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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA – FAET PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – PPGRH FERNANDO DOS SANTOS SANCHES UTILIZAÇÃO DE FERTIRRIGAÇÃO COM EFLUENTES DE ABATEDOURO DE BOVINOS Cuiabá – MT 2017 2 FERNANDO DOS SANTOS SANCHES UTILIZAÇÃO DE FERTIRRIGAÇÃO COM EFLUENTES DE ABATEDOURO DE BOVINOS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Recursos Hídricos da Universidade Federal d e Mato Grosso para obtenção do título de mestre em Recursos Hídricos. Orientadora: Prof. Dra. Margarida Marchetto Cuiabá – MT 2017 3 4 5 SANCHES, F. S. Utilização da Fertirrigação com Efluentes de Abatedouro de Bovinos. 2017. 87 p. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2017. RESUMO As pressões antrópicas exercidas sobre os recursos hídricos vêm se intensificando ao longo do tempo, tendo como aliada as restrições mais efetivas das legislações recentes, principalmente aquelas baseadas nos instrumentos de comando e controle. Portanto, a utilização de técnicas sustentáveis para manejo de efluentes se tornam imprescindíveis, principalmente aos efluentes industriais, caracterizado pela externalidade do processo de produção de diversos empreendimentos, tal como o abatedouro de bovinos. Sendo assim, o presente trabalho foi baseado em um estudo de caso do reuso de efluentes de abatedouro de bovinos, aplicado na modalidade de fertirrigação, inserido no município de Água Boa-MT. O estudo buscou verificar a viabilidade de três diretrizes principais, sendo: (i) ambiental, (ii) agronômicas e (iii) econômica, além de se apontar os principais impactos positivos e negativos da fertirrigação. Na etapa de verificação da viabilidade ambiental foram realizados diagnósticos das características naturais do solo, da bacia hidrográfica e da área de irrigação, visando se determinar a vulnerabilidade ambiental natural pré-existente. As condições agronômicas foram determinadas em função da fertilidade do solo, sua variação durante a atividade de fertirrigação, bem como das exigências nutricionais das culturas implantadas na área. Na etapa de avaliação da viabilidade econômica de implantação e operação deste sistema, buscou-se validar o potencial agronômico. Para a determinação dos impactos se produziu, a partir de revisão bibliográfica, uma matriz de impactos. De modo geral os resultados se mostraram satisfatórios, indicando que as dosagens de nutrientes aplicadas através dos efluentes, embora foram inferiores às suas exigências nutricionais, se apresentaram significativas, representando cerca de 51% de nitrogênio, 45% de fósforo e 15% de potássio, corroborando com a redução dos custos operacionais e aquisição de fertilizantes. Além disso, observou-se redução do déficit hídrico para o cultivo agrícola na região e, como um dos principais impactos positivos, a inutilização da diluição dos efluentes gerados tratados no Ribeirão Bonito. Sendo assim, a técnica de fertirrigação se mostrou um método sustentável, que contribui para a manutenção do equilíbrio ecológico frente aos usos múltiplos da água agregando diversos benefícios para área fertirrigada. Palavras-chave: Sustentabilidade, Esgoto Industrial, Frigoríficos. 6 SANCHES, F. S. Utilization of Fertigation with a Cattle Slaughterhouse’s Wastewater. 2017. 87 p. Master's Dissertation, Post-Graduate Program in Water Resources, Federal University of Mato Grosso, Cuiabá, 2017. ABSTRACT Anthropogenic pressures on water resources have intensified over time wich has been allied to the recent legislation’s more effective restrictions, especially those based on command and control instruments. Therefore, the use of sustainable techniques for effluent management becomes essential, especially to industrial effluents, characterized by the production process’ externality of several enterprises, such as cattle slaughtering. Thus, this work was based on a case study of the fridges’ wastewater reuse, applied in the fertigation modality in Água Boa- MT city. The study sought to verify the feasibility of three main directives, being: (i) environmental, (ii) agronomic and (iii) economical, besides pointing out the main positive and negative impacts of fertigation. In the environmental feasibility verification stage, the natural characteristics of the soil, the river basin and the irrigation area were diagnosed to determine the pre-existing natural environmental vulnerability. The agronomic conditions were determined by the soil fertility, its variation during the fertigation activity, as well as the nutritional requirements of the crops implanted in the area. To evaluate the economic feasibility this system implantation and operation it was sought to validate the agronomic potential. In order to determine the impacts, a matrix of impacts was produced based on a bibliographic review. In general, the results were satisfactory, indicating that the nutrient dosages applied through the effluents, although lower than their nutritional requirements, were significant wich represented about 51% of nitrogen, 45% of phosphorus and 15% of potassium, corroborating with reduction of operating and purchasing fertilizers costs. In addition, it was observed a reduction of the water deficit for the agricultural crop in the region and, as one of the main positive impacts, the wastewater dilution in Ribeirão Bonito was not used. The fertigation technique presented as a sustainable method, which contributes to the maintenance of the ecological balance favoring water multiple uses, adding several benefits to the fertigated area. Key words: Sustainability, Industrial sewage, Fridges. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Fluxograma básico do abate de bovinos e geração de efluentes .............................. 23 Figura 2. Irrigação por aspersão: sistema convencional portátil ............................................. 32 Figura 3. Irrigação por aspersão: sistema convencional permanente ...................................... 33 Figura 4. Irrigação por aspersão: pivô central ......................................................................... 34 Figura 5. Irrigação por aspersão: autopropelido no projeto de fertirrigação de efluentes de abatedouro bovino de Água Boa-MT. A, visão distante; B, visão aproximada. ...................... 35 Figura 6. Irrigação por aspersão: carretel autopropelido ......................................................... 35 Figura 7. Irrigação localizada: gotejamento ............................................................................ 36 Figura 8. Irrigação localizada: subsuperficial ......................................................................... 37 Figura 9. Esquema metodológico com os principais aspectos empregados nesta pesquisa. ... 47 Figura 10. Área de estudo. ....................................................................................................... 48 Figura 11. Sub-bacias município Água Boa ............................................................................ 48 Figura 12. Distribuição da precipitação ao longo do ano em Água Boa-MT (2017). ............. 49 Figura 13. Microbacia Ribeirão Bonito ................................................................................... 50 Figura 14. Pedologia da área fertirrigada e da microbacia. ..................................................... 50 Figura 15. Composição física granulométrica média do solo na área de fertirrigação. A, perfil de 0 a 20 cm; B, perfil de 20 a 40 cm. ......................................................................................51 Figura 16. Sistema de tratamento da unidade industrial.......................................................... 52 Figura 17. Balanço hídrico mensal .......................................................................................... 62 Figura 18. Balanço hídrico mensal com fertirrigação ............................................................. 62 Figura 19. Resultados das análises químicas do solo entre os anos de 2015 e 2017. .............. 63 Figura 20. Fornecimento de macronutrientes para o cultivo de soja e adubação química convencional complementar. .................................................................................................... 67 8 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Características físico-químicas do efluente tratado de um frigorifico de bovinos em Água Boa-MT ........................................................................................................................... 25 Tabela 2. Caracterização físico-química do efluente bruto e do efluente tratado, bem como a sua eficiência de remoção, de um frigorífico de bovinos de Barra do Garças-MT. ................. 26 Tabela 3. Vantagens e desvantagens da fertirrigação .............................................................. 29 Tabela 4. Classe de interpretação para acidez ativa do solo (pH)¹ .......................................... 38 Tabela 5. Classe de interpretação de fertilidade do solo para a matéria orgânica e para o complexo de troca catiônica. .................................................................................................... 39 Tabela 6. Classes de interpretação da disponibilidade para o fósforo de acordo com o teor de argila do solo ou do valor de fósforo remanescente (P-rem) e para o potássio. ....................... 39 Tabela 7. Classe de interpretação da disponibilidade para enxofre de acordo com o valor do fósforo remanescente (P-rem). ................................................................................................. 40 Tabela 8. Classes de interpretação da disponibilidade para os micronutrientes. ..................... 40 Tabela 9. Quantidade absorvida e exportada de nutrientes pela cultura da soja ..................... 42 Tabela 10. Acúmulo de nutrientes na parte aérea e grãos de soja, estimados para a produção de uma tonelada de grãos. ............................................................................................................. 43 Tabela 11. Extração média de nutrientes pela cultura do milho destinada à produção de grãos e silagem em diferentes níveis de produtividade ...................................................................... 44 Tabela 12. Extração e exportação de nutrientes na cultura do milho ...................................... 45 Tabela 13. Extração total (parte aérea) de algumas culturas de capim .................................... 46 Tabela 14. Variáveis físico-químicas analisadas no solo fertirrigado ..................................... 55 Tabela 15. Variáveis analisadas no estudo .............................................................................. 56 Tabela 16. Resultado da caracterização da qualidade do efluente ........................................... 60 Tabela 17. Exigência nutricional do cultivo e fornecimento nutricional pela fertirrigação. ... 66 Tabela 18. Economia com a aplicação da fertirrigação na área de estudo. ............................. 68 Tabela 19. Custo e economia monetária com a fertirrigação .................................................. 69 9 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Classificação qualitativa de fertilidade do solo ...................................................... 64 Quadro 2. Matriz de impacto. ................................................................................................. 70 10 LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas Al3+: Acidez potencial ANEEL: Agência nacional de energia elétrica B: Boro C: Carbono Ca: Cálcio Ca+2: Cálcio trocável Cef: Concentração do parâmetro no efluente CEHIDRO: Conselho estadual de recursos hídricos CEPEA: Centro de estudos avançados em economia aplicada Cman: Concentração natural do parâmetro no manancial CO: Carbono orgânico CONAB: Companhia nacional de abastecimento CONAMA: Conselho nacional de meio ambiente Cperm: Concentração do parâmetro permitido por enquadramento dos corpos hídricos CTC: capacidade de troca catiônica Cu: Cobre CV: cavalos DBO: Demanda bioquímica de oxigênio DQO: Demanda química de oxigênio Fe: Ferro FEAM: Fundação estadual do meio ambiente de Minas Gerais 11 H + Al: Acidez potencial H: Hidrogênio ha: hectare IBGE: Instituto brasileiro de geografia e estatística K: Potássio Mg: Magnésio Mg+2: Magnésio trocável Mn: Manganês MO: Matéria orgânica N: Nitrogênio NBR: Norma técnica brasileira NTK: Nitrogênio total Kjeldahl O: Oxigênio P: Fósforo PEMD: Polietileno de meia densidade pH: Potencial hidrogeniônico Q95: Vazão de referência Qdil: Vazão de diluição Qef: Vazão do efluente Qponto: Vazão no ponto de interesse RIMA: Relatório de Impacto Ambiental S/N: Sem número S: enxofre SB: Soma das bases 12 sc: saca SEMA: Secretaria de estado e meio ambiente SIMLAM: Sistema integrado de monitoramento e licenciamento ambiental Zn: Zinco 13 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 16 2. JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 18 3. OBJETIVOS ................................................................................................................... 20 3.1. Objetivo Geral ............................................................................................................ 20 3.2. Objetivos Específicos ................................................................................................ 20 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 21 4.1. Geração de Efluentes de Frigoríficos ......................................................................... 21 4.1.1. Geração do Efluente no Frigorífico de Bovinos ................................................. 22 4.1.2. Características do Efluente Tratado de Frigoríficos de Bovinos ........................ 24 4.1.3. Cargas de Poluição Potenciais e Vazão de Diluição .......................................... 26 4.2. Reuso de Efluentes ..................................................................................................... 27 4.2.1. Reuso de Efluentes Tratados .............................................................................. 27 4.2.2. Fertirrigação........................................................................................................ 28 4.2.3. Geração de Impactos Ambientais na Fertirrigação............................................. 29 4.2.3.1. Medidas Mitigadoras ...................................................................................... 31 4.2.4. Principais Tecnologias para a Fertirrigação ....................................................... 32 4.2.4.1. Principais Tecnologias para a Irrigação por Aspersão Convencional ............ 32 4.2.4.1.1. Sistema Convencional Portátil .................................................................... 32 4.2.4.1.2. Sistema Convencional Permanente ............................................................. 33 4.2.4.2. Principais Tecnologias para Irrigação por Aspersão Mecanizada .................. 33 4.2.4.2.1. Pivô Central ................................................................................................. 33 4.2.4.2.2. Autopropelido..............................................................................................34 4.2.4.3. Principais tecnologias para Irrigação Localizada ........................................... 35 4.2.4.3.1. Gotejamento ................................................................................................ 35 14 4.2.4.3.2. Subsuperficial .............................................................................................. 37 4.3. Fertilidade do Solo por meio de Classificação e Interpretação de Análises Químicas 37 4.4. Necessidades nutricionais das culturas irrigadas ....................................................... 40 4.4.1. Necessidade nutricional da Soja ......................................................................... 41 4.4.2. Necessidade Nutricional do Milho ..................................................................... 43 4.4.3. Necessidade Nutricional de Alguns Tipos de Capim ......................................... 45 5. METODOLOGIA ........................................................................................................... 47 5.1. Área de Estudo ........................................................................................................... 47 5.1.1. Aspectos Morfopedológicos ............................................................................... 50 5.1.2. Procedimentos de Abate dos Bovinos Adotados no Empreendimento .............. 52 5.1.3. Sistema de Tratamento dos Efluentes Produzidos .............................................. 52 5.1.4. Projeto de Fertirrigação ...................................................................................... 53 5.2. Diagnóstico do Meio Físico ....................................................................................... 54 5.2.1. Amostragem e Variáveis Físico-Químicas do Solo ............................................ 54 5.3. Caracterização do Efluente Utilizado para a Fertirrigação ........................................ 55 5.3.1. Vazão de Diluição .............................................................................................. 56 5.4. Avaliação da Exigência e Fornecimento de Nutrientes ............................................. 57 5.5. Viabilidade Econômica .............................................................................................. 58 5.6. Avaliação e Estruturação da Matriz de Impacto Ambiental ...................................... 59 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................. 60 6.1. Características do Efluente Pós-Tratado .................................................................... 60 6.2. Vazão de Diluição ...................................................................................................... 61 6.3. Balanço Hídrico da Fertirrigação ............................................................................... 61 6.4. Acompanhamento da Fertilidade do Solo Fertirrigado .............................................. 62 6.4.1. Balanço da Exigência Nutricional ............................................................................. 66 6.5. Viabilidade Econômica .............................................................................................. 67 15 6.6. Matriz de Impacto ...................................................................................................... 69 7. CONCLUSÕES ................................................................................................................... 76 7.1. Recomendações ............................................................................................................. 77 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 79 16 1. INTRODUÇÃO O Brasil, atualmente, possui o maior rebanho comercial do mundo e assumiu a liderança mundial na quantidade exportada. A pecuária de corte é uma das explorações agropecuárias mais significativas, tanto na geração de receitas internas como na pauta de exportação, além de incorporar em seu escopo produtivo o desenvolvimento de tecnologias que aumentam a produtividade, tendo sido abatidos mais de 7,37 milhões de cabeças de bovinos no primeiro trimestre de 2017 com faturamento de exportação de 1080 milhões de dólares (IBGE, 2017). Nesta perspectiva, referente a um dos subprodutos do processo produtivo, os efluentes gerados do abate de bovinos possuem elevadas concentrações de carga orgânica, fósforo, nitrogênio e gordura, além de possuir uma variância considerável do pH. O efeito combinado destes fatores indica que o processo simples não é o adequado para o seu tratamento, demandando aplicação de tecnologias e processos unitários adequados em sua operação (PACHECO, 2006). Neste sentido, os novos conceitos e aplicações de sustentabilidade, além das legislações recentes, à cerca do uso de recursos hídricos vêm pressionando a implantação de sistemas mais eficientes, com redução de consumo de água, com reciclagem e reuso de efluentes em diversas atividades econômicas. Pacheco (2006) apresenta que os sistemas de tratamento dos efluentes líquidos do abatedouro de bovinos podem variar nas empresas. Porém, um sistema de tratamento típico do setor deve possuir tratamento primário, para remoção dos sólidos grosseiros, suspensos sedimentáveis e flotáveis; equalização, para absorver as variações significativas da vazão ao longo do tratamento; tratamento secundário, para remoção dos sólidos coloidais, dissolvidos e emulsionados; e tratamento terciário, empregado quando a legislação fixa a necessidade do polimento dos nutrientes e patógenos. Como alternativa para a disposição final deste efluente pós-tratado, a técnica de fertirrigação consiste na aplicação de adubos concomitantemente com a água de irrigação, sendo de grande utilidade para o cultivo das plantas, pois neste caso o nutriente é fornecido juntamente com a água (essencial para sua absorção). Além disso, apresenta-se ainda muitas 17 outras vantagens, entre as quais há uma melhor distribuição do fertilizante no campo e uma possibilidade de maior parcelamento das adubações, aumentando a eficiência na utilização dos adubos pelas plantas (DUENHAS et al., 2002). Portanto, esse método é capaz de associar a premissa básica de sustentabilidade, frente o reuso dos efluentes, juntamente com o fornecimento de nutrientes para o cultivo das culturas do determinado local fertirrigado. Diversos ramos da indústria vêm enxergando tal como alternativa viável à utilização dos efluentes tratados, tendo em vista as principais vantagens como redução da pressão sobre cursos d’água local, aproveitamento dos nutrientes dos efluentes em diversas culturas e a economia do uso de adubos químicos. 18 2. JUSTIFICATIVA A Lei Federal n° 9.433 de 08 de janeiro de 1997 instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, apresentando em um de seus fundamentos básicos a necessidade de que a gestão dos recursos hídricos deva ocorrer baseada nos usos múltiplos das águas, isto é, pode-se entender que em uma mesma bacia hidrográfica se deve respeitar todos os usuários do recurso natural, sendo direcionado em função os seus usos preponderantes e a classificação do seu enquadramento legal. Neste sentido, certos empreendimentos, tal como os abatedouros de bovinos, são capazes de gerar certas externalidades do seu processo produtivo, como por exemplo a geração dos efluentes líquidos, que necessitam de destinação e disposição final ambientalmente adequada e, por conseguinte, deve-se atentar à disponibilidade hídrica da região, tendo em vista que a prática comum é que se utilize um corpo hídrico receptor como meio de disposição final dos efluentes (PACHECO, 2006). Corroborando com a problemática acerca dos abatedouros de bovinos, a Lei Estadual n. 10.242/2014, que basicamente trata sobre a taxa de licenciamento ambiental, define os frigoríficosde abate bovino com médio grau de utilização dos recursos naturais e potencial poluidor, tendo sido estabelecido no Decreto n. 158/2015, que regulamenta a referida lei, que o potencial de poluição e degradação do meio ambiente dos frigoríficos é alto. Sendo assim, é imprescindível que sejam empregadas certas técnicas sustentáveis de manejo destes efluentes pós-tratados, principalmente nas bacias e/ou microbacias hidrográficas que não possuem disponibilidade hídrica para diluição em água superficial. Portanto, a fertirrigação é enquadrada como uma medida alternativa de disposição do efluente no solo, aliado ao ganho nutricional no cultivo de certas culturas. Tem-se, portanto, como principais alterações no solo os efeitos sobre o carbono orgânico total, o nitrogênio total, a atividade microbiana, o cálcio e o magnésio trocáveis, a salinidade, a sodicidade e a dispersão de argilas nos horizontes (FONSECA et al., 2007). Além disso, se a disposição das águas residuárias no sistema solo-planta forem realizadas sob a perspectiva dos critérios agronômicos ambientais, a operação pode significar fonte de nutrientes e água para as plantas, diminuição do déficit hídrico, redução do uso de fertilizantes na produção agrícola e do seu potencial poluidor, uma vez que o efluente não será mais despejado em coleção hídrica (BURT et al., 1995). 19 De acordo com Hamilton et al. (2007), o reuso dos efluentes nos sistemas agrícolas está deixando de ser uma prática aplicável apenas nas regiões áridas e se tornando um método corriqueiro e de ampla difusão no mundo desenvolvido, fundamentado no aporte de matéria orgânica, dos nutrientes e no atendimento das necessidades hídricas das plantas. Além disso, a aplicação prolongada de águas residuárias no sistema solo-planta irá incorporar, de forma gradativa, a matéria orgânica no solo, melhorando significativamente suas características físicas, tal como a massa específica, porosidade, retenção de água, promover melhorias nas suas condições hidrodinâmicas entre outros, de modo a influenciar no aumento e na manutenção da produtividade das culturas agrícolas ao longo dos anos (YANG et al., 2011). Desta maneira, a realização de estudos que visem a identificação dos processos que ocorrem nesta prática e que determinem a viabilidade ambiental, agronômica e econômica do método é de extrema importância, frente a necessidade constante de medidas sustentáveis e uma vez que as informações técnicas-científicas estabelecem incentivo e maior confiança na continuidade desta prática. 20 3. OBJETIVOS 3.1. Objetivo Geral Este trabalho tem por objetivo geral verificar a viabilidade de três diretrizes principais, sendo: (i) ambiental, (ii) agronômica e (iii) econômica, assim como apresentar os impactos positivos e negativos do reuso de efluentes de um abatedouro de bovinos na modalidade de fertirrigação como alternativa de sua disposição final. 3.2. Objetivos Específicos Caracterizar o efluente pós-tratado do abatedouro de bovinos e avaliar o seu valor agronômico por meio das variáveis físico-químicas; Avaliar alternativamente a diluição do efluente tratado em relação à disponibilidade hídrica da bacia hidrográfica; Demonstrar o benefício no balanço hídrico na área irrigada; Acompanhar os níveis de classificação da fertilidade do solo antes e depois da operação de fertirrigação; Analisar as exigências nutricionais do cultivo agrícola e o subsídio pela fertirrigação; Determinar a economia da produção agrícola em relação aos adubos convencionais; e Elaborar uma matriz de impacto ambiental para a atividade. 21 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1. Geração de Efluentes de Frigoríficos A Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais (FEAM) (2010) apontou as emissões mais significativas associadas às atividades dos frigoríficos e indústrias de carne e derivados são os efluentes líquidos com altas cargas orgânicas. Em frigoríficos, assim como em vários tipos de indústria, alto consumo de água acarreta grandes volumes de efluentes - 80 a 95% da água consumida é descarregada como efluente líquido (UNEP; DEPA; COWI, 2000) citado por (PACHECO, 2006). Estes efluentes caracterizam-se principalmente por: Alta carga orgânica; Alto conteúdo de gordura; Flutuações de pH em função do uso de agentes de limpeza ácidos e básicos; Altos conteúdos de nitrogênio, fósforo e sal; Teores significativos de sais diversos de cura e, eventualmente, de compostos aromáticos diversos (no caso de processos de defumação de produtos de carne); Desta forma, os despejos de frigoríficos possuem altos valores de DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e DQO (demanda química de oxigênio) – parâmetros utilizados para quantificar carga poluidora orgânica nos efluentes, além de sólidos em suspensão, graxas e material flotável. Fragmentos de carne, de gorduras e de vísceras normalmente podem ser encontrados nos efluentes. Portanto, juntamente com sangue, há material altamente putrescível nestes efluentes, que entram em decomposição poucas horas depois de sua geração, tanto mais quanto mais alta for a temperatura ambiente (PACHECO, 2006) Para Cavalcanti e Braile (1993), entre os efluentes frigoríficos, o sangue pode ser considerado um dos componentes mais problemáticos no tratamento, pois sua presença no efluente inibe a formação dos flocos, o que diminui a eficiência do tratamento por coagulação e floculação, comprometendo sua biodegradabilidade. O sangue tem a DQO mais alta de todos os efluentes líquidos gerados no processamento de carnes. Sangue líquido bruto tem uma DQO em torno de 400g/L e DBO de aproximadamente 200g/L e uma concentração de nitrogênio de aproximadamente 30g/L. (DORNELLES, 2009). Em geral, esses efluentes podem ser divididos em três principais linhas de fluxo: 22 Linha verde, composta por águas de lavagem dos currais, pocilgas e áreas de recepção de animais em geral, rampas de descarga, área de circulação de animais, áreas de limpeza e processamento de tripas e buchos e graxarias; Linha vermelha, composta por águas de lavagem da área destinada ao abate, incluindo as áreas anexas onde o sangue é o principal contaminante; Linha de efluentes sanitários, composta por efluentes sanitários da planta provenientes de banheiros, refeitórios, etc. Os efluentes líquidos gerados durante as atividades de abate e processamento da carne e de subprodutos em diversas operações podem variar de acordo com o tipo de processo adotado e de animal abatido. Serão indicados, a seguir, os principais pontos de geração de efluentes e resíduos na indústria de abate, bem como a sua caracterização, visando a análise da viabilidade de reuso desses efluentes minimizando a destinação final destes em corpos hídricos. 4.1.1. Geração do Efluente no Frigorífico de Bovinos A cadeia produtiva da carne bovina brasileira é uma das mais complexas em relação a estruturação e aos agentes envolvidos, exercendo um papel fundamental ao longo da história e do desenvolvimento brasileiros. Os agentes econômicos do fluxo produtivo, no caso da carne bovina, são: produção de insumos, produtores de bovinos, abatedouros/frigoríficos (agroindústria) e rede de distribuição (atacado e varejo) (MICHELS; SPROESSER; MENDONCA, 2001). O efluente bruto de frigorifico de bovinos, ao ser despejados em corpos hídricos, causam a alteração da qualidade nos corpos receptores e, por conseguinte, a sua degradação. De acordo com Prandl et al. (1994), os subprodutos gerados em todo processo de abate podem corresponder a 49% do animal abatido. De acordo com Pacheco (2006) o abatedouro de bovinos gera três segmentos de efluentes líquidos no seu processo de produção, sendo a Linha Vermelha, Linha Verde e esgotos sanitário. A Linha Vermelha é caracterizada por hemoderivados, a Linha Verde pelos dejetos dos animais e o esgoto sanitário é emdetrimento dos trabalhadores da indústria. As vazões médias específicas são, 1.630 e 540 L/bovino, das Linhas Vermelha e Verde, respectivamente e 122 L/empregado dia para o esgoto sanitário. A Figura 1 demonstra esquematicamente o fluxograma com os insumos e os subprodutos das etapas de produção do abatedouro de bovinos, bem como a sua geração de efluentes líquidos. 23 Figura 1. Fluxograma básico do abate de bovinos e geração de efluentes Fonte: Adaptado de Pacheco (2006). Água e Desinfetantes Esterco, urina, caminhões lavados, Efluentes líquidos Água e Desinfetantes Esterco, urina, Efluentes líquidos Vômito, urina, Efluentes líquidos Sangue processamento Efluentes líquidos Couro curtume Cabeça e cascos graxaria Efluentes líquidos Vísceras processamento Efluentes líquidos Gorduras graxaria Efluentes líquidos Ossos e gordura graxaria Efluentes líquidos Efluentes líquidos (câmaras) Água, Eletricidade, Produtos de limpeza e Ar comprimido Água e Produtos de limpeza Água, Eletricidade, Sal e gelo Produtos de limpeza e Ar comprimido Eletricidade e Água Água, eletricidade, gases refrigerantes e Produtos de limpeza Água, eletricidade e Produtos de limpeza Eletricidade e Material de embalagem 24 Conforme apresentado, os efluentes líquidos são gerados desde em praticamente todas as etapas de produção dos abatedouros de bovinos, com exceção das etapas de separação da carne das meias carcaças e da embalagem do produto final. Segundo Pacheco (2006), a etapa de sangria é uma das etapas críticas do sistema de produção, caracterizada pela secção de grandes vasos sanguíneos do pescoço com uma faca. O sangue que escorre do animal suspenso, é coletado na calha e direcionado para armazenamento em tanques, gerando de 15 a 20 litros de sangue por animal. Parte do sangue pode ser coletada assepticamente e vendida in natura para indústrias de beneficiamento, onde separam os componentes de interesse (albumina, fibrina e plasma). O sangue armazenado nos tanques pode ser processado por terceiros ou no próprio abatedouro, para a obtenção de farinha de sangue, utilizada na alimentação de outros animais. No entanto, de todo modo, parte do sangue escorrido desta etapa geram efluentes líquidos, denominados da Linha Vermelha. 4.1.2. Características do Efluente Tratado de Frigoríficos de Bovinos Em razão do presente projeto objetivar do reuso do efluente tratado para a fertirrigação, a seguir serão apresentadas as características físico-químicas dos efluentes provenientes deste tipo de empreendimento, tendo sido realizado em 2014 pela Ambiagro análises do efluente tratado de um frigorifico bovino em Água Boa-MT, que podem ser observados na Tabela 1. 25 Tabela 1. Características físico-químicas do efluente tratado de um frigorifico de bovinos em Água Boa-MT Variáveis Unidade Método Resultado DBO mg L-1 Incubação à 20°C por 5dias 300 DQO mg L-1 Colorimétrico refluxo fechado 462 ,4 Nitrogênio mg L-1 NTK 168 Fósforo mg L-1 Ácido ascórbico 22,5 Potássio mg L-1 Colorimétrico 28,2 Enxofre mg L-1 Colorimétrico 0,7 Cálcio mg L-1 Titulométrico 27 Magnésio mg L-1 Titulométrico 12 Cobre mg L-1 Cromatografia 0 Ferro mg L-1 Cromatografia 1,35 Manganês mg L-1 Persulfato de amônio 0,2 Sódio mg L-1 Eletrodo seletivo 96 Cloro mg L-1 Titulométrico 127,6 Zinco mg L-1 Zincom 0,03 Fonte: Ambiagro (2014). Em 2008, o laboratório Anunciação & Anunciação Ltda. realizou uma série de análises das características físico-químicas dos efluentes bruto e tratado durante oito meses, sendo de janeiro a agosto, de um abatedouro de bovinos no município de Araguaia-MT, tendo sido percebido altas concentrações de teores orgânicos biodegradáveis e/ou não, nitrogênio, fósforo, óleos e graxas entre outros. Porém, o sistema de tratamento empregado no empreendimento apresentou níveis satisfatórios de remoção dos teores orgânicos e de nutrientes, conforme apresentados na Tabela 2. 26 Tabela 2. Caracterização físico-química do efluente bruto e do efluente tratado, bem como a sua eficiência de remoção, de um frigorífico de bovinos de Barra do Garças-MT. Variáveis/metodologia Unidade Efluente Bruto Efluente Tratado Eficiência de Remoção pH/ potenciometria - 5,83 - 7,72 5,41 - 7,82 - DQO/ refluxo fechado mg L-1 4.063 - 14.837,6 55,00 - 310,00 98,6 - 97,9% DBO5/incubação à 20°C por 5 dias mg L-1 1.604,00 - 6.581,6 44,00 - 94,00 97,3 - 98,6% Sólidos totais/ gravimetria mg L-1 1.447,00 - 34.539,00 414,00 - 1.447,00 71,4 - 95,8% Sólidos fixos/ gravimetria mg L-1 630,00 - 5.114,00 165,00 - 755,00 73,8 - 85,2% Sólidos voláteis/ gravimetria mg L-1 817,00 - 29.425,00 85,00 - 756,00 89,6 - 97,4% Oxigênio dissolvido/ eletrodo mg L-1 0,00 - 0,00 3,69 - 5,90 - Fósforo total/ ácido ascórbico mg L-1 1,70 - 17,8 0,16 - 6,00 90,6 - 66,3% Nitrogênio total/ NTK mg L-1 6,00 - 108,60 0,24 - 24,00 96,0 - 77,9% Nitrogênio amoniacal/ NTK mg L-1 0,38 - 38,80 0,05 - 14,00 86,8 - 63,9% Óleos e graxas/ gravimetria extração com solvente mg L-1 3,00 - 633,40 0,36 - 17,00 88,0 - 97,3% Coliformes totais/ tubos múltiplos NMP 100mL-1 7,80E5 - 2,10E8 1,50E3 - 2,50E6 99,8 - 98,8% Coliformes termotolerantes/ tubos múltiplos NMP 100mL-1 5,2E4 - 1,80E8 1,50E3 - 2,50E6 97,1 - 98,6% Fonte: Anunciação & Anunciação LTDA (2008). 4.1.3. Cargas de Poluição Potenciais e Vazão de Diluição A avaliação do potencial de poluição dos efluentes quando lançados nos corpos hídricos receptores é muito importante, sendo necessário que sejam realizadas as determinações de suas cargas orgânicas, sejam biodegradáveis ou não, e também as cargas de nutrientes tal como o fósforo e o nitrogênio, sendo que estes resultados são capazes de demonstrar o panorama qualiquantitativo do efluente. 27 O Art. 42 da Resolução n. 357/2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, estabeleceu que: “enquanto não aprovados os respectivos enquadramentos, as águas doces serão consideradas Classe 2, [...] exceto se as condições de qualidade atuais forem melhores, o que determinará a aplicação da classe mais rigorosa correspondente”. Sob essa premissa, observa-se que a maioria dos corpos hídricos superficiais do Estado de Mato Grosso, com exceção dos corpos hídricos urbanos de Cuiabá regidos pelo Enquadramento Transitório, são considerados Classe 2, fato que se aplica ao Ribeirão Bonito, estabelecendo-se, portanto, limite máximo permitido da concentração de DBO5 de 5 mg O2 L -1 (FONTES et al., 2017). Sendo assim, a viabilidade de se despejar certo efluente com determinada carga orgânica no corpo hídrico pode ser limitada em termos locacionais, sendo necessário elevada vazão de diluição outorgável e/ou níveis de eficiência da remoção de DBO5. 4.2.Reuso de Efluentes 4.2.1. Reuso de Efluentes Tratados Ainda que apenas no século XX o reuso das águas residuárias tenha obtido maior importância, essa prática vem sendo empregada há séculos. O primeiro relato de irrigação com esgoto sanitário foi em 1897 na Fazenda Werribee, próximo a Melbourne, Austrália (FEIGIN et al., 1991). Na Nova Zelândia, o projeto pioneiro de irrigação com efluentes se iniciou em 1958, na cidade de Templeton, com plantas forrageiras (QUIN, 1978). Na China, o uso de esgoto na agricultura desenvolveu-se rapidamente a partir de 1958 e com isso, mais de um milhão de hectares vem sendo irrigados com efluente tratado (PESCOD, 1992). Na Florida (EUA), a aplicação de água residuária municipal no solo teve início na cidade de Tallahasse, em 1966 (ALLHANDS & OVERMAN, 1995). Em Israel, esta prática vem sendo corriqueira há mais de 50 anos, sendo que no início da década de 1990, cerca de 67% do total de efluentes tratados era utilizado na irrigação de pastagense culturas agrícolas, principalmente no algodão ou na recarga de aquíferos (FEIGIN et al., 1991). Corroborando com a magnitude apresentada, a revisão bibliográfica de Hamilton et al. (2007) apontou a área fertirrigada de vários países sendo liderado pela China, com mais de 1.330.000 ha de área com aplicação do reuso de efluentes na modalidade fertirrigação, o México apresentou mais de 350.000 ha, o Paquistão 32.000 ha, a África do Sul 22.000 ha entre outros. Observou-se mediante bibliografias específicas, que o reuso dos efluentes tratados e/ou parcialmente tratados na irrigação de culturas agrícolas e/ou florestas, ao invés de 28 descarregá-los nos cursos d’água, tem sido uma alternativa difundida e que vem ganhando interesse (BALKS et al., 1998). Pois, a agricultura irrigada requer grandes quantidades de água, visto que a irrigação basicamente é um uso consuntivo e, consequentemente, o requerimento d’água para irrigação representa a maior parte do total de água demandada, principalmente nas regiões secas (BOUWER & IDELOVITCH, 1987). 4.2.2. Fertirrigação A fertirrigação permite manter a disponibilidade de água e nutrientes próxima dos valores considerados ótimos ao crescimento e à produtividade da cultura. Sendo assim, a quantidade de nutrientes, parcelada ou não, deve ajustar- se às necessidades da cultura ao longo das fases de desenvolvimento. Ainda, o manejo da água deve evitar variações bruscas do potencial matricial do substrato, especialmente nos períodos de forte demanda evaporativa da atmosfera. (ANDRIOLO et al., 1997 apud FERNANDES, 2002). Burt et al. (1995) afirmaram que a fertirrigação é o mais econômico e eficiente método de aplicação de fertilizantes, especialmente quando aplicado através de sistema de irrigação localizado, desde que esta aplicação assegure os fertilizantes diretamente na região das raízes das plantas, e com o fracionamento das doses, possibilita aumentar a eficiência da adubação. Esses mesmos autores, afirmam que comparando a fertirrigação por gotejamento e a aplicação de fertilizantes com o método convencional, há um aumento na eficiência de aplicação de fertilizante no primeiro método e gasta 20 a 50% menos fertilizantes do que o método convencional. A Tabela 3 demonstra algumas vantagens e desvantagens da fertirrigação. 29 Tabela 3. Vantagens e desvantagens da fertirrigação Vantagens Desvantagens O atendimento das necessidades nutricionais da cultura de acordo com a sua curva de absorção aplicação dos nutrientes restrita ao volume molhado onde se encontra a região de atividade das raízes Necessidade de prevenir retorno do fluxo de solução à fonte de água As quantidades e concentrações dos nutrientes podem ser adaptadas à necessidade da planta em função de seu estádio fenológico e condições climáticas Possibilidades de entupimentos das tubulações O dossel é mantido seco, reduzindo a incidência de patógenos e queima das folhas Possibilidades de contaminação do manancial subsuperficial ou subterrâneo Economia de mão de obra Redução de atividades de pessoas ou máquinas na área da cultura, evitando compactação e favorecendo as condições físicas do solo Fonte: Coelho et al. (2000). Desde a década de 90 o reuso dos efluentes na modalidade de fertirrigação de culturas agrícolas ao invés de despejá-los nos cursos d’água tem sido enxergada como uma alternativa popular atrativa e com grande expansão, tendo em vista (i) o atendimento da demanda de água da cultura a ser cultivada, principalmente nos locais mais escassos; (ii) a agricultura irrigada requer grandes quantidades de água; (iii) a fertirrigação não somente mantém as águas superficiais, mas também realiza a reciclagem dos poluentes, que passam a ser nutrientes pro sistema solo-planta (HAMILTON et al., 2007). 4.2.3. Geração de Impactos Ambientais na Fertirrigação As principais alterações descritas para os solos fertirrigados com águas residuárias se resumem aos efeitos sobre o carbono e nitrogênio totais, atividade microbiana e N-mineral, cálcio e magnésio trocáveis, salinidade, sodicidade e dispersão de argilas (FONSECA et al., 2007). Em síntese, podem ocorrer problemas de contaminação do solo, das águas superficiais 30 e subterrâneas e toxicidade às plantas causados pela disposição de águas residuárias no sistema solo-planta, quando feita sem critérios agronômicos e ambientais. O acúmulo de sais no solo ou substrato em cultivos protegido é bastante frequente, principalmente devido às altas doses de fertilizantes aplicadas, à falta de lixiviação dos sais acumulados após um cultivo e a utilização de águas subterrâneas com características físico- químicas desfavoráveis (BLANCO, 2004). Um manejo inadequado ou excessivas aplicações de fertilizantes podem levar a ocorrência de salinização dos solos, afetando assim, o desenvolvimento e produção das culturas (DIAS et al., 2006). Dentre os fatores que causam a rápida salinização de solos em casas de vegetação está a condutividade elétrica dos fertilizantes aplicados (VILLAS BOAS et al., 1999) pois, muitas vezes a fertirrigação é aplicada de forma empírica sem levar em consideração fatores como a fertilidade atual do solo e a necessidade nutricional da cultura, além disso, a escolha do fertilizante deve ser feita com base nas características de cada produto, visando atender às necessidades dos demais elementos envolvidos no processo, gerando uma condutividade elétrica na solução do solo tolerável a cultura, evitando assim perdas na produção (VILLAS BÔAS et al., 2002). Conforme Coelho et al. (2011) outro importante impacto da fertirrigação no solo seria a redução do pH deste, devido a fontes nitrogenadas como a ureia. Esses autores afirmam que com a ocorrência da absorção de cátions em maior quantidade em relação aos ânions, as raízes das plantas tendem a compensar excretando prótons (H+) acidificando a rizosfera. No entanto, quando há maior absorção de ânions, as raízes tendem a compensar liberando hidroxilas (OH-) reagindo com o CO2 resultando em bicarbonatos HCO3 -, alcalinizando a rizosfera (SILVA, 2014). Devido a riqueza de material orgânico e de nutrientes, a fertirrigação pode causar desconforto à população (quando a fertirrigação é feita próxima a domicílios) devido ao seu possível odor. Esse odor característico e desagradável é advindo do processo de estabilização da matéria orgânica por bactérias aeróbias. O relatório de impacto ambiental (RIMA) da Usina Naviraí S/A - Açúcar e Álcool (TOPOSAT AMBIENTAL, 2007) que utiliza a vinhaça na fertirrigação, afirma que na fertirrigação pode ocorrer contaminação do solo, pois a elevada carga de matéria orgânica se caracteriza além da capacidade de suporte do terreno, proveniente das atividades metabólicas de alguns microrganismos presentes no solo. Outro possível impacto apontado no RIMA da Usina Naviraí S/A é a possível poluição dos recursos hídricos superficiais através da lixiviação do solo fertirrigado por meio das águas 31 pluviais. Os compostos utilizados na fertirrigação pode conter alta carga orgânica, como já dito anteriormente nessa revisão bibliográfica. Quando atinge os corpos hídricos esse lixiviado diminui significativamente a quantidade de oxigênio dissolvido nestes corpos hídrico, podendo acarretar na perda de espécies aquáticas e proliferação de algas que contribuem para a eutrofização do ambiente aquático (TOPOSAT AMBIENTAL, 2007). O RIMA de uma outra indústria sucroenergética denominada “Terra Verde Bioenergia” classificou esse impacto em alguns atributos como: natureza (impacto positivo ou negativo), probabilidade (certo ou provável), prazo (curto, médio ou longo), abrangência (localizado, ou disperso), duração (temporário ou permanente), magnitude (pequena, média ou grande) e grau de relevância (alto, médio ou baixo). A poluiçãodos recursos hídricos superficiais devido a lixiviação do solo fertirrigado foi classificado como um impacto negativo, provável, de longo prazo, localizado, permanente, de grande magnitude e com alto grau de relevância (ARATER, 2010). Pode ocorrer a poluição das águas subterrâneas devido à má operação do sistema e/ou ao lançamento excessivo de efluentes no solo ou a alteração significativa da qualidade do efluente final. Esse fato gera prejuízos às pessoas que dependem do uso de água dos poços no entorno. Adicionalmente a esses impactos negativos, tem-se o impacto positivo que a fertirrigação supre grande parte dos nutrientes indispensáveis para as culturas irrigadas, diminuindo assim a obrigação do uso intensivo de fertilizantes que podem agravar o risco de contaminação dos recursos ambientais. Além de ser uma prática ambientalmente correta, a fertirrigação é economicamente viável, pois reduz-se os gastos com a compra destes insumos e reduz a quantidade de agua que seria destinada a fertirrigação promovendo seu reuso. De acordo com o RIMA da indústria Terra Verde (2010) Bioenergia esse impacto positivo é classificado como positivo, de probabilidade certa, longo prazo, de abrangência dispersa, permanente, de grande magnitude e alta relevância. 4.2.3.1. Medidas Mitigadoras Para controle da poluição do solo pode-se fazer coleta de solo trimestral para avaliação dos seguintes parâmetros: análise de macro e micronutrientes e índices de acidez, salinização, sodificação eutrofização e agentes patogênicos. Bem como, realizar a aplicação da fertirrigação em doses racionais, estabelecidas após análise do solo. Amostragem dos solos e controle da fertilidade para obter altas produtividades e melhor uso do solo e da água. 32 Em relação ao controle da poluição das aguas subterrâneas e superficiais deve-se avaliar mensalmente a qualidade do efluente gerado. Além disso, deve-se avaliar mensalmente a qualidade da água subterrânea através dos poços de monitoramento construídos de acordo com a norma de construção de poços de monitoramento instalados na área, conforme apresentado na NBR n° 13.895 (ABNT, 1997). Para mitigar a poluição das águas superficiais devem ser respeitadas as distâncias mínimas da área fertirrigada aos recursos hídricos superficiais, estabelecidas na norma. Avaliar trimestralmente a qualidade dos corpos d´água no entorno da área onde está sendo realizada a fertirrigação, monitoramento quantitativa e qualitativamente deste efluente, realizado da maneira especificada na norma. 4.2.4. Principais Tecnologias para a Fertirrigação 4.2.4.1. Principais Tecnologias para a Irrigação por Aspersão Convencional 4.2.4.1.1. Sistema Convencional Portátil Um sistema portátil de aspersão, conforme apresentado na Figura 2, é caracterizado pela possibilidade de movimentar o equipamento de um local para o outro, conforme a necessidade de irrigação, quando não há tubulações, acessórios e aspersores em quantidade e extensão suficientes para abranger toda a área irrigada (BISCARO, 2009). Figura 2. Irrigação por aspersão: sistema convencional portátil Fonte: Biscaro (2009). 33 Pode ser classificado em totalmente portátil e em semiportátil. No primeiro o sistema é totalmente movido de um local para o outro. No outro, pode-se dispor de uma linha principal enterrada com hidrantes dispostos na superfície em cada ponto de mudança da linha lateral (BISCARO, 2009). 4.2.4.1.2. Sistema Convencional Permanente De maneira oposta ao sistema portátil, no sistema permanente as tubulações são fixas e não movidas de um local para outro, cobrindo concomitantemente toda a área irrigada, como pode ser visto na Figura 3. É possível dividir esse sistema em totalmente permanente, no qual as canalizações são enterradas e cobrem toda área, e parcialmente permanente, no qual as canalizações são portáteis e cobrem toda a área irrigada. Figura 3. Irrigação por aspersão: sistema convencional permanente Fonte: Biscaro (2009). Ainda, tem-se que esse tipo de sistema necessita de tubulações de diâmetro muito elevado, aumentando em demasia o custo do sistema. Pode-se dividir então a área em parcelas, que serão irrigadas sequencialmente de maneira a cobrir toda a área ao final do ciclo, para reduzir os diâmetros das tubulações. 4.2.4.2. Principais Tecnologias para Irrigação por Aspersão Mecanizada 4.2.4.2.1. Pivô Central Consiste de uma única lateral, que gira em torno do centro de um círculo (pivô). Segmentos da linha lateral metálica são suportados por torres em formato de “A” e conectados 34 entre si por juntas flexíveis. Um pequeno motor elétrico, colocado em cada torre, permite o acionamento independente dessas, como pode ser observado na Figura 4 (ANDRADE & BRITO, 2006). Figura 4. Irrigação por aspersão: pivô central Fonte: Walfrido Machado, Emater-MG, citado por Andrade & Brito (2006). O pivô central é a fonte fornecedora de água para o cultivo das culturas agrícolas, sendo que à medida que ele se desloca, a linha lateral vai aspergindo a água sobre a plantação. Segundo Bernardo (2006), no ano de 1952 foi desenvolvido o primeiro pivô central no Colorado, Estado do Texas (EUA), mas apenas em 1961 o equipamento começou a ser utilizado com regularidade. Em 1973, só nos Estados Unidos, oitocentos mil hectares eram irrigados por pivô central. Ainda segundo o mesmo autor, até 2005 existiam mais de quatro milhões de hectares irrigados por esse sistema. No Brasil, por volta de seiscentos e cinquenta mil hectares eram irrigados por esse método. 4.2.4.2.2. Autopropelido Um único canhão ou minicanhão é montado num carrinho, que se desloca longitudinalmente ao longo da área a ser irrigada. A conexão do carrinho aos hidrantes da linha principal é feita por mangueira flexível. A propulsão do carrinho é proporcionada pela própria pressão da água (ANDRADE & BRITO, 2006), como demonstrado na Figura 5. 35 Figura 5. Irrigação por aspersão: autopropelido no projeto de fertirrigação de efluentes de abatedouro bovino de Água Boa-MT. A, visão distante; B, visão aproximada. Fonte: Acervo pessoal. É rebocado por um trator, a uma determinada distância, e depois recolhido por meio de um carretel enrolador acionado por um mecanismo hidráulico, como é exemplificado na Figura 6. O canhão, ao ser recolhido pelo carretel, promove a irrigação de uma faixa da área, sendo necessária a mudança de sua posição pelo operador para irrigar a área adjacente (BISCARO, 2009). Figura 6. Irrigação por aspersão: carretel autopropelido Fonte: Biscaro (2009). 4.2.4.3. Principais tecnologias para Irrigação Localizada 4.2.4.3.1. Gotejamento No sistema de gotejamento, a água é aplicada de forma pontual na superfície do solo, como pode ser observado na Figura 7. Os gotejadores podem ser instalados sobre a linha, na A B 36 linha, numa extensão da linha, ou ser manufaturados junto com o tubo da linha lateral, formando o que popularmente denomina-se “tripa” (ANDRADE & BRITO, 2006). Figura 7. Irrigação localizada: gotejamento Fonte: https://goo.gl/hoq6KP De acordo com Esteves (2012), as principais vantagens da irrigação localizada por gotejamento são: Maior eficiência no uso da água: permite melhor controle da lâmina d’água aplicada e diminui as perdas por evaporação, por percolação e por escoamento superficial. Recomendado para locais onde a água é escassa ou o seu custo de utilização é elevado e para regiões onde ocorrem períodos prolongados de seca. Maior produtividade: em geral obtém-se maior produtividade com irrigação por gotejamento em culturas que respondem a maiores níveis de umidade no solo; é empregado, ainda, para culturas de alto valor econômico, pomares, cafezais e hortaliças, entre outras. Maior eficiência na adubação. Maior eficiência no controle sanitário. Não interfere com as práticas culturaisdas culturas. Adapta-se a diferentes tipos de solo e topografia. Pode ser usada com água salina ou em solos salinos. Economia de mão de obra, uma vez que há possibilidade de automatizar a irrigação e a adubação (Fertirrigação). 37 Como desvantagens, Bernardo (2002) cita a maior possibilidade de entupimento dos gotejadores, devido às prováveis impurezas da água, sendo a qualidade da mesma de suma importância, o que implica a utilização de sistemas de filtragem. Outro problema é a má distribuição do sistema radicular em função do bulbo molhado que se forma no solo, o que pode ser contornado com a melhor distribuição de gotejadores sob a copa da planta. 4.2.4.3.2. Subsuperficial A irrigação por gotejamento subsuperficial (SDI) deriva do gotejamento superficial, sendo constituída por emissores instalados na subsuperfície do solo, com aplicação da água na zona radicular da cultura, como demonstrado pela Figura 8 (SOUZA et al., 2012). Figura 8. Irrigação localizada: subsuperficial Fonte: https://goo.gl/3K5wbS A vantagem desse sistema é a remoção das linhas laterais da superfície do solo, o que facilita o tráfego e os tratos culturais, além de uma vida útil maior. A área molhada na superfície não existe ou é muito pequena, reduzindo ainda mais a evaporação direta da água do solo. As limitações desse sistema são as dificuldades de detecção de possíveis entupimentos ou reduções nas vazões dos emissores (ANDRADE & BRITO, 2006). 4.3.Fertilidade do Solo por meio de Classificação e Interpretação de Análises Químicas É sabido que a amostragem é a etapa mais crítica de todo o processo de análise (CANTARUTTI et al., 1999). Neste sentido, para que a amostra do solo seja representativa, a 38 área amostrada deve ser a mais homogênea possível. Assim, a propriedade ou a área a ser amostrada deverá ser subdividida em glebas ou talhões homogêneos. Nesta subdivisão ou estratificação, levam-se em conta a vegetação, a posição topográfica (topo do morro, meia encosta, baixada, etc.), as características perceptíveis do solo (cor, textura, condição de drenagem, etc.) e o histórico da área (cultura atual e anterior, produtividade observada, uso de fertilizantes e de corretivos, etc.). Diante o exposto, ressalta-se que os limites de uma gleba de terra para amostragem não devem ser definidos pela área, mas, sim, pelas características já enumeradas, que determinam sua homogeneidade (ALVAREZ et al., 1999). A análise química do solo é o instrumento básico para a transferência de informações, sobre calagem e adubação, sendo possível por meio da interpretação destes resultados se avaliar o grau de fertilidade a partir de classificações, além disso é possível se avaliar o grau de deficiência de nutrientes e determinar as quantidades a serem aplicadas nas adubações de várias culturas, garantindo uma boa produtividade e menor risco ambiental (SILVA, 2014). Neste sentido, apontam que uma análise completa para avaliação da fertilidade do solo se deve incluir as determinações de pH, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, zinco, manganês, cobre, ferro, boro, alumínio, hidrogênio mais alumínio, teor de matéria orgânica e granulometria do solo. Para sintetizar e apontar como caráter interpretativo, Cardoso, Fernandes e Fernandes (2009) publicaram pela Embrapa o comunicado técnico n° 79, que trata sobre análise de solos, na perspectiva da finalidade e procedimento de amostragem, apresentando-se tabelas com faixas de valores das concentrações químicas, que indicam o estado de fertilidade do solo, que são demonstradas nas Tabelas de 4 a 8. Tabela 4. Classe de interpretação para acidez ativa do solo (pH)¹ Classificação química¹ Acidez muito elevada Acidez elevada Acidez média Acidez fraca Neutra Alcalidade fraca Alcalinidade elevada < 4,5 4,5-5 5,1-6,0 6,1-6,9 7,0 7,1-7,8 >7,8 Classificação agronômica² Muito Baixo Baixo Bom Alto Muito alto <4,5 4,5-5,4 5,45-6,0 6,1-7,0 >7,0 ¹ pH em H2O, relação 1:2,5, TFSA: H2O; ²A qualificação indica adequado (bom) ou inadequado (muito baixo e baixo ou alto e muito alto). Fonte: Alvarez et al. (1999). 39 Tabela 5. Classe de interpretação de fertilidade do solo para a matéria orgânica e para o complexo de troca catiônica. 1O limite superior desta classe indica o nível crítico; 2Método Walkley & Black; 3MO = 1,724 x CO; 4Método KCl 1 mol L-1; 5SB = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+; 6Método Ca(OAc)2 0,5 mol L-1, pH 7; 7t = SB + Al3+; 8T = SB + (H + Al); 9m = 100 Al3+/t; 10V = 100 SB/T; 11A interpretação dessas características nessas classes deve ser alta e muito alta em lugar de bom e muito bom. Tabela 6. Classes de interpretação da disponibilidade para o fósforo de acordo com o teor de argila do solo ou do valor de fósforo remanescente (P-rem) e para o potássio. Característica Classificação Muito Baixo Baixo Médio Bom Muito Bom UNIDADE .................................mg dm-3.................................... ARGILA (%) Fósforo Disponível (P)¹ 60 – 100 ≤ 2,7 2,8 - 5,4 5,5 - 8,0 8,1 - 12,0 > 12,0 35 – 60 ≤ 4,0 4,1 - 8,0 8,1 - 12 12,1 - 18,0 >18,0 15 - 35 ≤ 6,6 6,7 - 12,0 12,1 - 20,0 20,1 - 30,0 > 30,0 0 - 15 ≤ 10,0 10,1 - 20,0 20,1 - 30,0 30,1 - 45,0 > 45,0 P - rem² (mg L-1) 0 a 4 ≤ 3,0 3,1 - 4,3 4,4 - 6,0 6,1 - 9,0 > 9,0 4 a 10 ≤ 4,0 4,1 - 6,0 6,1 - 8,3 8,4 - 12,5 > 12,5 10 a 19 ≤ 6,0 6,1 - 8,3 8,4 - 11,4 11,5 - 1705 > 17,5 19 a 30 ≤ 8,0 8,1 - 11,4 11,5 - 15,8 15,9 - 21,8 > 21,8 30 a 44 ≤ 11,0 11,1 - 15,8 15,9 - 21,8 21,9 - 30,0 > 30,0 44 a 60 ≤ 15,0 15,1 - 21,8 21,9 - 30,0 30,1 - 45,0 > 45,0 Potássio Disponível (K)¹ ≤ 15 16 - 40 41 - 70 71 - 120 > 120 1Método Mehlich-1. ²P-rem = Fósforo remanescente, concentração de fósforo da solução de equilíbrio após agitar durante 1 hora a TFSA com solução de CaCl2 contendo 60 mg L-1 de P, na relação 1:10. Fonte: Alvarez et al. (1999). Característica Unidade Classificação Muito Baixo Baixo Médio1 Bom Muito Bom Carbono Orgânico (CO)2 dag kg-1 ≤ 0,40 0,41 - 1,16 1,17 - 2,32 2,33 - 4,06 > 4,06 Matéria Orgânica (MO)3 dag kg-1 ≤ 0,70 0,71 - 2,00 2,01 - 4,00 4,01 - 7,00 > 7,00 Cálcio Trocável (Ca2+)4 cmolc dm-3 ≤ 0,40 0,41 - 1,20 1,21 - 2,40 2,41 - 4,00 > 4,00 Magnésio Trocável (Mg2+)4 cmolc dm-3 ≤ 0,15 0,16 - 0,45 0,46 - 0,90 0,91 - 1,50 > 1,50 Acidez Trocável (Al3+)4 cmolc dm-3 ≤ 0,20 0,21 - 0,50 0,51 - 1,00 1,01 - 2,0011 > 2,0011 Soma das Bases (SB)5 cmolc dm-3 ≤ 0,60 0,61 - 1,80 1,81 - 3,60 3,61 - 6,00 > 6,00 Acidez Potencial (H+Al)6 cmolc dm-3 ≤ 1,00 1,01 - 2,50 2,51 - 5,00 5,01 - 9,0011 > 9,0011 CTC efetiva (t)7 cmolc dm-3 ≤ 0,80 0,81 - 2,30 2,31 - 4,60 4,61 - 8,00 > 8,00 CTC pH 7 (T)8 cmolc dm-3 ≤ 1,60 1,61 - 4,30 4,31 - 8,60 8,61 - 15,00 > 15,00 Saturação por Al3+ (m)9 % ≤ 15 15,1 - 30,0 30,1 - 50,0 50,1 - 75,011 > 75,011 Saturação por Bases (V)10 % ≤ 20 20,1 - 40,0 40,1 - 60,0 60,1 - 80,0 > 80,0 40 Tabela 7. Classe de interpretação da disponibilidade para enxofre de acordo com o valor do fósforo remanescente (P-rem). P-rem Classificação Muito Baixo Baixo Médio Bom Muito Bom mg L-1 ..........................................mg dm-3............................................ Enxofre Disponível (S)¹ 0 a 4 ≤ 1,7 1,8 - 2,5 2,6 - 3,6 3,7 - 5,4 > 5,4 4 a 10 ≤ 2,4 2,5 - 3,6 3,7 - 5,0 5,1 - 7,5 > 7,5 10 a 19 ≤ 3,3 3,4 - 5,0 5,1 - 5,9 7,0 - 10,3 > 10,3 19 a 30 ≤ 4,6 4,7 - 6,9 7,0 - 9,4 9,5 - 14,2 > 14,2 30 a 44 ≤ 6,4 6,5 - 9,4 9,5 - 13,0 13,1 - 19,6 > 19,6 44 a 60 ≤ 8,9 9,0 - 13,0 13,1 - 18,0 18,1 - 27,0 > 27,0 ¹Extrator Ca(H2PO4)2. Fonte: Alvarez et al. (1999). Tabela 8. Classes de interpretação da disponibilidade para os micronutrientes. Micronutrientes Classificação Muito Baixo Baixo Médio Bom Muito Bom .....................................mg dm-3...................................... Zinco disponível (Zn)² ≤ 1,7 1,8 - 2,5 2,6 - 3,6 3,7 - 5,4 > 5,4 Manganêsdisponível (Mn)² ≤ 2,4 2,5 - 3,6 3,7 - 5,0 5,1 - 7,5 > 7,5 Ferro disponível (Fe)² ≤ 3,3 3,4 - 5,0 5,1 - 5,9 7,0 - 10,3 > 10,3 Cobre disponível (Cu)² ≤ 4,6 4,7 - 6,9 7,0 - 9,4 9,5 - 14,2 > 14,2 Boro disponível (B)³ ≤ 6,4 6,5 - 9,4 9,5 - 13,0 13,1 - 19,6 > 19,6 ¹O limite superior desta classe indica o nível crítico; ²Método Mehlich-1; ³Método água quente. Fonte: Alvarez et al. (1999). Sendo assim, pode-se, a partir dos resultados de certas concentrações químicas do solo, estabelecer níveis qualitativos em relação a fertilidade agronômica, sendo eles muito baixo, baixo, médio, bom e muito bom. 4.4. Necessidades nutricionais das culturas irrigadas Para a ótima absorção dos nutrientes pelas plantas é imprescindível que estes se encontrem em concentrações e relações adequadas na solução nutritiva, o que garante melhor desenvolvimento, produção e qualidade das culturas. As espécies e as cultivares vegetais têm exigências diferentes em relação à quantidade e à forma química do mesmo nutriente. (BEZERRA, 2015) De forma geral, as culturas apresentam suas necessidades e exigências nutricionais, que representam as quantidades de macro e micronutrientes que as plantas retiram do solo, ao 41 longo do cultivo, para atender a todas as fases de desenvolvimento, expressando em colheitas adequadas (máximas econômicas). A extração é a quantidade total de determinado nutriente utilizado para a produção de uma ou 100 toneladas da planta toda (parte aérea e subterrânea). Já a exportação diz respeito aos nutrientes efetivamente retirados pelo produto. Com relação à exportação dos nutrientes levados da área agrícola, tem-se considerável quantidade de elementos mobilizados no produto da colheita colmo ou grão. Nota-se que parte significativa do N, S, P, Zn entre outros são mobilizados nos grãos (PRADO, 2008). Assim sendo, para os seres humanos e animais, sementes são mais nutritivas que o resto da planta. Assim, teores de nutrientes mais elevados nas sementes terão benefícios na qualidade do alimento. E ainda, em campos de produção de sementes, essa qualidade terá reflexos no crescimento inicial de nova cultura. Muitas plantas podem viver do P contido na semente por cerca de duas semanas (GRANT et al., 2001). Observa-se, assim, que as culturas em geral, e também a cana-de-açúcar, a soja e a braquiária, apresentam, como regra, alta exigência em nitrogênio e/ou potássio e em cobre e molibdênio; entretanto, a ordem de exigências para os demais nutrientes pode apresentar variações entre as culturas e até entre cultivar/híbrido. De acordo com Prado (2008), a ordem-padrão, decrescente de extração das culturas em geral, é a seguinte: Macronutrientes: N > K > Ca > Mg > P > S Micronutrientes: Cl > Fe > Mn > Zn > B > Cu > Mo 4.4.1. Necessidade nutricional da Soja As plantas superiores como a soja, requerem 16 elementos químicos para o seu crescimento, dentre eles o carbono (C), hidrogênio (H) e o oxigênio (O), que são nutrientes encontrados na atmosfera e na água e participam da fotossíntese (SILVA, 2009). Além do C, H e O, treze elementos são fornecidos pelo solo, onde seis são requeridos em maiores quantidades chamados macronutrientes, e sete outros, requeridos em menores quantidades, chamados micronutrientes. O fato de alguns nutrientes serem absorvidos em maiores quantidades que outros, não diminui a importância de todos, que são essenciais (SOUSA, 2014). Os elementos minerais constituem apenas de 4 a 6% da matéria seca total da planta (BONATO et al., 1998). 42 As necessidades nutricionais da soja, juntamente com o seu potencial de exportação, são determinadas por fatores genéticos, que são influenciadas por fatores bióticos e abióticos, como o clima a fertilidade do solo e o manejo cultural. As informações sobre a exigência nutricional e o potencial de exportação da soja oferecem dados significativos no que se refere à quantidade bruta de exportação de cada nutriente do solo, garantindo o potencial produtivo da planta, podendo ser observadas na Tabela 9 (OLIVEIRA et al., 2008). É possível observar que a ordem de extração dos nutrientes pela parte aérea da planta, que envolve os grãos e a palhada, é a seguinte: Nitrogênio (N), Potássio (K2O), Enxofre (S), Fósforo (P2O5), Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg), dando um destaque ao nitrogênio que a quantidade absorvida e exportada pelos grãos e restos culturais chega há 51 gramas por Kg (OLIVEIRA et al., 2008). Tabela 9. Quantidade absorvida e exportada de nutrientes pela cultura da soja Parte da Planta N P2O5 K2O Ca Mg S B Cl Mo Fe Mn Zn Cu g/Kg mg/Kg Grãos 51 10,0 20 3,0 2,0 5,4 20 237 5 70 30 40 10 Restos Culturais 32 5,4 18 9,2 4,7 10,0 57 278 2 390 100 21 16 Total 83 15,4 38 12,2 6,7 15,4 77 515 7 460 130 61 26 % Exportada 61 65 53 25 30 35 26 46 71 15 23 66 38 Fonte: Oliveira et al. (2008). Kurihara (2004) realizou uma análise do acumulo e exportação de nutrientes no ano agrícola 2001/2002 em 28 lavouras comerciais de soja cultivadas no sistema de plantio direto, nos municípios de Dourados, Maracajú, Rio Brilhante e Ponta Porã, na região sul do Mato Grosso do Sul, cujos estão descritos na Tabela 10. 43 Tabela 10. Acúmulo de nutrientes na parte aérea e grãos de soja, estimados para a produção de uma tonelada de grãos. Nutriente Acúmulo Parte aérea e grãos Exportação pelos grãos kg/t kg/t % N 103,6 61,5 59,4 P 10,6 5,9 56,1 K 38,9 14,3 36,7 Ca 21,6 2,5 11,6 Mg 9,8 2,7 27,6 S 9,5 6,5 68,5 g/t g/t % B 63,2 26,2 41,5 Cu 61,0 34,4 56,5 Fe 278,7 78,4 28,1 Mn 105,8 32,7 30,9 Zn 103,7 64,4 62,1 Fonte: Kurihara (2004). Realizando-se uma comparação com Oliveira et al. (2008), notou-se um considerável uso de nutrientes como Nitrogênio e Fosforo, sendo que tais resultados são compatíveis com os resultados encontrados por Kurihara (2004). 4.4.2. Necessidade Nutricional do Milho Determina-se as exigências nutricionais da planta de milho pela quantidade de nutrientes que esta extrai durante o seu ciclo. A quantidade de nutrientes extraídos dependerá da produtividade obtida e da acumulação de nutrientes nos grãos e em outras partes da planta. Do ponto de vista nutricional, a planta de milho é considerada exigente, respondendo a aumentos nos níveis de adubação com ganhos crescentes em produtividade, respeitando-se o potencial produtivo do cultivo (BORGES, 2006). A nutrição mineral adequada da cultura do milho é uma das formas de aumentar a produtividade, principalmente por afetar a área foliar produzida nos primeiros estádios de crescimento e o tempo em que as folhas permanecem vivas e funcionando durante a formação dos grãos (HANWAY, 1962 citado por BORGES, 2006). 44 Observa-se na Tabela 11 que a extração de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio aumenta linearmente com o aumento na produção, e que a maior exigência do milho se refere a nitrogênio e potássio, seguindo-se cálcio, magnésio e fósforo. Tabela 11. Extração média de nutrientes pela cultura do milho destinada à produção de grãos e silagem em diferentes níveis de produtividade Tipo de exploração Produção (t ha-1) Nutrientes extraídos (kg ha-1) N P K Ca Mg Grãos 3,65 77 9 83 10 10 5,80 100 19 95 17 17 7,87 167 33 113 27 25 9,17 187 34 143 30 28 10,15 217 42 157 32 33 Exportação pelos grãos (%) 70-77 77-86 26-43 3-7 47-69 Silagem (matéria seca) 11,60 115 15 69 35 26 15,31 181 21 213 41 28 17,13 230 23 271 52 31 18,65 231 26 259 58 32 Fonte: Coelho & França (1995). Além disso, Pauletti (2004) citado por Broch & Ranno (2009) apresentou resultados de exportação de nutrientes pelos grãos que diferem dos resultados encontrados por Coelho & França (1995), que podem ser observados na Tabela 12. Porém, nos resultados de Pauletti ainda se percebe a grande importância do nitrogénio e fósforo e dos micronutrientes.45 Tabela 12. Extração e exportação de nutrientes na cultura do milho Nutriente Extração Exportação % kg.t-1 de grão N 24,9 15,8 63 P2O5 9,8 8,7 89 K2O 21,8 5,8 26 Ca 3,9 0,5 12 Mg 4,4 1,5 36 S 2,6 1,1 45 g.t-1 de grão Fe 235,7 11,6 5 Mn 42,8 6,1 14 Cu 10 1,2 12 Zn 48,4 27,6 57 B 18 3,2 18 Mo 1 0,6 63 Fonte: Pauletti (2004), apud Broch & Ranno (2009). Assim, pode-se observar que o fósforo (P2O5), o nitrogênio (N) e o molibdênio (Mo) são os nutrientes exportados em maior proporção em relação ao total extraído. Ou seja, 89% do fósforo e 63% do nitrogênio absorvidos pela planta durante o ciclo saem da lavoura pela colheita dos grãos. O milho apresenta uma alta extração de N, sendo que a exportação também é alta. O fósforo é extraído em menor proporção comparativamente ao N e ao K, porém é fortemente exportado. 4.4.3. Necessidade Nutricional de Alguns Tipos de Capim No estabelecimento de uma pastagem, deve-se dar atenção à adubação fosfatada, cujas doses, para os diferentes sistemas de produção, dependem da disponibilidade de fósforo, que varia conforme a textura do solo e o teor de fósforo remanescente (CANTARUTTI et al., 1999). Fagundes et al. (2005) verificaram que o suprimento de N no solo normalmente não atende à demanda das gramíneas, porém, quando há adubação nitrogenada, são observadas grandes alterações na taxa de acúmulo de massa seca da forragem do capim-braquiária ao longo das estações do ano. 46 Nos macronutrientes, observa-se, em cana-de-açúcar, em capim-braquiária e capim- pé-de-galinha, maior exigência para o K em relação ao N. Na Tabela 13 estão alguns valores de extração total de nutrientes dos capins Braquiária, Moa e Pé-de-galinha. Tabela 13. Extração total (parte aérea) de algumas culturas de capim Nutriente Capim- braquiária1 Capim- moa2 Capim pé-de- galinha3 M a cr o n u tr ie n te Kg.ha-1 N 59,4 130 116,7 P 14,6 28 12,6 K 145,9 91 131,9 Ca 14 37 47,5 Mg 14,5 35 18,6 S - 6 16,4 g.ha-1 M ic ro n u tr ie n te B - - - Cu 21,6 53,5 106,8 Fe 4430 5653 633,2 Mn 918 718 596,3 Mo - - - Zn 194,5 490,2 231,7 1 B.brizantha, cultivada em solo sob o manejo pelo sistema "barreirão" (MAGALHÃES et al., 2002); 2 Setaria incana referente à parte aérea com grãos, aos 69 dias após semeadura (Naokazu et al., 2006); 3 Eleusine coracana L. Gaertn., referente à parte aérea, na época do florescimento (FRANCISCO, 2002). Pilane et al. (1997) verificaram que após a aplicação de doses crescentes de nitrogênio (25; 50; 75 e 100 kg ha-1) e fósforo (12,5; 25; 37,5 e 50 kg ha-1) no capim-pé-de-galinha os caracteres produtivos foram aumentados, tendo sido observado aumento para doses de até 50 e 25 kg ha-1 de N e P, respectivamente, no primeiro ano e houve resposta para doses de 100 kg ha-1 de N e 50 kg ha-1 de P no segundo ano. Bianco et al. (2005) avaliou o crescimento e nutrição mineral de capim-braquiária e percebeu que o potássio e o nitrogênio foram os nutrientes extraídos em maiores quantidades pelas plantas, seguidos pelo cálcio, magnésio, enxofre e fósforo. Durante todo o ciclo de desenvolvimento das plantas, a concentração dos nutrientes estudados oscilou, entre os períodos amostrados. 47 5. METODOLOGIA O presente trabalho foi desenvolvido em cinco etapas principais, sendo: (i) revisão bibliográfica; (ii) caracterização do processo produtivo do abatedouro em questão; (iii) caracterização do sistema de tratamento dos efluentes produzidos; (iv) caracterização do meio físico; (v) caracterização e acompanhamento da fertilidade do solo; e (vi) estruturação da matriz de impactos. A Figura 9 apresenta o fluxograma esquemático com os principais aspectos empregados nesta pesquisa. Figura 9. Esquema metodológico com os principais aspectos empregados nesta pesquisa. 5.1. Área de Estudo O empreendimento abatedouro de bovinos está localizado no município de Água Boa, na região nordeste do estado de Mato Grosso, inserido nas coordenadas de Latitude S 14°01'19.4" e Longitude W 52°10'58.8", conforme pode ser observado na Figura 10. 48 Figura 10. Área de estudo. Dados: SEPLAN, TOPODATA, HIDROWEB. A indústria está localizada na zona rural do município, às margens da rodovia MT 240 e 7 Km distantes da rodovia BR-158, S/N. A área de fertirrigação utilizada pela unidade industrial conta com aproximadamente 106 hectares, tendo por atividade econômica o cultivo de soja, milho e milheto em rotação de cultura. O frigorífico está localizado no limite da sub- bacia do Rio Xingu com a sub-bacia do Rio Araguaia, conforme apresentado na Figura 11. Figura 11. Sub-bacias município Água Boa Dados: SEPLAN, TOPODATA, HIDROWEB (2017). 49 A altitude varia de 450 a 500 m e o clima é do tipo Aw, com temperatura média anual de 24,5°C, com máximas mensais de 33° C e mínimas de 14,1° C. A precipitação pluviométrica anual está em torno de 1552 mm (PT-CLIMATE-ORG, 2017), ao qual pode-se observar, a partir da Figura 12, um indicativo da existência de uma sazonalidade na precipitação muito expressiva, sendo os meses de junho a agosto com baixos volumes de precipitação. Figura 12. Distribuição da precipitação ao longo do ano em Água Boa-MT (2017). A área de drenagem no ponto de interesse, isto é, o ponto fictício do empreendimento onde seria realizado o despejo do efluente tratado no corpo hídrico superficial para sua diluição, corresponde à 11,47 km², considerando-se o Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental – SIMLAM da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de Mato Grosso – SEMA, que determinou disponibilidade hídrica, em relação a vazão de referência (Q95) de 0,0763 m³/s. Observa-se que na microbacia não existem parcelas remanescente de vegetação natural conservadas na modalidade de reserva legal, tendo sido observado que se manteve apenas a faixa de preservação permanente no entorno do Ribeirão Bonito. O uso e ocupação do solo é essencialmente rural, exceto a presente unidade industrial. Não foram identificadas atividades de mineração na área de estudo. 0 50 100 150 200 250 300 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Lâ m in a d e ág u a (m m ) Meses Preciptação Média 50 Figura 13. Microbacia Ribeirão Bonito Dados: SEPLAN, TOPODATA, HIDROWEB (2017). 5.1.1. Aspectos Morfopedológicos Mediante a disponibilização das características pedológicas de Mato Grosso da Secretaria de Estado e Planejamento de Mato Grosso, que seguiu a classificação da Embrapa (2006), observou-se que a área fertirrigada possui duas classificações, sendo latossolo vermelho-amarelo podzólicos e o cambissolo háplicos conforme pode ser visto na Figura 14. Figura 14. Pedologia da área fertirrigada e da microbacia. Dados: SEPLAN, TOPODATA, HIDROWEB (2017). 51 De acordo com Embrapa (2006), as principais características do latossolo vermelho- amarelo podzólicos e do cambissolo háplicos são: Latossolo Vermelho-Amarelo Podzólico: bem drenados, caracterizados pela ocorrência de horizonte B latossólico de cores vermelhas a vermelho-amareladas, com teores de Fe2O3 iguais ou inferiores a 11% e normalmente maiores que 7%, quando a textura é argilosa ou muito argilosa. São profundos e suas características físicas são muito favoráveis ao aproveitamento agrícola, refletidas em boa drenagem interna, boa aeração e ausência de impedimentos físicos à mecanização e penetração de raízes. Têm nas características químicas as principais limitações ao aproveitamento agrícola, impondo a execução de práticas para correção química (adubação e calagem). Cambissolo háplico: apresentam grande variação de profundidade, ocorrendo desde rasos a profundos, além da variabilidade das demais características. A drenagem varia de acentuada a imperfeita e podem apresentar qualquer tipo de horizonte A sobre um horizonte B
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