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Ética Cidadania Relações Étnico Culturais Raciais e de Gênero

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1
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
ÉTICA, CIDADANIA 
E RELAÇÕES 
ÉTNICO-CULTURAIS, 
RACIAIS E DE 
GÊNERO.
AUTORIA
Sátina Priscila Marcondes Pimenta
2
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
R E I T O R
A Faculdade Multivix está presente de norte a sul 
do Estado do Espírito Santo, com unidades em 
Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova 
Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. 
Desde 1999 atua no mercado capixaba, desta-
cando-se pela oferta de cursos de graduação, 
técnico, pós-graduação e extensão, com quali-
dade nas quatro áreas do conhecimento: 
Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sempre 
primando pela qualidade de seu ensino e pela 
formação de profissionais com consciência 
cidadã para o mercado de trabalho.
Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo 
de Instituições de Ensino Superior que possuem 
conceito de excelência junto ao Ministério da 
Educação (MEC). Das 2109 instituições avaliadas 
no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, 
que são consideradas conceitos de excelência 
em ensino.
Estes resultados acadêmicos colocam todas as 
unidades da Multivix entre as melhores do 
Estado do Espírito Santo e entre as 50 
melhores do país.
 
MISSÃO
Formar profissionais com consciência cidadã 
para o mercado de trabalho, com elevado 
padrão de qualidade, sempre mantendo a 
credibilidade, segurança e modernidade, 
visando à satisfação dos clientes e colabora-
dores.
 
VISÃO
Ser uma Instituição de Ensino Superior 
reconhecida nacionalmente como referên-
cia em qualidade educacional.
GRUPO
MULTIVIX
3
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
P644 Pimenta, Sátina Priscila Marcondes
 Ética, cidadania e relações etnico-culturais, raciais e de genero / Sátina Priscila Marcondes. – Vitoria: Multivix, 2019.
 67 f. : il. ; 30 cm 
Inclui referências.
1.Ética 2.Relações etnico-raciais 3. Relações etncio-culturais 4. Relações de gênero I. Faculdade Multivix II. Título.
 CDD: 301
EDITORIAL
Catalogação: Biblioteca Central Anisio Teixeira – Multivix
2017 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.
As imagens e ilustrações utilizadas nesta apostila foram obtidas no site: http://br.freepik.com
FACULDADE MULTIVIX
Diretor Executivo 
Tadeu Antônio de Oliveira Penina
Diretora Acadêmica
Eliene Maria Gava Ferrão Penina
Diretor Administrativo Financeiro
Fernando Bom Costalonga
Conselho Editorial 
Eliene Maria Gava Ferrão Penina (presidente do Conselho Editorial)
Kessya Penitente Fabiano Costalonga
Carina Sabadim Veloso
Patrícia de Oliveira Penina
Roberta Caldas Simões
Revisão Técnica
Alexandra Oliveira
Alessandro Ventorin
Graziela Vieira Carneiro
Design Editorial e Controle de 
Produção de Conteúdo
Carina Sabadim Veloso
Maico Pagani Roncatto
Ednilson José Roncatto
Aline Ximenes Fragoso
Genivaldo Félix Soares
Multivix Educação a Distância
Gestão Acadêmica Coord. Didático Pedagógico
Gestão Acadêmica Coord. Didático Semipresencial
Gestão de Materiais Pedagógicos e Metodologia
Direção EaD
Coordenação Acadêmica EaD
BIBLIOTECA MULTIVIX (DADOS DE PUBLICAÇÃO NA FONTE)
Alexandra Barbosa Oliveira CRB/6 00396
4
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
R E I T O R
APRESENTAÇÃO
DA DIREÇÃO 
EXECUTIVA
Prof. Tadeu Antônio
de Oliveira Penina
Diretor Executivo do 
Grupo Multivix
Aluno (a) Multivix,
Estamos muito felizes por você agora fazer parte do 
maior grupo educacional de Ensino Superior do 
Espírito Santo e principalmente por ter escolhido a 
Multivix para fazer parte da sua trajetória profissional.
A Faculdade Multivix possui unidades em Cachoeiro 
de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São 
Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999, no 
mercado capixaba, destaca-se pela oferta de cursos 
de graduação, pós-graduação e extensão de quali-
dade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, 
Exatas, Humanas e Saúde, tanto na modalidade 
presencial quanto a distância.
Além da qualidade de ensino já comprovada pelo 
MEC, que coloca todas as unidades do Grupo 
Multivix como parte do seleto grupo das Institu-
ições de Ensino Superior de excelência no Brasil, 
contando com sete unidades do Grupo entre as 
100 melhores do País, a Multivix preocupa-se 
bastante com o contexto da realidade local e 
com o desenvolvimento do país. E para isso, 
procura fazer a sua parte, investindo em projetos 
sociais, ambientais e na promoção de oportuni-
dades para os que sonham em fazer uma facul-
dade de qualidade mas que precisam superar 
alguns obstáculos. 
Buscamos a cada dia cumprir nossa missão 
que é: “Formar profissionais com consciência 
cidadã para o mercado de trabalho, com 
elevado padrão de qualidade, sempre man-
tendo a credibilidade, segurança e moderni-
dade, visando à satisfação dos clientes e 
colaboradores.”
Entendemos que a educação de qualidade 
sempre foi a melhor resposta para um país 
crescer. Para a Multivix, educar é mais que 
ensinar. É transformar o mundo à sua volta.
Seja bem-vindo!
5
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 6
2 AS CONCEPÇÕES DE ÉTICA E MORAL 7
2.1 ÉTICA E RELIGIÃO 10
2.2 ÉTICA E POLÍTICA 11
2.3 A ÉTICA DA ALTERIDADE E DA RESPONSABILIDADE COM O OUTRO 12
2.4 AS CONQUISTAS DA CONSTITUIÇÃO 1988 14
ETNIA/RAÇA E A INDISSOCIABILIDADE DE OUTRAS CATEGORIAS DA DIFERENÇA 16
3.1 A DESCONSTRUÇÃO DO RACISMO CIENTÍFICO 18
3.2 HISTORICIDADE DAS RELAÇÕES ÉTNICOS RACIAIS NO BRASIL 21
3.3 CULTURA E RELIGIÃO INDÍGENA 25
3.4 A CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANIDADES 27
3.5 RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANA 31
A DIVERSIDADE CULTURAL 37
4.1 CULTURA E SUAS DIMENSÕES 37
4.2 MULTICULTURALISMO CRÍTICO E INTERCULTURALIDADE 40
4.3 O DIREITO À DIVERSIDADE NO SÉCULO XXI 44
A DIVERSIDADE CULTURAL: OS MOVIMENTOS 47
5.1 MOVIMENTOS EMANCIPATÓRIOS E RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NO BRASIL E NA 
AMÉRICA LATINA 47
5.1.1 O MOVIMENTO NEGRO, A CULTURA INDÍGENA E AS AÇÕES AFIRMATIVAS; SA-
BERES E EXPERIÊNCIAS DE COMUNIDADES INDÍGENAS E AFRO-BRASILEIRAS (QUI-
LOMBOLAS); 51
A DIVERSIDADE SEXUAL E RELAÇÕES DE GÊNERO 56
6.1 A DIVERSIDADE SEXUAL E A ORIENTAÇÃO SEXUAL/AFETIVA; 56
6.2 A SEXUALIDADE COMO CONSTRUTO HISTÓRICO, SOCIAL, CULTURAL, POLÍTICA E 
DISCURSIVA; 58
6.3 ESTUDOS DE GÊNERO: HISTÓRIA, CONCEITOS E MOVIMENTOS POLÍTICOS. 61
REFERÊNCIAS 65
1
2
3
4
5
6
7
6
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
1 INTRODUÇÃO 
A atualidade é marcada por alteridades e diferenças sendo necessária a compreensão de 
quem somos e de quem é o outro para vivermos de forma ética, respeitosa e colaborativa.
A disciplina Ética, Cidadania e Relações étnico-culturais, raciais e de gênero vem propor 
ao estudante a ampliação do olhar sobre a diversidade que possuímos em nosso planeta. 
Buscou-se através de um processo de escrita mais acessível, ofertar ao estudante que 
a lê diferentes fontes de conhecimento sobre os assuntos aqui abordados. A ideia é 
que ao ler esta apostila o estudante acesse informações de forma multifuncional uti-
lizando para a construção de seu conhecimento além do conteúdo tradicional (livros 
e artigos científicos) também vídeos de plataformas digitais, produções cinematográ-
ficas, imagens que trazem uma reflexão em si mesmas. 
Convidamos o alunado a adentrar no debate de temas controversos (e por vezes sem 
resposta certa), a conhecer termos ainda não conhecidos (pansexualismo, já ouviu fa-
lar?), a questionar a seu próprio comportamento para com o outro através da ética da 
responsabilidade, a conhecer a cultura e a evolução de etnias discriminadas, a desco-
brir movimentos revolucionários e a perceber que temos o direito a diversidade e ele 
não esta apenas na Constituição Federal de 1988. Portanto, sejam bem vindos!7
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
2 AS CONCEPÇÕES DE ÉTICA 
E MORAL 
Primeiramente vamos buscar entender o conceito de Ética. Quando estudamos tal con-
ceito nas disciplinas de Filosofia e de Sociologia e outras disciplinas introdutórias no cur-
so de Direito teremos que a Ética é o estudo de algo universalizado onde os conceitos 
de bom e mal são compartilhados pela humanidade ou pelo menos por uma grupo 
extenso de pessoas. Porém, com a liquidez baumaniana acabamos caindo do conflito 
sobre os conceitos de bom e mal e portanto possuímos uma sociedade confusa.
Desde a Grécia antiga (500 e 300 A.C) Sócrates e seu discípulo Platão, o primeiro con-
denado ao suicido por desafiar o estado, questionar as leis e buscar os princípios éticos 
em um polis ainda recém nascida. Estudava a construção da moral e ainda da justiça 
em sua época e seus ensinamentos são imortais nos meio académico. Já Platão, por 
Sócrates não se preocupar em escrever sobre o que pensava, tornou-se o grande regis-
trador de seu ídolo, porém não sem deixar seus pensamentos e marcas na construção 
do conhecimento sobre a ética e a moral. Para Platão o homem deve empreender 
seus esforços na busca da felicidade e como fazer isto era a questão que o envolvia 
com a ética e a moral. 
Mas o debate sobre a Ética e a moral na an-
tiguidade não acaba por aí. Aristóteles rela-
tava que o homem precisa, por ser racional, 
construir-se em bons hábitos sendo portanto 
virtuoso em suas ações diárias (Teoria das Vir-
tudes). 
Já Kant, sempre citado nos mais diversos 
trabalhos sobre ética, apresenta o seu pen-
samento no final do séc XIVII, onde a ética 
possui caracter único e universal e deve servir 
para igualdade dos homens. 
RECOMENDAÇÃO DE LEITURA
8
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Fonte: https://www.todoestudo.com.br/historia/etica-e-moral
Vamos entender comparando:
Mas ética e moral são as mesmas coisa? 
A Moral esta relacionada com o indivíduo que a partir da analise de valores e da ética 
vigente em sua sociedade criará os SEUS conceitos de certo e de errado e normal-
mente baseará as suas decisões a partir desta construção. Assim sendo podemos ter 
pessoas que compartilham a mesma ética mas não a mesma noção de moral. 
Há portanto um subjetivismo ético na construção da moral, até porque podem até lhe 
dizer o que é certo e errado socialmente (você que estuda Direito tem as leis que lhe 
provam isto) mas a decisão realizar estas ações no dia a dia é do sujeito. Mas este será 
julgado pela sociedade na qual ele se encontra! Sim! Ele será, mas isto não é novidade 
para ele. Já ouviu o jargão de adolescentes infratores: “Dá nada, se der dá pouca coisa”?
Um filme interessante que podemos indicar para compreendemos mais sobre o as-
sunto é CRASH, no limite (2004). Vejam a análise do mesmo de acordo com o site 
Cabine Cultural: 
9
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Crash, no Limite – Crash (de 2004) é um filme visceral, que aborda através de 
suas variadas histórias (que se encontram no decorrer do filme) questões éticas 
ligadas ao preconceito racial e étnico, adequação a uma sociedade e estereo-
tipação. A história é rica em mostrar manifestações de falta de moral/ética, ou 
ao menos de uma chamada ética da conveniência. Ou seja, se esta ação vai 
me fazer bem, então ela talvez não seja tão ruim assim. Na história, o roubo 
do carro de um casal de brancos passa a envolver a vida de latinos, negros e 
orientais em acontecimentos que se sucedem, demonstrando, assim, o poder 
que as decisões têm, não só na vida de quem as toma, mas na vida de todas 
as pessoas envolvidas.
Assim, Crash trabalha com aquela interessante ideia de que nossas ações pos-
suem um poder muito grande sobre a vida alheia, e não somente sobre a 
nossa. As ações que praticamos podem – e devem – ser universalizadas, para 
assim sabermos se ela é ética (ou moral) ou não. A questão aqui é a seguinte: 
você gostaria que ‘fulano’ te tratasse do mesmo jeito que você está tratando 
‘beltrano’? Muito de nossa reflexão sobre o tema recai sobre esta fundamental 
pergunta.
Mas, se não temos um padrão moral e cada um de nós decide o que é certo e o que 
é errado como mantemos o Contrato Social de Rousseau, ou de Locke e Hobbes? Não 
mantemos! Hoje o comportamento humano esta em crise e o que mais vivenciamos 
são denuncias de corrupção, desvio de capital, sonegações, crimes diversos e mais 
uma enxurrada de proposituras não éticas (pelo menos para quem aqui os escreve, 
afinal o conceito tornou-se subjetivo, não é?). 
A questão é que há uma processo acusatório mas não de mudança. Enquanto muitos 
apontam o comportamento imoral de terceiros esquecem de analisar o 
seu no dia a dia, acreditando que apenas aqueles que deveriam ser exemplo (políti-
cos, atores, personalidades, etc) deveriam cumprir seu papel ético.
10
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
2.1 ÉTICA E RELIGIÃO
Alguns autores que já ouvimos falar fazem associação entre a religião e a ética: Marx, 
Weber, Durkheim são os pioneiros neste labor intelectual. 
O fato é que a religião é algo presente e impregnado na sociedade desde que o ho-
mem é homem e portanto exerce grande influencia na construção dos nossos con-
ceitos morais e éticos. 
Marx Weber ao contrário de Karl Marx acredita inclusive que a religião tem um papel 
ativo na construção social e individual das pessoas. Em seu livro Ensaios de Sociologia, 
no capitulo: Psicologia Social das Religiões Mundiais, Weber nos ensina que a doutrina 
religiosa por si só emana preceitos éticos que deverão ser seguidos por aqueles que 
optam por tal ou qual religião, regendo inclusive as relações sociais deste grupo de 
pessoas entre eles e com o mundo que o cerca.
Assim sendo se pensarmos na ética e na moral com base na religião teremos diferen-
tes pontos de vista sobre o que é o bem e o mal (até mesmo sobre a existência ou 
não destes) e o certo e o errado. 
Para melhor ilustrar o tema indicamos a entrevista de Mario Sergio Cortella a faculdade 
Católica de Fortaleza no link: http://www.catolicadefortaleza.edu.br/videos/religiao-e-etica/. 
É preciso que tenhamos em mente a História da Humanidade e suas tramas com a 
religião, haja visto que, utilizando de discursos religiosos muitos foram mortos (exemplo 
As Cruzadas na Idade Média) e ainda o são (como os ataques de 11 de setembro 2001 
as Torres Gêmeas e os conflitos Sírios). Isto ocorre pois a religião engloba não só os seus 
dogmas mas também as relações sociais nas quais esta instituição esta engendrada.
Mas vamos entender alguns termos que vem sendo usados:
• Fundamentalismo: significar a forte aderência a qualquer conjunto de credos 
em face do criticismo ou impopularidade, mas tem mantido suas conotações 
religiosas. 
• Radicalismo: utiliza-se de todos os meios (des)necessários para que a dogmáti-
ca seja mantida não só entre os membros da religião mas impondo-a a todos. 
11
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
• Extremismo: não há nenhum respeito a religião do outro e assim há a per-
cepção de que tudo que não for pertencente ao Sagrado do extremista deve 
literalmente ser exterminado da Terra. 
O Brasil de acordo com nossa Constituição Federal de 1988 é um Estado Laico, toda-
via, não podemos deixar de admitir a influencia da religiosidade desde os primórdios 
do direito até porque historicamente nosso direito tem como base o Direito Canônico. 
Debates sobre a Legalização do Aborto, a Cura Gay, Eutanásia e outros são constantes 
nas bancadas do Poder Legislativo e também nas analises de Constitucionalidade e 
inconstitucionalidade do Poder Judiciário em todos 
Dalai Lama em seu livro “Além da religião: Uma ética por um mundo sem fronteiras” 
(2012) afirma que não será pela religião que resolverá os problemas que possuímos e 
sim a alteridade.
A diferença entre ética e religião é como a diferença entre água e chá. Éticasem conteúdo religioso é a água, um requisito essencial para a saúde e a so-
brevivência. A ética fundamentada na religião é o chá, uma mistura nutritiva e 
aromática de folhas de água, chá, especiarias, açúcar e, no Tibete, uma pitada 
de sal também. Mas, embora o chá seja preparado, o ingrediente principal é 
sempre água, Enquanto nós podemos viver sem chá, não podemos viver sem 
água. Da mesma forma, nascemos livres da religião, mas não nascemos livres 
da necessidade de compaixão.
2.2 ÉTICA E POLÍTICA
Iniciamos aqui dissertando um pouco sobre a ética de Aristóteles. Lembra?! O discípu-
lo de Platão? Então, tal filósofo grego compreendia que ética e política eram comple-
mentares haja visto que a ética aristotélica enlaçava o indivíduo a comunidade e assim 
buscando a felicidade individual (ética) ele estaria buscando a felicidade do coletivo, 
ou seja, da Pólis. Portanto, para Aristóteles todo o comportamento ético é ao mesmo 
tempo político. 
Mas, se fosse desta maneira estaríamos vivendo em um paraíso. Certo? Maquiavel tam-
bém não acreditou nesta falácia e assim no século VX questionando a sociedade em 
que vivia onde os governantes não permaneciam mais de dois meses no poder e não 
havia um controle da ordem social. Neste ponto afim de manter o o próximo gover-
nante no poder Maquiavel escreve O Príncipe, um manual para os próximos gover-
12
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
nantes, enaltecendo o papel do Estado e o seu poder de acalmar os conflitos e trazer 
a estabilidade novamente. 
Ocorre que, como sabemos o Estado se manteve mas a estabilidade e os conflitos 
também, assim sendo, na atualidade os cidadãos veem a política com um olhar des-
confiado onde “todo o político é corrupto”. As mais diversas denuncias de corrupção 
que assolaram os anos de 2010 à 2019 trouxeram a tona novamente o debate sobre 
a relação da ética, moral e política e hoje os brasileiros demonstram dois comporta-
mentos: apatia/descrença e revolta. 
Estamos escrevendo esta apostila no ano de 2019 onde temos como presidente Jair 
Bolsonaro, onde temos um ex-presidente detido por corrupção e outros diversos en-
volvidos em esquemas de corrupção e desvio de dinheiro presos ou ocupando cadei-
ras no Senado, Câmara, Ministérios e no Poder Judiciário. Não sabemos ao certo qual 
o rumo que a moral, a ética e a política tomarão e assim aguardamos. 
Para descontrair indicamos assistirem o filme brasileiro “O candidato honesto” onde o 
comediante Leandro Hassum faz uma sátira a política brasileira e a tudo que até aqui 
trocamos como ideia.
2.3 A ÉTICA DA 
ALTERIDADE E DA 
RESPONSABILIDADE 
COM O OUTRO
Emmanuel Levinas (1906-1995) viveu na 
época de Segunda Guerra Mundial sen-
do inclusive capturado e exilado por cinco 
longos anos. Levinas então propõe uma 
reflexão de que a Ética da responsabilida-
de é a filosofia em si e que sem alterida-
des a humanidade esta fadada a ruína.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Emmanuel_Levinas
13
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Mas o que é alteridades? De acordo com o site Significados (2019): 
Alteridade é um substantivo feminino que expressa a qualidade ou estado do 
que é outro ou do que é diferente. É um termo abordado pela filosofia e pela 
antropologia.
Um dos princípios fundamentais da alteridade é que o homem na sua verten-
te social tem uma relação de interação e dependência com o outro. Por esse 
motivo, o “eu” na sua forma individual só pode existir através de um contato 
com o “outro”.
Quando é possível verificar a alteridade, uma cultura não tem como objetivo a 
extinção de uma outra. Isto porque a alteridade implica que um indivíduo seja 
capaz de se colocar no lugar do outro, em uma relação baseada no diálogo e 
valorização das diferenças existentes. (grifo do autor)
Portanto, é apenas nas relações humanas que existimos, pois são nestas relações que 
nos deparamos com o Outro e compreendemos através dele quem somos. Parece 
simples, e é: eu só sou baixo porque existe o alto, eu sou negro pois existe o branco, eu 
sou professora pois existem os alunos e vice-versa. Assim sendo para a existência da 
identidade (dando um significado de senso comum- daquilo que nos Identifica) eu e 
o Outro somos co-dependentes. 
Na co-dependência se um dos atores da relação deixa de existir o Outro também dei-
xará e portanto para que isto não aconteça somos sim RESPONSÁVEIS uns pelos outros. 
Um bom exemplo no Estado do Espírito Santo é 
uma pequena responsável chamada Marina Cuni-
co. A adolescente com apenas 5 anos percebeu a 
importância do Outro para sua existência e come-
çou a realizar ações junto com a mãe de responsa-
bilidade social: a primeira delas fazer arrecadação 
de cabelos para mulheres com câncer. Daí para 
frente ela não parou mais, abdicou de sua festa de 
aniversário para fazer uma Lojinha para crianças de 
regiões carentes da Grande Vitória (esta ação de 
alteridades foi inclusive apresentada no programa 
do apresentador Rodrigo Faro em 2016)
14
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Marina descreve em suas redes sociais que não faz nada sozinha, que na verdade 
possui uma “Teia do Bem” onde pessoas que também se sentem responsáveis pelo 
Outros a auxiliam a alcançar os seus sonhos solidários. No ano de 2017 fez um mo-
vimento de doação de material escolares usados, reciclou e montou 340 mochilas 
para crianças em situação de vulnerabilidade. Quer fazer parte desta teia? Segue este 
exemplo lá no Instagram: 
https://www.instagram.com/marinacunico/
2.4 AS CONQUISTAS DA CONSTITUIÇÃO 1988
A Constituição Federal de 1988 foi um marco para a conquista cidadã no país. Esta-
beleceu na lei a importância do Princípio da Cidadania, considerando um princípio 
fundamental, conforme o artigo 1º, II da Constituição Federal. A Constituição Federal 
de 1988 passou a tratar o conceito de cidadania de maneira contemporânea afinada 
com as exigências da democracia. De acordo com a Carta magna de 1988, cidadão é 
aquele indivíduo a quem a mesma confere direitos e garantias – individuais, políticos, 
sociais, econômicos e culturais –, e lhe dá o poder de seu efetivo exercício. 
Cidadania é faculdade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. A 
cidadania ativa requer a participação na esfera pública e tem como base o respeito 
em relação às diferenças e a superação das desigualdades sociais, bem como a capa-
cidade de buscar consensos que privilegiem a maioria dos envolvidos, ou, num senti-
do mais amplo, o bem comum.
Porém, o que importa ressaltar é que a atual Constituição abandona, o velho concei-
to de cidadania ativa e passiva, incorporando em seu texto a concepção contempo-
rânea de cidadania introduzida pela Declaração Universal de 1948 e reiterada pela 
Conferência de Viena de 1993. Desta forma, enriqueceu e ampliou os conceitos de 
cidadão e cidadania. Seu entendimento, agora, “decorre da idéia de Constituição diri-
gente, que não é apenas um repositório de programas vagos a serem cumpridos, mas 
constitui um sistema de previsão de direitos sociais, (...) em torno dos quais é que se 
vem construindo a nova idéia de cidadania”.(SILVA apud MAZZUOLI, 2001) De forma 
que, não mais se trata de considerar a cidadania como simples qualidade de gozar 
direitos políticos, mas sim de aferir-lhe um núcleo mínimo e irredutível de direitos 
(fundamentais) que devem impor-se, obrigatoriamente, à ação dos poderes públicos. 
15
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
A cidadania, assim considerada: 
Consiste na consciência de pertinência à sociedade estatal como titular dos 
direitos fundamentais, da dignidade como pessoa humana, da integração par-
ticipativa no processo do poder, com a igual consciência de que essa situação 
subjetiva envolve também deveres de respeito à dignidade do outro e de con-
tribuir para o aperfeiçoamento de todos. (SILVA, apud MAZZUOLLI, 2001).
 Vê-se, dessa forma que, se consagram, de uma vezpor todas, os pilares universais dos 
direitos humanos contemporâneos fundados na sua universalidade, indivisibilidade e 
interdependência. A universalidade dos direitos humanos consolida-se, na Constitui-
ção de 1988, a partir do momento em que ela consagra a dignidade da pessoa huma-
na como núcleo informador da interpretação de todo o ordenamento jurídico, tendo 
em vista que a dignidade é inerente a toda e qualquer pessoa, sendo vedada qualquer 
discriminação. Quanto à indivisibilidade dos direitos humanos, a Constituição de 1988 
é a primeira Carta brasileira que integra, ao elenco dos direitos fundamentais, os di-
reitos sociais, que anteriormente restavam espraiados no capítulo pertinente à ordem 
econômica e social. Assim, foi a primeira a explicitamente prescrever que os direitos 
sociais são direitos fundamentais, sendo, pois, inconcebível separar o valor liberdade 
(direitos civis e políticos) do valor igualdade (direitos sociais, econômicos e culturais). 
Conclui-se, portanto, que a Constituição brasileira de 1988 endossa, de forma explí-
cita, a concepção contemporânea de cidadania, afinada com as novas exigências da 
democracia e fundada no duplo pilar da universalidade e indivisibilidade dos direitos 
humanos (cf. MAZZUOLI, 2001).
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
3 ETNIA/RAÇA E A 
INDISSOCIABILIDADE DE 
OUTRAS CATEGORIAS DA 
DIFERENÇA.
De acordo com Harari (2017) no best-seller Uma breve história da humanidade- Sa-
piens, duas seriam as teorias antropológicas que explicariam a existência do homens 
“sábios”na Terra, a primeira da miscigenação e a segunda da substituição. Na teoria da 
miscigenação os sapiens teriam se fundido com os neandertais criando hoje os eura-
sianos e com os homo erectus dando origem as chineses e coreanos, ou seja, consti-
tuindo raças. Já a teoria da substituição afirmará que os sapiens substituíram os outros 
humanos do mundo sem se misturar com nenhum deles e assim todos nós seriamos 
descendentes destes seres de 70 mil anos atrás que viviam na África Oriental. 
Assim sendo conceito de raça é um constructo social, ou seja, não possui nada de 
científico e é usado para indicar, na maioria das vezes, pessoas que possuem as mes-
mas características morfológicas. 
Mas então porque continuamos a usar tal conceito e inclusive o inserimos no ordena-
mento jurídico (crime de injuria racial e de racismo, as cotas raciais e outros)? Ocorre 
que tal conceito é justificado devido a realidade social e política que envolvem a con-
sideração de diferenças mediante fenótipos, mantendo assim uma lógica de domina-
ção e exclusão diante da morfologia do sujeito. 
O fenótipo são as características observáveis ou aparentes de uma pessoas ou ainda de 
um grupo de pessoas, contudo tais características não são consequências meramente 
dos genes, mas sim da interação deste com o ambiente em que a pessoas ou grupo 
encontram-se. Desta maneira deve-se ter cuidado para avaliar a questão de “raça”. Um 
dos casos emblemáticos relacionado a cotas raciais ocorreu em 2007, onde gêmeos 
univitelinos inscreveram-se no sistema de cotas Universidade de Brasilia (UNB) e ape-
nas um foi reconhecido como negro ou pardo.
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Fonte: https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/veja-4-materia-de-capa-raca-nao-existe/
Atualmente a Portaria Normativa nº 4/2018 do Ministério de Planejamento vem re-
gulamentar as comissões de Heteroidentificação no caso de necessidade das mes-
mas, haja visto que as leis 12711/2012 e 12990/2014 informam que a autodeclaração 
poderá se suficiente para a identificação da “raça” dos candidatos tanto a concursos 
públicos quanto a universidades.
Para a UNESCO (Statement on Race- documento emitido pela entidade) e a ONU 
raça não é um termo correto cientificamente a ser utilizado, haja visto, que como des-
crevemos a diferença de genoma entre os humanos é mínima. O correto seria o uso 
de termo grupos étnicos.
Etnia vai além da aparência física de acordo com Quintão et all (2010) o adjetivo gre-
go “ethnikos” é derivado do substantivo ethos que significa gente ou nação estrangeira. 
Assim sendo a etnia de pessoa deve ser analisada a partir de observação sobre o seu: 
parentesco, religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, além da aparên-
cia física. 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
3.1 A DESCONSTRUÇÃO DO RACISMO CIENTÍFICO
O racismo científico surgiu no século XIX, por meio da propagação das teorias positivis-
tas que produziram uma ampla explicação que colocava os seres humanos organiza-
dos hierarquicamente, partindo do princípio de que há diferenças entre as raças que 
os colocam naturalmente uns superiores aos outros.
Luiz Flávio Gomes (2015) citando Samuel George Morton, impositor do racismo cien-
tífico nos Estados Unidos em, informa que o estudioso descrevia “que os crânios das 
raças tinham vários tamanhos e que quanto maior o tamanho, maior o cérebro, quan-
to maior o cérebro maior a inteligência e a capacidade de evolução, sobrevivência, 
liderança etc. Só que eles achavam os crânios europeus e americanos sempre maiores 
que os crânios africanos, tasmanianos, malaios, mongóis e índios americanos”. Tal dis-
curso leva então a “justificativas”para a dominação, escravidão e todo o tipo de submis-
são sobre estes “seres inferiores”.
O racismo constitui-se num processo de hierarquização, exclusão e discriminação con-
tra um indivíduo ou toda uma categoria social que é definida como diferente com 
base em alguma marca física externa (real ou imaginada), a qual é ressignificada em 
termos de uma marca cultural interna que define padrões de comportamento. Por 
exemplo, a cor da pele sendo negra (marca física externa) pode implicar a percepção 
do sujeito (indivíduo ou grupo) como preguiçoso, agressivo e alegre (marca cultural in-
terna). É neste sentido que (...) o racismo é uma redução do cultural ao biológico, uma 
tentativa de fazer o primeiro depender do segundo.
A ciência passou a definir uma ordem natural da realidade social, todas as diferenças 
dos traços exteriores, como cor de pele, cabelo, fisionomias, serviriam a partir de então 
para colocar homens e mulheres “naturalmente” uns superiores aos outros e, contra 
essa “verdade inquestionável”, nada nem ninguém poderia se contrapor ou fazer algu-
ma coisa a respeito.
Sobrepondo-se aos dogmas religiosos reinantes até então, as teorias raciais deram 
status científico às desigualdades entre os seres humanos e, por meio do conceito 
de raça, puderam classificar a humanidade, fazendo uso de sofisticadas taxonomias 
(SCHWARCZ, 1993).
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
A estudiosa Pietra Diwan, pesquisadora de eugenia, no texto “Raça Pura. Uma história 
da eugenia no Brasil e no mundo” (2007), explica em seus estudos que o racismo 
científico se tratava de uma ciência para o “aprimoramento da raça humana”, a partir 
da qual várias políticas foram implantadas no Brasil, visando o “branqueamento da 
população” e a “cura da fealdade” do povo brasileiro.
A pesquisadora relata que para os intelectuais, médicos, escritores, juristas e políticos 
pertencentes às sociedades eugênicas fundadas no Brasil, a miscigenação era im-
pedimento para o desenvolvimento do país, pois provocava loucura, criminalidade 
e doenças. A cura para os males do Brasil seria “civilizar a herança indígena roubada 
pelos portugueses e branquear nossa herança negra”, segundo estudos da autora. As 
soluções para o “problema da miscigenação” no Brasil, encontradas pelo Estado Re-
publicano na passagem para o século XX, foi a implantação no país de várias medidas 
eugenistas, a saber: a) branqueamento pelo cruzamento; b) controle da imigração; c) 
regulação casamentos; d) segregacionismo e esterilização.
Roberto DaMatta é um dos autores que nos chama a atenção para o nosso passado 
extremamente ambíguo, uma vez que vivíamos uma condição socialfortemente hie-
rarquizada e, ao mesmo tempo, precisávamos nos colocar no cenário internacional 
como uma nação dita moderna, democrática, de iguais. Voltaremos a essas questões 
históricas nos próximos módulos. Neste ponto de nossa reflexão, queremos enfatizar o 
aspecto contraditório que até hoje não foi resolvido em nosso meio, o chamado “mito 
da democracia racial”. A esse respeito, vejamos o que nos diz DaMatta (1987, p. 69):
Pode-se, pois, dizer que a “fábula das três raças” se constitui na mais poderosa 
força cultural do Brasil, permitindo pensar o país, integrar idealmente sua so-
ciedade e individualizar sua cultura. Essa fábula hoje tem a força e o estatuto 
de uma ideologia dominante: um sistema totalizado de ideias que interpene-
tra a maioria dos domínios explicativos da cultura.
Durante muito tempo, negamos o racismo em nossa sociedade, apoiados nesses argu-
mentos sobre a cordialidade do brasileiro e a fábula das três raças, atrasando em muitas 
décadas a inclusão de grupos excluídos ao longo de nossa história. Somente a partir do 
final dos anos de 1990 é que passamos a adotar medidas legais de ações afirmativas 
para acelerar o acesso de grupos afrodescendentes aos direitos sociais fundamentais.
Como dito outrora as ações afirmativas são formas de reconhecer a hipossuficiência 
de um grupo e a partir disto dispor de dispositivos legais que diminuam a desigual-
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
dade social. No Brasil temos a Lei 7716/1989 (dispõe sobre crimes resultantes de pre-
conceito de raça e cor), temos também a Constituição Federal de 1988 que deixa 
claro nos magnânimos artigos 3 e 5 que versam sobre preconceito, discriminação e 
igualdade, o artigo 140 do Código Penal de 1940 que fala de injúria racial: todos de 
cunho punitivo. E de maneira inclusiva possuímos a lei 12.711/2012 junto com a lei 
12990/2014 que versam sobre cotas em favor de negros, pardos e índios tanto para 
ingresso no ensino superior quanto em concursos públicos. 
Reconhecemos que o racismo é um importante fator de violação de direitos e de pro-
dução de iniquidades. O racismo tem relação com as condições de vida e é também 
visível na qualidade da assistência e do cuidado prestados. Para enfrentar o racismo é 
necessária a criação de espaços de discussão e execução de políticas específicas que 
desconstruam esses argumentos científicos. 
tMas não só nas ruas as manifestações de racismo ocorrem, os ambientes virtuais, 
onde a sensação de impunidade é visível até pessoas de “condições econômicas/so-
ciais elevados” são vítimas de ataques. No ano de 2016 a atriz Global Taís Araújo sofreu 
ataques racistas nem sua rede social. Como consequência a atriz fez uma denuncia na 
Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática e os envolvidos foram encontrados 
e presos na maior operação de cyberbullying do Brasil. 
Fonte: http://msda.com.br/crimes-de-injuria-racial-e-racismo-na-internet/
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
O preço que se paga é alto porque o racismo estrutura profundamente o escopo de 
democracia no Brasil, reduzindo a abrangência da cidadania, estando na base da cria-
ção e manutenção de preconceitos, ou seja, ideias e imagens estereotipadas e inferio-
rizantes acerca da diferença do outro e do outro diferente, justificando o tratamento 
desigual (discriminação). 
3.2 HISTORICIDADE DAS RELAÇÕES ÉTNICOS 
RACIAIS NO BRASIL 
Na história do Brasil tivemos três grupos étnicos básicos: índios, brancos e negros. 
Somente para realizarmos uma revisão histórica sobre a formação dos dois grupos 
étnicos dominados pelos brancos no Brasil:
Os índios eram os verdadeiros donos das terras brasileiras e após a vinda real dos eu-
ropeus para as terras tupis guaranis sofreram com a violência cultural, social e religiosa, 
sendo punidos quando realizavam suas ações culturais, sendo ameaçados, mortos e 
estuprados e ainda sendo obrigados ser catequizados adorando santos católicos em 
detrimento a tudo aquilo que acreditavam (a natureza). Além disto suas terras foram 
roubadas através de um genocídio histórico e transformadas em propriedades que 
eram dadas de presente para os portugueses que decidirem morar no Brasil, as famo-
sas capitanias hereditárias. Mas se esqueceram que o de cujus era o índio e sucessão 
dar-se-a por herdeiros legítimos! Não podemos esquecer que os índios foram os pri-
meiros a serem escravizados mas traziam consigo dificuldades de dominação: fugiam 
em dezenas pois conheciam o território, os homens indígenas não aceitavam realizar 
trabalhos que eram das mulheres indígenas como a lavoura, a agricultura que pratica-
vam era de subsistência e não de produção de excedentes e a proteção dos jesuítas 
catequizadores.
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Fonte:https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/escravidao-indigena-x-escravidao-africana.htm
Os negros foram escravizados pelos brancos Brasileiros por simplesmente 300 anos. 
Os brancos aproveitando no conflito existente entre as tribos na África chegavam a 
este continente e compravam os prisioneiros destes conflitos. O tráfico negreiro fatu-
rava muito com o pagamento irrisório de vidas na África e a venda por altos valores 
no Brasil. Não podemos dizer que o negro tenha sofrido mais que os índios (afinal dor 
cada um tem a sua … e obviamente cada povo tem o seu) mas é certo que hoje a his-
tória nos conta relatos de açoitamento nas praças públicas - Pelourinhos - mutilações, 
estupros e muita morte. A religião dos negros fora rechaçada pelos brancos (até hoje a 
é) e muitos tiveram que criar artifícios para poder ainda louvar os seus Orixás ou enti-
dades fingindo que estavam a adorar santos católicos (daí o sincretismo da Umbanda). 
As lutas de resistência contra a violência também é apresentada a nós pela história dos 
afrodescendentes (hoje inclusive de forma obrigatória já que a Lei 12288/10 que Institui 
o Estatuto da Igualdade Racial deixa claro que a história destes e de outros grupos ét-
nicos “minoritários” deverá ser incluída no currículo dos ensinos fundamental e médio). 
Os quilombos como locais de resistência a lógica colonial-escravistas trazem na história 
personagens como Zumbi dos Palmares e rainha Tereza de Benguela (imagens na pró-
xima página). 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Mas a “santa” Isabel aboliu a escravidão! A escravidão não era mais um bom negócio, 
aboli-la sim! Mas, porquê? As revoltas só aumentavam e o Brasil era o único país do 
mundo ainda escravocrata, o que lhe proporcionava uma imagem negativa frente a 
um comércio exterior com pensamentos liberais. Então façamos o seguinte: liberta-
mos os negros, eles não terão para onde ir, assim aceitarão qualquer valor por seu tra-
balho (desvalorização do trabalho do negro aqui trás a raiz histórica da vida social de 
hoje) e continuarão submissos, porém consumindo e pagando caro por este consumo! 
Pronto tudo resolvido e continuamos assim em 2019.
CURIOSIDADE
O Convento da Penha, localizado no município de Vila Velha, é uma das 
obras arquitetônicas do Estado do Espírito Santo que se utilizou tanto 
da mão de obra escrava indígena quanto da negra. Se quiserem saber 
mais um pouco sobre a construção do santuário acesse: https://www.
gazetaonline.com.br/especiais/2017/04/conheca-a-historia-da-constru-
cao-do-convento-da-penha-1014045902.html . 
A história de abusos, dominação e violência nos leva também a história de uma misci-
genação entre estes três grupos e ainda com o novos grupos que chegam ao Brasil na 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Fonte: http://geoconceicao.blogspot.com/2014/07/formacao-etnica-da-populacao-brasileira.html
A discriminação étnica e racial no Brasil, por mais que hajam leis, são constantes e 
ovos são os alvos do povo intolerante. Hoje vemos denuncias de racismo contra não só 
africanos, mas também contra orientais e refugiadoscomo os venezuelanos, haitianos 
e sírios onde discursos xenofóbicos chegam ao extremo.
Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/mais-da-metade-dos-refugiados-reconhecidos-pelo-brasil-podem-ter-deixado-o-pais.ghtml
modernidade. Esta gera o mito da democracia racial onde acreditamos que pela “varie-
dade de cores e raças” somos um país isento do sentimento de racismo e de desigual-
dades étnicas econômicas, sociais e culturais. Descrever a democracia racial como um 
mito é justamente ofertar-lá a característica de todo mito: ser algo fantástico mas irreal.
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3.3 CULTURA E RELIGIÃO INDÍGENA
Ao falarmos que existe um grupo de etnia chamado “índio” estamos simplificando a 
realidade para os leitores. De acordo com dados do site da FUNAI (Fundação Nacional 
do Índio- http://www.funai.gov.br) existem só no Brasil 305 etnias indígenas diferentes, 
com características fenotípicas diversificadas, com costumes até mesmo antagônicos 
e com religiões com dogmáticas e ritos que são incomparáveis. 
Quanto a religião é unanime a fala de que cada tribo/etnia possui seus deuses, seus 
rituais, seus dogmas e suas inspirações; porém a base para todas as religiões indígenas 
é a natureza. Tudo nasce, vive e se esvai nela e há todo tempo o indivíduo e sua tribo/
etnia estão sendo cuidados ou ameaçados (caso hajam de maneira “errada”) por uma 
entidade da natureza. 
A transmissão dos ensinamentos religiosos é realizado pelo Pajé da tribo/etnia, sen-
do ele figura de grande relevância para a construção social dos povos indígenas, pois 
ensina ao povo a conectar-se com seus deuses ou é a ponte de confecção entre os 
deuses e o povo. 
De acordo com a FUNAI durante anos houve uma diminuição drástica em nível po-
pulacional dos índios no Brasil, chegando-se a ponto de se imaginar que os mesmos 
seriam desapareceriam, porém da década de 90 para frente houve uma elevação do 
numero daqueles que se autodeclararam índios o que demonstra acima de tudo um 
reconhecimento étnico de si. 
Importante frisar que há índios que vivem em ocas como aprendemos na escola, 
entretanto na atualidade cerca apenas 61% destes encontram-se em áreas rurais e 
poucos destes ainda mantem a lógica tribal. Hoje os índios buscam a inserção em ins-
tituições políticas, acadêmicas, econômicas e sociais, demonstrando inclusive em seu 
discurso um Cidadania Emancipatória clara e concreta. 
Muitos índios já conseguiram esta inserção. Através das cotas étnicas-raciais diversos 
conquistaram o título de doutor em Universidades renomadas em todo país. Já na 
política o Cacique Mario Juruna (imagem abaixo) foi o primeiro deputado federal de 
etnia indígena do Brasil e no ano de 2018 uma mulher indígena passou a desempe-
nhar este papel na Câmara dos Deputados: Joênia Wapichana.
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Fonte: https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/juruna-indio-eleito-para-congresso-nacional-gravava-promessas-de-politi-
cos-21564758
Portanto, quanto ao cultura é preciso que tenhamos a visão de que poucos são os 
índios que encontram-se isolados ou que não tenham contato com outras sociedades. 
Assim sendo, as culturas indígenas (porque assim como a religião teremos diferentes 
culturas em cada grupo étnico indígena) acaba por ser influenciada por esta objetiva-
ção constante e mistura-se e transforma-se constantemente. 
Se pensarmos de maneira retrógrada poderíamos dizer que a cultura indígena é base-
ada na produção daquilo que chamamos de artesanato mas na verdade são utensílios 
diários dos índios, uma agricultura de subsistência (até pela lógica da defesa do meio 
ambiente e da não exploração), de divisão de papéis de gênero determinada (homens 
possuem certas atividades e mulheres outras) e ainda na musicalidade (associada a 
todos os acontecimentos da vida individual, coletiva e metafísica). 
No Espírito Santo, mas especificamente apenas no município de Aracruz, há 9 aldeias 
indígenas, sendo 04 da etnia Guarani e 05 da Tupinikuins, ambas abertas a visitação. 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
3.4 A CULTURA AFRO-BRASILEIRA, 
AFRICANIDADES 
É importante deixarmos claro há um conhecimento afro-brasileiro que precisa ser 
estudado e que a contribuição dos ascendentes africanos não se limita ao trabalho 
escravo. 
No perfil do youtube TvBrasilGov o governo Brasileiro apresenta o tema :Conhecimen-
to, matriz afro brasileira - TV NBR, onde descreve a necessidade de sairmos do olhar 
folclórico da história e contribuição matriz africana e compreendermos a sua contri-
buição em diversas áreas. Ficou curioso olha lá: https://www.youtube.com/watch?ti-
me_continue=95&v=ZI891C_zyDw. 
Diversas são as influencias, por um exemplo na linguagem as palavras “cachaça”, “sam-
ba”, “cafuné” e outras, tem origem na Africa. 
Na culinária o legado é ainda maior, afinal é impossível se ir a Bahia e não comer o 
acarajé no bairro de Rio Vermelho em Salvador. Só que não precisamos ir tão longe 
para degustar das iguarias, no estado do Espírito Santo é possível se comer um vatapá 
e um abará com bastante azeite de dendê nas feiras públicas. Para se ter uma ideia 
da dimensão e da importância da culinária afro-brasileira as Baianas do Acarajé são 
consideradas patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e 
Artístico Nacional (Iphan) em 2005.
No tratamento de doenças percebemos que muitos brasileiros buscam por “medica-
mentos” alternativos de origem africana para algumas enfermidades. É possível facil-
mente encontrar lojas especializadas na venda das conhecidas “garrafadas” que são mis-
turas de ervas, raízes e ingredientes provenientes da natureza que prometem a “cura”. 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Fonte: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/58
Na moda a influencia é grandiosa. As cores, as estruturas das vestimentas (voluptuo-
sas), os acessórios e penteados tem presença marcante nas ruas brasileiras. Mas cui-
dado, há um debate acirrado em relação ao uso de certos adereços, como o turbante 
por exemplo, e a apropriação cultural que resumidamente é o uso de elementos de 
uma grupo étnico por outro. Porém, no artigo “Identidade e apropriação cultural” de 
Nathalia Parra e Paulo Henrique Pompermaier, publicado na revista online CULT do 
sitio UOL os autores fazem uma reflexão que o debate vai muito além do uso ou não 
deste elementos, e que envolve a questão do reconhecimento da função e do simbo-
lismo destes elementos e ainda a exploração dos mesmos comercialmente. (https://
revistacult.uol.com.br/home/identidade-e-apropriacao-cultural/). 
Na música e na dança a influência também é relevante até porque o ritmo brasileiro 
mais conhecido no mundo todo, o samba, é constituído nesta influência. O maracatu, 
o afoxé e a congada também são manifestações afro-brasileiras. A maioria das mani-
festações musicais traziam consigo letras de resistência e até mesmo de planos de 
fuga organizados coletivamente. 
Exclusivamente no Espírito Santo temos a música e a dança do Ticumbi que trata de 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
uma manifestação cultural que representa a luta entre etnias africanas que vieram 
para o Brasil. No município de Conceição da Barra, norte do estado, há a festa de São 
Sebastião e São Benedito onde tais manifestações podem ser vistas. No ano de 2019 
a escola de samba Império de Fátima apresentou no Sambão do Povo no enredo a 
história do município espirito santense tendo em uma de suas alas a homenagem ao 
Ticumbi.
Fonte: https://hiveminer.com/Tags/ticumbi/Timeline
Outra manifestação cultural grandiosa no Espírito Santo são as rodas de Congo e as 
Fincada de Mastro de São Benedito, sendo o primeiro o mais tradicional do do muni-
cípio de Cariacica e o segundo o mais tradicional no município de Vila Velha na Barra 
do Jucu. 
Hoje associado ao negro possuímos a cultura do HipHop onde através dos rap muitos 
manifestam sua indignação quanto a segregação racial e social e mostram a popula-
ção a realidade da juventude negro-descente. A musica do grupo Rappa entijucada 
“Todo o camburão tem um pouco de navio negreiro” , do álbum O Rappa de 1997 faz 
uma ligação entre a atualidade e a escravidão:
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
(…) É mole de ver
Que em qualquer dura
O tempo passa mais lento pro negão
Quem segurava com força a chibata
Agora usa farda
Engatilha a macaca
Escolhe sempre o primeiro
Negro pra passar na revista
 Pra passar na revista. (…) 
Um dos grupos mais conceituados da Cultura do Hip Hop, os Racionais Mc’s, também 
refletem em suas músicas sofre o tema e são base de apoio para os artistas negros da 
atualidade. Indicamos ouvir a música Capítulo 4, Versículo 3 do álbum Sobrevivendo 
ao Inferno de 1997. 
A capoeira trata-se da manifestação cultural mais conhecida de influencia afro Na ver-
dade ela era praticada pelo povo de banto - etnia africana originária- na época da escra-
vidão como uma arte de defesa, porém os escravos a associaram a música e enganavam 
os senhores de engenho como se fosse uma dança. No ano de de 1930 (Governo Var-
gas) a capoeira foi proibida somente sendo liberada após a ditadura. Em 2014 a Roda 
de Capoeira foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco. 
Fonte: http://www.ufes.br/conteudo/projeto-capoeira-oferece-aulas-gratuitas-para-crianças-e-adultos
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Indicamos o filme brasileiro Besouro (2009), de João Daniel Tikhomiroff, para o co-
nhecimento sobre a capoeira no Brasil. O filme conta a história de Manuel Henrique 
Pereira um dos maiores mestres de capoeira do Brasil. 
Se quiserem saber mais sobre a cultura afrobrasileira no Espírito Santo indicamos os 
espaços da Museu Capixaba do Negro “Verônica Pas” (MUCANE), Instituto das Pretas, 
Ponto Black, Núcleo Afro Odomodê, Instituto Raiz Forte e Espaço Hip Hop. 
3.5 RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANA
Os negros africanos por todo o período escravocrata passaram por um processo de 
interação cultural através de diversas formas desde o simples contato com outra cul-
tura ou pela complexa imposição sociocultural e religiosa através de castigos físicos e 
psicológicos. 
Segundo Pierre Verger (2002) muitos nativos (índios) que já estavam no Continente 
foram evangelizados pelos Jesuítas no cristianismo como forma de entenderem que 
era preciso cooperar repreendendo e punindo os negros escravizados que insistiam 
em praticar a fé em seus Orixás, a partir da cultura de suas terras natais. 
Tal repreensão ao culto dos Orixás fez com que surgissem três tipos diferentes de culto 
entre os escravos: 
a. aqueles que resistiam plenamente e arriscavam-se às escondidas para cultua-
rem seus orixás, dando origem ao Candomblé. Vale aqui ressaltar que o Candom-
blé é uma religião Afro-Brasileira pois historicamente em cada tribo da África se 
cultuava um Orixá apenas e quando os negros vieram para os Brasil as tribos se 
misturaram nas senzalas e assim todos os cultos se uniram. Abaixo foto realizada 
pelo francês Pierre Verger no Candomblé Cosme, Salvador, Brasil entre os anos 
1948 - 1952 disponibilizada no site da Fundação Pierre Veger localizada em Sal-
vador-BA.
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Fonte: http://www.pierreverger.org/br/acervo-foto/portfolios/orixas.html
b. aqueles que utilizaram-se do sincretismo para cultuarem seus orixás e que aos 
poucos resultou na Umbanda. Historicamente os negros para esconderem a per-
manência da crença em seus Deus utilizavam de artimanhas significativas, por 
exemplo: quando queriam cultuar o Orixá Ossum, faziam um buraco no chão da 
senzala, colocavam suas oferendas e sobre o buraco tampado com areia coloca-
vam uma imagem de Nossa Senhora Aparecida ou Nossa Senhora da Conceição. 
Ainda tendo como base os estudos de Verger (afinal ele é um dos estudiosos 
mais reconhecidos no Brasil e no mundo para falar sobre o assunto):
Pode parecer estranho, à primeira vista, que Xangô, deus do trovão, violento e 
viril tenha sido comparado a São Jerônimo, representado por um ancião calvo 
e inclinado sobre velhos livros, mas que é frequentemente acompanhado, em 
suas imagens, por um leão docilmente deitado a seus pés. E como o leão é um 
dos símbolos de realeza entre os iorubas, São Jerônimo foi comparado a Xangô, 
o terceiro soberano dessa nação. A aproximação entre Obaluaê e São Lázaro 
é mais evidente, pois, o primeiro é o deus da varíola e o corpo do segundo é 
representado coberto de feridas e abscessos. Iemanjá, mãe de numerosos ou-
tros orixás, foi sincretizada com Nossa Senhora da Conceição, e Nanã Buruku, a 
mais idosa das divindades das águas, foi comparada a Sant’Ana, mãe da Virgem 
Maria. Oiá-Iansã, primeira mulher de Xangô, ligada às tempestades e aos relâm-
pagos, foi identificada com Santa Bárbara. Segundo a lenda, o pai dessa santa 
sacrificou-a devido à sua conversão ao cristianismo, sendo ele próprio, logo em 
seguida, atingido por um raio e reduzir a cinzas. A relação entre o Senhor do 
Bonfim e Oxalá, divindade da criação, é mais dificilmente explicável, a não ser 
pelo imenso respeito e amor que ambos inspiram. (VERGER, 2002, p.16).
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
Uma imagem que demostra o sincretismo religioso acima indicado é da ritualística da 
Associação Terreiro de Umbanda Caboclo Urubatão da Guia de Uberaba-SP. No altar 
imagens católicas e no chão oferendas aos Orixás.
Fonte: http://www.jcuberaba.com.br/cidade/politica/10483/cmu-declara-utilidade-publica-da-associacao-terreiro-de-umbanda/
c. aqueles que renderam-se aos castigos, ao medo e a dor e cederam-se por com-
pleto à Igreja Católica e tornaram-se cristãos. 
Todo o conhecimento sobre tais religiões é passado de geração para geração e essas 
religiões são vividas, a cada momento, intensamente como verdadeiras famílias onde 
as cantigas são especiais para a manutenção da religião e os ensinamentos passados, 
dos mais velhos para os mais novos, são formas de manutenção dessa riqueza cultural 
e religiosa sobre o culto destinado a cada Orixá e a importância do respeito e preser-
vação da natureza, pois, a natureza e seus elementos são a base destas religiões, onde 
cada Orixá é uma parte da natureza e todos juntos formam o ciclo de toda a vida. 
Uma das principais características das as religiões de matriz africana é o rompimento 
dos muros do preconceito, quem a elas procura é recebido. Hoje seus adeptos são 
pessoas de todas as idades, de todas as raças e todas as classes sociais, ou seja, deixou 
de ser uma religião exclusiva de negros e seus descendentes. Syria Luppi, em seu Blog 
Caminhos da Fé em 30 de novembro de 2014, com o título Número de participantes 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
de cultos afro são subestimados no Brasil, relata que antes a religião de matriz africana 
era frequentada por pessoas de origem humilde e de baixa escolaridade e que hoje o 
cenário nacional é outro, segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia 
e Estatística, 47% dos adeptos são brancos e 13% do total de adeptos tem nível supe-
rior completo – índice acima da média nacional que é 11% (2011).
Trata-se, portanto, de uma religião de todo ser humano que encontra na crença aos 
orixás uma forma de tornar-se uma pessoa melhor e também melhor perante a socie-
dade. Não sendo mais restrita aos barracões dos escravos, ela expandiu para os gran-
des centros urbanos e tomou um espaço relevante dentro da urbanidade. Gerando, 
assim, a necessidade de um olhar apurado do Direito quanto a sua proteção.
No caso do Espírito Santo as casas de religião de matriz africana tem ganhado grande 
representatividade. Se tiver interesse em conhecer mais sobre as casas de candomblé 
da região metropolitanade Vitória-ES indicamos a leitura de dissertação de mestra-
do de Milena Xibile Batista intitulada: Angola, Jeje e Ketu: Memórias e identidades 
em casas e nações de candomblé na Região Metropolitana da Grande Vitória (ES). A 
dissertação encontra-se disponível no repositório da Universidade Federal do Espírito 
Santo (UFES). 
Porém não é tão simples assim ser de uma religião de matriz africana no Brasil. A in-
tolerância religiosa em relação a mesma é grandiosa. 
Assim, como cada grupo social dentro da sociedade busca por direitos e liberdades, os 
grupos que defendem “as religiões de matrizes africanas” também buscam cada dia 
mais direitos garantidos em leis especificas, sendo, assim, aos poucos os Legisladores 
reconhecem a necessidade de criação de leis para combater essa intolerância religio-
sa que faz vítimas todos os anos. 
Inclusive a Lei nº 9.455/1997 trata do crime de tortura e traz em seu artigo 1º o que 
constitui o crime de tortura e em seu inciso I, alínea c que se esse crime for cometido 
por razão de discriminação racial ou religioso (BRASIL, 1997)
No ano de 1989 foi assinado a Lei nº 7.716 que define crimes resultantes de pre-
conceito de raça ou cor. Essa Lei recebeu alterações ao longo dos anos e uma das 
alterações foi a redação dada pela Lei nº 9.459 de 15/05/97, alterando os artigos 1º e 
20º, que reconhece que apesar de estar em curso, tal processo é lento dentro da so-
ciedade, mas vem acontecendo e garantindo direitos aos praticantes das “religiões de 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
matrizes africanas”. 
Infelizmente vivemos em uma sociedade que precisa ter os direitos positivados em 
papéis e assinados por autoridades, assim como a Lei de nº 11.635/2007 que institui o 
Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa a ser comemorado anualmente em 
todo o território nacional no dia 21 de Janeiro. 
No ano de 2003 houve um grande avanço na luta contra a intolerância religiosa no 
país ao aprovar uma lei que ensinaria nas escolas o ensino sobre a cultura e história 
afrobrasileira que iria transformar as futuras gerações em seres humanos livres dessa 
intolerância religiosa. Cavalleiro (2003), citado por Souza (2016),
[...] nos diz que tal prática pode agir preventivamente no sentido de evitar que 
pensamentos preconceituosos e práticas discriminatórias sejam interiorizados 
e cristalizados pelas crianças, num período em que elas se encontram sensíveis 
às influências externas, cujas marcas podem determinar sérias consequências 
para a vida adulta. (SOUZA; CAVALLEIRO, acesso em 20 de nov. de 2017).
Fonte: http://observatoriodaimprensa.com.br/dilemas-contemporaneos/e-preciso-combater-a-intolerancia-religiosa-na-educacao-basica/
Já a Lei nº 10.639 acrescentou os artigos 26-A e 79-B. A Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional (LDB), onde, o artigo 26-A estabelecia o ensino sobre a cultura e 
a história afro-brasileira dentro do currículo escolar, especialmente nas matérias edu-
cação artística, literatura e história brasileira, e o artigo 79-B incluiu o Dia Nacional da 
Consciência Negra no calendário escolar a ser comemorado no dia 20 de novembro, 
porém, houve dificuldade na implementação dessa lei para que todos os alunos tives-
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
sem acesso ao conteúdo histórico-social que indicava que os negros africanos tiveram 
na construção desse país. Essa dificuldade é lembrada por Leonor de Araújo, coorde-
nadora geral de diversidade e inclusão social da Secretaria de Educação Continuada, 
Alfabetização e Diversidade (Secad) “A lei não foi implementada de maneira a abarcar 
todos os alunos e professores. O que há são ações pontuais de iniciativa de movimen-
tos negros, do MEC ou de universidades federais”, e “Queremos traçar estratégias para 
criar políticas comuns a fim de que a lei alcance a todos”. (MACHADO et al., 2007, 
acesso em 17 de nov. 2017).
A referida lei foi revogada pela Lei nº 11.645/2008 e sofreu derrota no SupremoTri-
bunal Federal onde 06 ministros foram favoráveis ao modelo confessional de ensino 
religioso. Assim o professor poderá lecionar tendo como base a religião que escolher 
e como a maioria da população esta ligada ao cristianismo, se torna evidente que, 
em sua maioria, tais profissionais não colocarão em prática a Lei que define que deve 
ser ensinar a história e cultura afro-brasileira devido a questão religiosa. (BRASIL, 2007, 
acesso em20 de nov. de 2017). 
A promulgação da Lei nº 12.288/2010 foi uma grande conquista para a sociedade 
brasileira, principalmente para os afrodescendentes, pois, ampliou os direitos outrora 
tomados. Garantiu de forma explicita o direito e a liberdade da existência e das cele-
brações dos cultos das “religiões de matrizes africana” em nossa sociedade, e veio para 
resgatar os direitos dos afrodescendentes e as “religiões de matrizes africanas” da mar-
ginalidade imposta pelas religiões dominantes dentro da atual sociedade. (BITTAR, 
2010, acesso em 10 de set. de 2017).
Como forma de denúncia dos ato de Intolerância Religiosa pode ser usado o Disque Direito 
Humanos, ou disque 100, onde no ano de 2015 foi criado o módulo Igualdade Racial atra-
vés da Medida Provisória nº 696/2015 e que foi convertida em Lei 13.266/2016. Essa lei deu 
competência para a Ouvidoria dos Direitos Humanos para receber, analisar e encaminhar de-
núncias de Intolerância Religiosa contra adeptos de religião de matriz africana. (SILVA, 2016, 
acesso em 08 de nov. de 2017).
A Organização Não Governamental (ONG) KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço, criada 
em 2010, realizou um dossiê que reúne diversas informações sobre denúncias de casos de in-
tolerância durante os anos de 2008 a 2018. Para acessar as informações: http://koinonia.org.br. 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
4 A DIVERSIDADE CULTURAL 
4.1 CULTURA E SUAS DIMENSÕES
Para entender os conceitos modernos de multiculturalismo é importante ter claro o 
conceito de cultura e de como o homem se relaciona com os processos culturais. Vaz 
utiliza o pensamento de Waelhens para apresentar a cultura, define que é a externali-
zação do homem em diferentes momentos históricos: 
O processo social e histórico constituído pelas relações de conhecimento e 
transformação do homem como natureza e pelas relações de reconhecimento 
do homem com o outro homem, processo que cria um mundo humano, e 
através do qual o homem se realiza como homem neste mundo humano. (De 
Waelhens A., apud: Vaz,1966, p. 6)
É preciso compreender que a definição de cultura envolve dimensões diferentes. 
A cultura assim como define Marx (1993) e Chauí (1982), tem como objetivo as neces-
sidades humanas externalizadas no trabalho, na vida e no labor. Geertz (1989) define 
a cultura como subjetividade sendo ela a compreensão do mundo simbólico, mas 
também pode ser compreendida no campo ideológico que é concebida tanto por 
Chauí quanto por Adorno (1998). 
A cultura é vista por diferentes autores como uma ação humana, um processo de hu-
manização do homem em uma relação com o outro e consigo mesmo. Para Chauí as 
relações com a cultura se dão respaldadas pelo senso comum, compreendida pelas 
diferentes linhas de pensamentos e caracterizadas pelo conhecimento erudito, como 
por exemplo o consumo das artes (música, teatro, pintura, escultura). Envolvem tam-
bém um conjunto de ações presentes no dia a dia, ou seja, no cotidiano, assim como 
nos processos de socialização.
Podemos dizer que estamos tendo acesso à cultura quando visitamos um museu, 
quando vemos um filme no cinema, quando ouvimos um show de um ritmo especí-
fico, mas também podemos dizer que estamos tendo contato com a cultura quando 
chegamos em uma cidade nova e vamos cumprimentar alguém e ouvimos: “Aqui só 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
damos três beijinhos para casar”. Quando nos processos de socialização somos apre-
sentados a práticas diárias de gruposespecíficos, estamos sendo inseridos nos proces-
sos culturais de determinado grupo. Para descontrair segue o mapa do beijinho do 
nosso Brasil indicado pelas redes sociais do Ministério do Turismo.
Fonte: https://www.facebook.com/MinisteriodoTurismo/photos/a.212247255473394/1471050546259719/?type=1&theater
Vamos continuar. Chauí (1982) define cultura em três sentidos:
a. A criação da ordem simbólica da lei – Nesse existem os sistemas de interdições 
e obrigações que são estabelecidas a partir da atribuição de valores de coisas 
e dos acontecimentos. São as regras de como se comportar em cada espaço 
ou situação. Se pensarmos nesse sentido temos comportamentos culturais di-
ferentes em cada espaço, porque essas regras são estabelecidas e precisam ser 
cumpridas. 
Vamos entender:
Na casa de avós tradicionais sentar-se a mesa sem camisa ou de boné pode ser uma 
afronta às regras sociais, mas se você está com os amigos na praia em um restaurante 
à beira mar de boné e com o dorso desnudo, não infringe nenhuma regra cultural de 
comportamento. Se o avó tradicional, estiver na mesa, pode até achar um desrespeito 
esse comportamento, mas culturalmente se comportar assim, em uma ocasião como 
essa, é perfeitamente aceitável. 
A criação de uma ordem simbólica - na qual os símbolos surgem tanto para represen-
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
tar quanto para interpretar a realidade. A simbologia neste caso toma uma proporção 
cultural e uma vez reconhecida podem ser interpretados e se apresentam a partir das 
visões culturais de quem vê.
Vamos entender:
A visão de uma para a outra: a “descoberta” acha que a “coberta” está submetida à 
dominação de uma cultura machista, enquanto a “coberta” acha machismo o fato da 
“descoberta” estar com os olhos fechados. Os símbolos que fazem sentidos diante das 
culturas diferentes. 
A criação do convívio - conjunto de práticas, comportamentos, ações e instituições 
com quais os humanos se relacionam entre si e com a natureza. 
Vamos entender:
Essas práticas surgem das diferentes caracterizações do conceito de cultura: cultura 
de elite, cultura popular, cultura erudita, cultura de massa. É no escopo destes dife-
rentes conceitos que a cultura passa a ser utilizada como instrumento de discrimina-
ção social, econômica e política, porque muitas vezes um vai achar que sua cultura é 
“melhor” do que a do outro. Um exemplo é achar que música clássica é cultura e que 
as canções de Wesley Safadão não são. Ambas constituem-se com cultura porém o 
safadão é cultura popular e não cultura erudita. 
40
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
É fundamental compreender que há na sociedade contemporânea uma diversida-
de cultural. Diferentes culturas não significam culturas hierarquicamente organizadas. 
Não há cultura melhor ou pior, não há cultura mais forte ou mais fraca, há culturas 
diferentes, divergentes em alguns pontos, mas todas são importantes. É preciso reco-
nhecer quão importante é a cultura de cada povo e respeitar a forma que as pessoas 
se comportam culturalmente. 
4.2 MULTICULTURALISMO CRÍTICO E 
INTERCULTURALIDADE 
Para Laraia (1998) o ser humano nada mais é do que o resultado do meio cultural em 
que vive, onde foi socializado. Isso significa que a sociedade possui muitas culturas. A 
diversidade cultural mencionada anteriormente. 
Muitas pessoas convivem com a cultura do outro de forma etnocêntrica. O etnocen-
trismo é a prática de julgar o outro a partir de sua própria visão ou experiência. Leo-
nardo Boff (1997) explica que cada um vê o outro a partir de onde os pés pisam. Cada 
um vê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto 
de vista é a vista de um ponto. Essa prática de usar seus próprios conceitos para olhar 
a cultura do outro é um comportamento prejudicial à sociedade. A prática do relati-
vismo cultural é fundamental para a sociedade. 
O relativismo cultural é uma perspectiva da antropologia que vê diferentes culturas 
de forma livre de etnocentrismo, respeitando a cultura do outro e forma de se relacio-
nar com os conceitos culturais que carrega consigo. 
Esses são conceitos interessantes para a prática do multiculturalismo. O termo mul-
ticulturalismo se refere a uma pluralidade cultural que convive de forma harmônica. 
Desta forma, a sociedade moderna, considerada multicultural, apresenta diferenças 
que precisam ser reconhecidas e respeitadas por todas as sociedades, todas as na-
ções, todas as culturas.
O multiculturalismo não propõe a suplantação das diferenças entre culturas, uma 
uniformização forçada, mas, sim, “ampliar ao máximo a consciência de incompletude 
mútua por intermédio de um diálogo que se desenrola, por assim dizer, com um pé 
em uma cultura e outro em outra” (SOUSA SANTOS, 2003, p. 444).
41
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
A globalização e as possibilidade ofertadas pelo advento da internet na sociedade 
possibilita o reconhecimento do multiculturalismo que é o fenômeno que estabelece 
a coexistência de várias culturas em um mesmo espaço territorial e nacional. O cres-
cimento das migrações e a travessia legal das fronteiras colaboram com a mistura de 
culturas e sociedades e reconhecer a presenças destas diferenças que precisam con-
viver de forma harmônica, mas esse ainda é um desafio para a sociedade. 
Apesar de sermos uma sociedade multicultural mais ainda precisamos estar ligados 
a educação e ao direito multicultural. A questão principal é que as relações culturais 
geralmente estão permeadas das relações de poder e por inúmeras vezes é difícil dis-
sociar as problemáticas sociais e políticas das relações culturais. A maior dificuldade é 
que no processo de disseminação da importância do multiculturalismo ainda existem 
entraves políticos que impedem que os saberes e as vozes do “outro” ganhem cenário. 
Duas correntes principais permeiam a discussão sobre o tema. 
Há o multiculturalismo de cunho conservador, que busca a conciliação das diferen-
ças com base no mito da harmonia. Nesta ótica o multiculturalismo encoraja o cres-
cimento da tolerância, mas, tolerar, não significa acolher, não significa envolvimento 
ativo com o Outro. Isto gera a preocupação pois como não há a interação com o Outro 
eu apenas o suporto e continuo com o sentimento de superioridade em relação a ele.
No Direito Brasileiro temos como exemplo de um multiculturalismo de cunho conser-
vador o julgamento do Recurso Extraordinário 494601 onde o Supremo Tribunal Fe-
deral (STF) emitiu a seguinte tese: “É constitucional a lei de proteção animal que, a fim 
de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de 
religiões de matriz africana”. (STF, 2019). Aqui o STF deixa clara a necessidade de manu-
tenção do direito a liberdade de crença e religiosidade. Porém perceba que na história 
do Direito Brasileiro não vemos outras religiões ditas conservadoras terem as suas litur-
gias questionadas. Assim sendo há uma “tolerância” em relação as religiões de matrizes 
afrodescendentes mas como elas não são superiores podem ser questionadas.
Já o multiculturalismo crítico (também chamado de revolucionário, ou emancipató-
rio, ou contra-hegemônico) que evidencia as contradições socioculturais fazendo vir à 
tona as diferenças e as ausências de muitas vozes que foram caladas pelas metanar-
rativas da modernidade. Rejeita o preconceito ou hierarquia, este multiculturalismo 
baseia-se no respeito ao ponto de vista, às interpretações e atitudes do Outro. O res-
42
ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
peito pelo Outro, não admite força, violência ou dominação; admite sim o diálogo, o 
reconhecimento e a negociação das diferenças.
A condição pós-moderna realçou os questionamentos sobre as diferenças, colocou o 
Outro como alguém que, mesmo vivendo de forma diferente, pode/deve ser reconhe-
cido como “nós”, e acentuou a flexibilidade como uma categoriapolítica central para 
pensarmos sobre as mudanças que devemos proceder. Se a conversa franca/autêntica 
com o Outro ainda não se tornou realidade, então se torna mais urgente ainda a ne-
cessidade dos espaços educativos pós-modernos refletirem-na como possibilidade, 
afinal, a efetivação desta conversa envolve uma negociação muito complexa permea-
da pelo multiculturalismo crítico. 
O multiculturalismo crítico apoia-se em um pós-modernismo de resistência que rea-
firma a totalidade como categoria analítica, situa/compreende as diferenças nas con-
tradições sociais em um contexto de opressão, dominação e exploração, assumindo 
uma perspectiva relacional e definindo totalidade como a possibilidade de um en-
tendimento global ou relacional, pois, “o refazer do social e a reinvenção do eu pre-
cisam ser compreendidos como dialéticamente sincrônicos [...] são processos que se 
informam e se constituem mutuamente” (McLaren, 2000, p. 88). O multiculturalismo 
crítico, ao discutir a diferença, não a separa da discussão da desigualdade social. Por 
não cindir diferença cultural e relação de poder, politiza a primeira; não a concebe, 
portanto, como uma essência de identidades ou apenas um efeito da linguagem, mas 
a situa nos conflitos sociais e históricos, na produção desses conflitos sociais, como 
construção histórica e cultural. 
As ações afirmativas são consideradas uma arma contra a desigualdades sociais apre-
sentadas e uma forma de garantia de um multiculturalismo puro. Assim sendo as ações 
afirmativas visam a efetivação do princípios constitucionais da igualdade e da isonomia, 
ofertando a partir de políticas publicas a garantia da equidade em diversos âmbitos .
Um bom exemplo de ação afirmativa são as cotas para negros e pardos em Universi-
dades e em concursos púbicos, mas estas nós já debatemos bastante durante o curso, 
que tal então falarmos de algo novo e que tem sido alvo de criticas pela dificuldade 
que vem perpassando para efetivação: A inclusão no mercado de trabalho de pes-
soas com necessidades especiais conforme a determinação da lei 8213/1991 e a lei 
13146/2015. No site da Agência Brasil, Andreia Verdérlio (2017) no artigo entitulado 
“Apenas 1% dos brasileiros com deficiência está no mercado de trabalho” apresenta a 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
realidade brasileira desta inclusão. Acesse para se inteirar: http://agenciabrasil.ebc.com.
br/direitos-humanos/noticia/2017-08/apenas-1-dos-brasileiros-com-deficiencia-esta-
-no-mercado-de. 
Há ainda o conceito de interculturalidade quando duas ou mais culturas entram em 
interação de uma forma horizontal e sinérgica, em que nenhum dos grupos se en-
contrar acima do outro, favorecendo assim a integração e a convivência das pessoas. 
As relações interculturais são construídas com respeito e diversidade. Embora exista o 
aparecimento de conflitos que podem ser resolvidos com respeito, diálogo e concer-
tação/assertividade.
O termo “interculturalidade” pode ser usado como uma forma de indicar como a cul-
tura flui e como ela faz para se fundir com outras culturas, por exemplo e é aglo que 
está em constante mobilidade para alterar o meio qual vivemos, seja pela fusão, adição 
de novos elementos ou mesmo subtração deles. A interculturalidade precisa vencer 
alguns desafios porque o objetivo não é somente formar grupos, mas também, diante 
da globalização e do individualismo, conseguir integrar grupos em uma sociedade.
E depois de tudo isto uma pausa para indicação de um filme sobre o que trabalha-
mos. A indicação para analise do filme junto com os temas aqui estudados vem do 
artigo “Interculturalidade, cotidiano e representação: reflexões a partir da experiência 
canadense” de Maria Luiza Martins de Mendonça que descreve a produção cinemato-
gráfica da seguinte maneira: 
Adoration (2008), dirigido por Atom Egoyan, canadense nascido na cidade do 
Cairo e de origem armênia, é uma ficção que explora os usos das novas tec-
nologias e das comunidades virtuais da Internet, por meio da atuação de um 
jovem que compartilha com seus “ciberamigos” as circunstâncias e consequ-
ências de uma tragédia que pode mesmo nem ter acontecido. Interessa aqui 
chamar a atenção para a tragédia: a morte dos pais dos jovens e a acusação 
de seu avô da participação deles em movimentos terroristas, pelo fato de o 
seu pai ser de origem palestina, assim como a professora que o estimula a 
dramatizar fatos – reais ou imaginários – de sua vida no sentido de encontrar a 
verdade sobre a trajetória de seus pais. Que verdade? As possíveis mentiras que 
já se cristalizaram como verdades? Uma verdade que, para o jovem, passa pelo 
conhecimento de si mesmo, do lugar que ocupa no mundo, da legitimidade 
de suas origens, de seu passado familiar. Para além de toda discussão sobre a 
constituição da identidade desse adolescente, sobre as relações interpessoais 
mediadas pelas tecnologias da comunicação, interessa a referência à constru-
ção de uma identidade atravessada pelos discursos antiterroristas, pelas ideias 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
de “choques culturais” entre Oriente e Ocidente, nos quais o indivíduo não 
ocidental representa o estranho, o perigo, o terror. As considerações sobre as 
origens, a determinação do jovem em descobrir quem era realmente seu pai 
– inocente ou culpado? – expõem as fraturas sociais existentes, em particular 
quando se trata de discursos em que o terrorismo e o conflito Oriente/Ociden-
te permeiam as buscas de uma verdade pessoal (e social) que ninguém sabe 
exatamente onde está. (MENDONÇA, 2010, p.190)
4.3 O DIREITO À DIVERSIDADE NO SÉCULO XXI
O direito à diversidade é uma premissa do século XXI. Não deve ser apenas um discur-
so de necessidades, mas uma prática que inclui políticas públicas bem estruturadas 
que garantam a existência real dessa prática. A construção e o fortalecimento de um 
estado democrático exigem não apenas o reconhecimento da sua diversidade cultu-
ral, mas a implementação dessas políticas públicas especiais que possam garantir a 
pacífica convivência e interação dos diversos grupos culturais que o compõem, haja 
vista que a defesa da diversidade cultural torna-se um imperativo ético indissociável 
do respeito à dignidade humana, conforme o disposto na “Declaração Universal sobre 
a diversidade cultural” da UNESCO e na Constituição Federal de 1988. 
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ÉTICA, CIDADANIA E RELAÇÕESÉTNICO-CULTURAIS RACIAIS E DE GÊNERO
A construção de instrumentos direcionados a defesa e garantia de direitos, na busca 
por uma sociedade que respeite as diversidades, se constitui como elemento mar-
cante das sociedades, sobretudo democráticas, a partir do século XIX. O marco deste 
processo se expressa, em 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, 
cujos princípios vem sendo fortalecido pelos diversos movimentos e ações públicas 
que buscam afirmar direitos de Cidadania, integrados as legislações das sociedades 
contemporâneas.
No século XXI, a humanidade ainda tem a chance de superar os erros do passado. É 
com essa preocupação que a interculturalidade propõe não apenas o reconhecimen-
to/ respeito do Outro, mas a necessidade de promover a interação pacífica entre as 
diversas culturas, pressuposto do próprio engrandecimento da humanidade. 
Iniciativas vem sendo tomadas ao longo do século XXI, especialmente com a insti-
tuição do Estado Plurinacional em países da América Latina. Ganha força o tema do 
direito à diversidade, sobre o qual se procura refletir como alternativa viável ao pa-
radigma moderno de Estado e de Direito, e como possibilidade compatível com o 
pluralismo do mundo contemporâneo e com a vivência plena dos direitos humanos.
Mas há avanços e retrocessos apesar do séc XXI estar pautando estratégias de direito 
à diversidade os Direitos Humanos e de Cidadania enfrentam obstáculos para sua 
efetivação em diversos campos. A esfera pública demarca a disputa frente à ideologia 
conservadora, autoritária, segmentada,

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