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CURSO DE PSICOLOGIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO GABRIEL ARMANDO DE DAVID FADANELLI A NOÇÃO DE SUJEITO EM FOUCAULT E SUA CONTRIBUIÇÃO AO SABER PSICOLÓGICO ORIENTADORA: SIMONE CHANDLER FRICHEMBRUDER CAXIAS DO SUL 2016 2 A NOÇÃO DE SUJEITO EM FOUCAULT E SUA CONTRIBUIÇÃO AO SABER PSICOLÓGICO Gabriel Armando De David Fadanelli Simone Chandler Frichembruder Resumo: Este trabalho apresenta uma releitura das obras de Foucault e seus intérpretes. A partir de uma leitura de tais produções foi possível levantar ideias sobre diálogos possíveis entre os pensamentos de Foucault e a psicologia. Foi explorada a interação de movimentos filosóficos que interagiram com seu trabalho, de modo a contextualizar as idéias presentes neste artigo. Além disso, foram exploradas idéias onde o olhar Foucaultiano voltava-se aos mesmos recônditos que a psicologia, ou seja, o indivíduo e seus processos de subjetivação. Foram delineadas noções das ideias que Foucault construiu sobre o poder e suas manifestações. Foi concebido que o exercício do poder é inerente ao trabalho acadêmico e as práticas da psicologia, devendo atentar-se à maneira como ele circula. Palavras-chave: Sujeito. Foucault. Psicologia. THE NOTION OF SUBJECT IN FOUCAULT AND ITS CONTRIBUTION TO THE PSYCHOLOGICAL KNOWLEDGE Abstract: This paper presents a crytical revision of the works of Michel Foucault and his interpreters. After a reading of such productions it was possible to raise ideas on possible dialogues between Foucault’s thoughts and psychology. The role of the different philosophical movements concerning their interaction with his work was explored in order to contextualize the ideas presented in this paper. Also, ideas where Foucault’s views met with the ones that is the primary concern of psychology, that is, the individual and its subjectivation processes were explored. Notions on Foucault’s ideas on power and it’s manifestations were outlined. It was conceived that the exercise of power is inherent to the academic work and the pratices of psychology, making it necessary to consider the way it circulates. Keywords: Subject. Foucault. Psychology. Graduando do Curso Superior em Psicologia do Centro Universitário da Serra Gaúcha. * Professora do curso de Psicologia do Centro Universitário da Serra Gaúcha. Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 3 1 INTRODUÇÃO A necessidade de escrever, bem como de dialogar sobre a subjetividade quando se é produzido algo em psicologia provém de seu caráter epistemológico que não abre espaços férteis para construções demasiado objetivas (CAPRA, 1993). A partir daí as incertezas do ser humano e de suas ações são colocadas em xeque, tendo sua compreensão pressuposta em um devir da cultura em oposição à universalidade de conceitos do saber positivista da ciência tradicional. Candiotto (2006) nos apresenta a noção de que o status quo de sujeito ou objeto dependem da relação histórica onde estão, bem como não podem ser vistos como unidades estanques, mas sim formados através de jogos, práticas sociais ou mesmo a própria necessidade. Logo, urge a necessidade de colocar em perspectiva a relação de poder, sujeito/objeto oriunda do saber psicológico formado na academia. Entretanto, tal empreitada não é simples e nunca o será, pois é complexa em essência, e laboriosa por consequência. Sua complexidade provém do grande número de variáveis que influenciam no assunto. Laboriosa é a análise de todas as variáveis, pois raramente são palpáveis e podem interagir de maneiras demasiado obscuras para descrição remotamente fiel. De modo a explorar o que já foi dito sobre o sujeito, este estudo tomou como ponto de partida os trabalhos de Michel Foucault (1926-1984) que, dentre variados temas, debruçou-se sobre as relações de poder que ligam e produzem o sujeito. As ideias de Foucault foram adereçadas neste estudo por seu caráter genealógico, permitindo a delineação de pontos de vista e construções relativamente complexas. Para Deleuze (1988), Foucault era visto de muitas maneiras pelas diferentes pessoas que dele falavam, sendo considerado um mero arquivista por alguns, e sucessor de Hitler, por outros. Entretanto, era certo que ele buscava negligenciar qualquer tipo de hierarquia vertical, buscando atravessar-se diagonalmente na história. Logo é possível compreender como a visão de Foucault tinha em muito pouco a objetividade de um arquivista. Tampouco, talvez se encontraria a posição de um analista ou a convicção vaga de um filósofo. O que ele se propunha se fazer não é claro, tampouco sendo demasiado inacessível. O que é certo, entretanto, é que faz uma cisão no saber tradicional, evocando fantasmas em diversas criações e 4 proposições hegemônicas. Dessa quebra, o que se resultaria quanto a constituição do sujeito? Em Foucault o sujeito não é exatamente fácil de perceber, ou mesmo possível. O sujeito da psicologia, mesmo que menos dogmático do que o da medicina é muito mais claro, e muito se pode falar sobre ele e suas relações (CAPRA, 1993). Entretanto, talvez seja necessário transparecer mais esse sujeito, pois vem já apresentando traços dogmáticos em sua caracterização. Ao falar de alguém, cada autor vai delinear esse ser de uma forma bastante específica. Seria arbitrário afirmar que uma ou algumas estão mais fidedignas do que outras, pois cada uma toma como ponto de partida informações em quantidade e forma diferentes. De uma maneira prática, pensar o sujeito em psicanálise requer pensar seus cuidadores, sua história (NASIO, 2009). Pensá-lo em neuropsicologia evoca seus neurônios e hormônios. A partir de um mapa familiar as teorias sistêmicas da psicologia também falam de algo desse sujeito. Entretanto, eventualmente todas essas teorias acabam por admitir sua falha em alguns pontos e transferem seus cuidados ao tratamento medicamentoso, outra disciplina ou mesmo ao destino, pois suas práticas nada mais podem fazer para ele. O objetivo deste trabalho não foi criar uma base para uma psicologia perfeita. A ideia foi apontar que existem esses pontos cegos ao cuidar do sofrimento psíquico do sujeito, e deve-se falar sobre isso. Para tanto, além de questionar a teoria também foi necessário mencionar os pontos que constituem esse sujeito a ser cuidado, e as ideias de Foucault podem fornecer um arcabouço muito rico à esse questionamento. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Pós-estruturalismo Os estudos de Foucault em pós-estruturalismo advêm de suas constatações sobre o poder e seu exercício, questionando sobre as práticas exercidas em clínica, em uma psicologia social ou institucional. A inserção de um ponto de vista de estudo que busque delinear o pós-estruturalismo neste estudo foi necessário devido ao caráter indelével da filosofia à construção e desenvolvimento da ciência, ou seja, 5 para que exista e se exerça a psicologia, psicanálise e demais práticas de promoção de saúde mental é necessário filosofia. Para tanto, pensar a filosofia é também pensar psicologia de forma meta ou trans científica. Carvalho (2007) afirma que em uma perspectiva estruturalista o corpo transcende o biológico, ocupando assim um espaço de encontro entre o indivíduo e o socius, significado pelas instituições sociais, econômicas, culturais etc. Em todos esses construtos há o exercício do poder e mecanismos altamente dinâmicos que circulam por dentre essas interações e, por conseqüência, com o indivíduo. Além disso, estratégias de promoção de saúde e cuidado “(...) podem contribuir para a saúde das pessoas e, paradoxalmente, constituir práticas de controle sobre os indivíduos e os coletivos” Ibid., p. 2034. De modo a manter essas práticas em movimento, evitando um sistema exploratórioou violento, é necessário pensar em uma filosofia que as questione. A concepção deste movimento filosófico, o pós-estruturalismo, depende inicialmente da construção da noção do termo estrutura. Iorio (2005) situa esse termo como sendo, dentre outras coisas, algo disposto em camadas, bem como a proximidade entre o significado de estrutura e de sistema, esse último aproximando- se mais da ideia geral desta produção. Para tanto, percebemos estrutura como o processo pelo qual os filósofos estruturalistas constroem seu conhecimento (IORIO, 2005). É possível compreender de maneira mais ampla esse movimento quando evidenciado o que lhe era oposto. Logo, percebemos uma clara oposição entre as ideias estruturalistas e as humanistas, historicistas e idealistas (ABBAGNANO, 1998). Dessa maneira, o contraponto feito pelos filósofos estruturalistas e pós- estruturalistas, como Lévi-Strauss, Althusser e o próprio Foucault residia na dominação de um sistema sobre o homem, destruindo assim o sujeito e nascendo a concepção de um indivíduo que existe através dos atravessamentos que lhe perpassam. Costa (2012) determina que existem vários estruturalismos, que diferenciam entre si o suficiente para categorizar-se de maneira diferente um do outro. Por exemplo, o estruturalismo científico de Jacques Lacan é diferente do epistêmico de Pierre Bourdieu que, por sua vez, é diferente também de um estruturalismo semiológico como, por exemplo, o de Roland Barthes. Entretanto, é necessário salientar que Foucault diferencia-se de todos estes outros (ele próprio se considera um antiestruturalista), e mesmo mais de trinta anos após a sua morte não 6 há um consenso claro sobre a categorização de seu trabalho. Para este trabalho, foi compreendida com maior força a ênfase que Foucault dá ao estudo da história, central ao pós-estruturalismo que a colocou para substituir a noção de estrutura. Dessa forma, ao passo que os estruturalistas primordiais consideravam vital o estudo da estrutura como se dava no momento de sua análise, Foucault rejeita o momento atual em detrimento de um passado documentado, buscando denunciar seus ecos no social. Ou seja, o que se sabe atualmente sobre o passado que contribui na construção do ser humano não é correto. O que se sabe nada mais é além do que foi traduzido indiretamente de maneira subjetiva através de um ou mais indivíduos. A proposição de Foucault é a concepção de que a construção da história provém de um documento, e não de um momento histórico. Foucault (2002) apresenta a atitude historicista como uma complicação inerte de documentos, tratados assim como pedaços de matéria morta. Cortados, ditos relevantes ou não, relegados ou glorificados os documentos acabam por transformar-se em uma massa documental, que nada mais era do que uma maneira de coisificar os rastros de uma sociedade. Em mesma obra, Foucault fazia questão de explicitar a radical diferença entre documentos (rastros) e memória (linhas de força). Evocava então a necessidade de sua obra questionar não a metodologia, mas sim as próprias forças que ligam os pontos do saber que definem o método. Nesse ínterim nascem as ideias e os escritos de Michel Foucault. Para Pogrebinschi (2004), as ideias de Foucault acabavam por ser rechaçadas por sua falta de consistência metodológica, sem um senso sistemático forte ou linearidade clara. Pode-se compreender, entretanto, que era exatamente esse o objetivo ao escrevê-la, pois as obras de Foucault abordavam fatos e pontos de vista nunca antes discutidos nos círculos acadêmicos. Além disso, tal maneira de construir suas teorias era condizente com o pensamento pós-estruturalista, negando a sua capacidade de criação subjetiva e relegando-a aos sistemas vigentes. Dessa maneira, era possível manter um discurso relativamente livre, com poucos espaços de atravessamento da academia ou de práticas analíticas provenientes de seus colegas. Quanto aos indivíduos e, por assimilação, a si mesmo, Foucault (2000) apresentou uma teórica mesa redonda entre Nietzsche, Freud e Marx, intérpretes da humanidade. Tal ideia suscitou um desconforto tremendo, colocando assim o próprio ser humano em posição de intérprete de si. Ora, a capacidade de interpretar a si era 7 uma possibilidade há muito apresentada por sacerdotes de mais variados credos através dos códices sagrados, mas a grande diferença entre os autores da mesa de Foucault era o seu caráter de rejeitar o saber divino e grande popularização à época, colocando a responsabilidade de analisar-se à cada indivíduo. Nas palavras de Foucault: “É com essas técnicas de interpretação que, em compensação, devemos interrogar esses intérpretes que foram Freud, Nietzsche e Marx, embora sejamos remetidos perpetuamente a um perpétuo jogo de espelhos.” (Foucault, 2000, p.43). O “jogo de espelhos” apresentado por ele nada mais era do que um reflexo da inconstância e negação do sujeito assim propostas pelo pós-estruturalismo. A produção filosófica e consequentemente epistemológica em psicologia de um sujeito não se dá, para Foucault, a partir de uma construção estanque formulada há muito tempo. Para ele, a construção se dá constantemente, com sucessivas proposições e desconstruções. Dessa forma, não há o que se possa falar de maneira precisa sobre alguém, mas a única maneira de se construir algo é buscando uma noção sobre a construção do sujeito. Nas palavras de Foucault: “Eu não vejo quem possa ser mais antiestruturalista do que eu” (Foucault, 2015, pg.40). Dessa forma, como incluí-lo em um movimento filosófico que ele mesmo se excluía? Naturalmente deve-se fazer a distinção entre o estruturalismo e o pós-estruturalismo, mas, fundamentalmente, é necessário levar em conta a negação radical de Foucault com praticamente todos os movimentos filosóficos aos quais ele se remetia à exceção, talvez, da genealogia. Para Foucault (2015), o esforço estruturalista consiste em eliminar o acontecimento, ou seja, um ponto único e específico que a tudo define. O autor segue explanando que o esforço não deve ser tão somente a recusa desse acontecimento, mas transpor a maneira de pensar os relatos desses eventos ainda além da recusa deles. Ou seja, pensar a história além de uma semiologia ou de uma dialética, de forma que se possa analisar historicamente as relações de poder e explorar os fios que ligam e engendram os fatos afastando-se, assim, das negações inerentes ao pensar filosófico de um ponto específico no tempo. De maneira prática, entretanto, tais análises mais profundas são temporariamente omitidas de modo que se possa analisar documentalmente a história. Para tanto, Foucault (1995) relata que o homem vem escrevendo sobre si próprio há cerca de dois mil anos. Dessa forma, como se poderia escrever sobre si se, fundamentalmente, não há acontecimento ou sujeito? Logo adiante encontramos 8 uma resposta: “Parece-me que toda a dita literatura do si – diários pessoais, narrativas de si etc. – não pode ser compreendida a não ser quando introduzida na estrutura geral e muito rica dessas práticas de si.” (FOUCAULT, 1995, pg. 275). Voltamos novamente ao estudo da estrutura, que logo nulifica a si próprio. Há de se compreender a estrutura do movimento estruturalista, entretanto, ao lembrar-se constantemente de que tal junção de fatores destrói a si próprio tão logo quanto se constrói, Foucault volta ao pós-estrutural. Para que se possa compreender melhor o caos gerado entre a concepção que Foucault tem de si, a concepção que a academia tem dele e aquela aqui construída, pode-se dizer que para Souza e Cunha (2013) o pós-estruturalismo não rejeita propriamente as ideias estruturalistas, acabando por simplesmente radicalizá- las (e tudo que acompanha tal radicalização). Portanto, ao negar que na constituição do sujeito não há tão somente a noção de significantes de Saussure (1993) ouqualquer outra forma centralizada de produção de subjetividade, o pós- estruturalismo põe em xeque todas as teorias que se remetem a isso. 2.3 Foucault e a genealogia Deve-se lembrar que o conceito de filósofo era também rechaçado por Michel Foucault, preferindo referir-se como historiador. Ao explanar seus pensamentos acerca da ciência, Foucault (2015) apresenta o filósofo como o legislador de todas as ciências, um árbitro que tem a função de separar ciência de ideologia. Rejeita esse papel, e prontamente apresenta-se ligado ao estudo da reclusão, da sexualidade, etc. e adiciona que o seu projeto é na realidade realizar uma (em oposto de a) arqueologia das ciências humanas. A metodologia de um estudo do ser humano, como o da psicologia deve ater- se a fins mais ou menos reducionistas, mais ou menos dogmáticos, de modo que possam constituir-se na trama da organização social. Entretanto, a maneira que se dará esse olhar, fundamentado em uma epistemologia fragmentada dentre filosofias de épocas e métodos diferentes pode perfeitamente bem ser algo de quimérico: “Portanto, não basta afirmar que o sujeito é constituído num sistema simbólico. Não é somente no jogo dos símbolos que o sujeito é constituído. Ele é constituído em práticas verdadeiras – práticas historicamente analisáveis. Há uma tecnologia da constituição de si que perpassa os sistemas simbólicos ao utilizá-los.” (FOUCAULT, 1995, pg. 275). 9 Quando se retoma a negação do sujeito e do acontecimento pensando, também, as linhas de poder apresentadas por Foucault é necessário pôr em xeque algumas construções da episteme psicológica. Dessa maneira é possível voltar ao jugo de um sistema qualquer sobre um indivíduo qualquer, apontando-se a necessidade de analisar-se, antes de um construto dialético, um fato qualquer em si. Fato em oposição de acontecimento, além da vontade de verdade inerente ao relato historicista. Para a construção do discurso expresso por essas linhas, é necessário transgredir, ao menos um pouco, as proposições de Foucault. Para ele, a razão só ocupa esse lugar a partir da exclusão extrema, violenta, da loucura (NEWMAN, 2005). De modo que esse trabalho possa tomar algum senso científico, tem de ter razão, algo de racional. A paixão acaba por excluir-se dos meios científicos como sujeito, é só objeto. Para tanto, é necessário forcluir, por assim dizer, qualquer noção de loucura. A transgressão se dá aí: como manter à distância um tema tão apaixonante ao autor que agora inspira a escrita desse discurso? Poder-se-ia dizer que fundamentalmente não é digno construir algo nesse formato, ou relegar a uma pura crítica teoria. Entretanto, se possível, propõe-se deixar de lado momentaneamente a razão. Em seu lugar é possível colocar algo de diferente, algo que negue o julgamento e a ponderação inerentes do raciocínio. A proposta então pode ser esboçar, delinear rapidamente um sujeito. Um esboço pode captar a essência de maneira mais clara que uma fotografia, assim como o livro acaba por suscitar emoções tão ou mais fortes que as imagens perfeitas do filme. A precisão de uma lâmina de bisturi pode manter-se ao cirurgião, entretanto, o muito mais irracional lápis têm maior afinidade com o discurso de Foucault. Para que se possa produzir algo de salutar e libertador, é mais adequada uma noção aberta, imprecisa e mutável do que algo construído com uma finalidade estanque, como uma noção de subjetivação do ser humano que seja conclusiva em si própria. Rejeita-se aqui qualquer noção de poder, refutando a habilidade de refutar outras verdades, abrindo espaço para atravessamentos tão livres quanto possível, o mais desamarrado do positivismo quanto permitido pela academia. Para Foucault (2014), a ciência detém um discurso próprio, que evoluiu ao passar do tempo de acordo com a sua vontade de verdade. Dessa forma, compreendendo essa vontade como um sistema de exclusão, refutando o que é 10 errado e institucionalizando o que é verdade da maneira como melhor se aprouver (nos sistemas de educação, pedagogia, academia e mesmo na própria política), a prática do discurso epistemológico é mantido em lugar e modo de maneira inconstante. Dessa forma Foucault recorda o princípio grego “a aritimética pode bem ser o assunto das cidades democráticas, pois ela ensina as relações de igualdade, mas que só a geometria deve ser ensinada nas oligarquias, pois demonstra as proporções na desigualdade” (FOUCAULT, 2014, pg. 17). Para tanto, o discurso de verdade tomado para delimitar o sujeito da psicologia é um de precisão, que retoma a história desse indivíduo de maneira vertical e totalitária, de maneira progressiva enquanto utilitária para sua inserção no socius. Ou seja, pode- se perfeitamente bem esboçar-se um sujeito com um lápis, mas à medida que esse esboço se transforma em laudo, e esse laudo se transforma em documento, perpassado então pelas práticas jurídicas que serão responsáveis por autorizar o trabalho médico do bisturi em, por exemplo, uma cirurgia de mudança de sexo. A precisão do bisturi também poderia ser substituída nesse contexto pela medicalização de um assim chamado degenerado, utilizada com o aval da psicologia nas castrações químicas utilizadas na Europa no século passado. Deve-se ter em mente o poder inerente ao discurso ao falar algo sobre alguém. Agora que foi possível clarificar a proposta deste trabalho é possível formalmente iniciar sua construção. Candiotto (2007) refere-se a genealogia como a reconstrução da história, principalmente das suas partes tidas como universais, dogmáticas. O caráter genealogista de Foucault se revela em sua obra, subvertendo a ideia geral rígida tida sobre os loucos, os depravados, os criminosos. Todavia, seria possível uma genealogia objetiva, certeira? A história é composta por fragmentos que devem ser postos em ordem, ciência aperfeiçoada pelo historiador. O genealogista tem o papel determinante de correlacionar. Além disso, o genealogista procura pelos fragmentos perdidos, pois em sua omissão falam muito mais do que o expresso e pelas linhas invisíveis que ligam os acontecimentos. Invisíveis sim, entretanto podem ter cheiro e gosto, serem ouvidas e sentidas. Foucault (2000) diz que a história é povoada em seu discurso por análises etnológicas e sociológicas. Não poderia deixar de ser, pois senão o historiador nada mais seria além do arquivista que acusavam Michel de ser. Essa busca pelas relações históricas, portanto, é imperativamente subjetiva. 11 O genealogista, por tanto que busque se afastar de um historicismo clássico tem de adicionar algo à equação. Para tanto Foucault (2015) afirma que a origem de um acontecimento sempre tem algo de quimérico, pois o início de sua história acontece tão somente quando algo falha e se rompe, pois nada se fala do cotidiano que é perfeito, caso já tenha existido. Logo “É preciso ser metafísico para lhe procurar uma alma na idealidade longínqua da origem” (FOUCAULT, 2015, pg. 61). O trabalho do genealogista é, sobretudo, buscar onde se encontram as falhas e os percalços, aquilo que a história acabou por omitir ou refutar (FOUCAULT, 2015). Dessa forma encontramos uma linha bastante clara dentre os estudos de Michel Foucault e a sua concepção do trabalho genealógico. Seu foco sempre foi sobre os anormais, delinquentes, loucos e depravados da história. De maneira análoga, a psicanálise também busca em sua prática os pontos onde a história do sujeito não pode ser narrada, onde algo se omite (LACAN, 1998). Talvez isso explica a proximidade dos campos (ainda que em discussões fervorosas) da psicanálise francesa e os trabalhos de Foucault, conterrâneos e contemporâneos entre si. A grande diferença talvez tenha sido o foco extenuante tomado pela psicanálise em suas práticas dialéticas, constantemente questionadas por Foucault. 2.4 Subjetividadeem Foucault Essa subjetividade provém de um grande número de atravessamentos das experiências pessoais de cada um, sendo elas práticas ou mesmo teóricas. O motivo para isso provém do fator subjetivo presente em todas as relações com a ciência, produzindo-a ou mesmo tentando compreendê-la. A partir daí podemos conceber a necessidade de um estudo do ser, do sujeito enquanto um (re) produtor de saberes, atravessador e atravessado pela cultura. Zizek (1996) retoma a tese de Lacan, afirmando que toda a verdade tem uma estrutura de ficção. Tal colocação é de vital importância ao atravessar-se sobre um outro, pois denuncia a fragilidade de um saber enquanto subjetivo. Sabendo disso, Foucault se insere diagonalmente, subvertendo de maneira a não destruir completamente a ordem geral para não criar a necessidade de outra, talvez ainda menos digna que a anterior. Ora, para o tema em questão tal posição é altamente desejável. Os motivos são muitos, mas o principal deles é o caráter 12 paradoxalmente temporal e atemporal do ser. Seres humanos são o que são, uma espécie biológica em evolução. Entretanto, seria um descuido tremendo dizer que um camponês medieval é igual ao homem de negócios de wall street. Suas roupas serão diferentes, seu andar e seus maneirismos. Dá-se aí a subjetividade, e de dois organismos biológicos iguais nascem dois sujeitos diferentes. Foucault reconhece essa diferença, olhando através da informalidade e do indigno em detrimento das heranças formais para inscrever sua visão de sujeito (IORIO, 2005). A visão de ciência tida por Foucault era deveras complexa, e comumente rejeitava a epistemologia predominante: “Eis aí a “natureza”, e é isso que é preciso empenhar-se em conhecer. Tudo seria imediato e evidente se a hermenêutica da semelhança e a semiologia das assinaturas coincidissem sem a menor oscilação. Mas, porque há uma “fenda” entre as similitudes que formam grafismo e as que formam discurso, o saber e seu trabalho infinito recebem ali o espaço que lhes é próprio: eles terão que trilhar essa distância, indo, em um ziguezague indefinido, do semelhante ao que lhe é semelhante. ” (FOUCAULT, 2000, p.25). Tais construções são de grande valia ao estudo do subjetivo, do incerto. Quaisquer que sejam as colocações objetivas, só serão corretas em determinado recorte com um escopo extremamente limitado, e raramente servem para delinear de qualquer maneira satisfatória um indivíduo, um corpo inscrito na cultura em sua vida. Para tanto, as percepções apresentadas acima nada têm de objetivo ou tradicional, e podem ser utilizadas para conceber e falar sobre o que também não o é. 2.5 O sujeito e o poder A importância do estudo do poder se dá por seu teor controlador, que em vistas das maneiras de organização social como o próprio capitalismo ou as instituições acaba por nulificar o sujeito em detrimento da sobrevivência das forças que detêm esse poder. O poder se encontra na própria diferença entre a noção de sujeito e indivíduo. O indivíduo pode sujeitar-se, e o conceito seria então um que submetido ao controle do outro, bem como um indivíduo que, ao tomar consciência de si, apropria-se da sua própria identidade (FOUCAULT, 2002). Em ambos os casos há linhas de poder envolvidas que permitem uma maneira diferente de existir 13 ao indivíduo, dando a possibilidade de sair de um conceito que puramente o separa de um coletivo. É também necessário pensar nas maneiras como esse poder vem a existir, na maneira como é exercido. Foucault (1978) apresenta o poder do Estado que, dentre outras atribuições permite que o indivíduo exista. Entretanto, tal permissividade não constitui caridade ou amor, mas sim um exercício de poder que exige uma maneira específica de individualidade e, falhando a pessoa em incluir-se nela, é segregada aos manicômios ou prisões. Para tanto, pode-se pensar que a maneira de contestar esse poder é, possivelmente, somente exercendo um poder próprio, subjetivando-se. O problema é que o exercício de poder existe a partir do substrato do poder do Estado, transmitido através da instituição e o indivíduo só é sujeito em detrimento aos outros sujeitos filtrados pela instituição, tal qual a ciência. Dessa maneira, cada indivíduo exerce o seu micropoder em suas relações, dentro das instituições em que circula. O Estado delineia algumas das formas em que esse poder será exercido, mas fundamentalmente o exercício de poder se dá nas relações e encontra ecos no socius. A possibilidade de exercer esse poder permite coesão entre as pessoas, bem como a própria existência de um grupo social. A justiça, expoente do poder do Estado tem suas maneiras próprias de exercer controle sobre os indivíduos. Foucault (2000) apresenta o caso de Pierre Rivière, julgado por ter assassinado sua mãe, irmã e irmão. Nesta obra, ele apresenta um sem-número de atravessamentos presentes nesse caso e mesmo no próprio sujeito, Pierre, que acabava por vezes em se contradizer e mesmo desqualificar qualquer caso judicial coeso que poderia fazer justiça. Esses atravessamentos passavam pelo discurso dos vizinhos, do pai, do sistema judiciário, dos médicos da província. Cada um desses atores acabava por reiterar ou nulificar o depoimento ou estudo do outro. Dentro da obra há um depoimento de próprio punho do camponês assassino, feito inusitado agora na contemporaneidade, único na época do crime, 1836. De Pierre nada mais restava, seu próprio relato foi analisado e processado como evidência. O exercício do poder dos magistrados e médicos devorou Pierre sobrando, assim, um louco homicida. De sujeito muito pouco havia sobrado, mesmo que a experiência tenha servido como algo a subjetivar as práticas dos envolvidos no processo. Fischer (2001) analisa a perspectiva sobre o poder em Foucault. Para ela, a prática está imersa em relações de poder e saber. Os diversos agrupamentos sociais detêm seus próprios campos discursivos, e a construção de seus conceitos 14 deles dependem. O indivíduo pouco faz por si próprio nessa esfera, mas sim pela rede conceitual a que pertence. O discurso em Foucault, para ela, tem uma quase total autonomia e não dependem necessariamente do mundo objetivo. Qual é a relação entre o próprio sujeito e o saber que foi dito sobre ele? Considerando que em ambos os lados, ou seja, tanto o sujeito que produz o saber quanto aquele que incute um a alguém são únicos e autônomos em seus discursos, que se pode dizer sobre alguém? Um ponto de partida poderia ser pensar não em falar de alguém, mas em estruturas permeadas pelo poder: “...mas sim de estuda-lo sob a perspectiva de sua externalidade, no plano do contato que estabelece com seu objeto, com o seu campo de aplicação. Trata-se, afinal, de buscar o poder naquele exato ponto no qual ele se estabelece e produz efeitos.” (POGREBINSCHI, 2004, p.4). Para tanto, pode- se considerar relativizar esse sujeito quanto ao seu meio, de modo a abarcar os saberes do campo discursivo e as relações de poder que lhe tocam. Pode-se saber de alguém, algo sim, mas como separar esse sujeito do que lhe atravessa? Para Pogrebinschi (2004), o poder para Foucault não era detido por ninguém, mas sim é algo inconstante que circula por dentre uma rede de maneira que cada um dos membros dessa malha exerce ou é submetido por esse poder. Nessa circulação, o poder acaba por construir e destruir, de maneira concomitante. Dessa maneira, Foucault (2002) fala que o poder é utilizado dentro das instituições de modo a manter a sua existência e garanti-la. A partir daí, cada um dos membros reproduz a ordem vigente e incute seu próprio poder sobre alguém que o receberá, circulando de maneira ordenada. Saber sobre um desses reprodutores implica uma série de questões, pois não pode ser isolado. Entretanto, é possível que no reproduzir, algo se produza e ou se destrua. Nessa falha surgecomo signo, esse sujeito. É possível, neste ponto, retomar o discurso da vontade de verdade presente na psicologia atual. Assim como o estudo da história, a psicanálise vem sendo criticada pelos seus pares da psicologia, e mesmo de outras áreas que com ela constroem algum saber. Em nota recente Ivan Izquierdo, cientista renomado pelos seus estudos em memória afirmou que a psicanálise nada tem a oferecer como prática de saúde, mas sim um tratamento puramente estético (IZQUIERDO, 2016). Aparentemente não há o que se falar sobre neurociências em Foucault, pois tais estudos vieram após seu falecimento, entretanto pode-se perfeitamente bem retomar 15 seus estudos sobre os indignos e os excluídos em História da Loucura. Foucault (2010) fala dos loucos que tinham, como diferença crucial do resto da população, sua inabilidade de trabalhar. Muito além da coesão de seu discurso, o cuidado com o louco era derivado do exercício de poder vigente no século XVIII. De maneira análoga, o cuidado com a saúde mental no século XXI pode perfeitamente bem ser transportado para um cuidado baseado no fazer com neurotransmissores e neurônios. Entretanto, assim como com o louco em eras passadas, como se há de levar aparelhos de ressonância magnética às periferias e aos sujeitos de baixo poder aquisitivo? A neurociência, em sua vontade de verdade própria, acaba por buscar excluir os saberes da psicanálise que, desde Lacan, preocuparam-se tão somente com o discurso proveniente do espaço criado entre analista, analisante e o Outro, sem necessidade dos equipamentos tornados indispensáveis pelo discurso científico atual. Toda a metodologia vem sendo certamente perfeitamente bem construída, com amostragens e cuidados altamente específicos, entretanto, o atravessamento do poder do capital presente nestes métodos deve ser levado em conta. A falha no método é subjetiva em si, pois provém da construção dos sujeitos ali implicados. Para Foucault (2014), a análise do discurso (nesse caso, do discurso da vontade de verdade da ciência) não desvenda-o completamente, mas sim expõe a sua rarefação, aponta a rachadura em sua existência. Assim como a psicanálise busca visualizar o ponto no discurso onde há uma falha (num ato falho ou chiste, por exemplo), a subjetivação tal qual explicitada por Foucault aponta essas falhas onde se possa construir algo de novo. 2.5 O biopoder Ora, situando o sujeito em uma trama de significantes é necessário também situá-lo em sua posição diante os outros sujeitos. Pelbart (2013) situa o biopoder como a forma de poder que se utiliza da própria vida de outrem para exercer sua vontade sobre outra pessoa ou grupo. Vende-se a história e experiência, adquire-se influência a partir do que se diz que foi experienciado, enfim, subjuga-se a partir do viver. 16 O capital muitas vezes acaba por fazer às vezes de exercício do biopoder. Os serviços de um psicoterapeuta são naturalmente cobrados, sendo então utilizada a experiência e a instituição da educação de maneira a exercer uma espécie de poder terapêutico sobre a vida de um sujeito. Como pensar em um serviço prestado baseado em uma relação de poder? Certamente esse sujeito em sofrimento, que tem um poder exercido sobre ele também exerce o seu sobre outrem ou, ao menos, é atravessado por situações análogas (POGREBINSCHI, 2004). Seria ingenuidade, entretanto, situar uma forma diferente de organização social que venha a excluir o exercício do biopoder. Mesmo que o capital seja expoente do biopoder na pós-modernidade capitalista, uma sociedade comunista ou baseada no escambo também teria formas próprias de exercê-lo. Dessa forma, não é necessária a presença direta do capital quando considerando o exercício do poder. Pelbart (2013) ressalta que tudo que concerne à vida vem sendo tomado pelo poder. Dentro disso, o próprio sintoma também o é. Dessa forma, sujeitos que se encontram insatisfeitos quanto à sua vida procuram alguém que detenha um saber sobre seu sofrimento, um psicólogo, psicanalista, etc. Encontra-se seu sintoma, que faz parte da sustentação de seu sofrimento. A partir daí, são exercidas técnicas que possam vir a atenuar esse sintoma. Entretanto, quando esse sintoma precisa de um medicamento para ser atenuado, e existe tanto nos manuais médicos quanto na vida, esse sintoma pode ser isolado e tratado levando em consideração seus atravessamentos como um mero plano de fundo? Para Coelho (2006), podemos pensar o poder como uma onda, com infindáveis modulações e ramificações. O sujeito isolado não existe, pois os mecanismos de controle não chegam à ele e falham em reconhecer sua existência, não possui documentos e nem um número que dite sua posição dentro da sociedade. Obviamente os atravessamentos provenientes das relações de poder dentre os indivíduos tem maior ou menor força. Por exemplo, as marcas feitas no psiquismo pelos pais e pela criação são indeléveis, de força quase absoluta (NASIO, 2009). Ora, a consideração desses atravessamentos tem uma importância vital ao discurso de sujeito da psicanálise. Entretanto, como é possível considerar as ondulações de poder provenientes do resto da vida? Um filho, com os atravessamentos de criação, mais os atravessamentos da sociedade e das instituições tem a sua subjetivação diretamente atrelada aos círculos de poder de todos os atores envolvidos. De si próprio o que existe? 17 À ciência as ondulações de poder se aplicam tal qual ao indivíduo, mas de maneiras diferentes. Há um dinamismo na construção dos saberes que atravessam os indivíduos, mecanismo que permite que eles conversem entre si e passem a exercer seu poder sob formas novas e diferentes de uma simples soma de suas partes. Considera-se aí a interdisciplinaridade. Foucault (2015) afirma que os diferentes discursos de libertação também são em si provenientes de construtos do poder acerca dos indivíduos. Ou seja, a partir de discursos libertadores acerca da sexualidade em si iniciaram-se tantos outros (homossexuais, feministas, etc.). Constrói-se então uma rede que permita abarcar os novos discursos em sua compreensão, evocando outros saberes que falem do que ainda não foi explicado. Dessa forma, ao liberar-se do rechaço causado anteriormente por um mecanismo político, inicia-se uma repressão científica que sabe de suas práticas, conhece-as bem e compreende como evoluir e constituir-se. Quando o poder que emana do indivíduo é nomeado, torna-se fonte de capital e, consequentemente, de poder ao entrar no sistema vigente, nomeável. A obra de Aldous Huxley de 1932 Admirável Mundo Novo retrata uma sociedade onde os indivíduos tinham vidas semelhantes àquelas percebidas nas sociedades modernas ocidentais na época. A história tem uma série de similaridades com a obra de George Orwell 1984, publicada em 1949. Ambas retratam uma sociedade que, se não por algumas poucas coisas dissonantes, seriam um retrato bastante fidedigno da sociedade moderna. Em 1984 haviam, dentre outras modificações, as teletelas, em Admirável mundo novo, a soma. Na obra de Huxley, os cidadãos trabalhavam, tinham relações de amizade com outros indivíduos e se locomoviam livremente. Entretanto, quando eram incomodados por alguma espécie de mal-estar, faziam o uso de uma droga chamada soma, que imediatamente restaurava o bem-estar e o humor normal. Além disso, todas as pessoas retratadas na obra (exceto o protagonista) mantinham relações sexuais sem construir relacionamentos estáveis com um parceiro e as crianças nasciam de maneira automatizada. Ou seja, não haviam famílias nem individualidade de qualquer forma, tanto que os personagens são retratados de maneira a viverem todos de maneira igual, ainda que poderiam (em teoria) viver diferentemente. Apresenta dessa forma uma noção de biopoder bastante Foucaultiana, pois o poder que regula a sociedade circula horizontalmenteentre todos, de maneira perfeita. Em 1984, entretanto, George Orwell expõe uma sociedade onde os cidadãos eram sujeitos a um poder 18 esmagador que não escapava ao seu olhar em momento algum, sendo vigiados por câmeras constantemente. Quando transgrediam qualquer uma das inúmeras regras, eram punidos. Em 1984 o poder absoluto era absolutamente vertical, e os processos de subjetivação eram impedidos por um autoritarismo bastante claro. A obra de Huxley, entretanto, apresenta uma sociedade contente, trabalhadora e independente. Dessa forma, o seu poder provinha da própria existência dos sujeitos, e se exercia através do sacrifício de sua individualidade. Sem a resistência proveniente dos sentimentos, erradicados pela droga, poder-se-ia realizar tudo. Sob efeito da substância não havia mais sujeito, e o poder mantinha-se existindo tal qual vinha sendo exercido desde tempos imemoriáveis. Foucault (2015) diz que o poder é enigmático, presente em todos os lugares, tanto de maneira visível quanto invisível. Para idealizar uma obra que abarcasse totalmente o conceito de poder em Foucault, seria viável fundir tanto as obras de Aldous Huxley quando as de George Orwell, em uma sociedade que tanto utiliza a soma quanto é regulada pelas teletelas. Há de se registrar, entretanto, que o poder circular por todos os meios, independente de quaisquer tentativas de impedir tal circulação, inclusive nos consultórios da psicoterapia e nos laboratórios onde são idealizados. Através de linhas de poder invisíveis se esboça um artigo e, através de linhas visíveis, se pode publicá-lo e registrá-lo. O que resta de um sujeito original, quando passado pelo crivo do processo de subjetivação na construção de um conceito científico sobre ele ou uma tentativa de enquadrá-lo em um já existente? Para que haja uma tentativa de manter o saber psicológico científico tão fidedigno quanto se propõe, é necessária consciência sobre o poder presente nesses processos metodológicos. 3 METODOLOGIA A metodologia escolhida para a produção deste trabalho foi a pesquisa bibliográfica. Para Diehl e Tatim (2004), é o método que se utiliza de fontes públicas de conhecimento para construir uma ideia nova, como livros, artigos científicos, arquivos audiovisuais, etc. Tal metodologia foi escolhida por seu caráter dinâmico, 19 permitindo a extração de novos conhecimentos a partir de saberes já consolidados e respeitados. Foram selecionadas obras clássicas de Foucault sobre o tema, bem como livros de autores relevantes à construção das ideias aqui presentes. Além disso, foram utilizados 13 artigos científicos contemporâneos, publicados entre 2001 e 2013. A partir da compilação dos dados relevantes ao tema do presente trabalho foi realizada uma análise reflexiva acerca deles, buscando extrair considerações importantes a temática central. Tal análise transcorreu sem grandes percalços, pois há bastante tempo havia uma reflexão acerca das ideias aqui trabalhadas e leitura das produções citadas. A partir daí, de modo a viabilizar seu teor científico dentro da metodologia escolhida as ideias já concebidas foram repensadas, enriquecidas e remodeladas, para então serem organizadas de maneira inteligível. 4 DISCUSSÃO Pensar o processo de subjetivação em Foucault é pensar nas linhas que poder que o permeiam, o produzem. Todas as manifestações de poder na construção do discurso sobre a sexualidade e sobre a loucura, e a violência ali permeada culminaram no advento da psicanálise. Dessa forma algo pode ser dito sobre isso, mas ainda assim muito pouco foi decodificado. Falando desses discursos enigmáticos Foucault apresenta a noção de verdade, ou seja, algo que não pode ser suplantado por uma nova teoria e nem ser aplicado no mundo real: “com seu sexo, você não vai simplesmente fabricar prazer, você vai fabricar verdade.” (FOUCAULT, 2015, pg.388). O discurso do louco e do sujeito da sexualidade, quando excluída sua loucura e seu sexo, tem em si tão somente aquilo a ser decodificado. Ou seja, o indivíduo a ser engendrado no discurso de poder institucional que fale sobre sua psique. Dessa forma pode-se retirar a loucura do louco, como se o seu delírio fosse tão somente um conteúdo secreto, tal qual o sexo do discurso do analisante neurótico. Eventualmente podem-se descobrir as ligações desse delírio ou alucinação com a sua história, entretanto, fundamentalmente o louco, que não consegue desvencilhar-se de seu discurso incoerente a ponto de filiar-se predominantemente ao do capital tem o seu delírio desqualificado. De nada mais 20 importa a loucura e o sexo, trabalhar ou receber benefícios, não importa ao capital a maneira como o discurso de verdade será apagado. Esse discurso de verdade foi construído a partir do inominável, daquilo que o discurso científico não conseguiu classificar. O mesmo pode ser entendido do social: “Entretanto, eles conseguiram retirar a homossexualidade da nomenclatura das doenças mentais. De qualquer forma, é muito diferente de dizer: “Vocês querem que sejamos homossexuais, pois bem, nós somos.” (FOUCAULT, 2015, pg. 388). Há aí um reducionismo. As práticas sexuais reivindicadas antes era doença, ao qual era marginalizada por tal e, então, nomeada, caindo então ao discurso de verdade. Ao nomear homossexual constrói-se toda uma rede de construtos acerca do termo, bem como ao sujeito. Diz-se que tais comportamentos são fruto da dinâmica da criação e do contexto social, de sua bioquímica e o que mais que se possa mensurar. A partir daí são construídas técnicas que abarquem tais conceitos e permitam cuidar desse indivíduo, mas não sem deixar alguns a quem não sabe o que fazer (e ainda assim é tentado, mais por curiosidade cientifica do que efetivamente buscar uma existência com equidade de direitos). Poder-se-ia dizer, então, que o sujeito nomeado é inscrito no poder de maneira muito mais efetiva que o inominável. Foucault (2015) ao conceber que a ciência, ao evoluir, encobre o saber anterior ao que tenha sido novamente postulado coloca essa posição incerta também quanto a si próprio. Ou seja, seus trabalhos podem perfeitamente bem encaixarem-se em ideologias estruturalistas, dialéticas ou mesmo marxistas, contanto que não o sejam em absoluto. É possível obter dessa renegação a um rótulo a percepção de uma ideia proveniente de sua própria teoria, não somente um capricho particular de Michel Foucault. Ao postular que nomear um comportamento e classificá-lo estamos, assim, engendrando o sujeito que o pratica em uma rede muito específica de micro poderes, assim também Foucault imaginou que poderia ser rotulado em sua obra. Dizendo de si que não era filósofo e rejeitando a partir daí qualquer rótulo sobre seus escritos, ele buscava manter-se fora de tantas tramas de poder quanto possíveis forem. No documentário de 2003, Foucault por ele mesmo, foram realizadas compilações de fragmentos de suas falas, entrevistas e demais momentos onde explanou suas ideias. Nessa obra, como em tantas outras, fica bastante claro sua rejeição à nomenclaturas classificatórias de seu trabalho e uma negação ainda maior a utilizar de excertos de sua vida pessoal quando em interlocuções públicas. Como, 21 entretanto, essa posição de Foucault quanto à sua prática pode contribuir à psicologia? Essa atitude vai à contramão de uma posição mercadológica, onde é de uma importância indelével a nomeação e classificação de um produto ou serviço. A partir de divulgações em massa, entretanto, de eventos de cunho acadêmico e capitalização do estudo científico, a atitude que envolve a manutenção um nomenclaturas sedutoras acerca de uma produção toma um lugar importante na academia. Podem-se encontrar então currículos de várias páginas elencando todas as conquistas de um pesquisador, o que automaticamente valida sua produção. Foucault (2015) delineiaque as linhas pelas quais o poder circula dependem de uma diferença de potencial, ou seja, que haja um indivíduo com um nível hierárquico alto, bastante renome entre seus semelhantes, etc., e um indivíduo que não tenha tal renome ou posição de prestígio. Dessa forma, a produção científica em psicologia corre o perigo de cair em uma troca voltada à construção entre semelhantes, com nomenclaturas e metodologias que apelem ao ouvinte acadêmico pagante de livros e congressos, sem necessariamente atender aos indivíduos que precisem ser ouvidos e atendidos por uma psicoterapia. Foucault (2002) fala como é possível dividir a psicologia da filosofia com Freud. Com o advento do inconsciente, a filosofia passa a tratar do que é consciente, mensurável e relativamente claro. A psicologia, por efeito, do inconsciente que, a partir do momento que o concebe, trata-se de um processo de subjetivação. Entretanto, com a massificação do uso de medicamentos psicotrópicos e técnicas que visam um positivismo metodológico os estudos do inconsciente, psicanalíticos ou não, acabaram por ser subjugados às mesmas regras das demais ciências. A partir daí, há a necessidade de classificar em números a eficácia de um método, clarificar exaustivamente os referenciais utilizados para a construção de uma ideia e letras e números classificatórios que determinam a qualidade de uma produção através da plataforma CAPES. Dessa forma, o próprio ato classificatório é avaliado em si. Não só o processo de subjetivação é classificado e dissecado, nulificado em si, como também dito falso ou irrelevante. Assim como o discurso acerca dos homossexuais abordado anteriormente, o discurso científico é inscrito em tramas de poder, com seu regulamento específico. 22 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho, foram exploradas ideias de Michel Foucault, ao qual não se pode titular como filósofo ou historiador. Foram analisados escritos e falas do pensar sob a ótica do pensamento científico, e como tais produções podem ser relevantes à maneira de pensar o estudo da psicologia. A tarefa de encontrar um diálogo entre o saber psi e o Foucaultiano vem sendo explorada há bastante tempo, sendo de vital importância para grandes movimentos da trajetória da psicologia e de seus multiplicadores, como a própria reforma psiquiátrica que colocou todo o setting clínico em xeque e fazendo urgir a necessidade de uma nova metodologia para o cuidado em saúde mental. Para tanto, tornou-se necessário revisitar as incursões de Foucault com a filosofia, dessa forma esboçando, ainda que brevemente, o importante papel do método enquanto mediador do discurso de Michel Foucault com o saber psicológico. Há um grande porém quando se pensa o sujeito da psicologia sob esta ótica, pois para Foucault tal sujeito não existe. O que existe, entretanto, são processos de subjetivação e um sujeito que constantemente se (re) constrói. Para esta discussão foi possível ignorar momentaneamente o existencialismo que abasteceu a psicanálise e adotar o pós-estruturalismo. Tal movimento filosófico pode ser de grande valia para o estudo da psicologia, pois busca anular o sujeito de maneira puramente metodológica, evitando o apagamento real de um indivíduo trazido pela falha metodológica presente no positivismo científico ou de outras práticas quando suas técnicas falham em compreendê-lo. Não há consenso entre os autores desse movimento filosófico, e percebem-se ainda mais divergências quando postos em um contraponto com as ideias de Foucault. Dessa forma, o que une as maneiras de pensar propostas neste trabalho são tão somente a inconstância presente entre elas. Ora, o discurso científico da psicologia tem em si um grande número de encontros e consonâncias, mas ainda assim falham em atender um número relativamente grande de indivíduos com sua prática. Talvez sejam necessárias fissuras nesse discurso para atender esses anormais (assim chamados loucos, ou mesmo marginais ou depravados) tão queridos a Michel Foucault em seus escritos, 23 tendo dedicado grande parte de suas produções buscando atender a esses indivíduos. O discurso vem sempre oriundo de linhas de poder, e sua construção não pode ser separada das mesmas. Dessa forma, poder-se-ia dizer que o estudo do poder não é relevante à construção do saber científico. Entretanto, precisamente por essa indivisibilidade entre teoria, prática e poder é que as suas relações devem ser analisadas, esmiuçadas. Para tanto, quando a relação de poder constrói um lócus teórico que produza uma falha em atender os que Foucault chamaria de anormais, precisamente aí se torna necessário atender às relações de poder que aí se constroem. O saber psicológico se consolidou, a duras penas, dentro de um campo de trabalho próprio (e compartilhado) ao longo do século XX. O advento da psicanálise e, principalmente, suas discussões com métodos de metodologias positivistas construíram um arcabouço bastante rico quando falando da psique, de relações e comportamentos. Esse arcabouço, entretanto, construiu para si uma epistemologia própria do saber psi, que traços dogmáticos em suas delineações. Dentro do que há de dogmático, portanto, nulificam-se saberes que muito poderiam valer ao saber científico, mas principalmente aos indivíduos que poderiam se beneficiar dessas construções. Diferentes psicoterapias falam da necessidade de uma subversão necessária ao bem-estar psíquico, ou seja, um processo de subjetivação que (re) construa um sujeito. Entretanto, tal atitude não é percebida quando colocada em questão a própria psicologia. Dessa forma, segue-se diretrizes externas, do Estado, ou mesmo próprias, de métodos há muito não revistos e ainda em prática por terem sido bem conceituados em algum momento. Para atender a um sujeito que está em constante construção, não seria também necessário constantemente reconstruir o sujeito da psicologia, em método e conceito? Como se constrói uma técnica para atender a um sujeito que constantemente se reconstrói? 6 Referências ‘ESTUDOS DE NEUROCIÊNCIA SUPERARAM A PSICANÁLISE’, DIZ PESQUISADOR BRASILEIRO. Folha de São Paulo, Buenos Aires, 18 jun. 2016. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 24 CANDIOTTO, Cesar. Foucault: Uma História Crítica da Verdade. São Paulo: Trans/Form/Ação, N.º 29(2), 2006. Disponível em: <http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/transformacao/article/view/914/819 >. Acesso em: 26 mai. 2016. CANDIOTTO, Cesar. Verdade e Diferença no Pensamento de Michel Foucault. Belo Horizonte: KRITETION, N.º 115, 2007. p.203-217. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/kr/v48n115/a1248115.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2014. CAPRA, Fritjof. Pertencendo ao universo. 6. ed. São Paulo: Cultrix, 1993. 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A partir de uma leitura de tais produções foi possível levantar ideias sobre diálogos possíveis entre os pensamentos de Foucault e a psicologia. Foi explorada a interação de movimentos filosóficos que interagiram com seu trabalho, de modo a contextualizar as idéias presentes neste artigo. Além disso, foram exploradas idéias onde o olhar Foucaultiano voltava-se aos mesmos recônditos que a psicologia, ou seja, o indivíduo e seus processos de subjetivação. Foram delineadas noções das ideias que Foucault construiu sobre o poder e suas manifestações. Foi concebido que o exercício do poder é inerente ao trabalho acadêmico e as práticas da psicologia, devendo atentar-se à maneira como ele circula. 1 INTRODUÇÃO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Pós-estruturalismo 2.3 Foucault e a genealogia 2.4 Subjetividade em Foucault 2.5 O sujeito e o poder 2.5 O biopoder 3 METODOLOGIA 4 DISCUSSÃO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 6 Referências
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