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Artigo - Gabriel

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CURSO DE PSICOLOGIA 
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 
 
GABRIEL ARMANDO DE DAVID FADANELLI 
 
 
 
 
A NOÇÃO DE SUJEITO EM FOUCAULT E SUA CONTRIBUIÇÃO AO SABER 
PSICOLÓGICO 
 
 
ORIENTADORA: SIMONE CHANDLER FRICHEMBRUDER 
 
 
 
 
 
 
 
CAXIAS DO SUL 
2016 
 2 
A NOÇÃO DE SUJEITO EM FOUCAULT E SUA CONTRIBUIÇÃO AO SABER 
PSICOLÓGICO 
Gabriel Armando De David Fadanelli 
Simone Chandler Frichembruder 
 
Resumo: Este trabalho apresenta uma releitura das obras de Foucault e seus intérpretes. A partir de 
uma leitura de tais produções foi possível levantar ideias sobre diálogos possíveis entre os 
pensamentos de Foucault e a psicologia. Foi explorada a interação de movimentos filosóficos que 
interagiram com seu trabalho, de modo a contextualizar as idéias presentes neste artigo. Além disso, 
foram exploradas idéias onde o olhar Foucaultiano voltava-se aos mesmos recônditos que a 
psicologia, ou seja, o indivíduo e seus processos de subjetivação. Foram delineadas noções das 
ideias que Foucault construiu sobre o poder e suas manifestações. Foi concebido que o exercício do 
poder é inerente ao trabalho acadêmico e as práticas da psicologia, devendo atentar-se à maneira 
como ele circula. 
 
Palavras-chave: Sujeito. Foucault. Psicologia. 
 
 
THE NOTION OF SUBJECT IN FOUCAULT AND ITS CONTRIBUTION TO THE 
PSYCHOLOGICAL KNOWLEDGE 
 
Abstract: This paper presents a crytical revision of the works of Michel Foucault and his interpreters. 
After a reading of such productions it was possible to raise ideas on possible dialogues between 
Foucault’s thoughts and psychology. The role of the different philosophical movements concerning 
their interaction with his work was explored in order to contextualize the ideas presented in this paper. 
Also, ideas where Foucault’s views met with the ones that is the primary concern of psychology, that 
is, the individual and its subjectivation processes were explored. Notions on Foucault’s ideas on power 
and it’s manifestations were outlined. It was conceived that the exercise of power is inherent to the 
academic work and the pratices of psychology, making it necessary to consider the way it circulates. 
 
Keywords: Subject. Foucault. Psychology. 
 
 
 Graduando do Curso Superior em Psicologia do Centro Universitário da Serra Gaúcha. 
 
* Professora do curso de Psicologia do Centro Universitário da Serra Gaúcha. Doutora em Educação 
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 
 3 
1 INTRODUÇÃO 
 
A necessidade de escrever, bem como de dialogar sobre a subjetividade 
quando se é produzido algo em psicologia provém de seu caráter epistemológico 
que não abre espaços férteis para construções demasiado objetivas (CAPRA, 1993). 
A partir daí as incertezas do ser humano e de suas ações são colocadas em xeque, 
tendo sua compreensão pressuposta em um devir da cultura em oposição à 
universalidade de conceitos do saber positivista da ciência tradicional. 
Candiotto (2006) nos apresenta a noção de que o status quo de sujeito ou 
objeto dependem da relação histórica onde estão, bem como não podem ser vistos 
como unidades estanques, mas sim formados através de jogos, práticas sociais ou 
mesmo a própria necessidade. Logo, urge a necessidade de colocar em perspectiva 
a relação de poder, sujeito/objeto oriunda do saber psicológico formado na 
academia. Entretanto, tal empreitada não é simples e nunca o será, pois é complexa 
em essência, e laboriosa por consequência. Sua complexidade provém do grande 
número de variáveis que influenciam no assunto. Laboriosa é a análise de todas as 
variáveis, pois raramente são palpáveis e podem interagir de maneiras demasiado 
obscuras para descrição remotamente fiel. 
De modo a explorar o que já foi dito sobre o sujeito, este estudo tomou como 
ponto de partida os trabalhos de Michel Foucault (1926-1984) que, dentre variados 
temas, debruçou-se sobre as relações de poder que ligam e produzem o sujeito. As 
ideias de Foucault foram adereçadas neste estudo por seu caráter genealógico, 
permitindo a delineação de pontos de vista e construções relativamente complexas. 
Para Deleuze (1988), Foucault era visto de muitas maneiras pelas diferentes 
pessoas que dele falavam, sendo considerado um mero arquivista por alguns, e 
sucessor de Hitler, por outros. Entretanto, era certo que ele buscava negligenciar 
qualquer tipo de hierarquia vertical, buscando atravessar-se diagonalmente na 
história. 
Logo é possível compreender como a visão de Foucault tinha em muito pouco 
a objetividade de um arquivista. Tampouco, talvez se encontraria a posição de um 
analista ou a convicção vaga de um filósofo. O que ele se propunha se fazer não é 
claro, tampouco sendo demasiado inacessível. O que é certo, entretanto, é que faz 
uma cisão no saber tradicional, evocando fantasmas em diversas criações e 
 4 
proposições hegemônicas. Dessa quebra, o que se resultaria quanto a constituição 
do sujeito? 
Em Foucault o sujeito não é exatamente fácil de perceber, ou mesmo 
possível. O sujeito da psicologia, mesmo que menos dogmático do que o da 
medicina é muito mais claro, e muito se pode falar sobre ele e suas relações 
(CAPRA, 1993). Entretanto, talvez seja necessário transparecer mais esse sujeito, 
pois vem já apresentando traços dogmáticos em sua caracterização. Ao falar de 
alguém, cada autor vai delinear esse ser de uma forma bastante específica. Seria 
arbitrário afirmar que uma ou algumas estão mais fidedignas do que outras, pois 
cada uma toma como ponto de partida informações em quantidade e forma 
diferentes. De uma maneira prática, pensar o sujeito em psicanálise requer pensar 
seus cuidadores, sua história (NASIO, 2009). Pensá-lo em neuropsicologia evoca 
seus neurônios e hormônios. A partir de um mapa familiar as teorias sistêmicas da 
psicologia também falam de algo desse sujeito. Entretanto, eventualmente todas 
essas teorias acabam por admitir sua falha em alguns pontos e transferem seus 
cuidados ao tratamento medicamentoso, outra disciplina ou mesmo ao destino, pois 
suas práticas nada mais podem fazer para ele. 
O objetivo deste trabalho não foi criar uma base para uma psicologia perfeita. 
A ideia foi apontar que existem esses pontos cegos ao cuidar do sofrimento psíquico 
do sujeito, e deve-se falar sobre isso. Para tanto, além de questionar a teoria 
também foi necessário mencionar os pontos que constituem esse sujeito a ser 
cuidado, e as ideias de Foucault podem fornecer um arcabouço muito rico à esse 
questionamento. 
 
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
2.1 Pós-estruturalismo 
 
Os estudos de Foucault em pós-estruturalismo advêm de suas constatações 
sobre o poder e seu exercício, questionando sobre as práticas exercidas em clínica, 
em uma psicologia social ou institucional. A inserção de um ponto de vista de estudo 
que busque delinear o pós-estruturalismo neste estudo foi necessário devido ao 
caráter indelével da filosofia à construção e desenvolvimento da ciência, ou seja, 
 5 
para que exista e se exerça a psicologia, psicanálise e demais práticas de promoção 
de saúde mental é necessário filosofia. Para tanto, pensar a filosofia é também 
pensar psicologia de forma meta ou trans científica. 
Carvalho (2007) afirma que em uma perspectiva estruturalista o corpo 
transcende o biológico, ocupando assim um espaço de encontro entre o indivíduo e 
o socius, significado pelas instituições sociais, econômicas, culturais etc. Em todos 
esses construtos há o exercício do poder e mecanismos altamente dinâmicos que 
circulam por dentre essas interações e, por conseqüência, com o indivíduo. Além 
disso, estratégias de promoção de saúde e cuidado “(...) podem contribuir para a 
saúde das pessoas e, paradoxalmente, constituir práticas de controle sobre os 
indivíduos e os coletivos” Ibid., p. 2034. De modo a manter essas práticas em 
movimento, evitando um sistema exploratórioou violento, é necessário pensar em 
uma filosofia que as questione. 
A concepção deste movimento filosófico, o pós-estruturalismo, depende 
inicialmente da construção da noção do termo estrutura. Iorio (2005) situa esse 
termo como sendo, dentre outras coisas, algo disposto em camadas, bem como a 
proximidade entre o significado de estrutura e de sistema, esse último aproximando-
se mais da ideia geral desta produção. Para tanto, percebemos estrutura como o 
processo pelo qual os filósofos estruturalistas constroem seu conhecimento (IORIO, 
2005). 
É possível compreender de maneira mais ampla esse movimento quando 
evidenciado o que lhe era oposto. Logo, percebemos uma clara oposição entre as 
ideias estruturalistas e as humanistas, historicistas e idealistas (ABBAGNANO, 
1998). Dessa maneira, o contraponto feito pelos filósofos estruturalistas e pós-
estruturalistas, como Lévi-Strauss, Althusser e o próprio Foucault residia na 
dominação de um sistema sobre o homem, destruindo assim o sujeito e nascendo a 
concepção de um indivíduo que existe através dos atravessamentos que lhe 
perpassam. Costa (2012) determina que existem vários estruturalismos, que 
diferenciam entre si o suficiente para categorizar-se de maneira diferente um do 
outro. Por exemplo, o estruturalismo científico de Jacques Lacan é diferente do 
epistêmico de Pierre Bourdieu que, por sua vez, é diferente também de um 
estruturalismo semiológico como, por exemplo, o de Roland Barthes. Entretanto, é 
necessário salientar que Foucault diferencia-se de todos estes outros (ele próprio se 
considera um antiestruturalista), e mesmo mais de trinta anos após a sua morte não 
 6 
há um consenso claro sobre a categorização de seu trabalho. Para este trabalho, foi 
compreendida com maior força a ênfase que Foucault dá ao estudo da história, 
central ao pós-estruturalismo que a colocou para substituir a noção de estrutura. 
Dessa forma, ao passo que os estruturalistas primordiais consideravam vital o 
estudo da estrutura como se dava no momento de sua análise, Foucault rejeita o 
momento atual em detrimento de um passado documentado, buscando denunciar 
seus ecos no social. Ou seja, o que se sabe atualmente sobre o passado que 
contribui na construção do ser humano não é correto. O que se sabe nada mais é 
além do que foi traduzido indiretamente de maneira subjetiva através de um ou mais 
indivíduos. A proposição de Foucault é a concepção de que a construção da história 
provém de um documento, e não de um momento histórico. 
Foucault (2002) apresenta a atitude historicista como uma complicação inerte 
de documentos, tratados assim como pedaços de matéria morta. Cortados, ditos 
relevantes ou não, relegados ou glorificados os documentos acabam por 
transformar-se em uma massa documental, que nada mais era do que uma maneira 
de coisificar os rastros de uma sociedade. Em mesma obra, Foucault fazia questão 
de explicitar a radical diferença entre documentos (rastros) e memória (linhas de 
força). Evocava então a necessidade de sua obra questionar não a metodologia, 
mas sim as próprias forças que ligam os pontos do saber que definem o método. 
Nesse ínterim nascem as ideias e os escritos de Michel Foucault. Para 
Pogrebinschi (2004), as ideias de Foucault acabavam por ser rechaçadas por sua 
falta de consistência metodológica, sem um senso sistemático forte ou linearidade 
clara. Pode-se compreender, entretanto, que era exatamente esse o objetivo ao 
escrevê-la, pois as obras de Foucault abordavam fatos e pontos de vista nunca 
antes discutidos nos círculos acadêmicos. Além disso, tal maneira de construir suas 
teorias era condizente com o pensamento pós-estruturalista, negando a sua 
capacidade de criação subjetiva e relegando-a aos sistemas vigentes. Dessa 
maneira, era possível manter um discurso relativamente livre, com poucos espaços 
de atravessamento da academia ou de práticas analíticas provenientes de seus 
colegas. 
Quanto aos indivíduos e, por assimilação, a si mesmo, Foucault (2000) 
apresentou uma teórica mesa redonda entre Nietzsche, Freud e Marx, intérpretes da 
humanidade. Tal ideia suscitou um desconforto tremendo, colocando assim o próprio 
ser humano em posição de intérprete de si. Ora, a capacidade de interpretar a si era 
 7 
uma possibilidade há muito apresentada por sacerdotes de mais variados credos 
através dos códices sagrados, mas a grande diferença entre os autores da mesa de 
Foucault era o seu caráter de rejeitar o saber divino e grande popularização à época, 
colocando a responsabilidade de analisar-se à cada indivíduo. Nas palavras de 
Foucault: “É com essas técnicas de interpretação que, em compensação, devemos 
interrogar esses intérpretes que foram Freud, Nietzsche e Marx, embora sejamos 
remetidos perpetuamente a um perpétuo jogo de espelhos.” (Foucault, 2000, p.43). 
O “jogo de espelhos” apresentado por ele nada mais era do que um reflexo da 
inconstância e negação do sujeito assim propostas pelo pós-estruturalismo. A 
produção filosófica e consequentemente epistemológica em psicologia de um sujeito 
não se dá, para Foucault, a partir de uma construção estanque formulada há muito 
tempo. Para ele, a construção se dá constantemente, com sucessivas proposições e 
desconstruções. Dessa forma, não há o que se possa falar de maneira precisa sobre 
alguém, mas a única maneira de se construir algo é buscando uma noção sobre a 
construção do sujeito. 
Nas palavras de Foucault: “Eu não vejo quem possa ser mais 
antiestruturalista do que eu” (Foucault, 2015, pg.40). Dessa forma, como incluí-lo em 
um movimento filosófico que ele mesmo se excluía? Naturalmente deve-se fazer a 
distinção entre o estruturalismo e o pós-estruturalismo, mas, fundamentalmente, é 
necessário levar em conta a negação radical de Foucault com praticamente todos os 
movimentos filosóficos aos quais ele se remetia à exceção, talvez, da genealogia. 
Para Foucault (2015), o esforço estruturalista consiste em eliminar o acontecimento, 
ou seja, um ponto único e específico que a tudo define. O autor segue explanando 
que o esforço não deve ser tão somente a recusa desse acontecimento, mas 
transpor a maneira de pensar os relatos desses eventos ainda além da recusa deles. 
Ou seja, pensar a história além de uma semiologia ou de uma dialética, de forma 
que se possa analisar historicamente as relações de poder e explorar os fios que 
ligam e engendram os fatos afastando-se, assim, das negações inerentes ao pensar 
filosófico de um ponto específico no tempo. 
De maneira prática, entretanto, tais análises mais profundas são 
temporariamente omitidas de modo que se possa analisar documentalmente a 
história. Para tanto, Foucault (1995) relata que o homem vem escrevendo sobre si 
próprio há cerca de dois mil anos. Dessa forma, como se poderia escrever sobre si 
se, fundamentalmente, não há acontecimento ou sujeito? Logo adiante encontramos 
 8 
uma resposta: “Parece-me que toda a dita literatura do si – diários pessoais, 
narrativas de si etc. – não pode ser compreendida a não ser quando introduzida na 
estrutura geral e muito rica dessas práticas de si.” (FOUCAULT, 1995, pg. 275). 
Voltamos novamente ao estudo da estrutura, que logo nulifica a si próprio. Há de se 
compreender a estrutura do movimento estruturalista, entretanto, ao lembrar-se 
constantemente de que tal junção de fatores destrói a si próprio tão logo quanto se 
constrói, Foucault volta ao pós-estrutural. 
Para que se possa compreender melhor o caos gerado entre a concepção 
que Foucault tem de si, a concepção que a academia tem dele e aquela aqui 
construída, pode-se dizer que para Souza e Cunha (2013) o pós-estruturalismo não 
rejeita propriamente as ideias estruturalistas, acabando por simplesmente radicalizá-
las (e tudo que acompanha tal radicalização). Portanto, ao negar que na constituição 
do sujeito não há tão somente a noção de significantes de Saussure (1993) ouqualquer outra forma centralizada de produção de subjetividade, o pós-
estruturalismo põe em xeque todas as teorias que se remetem a isso. 
 
2.3 Foucault e a genealogia 
 
Deve-se lembrar que o conceito de filósofo era também rechaçado por Michel 
Foucault, preferindo referir-se como historiador. Ao explanar seus pensamentos 
acerca da ciência, Foucault (2015) apresenta o filósofo como o legislador de todas 
as ciências, um árbitro que tem a função de separar ciência de ideologia. Rejeita 
esse papel, e prontamente apresenta-se ligado ao estudo da reclusão, da 
sexualidade, etc. e adiciona que o seu projeto é na realidade realizar uma (em 
oposto de a) arqueologia das ciências humanas. 
A metodologia de um estudo do ser humano, como o da psicologia deve ater-
se a fins mais ou menos reducionistas, mais ou menos dogmáticos, de modo que 
possam constituir-se na trama da organização social. Entretanto, a maneira que se 
dará esse olhar, fundamentado em uma epistemologia fragmentada dentre filosofias 
de épocas e métodos diferentes pode perfeitamente bem ser algo de quimérico: 
“Portanto, não basta afirmar que o sujeito é constituído num sistema simbólico. Não 
é somente no jogo dos símbolos que o sujeito é constituído. Ele é constituído em 
práticas verdadeiras – práticas historicamente analisáveis. Há uma tecnologia da 
constituição de si que perpassa os sistemas simbólicos ao utilizá-los.” (FOUCAULT, 
1995, pg. 275). 
 9 
 
Quando se retoma a negação do sujeito e do acontecimento pensando, 
também, as linhas de poder apresentadas por Foucault é necessário pôr em xeque 
algumas construções da episteme psicológica. Dessa maneira é possível voltar ao 
jugo de um sistema qualquer sobre um indivíduo qualquer, apontando-se a 
necessidade de analisar-se, antes de um construto dialético, um fato qualquer em si. 
Fato em oposição de acontecimento, além da vontade de verdade inerente ao relato 
historicista. 
Para a construção do discurso expresso por essas linhas, é necessário 
transgredir, ao menos um pouco, as proposições de Foucault. Para ele, a razão só 
ocupa esse lugar a partir da exclusão extrema, violenta, da loucura (NEWMAN, 
2005). De modo que esse trabalho possa tomar algum senso científico, tem de ter 
razão, algo de racional. A paixão acaba por excluir-se dos meios científicos como 
sujeito, é só objeto. Para tanto, é necessário forcluir, por assim dizer, qualquer noção 
de loucura. A transgressão se dá aí: como manter à distância um tema tão 
apaixonante ao autor que agora inspira a escrita desse discurso? Poder-se-ia dizer 
que fundamentalmente não é digno construir algo nesse formato, ou relegar a uma 
pura crítica teoria. Entretanto, se possível, propõe-se deixar de lado 
momentaneamente a razão. Em seu lugar é possível colocar algo de diferente, algo 
que negue o julgamento e a ponderação inerentes do raciocínio. 
A proposta então pode ser esboçar, delinear rapidamente um sujeito. Um 
esboço pode captar a essência de maneira mais clara que uma fotografia, assim 
como o livro acaba por suscitar emoções tão ou mais fortes que as imagens 
perfeitas do filme. A precisão de uma lâmina de bisturi pode manter-se ao cirurgião, 
entretanto, o muito mais irracional lápis têm maior afinidade com o discurso de 
Foucault. Para que se possa produzir algo de salutar e libertador, é mais adequada 
uma noção aberta, imprecisa e mutável do que algo construído com uma finalidade 
estanque, como uma noção de subjetivação do ser humano que seja conclusiva em 
si própria. Rejeita-se aqui qualquer noção de poder, refutando a habilidade de refutar 
outras verdades, abrindo espaço para atravessamentos tão livres quanto possível, o 
mais desamarrado do positivismo quanto permitido pela academia. 
Para Foucault (2014), a ciência detém um discurso próprio, que evoluiu ao 
passar do tempo de acordo com a sua vontade de verdade. Dessa forma, 
compreendendo essa vontade como um sistema de exclusão, refutando o que é 
 10 
errado e institucionalizando o que é verdade da maneira como melhor se aprouver 
(nos sistemas de educação, pedagogia, academia e mesmo na própria política), a 
prática do discurso epistemológico é mantido em lugar e modo de maneira 
inconstante. Dessa forma Foucault recorda o princípio grego “a aritimética pode 
bem ser o assunto das cidades democráticas, pois ela ensina as relações de 
igualdade, mas que só a geometria deve ser ensinada nas oligarquias, pois 
demonstra as proporções na desigualdade” (FOUCAULT, 2014, pg. 17). Para tanto, 
o discurso de verdade tomado para delimitar o sujeito da psicologia é um de 
precisão, que retoma a história desse indivíduo de maneira vertical e totalitária, de 
maneira progressiva enquanto utilitária para sua inserção no socius. Ou seja, pode-
se perfeitamente bem esboçar-se um sujeito com um lápis, mas à medida que esse 
esboço se transforma em laudo, e esse laudo se transforma em documento, 
perpassado então pelas práticas jurídicas que serão responsáveis por autorizar o 
trabalho médico do bisturi em, por exemplo, uma cirurgia de mudança de sexo. A 
precisão do bisturi também poderia ser substituída nesse contexto pela 
medicalização de um assim chamado degenerado, utilizada com o aval da psicologia 
nas castrações químicas utilizadas na Europa no século passado. Deve-se ter em 
mente o poder inerente ao discurso ao falar algo sobre alguém. 
Agora que foi possível clarificar a proposta deste trabalho é possível 
formalmente iniciar sua construção. Candiotto (2007) refere-se a genealogia como a 
reconstrução da história, principalmente das suas partes tidas como universais, 
dogmáticas. O caráter genealogista de Foucault se revela em sua obra, subvertendo 
a ideia geral rígida tida sobre os loucos, os depravados, os criminosos. 
Todavia, seria possível uma genealogia objetiva, certeira? A história é 
composta por fragmentos que devem ser postos em ordem, ciência aperfeiçoada 
pelo historiador. O genealogista tem o papel determinante de correlacionar. Além 
disso, o genealogista procura pelos fragmentos perdidos, pois em sua omissão falam 
muito mais do que o expresso e pelas linhas invisíveis que ligam os acontecimentos. 
Invisíveis sim, entretanto podem ter cheiro e gosto, serem ouvidas e sentidas. 
Foucault (2000) diz que a história é povoada em seu discurso por análises 
etnológicas e sociológicas. Não poderia deixar de ser, pois senão o historiador nada 
mais seria além do arquivista que acusavam Michel de ser. Essa busca pelas 
relações históricas, portanto, é imperativamente subjetiva. 
 11 
O genealogista, por tanto que busque se afastar de um historicismo clássico 
tem de adicionar algo à equação. Para tanto Foucault (2015) afirma que a origem de 
um acontecimento sempre tem algo de quimérico, pois o início de sua história 
acontece tão somente quando algo falha e se rompe, pois nada se fala do cotidiano 
que é perfeito, caso já tenha existido. Logo “É preciso ser metafísico para lhe 
procurar uma alma na idealidade longínqua da origem” (FOUCAULT, 2015, pg. 61). 
O trabalho do genealogista é, sobretudo, buscar onde se encontram as falhas e os 
percalços, aquilo que a história acabou por omitir ou refutar (FOUCAULT, 2015). 
Dessa forma encontramos uma linha bastante clara dentre os estudos de Michel 
Foucault e a sua concepção do trabalho genealógico. Seu foco sempre foi sobre os 
anormais, delinquentes, loucos e depravados da história. De maneira análoga, a 
psicanálise também busca em sua prática os pontos onde a história do sujeito não 
pode ser narrada, onde algo se omite (LACAN, 1998). Talvez isso explica a 
proximidade dos campos (ainda que em discussões fervorosas) da psicanálise 
francesa e os trabalhos de Foucault, conterrâneos e contemporâneos entre si. A 
grande diferença talvez tenha sido o foco extenuante tomado pela psicanálise em 
suas práticas dialéticas, constantemente questionadas por Foucault. 
 
2.4 Subjetividadeem Foucault 
 
Essa subjetividade provém de um grande número de atravessamentos das 
experiências pessoais de cada um, sendo elas práticas ou mesmo teóricas. O motivo 
para isso provém do fator subjetivo presente em todas as relações com a ciência, 
produzindo-a ou mesmo tentando compreendê-la. A partir daí podemos conceber a 
necessidade de um estudo do ser, do sujeito enquanto um (re) produtor de saberes, 
atravessador e atravessado pela cultura. Zizek (1996) retoma a tese de Lacan, 
afirmando que toda a verdade tem uma estrutura de ficção. Tal colocação é de vital 
importância ao atravessar-se sobre um outro, pois denuncia a fragilidade de um 
saber enquanto subjetivo. 
Sabendo disso, Foucault se insere diagonalmente, subvertendo de maneira a 
não destruir completamente a ordem geral para não criar a necessidade de outra, 
talvez ainda menos digna que a anterior. Ora, para o tema em questão tal posição é 
altamente desejável. Os motivos são muitos, mas o principal deles é o caráter 
 12 
paradoxalmente temporal e atemporal do ser. Seres humanos são o que são, uma 
espécie biológica em evolução. Entretanto, seria um descuido tremendo dizer que 
um camponês medieval é igual ao homem de negócios de wall street. Suas roupas 
serão diferentes, seu andar e seus maneirismos. Dá-se aí a subjetividade, e de dois 
organismos biológicos iguais nascem dois sujeitos diferentes. Foucault reconhece 
essa diferença, olhando através da informalidade e do indigno em detrimento das 
heranças formais para inscrever sua visão de sujeito (IORIO, 2005). 
A visão de ciência tida por Foucault era deveras complexa, e comumente 
rejeitava a epistemologia predominante: 
“Eis aí a “natureza”, e é isso que é preciso empenhar-se em conhecer. Tudo seria 
imediato e evidente se a hermenêutica da semelhança e a semiologia das assinaturas 
coincidissem sem a menor oscilação. Mas, porque há uma “fenda” entre as 
similitudes que formam grafismo e as que formam discurso, o saber e seu trabalho 
infinito recebem ali o espaço que lhes é próprio: eles terão que trilhar essa distância, 
indo, em um ziguezague indefinido, do semelhante ao que lhe é semelhante. ” 
(FOUCAULT, 2000, p.25). 
 
Tais construções são de grande valia ao estudo do subjetivo, do incerto. 
Quaisquer que sejam as colocações objetivas, só serão corretas em determinado 
recorte com um escopo extremamente limitado, e raramente servem para delinear 
de qualquer maneira satisfatória um indivíduo, um corpo inscrito na cultura em sua 
vida. Para tanto, as percepções apresentadas acima nada têm de objetivo ou 
tradicional, e podem ser utilizadas para conceber e falar sobre o que também não o 
é. 
 
2.5 O sujeito e o poder 
 
A importância do estudo do poder se dá por seu teor controlador, que em 
vistas das maneiras de organização social como o próprio capitalismo ou as 
instituições acaba por nulificar o sujeito em detrimento da sobrevivência das forças 
que detêm esse poder. O poder se encontra na própria diferença entre a noção de 
sujeito e indivíduo. O indivíduo pode sujeitar-se, e o conceito seria então um que 
submetido ao controle do outro, bem como um indivíduo que, ao tomar consciência 
de si, apropria-se da sua própria identidade (FOUCAULT, 2002). Em ambos os 
casos há linhas de poder envolvidas que permitem uma maneira diferente de existir 
 13 
ao indivíduo, dando a possibilidade de sair de um conceito que puramente o separa 
de um coletivo. 
É também necessário pensar nas maneiras como esse poder vem a existir, na 
maneira como é exercido. Foucault (1978) apresenta o poder do Estado que, dentre 
outras atribuições permite que o indivíduo exista. Entretanto, tal permissividade não 
constitui caridade ou amor, mas sim um exercício de poder que exige uma maneira 
específica de individualidade e, falhando a pessoa em incluir-se nela, é segregada 
aos manicômios ou prisões. Para tanto, pode-se pensar que a maneira de contestar 
esse poder é, possivelmente, somente exercendo um poder próprio, subjetivando-se. 
O problema é que o exercício de poder existe a partir do substrato do poder do 
Estado, transmitido através da instituição e o indivíduo só é sujeito em detrimento 
aos outros sujeitos filtrados pela instituição, tal qual a ciência. Dessa maneira, cada 
indivíduo exerce o seu micropoder em suas relações, dentro das instituições em que 
circula. O Estado delineia algumas das formas em que esse poder será exercido, 
mas fundamentalmente o exercício de poder se dá nas relações e encontra ecos no 
socius. A possibilidade de exercer esse poder permite coesão entre as pessoas, 
bem como a própria existência de um grupo social. A justiça, expoente do poder do 
Estado tem suas maneiras próprias de exercer controle sobre os indivíduos. 
Foucault (2000) apresenta o caso de Pierre Rivière, julgado por ter 
assassinado sua mãe, irmã e irmão. Nesta obra, ele apresenta um sem-número de 
atravessamentos presentes nesse caso e mesmo no próprio sujeito, Pierre, que 
acabava por vezes em se contradizer e mesmo desqualificar qualquer caso judicial 
coeso que poderia fazer justiça. Esses atravessamentos passavam pelo discurso 
dos vizinhos, do pai, do sistema judiciário, dos médicos da província. Cada um 
desses atores acabava por reiterar ou nulificar o depoimento ou estudo do outro. 
Dentro da obra há um depoimento de próprio punho do camponês assassino, feito 
inusitado agora na contemporaneidade, único na época do crime, 1836. De Pierre 
nada mais restava, seu próprio relato foi analisado e processado como evidência. O 
exercício do poder dos magistrados e médicos devorou Pierre sobrando, assim, um 
louco homicida. De sujeito muito pouco havia sobrado, mesmo que a experiência 
tenha servido como algo a subjetivar as práticas dos envolvidos no processo. 
Fischer (2001) analisa a perspectiva sobre o poder em Foucault. Para ela, a 
prática está imersa em relações de poder e saber. Os diversos agrupamentos 
sociais detêm seus próprios campos discursivos, e a construção de seus conceitos 
 14 
deles dependem. O indivíduo pouco faz por si próprio nessa esfera, mas sim pela 
rede conceitual a que pertence. O discurso em Foucault, para ela, tem uma quase 
total autonomia e não dependem necessariamente do mundo objetivo. Qual é a 
relação entre o próprio sujeito e o saber que foi dito sobre ele? Considerando que 
em ambos os lados, ou seja, tanto o sujeito que produz o saber quanto aquele que 
incute um a alguém são únicos e autônomos em seus discursos, que se pode dizer 
sobre alguém? 
Um ponto de partida poderia ser pensar não em falar de alguém, mas em 
estruturas permeadas pelo poder: “...mas sim de estuda-lo sob a perspectiva de sua 
externalidade, no plano do contato que estabelece com seu objeto, com o seu 
campo de aplicação. Trata-se, afinal, de buscar o poder naquele exato ponto no qual 
ele se estabelece e produz efeitos.” (POGREBINSCHI, 2004, p.4). Para tanto, pode-
se considerar relativizar esse sujeito quanto ao seu meio, de modo a abarcar os 
saberes do campo discursivo e as relações de poder que lhe tocam. Pode-se saber 
de alguém, algo sim, mas como separar esse sujeito do que lhe atravessa? 
Para Pogrebinschi (2004), o poder para Foucault não era detido por ninguém, 
mas sim é algo inconstante que circula por dentre uma rede de maneira que cada 
um dos membros dessa malha exerce ou é submetido por esse poder. Nessa 
circulação, o poder acaba por construir e destruir, de maneira concomitante. Dessa 
maneira, Foucault (2002) fala que o poder é utilizado dentro das instituições de 
modo a manter a sua existência e garanti-la. A partir daí, cada um dos membros 
reproduz a ordem vigente e incute seu próprio poder sobre alguém que o receberá, 
circulando de maneira ordenada. Saber sobre um desses reprodutores implica uma 
série de questões, pois não pode ser isolado. Entretanto, é possível que no 
reproduzir, algo se produza e ou se destrua. Nessa falha surgecomo signo, esse 
sujeito. 
É possível, neste ponto, retomar o discurso da vontade de verdade presente 
na psicologia atual. Assim como o estudo da história, a psicanálise vem sendo 
criticada pelos seus pares da psicologia, e mesmo de outras áreas que com ela 
constroem algum saber. Em nota recente Ivan Izquierdo, cientista renomado pelos 
seus estudos em memória afirmou que a psicanálise nada tem a oferecer como 
prática de saúde, mas sim um tratamento puramente estético (IZQUIERDO, 2016). 
Aparentemente não há o que se falar sobre neurociências em Foucault, pois tais 
estudos vieram após seu falecimento, entretanto pode-se perfeitamente bem retomar 
 15 
seus estudos sobre os indignos e os excluídos em História da Loucura. Foucault 
(2010) fala dos loucos que tinham, como diferença crucial do resto da população, 
sua inabilidade de trabalhar. Muito além da coesão de seu discurso, o cuidado com 
o louco era derivado do exercício de poder vigente no século XVIII. De maneira 
análoga, o cuidado com a saúde mental no século XXI pode perfeitamente bem ser 
transportado para um cuidado baseado no fazer com neurotransmissores e 
neurônios. Entretanto, assim como com o louco em eras passadas, como se há de 
levar aparelhos de ressonância magnética às periferias e aos sujeitos de baixo 
poder aquisitivo? A neurociência, em sua vontade de verdade própria, acaba por 
buscar excluir os saberes da psicanálise que, desde Lacan, preocuparam-se tão 
somente com o discurso proveniente do espaço criado entre analista, analisante e o 
Outro, sem necessidade dos equipamentos tornados indispensáveis pelo discurso 
científico atual. Toda a metodologia vem sendo certamente perfeitamente bem 
construída, com amostragens e cuidados altamente específicos, entretanto, o 
atravessamento do poder do capital presente nestes métodos deve ser levado em 
conta. 
A falha no método é subjetiva em si, pois provém da construção dos sujeitos 
ali implicados. Para Foucault (2014), a análise do discurso (nesse caso, do discurso 
da vontade de verdade da ciência) não desvenda-o completamente, mas sim expõe 
a sua rarefação, aponta a rachadura em sua existência. Assim como a psicanálise 
busca visualizar o ponto no discurso onde há uma falha (num ato falho ou chiste, por 
exemplo), a subjetivação tal qual explicitada por Foucault aponta essas falhas onde 
se possa construir algo de novo. 
 
2.5 O biopoder 
 
Ora, situando o sujeito em uma trama de significantes é necessário também 
situá-lo em sua posição diante os outros sujeitos. Pelbart (2013) situa o biopoder 
como a forma de poder que se utiliza da própria vida de outrem para exercer sua 
vontade sobre outra pessoa ou grupo. Vende-se a história e experiência, adquire-se 
influência a partir do que se diz que foi experienciado, enfim, subjuga-se a partir do 
viver. 
 16 
O capital muitas vezes acaba por fazer às vezes de exercício do biopoder. Os 
serviços de um psicoterapeuta são naturalmente cobrados, sendo então utilizada a 
experiência e a instituição da educação de maneira a exercer uma espécie de poder 
terapêutico sobre a vida de um sujeito. Como pensar em um serviço prestado 
baseado em uma relação de poder? Certamente esse sujeito em sofrimento, que 
tem um poder exercido sobre ele também exerce o seu sobre outrem ou, ao menos, 
é atravessado por situações análogas (POGREBINSCHI, 2004). 
Seria ingenuidade, entretanto, situar uma forma diferente de organização 
social que venha a excluir o exercício do biopoder. Mesmo que o capital seja 
expoente do biopoder na pós-modernidade capitalista, uma sociedade comunista ou 
baseada no escambo também teria formas próprias de exercê-lo. Dessa forma, não 
é necessária a presença direta do capital quando considerando o exercício do poder. 
Pelbart (2013) ressalta que tudo que concerne à vida vem sendo tomado pelo poder. 
Dentro disso, o próprio sintoma também o é. Dessa forma, sujeitos que se 
encontram insatisfeitos quanto à sua vida procuram alguém que detenha um saber 
sobre seu sofrimento, um psicólogo, psicanalista, etc. Encontra-se seu sintoma, que 
faz parte da sustentação de seu sofrimento. A partir daí, são exercidas técnicas que 
possam vir a atenuar esse sintoma. Entretanto, quando esse sintoma precisa de um 
medicamento para ser atenuado, e existe tanto nos manuais médicos quanto na 
vida, esse sintoma pode ser isolado e tratado levando em consideração seus 
atravessamentos como um mero plano de fundo? 
Para Coelho (2006), podemos pensar o poder como uma onda, com 
infindáveis modulações e ramificações. O sujeito isolado não existe, pois os 
mecanismos de controle não chegam à ele e falham em reconhecer sua existência, 
não possui documentos e nem um número que dite sua posição dentro da 
sociedade. Obviamente os atravessamentos provenientes das relações de poder 
dentre os indivíduos tem maior ou menor força. Por exemplo, as marcas feitas no 
psiquismo pelos pais e pela criação são indeléveis, de força quase absoluta (NASIO, 
2009). Ora, a consideração desses atravessamentos tem uma importância vital ao 
discurso de sujeito da psicanálise. Entretanto, como é possível considerar as 
ondulações de poder provenientes do resto da vida? Um filho, com os 
atravessamentos de criação, mais os atravessamentos da sociedade e das 
instituições tem a sua subjetivação diretamente atrelada aos círculos de poder de 
todos os atores envolvidos. De si próprio o que existe? 
 17 
À ciência as ondulações de poder se aplicam tal qual ao indivíduo, mas de 
maneiras diferentes. Há um dinamismo na construção dos saberes que atravessam 
os indivíduos, mecanismo que permite que eles conversem entre si e passem a 
exercer seu poder sob formas novas e diferentes de uma simples soma de suas 
partes. Considera-se aí a interdisciplinaridade. Foucault (2015) afirma que os 
diferentes discursos de libertação também são em si provenientes de construtos do 
poder acerca dos indivíduos. Ou seja, a partir de discursos libertadores acerca da 
sexualidade em si iniciaram-se tantos outros (homossexuais, feministas, etc.). 
Constrói-se então uma rede que permita abarcar os novos discursos em sua 
compreensão, evocando outros saberes que falem do que ainda não foi explicado. 
Dessa forma, ao liberar-se do rechaço causado anteriormente por um mecanismo 
político, inicia-se uma repressão científica que sabe de suas práticas, conhece-as 
bem e compreende como evoluir e constituir-se. Quando o poder que emana do 
indivíduo é nomeado, torna-se fonte de capital e, consequentemente, de poder ao 
entrar no sistema vigente, nomeável. 
A obra de Aldous Huxley de 1932 Admirável Mundo Novo retrata uma 
sociedade onde os indivíduos tinham vidas semelhantes àquelas percebidas nas 
sociedades modernas ocidentais na época. A história tem uma série de similaridades 
com a obra de George Orwell 1984, publicada em 1949. Ambas retratam uma 
sociedade que, se não por algumas poucas coisas dissonantes, seriam um retrato 
bastante fidedigno da sociedade moderna. Em 1984 haviam, dentre outras 
modificações, as teletelas, em Admirável mundo novo, a soma. Na obra de Huxley, 
os cidadãos trabalhavam, tinham relações de amizade com outros indivíduos e se 
locomoviam livremente. Entretanto, quando eram incomodados por alguma espécie 
de mal-estar, faziam o uso de uma droga chamada soma, que imediatamente 
restaurava o bem-estar e o humor normal. Além disso, todas as pessoas retratadas 
na obra (exceto o protagonista) mantinham relações sexuais sem construir 
relacionamentos estáveis com um parceiro e as crianças nasciam de maneira 
automatizada. Ou seja, não haviam famílias nem individualidade de qualquer forma, 
tanto que os personagens são retratados de maneira a viverem todos de maneira 
igual, ainda que poderiam (em teoria) viver diferentemente. Apresenta dessa forma 
uma noção de biopoder bastante Foucaultiana, pois o poder que regula a sociedade 
circula horizontalmenteentre todos, de maneira perfeita. Em 1984, entretanto, 
George Orwell expõe uma sociedade onde os cidadãos eram sujeitos a um poder 
 18 
esmagador que não escapava ao seu olhar em momento algum, sendo vigiados por 
câmeras constantemente. Quando transgrediam qualquer uma das inúmeras regras, 
eram punidos. 
Em 1984 o poder absoluto era absolutamente vertical, e os processos de 
subjetivação eram impedidos por um autoritarismo bastante claro. A obra de Huxley, 
entretanto, apresenta uma sociedade contente, trabalhadora e independente. Dessa 
forma, o seu poder provinha da própria existência dos sujeitos, e se exercia através 
do sacrifício de sua individualidade. Sem a resistência proveniente dos sentimentos, 
erradicados pela droga, poder-se-ia realizar tudo. Sob efeito da substância não havia 
mais sujeito, e o poder mantinha-se existindo tal qual vinha sendo exercido desde 
tempos imemoriáveis. 
Foucault (2015) diz que o poder é enigmático, presente em todos os lugares, 
tanto de maneira visível quanto invisível. Para idealizar uma obra que abarcasse 
totalmente o conceito de poder em Foucault, seria viável fundir tanto as obras de 
Aldous Huxley quando as de George Orwell, em uma sociedade que tanto utiliza a 
soma quanto é regulada pelas teletelas. Há de se registrar, entretanto, que o poder 
circular por todos os meios, independente de quaisquer tentativas de impedir tal 
circulação, inclusive nos consultórios da psicoterapia e nos laboratórios onde são 
idealizados. Através de linhas de poder invisíveis se esboça um artigo e, através de 
linhas visíveis, se pode publicá-lo e registrá-lo. O que resta de um sujeito original, 
quando passado pelo crivo do processo de subjetivação na construção de um 
conceito científico sobre ele ou uma tentativa de enquadrá-lo em um já existente? 
Para que haja uma tentativa de manter o saber psicológico científico tão fidedigno 
quanto se propõe, é necessária consciência sobre o poder presente nesses 
processos metodológicos. 
 
3 METODOLOGIA 
 
 A metodologia escolhida para a produção deste trabalho foi a pesquisa 
bibliográfica. Para Diehl e Tatim (2004), é o método que se utiliza de fontes públicas 
de conhecimento para construir uma ideia nova, como livros, artigos científicos, 
arquivos audiovisuais, etc. Tal metodologia foi escolhida por seu caráter dinâmico, 
 19 
permitindo a extração de novos conhecimentos a partir de saberes já consolidados e 
respeitados. 
Foram selecionadas obras clássicas de Foucault sobre o tema, bem como 
livros de autores relevantes à construção das ideias aqui presentes. Além disso, 
foram utilizados 13 artigos científicos contemporâneos, publicados entre 2001 e 
2013. 
A partir da compilação dos dados relevantes ao tema do presente trabalho foi 
realizada uma análise reflexiva acerca deles, buscando extrair considerações 
importantes a temática central. Tal análise transcorreu sem grandes percalços, pois 
há bastante tempo havia uma reflexão acerca das ideias aqui trabalhadas e leitura 
das produções citadas. A partir daí, de modo a viabilizar seu teor científico dentro da 
metodologia escolhida as ideias já concebidas foram repensadas, enriquecidas e 
remodeladas, para então serem organizadas de maneira inteligível. 
 
4 DISCUSSÃO 
 
Pensar o processo de subjetivação em Foucault é pensar nas linhas que 
poder que o permeiam, o produzem. Todas as manifestações de poder na 
construção do discurso sobre a sexualidade e sobre a loucura, e a violência ali 
permeada culminaram no advento da psicanálise. Dessa forma algo pode ser dito 
sobre isso, mas ainda assim muito pouco foi decodificado. Falando desses discursos 
enigmáticos Foucault apresenta a noção de verdade, ou seja, algo que não pode ser 
suplantado por uma nova teoria e nem ser aplicado no mundo real: “com seu sexo, 
você não vai simplesmente fabricar prazer, você vai fabricar verdade.” (FOUCAULT, 
2015, pg.388). O discurso do louco e do sujeito da sexualidade, quando excluída sua 
loucura e seu sexo, tem em si tão somente aquilo a ser decodificado. Ou seja, o 
indivíduo a ser engendrado no discurso de poder institucional que fale sobre sua 
psique. Dessa forma pode-se retirar a loucura do louco, como se o seu delírio fosse 
tão somente um conteúdo secreto, tal qual o sexo do discurso do analisante 
neurótico. Eventualmente podem-se descobrir as ligações desse delírio ou 
alucinação com a sua história, entretanto, fundamentalmente o louco, que não 
consegue desvencilhar-se de seu discurso incoerente a ponto de filiar-se 
predominantemente ao do capital tem o seu delírio desqualificado. De nada mais 
 20 
importa a loucura e o sexo, trabalhar ou receber benefícios, não importa ao capital a 
maneira como o discurso de verdade será apagado. 
Esse discurso de verdade foi construído a partir do inominável, daquilo que o 
discurso científico não conseguiu classificar. O mesmo pode ser entendido do social: 
“Entretanto, eles conseguiram retirar a homossexualidade da nomenclatura das 
doenças mentais. De qualquer forma, é muito diferente de dizer: “Vocês querem que 
sejamos homossexuais, pois bem, nós somos.” (FOUCAULT, 2015, pg. 388). Há aí 
um reducionismo. As práticas sexuais reivindicadas antes era doença, ao qual era 
marginalizada por tal e, então, nomeada, caindo então ao discurso de verdade. Ao 
nomear homossexual constrói-se toda uma rede de construtos acerca do termo, bem 
como ao sujeito. Diz-se que tais comportamentos são fruto da dinâmica da criação e 
do contexto social, de sua bioquímica e o que mais que se possa mensurar. A partir 
daí são construídas técnicas que abarquem tais conceitos e permitam cuidar desse 
indivíduo, mas não sem deixar alguns a quem não sabe o que fazer (e ainda assim é 
tentado, mais por curiosidade cientifica do que efetivamente buscar uma existência 
com equidade de direitos). Poder-se-ia dizer, então, que o sujeito nomeado é inscrito 
no poder de maneira muito mais efetiva que o inominável. 
Foucault (2015) ao conceber que a ciência, ao evoluir, encobre o saber 
anterior ao que tenha sido novamente postulado coloca essa posição incerta 
também quanto a si próprio. Ou seja, seus trabalhos podem perfeitamente bem 
encaixarem-se em ideologias estruturalistas, dialéticas ou mesmo marxistas, 
contanto que não o sejam em absoluto. É possível obter dessa renegação a um 
rótulo a percepção de uma ideia proveniente de sua própria teoria, não somente um 
capricho particular de Michel Foucault. Ao postular que nomear um comportamento e 
classificá-lo estamos, assim, engendrando o sujeito que o pratica em uma rede muito 
específica de micro poderes, assim também Foucault imaginou que poderia ser 
rotulado em sua obra. Dizendo de si que não era filósofo e rejeitando a partir daí 
qualquer rótulo sobre seus escritos, ele buscava manter-se fora de tantas tramas de 
poder quanto possíveis forem. 
No documentário de 2003, Foucault por ele mesmo, foram realizadas 
compilações de fragmentos de suas falas, entrevistas e demais momentos onde 
explanou suas ideias. Nessa obra, como em tantas outras, fica bastante claro sua 
rejeição à nomenclaturas classificatórias de seu trabalho e uma negação ainda maior 
a utilizar de excertos de sua vida pessoal quando em interlocuções públicas. Como, 
 21 
entretanto, essa posição de Foucault quanto à sua prática pode contribuir à 
psicologia? Essa atitude vai à contramão de uma posição mercadológica, onde é de 
uma importância indelével a nomeação e classificação de um produto ou serviço. A 
partir de divulgações em massa, entretanto, de eventos de cunho acadêmico e 
capitalização do estudo científico, a atitude que envolve a manutenção um 
nomenclaturas sedutoras acerca de uma produção toma um lugar importante na 
academia. Podem-se encontrar então currículos de várias páginas elencando todas 
as conquistas de um pesquisador, o que automaticamente valida sua produção. 
Foucault (2015) delineiaque as linhas pelas quais o poder circula dependem de uma 
diferença de potencial, ou seja, que haja um indivíduo com um nível hierárquico alto, 
bastante renome entre seus semelhantes, etc., e um indivíduo que não tenha tal 
renome ou posição de prestígio. Dessa forma, a produção científica em psicologia 
corre o perigo de cair em uma troca voltada à construção entre semelhantes, com 
nomenclaturas e metodologias que apelem ao ouvinte acadêmico pagante de livros 
e congressos, sem necessariamente atender aos indivíduos que precisem ser 
ouvidos e atendidos por uma psicoterapia. 
Foucault (2002) fala como é possível dividir a psicologia da filosofia com 
Freud. Com o advento do inconsciente, a filosofia passa a tratar do que é 
consciente, mensurável e relativamente claro. A psicologia, por efeito, do 
inconsciente que, a partir do momento que o concebe, trata-se de um processo de 
subjetivação. Entretanto, com a massificação do uso de medicamentos psicotrópicos 
e técnicas que visam um positivismo metodológico os estudos do inconsciente, 
psicanalíticos ou não, acabaram por ser subjugados às mesmas regras das demais 
ciências. A partir daí, há a necessidade de classificar em números a eficácia de um 
método, clarificar exaustivamente os referenciais utilizados para a construção de 
uma ideia e letras e números classificatórios que determinam a qualidade de uma 
produção através da plataforma CAPES. Dessa forma, o próprio ato classificatório é 
avaliado em si. Não só o processo de subjetivação é classificado e dissecado, 
nulificado em si, como também dito falso ou irrelevante. Assim como o discurso 
acerca dos homossexuais abordado anteriormente, o discurso científico é inscrito em 
tramas de poder, com seu regulamento específico. 
 22 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Neste trabalho, foram exploradas ideias de Michel Foucault, ao qual não se 
pode titular como filósofo ou historiador. Foram analisados escritos e falas do pensar 
sob a ótica do pensamento científico, e como tais produções podem ser relevantes à 
maneira de pensar o estudo da psicologia. A tarefa de encontrar um diálogo entre o 
saber psi e o Foucaultiano vem sendo explorada há bastante tempo, sendo de vital 
importância para grandes movimentos da trajetória da psicologia e de seus 
multiplicadores, como a própria reforma psiquiátrica que colocou todo o setting 
clínico em xeque e fazendo urgir a necessidade de uma nova metodologia para o 
cuidado em saúde mental. Para tanto, tornou-se necessário revisitar as incursões de 
Foucault com a filosofia, dessa forma esboçando, ainda que brevemente, o 
importante papel do método enquanto mediador do discurso de Michel Foucault com 
o saber psicológico. 
Há um grande porém quando se pensa o sujeito da psicologia sob esta ótica, 
pois para Foucault tal sujeito não existe. O que existe, entretanto, são processos de 
subjetivação e um sujeito que constantemente se (re) constrói. Para esta discussão 
foi possível ignorar momentaneamente o existencialismo que abasteceu a 
psicanálise e adotar o pós-estruturalismo. Tal movimento filosófico pode ser de 
grande valia para o estudo da psicologia, pois busca anular o sujeito de maneira 
puramente metodológica, evitando o apagamento real de um indivíduo trazido pela 
falha metodológica presente no positivismo científico ou de outras práticas quando 
suas técnicas falham em compreendê-lo. Não há consenso entre os autores desse 
movimento filosófico, e percebem-se ainda mais divergências quando postos em um 
contraponto com as ideias de Foucault. Dessa forma, o que une as maneiras de 
pensar propostas neste trabalho são tão somente a inconstância presente entre 
elas. Ora, o discurso científico da psicologia tem em si um grande número de 
encontros e consonâncias, mas ainda assim falham em atender um número 
relativamente grande de indivíduos com sua prática. Talvez sejam necessárias 
fissuras nesse discurso para atender esses anormais (assim chamados loucos, ou 
mesmo marginais ou depravados) tão queridos a Michel Foucault em seus escritos, 
 23 
tendo dedicado grande parte de suas produções buscando atender a esses 
indivíduos. 
O discurso vem sempre oriundo de linhas de poder, e sua construção não 
pode ser separada das mesmas. Dessa forma, poder-se-ia dizer que o estudo do 
poder não é relevante à construção do saber científico. Entretanto, precisamente por 
essa indivisibilidade entre teoria, prática e poder é que as suas relações devem ser 
analisadas, esmiuçadas. Para tanto, quando a relação de poder constrói um lócus 
teórico que produza uma falha em atender os que Foucault chamaria de anormais, 
precisamente aí se torna necessário atender às relações de poder que aí se 
constroem. O saber psicológico se consolidou, a duras penas, dentro de um campo 
de trabalho próprio (e compartilhado) ao longo do século XX. O advento da 
psicanálise e, principalmente, suas discussões com métodos de metodologias 
positivistas construíram um arcabouço bastante rico quando falando da psique, de 
relações e comportamentos. Esse arcabouço, entretanto, construiu para si uma 
epistemologia própria do saber psi, que traços dogmáticos em suas delineações. 
Dentro do que há de dogmático, portanto, nulificam-se saberes que muito poderiam 
valer ao saber científico, mas principalmente aos indivíduos que poderiam se 
beneficiar dessas construções. 
Diferentes psicoterapias falam da necessidade de uma subversão necessária 
ao bem-estar psíquico, ou seja, um processo de subjetivação que (re) construa um 
sujeito. Entretanto, tal atitude não é percebida quando colocada em questão a 
própria psicologia. Dessa forma, segue-se diretrizes externas, do Estado, ou mesmo 
próprias, de métodos há muito não revistos e ainda em prática por terem sido bem 
conceituados em algum momento. Para atender a um sujeito que está em constante 
construção, não seria também necessário constantemente reconstruir o sujeito da 
psicologia, em método e conceito? Como se constrói uma técnica para atender a um 
sujeito que constantemente se reconstrói? 
 
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SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 28 ed. São Paulo: Cultrix, 
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SOUZA, Tadeu de Paula; CUNHA, Gustavo Tenório. A gestão por meio da 
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públicas e gerenciais contemporâneas: uma contribuição crítica a partir de 
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ZIZEK, Slavoj (org). Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. 
	Resumo: Este trabalho apresenta uma releitura das obras de Foucault e seus intérpretes. A partir de uma leitura de tais produções foi possível levantar ideias sobre diálogos possíveis entre os pensamentos de Foucault e a psicologia. Foi explorada a interação de movimentos filosóficos que interagiram com seu trabalho, de modo a contextualizar as idéias presentes neste artigo. Além disso, foram exploradas idéias onde o olhar Foucaultiano voltava-se aos mesmos recônditos que a psicologia, ou seja, o indivíduo e seus processos de subjetivação. Foram delineadas noções das ideias que Foucault construiu sobre o poder e suas manifestações. Foi concebido que o exercício do poder é inerente ao trabalho acadêmico e as práticas da psicologia, devendo atentar-se à maneira como ele circula. 
	1 INTRODUÇÃO
	2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA	
	2.1 Pós-estruturalismo
	2.3 Foucault e a genealogia
	 
	2.4 Subjetividade em Foucault
	2.5 O sujeito e o poder
	2.5 O biopoder
	3 METODOLOGIA
	4 DISCUSSÃO
	5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
	6 Referências

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