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LÍNGUA PORTUGUESA Didatismo e Conhecimento 1 LÍNGUA PORTUGUESA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE DIVERSOS TIPOS DE TEXTOS (LITERÁRIOS E NÃO LITERÁRIOS) Como Ler um Texto Interessa a todos saber que procedimento se deve adotar para tirar o maior rendimento possível da leitura de um texto. Mas não se pode responder a essa pergunta sem antes destacar que não existe para ela uma solução mágica, o que não quer dizer que não exista solução alguma. Genericamente, pode-se afirmar que uma leitura proveitosa pressupõe, além do conhecimento linguístico propriamente dito, um repertório de informações exteriores ao texto, o que se costuma chamar de conhecimento de mundo. A título e ilustração, observe a questão seguinte, extraída de concurso, na qual já vimos anteriormente. Às vezes, quando um texto é ambíguo, é o conhecimento de mundo que o leitor tem dos fatos que lhe permite fazer uma interpretação adequada do que se lê. Um bom exemplo é o texto que segue: “As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de dezembro de 1991, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais.” (Folha Sudoeste) É o conhecimento linguístico que nos permite reconhecer a ambiguidade do texto em questão (pela posição em que se situa, a expressão sem a companhia ou autorização dos pais permite a interpretação de que com a companhia ou autorização dos pais os menores podem ir a rodeios ou motéis). Mas o nosso conhecimento de mundo nos adverte de que essa interpretação é estranha e só pode ter sido produzida por engano do redator. É muito provável que ele tenha tido a intenção de dizer que os menores estão proibidos de ir a rodeios sem a companhia ou autorização dos pais e de frequentarem motéis. Como se vê, a compreensão do texto depende também do conhecimento de mundo, o que nos leva à conclusão de que o aprendizado da leitura depende muito das aulas de Português, mas também de todas as outras disciplinas sem exceção. Uma boa medida para avaliar se o texto foi bem compreendido é a resposta a três questões básicas: - Qual é a questão de que o texto está tratando? Ao tentar responder a essa pergunta, o leitor será obrigado a distinguir as questões secundárias da principal, isto é, aquela em torno da qual gira o texto inteiro. Quando o leitor não sabe dizer do que o texto está tratando, ou sabe apenas de maneira genérica e confusa, é sinal de que ele precisa ser lido com mais atenção ou de que o leitor não tem repertório suficiente para compreender o que está diante de seus olhos. - Qual é a opinião do autor sobre a questão posta em discussão? Disseminados pelo texto, aparecem vários indicadores da opinião de quem escreve. Por isso, uma leitura competente não terá dificuldade em identificá-la. Não saber dar resposta a essa questão é um sintoma de leitura desatenta e dispersiva. - Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinião dada? Deve-se entender por argumento todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o leitor de que ele está falando a verdade. Saber reconhecer os argumentos do autor é também um sintoma de leitura bem feita, um sinal claro de que o leitor acompanhou o desenvolvimento das ideias. Na verdade, entender um texto significa acompanhar com atenção o seu percurso argumentativo. O primeiro passo para interpretar um texto consiste em decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias básicas ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os conceitos definidores da opinião explicitada pelo autor. Esta operação fará com que o significado do texto “salte aos olhos” do leitor. Ler é uma atividade muito mais complexa do que a simples interpretação dos símbolos gráficos, de códigos, requer que o indivíduo seja capaz de interpretar o material lido, comparando-o e incorporando-o à sua bagagem pessoal, ou seja, requer que o indivíduo mantenha um comportamento ativo diante da leitura. Os diferentes níveis de leitura Para que isso aconteça, é necessário que haja maturidade para a compreensão do material lido, senão tudo cairá no esquecimento ou ficará armazenado em nossa memória sem uso, até que tenhamos condições cognitivas para utilizar. De uma forma geral, passamos por diferentes níveis ou etapas até termos condições de aproveitar totalmente o assunto lido. Essas etapas ou níveis são cumulativas e vão sendo adquiridas pela vida, estando presente em praticamente toda a nossa leitura. O Primeiro Nível é elementar e diz respeito ao período de alfabetização. Ler é uma capacidade cerebral muito sofisticada e requer experiência: não basta apenas conhecermos os códigos, a gramática, a semântica, é preciso que tenhamos um bom domínio da língua. O Segundo Nível é a pré-leitura ou leitura inspecional. Tem duas funções específicas: primeiro, prevenir para que a leitura posterior não nos surpreenda e, sendo, para que tenhamos chance de escolher qual material leremos, efetivamente. Trata-se, na verdade, de nossa primeira impressão sobre o livro. É a leitura que comumente desenvolvemos “nas livrarias”. Nela, por meio do salteio de partes, respondem basicamente às seguintes perguntas: - Por que ler este livro? - Será uma leitura útil? - Dentro de que contexto ele poderá se enquadrar? Essas perguntas devem ser revistas durante as etapas que se seguem, procurando usar de imparcialidade quanto ao ponto de vista do autor, e o assunto, evitando preconceitos. Se você se propuser a ler um livro sem interesse, com olhar crítico, rejeitando-o antes de conhecê-lo, provavelmente o aproveitamento será muito baixo. Ler é armazenar informações; desenvolver; ampliar horizontes; compreender o mundo; comunicar-se melhor; escrever melhor; relacionar-se melhor com o outro. Didatismo e Conhecimento 2 LÍNGUA PORTUGUESA Pré-Leitura Nome do livro Autor Dados Bibliográficos Prefácio e Índice Prólogo e Introdução O primeiro passo é memorizar o nome do autor e a edição do livro, fazer um folheio sistemático: ler o prefácio e o índice (ou sumário), analisar um pouco da história que deu origem ao livro, ver o número da edição e o ano de publicação. Se falarmos em ler um Machado de Assis, um Júlio Verne, um Jorge Amado, já estaremos sabendo muito sobre o livro. É muito importante verificar estes dados para enquadrarmos o livro na cronologia dos fatos e na atualidade das informações que ele contém. Verifique detalhes que possam contribuir para a coleta do maior número de informações possível. Tudo isso vai ser útil quando formos arquivar os dados lidos no nosso arquivo mental. A propósito, você sabe o que seja um prólogo, um prefácio e uma introdução? Muita gente pensa que os três são a mesma coisa, mas não: Prólogo: é um comentário feito pelo autor a respeito do tema e de sua experiência pessoal. Prefácio: é escrito por terceiros ou pelo próprio autor, referindo-se ao tema abordado no livro e muitas vezes também tecendo comentários sobre o autor. Introdução: escrita também pelo autor, referindo-se ao livro e não ao tema. O segundo passo é fazer uma leitura superficial. Pode-se, nesse caso, aplicar as técnicas da leitura dinâmica. O Terceiro Nível é conhecido como analítico. Depois de vasculharmos bem o livro na pré-leitura, analisamos o livro. Para isso, é imprescindível que saibamos em qual gênero o livro se enquadra: trata-se de um romance, um tratado, um livro de pesquisa e, neste caso, existe apenas teoria ou são inseridas práticas e exemplos. No caso de ser um livro teórico, que requeira memorização, procure criar imagens mentais sobre o assunto, ou seja, veja, realmente, o que está lendo, dando vida e muita criatividade ao assunto. Note bem: a leitura efetiva vai acontecer nesta fase, e a primeira coisa a fazeré ser capaz de resumir o assunto do livro em duas frases. Já temos algum conteúdo para isso, pois o encadeamento das ideias já é de nosso conhecimento. Procure, agora, ler bem o livro, do início ao fim. Esta é a leitura efetiva, aproveite bem este momento. Fique atento! Aproveite todas as informações que a pré-leitura ofereceu. Não pare a leitura para buscar significados de palavras em dicionários ou sublinhar textos, isto será feito em outro momento. O Quarto Nível de leitura é o denominado de controle. Trata-se de uma leitura com a qual vamos efetivamente acabar com qualquer dúvida que ainda persista. Normalmente, os termos desconhecidos de um texto são explicitados neste próprio texto, à medida que vamos adiantando a leitura. Um mecanismo psicológico fará com que fiquemos com aquela dúvida incomodando-nos até que tenhamos a resposta. Caso não haja explicação no texto, será na etapa do controle que lançaremos mão do dicionário. Veja bem: a esta altura já conhecemos bem o livro e o ato de interromper a leitura não vai fragmentar a compreensão do assunto como um todo. Será, também, nessa etapa que sublinharemos os tópicos importantes, se necessário. Para ressaltar trechos importantes opte por um sinal discreto próximo a eles, visando principalmente a marcar o local do texto em que se encontra, obrigando-o a fixar a cronologia e a sequência deste fato importante, situando-o no livro. Aproveite bem esta etapa de leitura. Para auxiliar no estudo, é interessante que, ao final da leitura de cada capítulo, você faça um breve resumo com suas próprias palavras de tudo o que foi lido. Um Quinto Nível pode ser opcional: a etapa da repetição aplicada. Quando lemos, assimilamos o conteúdo do texto, mas aprendizagem efetiva vai requerer que tenhamos prática, ou seja, que tenhamos experiência do que foi lido na vida. Você só pode compreender conceitos que tenha visto em seu cotidiano. Nada como unir a teoria à prática. Na leitura, quando não passamos pela etapa da repetição aplicada, ficamos muitas vezes sujeitos àqueles brancos quando queremos evocar o assunto. Para evitar isso, faça resumos. Observe agora os trechos sublinhados do livro e os resumos de cada capítulo, trace um diagrama sobre o livro, esforce-se para traduzi-lo com suas próprias palavras. Procure associar o assunto lido com alguma experiência já vivida ou tente exemplificá-lo com algo concreto, como se fosse um professor e o estivesse ensinando para uma turma de alunos interessados. É importante lembrar que esquecemos mais nas próximas 8 horas do que nos 30 dias posteriores. Isto quer dizer que devemos fazer pausas durante a leitura e ao retornarmos ao livro, consultamos os resumos. Não pense que é um exercício monótono. Nós somos capazes de realizar diariamente exercícios físicos com o propósito de melhorar a aparência e a saúde. Pois bem, embora não tenhamos condições de ver com o que se apresenta nossa mente, somos capazes de senti-la quando melhoramos nossas aptidões como o raciocínio, a prontidão de informações e, obviamente, nossos conhecimentos intelectuais. Vale a pena se esforçar no início e criar um método de leitura eficiente e rápido. Ideias Núcleo O primeiro passo para interpretar um texto consiste em decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias básicas ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os conceitos definidores da opinião explicitada pelo autor. Esta operação fará com que o significado do texto “salte aos olhos” do leitor. Exemplo: “Incalculável é a contribuição do famoso neurologista austríaco no tocante aos estudos sobre a formação da personalidade humana. Sigmund Freud (1859-1939) conseguiu acender luzes nas camadas mais profundas da psique humana: o incosciente e subconsciente. Começou estudando casos clínicos de comportamentos anômalos ou patológicos, com a ajuda da hipnose e em colaboração com os colegas Joseph Breuer e Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com os resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o método que até hoje é usado pela psicanálise: o das ‘livres associações’ de ideias e de sentimentos, estimuladas pela terapeuta por palavras dirigidas ao paciente com o fim de descobrir a fonte das perturbações mentais. Para este caminho de regresso às origens de um trauma, Freud se utilizou especialmente da linguagem onírica dos pacientes, considerando os sonhos como compensação dos desejos insatisfeitos na fase de vigília. Didatismo e Conhecimento 3 LÍNGUA PORTUGUESA Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o mundo cultural da época, foi a apresentação da tese de que toda neurose é de origem sexual.” (Salvatore D’Onofrio) Primeiro Conceito do Texto: “Incalculável é a contribuição do famoso neurologista austríaco no tocante aos estudos sobre a formação da personalidade humana. Sigmund Freud (1859-1939) conseguiu acender luzes nas camadas mais profundas da psique humana: o incosciente e subconsciente.” O autor do texto afirma, inicialmente, que Sigmund Freud ajudou a ciência a compreender os níveis mais profundos da personalidade humana, o incosciente e subconsciente. Segundo Conceito do Texto: “Começou estudando casos clínicos de comportamentos anômalos ou patológicos, com a ajuda da hipnose e em colaboração com os colegas Joseph Breuer e Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com os resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o método que até hoje é usado pela psicanálise: o das ‘livres associações’ de ideias e de sentimentos, estimuladas pela terapeuta por palavras dirigidas ao paciente com o fim de descobrir a fonte das perturbações mentais.” A segunda ideia núcleo mostra que Freud deu início a sua pesquisa estudando os comportamentos humanos anormais ou doentios por meio da hipnose. Insatisfeito com esse método, criou o das “livres associações de ideias e de sentimentos”. Terceiro Conceito do Texto: “Para este caminho de regresso às origens de um trauma, Freud se utilizou especialmente da linguagem onírica dos pacientes, considerando os sonhos como compensação dos desejos insatisfeitos na fase de vigília.” Aqui, está explicitado que a descoberta das raízes de um trauma se faz por meio da compreensão dos sonhos, que seriam uma linguagem metafórica dos desejos não realizados ao longo da vida do dia a dia. Quarto Conceito do Texto: “Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o mundo cultural da época, foi a apresentação da tese de que toda neurose é de origem sexual.” Por fim, o texto afirma que Freud escandalizou a sociedade de seu tempo, afirmando a novidade de que todo o trauma psicológico é de origem sexual. Interpretação de Charges A charge ou cartum é um desenho de caráter humorístico, geralmente veiculado pela imprensa. Ela também pode ser considerada como texto e, nesse sentido, pode ser lida por qualquer um de nós. Trata-se de um tipo de texto muito importante na mídia atual, graças à sua capacidade de fazer, de modo sintético, críticas político-sociais. Um público muito amplo se interessa pela charge, tanto pelo uso do humor e da sátira, quanto por exigir do leitor apenas um pequeno conhecimento da situação focalizada, para se reconhecerem as referências e insinuações feitas pelo autor. Há cerca de dez anos, os concursos públicos e exames escolares passaram a se utilizar de charges para avaliar a capacidade de interpretação dos concursandos e alunos. Em um concurso, por exemplo, o tema proposto para a prova de redação era “O indivíduo frente à ética nacional”, que vinha, como de costume, acompanhado de uma coletânea composta por dois textos opinativos, publicados na mídia impressa, e a seguinte charge: De autoria de Millôr Fernandes. A charge discute a honestidade social a partir de uma cena irônica: a lamentação de um indivíduo que, por só poder lidar com gente honesta, encontra-se num deserto. A charge, associada aos textos da coletânea e ao tema anunciado na proposta,compunham um panorama mais amplo do problema incluído na proposta, conduzindo o leitor a alguns questionamentos que poderiam direcionar a elaboração de seu texto: - Existe alguma pessoa completamente honesta no mundo? O que isso significa? - O indivíduo que chama os outros de desonestos e antiéticos apresenta realmente um comportamento ético que o diferencie dos demais? - O fato de acharmos que a maioria age de modo antiético nos daria o direito de assim também o fazer, para não sermos os únicos diferentes? - A ética que deveria nortear as relações humanas é hoje característica de poucos? Ela se tornou uma exceção? Essa proposta de redação possibilitou construírem sua argumentação a partir dos exemplos que melhor se adequassem à sua linha de raciocínio. Os temas de charges, porém, nem sempre são assim tão amplos. Podem estar ligados a acontecimentos específicos de uma época ou local, o que é muito frequente nas charges diárias. Quando são publicadas em jornais regionais, por exemplo, as charges podem fazer referência a fatos que não são conhecidos por moradores de outras cidades ou Estados, o que lhes dificulta a compreensão. Nos jornais de grande alcance, as charges normalmente recuperam os assuntos que ganharam destaque nacional nos dias anteriores. Abaixo veremos três exemplos de charges, todas referentes ao mesmo tema. As três tratam do mesmo tema: a queda do governador de São Paulo, José Serra, nas pesquisas que avaliam a intenção de voto do eleitor brasileiro para a campanha presidencial. Para compreendê-las, o leitor precisa acionar uma série de conhecimentos prévios que já possui no seu próprio repertório cultural. Vamos examinar cada um dos casos: Didatismo e Conhecimento 4 LÍNGUA PORTUGUESA Charge da Folha de S. Paulo Criada por Glauco, não possui texto verbal. Assim, toda a informação deve ser identificada no desenho. Nele, pode-se ver um avião sendo consertado por um mecânico, um homem careca dentro do aparelho, com expressão aborrecida, e um triângulo usado no trânsito para indicar que o veículo está quebrado (esta já é uma informação prévia do leitor). Após a identificação desses elementos básicos, entram outros mais específicos que também precisam ser conhecidos pelo leitor: o reconhecimento dos personagens e das situações específicas a que se refere o desenho: o avião tem formato de tucano, uma referência ao símbolo de um partido político, o PSDB; o piloto do avião deve ser associado a José Serra, por ser careca e pertencer ao partido tucano; o avião quebrado é uma referência à dificuldade de Serra para “decolar” (metáfora política para designar avanço nas intenções de voto) no início da campanha para Presidência da República. Assim o leitor também precisa saber que haverá eleição, que Serra é pré-candidato, que pertence ao PSDB, cujo símbolo é um tucano, que houve uma pesquisa de intenção de voto e que o candidato tucano teve desempenho ruim nessa pesquisa. O Povo (Fortaleza, CE) Aqui também não há texto verbal. A imagem traz uma caricatura de José Serra, com a expressão tensa, de quem passa por apuros, caminhando como um equilibrista sobre a corda bamba. A corda, porém, tem a forma de uma escada, que termina numa seta vermelha, referência aos indicadores dos gráficos cartesianos. Mais uma vez, para interpretar a charge, o leitor precisará relacionar a imagem a seu conhecimento sobre fatos divulgados pela mídia nacional naquela ocasião, ou seja, à queda que o candidato à Presidência teve naquela pesquisa de intenção de voto. Agora São Paulo Dos três casos, este é o único em que imagem e texto mesclam- se. No desenho de Cláudio vemos o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, reconhecido pelos traços da caricatura. Ele abre a porta de um armário, no qual está escondido José Serra, e, apontando para fora do móvel, grita para que Serra assuma. Enquanto isso, segurando a pesquisa em que cai de 37 para 32% e sua concorrente sobe de 23 para 28%, Serra afirma estar indeciso. Além das falas e dos dados da pesquisa, a charge ainda tem título, “Eleição para Presidente”, e um texto complementar, “Tucanos cobram que Serra se declare candidato”. Assim, todo o contexto fica identificado, facilitando o trabalho de interpretação do leitor, mas a este ainda cabe acionar seu conhecimento de mundo para completar informações, como a associação feita entre “assumir-se candidato à Presidência” e a imagem de “sair do armário”, expressão usada principalmente para fazer referência a pessoas que escondem publicamente sua condição sexual. O leitor deve perceber, porém, que não há na charge intenção de questionar a opção sexual do candidato. Apenas fez-se uma associação livre para gerar efeito de humor, criticando o medo de Serra de mostrar-se candidato diante da crescente rejeição popular. A leitura interpretativa de charges é uma habilidade cada vez mais cobrada em provas de vestibulares e de concursos em geral, tanto nas questões de língua portuguesa quanto nos temas de redação. Isso acontece porque a charge é um modelo de texto que extrapola a linguagem verbal (por vezes até nem usada), exige um bom nível de conhecimento de mundo e competência para inferir críticas e relacionar fatos sociais. Por isso, treine a leitura de charges, procure ampliar seu nível de compreensão e evite ser surpreendido. Didatismo e Conhecimento 5 LÍNGUA PORTUGUESA Dicas Podemos, tranquilamente, ser bem-sucedidos numa interpretação de texto. Para isso, devemos observar o seguinte: - Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do assunto; - Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a leitura, vá até o fim, ininterruptamente; - Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo menos umas três vezes; - Ler com perspicácia, sutileza, malícia nas entrelinhas; - Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar; - Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor; - Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para melhor compreensão; - Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, parte) do texto correspondente; - Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada questão; - Cuidado com os vocábulos: destoa (=diferente de...), não, correta, incorreta, certa, errada, falsa, verdadeira, exceto, e outras; palavras que aparecem nas perguntas e que, às vezes, dificultam a entender o que se perguntou e o que se pediu; - Quando duas alternativas lhe parecem corretas, procurar a mais exata ou a mais completa; - Quando o autor apenas sugerir ideia, procurar um fundamento de lógica objetiva; - Cuidado com as questões voltadas para dados superficiais; - Não se deve procurar a verdade exata dentro daquela resposta, mas a opção que melhor se enquadre no sentido do texto; - Às vezes a etimologia ou a semelhança das palavras denuncia a resposta; - Procure estabelecer quais foram as opiniões expostas pelo autor, definindo o tema e a mensagem; - O autor defende ideias e você deve percebê-las; - Os adjuntos adverbiais e os predicativos do sujeito são importantíssimos na interpretação do texto. Exemplos: Ele morreu de fome. de fome: adjunto adverbial de causa, determina a causa na realização do fato (= morte de “ele”). Ele morreu faminto. faminto: predicativo do sujeito, é o estado em que “ele” se encontrava quando morreu. - As orações coordenadas não têm oração principal, apenas as ideias estão coordenadas entre si; - Os adjetivos ligados a um substantivo vão dar a ele maior clareza de expressão, aumentando-lhe ou determinando-lhe o significado; - Esclarecer o vocabulário; - Entender o vocabulário; - Viver a história; - Ative sua leitura; - Ver, perceber, sentir, apalpar o que se pergunta e o que se pede; - Não se deve preocupar com a arrumação das letras nas alternativas; - As perguntas são fáceis, dependendo de quem lê o texto ou como o leu; - Cuidado com as opiniões pessoais, elas não existem; - Sentir, perceber a mensagem do autor; - Cuidado com a exatidão dasquestões em relação ao texto; - Descobrir o assunto e procurar pensar sobre ele; - Todos os termos da análise sintática, cada termo tem seu valor, sua importância; - Todas as orações subordinadas têm oração principal e as ideias se completam. Vícios de Leitura Por acaso você tem o hábito de ler movimentando a cabeça? Ou quem sabe, acompanhando com o dedo? Talvez vocalizando baixinho... Você não percebe, mas esses movimentos são alguns dos tantos que prejudicam a leitura. Esses movimentos são conhecidos como vícios de linguagem. Movimentar a cabeça: procure perceber se você não está movimentando a cabeça enquanto lê. Este movimento, ao final de pouco tempo, gera muito cansaço além de não causar nenhum efeito positivo. Durante a leitura apenas movimentamos os olhos. Regressar no texto, durante a leitura: pessoas que têm dificuldade de memorizar um assunto, que não compreendem algumas expressões ou palavras tendem a voltar na sua leitura. Este movimento apenas incrementa a falta de memória, pois secciona a linha de raciocínio e raramente explica o desconhecido, o que normalmente é elucidado no decorrer da leitura. Procure sempre manter uma sequência e não fique “indo e vindo” no livro. O assunto pode se tornar um bicho de sete cabeças! Ler palavra por palavra: para escrever usamos muitas palavras que apenas servem como adereços. Procure ler o conjunto e perceber o seu significado. Sub-vocalização: é o ato de repetir mentalmente a palavra. Isto só será corrigido quando conseguirmos ultrapassar a marca de 250 palavras por minuto. Usar apoios: algumas pessoas têm o hábito de acompanhar a leitura com réguas, apontando ou utilizando um objeto que salta “linha a linha”. O movimento dos olhos é muito mais rápido quando é livre do que quando o fazemos guiado por qualquer objeto. Leitura Eficiente Ao ler realizamos as seguintes operações: - Captamos o estímulo, ou seja, por meio da visão, encaminhamos o material a ser lido para nosso cérebro. - Passamos, então, a perceber e a interpretar o dado sensorial (palavras, números, etc.) e a organizá-lo segundo nossa bagagem de conhecimentos anteriores. Para essa etapa, precisamos de motivação, de forma a tornar o processo mais otimizado possível. - Assimilamos o conteúdo lido integrando-o ao nosso “arquivo mental” e aplicando o conhecimento ao nosso cotidiano. A leitura é um processo muito mais amplo do que podemos imaginar. Ler não é unicamente interpretar os símbolos gráficos, mas interpretar o mundo em que vivemos. Na verdade, passamos todo o nosso tempo lendo! O psicanalista francês Lacan disse que o olhar da mãe configura a estrutura psíquica da criança, ou seja, esta se vê a partir de como vê seu reflexo nos olhos da mãe! O bebê, então, segundo esta citação, lê nos olhos da mãe o sentimento com que é Didatismo e Conhecimento 6 LÍNGUA PORTUGUESA recebido e interpreta suas emoções: se o que encontra é rejeição, sua experiência básica será de terror; se encontra alegria, sua experiência será de tranqüilidade, etc. Ler está tão relacionado com o fato de existirmos que nem nos preocupamos em aprimorar este processo. É lendo que vamos construindo nossos valores e estes são os responsáveis pela transformação dos fatos em objetos de nosso sentimento. Leitura é um dos grandes, senão o maior, ingrediente da civilização. Ela é uma atividade ampla e livre, fato comprovado pela frustração de algumas pessoas ao assistirem a um filme, cuja história já foi lida em um livro. Quando lemos, associamos as informações lidas à imensa bagagem de conhecimentos que temos armazenados em nosso cérebro e então somos capazes de criar, imaginar e sonhar. É por meio da leitura que podemos entrar em contato com pessoas distantes ou do passado, observando suas crenças, convicções e descobertas que foram imortalizadas por meio da escrita. Esta possibilita o avanço tecnológico e científico, registrando os conhecimentos, levando-os a qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, desde que saibam decodificar a mensagem, interpretando os símbolos usados como registro da informação. A leitura é o verdadeiro elo integrador do ser humano e a sociedade em que ele vive! O mundo de hoje é marcado pelo enorme fluxo de informações oferecidas a todo instante. É preciso também tornarmo-nos mais receptivos e atentos, para nos mantermos atualizados e competitivos. Para isso, é imprescindível leitura que nos estimule cada vez mais em vista dos resultados que ela oferece. Se você pretende acompanhar a evolução do mundo, manter-se em dia, atualizado e bem informado, precisa preocupar-se com a qualidade da sua leitura. Observe: você pode gostar de ler sobre esoterismo e uma pessoa próxima não se interessar por este assunto. Por outro lado, será que esta mesma pessoa se interessa por um livro que fale sobre História ou esportes? No caso da leitura, não existe livro interessante, mas leitores interessados. A pessoa que se preocupa com a qualidade de sua leitura e com o resultado que poderá obter, deve pensar no ato de ler como um comportamento que requer alguns cuidados, para ser realmente eficaz. - Atitude: pensamento positivo para aquilo que deseja ler. Manter-se descansado é muito importante também. Não adianta um desgaste físico enorme, pois a retenção da informação será inversamente proporcional. Uma alimentação adequada é muito importante. - Ambiente: o ambiente de leitura deve ser preparado para ela. Nada de ambientes com muitos estímulos que forcem a dispersão. Deve ser um local tranquilo, agradável, ventilado, com uma cadeira confortável para o leitor e mesa para apoiar o livro a uma altura que possibilite postura corporal adequada. Quanto a iluminação, deve vir do lado posterior esquerdo, pois o movimento de virar a página acontecerá antes de ter sido lida a última linha da página direita e, de outra forma, haveria a formação de sombra nesta página, o que atrapalharia a leitura. - Objetos necessários: para evitar que, durante a leitura, levantarmos para pegar algum objeto que julguemos importante, devemos colocar lápis, marca-texto e dicionário sempre à mão. Quanto sublinhar os pontos importantes do texto, é preciso aprender a técnica adequada. Não o fazer na primeira leitura, evitando que os aspectos sublinhados parecem-se mais com um mosaico de informações aleatórias. Os concursos apresentam questões interpretativas que têm por finalidade a identificação de um leitor autônomo. Portanto, o candidato deve compreender os níveis estruturais da língua por meio da lógica, além de necessitar de um bom léxico internalizado. As frases produzem significados diferentes de acordo com o contexto em que estão inseridas. Torna-se, assim, necessário sempre fazer um confronto entre todas as partes que compõem o texto. Além disso, é fundamental apreender as informações apresentadas por trás do texto e as inferências a que ele remete. Este procedimento justifica-se por um texto ser sempre produto de uma postura ideológica do autor diante de uma temática qualquer. Exercícios Este é o caminho: leitura, exercício, correção, entendimento dos erros. Quanto mais você entender porque errou, mais estará aprendendo. Esaf: Leia atentamente o texto para responder às questões de 1 a 4. Parques em chamas Saudados por ecologistas como arcas de Noé para o futuro, por serem repositórios de espécies animais e vegetais em extinção acelerada noutras áreas do país, alguns dos 25 parques nacionais do Brasil tiveram, na semana passada, a sua paisagem mutilada pelo fogo. A rigorosa estiagem que acompanha o inverno no CentroSul ressecou a vegetação e abriu caminho para que as chamas tragassem 6 dos 33 quilômetros quadrados do Parque Nacional da Tijuca, pegado à cidade do Rio de Janeiro, e convertessem em carvão 10% dos 300 quilômetros quadrados do Parque Nacional do Itatiaia, na divisa de Minas Gerais com o Estado do Rio. Contido pelos bombeiros já no fim de semana, na Tijuca, e abafado por uma providencialchuva no ltatiaia, na quartafeira o fogo pipocou em outro extremo do país. Naquele dia, o incêndio começou no Parque da Serra da Capivara, no sertão do Piauí, calcinado há seis anos pela seca, e avançou pela caatinga, que esconde as pinturas rupestres inscritas na rocha, há pelo menos 31.500 anos, pelo homem brasileiro préhistórico. (Isto é, 221811984) 1. O autor justifica o fato de os ecologistas referiremse aos parques nacionais como “arcas de Noé para o futuro” da seguinte maneira: a) Porque são áreas preservadas da caça e pesca indiscriminadas. b) Porque ocupam espaços administrativamente delimitados pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. c) Porque espécies animais e vegetais que estão se extinguindo em outras regiões têm preservada sua sobrevivência nesses parques. Didatismo e Conhecimento 7 LÍNGUA PORTUGUESA d) Porque nesses parques colecionamse casais de espécies animais e vegetais em extinção noutras áreas. e) Porque há agentes florestais incumbidos de zelar pelos animais e vegetais dos parques. Resposta “C”. 2. A respeito dos incêndios referidos pelo autor, depreendese do texto que: a) Embora tivessem ameaçado espécies animais e vegetais raras, apresentaram um lado positivo: aumentaram a produção de carvão. b) Foram provocados pela rigorosa estiagem do inverno, no CentroSul, e pela seca prolongada no sertão nordestino. c) Não foram combatidos com presteza e eficiência pelos bombeiros. d) Só foram debelados por providenciais chuvas que eventualmente vieram a cair sobre os parques. e) Destruíram parte da flora e fauna das reservas, desfigurando sua paisagem. Resposta “E” a) Errado. O texto não fala que a produção de carvão é positiva. b) Errado. Segundo o texto, a estiagem “abriu caminho para que as chamas tragassem...”; de acordo com esta alternativa a estiagem provocou o incêndio. Abrir caminho não é provocar. c) Errado. Se os bombeiros apagaram o fogo, pelo menos foram eficientes. d) Errado. e) Certo. 3. Depreendese que o autor do texto, em relação ao fato descrito, manifesta: a) Descaso b) Hesitação c) Desesperança d) Pesar e) Indiferença Resposta “D”. “paisagem mutilada pelo fogo” 4. Aponte a única conclusão que é estrita e licitamente deduzível do texto: a) As chamas serviram para mostrar a precária situação dos parques brasileiros. b) Devem ser tomadas providências para dotar os parques de meios para se protegerem dos incêndios. c) Devem ser desencadeadas campanhas para conscientizar a população de como evitar incêndio nos parques. d) Parte da culpa dos incêndios cabe às autoridades responsáveis pelas reservas e parques. e) O incêndio no Parque da Serra da Capivara ameaçou valioso patrimônio histórico e antropológico. Resposta “B”. No comando deveria estar escrito “dedutível” (que se deduz) porque não existe a palavra “deduzível”. a) Errado. Não se pode deduzir estrita e licitamente que se “alguns dos 25 parques” (o texto só fala em três deles) estão em situação difícil, todos estarão. Três não são vinte e cinco. b) Certo. O que seria competência, por exemplo, dos legisladores. Os responsáveis pelos parques não são culpados de não terem condições. c) Errado. O texto não culpa a população nem as autoridades responsáveis pelos parques e reservas. d) Errado. O texto não culpa a população nem as autoridades responsáveis pelos parques e reservas. e) Errado. Se as pinturas rupestres existem há pelo menos 31.500 anos, certamente já resitiram a inúmeros incêndios, o que não justifica dizer que um incêndio constitua ameaça a elas. MPU auxiliar Esaf: Para responder às questões de 5 a 9, leia o texto a seguir. Procurase uma explicação Um mundo de mistérios se esconde por trás dos pequenos anúncios. Nunca pude avaliar, pelas suas fórmulas, quais as suas verdadeiras intenções. Fico a imaginar se o desespero de quem vende está na mesma proporção emocional de quem quer comprar. Objetos perdidos, quase sempre de estimação, documentos importantes, cachorrinhos desaparecidos, tudo na base do “gratificase bem”. Mas o que é gratificar bem, por exemplo, a uma pessoa que acha uma carteira com pouco dinheiro? Acho que há um pouco de ironia e de deboche da parte de toda pessoa que põe um anúncio e muito boa vontade da parte de quem acha que ali está a sua oportunidade. Há vários anos que encontro promessas de Iugar de futuro” e acho incompreensível que esse futuro não chegue nunca, e que as vagas continuem sempre disponíveis. Ou as pessoas acabam por descobrir que o seu futuro está fora dali ou são outras firmas que estão se iniciando para oferecer novos futuros a futuros candidatos. Há uma certa ilusão de lado a lado: quem anuncia o futuro dos outros está pensando no seu presente e quem procura o seu futuro no presente de quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros. Até que ponto é sincero um anúncio que procura moças de “boa aparência”, de 18 a 25 anos, com prática de datilografia e um mínimo de 150 batidas certas por minuto? É tão necessário que sejam todas as batidas certas? E esses que vivem vendendo objetos, um de cada vez, “por motivo de viagem”? Será que o dinheirinho de um aparelho de televisão ou de uma máquina de costura ou de um gravador último tipo lhes pagará a passagem? Talvez a viagem seja consequência: depois de vender os objetos, o melhor será mesmo abandonar a cidade. E os técnicos? É impressionante como tem gente especializada anunciando sua especialidade. Mecânicos e eletricistas montam e desmontam qualquer aparelho em menos de cinco minutos, e no fim sempre nos entregam três ou quatro parafusos que não têm a menor utilidade. Penso na economia monstruosa que as fábricas fariam se, ao montarem seus aparelhos, houvessem contratado os técnicos do “atendese a domicílio”. (Eliachar, Leon. O Homem ao Cubo. Rio deJaneiro: Francisco Alves S.A., 6ª ed., adoptado) 5. Ao falar de “pequenos anúncios”, o autor referese a) Essencialmente aos que tratam de empregos. b) Especificamente aos que oferecem serviços. c) Exclusivamente aos que falam de objetos perdidos. d) Genericamente a vários tipos de anúncios. Didatismo e Conhecimento 8 LÍNGUA PORTUGUESA e) Somente aos anúncios de compra e venda. Resposta “D”. Objetos perdidos, lugar de futuro = emprego, técnicos = serviços (venda). 6. A expressão que não aparece nos anúncios que o autor menciona é: a) “lugar de fututo” b) “gratifica-se bem” c) “procura-se uma explicação” d) “atende-se a domicílio” e) “por motivo de viagem” Resposta “C”. 7. Conforme o texto, os técnicos que anunciaram sua especialidade: a) Trabalham com rapidez, mas não conseguem encaixar todas as peças de um aparelho. b) Trabalham melhor que os das fábricas, resultando disto maior economia para as montadoras. c) Entendem mais da montagem dos aparelhos que os técnicos das fábricas de eletrodomésticos. d) Duvidam da competência dos mecânicos e eletricistas das grandes fábricas. e) Pretendem conseguir uma contratação como mecânicos ou eletricistas em firmas conceituadas. Resposta “A” 8. As “fórmulas” dos anúncios a que se refere o autor dizem respeito: a) À especificação b) À quantidade c) Ao argumento d) Ao conteúdo e) À correção Resposta “C”. Nunca pude avaliar, pelas suas fórmulas (=pelo que argumental – “gratifica-se bem”, “lugar de futuro”, “por motivo de viagem”), quais as suas verdadeiras intenções (= o que realmente querem dizer). 9. Assinale a opção que expressa o significado da seguinte frase do texto: “... quem procura o seu futuro no presente de quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros”. a) Quem oferece melhoria de vida aos outros através de anúncios pretende melhorar a própria vida. b) Aquele que pretende encontrar boas oportunidades nos anúncios proporciona lucros ao anunciante. c) O anunciante projeta seus atuais objetivos nas pretensões dos leitores. d) Quem busca o seu futuro no futuro dos outros prejudica irremediavelmente seu presente. e) O anuncianteprocura melhorar a vida do leitor independentemente de suas intenções. Resposta “B”. Observe que a frase “... quem procura seu futuro no presente de quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros” pode ser reduzida a “quem procura” ... faz “o futuro dos outros”, em que o sujeito “quem procura” é o leitor e os “outros” são os anunciantes. A única alternativa que põe na ordem certa de importância do texto “leitor – anunciante” é a letra b. Compare: letra a) anunciante – anunciante; c) anunciante – leitor; d) leitor – leitor; e) anunciante – leitor. MPU – nível técnico – MF: Leia o trecho abaixo para responder às questões de 10 a 14 A rigor, se cometêssemos para com a publicidade o ingênuo extremismo de acreditar plenamente no seu discurso, teríamos à nossa frente a mais desvairada das utopias. A sua eficiência, elevada ao absurdo, consistiria em fazer com que o consumidor, ao consumir um produto, incorporasse à sua percepção sensorial um deleite Sublime, um estado nirvânico, um gozo celetial. A se ressalvar e a se ressaltar, porém, a defasagem entre a promessa publicitária e o real preenchimento proporcionado pelos bens de consumo, conclui-se tristemente que o saldo é bastante negativo: a felicidade prometida é muito fugaz e o retorno ao abismo da lacuna primordial – da consciência da finitude – é ainda maior, uma vez que a busca do sublime esteve exacerbada por estímulos fantasiosos. Cada vez que o paraíso é prometido, represemase (ritualizase) o drama do retorno. Cada vez que esse retorno é frustrado, dramatizase, outra vez, o mito da queda. A promessa de preenchimento dá lugar ao vazio. Existência e angústia retornam à sua condição de paralelismo. Compreendese então o quanto a retórica publicitária era irreal, sublimadora. E uma leitura literalizante desse discurso delirante colocase de imediato lidando com uma elaboração profundamente onírica. Literalmente, a publicidade é uma fábrica de sonhos. (Extraído de A promessa do paraíso já, Luís Martins, Humanidades, Ano IV, 1987/88, nº15, p. 110/111) 10. O tema central do fragmento acima é: a) A publicidade desequilibra a relação de forças existente entre a demanda e a oferta de bens de consumo. b) Dramatizar o mito da queda é o objetivo perseguido pela retórica publicitária. c) Há uma similaridade estrutural entre a elaboração publicitária e a elaboração onírica. d) Os comerciais veiculados pelos meios de comunicação cumprem o papel de informar o consumidor em potencial sobre as reais qualidades dos produtos. e) Ao adquirir bens de consumo, o consumidor sublima suas carências afetivas num estado de deleite sublime. Resposta “C”. Reler as quatro últimas linhas do texto (onírico = de sonho). 11. À leitura literal da retórica publicitária associamse vários termos no texto, exceto: a) Deleite sublime b) Estado nirvânico c) Gozo celestial d) Consciência da finitude e) Estímulos fantasiosos Resposta “D”. É a única alternativa de significado negativo. A publicidade, no texto, só busca ressaltar o lado positivo. Didatismo e Conhecimento 9 LÍNGUA PORTUGUESA 12. Uma leitura errada do texto levaria a afirmar que: a) Interpretar literalmente o discurso publicitário é uma atitude ingênua. b) A publicidade elabora um cenário onírico para os objetos da sociedade industrial. c) O discurso publicitário é formulado com mensagens que se sustentam no princípio do prazer. d) A felicidade prometida nas propagandas dá ao homem a consciência de sua finitude. e) Está incorporado à publicidade o componente mítico de retorno ao paraíso Resposta “D”. A “consciência de finitude” acontece só depois que a ilusão despertada pela publicidade acaba. A felicidade prometida nas propagandas dá ao homem a ilusão. 13. “Drama do retorno” e “mito da queda”, no texto, referemse a: a) Elaboração da primeira versão da publicidade e sua recusa pelo cliente que a encomendou. b) Retorno dos comerciais aos meios de comunicação devido à queda do faturamento das empresas. c) Promessas fantasiosas contidas nos anúncios e decepção do consumidor por não vêlas realizadas ao adquirir o produto. d) Estado nirvânico do publicitário no momento de criação da propaganda e posterior decepção ao vêlo rejeitado pelo diretor de marketing. e) Mitos de povos primitivos a respeito das concepções de Paraíso e Inferno. Resposta “C”. Por exclusão, chega-se a esta resposta, porém, como o comando se refere a “Drama do retorno” e “mito da queda”, a alternativa melhor seria: “decepção do consumidor por não ver realizadas as promessas da propaganda”. 14. Assinale a letra que contém o enunciado falso. a) Colocadas em sequência, as expressões “a se ressalvar” e “a se resaltar” são equivalentes quanto ao conteúdo. b) O segmento - da consciência da finitude – explica a expressão lacuna primordial. c) O termo “(ritualiza-se)” especifica o sentido de “representa-se”. d) As expressões “deleite sublime”, “estado nirvânico”, “gozo celestial”, colocadas em sequência, reiteram a mesma ideia. e) Em “sua eficiência”, o possessivo refere-se à eficiência da publicidade. Resposta “A”. Ressalvar = corrigir, prevenir com ressalva, excetuar... Ressaltar = destacar, sobressair, dar relevo... (TJ-SP) Oficial de Justiça Leia a charge para responder às questões de números 15 e 16. 15. Considerando-se o contexto apresentado na charge, é correto afirmar que: a) se mostra a tecnologia estendida a todos os grupos da sociedade, que a utilizam bem, já que os usuários não subestimam seu potencial. b) se define o avanço tecnológico do país levando em consideração, principalmente, a política pública para o acesso a esse tipo de bem. c) se estabelece uma relação paradoxal entre os avanços obtidos na área tecnológica e as condições de vida a que está sujeita expressiva parcela da população. d) se pode entender como positiva a nova relação do homem com as máquinas, já que elas tiram expressiva parcela da população de condições aviltantes de vida. e) se veem a criticidade e o bom senso de grande parte da população menos favorecida para o uso adequado das novas tecnologias no cotidiano. Resposta “C”. Sim, a charge ilustra o paradoxo (a contradição) que há na implementação de programas de inclusão digital em um país com elevado número de pessoas excluídas socialmente (privação, falta de recursos ou, de uma forma mais abrangente, ausência de cidadania, se, por esta, se entender a participação plena na sociedade, aos diferentes níveis em que esta se organiza e se exprime: ambiental, cultural, econômico, político e social). 16. Levando-se em consideração a situação em que as personagens se encontram, é correto afirmar que a fala proferida por uma delas se marca pelo(a) a) entusiasmo. b) displicência. c) mau humor. d) ironia. e) redundância. Resposta “D”. A fala é irônica (instrumento de literatura que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa, deixando entender uma distância intencional entre aquilo que dizemos e aquilo que realmente pensamos. Na Literatura, a ironia é a arte de gozar com Didatismo e Conhecimento 10 LÍNGUA PORTUGUESA alguém ou de alguma coisa, com vista a obter uma reação do leitor, ouvinte ou interlocutor. Ela pode ser utilizada, entre outras formas, com o objetivo de denunciar, de criticar ou de censurar algo. Para tal, o locutor descreve a realidade com termos aparentemente valorizantes, mas com a finalidade de desvalorizar. A ironia convida o leitor ou o ouvinte, a ser ativo durante a leitura, para refletir sobre o tema e escolher uma determinada posição), pois demonstra que o programa de inclusão digital não atinge seus reais objetivos entre aqueles que ainda precisam de inclusão social: às pessoas sem moradia, mais vale o computador como material combustível que conectado à rede. As questões de números 17 a 20 baseiam-se no texto. ONU pede ampliação de programas sociais do Brasil SÃO PAULO – Os programas adotados no governo federal ainda não são suficientespara lidar com problemas de desigualdade, reforma agrária, moradia, educação e trabalho escravo, informou ontem a Organização das Nações Unidas (ONU). Comitê da entidade pelos direitos econômicos e sociais pede uma revisão do Bolsa-Família, uma maior eficiência do programa e sua “universalização”. Por fim, constata: a cultura da violência e da impunidade reina no País. A ONU sugere que o Brasil amplie o Bolsa-Família para camadas da população que não recebem os benefícios, incluindo os indígenas. E cobra a “revisão” dos mecanismos de acompanhamento do programa para garantir acesso de todas as famílias pobres, aumentando ainda a renda distribuída. Há duas semanas, o comitê sabatinou membros do governo em Genebra, na Suíça. O documento com as sugestões é resultado da avaliação dos peritos do comitê que inclui o exame de dados passados pelo governo e por cinco relatórios alternativos apresentados por organizações não- governamentais (ONGs). Os peritos reconhecem os avanços no combate à pobreza, mas insistem que a injustiça social prevalece. Um dos pontos considerados como críticos é a diferença de expectativa de vida e de pobreza entre brancos e negros. A sugestão da ONU é que o governo tome medidas “mais focadas”. Na visão do órgão, a exclusão é decorrente da alta proporção de pessoas sem qualquer forma de segurança social, muitos por estarem no setor informal da economia. (www.estadao.com.br/nacional/not_nac377078,0.htm. 26.05.2009. Adaptado) 17. O texto do Estadão a) harmoniza-se com a charge, já que o relatório apresentado pela ONU aponta a existência da injustiça social no país. b) não mantém uma relação temática com a charge, pois enfoca a necessidade de revisão dos programas sociais. c) trata do mesmo assunto apresentado na charge, mostrando a superação dos problemas sociais mais graves e urgentes. d) ajusta-se à ideia expressa na charge de que os avanços tecnológicos trouxeram inúmeros benefícios aos menos favorecidos. e) discute a questão dos direitos econômicos e sociais, o que o distancia do assunto da charge, ou seja, a exclusão social. Resposta “A”. Na verdade, Injustiça Social nada mais é do que o fato de existir na sociedade situações que favoreçam apenas uma porcentagem (geralmente menor) da população enquanto outra parte fica sem acesso aos meios, essenciais ou não, para o homem. Assim como a notícia veiculada no Estadão, a charge trata da injustiça social no país, ao anunciar que a exclusão social atinge 28 mil famílias. 18. De acordo com o texto, em relação aos programas adotados no governo federal para lidar com os problemas sociais, a ONU deixa evidente que eles a) se mostram arrojados. b) devem ser ampliados. c) não precisarão de melhorias. d) extinguiram as desigualdades. e) combatem eficazmente a pobreza. Resposta “B”. O período que torna essa alternativa verdadeira é: “A ONU sugere que o Brasil amplie o Bolsa-Família para camadas da população que não recebem os benefícios, incluindo os indígenas. E cobra a ‘revisão’ dos mecanismos de acompanhamento do programa para garantir acesso de todas as famílias pobres, aumentando ainda a renda distribuída.” 19. No 1.º parágrafo do texto, o termo universalização aparece grafado entre aspas. Isso ocorre porque se pretende enfatizar que o benefício deve a) atingir a todas as pessoas que o solicitem, independentemente de classe social. b) ser proporcionado a um contingente de pessoas que está fora da pobreza. c) estar na mira de pessoas incautas, que dele se beneficiam sem terem direito. d) ser, paulatinamente, oferecido a um número menor de pessoas dentro e fora do país. e) estender-se a todas as famílias pobres e a camadas da população excluídas de recebê-lo. Resposta “E”. O sentido real (denotativo) da palavra universalização é a superação dos limites sociais, econômicos e mercantilistas que existem hoje em todos os serviços que ainda são públicos e estatais. A universalização é a superação das relações patrimonialistas que determinaram e determinam os aparelhos do Estado que ainda possuem propriedade estatal e a absoluta garantia de acesso e atendimento aos serviços públicos. Portanto, não é para atender todos os excluídos ou mesmo todos os explorados, mas sim para atender a todos que queiram ou precisem dos serviços públicos. E, para isso, os serviços devem ser construídos, planejados e administrados, fato que exige uma absoluta revolução no modelo de administração pública no Brasil. Mas as aspas estão dando outro significado para a palavra “universalização”, está restringindo o seu significado somente às famílias pobres e a camadas da população excluídas. 20. Com a frase – A sugestão da ONU é que o governo tome medidas “mais focadas”. – entende-se que as medidas devem ser a) diluídas. b) controladas. c) direcionadas. d) competentes. e) amplas. Didatismo e Conhecimento 11 LÍNGUA PORTUGUESA Resposta “C”. “Focar” significa “pôr em evidência”, “tomar por foco”. Por isso, “medidas focadas” são medidas “direcionadas” (a um foco). SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS. Quanto à significação, as palavras são divididas nas seguintes categorias: Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproximado. Exemplo: - Alfabeto, abecedário. - Brado, grito, clamor. - Extinguir, apagar, abolir, suprimir. - Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial. Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinônimo pelo outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os sinônimos diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, por matizes de significação e certas propriedades que o escritor não pode desconhecer. Com efeito, estes têm sentido mais amplo, aqueles, mais restrito (animal e quadrúpede); uns são próprios da fala corrente, desataviada, vulgar, outros, ao invés, pertencem à esfera da linguagem culta, literária, científica ou poética (orador e tribuno, oculista e oftalmologista, cinzento e cinéreo). A contribuição Greco-latina é responsável pela existência, em nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. Exemplos: - Adversário e antagonista. - Translúcido e diáfano. - Semicírculo e hemiciclo. - Contraveneno e antídoto. - Moral e ética. - Colóquio e diálogo. - Transformação e metamorfose. - Oposição e antítese. O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinonímia, palavra que também designa o emprego de sinônimos. Antônimos: são palavras de significação oposta. Exemplos: - Ordem e anarquia. - Soberba e humildade. - Louvar e censurar. - Mal e bem. A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido oposto ou negativo. Exemplos: Bendizer/maldizer, simpático/antipático, progredir/regredir, concórdia/discórdia, explícito/implícito, ativo/ inativo, esperar/desesperar, comunista/anticomunista, simétrico/ assimétrico, pré-nupcial/pós-nupcial. Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, e às vezes a mesma grafia, mas significação diferente. Exemplos: - São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo). - Aço (substantivo) e asso (verbo). Só o contexto é que determina a significação dos homônimos. A homonímia pode ser causa de ambiguidade, por isso é considerada uma deficiência dos idiomas. O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto fônico (som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em: Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e diferentes no timbre ou na intensidade das vogais. - Rego (substantivo) e rego (verbo). - Colher (verbo) e colher (substantivo). - Jogo (substantivo) e jogo (verbo). - Apoio (verbo) e apoio (substantivo). - Para (verbo parar) e para (preposição). - Providência (substantivo) e providencia (verbo). - Às (substantivo), às (contração) e as (artigo). - Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de per+o). Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e diferentes na escrita. - Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir). - Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar). - Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de con- sertar). - Cegar (tornar cego) e segar (cortar,ceifar). - Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (acelerar). - Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar). - Censo (recenseamento) e senso (juízo). - Cerrar (fechar) e serrar (cortar). - Paço (palácio) e passo (andar). - Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo). - Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar = anular). - Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e sessão (tempo de uma reunião ou espetáculo). Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na pronúncia. - Caminhada (substantivo), caminhada (verbo). - Cedo (verbo), cedo (advérbio). - Somem (verbo somar), somem (verbo sumir). - Livre (adjetivo), livre (verbo livrar). - Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr). - Alude (avalancha), alude (verbo aludir). Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na pronúncia: Coro e couro, cesta e sesta, eminente e iminente, tetânico e titânico, atoar e atuar, degradar e degredar, cético e séptico, prescrever e proscrever, descrição e discrição, infligir (aplicar) e infringir (transgredir), osso e ouço, sede (vontade de beber) e cede (verbo ceder), comprimento e cumprimento, deferir (conceder, dar deferimento) e diferir (ser diferente, divergir, adiar), ratificar (confirmar) e retificar (tornar reto, corrigir), vultoso (volumoso, muito grande: soma vultosa) e vultuoso (congestionado: rosto vultuoso). Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma significação. A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia. Exemplos: - Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as plan- tas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande curral de gado. - Pena: pluma, peça de metal para escrever; punição; dó. - Velar: cobrir com véu, ocultar, vigiar, cuidar, relativo ao véu do palato. Didatismo e Conhecimento 12 LÍNGUA PORTUGUESA Podemos citar ainda, como exemplos de palavras polissêmicas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que têm dezenas de acepções. Sentido Próprio e Sentido Figurado: as palavras podem ser empregadas no sentido próprio ou no sentido figurado. Exemplos: - Construí um muro de pedra. (sentido próprio). - Ênio tem um coração de pedra. (sentido figurado). - As águas pingavam da torneira, (sentido próprio). - As horas iam pingando lentamente, (sentido figurado). Denotação e Conotação: Observe as palavras em destaque nos seguintes exemplos: - Comprei uma correntinha de ouro. - Fulano nadava em ouro. No primeiro exemplo, a palavra ouro denota ou designa simplesmente o conhecido metal precioso, tem sentido próprio, real, denotativo. No segundo exemplo, ouro sugere ou evoca riquezas, poder, glória, luxo, ostentação; tem o sentido conotativo, possui várias conotações (ideias associadas, sentimentos, evocações que irradiam da palavra). Quanto mais uma pessoa se distanciar da escrita padrão, mais dificuldade terá de se lembrar da pronúncia correta das palavras. A boa notícia é que muitos estão conscientes disso e querem melhorar. - A meu ver tudo parece caminhar satisfatoriamente. (não: ao meu ver) - O avião aterrissou no horário previsto. (não: aterrizou) - Devo ir ao cabeleireiro ainda esta semana. (não: cabelereiro) - O condor vive em regiões montanhosas. (não: côndor) - Já é hora de o candidato dizer a verdade. (não: do candidato; o sujeito jamais é preposicionado) - O trem, na Rússia, descarrilou mais uma vez. (não: descarrilhou) - Fiquei com muito dó daquele jogador. (não: muita dó) - Nunca encontrava empecilhos no caminho. (não: impecilho) - O cigarro provoca o enfisema pulmonar. (não: efisema) - Por favor, não deixe a garagem aberta. (não garage) - Vamos galera! O “show” é gratuito. (não: gratuíto) - Naquele ínterim, ela refletiu sabiamente. (não: interim) - É um sujeito muito irrequieto. (não: irriquieto) - O látex desta confecção é de primeira qualidade. (não: latex) - A maisena parece que está vencida. (não: Maizena; marca comercial) - Meu irmão é menor de idade. (não: de menor) - Ela prefere mortadela a queijo. (não: mortandela) - Elas aceitaram prazerosamente minha contribuição. (não: prazeirosamente) - Mereceu ganhar o prêmio Nobel de Literatura. (não: Nóbel) - Foi um privilégio conhecê-la. (não: previlégio) - Todos reivindicam melhores oportunidades. (não: reinvindicar) - O Brasil bateu recorde outra vez. (não: récorde) - Repetiu o ano porque não estudou o suficiente. (não: de ano) - Não se esqueça de colocar sua rubrica. (não: rúbrica) - Meu tempero está ruim. (não: rúim) - Em face (ou ante a) da confusão reinante, a direção do presídio proibiu as visitas. (não: em face a) - Fez que (fingir) não ouviu a advertência. (não: fez com que) - Somos quatro, lá em casa. (não: somos em) - Ficamos em pé / de pé o tempo todo. (ambas formas corretas) - Esta roupa não tem nada a ver com você. (não: haver) nada há ver = nada a receber - A princípio tudo parecia real. (= no começo) (não: em princípio) - Em princípio, sua proposta nos interessa. (em tese) (não: a princípio) - A persistirem os sintomas, procure um médico. (se persistirem, equivale a uma condição) - Ao persistirem os sintomas, procure um médico. (quando persistirem, equivale a tempo) - Depois de vencidos os obstáculos, ele voltava vitorioso. (inadequado) - Depois de superados os obstáculos, ele voltava vitorioso. (obstáculos não se vencem; superam-se) Exercícios 01. Estava ....... a ....... da guerra, pois os homens ....... nos erros do passado. a) eminente, deflagração, incidiram b) iminente, deflagração, reincidiram c) eminente, conflagração, reincidiram d) preste, conflaglação, incidiram e) prestes, flagração, recindiram 02. “Durante a ........ solene era ........ o desinteresse do mestre diante da ....... demonstrada pelo político”. a) seção - fragrante - incipiência b) sessão - flagrante - insipiência c) sessão - fragrante - incipiência d) cessão - flagrante - incipiência e) seção - flagrante - insipiência 03. Na ..... plenária estudou-se a ..... de direitos territoriais a ..... . a) sessão - cessão - estrangeiros b) seção - cessão - estrangeiros c) secção - sessão - extrangeiros d) sessão - seção - estrangeiros e) seção - sessão - estrangeiros 04. Há uma alternativa errada. Assinale-a: a) A eminente autoridade acaba de concluir uma viagem política. b) A catástrofe torna-se iminente. c) Sua ascensão foi rápida. d) Ascenderam o fogo rapidamente. e) Reacendeu o fogo do entusiasmo. 05. Há uma alternativa errada. Assinale-a: a) cozer = cozinhar; coser = costurar b) imigrar = sair do país; emigrar = entrar no país c) comprimento = medida; cumprimento = saudação d) consertar = arrumar; concertar = harmonizar e) chácara = sítio; xácara = verso Didatismo e Conhecimento 13 LÍNGUA PORTUGUESA 06. Assinale o item em que a palavra destacada está incorretamente aplicada: a) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes. b) A justiça infligiu a pena merecida aos desordeiros. c) Promoveram uma festa beneficiente para a creche. d) Devemos ser fiéis ao cumprimento do dever. e) A cessão de terras compete ao Estado. 07. O ...... do prefeito foi ..... ontem. a) mandado - caçado b) mandato - cassado c) mandato - caçado d) mandado - casçado e) mandado - cassado 08. Marque a alternativa cujas palavras preenchem corretamente as respectivas lacunas, na frase seguinte: “Necessitando ...... o número do cartão do PIS, ...... a data de meu nascimento.” a) ratificar, proscrevi b) prescrever, discriminei c) descriminar, retifiquei d) proscrever, prescrevi e) retificar, ratifiquei 09. “A ......... científica do povo levou-o a .... de feiticeiros os ..... em astronomia.” a) insipiência tachar expertos b) insipiência taxar expertos c) incipiência taxar espertos d) incipiência tachar espertos e) insipiência taxar espertos 10. Na oração: Em sua vida, nunca teve muito ......, apresentava-se sempre ...... no ..... de tarefas ...... . As palavras adequadas para preenchimento das lacunas são: a) censo - lasso - cumprimento - eminentes b) senso - lasso - cumprimento - iminentes c) senso - laço - comprimento- iminentes d) senso - laço - cumprimento - eminentes e) censo - lasso - comprimento - iminentes Respostas (01.B)(02.B)(03.A)(04.D)(05.B)(06.C)(07.B) (08.E)(09.A)(10.B) SENTIDO PRÓPRIO E FIGURADO DAS PALAVRAS. Apreensão e Compreensão do Texto e Sentido Quando Lula disse a Collor no primeiro debate do segundo turno das eleições presidenciais de 1989: “Eu sabia que você era collorido por fora, mas caiado por dentro.” Os brasileiros colocaram essa frase no âmbito dos “discursos da campanha presidencial” e entenderam não “Você tem cores fora, mas é revestido de cal por dentro”, mas “Você apresenta um discurso moderno e de centro-esquerda, mas é um reacionário”. Observe que há duas operações diferentes no entendimento do texto. A primeira é a apreensão, que é a captação das relações que cada parte mantém com as outras no interior do texto. No entanto, ela não é suficiente para entender o sentido integral. Uma pessoa que conhecesse todas as palavras da frase acima, mas não conhecesse o universo dos discursos da campanha presidencial, não entenderia o significado da frase. Por isso, é preciso colocar o texto dentro do universo discursivo a que ele pertence e no interior do qual ganha sentido. Alguns teóricos chamam “conhecimento de mundo” ao universo discursivo. Na frase acima, collorido e caiado não pertencem ao universo da pintura, mas da vida política: a primeira palavra refere-se a Collor e ao modo como ele se apresentava, um político moderno e inovador; a segunda diz respeito a Ronaldo Caiado, político conservador que o apoiava. A essa operação chamamos compreensão. Apreensão + Compreensão = Entendimento do texto Para ler e entender um texto é preciso atingir dois níveis de leitura: informativa e de reconhecimento. A primeira deve ser feita cuidadosamente por ser o primeiro contato com o texto, extraindo-se informações e se preparando para a leitura interpretativa. Durante a interpretação grife palavras- chave, passagens importantes; tente ligar uma palavra à ideia central de cada parágrafo. A última fase de interpretação concentra-se nas perguntas e opções de respostas. Marque palavras como não, exceto, respectivamente, etc., pois fazem diferença na escolha adequada. Retorne ao texto mesmo que pareça ser perda de tempo. Leia a frase anterior e posterior para ter ideia do sentido global proposto pelo autor. Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias seletas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão do texto. A alusão histórica serve para dividir o texto em pontos menores, tendo em vista os diversos enfoques. Convencionalmente, o parágrafo é indicado através da mudança de linha e um espaçamento da margem esquerda. Uma das partes bem distintas do parágrafo é o tópico frasal, ou seja, a ideia central extraída de maneira clara e resumida. Atentando-se para a ideia principal de cada parágrafo, asseguramos um caminho que nos levará à compreensão do texto. Produzir um texto é semelhante à arte de produzir um tecido. O fio deve ser trabalhado com muito cuidado para que o trabalho não se perca. O mesmo acontece com o texto. O ato de escrever toma de empréstimo uma série de palavras e expressões amarrando, conectando uma palavra uma oração, uma ideia à outra. O texto precisa ser coeso e coerente. Coesão É a amarração entre as várias partes do texto. Os principais elementos de coesão são os conectivos, vocábulos gramaticais, que estabelecem conexão entre palavras ou partes de uma frase. O texto deve ser organizado por nexos adequados, com sequência de ideias encadeadas logicamente, evitando frases e períodos desconexos. Para perceber a falta de coesão, a melhor atitude é ler atentamente o seu texto, procurando estabelecer as possíveis relações entre palavras que formam a oração e as orações que formam o período e, finalmente, entre os vários períodos que formam o texto. Um texto bem trabalhado sintática e semanticamente resultam num texto coeso. Didatismo e Conhecimento 14 LÍNGUA PORTUGUESA Coerência A coerência está diretamente ligada à possibilidade de estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para quem lê, devendo, portanto, ser entendida, interpretada. Na avaliação da coerência será levada em conta o tipo de texto. Em um texto dissertativo, será avaliada a capacidade de relacionar os argumentos e de organizá-los de forma a extrair deles conclusões apropriadas; num texto narrativo, será avaliada sua capacidade de construir personagens e de relacionar ações e motivações. Tipos de Composição Descrição: é representar verbalmente um objeto, uma pessoa, um lugar, mediante a indicação de aspectos característicos, de pormenores individualizantes. Requer observação cuidadosa, para tornar aquilo que vai ser descrito um modelo inconfundível. Não se trata de enumerar uma série de elementos, mas de captar os traços capazes de transmitir uma impressão autêntica. Descrever é mais que apontar, é muito mais que fotografar. É pintar, é criar. Por isso, impõe-se o uso de palavras específicas, exatas. Narração: é um relato organizado de acontecimentos reais ou imaginários. São seus elementos constitutivos: personagens, circunstâncias, ação; o seu núcleo é o incidente, o episódio, e o que a distingue da descrição é a presença de personagens atuantes, que estão quase sempre em conflito. A narração envolve: - Quem? Personagem; - Quê? Fatos, enredo; - Quando? A época em que ocorreram os acontecimentos; - Onde? O lugar da ocorrência; - Como? O modo como se desenvolveram os acontecimentos; - Por quê? A causa dos acontecimentos; Dissertação: é apresentar ideias, analisá-las, é estabelecer um ponto de vista baseado em argumentos lógicos; é estabelecer relações de causa e efeito. Aqui não basta expor, narrar ou descrever, é necessário explanar e explicar. O raciocínio é que deve imperar neste tipo de composição, e quanto maior a fundamentação argumentativa, mais brilhante será o desempenho. Sentidos Próprio e Figurado Comumente afirma-se que certas ocorrências de discurso têm sentido próprio e sentido figurado. Geralmente os exemplos de tais ocorrências são metáforas. Assim, em “Maria é uma flor” diz-se que “flor” tem um sentido próprio e um sentido figurado. O sentido próprio é o mesmo do enunciado: “parte do vegetal que gera a semente”. O sentido figurado é o mesmo de “Maria, mulher bela, etc.” O sentido próprio, na acepção tradicional não é próprio ao contexto, mas ao termo. O sentido tradicionalmente dito próprio sempre corresponde ao que definimos aqui como sentido imediato do enunciado. Além disso, alguns autores o julgam como sendo o sentido preferencial, o que comumente ocorre, mas nem sempre. O sentido dito figurado é o do enunciado que substitui a metáfora, e que em leitura imediata leva à mesma mensagem que se obtém pela decifração da metáfora. O conceito de sentido próprio nasce do mito da existência da leitura ingênua, que ocorre esporadicamente, é verdade, mas nunca mais que esporadicamente. Não há muito o que criticar na adoção dos conceitos de sentido próprio e sentido figurado, pois ela abre um caminho de abordagem do fenômeno da metáfora. O que é passível de crítica é a atribuição de status diferenciado para cada uma das categorias. Tradicionalmente o sentido próprio carrega uma conotação de sentido “natural”, sentido “primeiro”. Invertendo a perspectiva, com os mesmos argumentos, poderíamos afirmar que “natural”, “primeiro” é o sentido figurado, afinal, é o sentido figurado que possibilita a correta interpretação do enunciado e não o sentido próprio. Se o sentido figurado é o “verdadeiro” para o enunciado, por que não chamá-lo de “natural”, “primeiro”? Pela lógica da Retórica tradicional, essa inversão de perspectiva não é possível, pois o sentido figurado está impregnado de uma conotação desfavorável. O sentido figurado é visto comoanormal e o sentido próprio, não. Ele carrega uma conotação positiva, logo, é natural, primeiro. A Retórica tradicional é impregnada de moralismo e estetização e até a geração de categorias se ressente disso. Essa tendência para atribuir status às categorias é uma constante do pensamento antigo, cuja índole era hierarquizante, sempre buscando uma estrutura piramidal para o conhecimento, o que se estende até hoje em algumas teorias modernas. Ainda hoje, apesar da imparcialidade típica e necessária ao conhecimento científico, vemos conotações de valor sendo atribuídas a categorias retóricas a partir de considerações totalmente externas a ela. Um exemplo: o retórico que tenha para si a convicção de que a qualidade de qualquer discurso se fundamenta na sua novidade, originalidade, imprevisibilidade, tenderá a descrever os recursos retóricos como “desvios da normalidade”, pois o que lhe interessa é pôr esses recursos retóricos a serviço de sua concepção estética. Sentido Imediato Sentido imediato é o que resulta de uma leitura imediata que, com certa reserva, poderia ser chamada de leitura ingênua ou leitura de máquina de ler. Uma leitura imediata é aquela em que se supõe a existência de uma série de premissas que restringem a decodificação tais como: - As frases seguem modelos completos de oração da língua. - O discurso é lógico. - Se a forma usada no discurso é a mesma usada para estabelecer identidades lógicas ou atribuições, então, tem-se, respectivamente, identidade lógica e atribuição. - Os significados são os encontrados no dicionário. - Existe concordância entre termos sintáticos. - Abstrai-se a conotação. - Supõe-se que não há anomalias linguísticas. - Abstrai-se o gestual, o entoativo e editorial enquanto modificadores do código linguístico. - Supõe-se pertinência ao contexto. - Abstrai-se iconias. - Abstrai-se alegorias, ironias, paráfrases, trocadilhos, etc. - Não se concebe a existência de locuções e frases feitas. - Supõe-se que o uso do discurso é comunicativo. Abstrai-se o uso expressivo, cerimonial. Didatismo e Conhecimento 15 LÍNGUA PORTUGUESA Admitindo essas premissas, o discurso será indecifrável, ininteligível ou compreendido parcialmente toda vez que nele surgirem elipses, metáforas, metonímias, oxímoros, ironias, alegorias, anomalias, etc. Também passam despercebidas as conotações, as iconias, os modificadores gestuais, entoativos, editoriais, etc. Na verdade, não existe o leitor absolutamente ingênuo, que se comporte como uma máquina de ler, o que faz do conceito de leitura imediata apenas um pressuposto metodológico. O que existe são ocorrências eventuais que se aproximam de uma leitura imediata, como quando alguém toma o sentido literal pelo figurado, quando não capta uma ironia ou fica perplexo diante de um oxímoro. Há quem chame o discurso que admite leitura imediata de grau zero da escritura, identificando-a como uma forma mais primitiva de expressão. Esse grau zero não tem realidade, é apenas um pressuposto. Os recursos de Retórica são anteriores a ele. Sentido Preferencial Para compreender o sentido preferencial é preciso conceber o enunciado descontextualizado ou em contexto de dicionário. Quando um enunciado é realizado em contexto muito rarefeito, como é o contexto em que se encontra uma palavra no dicionário, dizemos que ela está descontextualizada. Nesta situação, o sentido preferencial é o que, na média, primeiro se impõe para o enunciado. Óbvio, o sentido que primeiro se impõe para um receptor pode não ser o mesmo para outro. Por isso a definição tem de considerar o resultado médio, o que não impede que pela necessidade momentânea consideremos o significado preferencial para dado indivíduo. Algumas regularidades podem ser observadas nos significados preferenciais. Por exemplo: o sentido preferencial da palavra porco costuma ser: “animal criado em granja para abate”, e nunca o de “indivíduo sem higiene”. Em outras palavras, geralmente o sentido que admite leitura imediata se impõe sobre o que teve origem em processos metafóricos, alegóricos, metonímicos. Mas esta regra não é geral. Vejamos o seguinte exemplo: “Um caminhão de cimento”. O sentido preferencial para a frase dada é o mesmo de “caminhão carregado com cimento” e não o de “caminhão construído com cimento”. Neste caso o sentido preferencial é o metonímico, o que contrapõe a tese que diz que o sentido “figurado” não é o “primeiro significado da palavra”. Também é comum o sentido mais usado se impor sobre o menos usado. Para certos termos é difícil estabelecer o sentido preferencial. Um exemplo: Qual o sentido preferencial de manga? O de fruto ou de uma parte da roupa? PONTUAÇÃO. Os sinais de pontuação são sinais gráficos empregados na língua escrita para tentar recuperar recursos específicos da língua falada, tais como: entonação, jogo de silêncio, pausas, etc. Ponto ( . ) - indicar o final de uma frase declarativa: Lembro-me muito bem dele. - separar períodos entre si: Fica comigo. Não vá embora. - nas abreviaturas: Av.; V. Ex.ª Vírgula ( , ): É usada para marcar uma pausa do enunciado com a finalidade de nos indicar que os termos por ela separados, apesar de participarem da mesma frase ou oração, não formam uma unidade sintática: Lúcia, esposa de João, foi a ganhadora única da Sena. Podemos concluir que, quando há uma relação sintática entre termos da oração, não se pode separá-los por meio de vírgula. Não se separam por vírgula: - predicado de sujeito; - objeto de verbo; - adjunto adnominal de nome; - complemento nominal de nome; - predicativo do objeto do objeto; - oração principal da subordinada substantiva (desde que esta não seja apositiva nem apareça na ordem inversa). A vírgula no interior da oração É utilizada nas seguintes situações: - separar o vocativo: Maria, traga-me uma xícara de café; A educação, meus amigos, é fundamental para o progresso do país. - separar alguns apostos: Valdete, minha antiga empregada, esteve aqui ontem. - separar o adjunto adverbial antecipado ou intercalado: Chegando de viagem, procurarei por você; As pessoas, muitas vezes, são falsas. - separar elementos de uma enumeração: Precisa-se de pedreiros, serventes, mestre-de-obras. - isolar expressões de caráter explicativo ou corretivo: Amanhã, ou melhor, depois de amanhã podemos nos encontrar para acertar a viagem. - separar conjunções intercaladas: Não havia, porém, motivo para tanta raiva. - separar o complemento pleonástico antecipado: A mim, nada me importa. - isolar o nome de lugar na indicação de datas: Belo Horizonte, 26 de janeiro de 2011. - separar termos coordenados assindéticos: «Lua, lua, lua, lua, por um momento meu canto contigo compactua...» (Caetano Veloso) - marcar a omissão de um termo (normalmente o verbo): Ela prefere ler jornais e eu, revistas. (omissão do verbo preferir) Termos coordenados ligados pelas conjunções e, ou, nem dispensam o uso da vírgula: Conversaram sobre futebol, religião e política. Não se falavam nem se olhavam; Ainda não me decidi se viajarei para Bahia ou Ceará. Entretanto, se essas conjunções aparecerem repetidas, com a finalidade de dar ênfase, o uso da vírgula passa a ser obrigatório: Não fui nem ao velório, nem ao enterro, nem à missa de sétimo dia. A vírgula entre orações É utilizada nas seguintes situações: - separar as orações subordinadas adjetivas explicativas: Meu pai, de quem guardo amargas lembranças, mora no Rio de Janeiro. - separar as orações coordenadas sindéticas e assindéticas (exceto as iniciadas pela conjunção “e”: Acordei, tomei meu banho, comi algo e saí para o trabalho; Estudou muito, mas não foi aprovado no exame. Há três casos em que se usa a vírgula antes da conjunção: - quando as orações coordenadas tiverem sujeitos diferentes: Os ricos estão cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres. - quando a conjunção e vier repetida com a finalidade de dar ênfase (polissíndeto): E chora, e ri, e grita, e pula
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