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“Poesia da Jus,ça: fui eu, com efeito, quem, entre nós, abriu caminho dessa poesia social e filosófica, que tem de ser a poesia revolucionária do futuro.” Antero de Quental Antero de Quental • Nasce em Ponta Delgada a 18 de abril de 1842. • Frequenta o curso de Direito em Coimbra, de 1858 a 1864. • Intervém a,vamente na vida cultural e polí,ca: dirige o jornal O Académico; par,cipa numa sociedade secreta designada Sociedade do Raio. • Em 1865, publica as Odes Modernas. • Desempenha um papel determinante na Questão Coimbrã. • Em 1869, organiza as Conferências Democrá<cas do Casino com condiscípulos de Coimbra. • Em 1871, profere a conferência inaugural: Causas da Decadência dos Povos Peninsulares. • Em 1886, são publicados os Sonetos Completos. • Em 1889, Columbano pinta-lhe o retrato que está no Museu do Chiado, em Lisboa. • Suicida-se em 1891, num banco de jardim, em Ponta Delgada Vida e obra Sonetos Para Antero, o soneto é a forma lírica por excelência. Este género permite a conjugação perfeita entre sen2mento e ideia, aspeto que caracteriza o discurso conceptual anteriano. Assim, para Antero, o soneto cons,tui “uma unidade perfeita”, que se adequa à expressão de sen2mentos, ao raciocínio matemá2co, mas também à ânsia de Absoluto do poeta. Composição poé,ca cons,tuída por 14 versos, geralmente decassilábicos, distribuídos por duas quadras e dois tercetos. A rima do soneto tende a seguir o esquema ABBA ABBA, nas quadras, e CDC CDC , CDE CDE (entre outros esquemas), nos tercetos. O úl,mo verso de um soneto é considerado a chave de ouro, quando apresenta uma conclusão para o tema desenvolvido. Soneto Trata-se de uma forma poé,ca de origem clássica que obedece a regras rígidas de construção. Cinco fases (segundo Oliveira Mar,ns): • 1.ª: Rompimento com a fé e insa,sfação • 2.ª: Grande crise sen,mental e aba,mento da frustração • 3.ª: Fase solar, de empenho comba,vo; hino à Razão • 4.ª: Reinado do pessimismo • 5.ª: Reconciliação mís,ca Adaptado de LOPES, Óscar, e SARAIVA, António José, 2005. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Editora (17.ª ed.) Sonetos • Sonetos o,mistas • Presença da Razão • Racionalidade confiante • Roman,smo humanitarista • Crença na luta por uma sociedade melhor, enquanto “soldado do Futuro” A tendência luminosa, apolínea ou diurna • Sonetos pessimistas • Presença do desencanto, da angús,a, da dor, da morbidez, da frustração e do cansaço • Interiorização reflexiva • Inquietação filosófica e desassossego • Desilusão e incredulidade face à luta • Refúgio na desistência, no sonho e na transcendência religiosa A tendência obscura, român,ca ou noturna • Inquietação espiritual e desassossego; • Insa,sfação perante o real; • Desencanto, angús,a, dor, morbidez, frustração e cansaço; • Insa,sfação face ao amor e à vida; • Interiorização reflexiva; • Inquietação filosófica; • Incessante procura de um sen,mento para a existência; • Desilusão e incredulidade face à luta. Angús,a existencial Refúgio no sonho e na transcendência religiosa Palácio da Ventura Sonho que sou um cavaleiro andante. Por desertos, por sóis, por noite escura, Paladino do amor, busco anelante O palácio encantado da Ventura! Mas já desmaio, exausto e vacilante, Quebrada a espada já, rota a armadura... E eis que súbito o avisto, fulgurante Na sua pompa e aérea formosura! Com grandes golpes bato à porta e brado: Eu sou o Vagabundo, o Deserdado... Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais! Abrem-se as portas d'ouro com fragor... Mas dentro encontro só, cheio de dor, Silêncio e escuridão - e nada mais! Angús,a existencial - poemas exemplo: “O Palácio da Ventura” (e “Despondency”) Sonho do sujeito poé,co, em que ele procura “o palácio encantado da Ventura”, alegoria do ideal desejado. 1ª estrofe – apresentação do sonho Versos 5 e 6–expressão do cansaço e do desalento do sujeito poé,co na sua busca Versos 7 a 12 – manifestação da recuperação da energia do “eu” e da sua aproximação ao palácio Versos 13 e 14 – revelação da frustração do sujeito poé,co ao conhecer o interior do palácio Palácio da Ventura Sonho que sou um cavaleiro andante. Por desertos, por sóis, por noite escura, Paladino do amor, busco anelante O palácio encantado da Ventura! Mas já desmaio, exausto e vacilante, Quebrada a espada já, rota a armadura... E eis que súbito o avisto, fulgurante Na sua pompa e aérea formosura! Com grandes golpes bato à porta e brado: Eu sou o Vagabundo, o Deserdado... Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais! Abrem-se as portas d'ouro com fragor... Mas dentro encontro só, cheio de dor, Silêncio e escuridão - e nada mais! Angús,a existencial - poemas exemplo: “O Palácio da Ventura” (e “Despondency”) Estado de espírito do sujeito poé,co Ansioso e forte, ultrapassando “desertos”, “sóis”, e a “noite escura” pala alcançar o “palácio”. “exausto e vacilante”; vulnerável Novamente vigoroso Contaminado pela “dor” do espaço e frustrado Palácio da Ventura Sonho que sou um cavaleiro andante. Por desertos, por sóis, por noite escura, Paladino do amor, busco anelante O palácio encantado da Ventura! Mas já desmaio, exausto e vacilante, Quebrada a espada já, rota a armadura... E eis que súbito o avisto, fulgurante Na sua pompa e aérea formosura! Com grandes golpes bato à porta e brado: Eu sou o Vagabundo, o Deserdado... Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais! Abrem-se as portas d'ouro com fragor... Mas dentro encontro só, cheio de dor, Silêncio e escuridão - e nada mais! Angús,a existencial - poemas exemplo: “O Palácio da Ventura” (e “Despondency”) Síntese A felicidade é ina2ngível A busca do absoluto conduz ao vazio e à morte Na vida há miragens – o palácio que se desenha na sua pompa aérea -, há lutas e entusiasmos – cavalgada -, desânimos – espada quebrada e armadura rota – e deceções – silêncio e escuridão. Configurações do Ideal Racionalidade o2mista e de luta: Razão, Jus,ça, Amor / Fraternidade / Solidariedade Amor espiritualizado (“visão”) Poeta como “voz da Revolução” Ex.: “Hino à Razão” Ex.: “Ideal” Ex.: “A um Poeta” A angús2a existencial leva ao refúgio no sonho e na transcendência religiosa e estes às configurações do ideal. Configurações do Ideal – Perfeição e plenitude das realizações (imaginárias ou reais) do “eu”.Busca de um sen,do para a vida. Aspiração a um ideal superior. Poesia de Antero de Quental Configurações do Ideal Angús,a Existencial • Inquietação espiritual. • Procura de algo que dê um sen,do ou uma finalidade à existência humana. • Aceitação de uma en,dade que aparece, quase sempre, sob contornos vagos ou indefinidos e que pode assumir o nome de Deus (Ex.: “Ignoto Deo”). • Desejo de sonhar. • Insa,sfação perante o real sen,do como demasiado frustrante ou limitado. Poesia de Antero de Quental Configurações do Ideal Angús,a Existencial Segundo o crí,co literário António Sérgio, há uma dualidade na personalidade do poeta, dominada pelo: espírito crí,co do filósofo (lucidez do intelecto; espírito apostólico; autodomínio; consciência plena; concentração da a,vidade pensante; exaltação do amor e da razão); temperamento mórbido do homem (canto da noite, do sonho, da submersão, da morte, dissolução da personalidade; repouso da alma no Deus transcendente). Configurações do Ideal – poemas exemplo “A um poeta” Soneto Tu, que dormes, espírito sereno, Posto à sombra dos cedros seculares, Como um levita à sombra dos altares, Longe da luta e do fragor terreno, Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno, Afugentou as larvas tumulares… Para surgir do seio desses mares, Um mundo novo espera só um aceno… Escuta! É a grande voz das mul,dões! São teus irmãos, que se erguem! são canções… Mas de guerra… e são vozesde rebate! Ergue-te, pois, soldado do Futuro, E dos raios de luz do sonho puro, Sonhador, faze espada de combate. a b b a O esquema rimá,co pode não ser totalmente convencional. ESTRUTURA RIMÁTICA c c d e e d Soneto Tu, Versos decassilábicos que dor mes, to se reno es pí ri Pos to à som bra se cu lares dos ce dros ESTRUTURA MÉTRICA a b b a Configurações do Ideal – poemas exemplo “A um poeta” Surge et ambula Tu, que dormes, espírito sereno, Posto à sombra dos cedros seculares, Como um levita à sombra dos altares, Longe da luta e do fragor terreno, Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno, Afugentou as larvas tumulares… Para surgir do seio desses mares, Um mundo novo espera só um aceno… Escuta! É a grande voz das mul,dões! São teus irmãos, que se erguem! são canções… Mas de guerra… e são vozes de rebate! Ergue-te, pois, soldado do Futuro, E dos raios de luz do sonho puro, Sonhador, faze espada de combate. Expressão la,na – “levanta-te e anda” Marca o tom apela,vo do poema Outras marcas linguís,cas associadas ao tom apela,vo do poema Voca,vo Impera,vo O wtulo do poema – “A um poeta”: • indicia uma forma de intervenção, potenciadora de mudança na sociedade; • o eu lírico dirige-se ao poeta para chamar a atenção para o seu papel Configurações do Ideal – poemas exemplo “A um poeta” Surge et ambula Tu, que dormes, espírito sereno, Posto à sombra dos cedros seculares, Como um levita à sombra dos altares, Longe da luta e do fragor terreno, Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno, Afugentou as larvas tumulares… Para surgir do seio desses mares, Um mundo novo espera só um aceno… Escuta! É a grande voz das mul,dões! São teus irmãos, que se erguem! são canções… Mas de guerra… e são vozes de rebate! Ergue-te, pois, soldado do Futuro, E dos raios de luz do sonho puro, Sonhador, faze espada de combate. Des,natário do soneto – o poeta: • tem um “espírito sereno”; • vive/encontra-se acomodado, “à sombra dos cedros seculares”, “como um levita à sombra dos altares”, “longe da luta e do fragor terreno”, ou seja, o des,natário está longe da realidade e não é um potencial agente de mudança. Incen,vo à ação, incen,vo à mudança, na perspec,va de envolver o des,natário na construção de “um mundo novo” Configurações do Ideal – poemas exemplo “A um poeta” Surge et ambula Tu, que dormes, espírito sereno, Posto à sombra dos cedros seculares, Como um levita à sombra dos altares, Longe da luta e do fragor terreno, Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno, Afugentou as larvas tumulares… Para surgir do seio desses mares, Um mundo novo espera só um aceno… Escuta! É a grande voz das mul,dões! São teus irmãos, que se erguem! são canções… Mas de guerra… e são vozes de rebate! Ergue-te, pois, soldado do Futuro, E dos raios de luz do sonho puro, Sonhador, faze espada de combate. Apelo direto à ação – incita o “soldado do futuro” a: • tornar-se a,vo, por isso u,liza o impera,vo “Ergue-te”; • intervir na concre,zação do “mundo novo”; • Aspetos vincados pela u,lização do campo lexical de guerra – “soldado”, “espada”e “combate” • Tudo será possível depois do “tu” perceber a necessidade de mudança: primeiro terá que “[acordar]” e “[escutar]” o que o sujeito poé,co tem para dizer. Configurações do Ideal – poemas exemplo “A um poeta” Surge et ambula Tu, que dormes, espírito sereno, Posto à sombra dos cedros seculares, Como um levita à sombra dos altares, Longe da luta e do fragor terreno, Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno, Afugentou as larvas tumulares… Para surgir do seio desses mares, Um mundo novo espera só um aceno… Escuta! É a grande voz das mul,dões! São teus irmãos, que se erguem! são canções… Mas de guerra… e são vozes de rebate! Ergue-te, pois, soldado do Futuro, E dos raios de luz do sonho puro, Sonhador, faze espada de combate. Comparação – realça a a,tude de passividade do poeta. Metáfora e personificação – reforça a nega,vidade do tempo que termina. Apóstrofe – iden,fica o des,natário do poema; confere um tom coloquial e reforça o caráter apela,vo do poema. “Tormento do ideal” Conheci a Beleza que não morre E fiquei triste. Como quem da serra Mais alta que haja, olhando aos pés a terra E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre, Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre; Assim eu vi o mundo e o que ele encerra Perder a cor, bem como a nuvem que erra Ao pôr-do-sol e sobre o mar discorre. Pedindo à forma, em vão, a ideia pura, Tropeço, em sombras, na matéria dura, E encontro a imperfeição de quanto existe. Recebi o ba,smo dos poetas, E assentado entre as formas incompletas Para sempre fiquei pálido e triste. A “Beleza” não morre e caracteriza-se por ser uma “ideia pura”. Estado de espírito do sujeito poé,co: • Estado de tristeza e desilusão. Vocabulário indutor de “tormento”, dor, desilusão, frustração. “Tormento do ideal” Conheci a Beleza que não morre E fiquei triste. Como quem da serra Mais alta que haja, olhando aos pés a terra E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre, Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre; Assim eu vi o mundo e o que ele encerra Perder a cor, bem como a nuvem que erra Ao pôr-do-sol e sobre o mar discorre. Pedindo à forma, em vão, a ideia pura, Tropeço, em sombras, na matéria dura, E encontro a imperfeição de quanto existe. Recebi o ba,smo dos poetas, E assentado entre as formas incompletas Para sempre fiquei pálido e triste. “Conheci” “Vi” “a Beleza” § Característica apresentada na 1ªestrofe: “não morre” (v.1) § Expressão sinónima usada na 3ª estrofe: “a ideia pura” (v.9) � “o mundo e o que ele encerra” § Elementos constitutivos referidos nas 3ª e 4ª estrofes: - “sombras” - “matéria dura” - “imperfeição” - “formas incompletas” “Recebi o batismo dos poetas” (v.12) Consequências para o “eu”: § Alteração da sua visão do mundo – verso(s) comprovativo(s): “Assim eu vi o mundo e o que ele encerra/Perder a cor, bem como a nuvem que erra/Ao pôr do sol e sobre o mar discorre.” (vv.6-8) § Transformação do seu estado de espírito – verso(s) comprovativo(s): “E fiquei triste.” (v.2) e “Para sempre fiquei pálido e triste” (vv.14) O “tormento” do “eu” decorre da sua busca pelo “ideal” , que anteviu, e do seu confronto com o mundo real imperfeito. Síntese Preocupações sociais, as ideias revolucionárias A degeneração da burguesia num capitalismo de especulação que nada produzia faz com que Antero apele para: • a Jus,ça; • o Pensamento; • a Ideia (que será a luz do mundo); • a revolta e a luta (até tudo estar no seu lugar); • o trabalho (de que alguma coisa ficará); • o Cristo (avô da plebe); • a liberdade (sob o império da Razão). Sob esta égide encontram-se os sonetos «A um poeta», «Hino à Razão», «A Ideia». Síntese O pessimismo e a evasão • O pessimismo manifesta-se em 1874 e desenvolve-se desde 1876 a 1882; ex,ngue-se nos anos imediatos e em 1886 deixava o poeta, sem nostalgia, numa região espiritual já percorrida. • Nos sonetos deste ciclo vê-se a dor em todo o lado e ouve-se con,nuamente dizer que é preferível o «não ser» ao «ser como é». Vêem-se já influências do budismo. • É o pessimismo que leva Antero a evadir-se, a fugir para-além de tudo o que existe e o faz sofrer. Procura refugiar-se num mundo indefinido, longínquo e vago, na ação material, absorvente e enérgica, num sono no colo da mãe, no desprendimento do sensível, na aspiração a um Deus clemente, que o leve para o Céu. Estes conteúdos são visíveis nas composições poé,cas «O Palácio da Ventura», «Despondency», «Nox». Síntese A metaZsica,Deus e a morte A leitura de Proudhon e Hegel, o falecimento de pessoas queridas e a sua enfermidade levaram-no a meditar na morte, que é considerada sob vários aspetos: • morte ‑ liberdade; • morte ‑ fim de todos os sofrimentos; • morte ‑ irmã do amor e da verdade; • morte ‑ consoladora das tribulações; • morte ‑ berço onde se pode dormir; • morte ‑ paz santa e inefável. Reportado a esta quarta linha temá,ca encontra-se, por exemplo, o soneto «Na mão de Deus». Síntese • Antero exprime a revolta e o inconformismo da sua geração perante uma situação social, polí2ca e cultural conservadora e retrógrada, fomentada por um roman,smo que não conseguiu concre,zar os ideais que defendera. • Mestre e mentor, inspirador e símbolo da Geração de 70, a sua personalidade está in2mamente ligada à vida cultural e social em que, a2vamente, par2cipou. • A poesia de Antero exprime as preocupações do ser humano que reconhece a sua condição e a sua fragilidade, que sente esperanças e sofre os desalentos, que duvida perante os mistérios da criação, da morte e de Deus. • António Sérgio considera a existência de dois Anteros: o apolíneo e o noturno. O primeiro exprime a Luz, a Razão e o Amor; o segundo canta a noite, a morte e o pessimismo. • Pode dividir-se a obra anteriana em quatro fases: a lírica ou de expressão do amor; a do apostolado social e das ideias revolucionárias; a do pessimismo; e a da metaZsica e regresso a Deus. Síntese • Para Antero, "a poesia é a voz da revolução". Ele foi um verdadeiro apóstolo social, solidário e defensor da jus2ça, da fraternidade e da liberdade. • As dúvidas, as deceções e a doença conduziram-no a um estado de pessimismo. • Antero nunca conseguiu separar a poesia da vida, da sua ânsia de transformar o mundo, da sua angús2a perante a dificuldade de explicar Deus, a vida e a morte. • Antero luta por ideais feitos de amor, de jus2ça e de liberdade. Esperança e desilusão são duas forças constantes no seu pensamento e na sua vida, entre as quais tudo oscila. • Idealista, acaba por considerar empobrecedoras as concre,zações da Ideia. Daí as deceções constantes, sen,ndo que a sua luta não está a conseguir os resultados projetados. • Com dificuldade em libertar-se das adversidades, Antero dirige o seu pensamento para o divino, embora sem abandonar o seu racionalismo. • O pensamento de Deus surge, frequentemente, associado à morte, considerada como a verdadeira libertação. Evolução Ideológica da poesia de Antero de Quental Posicionamento ideológico do autor sofre transformações. Evolução diacrónica: Abandono do catolicismo /Dúvida e incerteza A crença no catolicismo é abalada durante a vida universitária. Estado de dúvida e incerteza que o faz sen,r uma angus2ante aspiração pelo Absoluto. Idealismo hegeliano As suas leituras levam-no a imbuir-se no hegelianismo e a preencher a sua produção poé,ca com meditações metaZsicas radicadas no evolucionismo idealista de Hegel. Segundo o idealismo, as coisas só se entendem como manifestações da ideia. Ora, os seres não têm existência inteligível fora da ideia, que é a única realidade inteligível e da qual o mundo é produto, evolução e manifestação. Hegel diz que a Ideia é movida por uma necessidade intrínseca para a sua determinação, para a sua manifestação. Mas, ao determinar-se, cada manifestação da Ideia (Tese) esbarra na sua contrária (Anwtese) e logo se transforma numa nova (Síntese). Esta tríade não pára até se consciencializar no indivíduo e no estado. Evolução Ideológica da poesia de Antero de Quental Socialismo utópico Se o hegelianismo explica a origem e a realidade do Universo em Evolução, não resolveu o problema do homem na terra, por isso surge a questão «Para que nos criastes?». Antero vai agora à procura do sen,do prá,co da vida que lhe será indicado por Michelet e Proudhon. Apostolado social Antero lançou-se na ação social e labutou afincadamente pela implantação de uma ordem na sociedade portuguesa. O seu socialismo nada teve de revolucionário ou de anárquico. O bem-estar social devia provir não de uma revolta armada mas da evolução pacífica, baseada na moralidade, na instrução e na autopromoção da classe trabalhadora. Evolução Ideológica da poesia de Antero de Quental Pessimismo e budismo Gorada a ação social, vi,mado pela doença e outras contrariedades, encheu-se-Ihe a alma de pessimismo, sob influência de Schopenhauer para quem tudo no mundo é impulso (vontade) que ao agir só encontra obstáculos. Assim, na terra, tudo é obstáculos, tudo é dor. Antero convenceu-se que o Universo era um sofrimento sem finalidade e que tudo caminhava inevitavelmente para o nada. Só a consciência não fazia esse percurso porque devia esforçar-se para a,ngir o Nirvana, onde havia um repouso completo, o impulso não depararia com obstáculos, e vigoraria o desejo do não-ser, posição a que chegou por leituras de Hartmann que, em A Religião do Futuro, combate o catolicismo e o protestan,smo, propondo uma religião que seria uma síntese de panteísmo hindu e de maome,smo judeo-cristão.
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