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Prévia do material em texto

“Poesia	da	Jus,ça:	fui	eu,	com	efeito,	quem,	entre	nós,	abriu	
caminho	dessa	poesia	social	e	filosófica,	que	tem	de	ser	a	poesia	
revolucionária	do	futuro.”	
Antero	de	Quental	
Antero	de	Quental	
•  Nasce	em	Ponta	Delgada	a	18	de	abril	de	1842.	
•  Frequenta	o	curso	de	Direito	em	Coimbra,	de	1858	a	1864.	
•  Intervém	a,vamente	na	vida	cultural	e	polí,ca:	dirige	o	jornal	O	Académico;	
par,cipa	numa	sociedade	secreta	designada	Sociedade	do	Raio.	
•  Em	1865,	publica	as	Odes	Modernas.	
•  Desempenha	um	papel	determinante	na	Questão	Coimbrã.	
•  Em	1869,	organiza	as	Conferências	Democrá<cas	do	Casino	com	
condiscípulos	de	Coimbra.	
•  Em	1871,	profere	a	conferência	inaugural:	Causas	da	Decadência	dos	Povos	
Peninsulares.	
•  Em	1886,	são	publicados	os	Sonetos	Completos.	
•  Em	1889,	Columbano	pinta-lhe	o	retrato	que	está	no	Museu	do	Chiado,	em	
Lisboa.	
•  Suicida-se	em	1891,	num	banco	de	jardim,	em	Ponta	Delgada	
Vida	e	obra	
Sonetos	
Para	Antero,	o	soneto	é	a	forma	lírica	por	excelência.	Este	género	permite	a	conjugação	
perfeita	 entre	 sen2mento	 e	 ideia,	 aspeto	 que	 caracteriza	 o	 discurso	 conceptual	
anteriano.	Assim,	para	Antero,	o	soneto	cons,tui	“uma	unidade	perfeita”,	que	se	adequa	
à	 expressão	 de	 sen2mentos,	 ao	 raciocínio	 matemá2co,	 mas	 também	 à	 ânsia	 de	
Absoluto	do	poeta.	
Composição	poé,ca	cons,tuída	por	14	versos,	geralmente	
decassilábicos,	distribuídos	por	duas	quadras	e	dois	tercetos.	
A	rima	do	soneto	tende	a	seguir	o	esquema	ABBA	ABBA,	nas	quadras,	
e	CDC	CDC	,	CDE	CDE	(entre	outros	esquemas),	nos	tercetos.	
O	úl,mo	verso	de	um	soneto	é	considerado	a	chave	de	ouro,	quando	
apresenta	uma	conclusão	para	o	tema	desenvolvido.	
Soneto	
Trata-se	de	uma	
forma	poé,ca	de	
origem	clássica	
que	obedece	a	
regras	rígidas	de	
construção.	
Cinco	fases	(segundo	Oliveira	Mar,ns):	
•  1.ª:	Rompimento	com	a	fé	e	insa,sfação	
•  2.ª:	Grande	crise	sen,mental	e	aba,mento	da	frustração	
•  3.ª:	Fase	solar,	de	empenho	comba,vo;	hino	à	Razão	
•  	4.ª:	Reinado	do	pessimismo	
•  5.ª:	Reconciliação	mís,ca	
Adaptado	de	LOPES,	Óscar,	e	SARAIVA,	António	José,	2005.	História	da	Literatura	Portuguesa.	Porto:	Porto	Editora	(17.ª	ed.) 
Sonetos	
•  Sonetos	o,mistas	
•  Presença	da	Razão	
•  Racionalidade	confiante	
•  Roman,smo	humanitarista	
•  Crença	na	luta	por	uma	sociedade	melhor,	enquanto	“soldado	do	Futuro”	
A	tendência	luminosa,	apolínea	ou	diurna	
•  Sonetos	pessimistas	
•  Presença	do	desencanto,	da	angús,a,	da	dor,	da	morbidez,	da	frustração	e	do	
cansaço	
•  Interiorização	reflexiva	
•  Inquietação	filosófica	e	desassossego	
•  Desilusão	e	incredulidade	face	à	luta	
•  Refúgio	na	desistência,	no	sonho	e	na	transcendência	religiosa	
A	tendência	obscura,	român,ca	ou	noturna	
• Inquietação	espiritual	e	desassossego;	
• Insa,sfação	perante	o	real;	
• Desencanto,	angús,a,	dor,	morbidez,	frustração	e	cansaço;	
• Insa,sfação	face	ao	amor	e	à	vida;	
• Interiorização	reflexiva;	
• Inquietação	filosófica;	
• Incessante	procura	de	um	sen,mento	para	a	existência;	
• Desilusão	e	incredulidade	face	à	luta.	
Angús,a	existencial	
Refúgio	no	sonho	e	na	transcendência	religiosa	
Palácio	da	Ventura	
	
Sonho	que	sou	um	cavaleiro	andante.		
Por	desertos,	por	sóis,	por	noite	escura,		
Paladino	do	amor,	busco	anelante		
O	palácio	encantado	da	Ventura!		
	
Mas	já	desmaio,	exausto	e	vacilante,		
Quebrada	a	espada	já,	rota	a	armadura...		
E	eis	que	súbito	o	avisto,	fulgurante		
Na	sua	pompa	e	aérea	formosura!		
	
Com	grandes	golpes	bato	à	porta	e	brado:		
Eu	sou	o	Vagabundo,	o	Deserdado...		
Abri-vos,	portas	de	ouro,	ante	meus	ais!		
	
Abrem-se	as	portas	d'ouro	com	fragor...		
Mas	dentro	encontro	só,	cheio	de	dor,		
Silêncio	e	escuridão	-	e	nada	mais!		
Angús,a	existencial	-	poemas	exemplo:		
“O	Palácio	da	Ventura”	(e	“Despondency”)	
Sonho	do	sujeito	poé,co,	em	que	ele	
procura	“o	palácio	encantado	da	
Ventura”,	alegoria	do	ideal	desejado.	
1ª	estrofe	– apresentação	do	sonho	
Versos	5	e	6–expressão	do	cansaço	e	do	
desalento	do	sujeito	poé,co	na	sua	busca	
Versos	7	a	12	– manifestação	da	
recuperação	da	energia	do	“eu”	e	da	sua	
aproximação	ao	palácio	
Versos	13	e	14	– revelação	da	frustração	do	
sujeito	poé,co	ao	conhecer	o	interior	do	
palácio	
Palácio	da	Ventura	
	
Sonho	que	sou	um	cavaleiro	andante.		
Por	desertos,	por	sóis,	por	noite	escura,		
Paladino	do	amor,	busco	anelante		
O	palácio	encantado	da	Ventura!		
	
Mas	já	desmaio,	exausto	e	vacilante,		
Quebrada	a	espada	já,	rota	a	armadura...		
E	eis	que	súbito	o	avisto,	fulgurante		
Na	sua	pompa	e	aérea	formosura!		
	
Com	grandes	golpes	bato	à	porta	e	brado:		
Eu	sou	o	Vagabundo,	o	Deserdado...		
Abri-vos,	portas	de	ouro,	ante	meus	ais!		
	
Abrem-se	as	portas	d'ouro	com	fragor...		
Mas	dentro	encontro	só,	cheio	de	dor,		
Silêncio	e	escuridão	-	e	nada	mais!		
Angús,a	existencial	-	poemas	exemplo:		
“O	Palácio	da	Ventura”	(e	“Despondency”)	
Estado	de	espírito	do	sujeito	poé,co	
Ansioso	e	forte,	ultrapassando	“desertos”,	
“sóis”,	e	a	“noite	escura”	pala	alcançar	o	
“palácio”.	
“exausto	e	vacilante”;	vulnerável	
Novamente	vigoroso	
Contaminado	pela	“dor”	do	espaço	e	
frustrado	
Palácio	da	Ventura	
	
Sonho	que	sou	um	cavaleiro	andante.		
Por	desertos,	por	sóis,	por	noite	escura,		
Paladino	do	amor,	busco	anelante		
O	palácio	encantado	da	Ventura!		
	
Mas	já	desmaio,	exausto	e	vacilante,		
Quebrada	a	espada	já,	rota	a	armadura...		
E	eis	que	súbito	o	avisto,	fulgurante		
Na	sua	pompa	e	aérea	formosura!		
	
Com	grandes	golpes	bato	à	porta	e	brado:		
Eu	sou	o	Vagabundo,	o	Deserdado...		
Abri-vos,	portas	de	ouro,	ante	meus	ais!		
	
Abrem-se	as	portas	d'ouro	com	fragor...		
Mas	dentro	encontro	só,	cheio	de	dor,		
Silêncio	e	escuridão	-	e	nada	mais!		
Angús,a	existencial	-	poemas	exemplo:		
“O	Palácio	da	Ventura”	(e	“Despondency”)	
Síntese	
A	felicidade	é	ina2ngível	
A	busca	do	absoluto	conduz	ao	vazio	e	à	morte	
Na	vida	há	miragens	–	o	palácio	que	se	
desenha	na	sua	pompa	aérea	-,	há	lutas	e	
entusiasmos	–	cavalgada	-,	desânimos	–	
espada	quebrada	e	armadura	rota	–	e	
deceções	–	silêncio	e	escuridão.	
Configurações	do	Ideal	
Racionalidade	o2mista	e	de	luta:	
Razão,	Jus,ça,	Amor	/	Fraternidade	/	Solidariedade	
Amor	espiritualizado	(“visão”)	
Poeta	como	“voz	da	Revolução”	
Ex.:	“Hino	à	Razão”	
Ex.:	“Ideal”	
Ex.:	“A	um	Poeta”	
A	angús2a	existencial	leva	ao	refúgio	no	sonho	e	na	transcendência	religiosa	e	estes	às	
configurações	do	ideal.	
Configurações	do	Ideal	–	Perfeição	e	plenitude	das	realizações	(imaginárias	ou	reais)	do	
“eu”.Busca	de	um	sen,do	para	a	vida.	Aspiração	a	um	ideal	superior.	
Poesia	de	Antero	de	Quental	
Configurações	do	Ideal	 Angús,a	Existencial	
•  Inquietação	espiritual.	
•  Procura	de	algo	que	dê	um	sen,do	ou	uma	finalidade	à	existência	humana.	
•  Aceitação	de	uma	en,dade	que	aparece,	quase	sempre,	sob	contornos	
vagos	ou	indefinidos	e	que	pode	assumir	o	nome	de	Deus	(Ex.:	“Ignoto	
Deo”).	
•  Desejo	de	sonhar.	
•  Insa,sfação	perante	o	real	sen,do	como	demasiado	frustrante	ou	
limitado.	
Poesia	de	Antero	de	Quental	
Configurações	do	Ideal	 Angús,a	Existencial	
Segundo	o	crí,co	literário	António	Sérgio,	há	uma	dualidade	na	
personalidade	do	poeta,	dominada	pelo:	
espírito	crí,co	do	filósofo	(lucidez	do	intelecto;	espírito	apostólico;	
autodomínio;	consciência	plena;	concentração	da	a,vidade	pensante;	
exaltação	do	amor	e	da	razão);	
temperamento	mórbido	do	homem	(canto	da	noite,	do	sonho,	da	
submersão,	da	morte,	dissolução	da	personalidade;	repouso	da	alma	no	
Deus	transcendente).	
Configurações	do	Ideal	–	poemas	exemplo	
“A	um	poeta”	
Soneto	
Tu,	que	dormes,	espírito	sereno,	
Posto	à	sombra	dos	cedros	seculares,	
Como	um	levita	à	sombra	dos	altares,	
Longe	da	luta	e	do	fragor	terreno,	
	
Acorda!	é	tempo!	O	sol,	já	alto	e	pleno,		
Afugentou	as	larvas	tumulares…	
Para	surgir	do	seio	desses	mares,	
Um	mundo	novo	espera	só	um	aceno…	
	
Escuta!	É	a	grande	voz	das	mul,dões!	
São	teus	irmãos,	que	se	erguem!	são	canções…	
Mas	de	guerra…	e	são	vozesde	rebate!	
	
Ergue-te,	pois,	soldado	do	Futuro,									
E	dos	raios	de	luz	do	sonho	puro,	
Sonhador,	faze	espada	de	combate.	
a	
b	
b	
a	
O	esquema	
rimá,co	pode	não	
ser	totalmente	
convencional.	
ESTRUTURA	
RIMÁTICA	
c	
c	
d	
e	
e	
d	
Soneto	
Tu,	
Versos		
decassilábicos	
que	 dor	 mes,	 to	 se	 reno	es	 pí	 ri	
Pos	 to	à	 som	 bra	 se	 cu	 lares	dos	 ce	 dros	
ESTRUTURA	MÉTRICA	
a	
b	
b	
a	
Configurações	do	Ideal	–	poemas	exemplo	
“A	um	poeta”	
Surge	et	ambula	
	
Tu,	que	dormes,	espírito	sereno,	
Posto	à	sombra	dos	cedros	seculares,	
Como	um	levita	à	sombra	dos	altares,	
Longe	da	luta	e	do	fragor	terreno,	
	
Acorda!	é	tempo!	O	sol,	já	alto	e	pleno,		
Afugentou	as	larvas	tumulares…	
Para	surgir	do	seio	desses	mares,	
Um	mundo	novo	espera	só	um	aceno…	
	
Escuta!	É	a	grande	voz	das	mul,dões!	
São	teus	irmãos,	que	se	erguem!	são	canções…	
Mas	de	guerra…	e	são	vozes	de	rebate!	
	
Ergue-te,	pois,	soldado	do	Futuro,									
E	dos	raios	de	luz	do	sonho	puro,	
Sonhador,	faze	espada	de	combate.	
Expressão	la,na	–	“levanta-te	e	anda”	
Marca	o	tom	
apela,vo	do	poema	
Outras	marcas	
linguís,cas	
associadas	ao	
tom	apela,vo	do	
poema	
Voca,vo	
Impera,vo	
O	wtulo	do	poema	–	“A	um	poeta”:	
•  indicia	uma	forma	de	intervenção,	
potenciadora	de	mudança	na	sociedade;	
•  o	eu	lírico	dirige-se	ao	poeta	para	chamar	
a	atenção	para	o	seu	papel	
Configurações	do	Ideal	–	poemas	exemplo	
“A	um	poeta”	
																																	Surge	et	ambula	
	
Tu,	que	dormes,	espírito	sereno,	
Posto	à	sombra	dos	cedros	seculares,	
Como	um	levita	à	sombra	dos	altares,	
Longe	da	luta	e	do	fragor	terreno,	
	
Acorda!	é	tempo!	O	sol,	já	alto	e	pleno,		
Afugentou	as	larvas	tumulares…	
Para	surgir	do	seio	desses	mares,	
Um	mundo	novo	espera	só	um	aceno…	
	
Escuta!	É	a	grande	voz	das	mul,dões!	
São	teus	irmãos,	que	se	erguem!	são	canções…	
Mas	de	guerra…	e	são	vozes	de	rebate!	
	
Ergue-te,	pois,	soldado	do	Futuro,									
E	dos	raios	de	luz	do	sonho	puro,	
Sonhador,	faze	espada	de	combate.	
Des,natário	do	soneto	–	o	poeta:	
•  tem	um	“espírito	sereno”;	
•  vive/encontra-se	acomodado,	“à	sombra	
dos	cedros	seculares”,	“como	um	levita	à	
sombra	dos	altares”,	“longe	da	luta	e	do	
fragor	terreno”,	ou	seja,	o	des,natário	
está	longe	da	realidade	e	não	é	um	
potencial	agente	de	mudança.	
Incen,vo	à	ação,	incen,vo	à	mudança,	na	
perspec,va	de	envolver	o	des,natário	na	
construção	de	“um	mundo	novo”	
Configurações	do	Ideal	–	poemas	exemplo	
“A	um	poeta”	
																																	Surge	et	ambula	
	
Tu,	que	dormes,	espírito	sereno,	
Posto	à	sombra	dos	cedros	seculares,	
Como	um	levita	à	sombra	dos	altares,	
Longe	da	luta	e	do	fragor	terreno,	
	
Acorda!	é	tempo!	O	sol,	já	alto	e	pleno,		
Afugentou	as	larvas	tumulares…	
Para	surgir	do	seio	desses	mares,	
Um	mundo	novo	espera	só	um	aceno…	
	
Escuta!	É	a	grande	voz	das	mul,dões!	
São	teus	irmãos,	que	se	erguem!	são	canções…	
Mas	de	guerra…	e	são	vozes	de	rebate!	
	
Ergue-te,	pois,	soldado	do	Futuro,									
E	dos	raios	de	luz	do	sonho	puro,	
Sonhador,	faze	espada	de	combate.	
Apelo	direto	à	ação	– incita	o	“soldado	do	futuro”	
a:	
•  tornar-se	a,vo,	por	isso	u,liza	o	impera,vo	
“Ergue-te”;	
•  intervir	na	concre,zação	do	“mundo	novo”;	
•  Aspetos	vincados	pela	u,lização	do	
campo	lexical	de	guerra	–	“soldado”,	
“espada”e	“combate”	
•  Tudo	será	possível	depois	do	“tu”	
perceber	a	necessidade	de	mudança:	
primeiro	terá	que	“[acordar]”	e	
“[escutar]”	o	que	o	sujeito	poé,co	tem	
para	dizer.	
Configurações	do	Ideal	–	poemas	exemplo	
“A	um	poeta”	
																																	Surge	et	ambula	
	
Tu,	que	dormes,	espírito	sereno,	
Posto	à	sombra	dos	cedros	seculares,	
Como	um	levita	à	sombra	dos	altares,	
Longe	da	luta	e	do	fragor	terreno,	
	
Acorda!	é	tempo!	O	sol,	já	alto	e	pleno,		
Afugentou	as	larvas	tumulares…	
Para	surgir	do	seio	desses	mares,	
Um	mundo	novo	espera	só	um	aceno…	
	
Escuta!	É	a	grande	voz	das	mul,dões!	
São	teus	irmãos,	que	se	erguem!	são	canções…	
Mas	de	guerra…	e	são	vozes	de	rebate!	
	
Ergue-te,	pois,	soldado	do	Futuro,									
E	dos	raios	de	luz	do	sonho	puro,	
Sonhador,	faze	espada	de	combate.	
Comparação	–	realça	a	a,tude	de	passividade	do	
poeta.	
Metáfora	e	personificação	–	reforça	a	nega,vidade	
do	tempo	que	termina.	
Apóstrofe	–	iden,fica	o	des,natário	do	poema;	
confere	um	tom	coloquial	e	reforça	o	caráter	
apela,vo	do	poema.	
“Tormento	do	ideal”	
Conheci	a	Beleza	que	não	morre	
E	fiquei	triste.	Como	quem	da	serra	
Mais	alta	que	haja,	olhando	aos	pés	a	terra	
E	o	mar,	vê	tudo,	a	maior	nau	ou	torre,	
	
Minguar,	fundir-se,	sob	a	luz	que	jorre;	
Assim	eu	vi	o	mundo	e	o	que	ele	encerra	
Perder	a	cor,	bem	como	a	nuvem	que	erra	
Ao	pôr-do-sol	e	sobre	o	mar	discorre.	
	
Pedindo	à	forma,	em	vão,	a	ideia	pura,	
Tropeço,	em	sombras,	na	matéria	dura,	
E	encontro	a	imperfeição	de	quanto	existe.	
	
Recebi	o	ba,smo	dos	poetas,	
E	assentado	entre	as	formas	incompletas	
Para	sempre	fiquei	pálido	e	triste.	
A	“Beleza”	não	morre	e	caracteriza-se	
por	ser	uma	“ideia	pura”.	
Estado	de	espírito	do	sujeito	poé,co:	
•  Estado	de	tristeza	e	desilusão.	
Vocabulário	indutor	de	“tormento”,	dor,	
desilusão,	frustração.	
“Tormento	do	ideal”	
Conheci	a	Beleza	que	não	morre	
E	fiquei	triste.	Como	quem	da	serra	
Mais	alta	que	haja,	olhando	aos	pés	a	terra	
E	o	mar,	vê	tudo,	a	maior	nau	ou	torre,	
	
Minguar,	fundir-se,	sob	a	luz	que	jorre;	
Assim	eu	vi	o	mundo	e	o	que	ele	encerra	
Perder	a	cor,	bem	como	a	nuvem	que	erra	
Ao	pôr-do-sol	e	sobre	o	mar	discorre.	
	
Pedindo	à	forma,	em	vão,	a	ideia	pura,	
Tropeço,	em	sombras,	na	matéria	dura,	
E	encontro	a	imperfeição	de	quanto	existe.	
	
Recebi	o	ba,smo	dos	poetas,	
E	assentado	entre	as	formas	incompletas	
Para	sempre	fiquei	pálido	e	triste.	
 
 “Conheci” “Vi” 
 
“a Beleza” 
§ Característica apresentada na 
1ªestrofe: “não morre” (v.1) 
§ Expressão sinónima usada na 3ª 
estrofe: “a ideia pura” (v.9) 
 
 
� 
 
“o mundo e o que ele encerra” 
§ Elementos constitutivos referidos nas 3ª e 4ª 
estrofes: 
- “sombras” 
- “matéria dura” 
- “imperfeição” 
- “formas incompletas” 
 
 
“Recebi o batismo dos poetas” (v.12) 
 
Consequências para o “eu”: 
§ Alteração da sua visão do mundo – verso(s) comprovativo(s): “Assim eu vi o mundo e o que 
ele encerra/Perder a cor, bem como a nuvem que erra/Ao pôr do sol e sobre o mar discorre.” 
(vv.6-8) 
§ Transformação do seu estado de espírito – verso(s) comprovativo(s): “E fiquei triste.” (v.2) e 
“Para sempre fiquei pálido e triste” (vv.14) 
 
	
O	“tormento”	do	“eu”	decorre	da	sua	busca	pelo	“ideal”	,	que	anteviu,	
e	do	seu	confronto	com	o	mundo	real	imperfeito.	
Síntese	
Preocupações	sociais,	as	ideias	revolucionárias	
	
A	degeneração	da	burguesia	num	capitalismo	de	especulação	que	nada	produzia	faz	com	
que	Antero	apele	para:		
•  a	Jus,ça;	
•  o	Pensamento;	
•  a	Ideia	(que	será	a	luz	do	mundo);	
•  a	revolta	e	a	luta	(até	tudo	estar	no	seu	lugar);	
•  o	trabalho	(de	que	alguma	coisa	ficará);	
•  o	Cristo	(avô	da	plebe);	
•  a	liberdade	(sob	o	império	da	Razão).	
Sob	esta	égide	encontram-se	os	sonetos	«A	um	poeta»,	«Hino	à	Razão»,	«A	Ideia».		
Síntese	
O	pessimismo	e	a	evasão	
	
•  O	pessimismo	manifesta-se	em	1874	e	desenvolve-se	desde	1876	a	1882;	ex,ngue-se	
nos	anos	imediatos	e	em	1886	deixava	o	poeta,	sem	nostalgia,	numa	região	espiritual	
já	percorrida.	
•  Nos	sonetos	deste	ciclo	vê-se	a	dor	em	todo	o	lado	e	ouve-se	con,nuamente	dizer	que	
é	preferível	o	«não	ser»	ao	«ser	como	é».	Vêem-se	já	influências	do	budismo.	
•  É	o	pessimismo	que	leva	Antero	a	evadir-se,	a	fugir	para-além	de	tudo	o	que	existe	e	o	
faz	 sofrer.	 Procura	 refugiar-se	 num	 mundo	 indefinido,	 longínquo	 e	 vago,	 na	 ação	
material,	 absorvente	 e	 enérgica,	 num	 sono	 no	 colo	 da	mãe,	 no	 desprendimento	 do	
sensível,	na	aspiração	a	um	Deus	clemente,	que	o	leve	para	o	Céu.	
	
Estes	 conteúdos	 são	 visíveis	 nas	 composições	 poé,cas	 «O	 Palácio	 da	 Ventura»,	
«Despondency»,	«Nox».	
	
Síntese	
A	metaZsica,Deus	e	a	morte	
	
A	 leitura	 de	 Proudhon	 e	 Hegel,	 o	 falecimento	 de	 pessoas	 queridas	 e	 a	 sua	
enfermidade	 levaram-no	 a	 meditar	 na	 morte,	 que	 é	 considerada	 sob	 vários	
aspetos:		
•  morte	‑	liberdade;		
•  morte	‑	fim	de	todos	os	sofrimentos;		
•  morte	‑	irmã	do	amor	e	da	verdade;		
•  morte	‑	consoladora	das	tribulações;		
•  morte	‑	berço	onde	se	pode	dormir;		
•  morte	‑	paz	santa	e	inefável.	
	
Reportado	a	esta	quarta	linha	temá,ca	encontra-se,	por	exemplo,	o	soneto	«Na	
mão	de	Deus».		
Síntese	
•								Antero	exprime	a	revolta	e	o	inconformismo	da	sua	geração	perante	uma	situação	
social,	polí2ca	e	cultural	conservadora	e	retrógrada,	fomentada	por	um	roman,smo	que	
não	conseguiu	concre,zar	os	ideais	que	defendera.	
•								Mestre	e	mentor,	inspirador	e	símbolo	da	Geração	de	70,	a	sua	personalidade	está	
in2mamente	ligada	à	vida	cultural	e	social	em	que,	a2vamente,	par2cipou.	
•								A	poesia	de	Antero	exprime	as	preocupações	do	ser	humano	que	reconhece	a	sua	
condição	e	a	sua	fragilidade,	que	sente	esperanças	e	sofre	os	desalentos,	que	duvida	
perante	os	mistérios	da	criação,	da	morte	e	de	Deus.	
•								António	Sérgio	considera	a	existência	de	dois	Anteros:	o	apolíneo	e	o	noturno.	O	
primeiro	exprime	a	Luz,	a	Razão	e	o	Amor;	o	segundo	canta	a	noite,	a	morte	e	o	
pessimismo.	
•								Pode	dividir-se	a	obra	anteriana	em	quatro	fases:	a	lírica	ou	de	expressão	do	amor;	
a	do	apostolado	social	e	das	ideias	revolucionárias;	a	do	pessimismo;	e	a	da	metaZsica	e	
regresso	a	Deus.	
Síntese	
•								Para	Antero,	"a	poesia	é	a	voz	da	revolução".	Ele	foi	um	verdadeiro	apóstolo	social,	
solidário	e	defensor	da	jus2ça,	da	fraternidade	e	da	liberdade.	
•								As	dúvidas,	as	deceções	e	a	doença	conduziram-no	a	um	estado	de	pessimismo.	
•								Antero	nunca	conseguiu	separar	a	poesia	da	vida,	da	sua	ânsia	de	transformar	o	
mundo,	da	sua	angús2a	perante	a	dificuldade	de	explicar	Deus,	a	vida	e	a	morte.	
•								Antero	luta	por	ideais	feitos	de	amor,	de	jus2ça	e	de	liberdade.	Esperança	e	
desilusão	são	duas	forças	constantes	no	seu	pensamento	e	na	sua	vida,	entre	as	quais	
tudo	oscila.	
•								Idealista,	acaba	por	considerar	empobrecedoras	as	concre,zações	da	Ideia.	Daí	as	
deceções	constantes,	sen,ndo	que	a	sua	luta	não	está	a	conseguir	os	resultados	
projetados.	
•								Com	dificuldade	em	libertar-se	das	adversidades,	Antero	dirige	o	seu	pensamento	
para	o	divino,	embora	sem	abandonar	o	seu	racionalismo.	
•								O	pensamento	de	Deus	surge,	frequentemente,	associado	à	morte,	considerada	
como	a	verdadeira	libertação.		
Evolução	Ideológica	da	poesia	de	Antero	de		Quental	
Posicionamento	ideológico	do	autor	sofre	transformações.	Evolução	diacrónica:	
	
Abandono	do	catolicismo	/Dúvida	e	incerteza	
A	crença	no	catolicismo	é	abalada	durante	a	vida	universitária.	Estado	de	dúvida	e	
incerteza	que	o	faz	sen,r	uma	angus2ante	aspiração	pelo	Absoluto.	
	
Idealismo	hegeliano	
As	suas	leituras	levam-no	a	imbuir-se	no	hegelianismo	e	a	preencher	a	sua	produção	
poé,ca	com	meditações	metaZsicas	radicadas	no	evolucionismo	idealista	de	Hegel.	
Segundo	o	idealismo,	as	coisas	só	se	entendem	como	manifestações	da	ideia.	Ora,	os	
seres	não	têm	existência	inteligível	fora	da	ideia,	que	é	a	única	realidade	inteligível	e	da	
qual	o	mundo	é	produto,	evolução	e	manifestação.	
Hegel	diz	que	a	Ideia	é	movida	por	uma	necessidade	intrínseca	para	a	sua	determinação,	
para	a	sua	manifestação.	Mas,	ao	determinar-se,	cada	manifestação	da	Ideia	(Tese)	
esbarra	na	sua	contrária	(Anwtese)	e	logo	se	transforma	numa	nova	(Síntese).	Esta	tríade	
não	pára	até	se	consciencializar	no	indivíduo	e	no	estado.	
Evolução	Ideológica	da	poesia	de	Antero	de		Quental	
Socialismo	utópico	
Se	o	hegelianismo	explica	a	origem	e	a	realidade	do	Universo	em	Evolução,	não	resolveu	o	
problema	do	homem	na	terra,	por	isso	surge	a	questão	«Para	que	nos	criastes?».	Antero	
vai	agora	à	procura	do	sen,do	prá,co	da	vida	que	lhe	será	indicado	por	Michelet	e	
Proudhon.	
		
Apostolado	social	
Antero	lançou-se	na	ação	social	e	labutou	afincadamente	pela	implantação	de	uma	ordem	
na	sociedade	portuguesa.	O	seu	socialismo	nada	teve	de	revolucionário	ou	de	anárquico.	
O	bem-estar	social	devia	provir	não	de	uma	revolta	armada	mas	da	evolução	pacífica,	
baseada	na	moralidade,	na	instrução	e	na	autopromoção	da	classe	trabalhadora.	
		
Evolução	Ideológica	da	poesia	de	Antero	de		Quental	
	Pessimismo	e	budismo	
Gorada	a	ação	social,	vi,mado	pela	doença	e	outras	contrariedades,	encheu-se-Ihe	a	alma	
de	 pessimismo,	 sob	 influência	 de	 Schopenhauer	 para	 quem	 tudo	 no	mundo	 é	 impulso	
(vontade)	que	ao	agir	só	encontra	obstáculos.	Assim,	na	terra,	tudo	é	obstáculos,	tudo	é	
dor.	
Antero	 convenceu-se	 que	 o	 Universo	 era	 um	 sofrimento	 sem	 finalidade	 e	 que	 tudo	
caminhava	inevitavelmente	para	o	nada.	Só	a	consciência	não	fazia	esse	percurso	porque	
devia	esforçar-se	para	a,ngir	o	Nirvana,	onde	havia	um	repouso	completo,	o	impulso	não	
depararia	 com	 obstáculos,	 e	 vigoraria	 o	 desejo	 do	 não-ser,	 posição	 a	 que	 chegou	 por	
leituras	 de	 Hartmann	 que,	 em	 A	 Religião	 do	 Futuro,	 combate	 o	 catolicismo	 e	 o	
protestan,smo,	propondo	uma	religião	que	seria	uma	síntese	de	panteísmo	hindu	e	de	
maome,smo	judeo-cristão.

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