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SUCESSÃO EMPRESARIAL FRAUDULENTA E EXTENSÃO SUBJETIVA DA EXECUÇÃO CIVIL Fraudulent entrepreneurial succession and subjective extension of civil enforcement action Revista de Processo | vol. 262/2016 | p. 133 - 152 | Dez / 2016 DTR\2016\24421 Armando Wesley Pacanaro Especialista em Direito Civil e Processual Civil pela Escola Paulista de Direito – EPD. Assistente no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo/SP apacanaro@yahoo.com.br Área do Direito: Processual; Comercial/Empresarial Resumo: O escopo do presente artigo é discutir o tratamento dado pelo Poder Judiciário à hipótese de constatação da sucessão fraudulenta praticada pela pessoa jurídica devedora que figura no polo passivo de demanda executiva ou como executada em fase de cumprimento de sentença, analisando de forma crítica a resposta judicial dada diante da ocorrência de tal conjectura fática. Neste particular, demonstrar-se-á de forma pormenorizada que muitas decisões são atécnicas, confundindo institutos de índole material e processual, tais como a desconsideração da personalidade jurídica, sucessão processual, fraude à execução, dentre outras. Ao cabo, serão apresentadas soluções jurídicas condizentes com a proposição estudada, apontando ainda recentes entendimentos jurisprudenciais e doutrinários. Palavras-chave: Sucessão Empresarial Fraudulenta - Responsabilidade Patrimonial - Execução Civil - Desconsideração da Personalidade Jurídica - Fraude à Execução. Abstract: The goal of this paper is to discuss the treatment by the Judiciary about fraudulent entrepreneurial succession practiced by the debtor enterprise that figure in civil enforcement action or as performed in judicial implementation phase, analyzing critically the response given before the occurrence of such factual conjecture. In this regard, it will be demonstrated in detail that many mistaken conclusions, confusing institutes of substantive and procedural nature, such as disregard of legal entity, procedural succession, fraud against creditors in execution actions, among others. At the end, legal solutions consistent with the study proposal will be presented, pointing recent jurisprudential and doctrinal understandings. Keywords: Fraudulent business succession - Property Accountability - Civil Enforcement Action - Disregard of the Legal Entity - Fraud against Creditor in Execution Actions. Sumário: 1 Introdução - 2 Responsabilidade Patrimonial - 3 Sucessão empresarial fraudulenta - 4 A posição majoritária - 5 Síntese crítica - 6 Aspectos conclusivos - 7 Referências Bibliográficas 1 Introdução O escopo primordial do processo de execução é sanar a crise de inadimplemento instaurada pela recalcitrância do devedor, não restando opção ao credor a não ser o ingresso de demanda em juízo com vistas à atuação concreta de seu direito. De forma diversa do que ocorre no processo de conhecimento, na execução forçada não há acertamento do direito, o qual já foi propalado juridicamente em favor do credor do título apresentado em juízo. A tutela executiva, portanto, volta-se exclusivamente à satisfação do credor. Contudo, nem sempre advém, mesmo em juízo, o íntegro atendimento ao pedido levado a efeito pelo exequente, razão pela qual já se sustentou que podem existir “certos óbices legítimos e ilegítimos que os princípios e a própria vida antepõem à plenitude da tutela Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 1 jurisdicional executiva” (DINAMARCO, 2009, p. 55). Exatamente neste ponto situa-se o objeto do presente artigo, porquanto o comportamento escuso de sociedades devedoras não raramente frustra não só a expectativa do credor, como também o escopo de atuação da tutela executiva, ocasionando dispêndio de tempo e dinheiro sem resultado eficaz e palpável. Em interessante passagem e ao encontro do que oportunamente se sustentará com o desenvolver do tema, lecionou Luiz Guilherme Marinoni que “já foi o tempo em que bastava à jurisdição dizer o direito”. Neste sentido, “o direito de ação, no processo civil contemporâneo, exige a utilização das técnicas processuais adequadas à obtenção da tutela do direito material, aí incluídas como vitais as modalidades executivas” (2009, p. VII). Sem adentrar nos pormenores do processo executivo, haja vista a proposta diminuta do presente trabalho, a problematização do objeto sugerido ilustra claramente a questão a ser enfrentada: discutir o tratamento dado pelo Poder Judiciário à hipótese de constatação da sucessão fraudulenta praticada pela pessoa jurídica devedora que figura no polo passivo de demanda executiva ou como executada em fase de cumprimento de sentença. Tal estudo pode parecer à primeira vista bastante trivial, no entanto, o foco do trabalho é a análise crítica da resposta dada diante da ocorrência de sucessão empresarial fraudulenta. Temos por certo que, neste particular, muitas decisões são atécnicas, quando não vacilantes e dissidentes, as quais serão demonstradas de forma pormenorizada nas próximas linhas. Ao cabo, serão apresentadas soluções jurídicas condizentes com a situação fática apresentada. 2 Responsabilidade Patrimonial Como advertido alhures, partiremos da situação hipotética de que há demanda executiva ajuizada, ou está sendo realizado o cumprimento de decisão judicial no procedimento sincrético,1 em face de pessoa jurídica regularmente constituída. Nesta senda, é de sabedoria comezinha no mundo jurídico que a personalidade da pessoa jurídica não se confunde com a das pessoas naturais que a compõem. Aliás, no Código Civil de 1916 havia dispositivo prevendo expressamente que “as pessoas jurídicas têm existência distinta da dos seus membros” (art. 20). Embora tal preceito não tenha sido repetido pelo atual diploma material,2 não se nega a dicotomia assinalada, em razão do princípio da personalidade. Em sede doutrinária continua sendo lecionada sua autonomia calcada na vontade destacada da de seus membros, fato que remete à conclusão lógica de que esta pode ser demandada em juízo em nome próprio. Definindo os caracteres da pessoa jurídica regularmente constituída, asseveram Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald que esta: 1) detém personalidade distinta dos seus instituidores; 2) possui patrimônio também distinto; 3) existe juridicamente de forma independente e diversa de seus membros; 4) não pode exercer atos que sejam privativos de pessoas naturais; e 5) pode ser sujeito passivo ou ativo em atos civis e criminais (2007, p. 265). A imensa gama de transações comerciais entre pessoas jurídicas corrobora tais afirmações. De fato, caso não houvesse ficção de existência à parte, definitivamente separada das pessoas naturais que lhe dão suporte, seria difícil imaginar a “sociedade do conhecimento e do consumo” no arquétipo hoje delineado. Com a evolução social e toda complexidade atualmente existente nas diversas relações juridicamente possíveis, é cada vez maior o número de conflitos de interesses apresentados ao Poder Judiciário, sendo comum a verificação de demandas que visam à excussão de bens e direitos de propriedade de empresas em decorrência do inadimplemento de suas obrigações, sejam elas consubstanciadas em títulos Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 2 extrajudiciais (art. 784, do NCPC) ou em decorrência da prolação de decisões em processos de conhecimento ou até mesmo corroboradas por outros títulos judiciais (art. 515, do NCPC). Sendo as pessoas jurídicas partes passivas em demandas que visem à excussão de seu patrimônio, são responsáveis primárias pelas relações jurídicas perpetradas, a teor do que dispõem os arts. 779, I e 789, do NCPC, respondendo com todos os seus bens pelo inadimplemento de suas obrigações (art. 391, do CC). Conforme bem leciona Alexandre Freitas Câmara, “tem legitimidade passiva ‘o devedor, reconhecido como tal no título executivo’ (art. 568, I). Trata-se de legitimidade ordinária primária, já que a pessoa indicada como devedora no título é o sujeito original da res in iudicium deducta.”(2006, p. 171). Exatamente neste ponto cabem parênteses. A responsabilidade patrimonial pode ser tratada tanto sob o aspecto material quanto processual, fato que nos autoriza a afirmar que o conceito de débito (schuld) é diferente de responsabilidade (haftung), podendo existir um instituto sem que, necessariamente, haja a configuração do outro. Em linhas gerais, significa dizer que, quando a responsabilidade recai sobre aquela pessoa sobre a qual se imputa o débito exigido, existe responsabilidade primária. Ao revés, quando a imputação de responsabilidade é destinada a quem não possui débito, há responsabilidade secundária (MARINONI, 2008, p. 607). Fizemos esta breve explanação para afirmar que o tema pertence ao direito processual, pois visa a disciplinar a relação entre o Estado e o responsável e não propriamente entre credor e devedor, já que podem ser excutidos tantos bens quantos bastem à satisfação do crédito, permitindo a atuação concreta do direito positivado (CÂMARA, 2006, p. 209). Vimos que até o presente momento não há maiores dificuldades em indicar o sujeito passivo da obrigação que constará diretamente no pólo da demanda em juízo, tampouco definir quais os dispositivos legais devem ser invocados para buscar a finalidade do processo de execução: “atuar praticamente aquela norma jurídica concreta” (MOREIRA, 2010, p. 205). O caminho tortuoso tem início quando, no decorrer do processo, descobre-se que a pessoa jurídica devedora pratica atos com vistas ao seu esvaziamento patrimonial, com o único objetivo de frustrar não só a lide proposta, como também seus atuais credores e potenciais demandantes. Foi-se o tempo em que a manobra mais corriqueira consistia na transferência escusa de bens e direitos da pessoa jurídica para os sócios que a compunham, em claro abuso da personalidade jurídica, com o intuito primordial de blindar o patrimônio da pessoa detentora da responsabilidade de saldar a dívida exigida em juízo. A estes casos tem plena aplicabilidade o disposto no art. 50 do CC, com a invocação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica, operando a desconstituição episódica do ente colegiado, atingindo os bens particulares dos sócios,3 respondendo estes pela exigibilidade judicial do débito. Solução diversa, no entanto, deve ser dada na hipótese em que ocorre sucessão empresarial fraudulenta,4 consistente no esvaziamento patrimonial de uma pessoa jurídica demandada, revertendo seu patrimônio em benefício de outro ente jurídico que não faz parte de um grupo societário ou empresarial, situação que será legalmente explorada. 3 Sucessão empresarial fraudulenta Em sentido léxico, sucessão significa a constatação de “sequência de pessoas ou coisas que se sucedem ou substituem sem interrupção ou com breves intervalos” (FERREIRA, 2005, p. 754). À míngua de expressão específica, preferimos utilizar esta como referência às operações societárias escusas praticadas no decorrer do processo de execução ou cumprimento de sentença. Ademais, em pesquisas jurisprudenciais Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 3 logrou-se apurar que o termo é usado em larga escala, ainda que sem precisão conceitual necessária. Constatou-se, v.g., que o termo sucessão é empregado em hipóteses que, a rigor, poderiam ser conceituadas como cisões e incorporações irregulares, i.e., no primeiro caso ocorre a transferência do patrimônio de uma sociedade diretamente à outra, enquanto na segunda hipótese uma sociedade é absorvida por outra, sendo esta última denominada incorporadora. Embora estes conceitos tenham sido tomados de empréstimo do direito de empresa,5 entendemos como plenamente cabível a aplicação de seu regramento no caso em tela, mormente em virtude do claro diálogo de fontes promovido entre o Código Civil (LGL\2002\400), a Lei das Sociedades Anônimas, o Código de Processo Civil, dentre outros diplomas normativos. Em apertada síntese, advertimos que a utilização do termo sucessão é realizada de forma sui generis, pois, no sentido que lhe é dado pela Lei 6.404/1976,6 este serve apenas para designar a transferência de bens, direitos e obrigações à nova sociedade, não possuindo correspondência intrínseca às diversas modalidades de operações societárias.7 Quer-se dizer: respeitadas as regras insertas na Lei das Sociedades Anônimas e no Código Civil (LGL\2002\400) no que pertine às modalidades de operações societárias, a sucessão do ativo e do passivo judicial será operacionalizada na forma legal. A sucessão dos direitos e deveres, então, é consequência lógica da operação realizada, seja ela transformação, cisão, fusão ou até mesmo incorporação. Outro aspecto que merece ser destacado consiste no fato de que, embora no campo societário a incidência das regras atinentes às operações entre empresas seja, em boa parte dos casos, voltada às pessoas jurídicas de capital aberto, em se tratando de sucessão empresarial fraudulenta ocorrida no curso de processo de execução ou cumprimento de sentença, verificamos que a esmagadora maioria das hipóteses constatadas diz respeito à constituição de empresas sucessoras sob o regime de cotas de responsabilidade limitada, sem a devida averbação das alterações realizadas. Cabe ressaltar, ainda, que em decorrência da natureza jurídica dos institutos da transformação e da fusão de empresas, não é comum a constatação de sua ocorrência no bojo do processo executivo ou cumprimento de sentença, posto que no primeiro caso há apenas a modificação do tipo societário, ao passo que na segunda hipótese há a formação de uma nova sociedade em decorrência da junção de duas outras que a antecedem cronologicamente. De fato, estes institutos – da transformação e da fusão – dificilmente beneficiariam as empresas que propositadamente esvaziam seus patrimônios, colocando-as em posição privilegiada em relação aos seus credores, posto não oferecerem tecnicamente os mesmos mecanismos societários da incorporação e da cisão empresarial. Em análise perfunctória, verifica-se que é pouco interessante à empresa fraudadora agregar-se a outra para a criação de terceira sociedade, embora na prática também possa ocorrer tal situação de maneira irregular. De igual forma, a simples alteração do tipo societário não teria o condão de elidi-la do processo judicial, continuando a serem praticados os atos de constrição patrimonial em face do mesmo ente personalizado. Daí a razão pela qual a prática demonstra que tais operações são raras em se tratando de operações societárias realizadas às margens da lei. Outro ponto que merece ser anotado é que, de acordo com a lei regente, torna-se necessária a averbação8 da operação societária junto ao registro da sociedade, exceto em caso de formação de nova pessoa jurídica, caso em que o ato correspondente é o registro da empresa criada. Por óbvio que a falta de averbação ou registro9 não isenta a responsabilidade da empresa formada para albergar os bens e direitos da sociedade devedora, podendo ser excutido seu patrimônio em decorrência da manobra fraudulenta praticada.10 A propósito, sustenta Sacha Calmon Navarro Coelho que “a sucessão não precisa ser Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 4 formalizada, admitindo a jurisprudência a sua presunção desde que existentes indícios e provas convincentes (matéria de fato, caso a caso)” (1999, p. 624). No mesmo sentido já decidiu o Tribunal de Justiça de Santa Catarina que “em razão das peculiaridades da criação e extinção de empresas, não raras vezes encobertas por artifícios fraudulentos daqueles que atuam nas entrelinhas da legislação comercial, a prova da sucessão no negócio independente da compra formal do fundo de comércio e do estabelecimento, podendo ser reconhecida por indícios e circunstâncias, como a identidade de endereços, razão e objeto social, o esvaziamento deliberado do patrimônio da devedora e sua integral transferência para a nova pessoa jurídica em época próxima” (TJSC, Apelação 1999.021346-3, Rel. Des. Newton Janke,j. 12.08.2004). Enfim, feitas as considerações introdutórias em relação à sucessão empresarial fraudulenta, mormente com a configuração dos institutos inerentes às operações societárias descritas pela legislação, é chegada a hora de debatermos o tratamento dado pelos órgãos judicantes, bem como pelo ordenamento em vigor, apontando a solução tecnicamente acertada. 4 A posição majoritária O propósito do presente tópico é demonstrar como a questão ora debatida vem sendo enfrentada pelos Tribunais Superiores, colacionando os mais variados excertos. Constatar-se-ão, destarte, diferentes fundamentos aparentemente convincentes sobre a temática da sucessão empresarial fraudulenta e suas repercussões processuais. Analisando a jurisprudência pátria logrou-se apurar que o tema em discussão é tratado pelos operadores do direito sem o necessário rigor técnico, sendo aplicado aos casos, não raras as vezes, o dispositivo número 50 do CC, tratando a situação concreta sob o prisma da teoria da desconsideração da personalidade jurídica.11 Não se nega que em determinadas hipóteses a disregard doctrine é adotada de forma correta, mormente quando estamos diante de grupo de empresas em que há confusão patrimonial entre sociedades controladas e controladoras, na esteira do entendimento do Superior Tribunal de Justiça.12 Não nos parece correto, porém, que tal regramento seja aplicado de forma indistinta a todas as situações em que ocorre esvaziamento patrimonial da empresa devedora, pois determinadas sutilezas verificadas no caso concreto podem modificar o rumo da demanda, bem como do direito aplicado, acarretando vários outros desdobramentos materiais e processuais. Entretanto, em linhas gerais constata-se, v.g., que no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo a tese da desconsideração da personalidade jurídica é amplamente aceita e aplicada, conforme podemos verificar através da simples leitura dos arestos a seguir colacionados. Julgando recurso de agravo de instrumento, a 37ª Câmara de Direito Privado decidiu que “constatado que a ora recorrente atua no mesmo estabelecimento comercial da executada e com idêntico ramo de atividade. Executada que, apesar de regularmente citada, não pagou o débito ou indicou bens à penhora. Desconsideração da personalidade jurídica. Admissibilidade. Caracterizada confusão patrimonial e abuso de direito em prejuízo dos credores. Decisão mantida. Recurso desprovido” (Agravo de Instrumento 2222484-06.2014.8.26.0000, Rel. Sergio Gomes, 37ª Câmara de Direito Privado, j. 10.03.2015). Em outra situação, resolvendo recurso tirado em fase de cumprimento de sentença, a 20ª Câmara de Direito Privado sustentou que “presente, na espécie, prova de fato indicativo de fraude, que autoriza a desconsideração da personalidade jurídica para determinar a citação da empresa Fênix Advance Produtos Automotivos Ltda para os termos do cumprimento de sentença em ação de cobrança ajuizada pela agravante Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 5 contra NTX Resolv Comercial de Tintas e Ferragens Ltda, em razão de sucessão empresarial – A prova documental constante dos autos é suficiente para caracterizar a existência de grupo econômico entre a executada NTX Resolv Comercial de Tintas e Ferragens Ltda e Fênix Advance Produtos Automotivos Ltda e confusão patrimonial entre elas Reforma da r. decisão agravada para o fim de reconhecer a sucessão empresarial de NTX Resolv Comercial de Tintas e Ferragens Ltda pela empresa Fênix Advance Produtos Automotivos Ltda, determinando-se sua inclusão no polo passivo da ação de cobrança, ora em fase de cumprimento de sentença, com sua inclusão no polo passivo da ação de cobrança, ora em fase de cumprimento de sentença, com sua consequente intimação para o pagamento da dívida (art. 475-J do CPC (LGL\2015\1656)), dispensada a citação. Recurso provido, em parte” (Agravo de Instrumento 2125666-89.2014.8.26.0000, Rel. Rebello Pinho, 20ª Câmara de Direito Privado, j. 01.12.2014). De igual forma, em vários outros Tribunais Estaduais também são encontrados julgados que sustentam a aplicação indistinta da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná já pronunciou que “nos termos do art. 15, inciso II, da Lei nº 5474/68, a executividade da duplicata mercantil sem aceite fica vinculada ao seu protesto, à existência de comprovante da entrega e recebimento das mercadorias, bem como à ausência de recusa justificada do aceite. A constituição de nova pessoa jurídica, com identidade de sócio, de endereço e de objeto social, com nítido objetivo de esquivar-se do adimplemento das obrigações assumidas, configura fraude e autoriza a desconsideração da personalidade jurídica, nos termos do art. 50 do CC. O deferimento da desconsideração da personalidade jurídica não exige prévia intimação dos sócios a serem incluídos na lide, os quais terão oportunidade de opor-se à decisão, e deduzir as demais matérias de direito quando citados para integrar o processo. Não realizada a citação dos sócios incluídos na lide, mediante a desconsideração da personalidade jurídica da empresa executada, o processo padece de nulidade. Agravo de Instrumento Conhecido e Parcialmente Provido” (TJPR, Agravo de Instrumento 586.594-5, Rel. Des. Luiz Carlos Gabardo, j. 29.07.2009). Por seu turno, o entendimento da 10ª Câmara do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul é no sentido de que “ato praticado entre parentes com o objetivo de fraudar credores, os quais não deixam dúvidas que a pessoa jurídica inicialmente executada e a ora embargante se confundem, com o que se impõe a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica, tornando válida a penhora realizada” (TJRS, Apelação 70005267448, 10ª C, Rel. Des. Luiz Ary Vessini de Lima, j. 18.12.2003). Por fim, apenas como reforço retórico, já decidiu a 3ª Câmara do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo que “ante a ausência de provas, restou incomprovada a sucessão de empresas, destarte, não havendo nenhum liame entre a empresa executada e a empresa apelada. Para aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica, a ensejar a penhora do patrimônio da apelada, com a finalidade de garantir a execução, não bastam indícios ou suposições de que a empresa executada é sucessora daquela, sendo necessário a comprovação formal da sucessão. Recurso improvido” (TJES, Apelação 012.05.900147-4, 3ª C, Rel. Des. Alinaldo Faria de Souza, j. 09.05.2006). Consoante os fragmentos indicados, fácil constatar a aplicação em grande escala da teoria da desconsideração da personalidade jurídica em situações fáticas em que ocorrem operações societárias conhecidas como incorporação, transformação, cisão e fusão de empresas. Como advertido anteriormente, o termo sucessão empresarial é utilizado para designar situações que, a rigor, constituem modificações estruturais da pessoa jurídica. Daí, portanto, a afirmação de que o vocábulo é usado de maneira imprópria. Feitas tais demonstrações e advertências, urge analisar o conteúdo das decisões proferidas, fato que será melhor abordado no tópico seguinte. 5 Síntese crítica Como informado, o assunto em debate é tratado sem muito rigor técnico-jurídico, Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 6 reclamando, via de regra, a aplicação do art. 50 do CC, dispositivo este que abarca a denominada teoria da desconsideração da personalidade jurídica. Ao nosso ver, esta não é a solução adequada à hipótese sugerida no presente texto e algumas são as razões para tanto. Feita a leitura do dispositivo em comento, ainda que de forma perfunctória, vê-se que a norma volta-se à desconsideração episódica da pessoa jurídica para que sejam estendidos os efeitos de certas e determinadas relações de obrigação aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Logo, pode-se concluir que a disregard doctrine tem lugar nas situações fáticas em que o objetivo é atingir bens de pessoas13que fazem parte da sociedade demandada. Exatamente neste sentido, bem ilustrativa é a lição extraída do julgamento do Recurso Especial 970635, de relatoria da Ministra Nancy Andrighi, no qual restou assentado que “a mudança de endereço da empresa executada associada à inexistência de bens capazes de satisfazer o crédito pleiteado pelo exequente não constituem motivos suficientes para a desconsideração da sua personalidade jurídica. A regra geral adotada no ordenamento jurídico brasileiro é aquela prevista no art. 50 do CC/02 (LGL\2002\400), que consagra a Teoria Maior da Desconsideração, tanto na sua vertente subjetiva quanto na objetiva. Salvo em situações excepcionais previstas em leis especiais, somente é possível a desconsideração da personalidade jurídica quando verificado o desvio de finalidade (Teoria Maior Subjetiva da Desconsideração), caracterizado pelo ato intencional dos sócios de fraudar terceiros com o uso abusivo da personalidade jurídica, ou quando evidenciada a confusão patrimonial (Teoria Maior Objetiva da Desconsideração), demonstrada pela inexistência, no campo dos fatos, de separação entre o patrimônio da pessoa jurídica e os de seus sócios. Recurso especial provido para afastar a desconsideração da personalidade jurídica da recorrente” (STJ – REsp 970635, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 10.11.2009). De partida, vê-se que a situação fática proposta no presente artigo é diferente, pois a empresa criada para albergar bens, direitos e obrigações da sociedade demandada em juízo não possui participação societária em relação àquela devedora. Simplesmente existe de forma paralela. De outra banda, nem se cogite, aliás, que o art. 50 do CC deve ser aplicado de forma análoga, sob pena de confrontar princípios básicos de direito e de hermenêutica jurídica, tal como a proibição de serem estendidos os efeitos de uma norma jurídica restritiva de direitos, ainda que sob a rubrica da interpretação analógica ou integração mediante analogia – hipóteses descabidas. Com o perdão da tautologia, é necessário frisar: tem interpretação estrita os dispositivos que restringem direitos das partes.14 Não vemos óbice na aplicação da disregard doctrine a situações em que os bens da pessoa jurídica se confundem com os dos seus sócios. Neste caso, efetivamente, essa é a opção prevista em lei. Não acreditamos, entretanto, que tal medida seja aplicada na hipótese em que há a criação de pessoa jurídica paralela que funciona como receptora dos recursos e bens da sociedade devedora, não possuindo qualquer tipo de participação societária. Ao encontro do que ora se argumenta, bem ilustrou o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios ao decidir recurso de apelação, afirma que “ainda que relevante a tese de que a operação de alienação parcial do estabelecimento empresarial do devedor original significou a prática de ato fraudulento, com o claro intuito de fraudar os interesses dos credores, notadamente porque não precedido da quitação integral das dívidas pendentes, é forçoso reconhecer que esse tema não poderia ser objeto de debate no presente feito, sendo certo ainda que alteraria a conclusão quanto à ilegitimidade passiva, já que o alegado ato fraudulento somente poderia fundamentar a desconsideração da personalidade jurídica da devedora original (Mercado Júnior) e conseqüente alcance do patrimônio dos sócios desta, não repercutindo, sob o enfoque da teoria da desconsideração, o patrimônio da recorrida, num primeiro exame” (TJDFT, Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 7 Apelação 2005.01.1.045551-9, 4ª T., Rel. Des. Cruz Macedo, j. 06.09.2006). Na esteira do entendimento indicado, também já se pronunciou o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte no sentido de que “é desnecessária a desconsideração da personalidade jurídica, pois o objetivo, neste momento, não é atingir o patrimônio dos sócios, mas sim o da empresa sucessora” (TJRN, Apelação 2006.002899-6, 2ª Câmara, Rel. Aderson Silvino, j. 26.09.2006). Assim, reforçamos a tese no sentido de ser incorreta a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica para atingir bens transmitidos da empresa devedora para a sociedade criada exclusivamente com a finalidade de recepcioná-los e, dando andamento ao negócio de forma paralela, frustrar a demanda ajuizada. Por outro lado, verificou-se também, em menor escala, a aplicação da norma processual descrita no art. 779, II, do NCPC, na qual há a previsão de que os sucessores são sujeitos passivos na execução, devendo, pois, serem incluídos no polo da ação. Para a aplicação deste dispositivo, no entanto, devemos separar duas situações faticamente distintas: primeiro, quando há a extinção regular da empresa devedora e, noutra hipótese, quando a sociedade criada possui existência paralela. Tal dicotomia é necessária porque, consoante o dispositivo citado, haveria a substituição processual da sociedade demandada pela sua sucessora legal, como nos casos em que há operação de transformação, cisão, fusão ou incorporação de forma regular. A esse respeito do tema, aduz Fábio Ulhôa Coelho (2006, p. 118) que “no Brasil, até a entrada em vigor do Código Civil de 2002, considerava-se que o passivo não integrava o estabelecimento (Barreto Filho, 1969: 228/229); em consequência, a regra era a de que o adquirente não se tornava sucessor do alienante. Isto é, os credores de um empresário não podiam, em princípio, pretender o recebimento de seus créditos de outro empresário, em razão de este haver adquirido o estabelecimento do primeiro. Admitia-se, então, somente três hipóteses de sucessão: a assunção do passivo expressa no contrato, as dívidas trabalhistas e fiscais. Com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, altera-se por completo o tratamento da matéria: o adquirente do estabelecimento empresário responde por todas as obrigações relacionadas ao negócio explorado naquele local, desde que regularmente contabilizadas, e cessa a responsabilidade do alienante por estas obrigações no prazo de um ano (art. 1.145).” Há nesta hipótese a ideia de que a sociedade devedora não mais existe, aplicando-se, por analogia, o art. 110, do NCPC,15 bem como as disposições constantes no art. 68716 e seguintes do diploma processual. Caso a operação societária seja realizada de forma regular, não vemos óbice à aplicação da regência normativa mencionada. Entretanto, em se tratando da criação de empresa paralela com o intuito de esvaziar o patrimônio da devedora, a qual permanece ativa para fins legais e constante ainda no polo passivo da demanda, cremos não ser esta a melhor solução jurídica. O motivo reside no fato de que, ao realizar a abertura de nova empresa com similitude de objeto social, ramo de atuação e disposição societária, nem sempre o verdadeiro intuito dos que estão por trás do ente devedor é o de promover a sua extinção, mas tão somente esvaziar seu patrimônio, frustrando a satisfação da demanda proposta. Nesta segunda conjuntura, a aplicação dos dispositivos insertos nos arts. 110; 779, II e 687, todos do vigente Código de Processo Civil não se revela como a mais adequada, não havendo conditio sine qua non para a aplicação do instituto da substituição processual, qual seja, o desaparecimento fático e de direito da parte passiva. Para esta situação concreta – de existência paralela da empresa criada para abarcar o patrimônio da sociedade devedora que continua existindo legalmente – acreditamos que o regramento jurídico deve ser diferenciado. Assim, desde já partimos da premissa de não serem aplicados os dispositivos de números 50, do Código Civil (LGL\2002\400) e 110; 779, II e 687 e ss. do atual Código de Processo Civil, consoante as razões já descritas. Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 8 Outra hipótese aventada pela doutrina é a aplicação dos arts. 1145 e 1146 do CC, exigindo a declaração de ineficácia da alienação do fundo de comércio (BARROS, 2009, p. 06). Embora plausível, parece-nos que o regramentonormativo pressupõe a alienação regular do estabelecimento, fato que não ocorre na situação apresentada neste trabalho, pois é justamente a irregularidade da transação que caracteriza a proposição ora debatida. Diante de tais considerações, e por exclusão às situações acima descritas, cremos que o regramento a ser aplicado na situação em que se verifica o esvaziamento patrimonial da empresa devedora em prol de outra pessoa jurídica que, ontologicamente configuraria cisão ou incorporação, deve ser aquele aplicável às hipóteses de fraude à execução (art. 792, IV, do NCPC), desde que preenchidos os requisitos para tanto, tais como citação prévia e o trâmite de demanda capaz de reduzi-la à insolvência.17 Ainda no que concerne à configuração da fraude à execução, temos como inegável, nesta hipótese, “a prova de má-fé do terceiro adquirente”, nos termos da súmula da jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça número 275, posto que a sociedade já foi idealizada com intuito fraudulento. A propósito, obiter dictum, já se decidiu que “presume-se fraudulenta de pleno direito a oneração de bens promovida por sujeito passivo em débito com a Fazenda pública por crédito tributário regularmente inscrito em dívida ativa, já em fase de execução, não havendo que se falar na indispensabilidade de processo específico para a apuração da fraude” (TJSC, Apelação 236745, 3ª C, Rel. Des. Sonia Maria Schmitz, j. 12.07.2005). Reforçando a tese sustentada, cremos ser plenamente possível subsumir a hipótese fática debatida neste ensaio às normas previstas nos arts. 790, V e 792, IV, ambos do Código de Processo Civil, porquanto, no trâmite de demanda capaz de reduzir a sociedade devedora à insolvência – em virtude do parco patrimônio disponível18 – há alienação ou oneração de bens em benefício de pessoa jurídica sem participação societária, não sendo configurada, ainda, qualquer hipótese de sucessão regular ou alienação total do estabelecimento empresarial. À guisa de fechamento do presente tópico, portanto, cremos ser possível sistematizar as hipóteses de incidência normativa de acordo com as circunstâncias verificadas em cada caso concreto. Tratando-se de confusão patrimonial da pessoa jurídica devedora com seus sócios integrantes, possui terreno a disregard doctrine. Ocorrendo operação societária regular, aplicam-se os dispositivos atinentes à responsabilidade legal do sucessor. Havendo aquisição simples de estabelecimento empresarial,19 tem incidência os dispositivos de número 1142 a 1149, do CC. Na constatação de sucessão empresarial fraudulenta, aplicam-se os dispositivos referentes à configuração da fraude à execução. 6 Aspectos conclusivos Consoante a proposta do presente ensaio – debater a jurisprudência aplicada à hipótese de sucessão empresarial fraudulenta – constatamos grande dissidência na verificação da regência normativa adequada ao caso. Na grande maioria dos casos entendem os Tribunais Pátrios pela incidência da regra prevista no art. 50 do CC, aplicando a teoria da desconsideração da personalidade jurídica para atingir diretamente a sociedade criada para albergar bens e direitos da empresa devedora, mesmo que inexistente qualquer relação de controle entre ambas. Em menor escala há o entendimento doutrinário e jurisprudencial que leciona serem cabíveis os dispositivos atinentes à configuração da sucessão da parte passiva, com substituição do devedor, muito embora a pessoa jurídica demandada não tenha sido extinta, existindo no mundo fático e jurídico. Diante de tais considerações, salvo melhor juízo, entendemos como plausível a aplicação dos dispositivos voltados à caracterização da fraude à execução, tratando a sociedade Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 9 criada como responsável secundária pela obrigação. Bastaria, neste aspecto, declaração de ineficácia da alienação de bens, com terreno nos autos da própria execução civil ou cumprimento de sentença. A respeito, aliás, leciona José Miguel Garcia Medina que “a execução, no plano subjetivo, pode alcançar bens de terceiros que não integram a relação jurídico-processual”. Prossegue o autor, informando que “o Código de Processo Civil brasileiro adotou a distinção entre débito e responsabilidade, em razão da qual bens de terceiros podem vir a ser objeto de execução sem que este integre o processo de execução como parte” (2004, p. 49). Tal afirmação se coaduna com as impressões realizadas no decorrer deste trabalho, no qual entendemos pela não configuração do instituto de direito material indicado no art. 50, do CC, mas sim pela adoção de solução técnica eminentemente processual, em consonância com os conceitos de responsabilidade patrimonial, bem como diante das particularidades da discussão apresentada.20 Ademais, é imperioso reforçar a tese de que, na situação hipotética tratada, estão presentes todos os requisitos legais para a aplicação das normas legais previstas nos arts. 790 e 792, do NCPC, sendo possível o pedido de declaração de ineficácia da alienação patrimonial nos próprios autos, visando à excussão dos bens irregularmente transferidos e à satisfação da demanda proposta. Por derradeiro, é necessário consignar que o presente ensaio não se propôs ao esgotamento do tema, o qual, como já ressaltado, é bastante divergente na jurisprudência pátria. Ressalte-se, ainda, que não foi localizado na doutrina qualquer estudo atinente à situação apresentada, embora seja corriqueira sua constatação na práxis forense, fato que demanda maior reflexão legal diante de tais fenômenos fáticos e jurídicos. 7 Referências Bibliográficas ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 12. ed. São Paulo: Ed. RT, 2009. BARROS, Marcelo Augusto de. Sucessão fraudulenta de estabelecimento empresarial: Prejuízo a credores. Disponível em: [www.fortes.adv.br/bt- BR/conteudo/artigos/8/sucessao-em-estabelecimento-empresarial-fraude-em-chamados-grupos-economicos.aspx]. Acesso em: 03.06.2015. BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Direito e Processo: Influência do Direito Material Sobre o Processo. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. BRUSCHI, Gilberto Gomes. Aspectos Processuais da Desconsideração da Personalidade Jurídica. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2015. CÂMARA, Alexandre Freitas. 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RT, Número 102, Ano 2001. 1 Leciona José Roberto dos Santos Bedaque que “a opção pela execução em processo autônomo ou em fase do mesmo processo repercute quase que exclusivamente na concepção desse método estatal de solução de controvérsias. Antes, o que se fazia em dois processos agora se realiza em um, dividido em duas fases. Em lugar de um processo de conhecimento e outro de execução, o novo modelo é constituído por um processo, ao qual se denomina sincrético, com fase cognitiva e fase executiva. As atividades desenvolvidas para eliminação da crise de inadimplemento, todavia, são substancialmente idênticas.” (2009, p. 138). 2 O Novo Código de Processo Civil prevê, em seu art. 795, que “Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, senão nos casos previstos em lei. § 1o O sócio réu, quando responsável pelo pagamento da dívida da sociedade, tem o direito de exigir que primeiro sejam excutidos os bens da sociedade. § 2o Incumbe ao sócio que alegar o benefício do § 1o nomear quantos bens da sociedade situados na mesma comarca, livres e desembargados, bastem para pagar o débito. § 3o O sócio que pagar a dívida poderá executar a sociedade nos autos do mesmo processo. § 4o Para a desconsideração da personalidade jurídica é obrigatória a observância do incidente previsto neste Código.” 3 Há quem sustente que neste caso devem ser aplicados em conjunto os arts. 790, II, do atual Código de Processo Civil e o art. 50, do CC (Missiagia, Bruschi, Costa Machado, Araken de Assis, entre outros); porém há entendimento no sentido de que ambas as disposições não são aplicadas simultaneamente, posto que o diploma processual prevê a responsabilidade patrimonial do sócio nos casos em que a lei imputa a este a responsabilidade por dívidas de acordo com o regime jurídico e tipo societário da empresa devedora ou na prática de atos decorrentes de excesso de mandato (Didier Jr, Ulhoa Coelho, Luiz Fux, Theodoro Jr, entre outros), sendo reservado ao diploma material apenas a hipótese de desconsideração episódica em virtude do preenchimento dos requisitos dispostos no art. 50 do diploma civil. 4 Fredie Didier Junior entende que o art. 50 do CC pode ser aplicado nos casos de configuração de grupos de empresas. Embora o autor não aprofunde o tema, cremos que o raciocínio seja aplicado à situação em que se verifica a existência de empresas controladoras e controladas e, nesta hipótese, não vemos óbice à desconsideração da personalidade jurídica da empresa controlada para que sejam atingidos os bens da controladora. Situação diversa, pois, é a retratada neste ensaio, pois a empresa sucessora não possui relação formal com a empresa sucedida de forma fraudulenta Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 12 (2010, p. 41). No mesmo sentido: STJ, 4ª T, REsp 744107, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU 12.08.2008. 5 No caso da operação societária conhecida como incorporação, tratam do tema os dispositivos 1.116, do CC e 227 da Lei das Sociedades Anônimas. Em relação à cisão, o diploma civil é silente, restando a definição por conta da Lei das Sociedades Anônimas, em seu art. 229. Sobre o assunto, vale lembrar o conteúdo do Enunciado 70 do Conselho da Justiça Federal: “As disposições sobre incorporação, fusão e cisão previstas no Código Civil (LGL\2002\400) não se aplicam às sociedades anônimas. As disposições da Lei 6404, de 15/02/1976, sobre essa matéria aplicam-se por analogia às demais sociedades naquilo em que o Código Civil (LGL\2002\400) for omisso.” No mesmo sentido, aduz o Enunciado 132: “A cisão de sociedades continua disciplinada na Lei 6404/76, aplicável a todos os tipos societários, inclusive no que se refere aos direitos dos credores. Interpretação dos artigos 1116 a 1122 do Código Civil (LGL\2002\400).” 6 O termo sucessão é utilizado na Lei das Sociedades Anônimas no art. 234, o qual prevê que a certidão, passada pelo registro do comércio, da incorporação, fusão ou cisão, é documento hábil para a averbação, nos registros públicos competentes, da sucessão, decorrente da operação, em bens, direitos e obrigações. 7 Conforme leciona Fábio Ulhôa Coelho, “considera-se sucessor o adquirente do estabelecimento, quando a obrigação do alienante se encontra regularmente contabilizada. Independentemente de regular escrituração é sempre sucessor do alienante, em relação às obrigações trabalhistas e fiscais ligadas ao estabelecimento.” (2006, p. 119). 8 Embora na Comarca de São Paulo seja praxe a averbação das operações societárias, parte da doutrina afeta ao direito de empresa entende que o ato deveria ser o registro. Em decorrência do foco deste ensaio, não serão debatidas aqui as fundamentações jurídicas atinentes a este tema. 9 Conforme a Lei das Sociedades Anônimas, em seus arts. 227 e 229, há a previsão de obrigatoriedade de serem promovidos os atos de extinção da empresa sucedida, realizando-se o arquivamento no órgão correspondente, com a publicação dos atos de incorporação ou cisão. Na prática, no entanto, geralmente a pessoa jurídica que está sendo demandada em juízo permanece silente, postergando o deslinde do feito. 10 No que diz respeito à proteção dos credores, a Lei das Sociedades Anônimas é clara. Dispõe o art. 227: A incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações. De outra banda, aduz o art. 229, § 1.º que sem prejuízo do disposto no art. 233, a sociedade que absorver parcela do patrimônio da companhia cindida sucede a esta nos direitos e obrigações relacionados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção, as sociedades que absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida sucederão a esta, na proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obrigaçõesnão relacionados. 11 Oportuno destacar que o tema da desconsideração da personalidade jurídica é tratado no Novo Código de Processo Civil, exigindo-se instauração de incidente processual, com disposições legais entre os arts. 133 a 137. Merece destaque a norma prevendo que “acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente” (art. 137). No mesmo diapasão, o art. 792, § 1.º, do NCPC, repete a disposição, afirmando que “a alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente”. Vê-se que o regramento iguala os efeitos da desconsideração da personalidade jurídica (instituto de direito material) com a fraude à execução (instituto de direito processual), corroborando para que a confusão quanto à aplicação das regras permaneça existente nas sedes pretoriana e doutrinária. Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 13 12 Em 10 de dezembro de 2014, a 2ª Seção do Superior Tribunal de Justiça enfrentou divergência existente na corte definindo que, quando a desconsideração da personalidade jurídica decorrer de aplicação do art. 50 do CC, far-se-á necessária prova do desvio de finalidade de empresa ou confusão patrimonial (REsp 1.306.553/SC, Rel. Min. Isabel Gallotti, j. 10.12.2014). 13 Como é sabido, tanto pessoas naturais quanto pessoas jurídicas podem possuir participação societária. Nesta segunda hipótese, a respeito e obiter dictum, a simples ausência de bens da sociedade controlada não autoriza a desconsideração da personalidade jurídica para alcançar os bens da sociedade controlada (STJ, 4ª T., REsp 744107, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJU 12.08.2008). 14 Vide, v.g., o art. 18 do Código Canônico: As leis que estabelecem pena ou limitam o livre exercício dos direitos ou contém exceção à lei, devem ser interpretadas estritamente. No mesmo sentido temos o Enunciado nº 146 do Centro de Estudos Judiciários (CEJ): “Nas relações civis, interpretam-se restritivamente os parâmetros de desconsideração da personalidade jurídica previstos no artigo 50 (desvio de finalidade social ou confusão patrimonial).” 15 Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no artigo 313, §§1º e 2º. Aplicando a regra à situação hipotética, aduz a jurisprudência que se equiparam à extinção da pessoa jurídica (RT 630/102), fusão de empresas públicas (RT 671/125), bem como no caso de incorporação de empresas (RSTJ 75/159). In NEGRÃO, 2010, p. 169. 16 Trata-se do início das disposições atinentes ao procedimento de habilitação. 17 Comprovando a inconsistência dos julgados a respeito do tema, há quem sustente a ocorrência de fraude, porém com a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. Vejamos: “Agravo de Instrumento. Responsabilidade Civil em Acidente de Trânsito. Embargos à Execução de Sentença. A desconsideração da pessoa jurídica exige o atendimento de pressupostos específicos relacionados com a fraude ou abuso de direito em prejuízo de terceiros, requisitos estes agregados à flagrante injustiça. Os elementos existentes no feito são suficientes para a caracterização da desconsideração da personalidade jurídica da recorrente. A fraude à execução restou fartamente evidenciada pelos documentos anexados, os quais demonstraram a sucessão fraudulenta das empresas, autorizando, assim, a desconsideração da personalidade jurídica e o alcance dos bens dos sócios pela constrição judicial. Agravo não provido. (TJRS – AI nº 70023086747, 12ª C, Rel. Des. Cláudio Baldino Maciel, J. 17/04/08).” 18 Na prática verifica-se que, na grande maioria dos casos, a execução ou fase de cumprimento de sentença voltada em desfavor da sociedade devedora não logra a localização de bens registrados em sua propriedade, sendo comum a determinação infrutífera de bloqueio de bens e/ou ativos financeiros. Ainda em relação ao tema, elucida Araken de Assis que “o artigo 748 do CPC define a insolvência. Ela não carece de prova cumprida e cabal para caracterizar a fraude, e, muito menos, impõe-se sua formal declaração, abrindo a execução coletiva, porque o art. 593, II, incide particularmente em execuções singulares. A cognição judicial, no exame do elemento de insolvência para fins de fraude contra o processo executivo, se torna sumária, portanto, e é realizada no próprio processo em que a denúncia do credor se materializa. Exigir que o credor prove a inexistência de bens penhoráveis constitui exagero flagrante, provocando as dificuldades inerentes à prova negativa, a despeito de lhe tocar o ônus da prova.” (2009, p. 279). 19 Modernamente entende-se que o estabelecimento empresarial possui elemento objetivo (estabelecimento comercial) e subjetivo (aviamento, fundo de comércio ou Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 14 goodwill of trade). 20 Elucida Luiz Fux que “a responsabilidade patrimonial secundária visa, em sua essência, preservar os bens afetados aos fins do processo, ainda que transferidos a outrem.” (2008, p. 82). Sucessão empresarial fraudulenta e extensão subjetiva da execução civil Página 15
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