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resenha do livro 1968 o ano que não terminou - Zuenir Ventura

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Universidade Federal do Ceará
Centro de Humanidades II
Departamento de História
Disciplina de História do Brasil IV
Professora: Adelaide Maria Gonsalves Pereira
Discente: Antonio Humberto Magalhães Brito Filho
Resenha sobre a obra de Zuenir Ventura: “1968: o ano que não terminou”.
A obra “1968: o ano que não terminou”, de Zuenir Ventura, foi publicada em 1988, na cidade do Rio de Janeiro pela editora Nova Fronteira. Nascido em Minas Gerais, Zuenir Ventura vai para o Rio de Janeiro aos 11 anos, forma-se em Letras Neolatinas pela Faculdade Nacional de Filosofia (Universidade Federal do Rio de Janeiro, nos dias de hoje), seguindo assim sua carreira como jornalista e cronista no jornal O Globo, no Rio de Janeiro. O livro possui 27 capítulo distribuídos em 4 partes, onde Zuenir Ventura procura expor os temores e anseios que despertaram a mentalidade de uma geração enfervecida, a qual viu e viveu, grandes acontecimentos históricos, no calor das revoluções de 68. 
 Testemunha ocular do ano relatado no livro, o autor vai escrever sobre os principais eventos ocorridos em 1968 no âmbito urbano, com exceção de uma passagem sobre o XXX Congresso da UNE que acontece dentro de um sítio, em Ibiuna, no Sul do Estado de São Paulo. Vale lembrar que os eventos presentes na escrita de Ventura voltam-se especialmente para os maiores centros urbanos do país: Rio de Janeiro e São Paulo. Os eventos relatados no livro são os mais diversos, do espaço privado, por exemplo, o autor vai relatar de festas, como o réveillon de 67 para 68 (no primeiro capítulo: o rito de passagem) na casa de Heloisa Buarque de Hollanda, contando com a presença de grandes artistas e intelectuais da época. Já no âmbito público, os destaques são as manifestações políticas e culturais, onde são evocadas: a passeata do 100 mil, o sepultamento e missa de sétimo dia do jovem Édson Luíz.
Outro elemento a destacar é a preocupação que o autor tem em explicar o imaginário revolucionário da juventude do período. Zuenir Ventura destrincha a militância que fora exercida de diversas formas, para além das manifestações políticas de rua (passeatas, greves e piquetes), por meio: do comportamento, da sexualidade, das expressões artísticas e uso de drogas. Pensar que nesse período algumas discussões ainda eram consideradas grandes tabus sociais, como é o caso da pílula anticoncepcional, importante ferramenta na luta feminista para a revolução sexual alcançada pelas mulheres do período, o relacionamento aberto, a homossexualidade e o consumo de cannabis também fazem parte desse conjunto de comportamentos considerados subversivos durante a ditadura empresarial-militar no Brasil, que nada mais eram que manifestações referentes aos anseios por um mundo mais livre e justo. Desejos esses que muitas vezes se encorpavam com as reflexão teóricas vinda do exterior: o existencialismo filosófico de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, o marxismo de Marcuse, a teoria esquerdista de Walter Benjamin e Althusser. Autores que tiverem seus estudos publicados em grandes revistas, é o caso da Revista Civilização Brasileira, que propiciava essas reflexão em diálogo com intelectuais brasileiros, como Alceu Amoroso Lima e Nelson Werneck Sodré. 
Um terceiro ponto a destacar é a disputa no espaço político entre militares, representantes políticos eleitos via votação popular, partidos de esquerda que buscaram derrubar a ditadura pela reforma (ex: Partido Comunista Brasileiro) e os grupos revolucionários (Vanguarda Popular Revolucionária, União Nacional dos Estudantes, Aliança Nacional Libertadora...). O autor vai descrever como os militares vão se utilizar dos mecanismo de poder do Estado, seja a polícia ou burocracia administrativa, para controlar e reprimir qualquer tentativa de derrubada do regime, principalmente após ao Ato Institucional nº 5, que intensifica ainda mais a censura e as políticas de violência contra aqueles que protestavam contra o regime (o ato deu mais poder para o governo militar matar e torturar à vontade). 
O estudo de Zuenir Ventura é de fácil e cativante leitura, já que o autor busca fazer uma análise bem ampla, perpassando por vários setores de grande importância na formação dos sujeitos históricos que fizeram parte do processo, sem deixar, é claro, de se ater aos detalhes importantes dos eventos relatados. O jornalista expõem os bastidores dos acontecimentos históricos e precisas características de personagens que são abordados, fazendo assim um belo apanhado de ricos detalhes, importantíssimos, para a construção de um romance histórico. Sua preocupação com a heterogeneidade do período é propensa para atrair um maior público leitor, desde os interessados em política, como aqueles que buscam entender os aspectos culturais do ano estudado. Por se tratar de um ano revolucionário, com bastante participação da luta armado, talvez tenha faltado o jornalista prestar mais atenção as guerrilhas do campo, e não só, já que o trabalhador rural, assim como os operários, se articularam e resistiram na luta contra o regime e no reconhecimento de direitos.
Por fim, faço recomendação dessa leitura para todos aqueles que buscam conhecer, em perspectiva ampliada, os acontecimentos históricos referente ao ano de 68 no Brasil. Em se tratar de um livre de fácil leitura e de boa abordagem feitas as principais inquietação urbanas do período, pode ser muito bem trabalhado em sala de aula com alunos do ensino médio e superior, servindo de ponto de partida para um estudo mais aprofundado e de fonte para discussão em sala durante uma sobre ditadura militar no Brasil.

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