-se predominantemente às espessuras de 15 cm e 30 cm para os filtros de escoamentos descendente e ascendente, respectivamente, observando-se uma saturação ao final da carreira de filtração induzindo elevadas concentrações à água filtrada. PALAVRAS-CHAVE: Tratamento de água, Filtração Direta, Remoção de Algas, Meio Filtrante, Filtração de Escoamento Ascendente e Descendente. INTRODUÇÃO Um dos desafios enfrentados na atualidade no tratamento de água é a proliferação excessiva de algas e cianobactérias em lagos e reservatórios de abastecimento. Como algumas espécies destes microrganismos podem liberar compostos metabólicos intracelulares quando da ocorrência de lise celular ou senescência, conferindo toxicidade às águas, idealiza-se que no processo de tratamento não ocorra a ruptura das células (AWWA Research Division Microbiological Contaminants, 1999; Steffensen & Nicholson, 1995 apud Drikas et al., 2001). A ingestão de água contaminada por toxinas pode acarretar distúrbios orgânicos de distintas naturezas e, em caso de acesso direto à corrente sangüínea, a sua atuação é geralmente fatal (Jardim, 1999). A dificuldade de se remover estes organismos está relacionada ao reduzido tamanho das células, peso específico e densidade celular baixos, e a carga superficial negativa (Edzwald, 1993). Os efeitos destas características manifestam-se na operação das estações de tratamento, delineadas por: (i) aumento do consumo de produtos químicos devido às alterações dos processos de coagulação e floculação causadas pela presença ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental de matéria orgânica extra-celular; (ii) redução das carreiras de filtração com o aumento associado do volume de água para lavagem; e (iii) elevação da demanda de cloro na desinfecção a partir da passagem de algas pelo meio filtrante, com maior possibilidade de formação de trialometanos (THM) e outros compostos orgânicos indesejados, ocasionando maiores riscos à saúde humana. As tecnologias que utilizam a filtração rápida mostram-se relativamente eficientes na remoção de algas, todavia requerem procedimentos de lavagem regulares que, caso não sejam efetuados de forma adequada, podem gerar a lise das células de cianobactérias conferindo toxinas na água (Chorus & Bartram, 1999). A filtração direta apresentou elevada eficiência na remoção de turbidez e algas em experimentos realizados por Cezar et al. (2003) empregando filtro de escoamento ascendente operado com taxa de 180 m3/m2xdia. Embora a presença de algas acarrete evoluções mais significativas de perda de carga nos filtros, tais estudos apontaram para uma expectativa de duração de carreira de filtração acima de 40 horas. A perspectiva da aplicação da filtração direta como linha de tratamento para estas águas assume relevante papel dada a existência, no Brasil e exterior, de diversas estações que utilizam tal tecnologia e, por vezes, apresentarem elevadas concentrações de algas no afluente. Entretanto, alguns procedimentos requerem cuidados específicos na viabilização e otimização desta tecnologia uma vez que o traspasse das algas pelo meio filtrante e a rápida colmatação dos filtros podem ocorrer de forma mais significante em relação ao tratamento convencional. OBJETIVO O trabalho objetiva avaliar o desempenho de unidades-piloto de filtração direta de escoamento ascendente e descendente na remoção de algas. , vislumbrando o comportamento dos filtros no início e final da carreira de filtração, bem como investigar a redução da concentração de algas ao longo da espessura do meio filtrante. MATERIAL E MÉTODOS Descrição da instalação-piloto Para efetivação da pesquisa, foram implantados dois modelos reduzidos de unidades de filtração direta, um de escoamento descendente (FD) e outro de escoamento ascendente (FA). A água bruta advinha de reservatório de acumulação cujo monitoramento limnológico realizado em 2004 mostrou a prevalência dos gêneros Microcystis e Cyclotella, além de algumas linhagens de fitoflagelados. O coagulante era adicionado na própria tubulação de chegada por meio de bomba dosadora e o processo de mistura era garantido pela malha inserida dentro da tubulação a aproximadamente 50 cm da injeção do coagulante. Para a definição do tipo e dosagem de coagulante utilizados na instalação-piloto foram realizados ensaios de Jar Test com filtros constituídos de pequenos tubos de PVC de diâmetro interno de 12 mm contendo areia. Estes filtros foram adaptados ao equipamento para melhor simular a filtração direta. Dentre os coagulantes testados, optou-se pelo uso do hidroxi-cloreto de alumínio com 10,6% de Al2O3 na dosagem de 5 mg/L. A água coagulada era distribuída às unidades-piloto por uma caixa de distribuição de vazão situada em um pavimento superior em relação ao aparato experimental, permitindo a afluência por gravidade. Os filtros-piloto foram construídos em acrílico com 6 mm de espessura e 150 mm de diâmetro interno, com piezômetros acoplados ao longo do meio filtrante visando aferir, em conjunto com a evolução da perda de carga, a progressiva retenção das impurezas e a concentração de algas. O meio filtrante de ambos os filtros era constituído de areia, com espessuras de 0,50m, para o filtro de escoamento descendente, e 2,00m, para o de escoamento ascendente. Suas características granulométricas estão apresentadas na Tabela 1. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Tabela 1: Características granulométricas do meio filtrante dasunidades piloto. Característica Valor* φ menor grão 0,40 mm φ maior grão 1,19 mm coeficiente de desuniformidade 1,6 – 1,7 tamanho efetivo dos grãos 0,43 mm * Resultados obtidos a partir de ensaios experimentais prescritos pela ABNT- NBR 11799 (1990). A camada-suporte era idêntica para ambos os filtros, possuindo 40 cm de espessura com a seguinte granulometria de seixos: . camada superior → φ (4,8 – 2,4)mm – 6 cm de espessura; . camada intermediária → φ (12,7 – 4,8)mm – 6 cm de espessura; . camada intermediária → φ (19 – 12,7)mm – 8 cm de espessura; . camada intermediária → φ (38 – 19)mm – 8 cm de espessura; . camada inferior → φ (50 – 38)mm – 12 cm de espessura. Na Figura 1 é apresentado um esquema geral do aparato experimental. Figura 1: Esquema geral da instalação-piloto de filtração direta. Tubulação água bruta φ Caixa de água filtrada Sistema de lavagem Piezômetros Piezômetros bomba dosadora caixa distribuidora de vazão malha difusora Tubulação de distribuição φ Tubulação de água para lavagem φTubulação de água tratada φ Tubulação de adução φ φ água bruta água coagulada água coagulada água para lavagem água filtrada água para lavagem água filtrada efluente da lavagem efluente da lavagem Operação do sistema A carreira de filtração encerrava-se quando a turbidez da água filtrada superava 1 uT, ou quando se atingia a perda de carga relativa à retenção de impurezas de 1 m para o filtro de escoamento descendente e 0,5 m para a unidade de escoamento ascendente. Vale justificar que a limitação destes valores foi imposta pelo local de implantação dos filtros que não permitia maiores avanços da carga hidráulica. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Como a lavagem era realizada apenas com água e tencionava-se a plena remoção das partículas, a velocidade ascensional atingia até 2,0 m/min, conferindo expansão superior a 30% do material filtrante. A lavagem dos filtros efetuava-se após o encerramento da carreira de filtração e antes do início da operação, com duração da ordem de 10 minutos, definida a partir do monitoramento da turbidez da água de lavagem. Vale ressaltar que tal procedimento objetivava garantir a remoção de ar dos interstícios do meio filtrante, dado que as carreiras de filtração eram descontínuas e os filtros esgotados em seguida para evitar a formação de colônias de algas no seu interior. Foram investigadas, para ambos os filtros, taxas de filtração de 180 e 240 m3/m2xdia em duas diferentes etapas, conforme exposto a seguir: - Etapa I: Esta etapa teve como finalidade avaliar quais seriam os pontos de amostragem ao longo do meio filtrante, operando-se apenas uma carreira de filtração para cada taxa estudada. No monitoramento fazia-se a determinação da turbidez nos diversos pontos de amostragem distribuídos ao longo do meio filtrante a cada hora de ensaio. Escolheu-se um dos pontos de amostragem de forma que a turbidez fosse inferior a 1 uT durante toda a carreira de filtração. Para o outro ponto, os valores de turbidez próximo ao fim da carreira deveriam ser superiores a 1 uT. Para o filtro de escoamento ascendente, preferiu-se não utilizar o ponto inserido na interface pedregulho-areia uma vez que o acúmulo maior de partículas se dá nesta região. Na Tabela 2 são identificados estes pontos distintos nos dois filtros. Tabela 2: Pontos de amostragem definidos para coleta ao longo do meio filtrante. Espessura do meio filtrante Filtro Ponto 1 (P-1) Ponto 2 (P-2) descendente 5 cm 15 cm ascendente 30 cm 10 cm OBS: Para o FA, a espessura do meio filtrante é contabilizada no sentido de escoamento e a partir da interface pedregulho areia. - Etapa II: Nesta etapa, os ensaios eram feitos em duplicata e o monitoramento reunia todas os parâmetros discutidos, como esquematizado na Tabela 3: Tabela 3: Esquema de monitoramento da Etapa II. Parâmetro Ponto de amostragem Freqüência de coleta Cor aparente, pH e turbidez Água bruta Efluente tratado A cada 30 minutos Alcalinidade Água bruta Uma vez por carreira Água bruta Uma vez por carreira Contagem de algas Efluente tratado Meio filtrante (P-1 e P-2) Após uma hora de operação e no encerramento da carreira de filtração Perda de carga Pontos distintos ao longo do meio filtrante Horária A Figura 2 apresenta um esquema geral das etapas do estudo. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 2: Esquema das etapas da investigação experimental. turbidez cor aparente pH alcalinidade algas monitormanto da água bruta Monitoramento As medições de turbidez, cor aparente e pH eram feitas na própria estação, a partir os seguintes equipamentos: • Turbidímetro de bancada HACH 2100N; • Espectofotômetro HACH DR/2000; • Potenciômetro Quimis; O valor da alcalinidade da água bruta era fornecido pela concessionária, já que os operadores da estação determinavam-na diariamente. As análises de quantificação e classificação do fitoplâncton seguiram os critérios do Standard Methods (AWWA/APHA/WEF, 1998) para contagem de algas utilizando a câmara de Sedgwick Rafter. As amostras eram coletadas em vidros âmbar de 1 L conservadas em solução lugol. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados das análises físico-químicas, indicados no sumário numérico apresentado na Tabela 4, apontam um efluente em conformidade com o padrão de potabilidade vigente no País (Portaria 518/2004 - Ministério da Saúde, 2004), apresentando resultados de turbidez inferiores a 1 uT e valores de cor aparente inferiores a 15 mg Pt-Co/L em todos as carreiras de filtração efetuadas. A elevada variação dos valores de cor aparente aponta a fragilidade da filtração direta na remoção de cor aparente devido, principalmente, a coagulação deficiente. Além disso, a aplicação do hidroxi-cloreto de alumínio acarretou reduções no pH do efluente filtrado, mesmo com a elevada alcalinidade da água bruta (em torno de 50 mg CaCO3/L). definição dos pontos de amostragem ao longo do meio filtrante ETAPA I ensaio único monitormanto do efluente filtrado turbidez cor aparente pH algas monitormanto do P1 e P2 turbidez turbidez cor aparente pH alcalinidade algas monitormanto da água bruta investigação do comportamento do meio filtrante ETAPA II ensaios em duplicata monitormanto do efluente filtrado turbidez cor aparente pH algas monitormanto do P1 e P2 algas ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Tabela 4: Análise descritiva dos resultados das análises físico-químicas. Turbidez (uT) Cor aparente (mg Pt-Co/L) pH Efluente Efluente Efluente Taxa de filtração Sumário Água bruta FD FA Água bruta FD FA Água bruta FD FA média 2,8 0,4 0,4 27 8,6 7,9 8,1 7,8 7,8 desvio padrão 0,61 0,14 0,10 2,43 2,59 2,13 0,20 0,12 0,14 mínimo 2,0 0,2 0,2 22 4,0 3,0 7,6 7,6 7,6 180 m3/m2xdia máximo 5,6 0,7 0,6 33 14 13 8,5 8,1 8,2 média 2,6 0,4 0,4 30 7,4 7,8 7,8 7,7 7,7 desvio padrão 0,39 0,11 0,12 3,69 2,08 2,80 0,18 0,13 0,14 mínimo 2,1 0,2 0,2 21 2,0 4,0 7,5 7,4 7,4 240 m3/m2xdia máximo 3,3 0,7 0,8 35 12 15 8,1 8,0 7,9 Porém, de acordo com os dados de duração média das carreiras de filtração apresentados na Tabela 5, a carreira do filtro de escoamento descendente foi inferior à esperada. Tabela 5: Duração média das carreiras de filtração. Taxa de filtração Unidade 180 m3/m2xdia 240 m3/m2xdia Filtro de escoamento descendente 8 horas 11 horas Filtro de escoamento ascendente 11 horas 14 horas A remoção de algas nos filtros descendente e ascendente no início e final da carreira de filtração de acordo com a taxa de filtração média aplicada é representada na Figura 3. Figura 3: Remoçãode algas nos filtros no início e final da carreira de filtração. 86.44 89.53 97.51 92.06 94.96 78.77 65.80 93.72 90.56 84.87 75.95 75.50 86.55 93.18 94.78 96.38 63.97 83.27 93.31 89.39 99.08 90.23 94.45 85.98 60 65 70 75 80 85 90 95 100 re m oç ão d e al ga s (% ) FD - início do ensaio FD - final do ensaio FA - início do ensaio FA - final do ensaio Taxa de filtração = 180 m³/m²xdia Taxa de filtração = 240 m³/m²xdia Houve maior retenção de algas no filtro de escoamento ascendente e maior constância desta remoção ao longo de toda a carreira de filtração. Ou seja, a diferença da concentração de algas no efluente filtrado permanece semelhante tanto no início quanto no final da carreira de filtração. Isto também ocorre para o FD quando aplicada à taxa de 240 m3/m2xdia. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Na Etapa II foi avaliada a atuação do meio filtrante em termos de retenção de algas, cujos resultados são apresentados por meio de gráficos (figuras 4 e 5) que mostram a concentração total de algas no efluente filtrado, além dos pontos amostrais P1 e P2 a diferentes profundidades do meio filtrante especificadas no item anterior. Figura 4: Comportamento do meio filtrante na retenção de algas - FD. 0 100 200 300 400 500 600 700 co nc en tra çã o de a lg as (o rg /m L) FD - início do ensaio P1 - início do ensaio P2 - início do ensaio FD - final do ensaio P1 - final do ensaio P2 - final do ensaio Taxa de filtração = 180 m³/m²xdia Taxa de filtração = 240 m³/m²xdia Figura 5: Comportamento do meio filtrante na retenção de algas - FA. 0 100 200 300 400 500 600 700 co nc en tra çã o de a lg as (o rg /m L) FA - início do ensaio P1 - início do ensaio P2 - início do ensaio FA - final do ensaio P1 - final do ensaio P2 - final do ensaio Taxa de filtração = 180 m³/m²xdia Taxa de filtração = 240 m³/m²xdia Ambos os filtros apresentaram, no início da carreira de filtração, maior capacidade de retenção de algas até os primeiros 15 e 30 cm do meio filtrante, para o filtro de escoamento descendente e ascendente, respectivamente, uma vez que a concentração do ponto P2 apresentou-se semelhante à do filtrado. Ao final da carreira de filtração, as concentrações nos pontos intermediários aumentavam, provavelmente devido a uma saturação do meio filtrante, acarretando o traspasse destes organismos e, conseqüentemente, uma maior concentração no efluente filtrado. Dada a maior espessura do meio filtrante, este impacto era inferior no FA, inferindo, portanto, a maior constância de remoção ao longo da carreira de filtração. Vale ressaltar que a metodologia de quantificação e classificação do fitoplâncton, aplicada fornece dados comparativos sem interesse em precisão com respeito a valores absolutos sendo, assim, admissíveis erros da ordem de 20% e até mais. Esta é uma das possíveis explicações para a concentração de algas aferida nos pontos intermediários ser menor que a do filtrado. Foi também estudada a remoção de cada grupo sistemático do fitoplâncton, tanto no início quanto no final da carreira de filtração, para as duas taxas de filtração, cujos resultados são expressos na Figura 5. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 5: Remoção de fitoflagelados nos filtros no início e final da carreira de filtração. 0 10 20 30 40 50 60 70 co nc en tra çã o de a lg as (o rg /m L) FD1 - início do ensaio FD1 - final do ensaio FA - início do ensaio FA - final do ensaio Água bruta 44.33 Água bruta 77.78 Água bruta 69.63 Água bruta 137.04 Água bruta 161.90 Água bruta 44.41 Taxa de filtração = 180 m³/m²xdia Taxa de filtração = 240 m³/m²xdia Provavelmente devido à presença de flagelos, a remoção dos organismos deste grupo apresentou-se inferior às demais, com contagem nas amostras de água filtrada por vezes superior à da água bruta como mostra a Figura 5. Ou seja, alguns destes organismos conseguem percorrer o meio filtrante sem que os mecanismos de filtração sejam efetivos em sua remoção. Vale ressaltar o bom desempenho do FA na remoção de fitoflagelados para todos os ensaios, superando o FD especialmente para taxa de filtração de 180 m³/m²xdia. A maior espessura do meio filtrante e a velocidade ascensional mais baixa pode ter dificultado a locomoção destes organismos, contribuindo, assim, para sua maior retenção. A remoção das diatomáceas (Bacillariophycea) apresentou elevados valores, conforme a Figura 6, exceto para a amostra de água filtrada do filtro FD coletada ao final da carreira de filtração no primeiro ensaio da Etapa II com taxa de 180 m³/m²xdia. Há indícios de um melhor desempenho para o filtro de escoamento ascendente, provavelmente, em conseqüência à maior espessura do meio filtrante. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 6: Remoção de bacillariophyceas nos filtros no início e final da carreira de filtração. 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 co nc en tra çã o de a lg as (o rg /m L) FD1 - início do ensaio FD1 - final do ensaio FA - início do ensaio FA - final do ensaio Água bruta 114.00 Água bruta 344.81 Água bruta 315.06 Água bruta 507.03 Água bruta 1019.04 Água bruta 154.08 Taxa de filtração = 180 m³/m²xdia Taxa de filtração = 240 m³/m²xdia A espécie Cyclotella sp. teve predominância absoluta na água bruta e nas amostras de água filtrada. Com isto, previu-se que o mecanismo de transporte prevalecente na filtração da água estudada deve ser a sedimentação uma vez que as células desta espécie apresentam dimensões entre 10 e 45 μm, e peso molecular mais elevado devido ao envoltório silicoso presente (Branco, 1986; Di Bernardo, 1995; Margalef, 1983). No mais, a possibilidade de fixação das células a um substrato pode ter favorecido a alta remoção destes organismos ao longo da carreira de filtração. Durante o período pesquisado, a concentração de cianobactérias na água bruta apresentou-se inferior nos ensaios com taxa de 240 m³/m²xdia, inclusive não sendo identificada no ensaio da Etapa II. De uma maneira geral, os filtros apresentaram elevadas remoções de Cyanophyta, como mostra a Figura 7. Contudo, em um dos ensaios empregando a taxa de filtração de 180 m³/m²xdia, as amostras coletadas ao final da carreira de filtração apresentaram remoções inferiores a 50% para ambos os filtros. Vale ressaltar que nestas amostras foi identificada apenas a ordem Chroococcales entre o grupo Cyanophyta com elevado número de células em sua colônia. Tal constatação não implica que a filtração tenha sido ineficiente já que a contagem de algas é feita de forma aleatória a partir de uma alíquota de 1 mL pipetada da amostra de 1L, além da amostra de água bruta ser coletada em um único horário. Com isto, pode-se ter uma maior concentração de organismos na água filtrada ou até mesmo espécies identificadas que não o foram na água bruta. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 9 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 7: Remoção de cyanophytas nos filtros no início e final da carreira de filtração. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 co nc en tra çã o de a lg as (o rg /m L) FD1 - início do ensaio FD1 - final do ensaio FA - início do ensaio FA - final do ensaio Água bruta 162.56 Água bruta 344.81 Água bruta 34.81 Água bruta 0 Água bruta 152.37 Água bruta2.37 Taxa de filtração = 180 m³/m²xdia Taxa de filtração = 240 m³/m²xdia No primeiro ensaio da Etapa II operado com taxa de 180 m³/m²xdia, mesmo com a concentração mais significativa de organismos presentes na água bruta (961,85 org/mL),os filtros apresentaram eficiência superior a 91% de remoção durante toda a carreira de filtração, o que indica a eficácia do tratamento por filtração direta para a retenção deste grupo de algas. Deve-se ressaltar que a família Chroococcaceae, predominante nas análises, apresenta-se em forma de colônias o que facilita sua retenção no meio filtrante. Porém, tais microrganismos podem facilmente se desagregar pelo efeito das forças de cisalhamento, provocadas pelo aumento da velocidade intersticial no interior do meio filtrante, e posteriormente serem carreados no efluente filtrado. Ainda que especulativa, surge a premissa que os mecanismos de transporte prevalecentes na remoção destes organismos sejam a interceptação, a difusão e o impacto inercial. A densidade próxima à da água, o baixo peso molecular e as próprias dimensões das algas predominantes no decorrer do trabalho experimental (inferiores a 7 μm) permitem supor pela menor relevância dos mecanismos de coagem e sedimentação (Branco, 1986; Di Bernardo, 1995; Margalef, 1983). ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 10 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Figura 8: Remoção de chlorophytas nos filtros no início e final da carreira de filtração. 0 20 40 60 80 100 120 140 co nc en tra çã o de a lg as (o rg /m L) FD1 - início do ensaio FD1 - final do ensaio FA - início do ensaio FA - final do ensaio Água bruta 23.21 Água bruta 194.45 Água bruta 313.31 Água bruta 306.06 Água bruta 304.74 Água bruta 114.98 Taxa de filtração = 180 m³/m²xdia Taxa de filtração = 240 m³/m²xdia A partir da Figura 8, nota-se uma elevada remoção de organismos do grupo Chlorophyta (valores acima de 78%), exceto para a água filtrada do filtro FD coletada ao final da carreira de filtração no primeiro ensaio da Etapa II com taxa de 180 m³/m²xdia, devido, novamente, a uma colônia de Chloroccocale identificada na amostra com grande número de organismos. O filtro de escoamento ascendente apresentou resultados relativamente melhores que os demais principalmente para a taxa de 180 m³/m²xdia. A água bruta apresentou grande diversidade de espécies, o mesmo acontecendo com as amostras de água filtrada do primeiro ensaio da Etapa II para as duas taxas de filtração estudadas. Houve predomínio na água bruta da linhagem Chlorococcale seguida das espécies Staurastrum sp. e Spirotaenia sp.. Mais uma vez, supõem-se que as características intrínsecas de algumas espécies - como a rigidez da célula (Branco, 1986; Di Bernardo, 1995; Margalef, 1983) -, contribuíram na retenção no processo de filtração. CONCLUSÕES Ambos os filtros apresentaram qualidade do efluente satisfatórios, no que tange aos limites de turbidez e cor aparente estabelecidos pela Portaria 518/2004. Todavia, foram obtidas durações de carreira de filtração aquém para a unidade de escoamento descendente. O efluente do filtro de escoamento ascendente apresentou concentrações de algas ligeiramente inferiores ao do filtro de escoamento descendente. Quando comparada as duas taxas de filtração estudadas, não se pode concluir qual delas seria melhor na remoção de algas. Houve distinções entre a concentração de algas no início e final da carreira de filtração para ambos os efluentes filtrados. Este fato também ocorre com os pontos intermediários do meio filtrante, indicando uma possível saturação do material granular durante a carreira de filtração. Foi verificada, no início da carreira de filtração, uma tendência dos filtros reterem mais algas até a espessura de 15cm, para o FD, e 30 cm, para o FA, uma vez que os respectivos pontos apresentam maiores concentrações algais. Além disso, a contagem de algas do outro ponto aproxima-se da contagem do efluente filtrado. Com isto, há indícios que a filtração ocorreu predominantemente com ação superficial na remoção de algas. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 11 23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Quando estudadas a remoção específica de cada grupo sistemático, destacou-se a baixa remoção de fitoflagelados provavelmente devido à presença de estruturas de locomoção nestes organismos. Os demais grupos (Cyanophyta, Baccilariophyceae, Chlorophyta) apresentaram remoção superior a 78%. Vale ressaltar que não existem valores pré-estabelecidos pelo padrão de potabilidade do Ministério da Saúde para a concentração mínima de algas no efluente tratado, sendo que sua inferência se refere apenas aos parâmetros de turbidez, cor aparente, sabor e odor, e toxinas. Mas a água filtrada apresentou baixas concentrações de cianobactérias, inclusive das linhagens tóxicas, em concentrações inferiores a 35 org/mL. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11799: Material filtrante – Areia, antracito e pedregulho. Rio de Janeiro, 1990, 7 p. 2. AWWA Research Division Microbiological Contaminants. Emerging pathogens – viruses, protozoa, and algal toxins. Journal American Water Work Association, v. 91, n. 9, p. 110-121, September 1999. 3. BRANCO, S. M. Hidrobiologia aplicada à engenharia sanitária. 2. ed. São Paulo: CETESB, 1986. 620p. 4. CEZAR, M. C. M.; ÁLVARES, C. M.; CARDOSO, L. O. D.; PIRES, V. A. C.; BRANDÃO, C. C. S. Aplicação da filtração lenta e filtração direta ascendente no tratamento de águas com baixa turbidez e presença de algas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 21, 2003, Joinville. Anais... Rio de Janeiro: ABES, 2003. 5. CHORUS, I.; BARTRAM, J. Toxic cyanobacteria in water: A guide to their public health consequences, monitoring and management. London and New York: World Health Organization, 1999. 416 p. 6. DI BERNARDO, L. Algas e suas influências na qualidade das águas e nas tecnologias de tratamento. Rio de Janeiro: ABES, 1995. 140 p. 7. DRIKAS, M.; CHOW; C. W. K.; HOUSE, J.; BURCH, M. D. Using coagulation, floccluation, and settling to remove toxin cyanobacteria. Journal American Water Work Association, v. 93, n. 2, p. 100- 111, February 2001. 8. EDZWALD, J. K. – Algae, bubbles, coagulants and dissolved air flotation. Water Sciense and Technology, v. 27, n. 10, October 1993. 9. JARDIM, F. A. – Implantação das análises de cianotoxinas e avaliação do potencial tóxico em estações de tratamento de água da COPASA-MG. 1999. 104 f. Dissertação (Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos) – Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 10. MARGALEF, R. Limnologia. Barcelona: Ediciones Omega, 1983. 1010 p. 11. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria no 518, de 25 de março de 2004. Diário Oficial {da} República Federativa do Brasil, Brasília. 12. STEFFENSEN, D. A., NICHOLSON, B. C., editors, Toxic Cyanobacteria: Current Status of Research and Management. Proc. Intl. Workshop, AWWA Res. Fdn., Australian Center for Water Quality Res., Centre for Water Res. (Belgium). Adelaidae, Australia. 1995 apud DRIKAS, M.; CHOW, C. W. K.; HOUSE, J.; BURCH, M. D. Using coagulation, floccluation, and settling to remove toxin cyanobacteria. Journal American Water Work Association, v. 93, n. 2, p. 100-111, February 2001. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) pelo financiamento e concessão da bolsa de Iniciação Científica (Proc. TEC 116/2001) e ao CNPq pela concessão das bolsas de mestrado, Profix e Produtividade em Pesquisa. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 12 I-043 – ATUAÇÃO DO MEIO FILTRANTE NA RETENÇÃO DE ALGAS EM FILTROS DE ESCOAMENTO ASCENDENTE E DESCENDENTE UTILIZANDO A TECNOLOGIA DE FILTRAÇÃO DIRETA RESUMO INTRODUÇÃO OBJETIVO MATERIAL E MÉTODOS Descrição da instalação-piloto Operação do sistema Monitoramento RESULTADOS E DISCUSSÃO CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRADECIMENTOS