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Objetivos de aprendizagem Esperamos que, ao término desta aula, você seja capaz de: • reconhecer a importância da linguagem e da comunicação nas atividades humanas, bem como os elementos presentes nesse processo; • refletir sobre a linguagem como fenômeno psicológico, educacional, social, histórico, cultural, político e ideológico; • reconhecer os diferentes tipos de textos, suas características, elementos, estrutura, técnicas e as funções de linguagem predominantes; • ler, analisar, compreender as diferentes linguagens que circulam socialmente. • entender a língua como um processo de interação que é influenciada pelas situações comunicativas que cercam sua produção e recepção; • relacionar o estudo das seis funções da linguagem aos constituintes da situação comunicativa, aos contextos reais de interação. 1ºAula A prática de linguagem na vida social A linguagem – a fala humana – é uma inesgotável riqueza de múltiplos valores. A linguagem é inseparável do homem e segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela o seu pensamento, seus sentimentos, seus esforços, sua vontade e seus atos, o instrumento graças ao qual ele in uencia e e é in uenciado, a base última e mais profunda da sociedade humana. (Louis Hjelmslev) Caro(a) aluno(a), A partir de agora, sua curiosidade será despertada para o processo da construção da comunicação humana. O interesse por esse assunto é muito importante, pois, no mundo atual, para nos expressar e interagir em sociedade, nós, seres humanos, precisamos ter o pleno domínio de diferentes formas de comunicação. Esse domínio exige que tenhamos conhecimento de como se processa a comunicação, de quais elementos a estruturam, das diversas formas de linguagens – verbais e não verbais, das funções da linguagem, enfim, de um conjunto de conceitos que permitem entender e produzir mensagens que deem conta de atender as nossas necessidades de comunicação e expressão. Para esse domínio, portanto, é primordial que você tenha interesse em apreender a complexidade da linguagem humana, que você esteja disposto a enveredar pelo universo da linguagem? Então, vamos lá! Bons estudos! 115 Leitura e Produção de Texto 6 1 – Linguagem e os processos de comunicação 2 – A linguagem e suas funções Seções de estudo Você já parou para imaginar no que ocorreria se não possuíssemos linguagem? Já observou que a linguagem é parte integrante de nossas atividades diárias? Já refletiu sobre o fato de que uma das diferenças marcantes entre o ser humano e os outros animais é a faculdade de utilizar uma língua, uma Linguagem? Talvez você nunca se tenha questionado a respeito dessas questões, não é mesmo? O uso da linguagem é visto, pela maioria das pessoas “normais”, como um fato natural e automático, como o caminhar, respirar ou o piscar, por exemplo. No entanto, é primordial que tenhamos consciência da importância da linguagem na vida social e mental dos indivíduos. Sabe por quê? Porque “tudo o que o ser humano alcançou de crescimento cultural está ligado à linguagem. Sem ela, a cultura não existiria e os conhecimentos não poderiam ser transmitidos de geração para geração.” (CAMPEDELLI, S. Y. , SOUZA. J. B. , 1998, p. 10) 1 - Linguagem e os processos de comunicação Dada a importância do papel desempenhado pela linguagem na vida social, vamos, a seguir, adentrar nesse maravilhoso mundo da linguagem e da comunicação. 1.1 As formas de comunicação e suas linguagens Para re etir Você já se deu conta de quantos são os atos de comunicação que realizamos durante o nosso dia, desde a hora que levantamos até a hora de nos deitar? São inúmeros, não é verdade? O ato de comunicar, de estabelecer interação social com outra pessoa é uma necessidade básica do ser humano. Isso porque somos seres sociais, vivemos em comunidade. Nas situações sociais de interlocução, contamos com um instrumento importantíssimo denominado linguagem. A linguagem, conforme você deve se lembrar, surgiu devido à necessidade do homem de se comunicar, de viver em sociedade. Seu domínio é relevante tanto para a aquisição de conhecimentos em qualquer área do saber, como para a participação dos indivíduos nas mais diversas situações sociais de interlocução. CONCEITO A linguagem pode ser de nida como todo sistema de sinais convencionais (sons, letras, cores, imagens, gestos) que nos permite construir uma interpretação da realidade. Assim, a linguagem é toda e qualquer forma de expressão utilizada para atender aos nossos objetivos de comunicação. Ao longo dos tempos, para expressar pensamentos, sentimentos, ideias, experiências, visões de mundo, enfim, para atender às diversas situações e intenções comunicativas o homem foi desenvolvendo diferentes formas de linguagem. Para exercer atos de comunicação, dispomos de várias possibilidades, ou seja, de várias linguagens. Vamos conhecê-las? 1.2 Linguagem Verbal A linguagem verbal está relacionada ao uso das palavras de uma determinada língua. A LÍNGUA é o código que usa a palavra como sistema de comunicação, isto é, é um sistema de sons vocais ou um conjunto de signos e combinações utilizado por um povo (o conceito de signo será visto abaixo). Ao fazermos uso da língua portuguesa, por exemplo, tanto na forma oral como na forma escrita, usamos a linguagem verbal. Assim, a linguagem verbal desenvolve-se por meio de um sistema ou código de comunicação, que é a língua. É importante que você perceba que formulamos os nossos textos orais ou escritos por meio de palavras (signos verbais) e estas são organizadas segundo as regras estabelecidas pelo sistema ou pela língua. De todas as linguagens utilizadas pelo homem, a linguagem verbal é a forma de comunicação mais importante ou a mais usual, pois sua potencialidade criativa é imensa. Mediante a palavra falada ou escrita, externamos as nossas ideias e pensamentos, influenciamos, convencemos, divertimos, ensinamos, emocionamos, agimos etc. Assim, esse código verbal (a língua portuguesa) é imprescindível na comunicação entre as pessoas. Ele está presente nos textos orais e escritos, tais como nas reportagens de jornais e revistas, nas obras literárias e científicas, nos vários tipos de discurso, enfim, sempre que falamos com alguém, quando lemos, quando escrevemos. Imagem extraída de: Grif , Beth. Português 1. São Paulo: Moderna, 1991.p. 29 Margarida Petter (2003, p. 11) associa a palavra — a linguagem verbal — ao poder mágico que o homem tem não só de “nomear/criar/ transformar o universo real, mas trocar experiências, falar sobre o que existiu, poderá vir a existir, e até mesmo imaginar o que não precisa nem pode existir.” Para ela, a comunicação pela língua oral e escrita é uma das características que diferenciam o ser humano de outros seres do reino animal. Tudo certo até aqui? Continuemos, então... 1.3 Linguagem não verbal Embora a linguagem verbal seja a dominante em nosso cotidiano, usamos, também, outras linguagens não menos relevantes para a comunicação, como os desenhos, a dança, os 116 7 sons, os gestos, a expressão fisionômica, as cores, a mímica, as imagens, os sinais, a postura etc. Dizemos, então, que estamos usando a linguagem não verbal. Veja: Na gura ao lado, está claro que é proibido fumar em um determinado local. A linguagem utilizada é a não verbal, pois não utiliza do código “língua portuguesa” para transmitir que é proibido fumar. Na gura ao lado, percebemos que o semáforo nos transmite a idéia de atenção. De acordo com a cor apresentada no semáforo, podemos saber se é permitido seguir em frente (verde), se é para ter atenção (amarelo) ou se é proibido seguir em frente (vermelho) naquele instante. Extraído do site: www.brasilescola.com/redacao/linguagem.php Para re etir Tanto a linguagem verbal quanto a não-verbal , conforme você deve ter percebido, expressam sentidos. O que as distingue é que enquanto “na primeira, os signos são constituídosdos sons da língua (por exemplo, mesa, fada, árvore), nas outras exploram-se outros signos, como as formas, a cor, os gestos, os sons musicais, etc.” (PLATÃO E FIORIN, 2002, p. 371) Observe que as imagens acima não usam palavras. Ainda assim, nós temos uma linguagem, a linguagem não verbal, pois fomos capazes de decifrar as mensagens a partir das imagens. (Alfabeto manual dos surdos-mudos – Exemplo de linguagem não verbal) Você já deve ter ouvido o provérbio chinês “uma imagem vale mais do que mil palavras”, não é mesmo? Platão e Fiorin (2002, p. 375) dizem que “assim como se aprende a ler um texto verbal, também se pode aprender a ler um texto não verbal.” É importante destacar que, nos dias atuais, vários fatores, como a maneira de se vestir, de sentar, a postura, o comportamento social vêm sendo estudados como formas não verbais de comunicação entre as pessoas. 1.4 Linguagem mista É muito comum serem utilizadas, simultaneamente, as linguagens verbal e não verbal, como acontece nas histórias em quadrinhos, nos textos publicitários, no cinema e na televisão. Trata- se aí da linguagem mista, a que utiliza a imagem e a palavra ao mesmo tempo. Enquanto a linguagem verbal é linear, ou seja, tanto na fala quanto na escrita os signos ou palavras não se superpõem, sendo constituídos uns após os outros, etapa por etapa em uma sequência organizada, a linguagem não verbal, a imagem, é captada de forma imediata e global por meio de nossos olhos, pela percepção visual. É o que acontece quando visualizamos um quadro, por exemplo. Na prática, a linguagem verbal e a não verbal se complementam, e fazem com que a comunicação humana se torne muito mais rica. Você concorda com isso, não é? 1.5 Signo Em todo o tipo de comunicação, verbal ou não verbal, o elemento utilizado para representar o objeto referente da mensagem é chamado signo. CONCEITO Existem várias concepções de signo. No entanto, de forma simples, pode ser de nido como um elemento intermediário que substitui outro, algo que representa algo, podendo ser, assim, qualquer objeto, som ou palavra que possa ser interpretado ou que signi que algo da realidade. De acordo com Francis Vanoye (2002, p. 21), “signo é a menor unidade dotada de sentido num código dado.” Preste atenção ao que vamos dizer agora: o signo é a unidade formada por um estímulo físico (sons, letras, imagens, gestos, etc.) e uma ideia ou conceito mental. O estímulo físico/parte material é o significante e a ideia que vem à mente é o significado. Significante e significado integram a mesma unidade, que é o signo. Podemos representá-lo graficamente do seguinte modo: Você sabia? No processo de comunicação, várias coisas podem ser signos, mas desde que sejam resultantes de uma convenção ou aceitação social. Para que interpretemos esses signos como unidades funcionais que integram um determinado sistema estruturado, faz-se necessário conhecer o que eles representam, qual é o seu valor simbólico, e isso pode variar de acordo com a cultura já que há diferentes visões de mundo e formas de interpretar a realidade. SIGNO = Signi cante Signi cado Em outros termos, é preciso entender a que determinado signo faz referência. Por exemplo, relacionar a cor vermelha (significante), nos sinais de trânsito, à proibição para prosseguir (significado); a abóbora com os olhos, o nariz e a boca (significante) ao Dia das Bruxas, do Halloween (significado); uma tarja preta na lapela (significante) ao luto (significado); o desenho de uma caveira nos fios de alta tensão (significante) ao perigo de vida (significado); a seta cortada por uma barra oblíqua (significante), na sinalização rodoviária, à “direção proibida” (significado). O que dissemos pode ser visualizado na ilustração a seguir: 117 Leitura e Produção de Texto 8 Até agora, falamos de signos que integram a comunicação visual ou a linguagem não verbal. Você percebeu isso? Acontece que dissemos, anteriormente, que a linguagem verbal (oral e escrita) é a forma de comunicação mais presente em nosso cotidiano, Assim, a língua portuguesa é o código mais utilizado por nós. Esse código tem como unidade mínima o signo linguístico, que se refere a uma representação da realidade por meio da palavra. Saber mais Veja bem! Quando falamos em signo linguístico/verbal, estamos nos referindo a uma representação da realidade por meio da palavra. Na obra fundadora da ciência Linguística, chamada Curso de Lingüística Geral, seu autor, Ferdinand de Saussure (2000, p. 80), descreveu um signo “como uma combinação de um conceito com uma imagem acústica” /ou imagem sonora. Segundo esse autor, “o signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som.” Este linguista e filósofo suíço explica que uma imagem acústica/sonora é algo mental porque podemos falar conosco ou recitar um poema mentalmente sem ao menos movermos os lábios, ainda que, geralmente, as imagens sonoras sejam produzidas nos processos interativos de comunicação. Explicados esses conceitos, podemos dizer que um signo linguístico é um elemento representativo que apresenta dois aspectos que se unem: um significante e um significado, inseparáveis, assim como cara e coroa se unem para formar a moeda. Ao ouvir a palavra caneta, você reconhece os sons que a formam. Esses sons são o signi cante do signo caneta. Ao ouvir essa palavra, você logo mentaliza a ideia de caneta. Esse conceito, utensílio para escrever ou desenhar à tinta, é o signi cado do signo caneta. A palavra caneta não é o objeto caneta, que pode estar distante de nós, mas quando ouvimos ou lemos essa palavra nos vem à mente a imagem desse objeto. O signo é convencional e arbitrário: convencional porque, segundo Vanoye (2002, p.22), “entre o significante e o significado não há outro liame senão o proveniente de um acordo implícito ou explícito entre os usuários de uma mesma língua”. arbitrário porque “não há qualquer relação entre a representação gráfica ou som de uma palavra e o objeto designado”. E então? Com o exemplo acima, você deve ter percebido que, para termos conhecimento de uma língua, não basta identificarmos os seus signos, precisamos também conhecer seguramente as suas regras combinatórias, a sua sintaxe, ou seja, a organização de seus signos. 1.6 O processo de comunicação Vamos conhecer os elementos que integram os incontáveis atos de comunicação que realizamos diariamente? São seis os elementos envolvidos no processo de comunicação, conforme o seguinte esquema: Saber mais Ao empregar os signos que formam a nossa língua, você deve obedecer a certas regras de organização que a própria língua lhe oferece. A sequência um caneta bonito contraria uma regra de organização da língua portuguesa, o que faz com que a rejeitemos, assim como o enunciado da tira a seguir. Preste atenção! Quando vamos ler ou produzir um texto, devemos levar em conta: quem, como, quando ou para que (se) faz uso da língua, ou seja, as interferências comunicativas que cercam sua produção e recepção. O que estamos querendo dizer é que não podemos desconsiderar as situações concretas de uso da linguagem e, então, os seis elementos da comunicação precisam ser estudados nos contextos reais de interação, certo? Isso vale para qualquer gênero textual, que são os textos produzidos nas inúmeras situações sociais de uso da linguagem. Muito bem! Voltemos, então, à explicação do processo de comunicação. Baseado no esquema ilustrado acima, é fácil observar como a comunicação acontece: um remetente, ao querer se relacionar com um destinatário, envia a ele uma mensagem, que é transmitida por meio de um canal de comunicação. Essa mensagem possui um referente e é expressa por meio de um código comum a ambos. o emissor dos signos - um indivíduo, um grupo, uma rma, um órgão de difusão etc. o receptordos signos - aquele que recebe e decodi ca a mensagem. os signos organizados e estruturados que produzem o sentido da comunicação, o objeto da comunicação ou o conteúdo das informações transmitidas com intenção comunicacional. Canal de comunicação:a via de circulação das mensagens, o meio de comunicação/o meio físico/o suporte/o veículo: carta, bilhete, e-mail, telefone, televisão, placas, desenhos, fotogra as, língua oral ou escrita sons diversos. De acordo com Francis Vanoye (2002, p. 2), de maneira geral, as mensagens circulam por meio de dois principais meios: • meios sonoros: voz, ondas sonoras, ouvido (mensagens sonoras, palavras, músicas,). • meios visuais: excitação luminosa, percepção da retina ( mensagens visuais: empregam-se as imagens (desenhos, fotogra as = mensagens icônicas) ou os símbolos (a escrita ortográ ca: mensagem simbólica). Além das mensagens sonoras e visuais, temos ainda as mensagens tácteis (recorrem aos choques, pressões, aperto de mão, trepidações, etc.) e as mensagens olfativas (utilizam odores, um perfume, por exemplo.). Essas só constituem mensagens se veicularem, por vontade do destinador, uma ou várias informações dirigidas a um destinatário. 118 9 Referente: referência a um objeto ou a um contexto, a uma situação a que a mensagem se refere O código é um sistema de normas e regras que, delimitando o uso de signos, organiza-os para que se tornem comuns aos grupos.É um conjunto organizado (sistema) de sons, signos, sinais ou símbolos, que se destina a representar e transmitir informações a alguém, permitindo, assim, a construção e a compreensão de mensagens A língua que falamos, por exemplo, é um código. É nesse código lingüístico que vamos buscar os signos (palavras e estruturas) com que nos comunicamos verbalmente. As cores e desenhos das placas de sinalização formam um código internacional, que diz o que é permitido ou proibido fazer no transito. E o braile, não seria outro exemplo? É claro, trata-se do código dos cegos. (...) Os códigos não somente verbais, como os idiomas, jargões pro ssionais, as gírias dos adolescentes. Há também códigos visuais (como o trânsito), códigos cinéticos (de movimentos, como a dança), sonoros (música, sinais de trânsito. (SENAC, DN. Comunicação verbal e não verbal. Lenira Alcure; Maria N.S. Ferraz; Rosane Carneiro. Rio de Janeiro: Ed. Senac Nacional, 1996, p. 19) Assim, quando você constrói um texto, considerado como qualquer material organizado que veicula sentidos (portanto, verbal, não verbal ou misto), precisa ter em mente que escreve com uma determinada finalidade para alguém ler. Nesse caso, quem escreve a mensagem (o texto) é o emissor (você) e a quem a mensagem é direcionada é o receptor (o professor, por exemplo). O elemento que conduz o discurso ou a mensagem é o canal (nesse caso, o papel). Essa mensagem pode expor um fato, falar sobre um objeto ou uma situação, expor juízos ou raciocínios sobre algo, ou seja, possui um referente. Por fim, a língua que você usa (a língua portuguesa, por exemplo) constitui o código. Fique atento! Pelo que você viu até aqui, foi possível notar que o ato de se comunicar é um ato social e, como tal, as diversas manifestações cotidianas e culturais são realizadas por meio da interação pela linguagem. Sendo assim, o conhecimento dos elementos da comunicação assegura a e cácia da mensagem. Isso porque você, ao emitir a sua mensagem e posicionar-se por meio dela, tem uma intenção e pretende agir, provocar efeito sobre o outro. Assim, escolherá um assunto, um código e suas possíveis combinações e o meio pelo qual ela chegará ao interlocutor para provocar os efeitos desejados. 1.7 Problemas gerais da comunicação Leia o delicioso texto seguinte: COMUNICAÇÃO É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um... um... como é mesmo o nome? - Posso ajudá-lo, cavalheiro? - Pode. Eu quero um daqueles, daqueles... - Pois não? - Um... como é mesmo o nome? - Sim? - Pomba! Um... um... Que cabeça a minha. A palavra me escapou por completo. É uma coisa simples, conhecidíssima. - Sim, senhor. - Olha, é pontuda, certo? - O quê, cavalheiro? - Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um... Uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende, ca fechado. É isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende? - Infelizmente, cavalheiro... - Ora, você sabe do que eu estou falando. - Estou me esforçando, mas... - Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo? - Se o senhor diz, cavalheiro. - Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero. - Sim, senhor. Pontudo numa ponta. - Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem? - Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la outra vez. Quem sabe o senhor desenha para nós? - Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da chaminé. Sou uma negação em desenho. - Sinto muito. - Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade, estou muito bem de vida. Não sou um débil mental. Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. O desenho não me faz falta. Lido com números. Tenho algum problema com os números mais complicados, claro. O oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes. Mas não sou um débil mental, como 119 Leitura e Produção de Texto 10 você está pensando. - Eu não estou pensando nada, cavalheiro. - Chame o gerente. - Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisa que o senhor quer, é feita de quê? - É de, sei lá. De metal. - Muito bem. De metal. Ela se move? - Bem... É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É assim, assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim. - Tem mais de uma peça? Já vem montado? - É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço. - Francamente... - Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vem vindo, outra volta e clique, encaixa. - Ah, tem clique. É elétrico. - Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar. - Já sei! - Ótimo! - O senhor quer uma antena externa de televisão. - Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo... - Tentemos por outro lado. Para o que serve? - Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você en a a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa. - Certo. Esse instrumento que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantesco al nete de segurança e ... - Mas é isso! É isso! Um al nete de segurança! - Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro! - É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um... um... Como é mesmo o nome? (VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comunicação, In: Amor brasileiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, p. 143-145) Vamos conversar a respeito do texto lido? Como você deve ter percebido, ambos os personagens estavam utilizando o mesmo código linguístico – a língua portuguesa. No entanto, não houve comunicação perfeita desde o início do diálogo. Por que isso ocorreu? Ora, pelo fato de o comprador ter se esquecido do nome do objeto que desejava comprar. O tipo de comunicação apresentada no texto foi a bilateral, já que, por ser dialógica, houve alternância de papéis entre emissor e receptor. Quanto ao canal de comunicação utilizado entre o comprador e o vendedor, observamos que, além da fala, o comprador utilizou-se de gestos para se fazer entender, ou seja, uniu a fala (linguagem oral) aos gestos (linguagem não verbal), num esforço de reforçar a suamensagem. Na situação comunicativa relatada no texto, ocorreu um ruído (que será estudado logo abaixo), devido ao comprador não ter sido claro ou eficiente e não ter conseguido transmitir o referente da mensagem – o alfinete de segurança, o elemento que permitiria aos falantes entenderem-se e, assim, obterem êxito no contexto de compra e venda. A esta altura, você já deve ter se convencido de que a comunicação só se realiza quando todos os seus elementos funcionam apropriadamente, não é? Sendo assim, se o receptor não capta ou não compreende a mensagem, como ocorreu no texto lido, a comunicação não se realiza. O fato de apenas receber a mensagem não implica, necessariamente, decodificá-la e compreendê-la: a comunicação só se realiza efetivamente se a mensagem tiver sido compreendida, decodificada, interpretada, traduzida em informações significativas. É útil dizer, também, que a atribuição de significados pelo interlocutor depende de sua competência de leitura e da relação com os seus conhecimentos prévios, sua ideologia, cultura, contextualização etc. O conhecimento do código utilizado, por sua vez, é também de fundamental importância para se estabelecer uma comunicação eficaz entre emissor e receptor, pois, caso contrário, a comunicação será apenas parcial ou nula. Veja este exemplo apresentado por Andrade e Henriques (1999, p.21): Uma classe em que os alunos têm por língua materna o português é convidada para assistir a uma conferência pronunciada em inglês. Ocorre que alguns alunos dominam perfeitamente o inglês, outros dominam relativamente e os restantes não conhecem essa língua. Os que dominam plenamente o inglês (código) compreenderão as palavras do conferencista; portanto, a comunicação será plena. Para aqueles que conhecem relativamente o código, a comunicação será parcial. Os que não conhecem a língua, obviamente, não participarão do processo de comunicação. Por outro lado, se o referente daquela conferência em inglês for muito complexo, mesmo com os alunos que dominam perfeitamente o código não será possível estabelecer comunicação. Da mesma forma, se alunos de um curso de Administração fossem assistir a uma aula sobre um assunto especí co de Medicina, a comunicação não se realizaria, pois haveria “ruído” em relação ao referente, ao conteúdo ou assunto da comunicação. Simples, não acha? Não basta que o código seja comum ao emissor e ao receptor para que se realize uma comunicação perfeita; por exemplo, dois brasileiros não possuem necessariamente a mesma riqueza de vocabulário, nem o mesmo domínio da sintaxe, nem o mesmo repertório. A interação por meio da linguagem só se realiza quando todos os seus elementos funcionam adequadamente. Só podemos dizer que houve comunicação quando conseguimos nos fazer entender, quando nossa mensagem fica clara ao receptor, chegando a ela sem ruídos. Tenho certeza de que, agora, você já sabe o que significa ruído? É qualquer fator que perturbe, confunda ou interfira na qualidade da comunicação. A partir dessas explicações, você deve ter notado que o termo ruído, numa situação comunicativa, não tem a ver apenas com as perturbações de ordem sonora; refere-se, também, às interferências de ordem física (dificuldade visual, letra ilegível, mancha numa folha Pelo termo técnico ruído, designa-se tudo o que afeta, em graus diversos, a transmissão da mensagem: voz muito baixa ou encoberta pela música, falta de atenção do receptor, erros de codi cação, mancha numa tela, etc. O ruído pode provir: do canal de comunicação, do emissor ou do receptor, da mensagem (insu cientemente clara) ou do código (mal adaptado à mensagem). VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. 11 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 8) 120 11 etc), psicológica (estresse, falta de atenção, impaciência, aspereza etc.) ou cultural (diferenças de nível social, desconhecimento do código, erros ortográficos e gramaticais etc.) (BLIKSTEIN, 2002). Imagem extraída de: Gri , Beth. Português 1. São Paulo: Moderna, 1991. Dificilmente a comunicação está isenta de ruídos, por isso, de acordo com Vanoye (2002), para combatê-los, pode-se utilizar o recurso da redundância. Considera-se redundante todo elemento da mensagem que não traz nenhuma informação nova, mas garante sua eficácia, uma vez que compensam as perdas de informações causadas pelos ruídos (observe que não estamos falando de pleonasmo vicioso, que é um vício da linguagem, como, por exemplo, o uso da expressão subir para cima, descer para baixo). Um exemplo de recurso da redundância da que estamos falando (repetição da informação) seria unir o gesto à palavra para reforçar as nossas mensagens. Também, “a repetição de um signo visual, como ocorre em estradas, onde uma placa indicativa de alerta aos motoristas é inserida várias vezes em intervalos pequenos para que, caso o motorista não tenha visto a primeira, perceba a segunda e decodifique a mensagem. 2 - A linguagem e suas funções Você já observou que, quando organizamos os nossos discursos, escolhemos as palavras e expressões que nos interessam e as combinamos em vista de transmitir certo conteúdo, de acordo com o contexto e nossa intenção? Nesse caso, consideramos as características sociais e psicológicas do receptor a fim de alcançarmos nossas finalidades e obtermos sucesso com nossos textos. Assim, a linguagem pode desempenhar diversos papéis, ou seja, nossos discursos podem ter diferentes finalidades, diferentes objetivos, diferentes funções. Ora, não é difícil verificar isso quando observamos os textos a nossa volta. Por exemplo: qual o objetivo em uma propaganda comercial? É claro que é convencer o receptor a consumir determinado produto. E em uma declaração de amor? Expressar os sentimentos. E em uma notícia de jornal? Informar algo de maneira precisa e objetiva. E assim por diante... O que podemos concluir, então, é que uma poesia, uma propaganda, um verbete de dicionário, uma notícia de jornal, uma carta comercial, enfim, apresentarão características distintas, uma vez que possuem finalidades diferentes. A essas diferentes finalidades chamamos funções da linguagem. Então, quais são as funções fundamentais da linguagem? Vimos, anteriormente, os seis elementos que participam do processo de comunicação (emissor, receptor, mensagem, canal, código e referente). O linguista russo Roman Jakobson distinguiu seis funções da linguagem: referencial, emotiva, conativa, fática, poética e metalinguística, relacionando cada uma delas a um dos seis elementos básicos do processo comunicativo. Desta forma, em cada texto, dependendo de sua finalidade, vamos observar que se destaca um dos elementos da comunicação, e, por conseguinte, uma das funções da linguagem. Roman Osipovich Jakobson (11/10/1896 – 18/07/1982) foi um pensador russo que se tornou num dos maiores lingüistas do século XX e pioneiro da análise estrutural da linguagem, poesia e arte. Foi chamado de “o poeta da lingüística” por Haroldo de Campos, sendo o criador das famosas funções de linguagem funções da linguagem. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. E então, caro(a) aluno(a), vamos estudar cada uma das seis funções da linguagem propostas por Roman Jakobson? Tenho certeza de que você irá entender com facilidade. Vamos lá! 2.1 Função Referencial: predomínio da informação Leia o seguinte texto: “Pesquisa realizada pelo setor imobiliário da cidade de Dourados revela o expressivo aumento de obras na cidade, com diversos prédios novos ou em fase de acabamento. Esse crescimento repentino, segundo as imobiliárias, deve-se à procura de imóveis, apartamentos e kitnetes pelos estudantes de outros municípios que se instalam na cidade e, com isso, incrementam o ramo imobiliário”. (Adaptado do Jornal O Progresso) Também chamada de Denotativa, Cognitiva ou Informativa, a função referencial apresenta uma orientação para o contexto,para o referente. O emissor a utiliza quando tem a intenção de apenas transmitir alguma informação sobre a realidade, passar alguma notícia, não permitindo mais de uma interpretação. Para isso, escolhe uma linguagem clara, objetiva, sem ambiguidades, sem ruídos de comunicação, sem comentários pessoais e juízos de valor. O uso da função referencial da linguagem é uma das dominantes no discurso científico, nos noticiários de rádio e televisão etc. Marca-se, linguisticamente, com o traço da 3ª pessoa do verbo, ou seja, de quem ou do que se fala. É o que acontece na notícia lida acima, cujo objetivo é informar aos leitores do jornal sobre o crescimento do setor imobiliário na cidade de Dourados, informação fornecida de maneira direta, precisa e denotativa e em terceira pessoa. O texto a seguir, com um conteúdo essencialmente informativo, é mais um exemplo dessa função: 121 Leitura e Produção de Texto 12 Cientistas acham que Marte já teve vida LONDRES – Cientistas que acreditam ter havido vida em Marte disseram ser possível que haja pequenos organismos na superfície do planeta. “Quanto mais aprendemos sobre as condições extremas da Terra, mais achamos ser possível ter havido vida em Marte”, disse Paul Davies, da Universidade de Adelaide. (O Estado de S. Paulo, 31 jan. 1996.) Para que você entenda melhor a função referencial, que serve de base para todos os textos, é necessário distinguir o sentido denotativo do conotativo. Lembra-se de que quando tratamos de signos linguísticos dissemos que ele é uma unidade formada por um significante e um significado? Muito bem! Observe, então, o significante da palavra ferro nas frases seguintes. a) o portãozinho do jardim é de ferro; b) João tem uma vontade de ferro. Certamente, você deve ter notado que, embora seja o mesmo significante, há uma diferença de significados. Na primeira frase, a palavra ferro tem o sentido literal, ou seja, aquele que corresponde à primeira significação atribuída à palavra nos dicionários de língua portuguesa (= metal). É o sentido denotativo ou referencial, o sentido próprio da palavra, ou ainda, o sentido comum, normal, usual, previsível da palavra, que não necessita de um contexto para ser interpretada como sendo um metal. Na frase b, a palavra ferro apresenta sentido figurado ou conotativo, pois seu sentido não é tomado literalmente, mas é ampliado e modificado para obter um efeito particular, em um contexto específico de interlocução. Como se pode notar, houve alteração criativa e pessoal do significado cristalizado da palavra ferro, que passou a apresentar uma relação de sentido entre a firmeza, a rigidez da vontade de João e a do ferro, portanto, um sentido paralelo, associativo que só pode ser esclarecido pelo contexto. Lembre-se de que o sentido conotativo não deve ser usado nos textos com função da linguagem referencial ou informativa, certo? Perceba o sentido denotativo e conotativo nas frases abaixo: a) o burro auxilia o homem; b) que garoto burro! 2.2 Função emotiva – Expressão centrada no emissor Observe os dois textos a seguir: “Felizmente aprendi a ser empreendedor. Foi um trabalho muito árduo: suei, sofri, chorei, mas consegui e, hoje, sou feliz. Transformo minhas idéias em negócios lucrativos para minha empresa e não tenho mais medo de inovar. Não temo os desa os, pois tenho coragem de lutar para alcançar meus objetivos.” “Não havia motivo para prolongar a vida daquele feto... E, então, z o aborto com autorização judicial. Oh! Fiquei arrasada e senti uma tristeza tão profunda que me levou à depressão. O que quero, agora, é voltar a ver os pássaros voando e não mais chorar.” A função emotiva, também chamada expressiva está centrada no próprio emissor e tem como objetivo manifestar as emoções, estado de espírito, sentimentos e opiniões de quem fala. É isso o que ocorre nos textos acima. A função emotiva caracteriza-se pelo uso da primeira pessoa do discurso (expressa pela desinência do verbo, pelos pronomes), das interjeições, dos sinais de pontuação, tais como exclamação e reticências, dos adjetivos que mostram o ponto de vista do emissor, de alguns advérbios. Esta função “implica, sempre, uma marca subjetiva de quem fala, no modo como fala” (CHALHUB, 1990, p.18). Por meio da linguagem, o falante posiciona-se em relação ao tema de que está tratando, manifesta o seu estado de alma, as suas emoções, os seus afetos, seus sentimentos e impressões a respeito de um assunto ou pessoa: solidão, medo, triunfo, alegria, dor, ódio, susto, amor etc. A função emotiva revela, portanto, o estado emocional do falante perante o objeto de comunicação, ou seja, há indícios naquilo que se fala que expressam o seu mundo íntimo e emocional. Os depoimentos, as entrevistas, os livros autobiográficos, de memórias, de poesias líricas, bilhetes e cartas de amor, canções sentimentais etc. são mensagens caracterizadas pela função emotiva ou expressiva. ATENÇÃO! Vários autores destacam que textos aparentemente referenciais, que não apresentam características da função emotiva, como artigos críticos, relatórios, editoriais de jornais e revistas, podem ser caracterizados pela função emotiva, ao lado da função informativa do texto. Isso devido à clara posição do emissor perante o que escreve, devido às marcas deixadas no texto, como a escolha das palavras, por exemplo. 2.3 - Função conativa – Persuadir o receptor Observe estes textos: “COMPRE AQUI E CONCORRA A ESTE LINDO CARRO.” “NA HORA DE CONSTRUIR, CONTE COM A FW. SÓ ELA TEM O QUE VOCÊ QUER NO MOMENTO EM QUE VOCÊ PRECISA.” Quando a mensagem está orientada para o destinatário (receptor), como ocorre nos textos acima, trata-se aí da função conativa. A função conativa é também chamada de apelativa. Visa a influenciar o comportamento do interlocutor, atuando sobre o seu modo de agir ou de pensar, seduzindo-o, convencendo-o ou persuadindo-o. Marca-se, gramaticalmente, pela presença de formas verbais no imperativo (compre, concorra), do vocativo Esta palavra tem sua origem no termo conatum, que signi ca “tentar in uenciar alguém através de um esforço” 122 13 (termo que serve para invocar, chamar um ouvinte) e pela presença da segunda pessoa (você). A função conativa é predominante nos textos injuntivos ou instrucionais (injuntivo é sinônimo de “obrigatório”, “imperativo”): linguagem publicitária (propaganda), textos argumentativos, discursos religiosos e políticos, horóscopos, livros de autoajuda, receitas culinárias (modo de fazer), discursivos persuasivos - aqueles que impõem, que esperam determinados comportamentos do receptor. 2.4 Função fática - O estabelecimento do contato Observe casos da função fática: 1) Comunicação telefônica... -Como vai? -Tudo bem! -Claro, sem dúvida... -Sabe... hum!..., hum!, tá me entendendo? -Claro! É isso aí. -Alô, está me ouvindo? -Ahn? -Tá me ouvindo? -Pouco. -Ligo depois, tchau. 2) Conversa sobre o tempo, dentro de um elevador ou quando não se tem o que dizer... -Puxa como está frio, não é? -É sim, mas talvez faça calor. -É, é bem possível. -Isto se não chover. Quando a mensagem tem em vista simplesmente manter o contato físico ou psicológico entre o emissor e o receptor ou estabelecer a comunicação, como você acaba de verificar, a função será fática. A finalidade dessa função é verificar as condições de comunicabilidade, isto é, testar o canal, prolongar, interromper ou reafirmar a comunicação, não para informar, mas para assegurar a transmissão da mensagem, para certificar-se de que a comunicação está sendo realizada de forma satisfatória. São características dessa função: repetições ritualizadas, balbucios, gagueiras, cacoetes de comunicação, fórmulas vazias, convenções sociais, fórmulas habituais de saudação ou de despedida. Quando queremos nos aproximar de nosso interlocutor, pronunciamos frases do tipo: “Olá, como vai?”, “Bom dia!”. Ao dizer “como vai?”, não esperamos respostas e informações detalhadassobre sua saúde, seu trabalho etc. E mesmo o “tudo bem”, que poderia ser a resposta ouvida, não significa que vá tudo bem na vida de nosso interlocutor. Também, certos tiques linguísticos como “entende?”, “tá?”, “certo?” etc. são conectivos que reforçam a mensagem, “são conectores entre uma expressão e outra e dão a ilusão de que emissor e receptor comunicam-se. Na verdade, o gesto afirmativo que reenvia a mensagem recebida, a repetição redundante dessas expressões, mantém os interlocutores falantes em contato, sem produzir respostas a essas perguntas, fixando-os na sintonia do canal.” (CHALHUB, 1990, p.29). É apenas uma verificação: o interlocutor continua ouvindo? Está prestando atenção? “Marketing é a área do conhecimento que engloba todas as atividades concernentes às relações de troca, orientadas para a satisfação dos desejos e necessidades dos consumidores” (SEBRAE, 2012). A função metalinguística ocorre quando o discurso focaliza o próprio código utilizado, ou seja, o código faz referência ou é usado para explicar o próprio código. A linguagem fala sobre a própria linguagem, procura falar do próprio código ou verificar se ele é comum ao emissor e ao receptor. Quando fazemos questionamentos sobre o significado das palavras e dos termos utilizados (“o que é que você quer dizer com isso?...”, “que é que significa isso?”), quando damos explicações sobre algo dito ou escrito (“Quero dizer com essa palavra...”, “Isto é...”, “ou seja”). A função metalinguística tem a finalidade de explicar, definir, ensinar, como no diálogo a seguir: “ESSAS SÃO AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM. COMPREENDERAM? VOCÊS CONCORDAM COMIGO?” POSSO CONTINUAR, NÃO É? HUM, HUM! (OBSERVE QUE HÁ USO DA FUNÇÃO FÁTICA AQUI.) 2.5 Função Metalinguística -o código em questão Acompanhe o texto abaixo: “- Hoje em dia, fala-se muito em turismo sexual. O que isso signi ca? - Turismo sexual é uma atividade ilegal que consiste em trazer turistas, geralmente estrangeiros, oferecendo-lhes relações sexuais com mulheres e até mesmo adolescentes e crianças da região visitada.” 123 Leitura e Produção de Texto 14 Observe que o emissor pergunta sobre o significado de um signo desconhecido para ele - turismo sexual. O receptor, por sua vez, “traduz” esse signo em outros signos mais conhecidos. Assim, a explicação dada na resposta é metalinguística. O melhor exemplo dessa função são os dicionários, já que os verbetes apresentam os significados das palavras, com explicações detalhadas. Além dos dicionários, as definições de palavras cruzadas, os textos didáticos (definições e explicações de termos), as enciclopédias, as gramáticas e mesmo esta nossa apostila são metalinguísticos por excelência: usam palavras para explicar o significado de outras. Dizemos que há metalinguagem quando se utiliza um código para se falar dele próprio. Assim, um filme que discorre sobre o próprio cinema, uma peça de teatro que tem por tema o teatro ou uma poesia que fala sobre o fazer poético, uma legenda (explicação que acompanha foto ou ilustração: um código verbal traduzindo outro) são exemplos de utilização da metalinguagem. Você já estudou cinco funções da linguagem; agora, falta apenas a função poética. Tome fôlego! Vamos lá! 2.6 Função Poética – o arranjo especial de palavras Observe os textos abaixo: Texto 1 “Faz frio nos meus olhos... o relógio da central pulsa em meu peito marcando a jornada de operários no inferno das marmitas.” (Sidnei Cruz) Texto 2 Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices vorazes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas... (...) (Cruz e Souza) Você percebeu que, nos textos acima, o significante (forma de expressão) é trabalhado na sonoridade, no ritmo poético, na construção de imagens expressivas, na disposição gráfica das palavras no papel, na repetição, na utilização das figuras de linguagem? Claro que sim, não é? Então, não é difícil visualizar que a função poética é aquela em que a mensagem se volta para si mesma (para a própria mensagem), quer na seleção e combinação de palavras, quer na estrutura da mensagem. Na função poética, são ressaltados alguns aspectos do trabalho com a linguagem, evidenciando o lado palpável do signo. Ela é dominante na poesia, mas é muito frequente aparecer em outros tipos de texto como acessória, tais como: jogos de linguagem, propaganda, slogans, ditados e provérbios e em textos em prosa, desde que o autor busque a melhor estruturação possível da mensagem. A linguagem poética explora o sentido conotativo das palavras. Veja, agora, um quadro-resumo dos seis fatores do processo de comunicação verbal com as funções da linguagem que lhes correspondem: Atenção!!! Agora que você já conheceu as seis funções da linguagem, é extremamente importante que você preste atenção aos esclarecimentos a seguir. 2.7 Simultaneidade e Transitividade das Funções da Linguagem Importante: um mesmo texto pode apresentar diversas funções, o que caracteriza a simultaneidade das funções da linguagem; há, no entanto, uma que se sobressai, ou seja, uma função predominante, a qual é identi cada pela hierarquia das funções. Assim, a noção de hierarquização (dentre as várias funções, haverá uma principal e outras secundárias) é importante para que você perceba a nalidade principal da mensagem, como o texto se constrói, quais as intenções de seu produtor e as várias nuanças de signi cação do texto. Lembre-se: quando um texto apresenta simultaneidade das funções da linguagem, determine a nalidade da comunicação. Todo emissor, ao produzir um texto, tem em mente determinado objetivo ou intenção: informar, entreter, transmitir prazer, convencer, seduzir, vender, enganar, etc. Você, no papel de receptor, deve ser um leitor consciente e identi car as marcas que traduzem as intenções ou nalidades de quem o produziu. Analisemos os textos a seguir para ver como isso ocorre: (ANDRADE & HENRIQUES, 1999, p. 29) Perceba que os textos publicitários acima utilizam a linguagem poética como um recurso estratégico para facilitar a memorização. Além disso, a função referencial também aparece nos textos, já que o ato de informar encontra-se subentendido em todas as mensagens. No entanto, a função conativa é a predominante no texto. Outro exemplo: (anúncio de venda de imóvel) GUARUJÁ!! Jovem jornalista vende seu apartamento, ninho comprado com muito amor e carinho. Veja só: pertinho do mar, com dois dormitórios, dois banheiros, sala com terraço. Tem ainda boa cozinha, área de serviço, garagem. Mobiliado!! Prédio novinho! Com dor no coração vende por 9 milhões a vista. TRATAR no seguinte endereço: Av. D. Pedro I, 70 ou pelo telefone 22-5927. (ANDRADE & HENRIQUES, 1999, p. 28) 124 15 Esperto como você é, percebeu que a finalidade desse anúncio é vender o imóvel, certo? Assim, apresenta a função conativa da linguagem como principal. Para vender o imóvel, o anunciante passou informações a respeito dele, o que exigiu o uso da função referencial. Também, ele fez uso das funções emotiva e poética, pois demonstra seus sentimentos e utiliza a conotação (ninho) e a seleção de palavras. No entanto, se seu objetivo é influenciar o receptor a comprar o apartamento, predomina no anúncio a função conativa/apelativa. Quanto à transitividade das funções da linguagem, de forma bem simples e objetiva, podemos dizer que ocorre quando outras funções da linguagem são empregadas no lugar da que deveria aparecer. Procure observar algumas propagandas e veja, por exemplo, que em vez de apresentarem a função conativa, utilizam a função referencial, como é o caso de propagandas de novos lançamentos de carros, que apenas descrevem o novo modelo. A linguagem informativa, na verdade, retrata o apelo subentendido ao consumidor. Percebeu a grande utilidade da identi cação das funções da linguagem para a análise e produçãode textos? Certamente você deve ter aprendido que, ao identi car qual elemento de comunicação a mensagem está centralizada, você capta a nalidade da mensagem, e, consequentemente, a principal função da linguagem, ou seja, você interpreta devidamente o texto. Para concluir este estudo sobre as funções da linguagem, vale dizer que, na língua falada, é fundamental que se analise a língua em uso, pois a compreensão precisa ir além - não pode depender apenas de uma decodificação linear dos vocábulos utilizados no enunciado. Por exemplo: se alguém está em um ambiente fechado num dia de muito calor, pode se dirigir a outra pessoa, dizendo: "Ufa, que calor, hein!". Sua intenção, nessa situação, não é a de estabelecer um contato (função fática) ou de exprimir uma sensação apenas, mas a de pedir para que o outro abra a janela, ou ligue o ventilador, ou seja, pode ser um pedido indireto. Desse modo, a mensagem só será entendida se o interlocutor estiver ligado na situação, decodificando possíveis gestos e expressões faciais do falante. Pense, por exemplo, nos textos humorísticos ou nas piadas, os quais exigem inferências por parte do ouvinte, já que seu conteúdo deve ultrapassar o sentido literal - o âmbito da mera significação das palavras - para serem entendidos. (PEAD, 2012) Retomando a aula Chegamos ao m desta primeira aula. Se você entendeu tudo o que foi apresentado, não vai ter di culdade em resolver as atividades propostas. Se não entendeu algum tópico, leia novamente o conteúdo com bastante atenção. Não tenha pressa de passar à frente. Siga devagar e sempre! Agora, vamos recapitular alguns conceitos básicos desta aula? 1 - Linguagem e os processos de comunicação Na Seção 1, foi possível entender que, para exercer atos de comunicação, dispomos de várias linguagens. Quando usamos as palavras da língua portuguesa, tanto na forma oral como na forma escrita, usamos a linguagem verbal. Ao usarmos outros signos diferentes da palavra (desenhos, sons, gestos etc.), dizemos, então, que estamos usando a linguagem não verbal. Também, simultaneamente, as linguagens verbal e não verbal podem ser utilizadas, trata-se aí da linguagem mista. Vimos, também, que, em todo o tipo de comunicação, verbal ou não verbal, o elemento utilizado para representar o objeto referente da mensagem é chamado signo, que é “a menor unidade dotada de sentido num código dado”. (VANOYE, 2002, p. 21). Um signo linguístico é um elemento representativo que apresenta dois aspectos que se unem: um significante e um significado. Ainda, aprendemos que os seis elementos que integram o processo de comunicação são: emissor, receptor, código, canal, mensagem e referente. Refletir sobre eles assegura a eficácia da mensagem, pois a comunicação só se realiza quando todos os seus elementos funcionam apropriadamente, quando não há ruídos. 2 - A Linguagem e suas Funções - Prosseguindo, na Seção 2, observamos que, em cada texto, dependendo de sua finalidade, destaca-se um dos elementos da comunicação e, por conseguinte, uma das funções da linguagem: referencial, emotiva, conativa, fática, poética e metalinguística. Estudamos que em um mesmo texto pode haver simultaneidade das funções da linguagem e, para que saibamos qual é a principal, precisamos determinar a finalidade/o objetivo da comunicação. Também destacamos que o estudo das seis funções da linguagem deve estar relacionado aos constituintes da situação comunicativa, aos contextos reais de interação. BLIKSTEIN, I. Técnicas de Comunicação Escrita. 20 ed. São Paulo: Ática, 2002. CHALHUB, S. Funções da linguagem. 4 ed. São Paulo: Ática, 1990. PLATÃO, S. F. & FIORIN, J. L. Para entender o texto: leitura e redação. 16 ed. São Paulo: Ática, 2002. VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. 11 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. www.geocities.com/Athens/Atlantis/4403/comunica.htm www.gargantadaserpente.com/linguagem/index.shtml - 17k - www.brasilescola.com/redacao/linguagem.htm www.artigonal.com/ensino-superior-artigos/lingua-e- linguagem-3201224.html http://pt.scribd.com/doc/3671916/Portugues- PreVestibular-Impacto-Linguagem-Verbal-e-Nao-Verbal http://acd.ufrj.br/~pead/tema01/lingfuncoes.html Vale a pena Vale a pena ler Vale a pena acessar 125 Leitura e Produção de Texto 16 • YOU TUBE. Linguagem e comunicação. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=CdpVNTUeB_U Acesso em 25 abr. 2012. • YOU TUBE. Linguagem. Disponível em: <http://www. youtube.com/watch?v=dkpXyH6UVy8&feature=related> Acesso em 25 abr. 2012. • YOU TUBE. Linguagem verbal e não verbal. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=1R8oj5UkaSk> Acesso em 25 abr. 2012. • YOU TUBE. Processo de comunicação. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=_C3AmzKpJbQ> Acesso em 25 abr. 2012. • YOU TUBE. Funções da linguagem. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=mzq1ax8ZIbI> Acesso em 25 abr. 2012. Vale a pena assistir Atividades da Aula As atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta “Sala Virtual – Atividades”. Após terem lido atentamente os assuntos aqui abordados, respondam e enviem essas atividades por meio do Portfólio - ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. OBS.: Não esqueçam! Em caso de dúvidas, acessem as ferramentas “fórum” ou “quadro de avisos” para se comunicar com a professora. Minhas anotações 126
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