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EFEITOS DA CONDENAÇÃO “Condenação é o ato do juiz através do qual impõe uma sanção penal ao sujeito ativo de uma infração. Produz ela, como efeito principal, a imposição de penas para os imputáveis, ou, de medida de segurança para os semi-imputáveis e, como efeitos secundários, consequências de natureza penal ou extrapenal. Entre estas há efeitos civis, administrativos, políticos e trabalhistas”. Dos efeitos extrapenais Espécies: Civis: obrigação de reparar o dano (art. 91, I); confisco (art. 91, II); e a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela (art. 92, II). Além desses efeitos, há os que estão presentes no próprio código civil, tais como: art. 557, CC – Em caso de condenação do beneficiário, o doador pode pleitear, no prazo de 1 ano, a revogação da liberalidade; art. 1.814, CC – O interessado pode, em ação ordinária, excluir herdeiro ou legatário nos casos de indignidade; arts. 1.962 e 1963, CC – Pode ocorrer a deserdação. Administrativos: pode ocorrer a perda do cargo ou função pública (art. 92, I, primeira parte); e a inabilitação para dirigir veículo quando utilizado como meio para a prática de crime doloso (art. 92, III). Políticos: a perda do mandado eletivo (art. 92, I, parte final). Trabalhistas: são efeitos indiretos, como justa causa para rescisão de contrato de trabalho). Dos efeitos automáticos Serão automáticos, ou seja, não precisam ser declarados motivadamente na sentença, os efeitos da condenação previstos no art. 91: o dever de indenizar o dano causado, e o confisco (perda do produto ou instrumento do crime). Não são efeitos automáticos, devendo ser motivadamente declarados em sentença condenatória: a perda do cargo, função ou mandato; a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela, curatela; e a inabilitação para dirigir veículo quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. Obs.: será automático o efeito da condenação por crime de tortura acarretando a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 anos após o cumprimento da pena; Nos crimes de organização criminosa: a perda do cargo, função, emprego público ou mandato eletivo é AUTOMÁTICA; Cuidando-se de crime relacionado com o tráfico de drogas, a lei 11.343/2006, prevê a possibilidade de decretar o juiz, o afastamento cautelar das atividades do funcionário público denunciado, mas a perda do cargo ou função na hipótese de condenação rege-se pelas regras do CP. 1) Reparação ex delicto Efeito civil da condenação, previsto no art. 91, inciso I. Nos termos da lei civil, aquele que, por ação ou omissão voluntária (dolo), negligência ou imprudência (culpa), causar prejuízo a outrem comete ato ilícito, ficando obrigado a reparar o dano. Em consonância com o referido texto civilista, determina a lei penal que é efeito da condenação “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime” (art. 91, I, CP). Dispõe ainda a lei processual penal que, “transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros” – Art. 63, CPP. Obs.: A sentença penal condenatória funciona como sentença meramente declaratória no tocante a indenização civil, pois nela não há mandamento expresso de o réu reparar o dano resultante do crime. Confere-se, porém, a sentença penal condenatória irrecorrível a natureza de título executivo judicial, assim, o interessado não será obrigado, no juízo cível, a comprovar novamente a materialidade, a autoria e a ilicitude do fato, já assentes na esfera penal, para obter a reparação do dano causado pelo ilícito penal. No juízo cível não poderá reabrir-se a questão sobre a responsabilidade civil pelo fato reconhecido como crime, em sentença penal condenatória transitada em julgado. Discutir-se-á apenas o montante da indenização. A lei n° 11.719/2008, que alterou dispositivos do CPP, inovou na matéria ao prever que o juiz, quando da prolação da sentença condenatória, deve fixar valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido. Assim, “transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do art. 387 deste código sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido” – art. 63, parágrafo único, CPP. Em outras palavras, transitada em julgado a condenação, o ofendido, seu representante legal ou herdeiros podem promover, no juízo cível, a execução por quantia certa fixada na sentença, sem prejuízo de que, simultaneamente, se proceda a liquidação para apuração do valor total do dano a ser reparado. Súmula 221, STJ: São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de danos, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação. 1) Sentença que reconhece ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito – Art. 65, CPP. Embora a responsabilidade civil seja independente da criminal, faz coisa julgada no cível a sentença penal condenatória que reconhece ter sido o ato praticado sob uma das excludentes de ilicitude. Obs.: o reconhecimento de causa exculpante, (também chamadas de dirimentes ou eximentes): inimputabilidade, erro de proibição, coação moral irresistível e obediência hierárquica, não faz coisa julgada no juízo cível. Dispõe o CC que não constituem atos ilícitos os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido, ou, bem como a deterioração, destruição da coisa alheia, ou lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente (art. 188, CC). Tais dispositivos significam que não mais se poderá discutir no juízo cível a existência no fato de uma causa de excludente de antijuridicidade, vedando-se inclusive, a possibilidade da propositura da ação quando se tratar de pedido de indenização do responsável pela agressão ou do causador do perigo. Ou seja, a pessoa que deu causa a legítima defesa ou ao estado de necessidade, não tem direito a ser indenizada, mesmo que tenha sofrido algum dano. Entretanto, o autor do fato deverá indenizar o prejudicado quando não for este o culpado pelo perigo, na hipótese de reconhecimento do estado de necessidade. Todavia, terá direito a ação regressiva contra o causador do perigo e contra aquele em favor do qual atuou. A mesma solução deve ser adotada na hipótese de legítima defesa com erro na execução ou com resultado diverso do pretendido, impondo-se ao autor do fato a obrigação de indenizar o prejudicado, mas com ação regressiva contra o agressor e, se agiu em defesa de terceiro, também contra este. No caso de estado de necessidade, se o perigo decorreu de caso fortuito ou se se ignora quem causou o perigo, o sujeito responde pela indenização e arca com o prejuízo. 2) Sentença que concede o perdão judicial: Segundo o STF, a sentença em que se concede perdão judicial é condenatória, valendo, portanto, como título executivo. Entretanto, para o STJ, nos termos da súmula 18, é ela declaratória de extinção de punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório. 3) Sentença que reconhece que o acusado necessita de tratamento curativo e substitui a pena por medida de segurança: A sentença que julga o agente inimputável, nos termos do art. 26, caput do CP, aplicando-lhe medida de segurança, embora considerada na doutrina como condenatória imprópria, é, em termos legais, absolutória, não propiciando, assim, a sua execução na esfera civil. 4) Sentença em que reconhece a prescrição da pretensão punitiva: Não é sentença condenatória a decisão em que reconhece a prescrição da pretensão punitiva, ainda que com base na pena em concreto, não servindo ela de título executivo civil.Todavia, não impedirá a propositura da ação civil, a decisão que julgar extinta a punibilidade. 5) Sentença que homologa a composição civil e a transação penal: Não são condenatórias as sentenças de homologação da composição civil e da transação penal previstas na lei 9.099/95. 6) Sentença absolutória: Faz coisa julgada no cível a sentença absolutória quando reconhecida categoricamente a inexistência material do fato. “Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato” – Art. 66, CPP. Nas absolvições proferidas em julgamento pelo Tribunal do Júri, aplica-se o art. 66 do CPP, permitindo-se a propositura da ação civil, sempre que das respostas aos quesitos não se puder inferir, obrigatoriamente, a conclusão de não ter existido o fato. 7) Não impedirão igualmente a propositura da ação civil: I – O despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação; II – A decisão que julgar extinta a punibilidade; III – A sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime (art. 67, incisos I, II, III, CPP); Bem como, o reconhecimento na sentença absolutória se nesta ficar declarado: a) Não haver prova da existência do fato; b) Não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; c) Existir circunstancia que exclua o crime ou isente o réu da pena ou houver fundada dúvida sobre sua existência; e d) Não existir prova suficiente para a condenação. 8) Responsabilidade civil, penal e administrativa decorrente do exercício de cargo, emprego ou função pública: Quando o funcionário público for condenado na esfera criminal, o juízo cível e a autoridade administrativa não poderão decidir de forma diferente no caso de haver decisão definitiva quanto ao fato e a autoria. A absolvição do servidor público na esfera penal por inexistência do fato ou negativa de autoria repercutirá na esfera administrativa. Entretanto, se o servidor é absolvido na esfera penal por insuficiência ou inexistência de provas, tal decisão não repercutirá na esfera administrativa. Não se admite ação regressiva para ressarcimento de dano ao erário, quando o servidor foi absolvido na esfera penal, por negativa de autoria. Transitada em julgado a sentença condenatória e morrendo o condenado, a execução civil será promovida contra seus herdeiros, nas forças da herança, em decorrência do princípio da responsabilidade civil. Aliás, a extinção da punibilidade por qualquer causa, após o trânsito em julgado da sentença condenatória, não exclui seu efeito secundário de obrigar o sujeito a reparação do dano. Absolvido o condenado em revisão criminal, perde a sentença seu caráter de título executório ainda que já instaurada a execução civil. Isso porque o título foi desconstituído por decisão judicial do mesmo modo como foi criado. Deverá o ofendido, nessa hipótese, promover a competente ação de conhecimento. No caso de inexistir sentença condenatória irrecorrível, a ação ordinária civil para reparação do dano poderá ser proposta contra o autor do crime, seu responsável civil ou seu herdeiro. Nos termos do art. 64 do CPP “Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil”. Par. Único, art. 64, CPP: “Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela”. Visa o dispositivo do CPP evitar decisões contraditórias. Sendo pobre o titular a reparação do dano, a execução da sentença condenatória ou a ação civil será promovida, a seu requerimento, pelo MP (art. 68, CPP). Tendo sido aplicada a pena de prestação pecuniária prevista nos arts. 43, I, e 45, par. 1° do CP, que consiste no pagamento em dinheiro a vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz, o valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários. 2) Confisco O segundo efeito automático civil da condenação é o confisco, ou seja, “a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou terceiro de boa-fé: a) Dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; b) Do produto do crime ou de qualquer outro bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso” – Art. 91, II, CP. Esse tipo especial de confisco não se constitui em pena. A CF prevê a possibilidade da cominação da pena de perda de bens, a ser estendida inclusive aos sucessores, mas havia necessidade que fosse ela prevista expressamente na lei penal. Nesses termos, ela foi inserida entre as penas restritivas de direitos, substitutas da pena privativa de liberdade. A lei penal não prevê mais, como medida de segurança, o confisco dos instrumentos e produtos do crime quando não apurada a autoria – casos de arquivamento de inquérito, impronúncia, absolvição por negativa de autoria. Permite-se, porém, no caso, a apreensão e, não reclamados legitimamente pelo interessado, são eles vendidos em leilão. Apreensão versus Confisco. O confisco, como efeito da condenação, é o meio através do qual o Estado visa impedir que instrumentos próprios para delinquir caiam em mãos de certas pessoas, ou que o produto do crime enriqueça o patrimônio do delinquente. a) Quanto aos instrumentos do crime Somente podem ser confiscados os instrumentos do crime que consistam em objetos cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito, por destinação específica como punhais, petrechos para falsificação de documentos e moeda, substancias que causam dependência física ou psíquica, ou cujo porte é proibido (armas de guerra, de uso exclusivo das forças armadas). Não são confiscados, embora possam ser apreendidos, os instrumentos que EVENTUALMENTE foram utilizados para a prática do ilícito, a exemplo de automóveis, armas permitidas, telefones, etc. A lei de crimes contra o meio ambiente equipara a instrumento do crime o patrimônio da pessoa jurídica constituída ou utilizada preponderantemente para a prática ou facilitação de crimes contra o meio ambiente e prevê o seu confisco. A perda dos instrumentos do crime e do produto do crime é automática, decorrendo do trânsito em julgado a sentença como efeito da condenação; não sendo necessário que conste expressamente da decisão. O confisco somente ocorre quando a infração penal constitui crime; entretanto, formou-se entendimento que se autoriza também a perda do bem quando da prática de contravenção penal. Não é admissível, no entanto, o confisco na hipótese de transação penal, por não ter a sentença natureza condenatória, mas meramente homologatória. Ex.: beneficiário de transação penal, ao ser lavrado termo circunstanciado para apurar a prática do delito, também foi apreendida uma motocicleta de propriedade do acusado sob o argumento de que ele teria sido utilizado para o cometimento da referida contravenção penal. As medidas acessórias previstas no art. 91 do Código Penal, entre as quais a perda de bens em favor da União, exigem a formação de juízo prévio a respeito da culpa do acusado, portanto, só podem ocorrer automaticamente como efeito acessório direto de condenação penal, nunca em sentença de transação penal, de conteúdo homologatório, na qual não há formação de culpa. Os instrumentos e o produto do crime passam a integrar o patrimônio da União, procedendo- se, conforme a hipótese, a leilão público. Por vezes a lei determina sua destruição ou que sejam recolhidos a museu criminal, se houver interesse em sua conservação. Pode-se também efetuar o sequestro de bens imóveis adquiridos pelo indiciado com os proventos da infração, ainda que já tenham sido transferidosa terceiro (art. 125 e ss. CPP). O CONFISCO SÓ OCORRE COM O TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENCA CONDENATÓRIA, SENDO INADMISSÍVEL DURANTE O ANDAMENTO DO PROCESSO. b) Quanto ao produto do crime – Justifica-se também, a perda em favor da união de todo bem ou valor que, direta ou indiretamente, o agente tenha auferido da execução do crime (art. 91, II, CP). Podem ser confiscadas, por exemplo, não só a coisa subtraída no furto, como também a importância havida pelo autor do ilícito ao vende-la. Após o trânsito em julgado os bens deverão ser avaliados e leiloados, o que não couber ao lesado ou a terceiro de boa-fé. É possível também que a perda de bens e valores pertencentes ao condenado constitua pena restritiva de direitos aplicada em substituição a pena privativa de liberdade, e que deve ser destinada ao Fundo Penitenciário Nacional, tendo como teto o montante do prejuízo causado ou do proveito obtido pelo agente ou por terceiro em consequência da prática do crime, o que for maior. Assim, nesta hipótese só se efetivará o confisco do art. 91, II, na hipótese de permanecer ignorado o dono ou não reclamados os bens ou valores e não for aplicada a referida sanção penal. c) Confisco por equivalência - Par. 1°, art. 91: “Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior”. Par. 2°, art. 91: “Na hipótese do paragrafo 1°, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda”. O confisco por equivalência se impõe nas situações em que o produto ou o proveito direto do crime julgado não é encontrado ou se localiza no exterior, quando então se autoriza a medida sobre bens equivalentes que possam constituir o patrimônio lícito do condenado, sobre os quais também podem recair as medidas assecuratórias previstas no CPP para posterior decretação de perda. Por conseguinte, o confisco não se confunde com apreensão. Apreensão é o pressuposto do confisco. A apreensão dos instrumentos e de todos os objetos que tiverem relação com o crime deve ser determinada pela autoridade policial (art. 6°, CPP), e não podem ser restituídos antes de transitar em julgado a sentença final quando interessarem ao processo (art. 118, CPP). Pode o interessado, porém, requerer a restituição das coisas apreendidas quando não mais interessarem ao processo OU após o trânsito em julgado, desde que não exista dúvida quanto ao direito do reclamado. Exemplo, veículo apreendido com o acusado do crime de tráfico de drogas. O interessado poderá requerer a restituição se a coisa não mais interessar ao processo, ou então, após o trânsito em julgado, desde que não exista dúvidas quanto ao direito do reclamado. Não sendo confiscáveis, por não serem coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constituam fato ilícito, devem ser entregues ao legítimo proprietário. A restituição, quando cabível, poderá ser ordenada pela autoridade policial ou juiz, mediante termo nos autos. Havendo dúvida quanto ao legitimo proprietário, o juiz remeterá as partes ao juízo cível. As coisas não reclamadas no prazo de 90 dias a contar da data em que transitar em julgado a sentença final, condenatória ou absolutória, são vendidas em leilão, depositando-se o saldo a disposição do juiz de ausentes. Na legislação especial, regulamentando o art. 243, da CF, a lei 8.257/91, dispõe sobre a expropriação das glebas em que se localizem culturas ilegais de plantas psicotrópicas. Este confisco, porém, independe de ação penal, mas dependerá de ação expropriatória regulada no referido diploma legal. Não depende, porém, da ação expropriatória a destruição das plantações ilícitas, que deve ser imediatamente determinada pela autoridade policial, preservando-se amostra suficiente para a prova pericial. Tratando-se, ainda, de crime relacionado com tráfico de drogas, a mesma lei de drogas contém disposições especiais sobre a apreensão, restituição, alienação, perdimento e destinação dos instrumentos, incluindo-se veículos, embarcações, aeronaves e maquinários, e produtos do crime ou proveito auferido com sua prática. Preveem-se, entre outras normas, que nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado e que os bens e valores apreendidos cuja perda for declarada em favor da União serão revertidos ao Fundo Nacional Antidrogas. É efeito da condenação penal a perda, em favor da união ou do estado, de acordo com a competência para o processo, dos bens, direitos e valores relacionados, direta ou indiretamente com a prática de crime de lavagem, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé. d) Confisco alargado ou ampliado A Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime) introduziu no CP o art. 91-A, que disciplina o chamado confisco alargado, uma espécie de efeito secundário da sentença penal condenatória que consiste na perda de bens equiparados ao produto ou proveito do crime. Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações as quais a lei comine pena máxima superior a 6 anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes a diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com seu rendimento lícito. § 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado todos os bens: I – De sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o beneficio direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e II – Transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início da atividade criminal; § 2° O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio. § 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada. § 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens cuja perda for decretada. § 5° Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da justiça onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes. Se caracteriza por uma extensão do perdimento a bens que, embora não estejam ligados diretamente ao crime que está sendo julgado, de alguma forma provem de atividades ilegais, tanto que seu conjunto é incompatível com o rendimento lícito do condenado. O confisco alargado tem por premissas: i) a condenação por infração a que a lei comine pena máxima superior a 6 anos de reclusão; ii) a propriedade de patrimônio incompatível com a renda declarada; e iii) presunção de que tais bens foram adquiridos como resultado da atividade criminosa em relação a qual foi condenado. Inconstitucionalidade? A Constituição federal garante que os acusados sejam presumidamente inocentes - e devem ser tratados como tal - até que haja condenação definitiva. Consequentemente, também serão presumidamente lícitos os bens dos acusados enquanto não se demonstrar o contrário, e a prova da origem ilícita dos bens cabe à acusação - em geral, ao Ministério Público. Por sua vez, o confisco alargado inverte essa lógica e põe sobre o acusado a obrigação de comprovar que seus bens decorrem de proventos lícitos, sob pena de confisco. 3) Incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela É ainda efeito civil da condenação segundo o art. 92, II: “A incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela nos crimes dolosos sujeitos a pena de reclusão cometidos contraoutrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado e curatelado”, a ser declarada na sentença condenatória. Tal incapacidade, com algumas características próprias, era considerada na lei anterior como pena acessória de interdição de direitos. Para a aplicação do dispositivo é indispensável que se trate de condenação por crime doloso, embora de qualquer espécie ou natureza, cometido contra filho, tutelado ou curatelado e desde que, em tese, seja aplicável pena de reclusão. Ainda que aplicada pelo juiz, no caso concreto, pena diversa (detenção, multa, restritiva de direito) ou suspensa a execução da pena privativa de liberdade, é possível ao juiz declarar tal efeito da condenação. Prevê o ECA que a destituição do poder familiar, do pai ou da mãe, em decorrência de condenação criminal, somente é admissível na hipótese de crime doloso, sujeito a pena de reclusão, cometido contra o próprio filho ou filha (art. par. 2°, Lei 12.962/2004). A incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela não decorre automaticamente da condenação, pois deve ser declarada motivadamente na sentença. Exige-se assim, o exame dos requisitos objetivos e subjetivos do fato, e a declaração deve ser reservada aos casos de maior gravidade. Declarada a incapacidade, tem ela, em princípio, caráter permanente. Poderá, porém, ser excluída pela reabilitação. Esta, porém, não acarreta como consequência a reintegração do reabilitado na situação anterior. Ainda que concedida a reabilitação, não volta o sujeito ao exercício do pátrio poder, da tutela ou curatela em relação ao filho, tutelado ou curatelado, contra o qual tenha sido cometido. Em relação a vítima, assim, a incapacidade é sempre permanente, o que não ocorre com relação aos demais filhos se deferida a reabilitação. A lei civil, porém, prevê a suspensão do exercício do poder familiar, pelo pai ou pela mãe condenado por sentença irrecorrível a pena privativa de liberdade superior a 2 anos – art. 1637, CC. 4) Efeitos administrativos e políticos A redação do art. 92, I, CP prevê como primeiro dos efeitos administrativos da condenação duas hipóteses de perda do cargo, função pública ou mandato eletivo. A primeira delas, prevista pela alínea “a”, ocorre “quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a 1 ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a administração”. Diminui-se o limite mínimo da pena privativa de liberdade aplicada, a qual era de mais de 4 anos, para igual ou superior a 1 ano. Exige-se, porém, ainda como na lei anterior, que o crime tenha sido praticado com abuso de poder ou violação de dever para com a administração. Para a aplicação do dispositivo deve considerar-se não só o conceito de funcionário público do art. 327, CP, o qual prevê: “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública”. Par. 1°: “Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da administração pública”. Deve também examinar-se se o fato ocorreu no exercício das funções do agente. Incide, portanto, nos crimes funcionais próprios e impróprios, previstos nos arts. 312-326 do CP, como nos demais delitos em que ocorreu o abuso de poder ou violação do dever, mas não se o sujeito agiu na qualidade de particular, fora de suas funções. Não basta, porém, essa característica do crime. Não sendo a perda do cargo ou função pública automática, e determinando a lei que o juiz deve motivadamente declara-la na sentença, exige-se a apreciação da natureza e da extensão do dano e das condições pessoais do sujeito. Nada impede, porém, que, não entendendo o juiz cabível tal efeito da condenação, a Administração providencie o competente processo extrajudicial para a aplicação da medida administrativa prevista para a hipótese. Havendo abuso de poder ou violação do dever, é cabível o efeito previsto no art. 92, inciso I, “A”, a lei determina a perda de função pública, e não apenas da função pública, com o que não se limita a função momentaneamente exercida pelo agente, mas a função pública no gênero. A segunda hipótese de perda de cargo, função pública ou mandato eletivo ocorre no caso de condenação transitada em julgado, “quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 anos nos demais casos” – art. 92, I, “b”, do CP. Pela lei vigente é possível a aplicação deste efeito da condenação quando ao agente é aplicada pena superior a 4 anos (reclusão ou detenção), por outro crime qualquer. Exige-se, como na hipótese anterior, a manifestação expressa do juiz por sua aplicação, que não é automática. Essas duas regras, como são mais severas que a lei anterior, só podem ser aplicadas nos casos de crimes praticados a partir de 1996, data de início de vigência da referida lei. A perda do cargo não se confunde com a pena de proibição do exercício do cargo, função ou atividade pública, prevista no art. 47, inciso I (espécie de pena restritiva de direito) que é temporária e aplicável na hipótese de condenação a pena privativa de liberdade inferior a 4 anos. Quem perde o cargo ou a função não mais a tem e, assim, o dispositivo trata de um efeito permanente. Tal efeito da condenação não inabilita o agente, em princípio, para posterior investidura em outro cargo ou função, mas mesmo a reabilitação não possibilita a reintegração na situação anterior, ou seja, fica vedada a volta do reabilitado ao exercício do cargo ou função pública no exercício do qual o crime tenha ocorrido. Crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, religião ou procedência nacional: a perda do cargo/função pública NÃO É AUTOMÁTICA; Crimes de lavagem de dinheiro: a interdição do cargo/função pública como efeito da condenação NÃO É AUTOMÁTICA; Crimes da lei de falência: a inabilitação ou impedimento de cargo ou função e impossibilidade de gerir empresa por até 5 anos NÃO É AUTOMÁTICA; Crimes decorrentes de fraude em licitação: a perda do cargo, função ou mandato NÃO É AUTOMÁTICA; Crimes decorrentes de abuso de autoridade: a perda do cargo público ou inabilitação para a função pública NÃO É AUTOMÁTICA; Crimes de tortura: a condenação acarreta a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 anos após o cumprimento da pena de forma AUTOMÁTICA; Crimes de organização criminosa: a perda do cargo, função, emprego público ou mandato eletivo é AUTOMÁTICA. Cuidando-se de crime relacionado com o tráfico de drogas, a lei 11.343/2006, prevê a possibilidade de decretar o juiz, o afastamento cautelar de suas atividades do funcionário público denunciado, mas a perda do cargo ou função na hipótese de condenação rege-se pelas regras do CP. É efeito administrativo, embora também de natureza civil, a “inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso” (art. 92, III). Refere-se a lei a qualquer crime em que o veículo (automóvel, motocicleta, embarcação, aeronave) é utilizado como meio do cometimento do ilícito. A declaração da inabilitação, porém, também deve ser motivada pelo juiz da sentença (art. 92, par. Único). A inabilitação de que se trata é permanente em princípio, mas é passível de ser atingida pela reabilitação, podendo o sujeito habilitar-se novamente para a atividade da qual foi privado pela condenação. A inabilitação não se confunde com a suspensão da autorização ou de habilitação para dirigir veículo, prevista no CP como pena substitutiva aplicável apenas aos autores de crimes culposos de trânsito, com a duração da pena substituída. Tratando-se, porém, de infração praticadacom veículo automotor, o novo CTB prevê a suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação como pena a ser aplicada, isolada ou cumulativamente com outras penas, pelo prazo de 2 meses a 5 anos. Cuidando-se de crime falimentar, constituem efeitos da condenação a “inabilitação para o exercício da atividade empresarial”; o “impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, diretoria ou gerencia das sociedades sujeitas a lei” e a “impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio”. Esses efeitos devem ser declarados na sentença e perduram por até 5 anos após a extinção da punibilidade, cessando, porém, antes, no caso de concessão de reabilitação. Como efeito político da condenação pode ocorrer a perda de mandato eletivo nas mesmas hipóteses de perda do cargo ou função pública. A perda do mandato eletivo também deve ser justificada pelo juiz na sentença condenatória, exigindo-se os mesmos requisitos necessários a aplicação do efeito da perda do cargo ou função pública. Qualquer pessoa poderá ter seus direitos políticos suspensos por “condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos” (art. 15, III, CF); Quanto a esse efeito da condenação, dispõe a súmula 9 do TSE: “A suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação ou de prova de reparação dos danos”. A perda do mandato eletivo é prevista, também, como efeito da condenação por crime ligado a organização criminosa. A perda do mandato eletivo é automática para: VEREADORES, PREFEITOS, GOVERNADORES E PRESIDENTE DA REPÚBLICA. A perda do mandato eletivo não é automática exclusivamente para DEPUTADOS E SENADORES. A suspensão dos direitos políticos decorrentes da condenação transitada em julgado traz como consequência a perda do mandato eletivo, à exceção apenas de deputados e senadores, conforme o artigo 55, parágrafo 2º, da Constituição Federal, que remete à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal a decisão. A condenação criminal também é considerada causa de inelegibilidade, nos termos da LC n° 64/1990 – Lei da ficha limpa: os condenados por decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, pelos crimes nela especificados, são inelegíveis a partir da condenação até o decurso de 8 anos após o cumprimento da pena. 5) Efeitos trabalhistas O ilícito penal e o ilícito trabalhista são autônomos, com tratamento jurídico próprio, embora, por vezes, um mesmo fato constitua crime e infração as relações de emprego. Embora não haja disposição expressa na CLT com relação a execução civil ex delicto, a sentença penal condenatória ou absolutória faz coisa julgada na reclamação trabalhista ou em outras ações de direito trabalhista. Faz coisa julgada na justiça do trabalho a condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido suspensão da execução da pena, como justa causa para a rescisão do contrato pelo empregador (art. 482, d, CLT). Abrange o dispositivo qualquer crime, praticado em qualquer local, contra qualquer vítima. Fazem coisa julgada também a sentença condenatória penal por crime contra a organização do trabalho e por outros ilícitos, mesmo quando houver suspensão da pena ou aplicação de pena restritiva de direitos em substituição, se o fato configurar justa causa para a rescisão: ato de improbidade, como a prática de crimes infamantes (furto, roubo, estelionato); incontinência de conduta, nos crimes sexuais praticados no emprego (assédio sexual, corrupção de menores); violação de segredo de empresa, nos crimes contra a propriedade industrial; ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensa praticados em serviço ou contra empregador ou superior hierárquico, ainda que não em serviço. É causa de rescisão por justa causa pelo empregado a condenação penal do empregador por crime de perigo, por ato lesivo da honra ou boa fama, por ofensas físicas, etc. REABILITAÇÃO A reabilitação é um instituto que faz com que fiquem suspensos condicionalmente alguns efeitos penais da condenação. Consiste na declaração judicial de que estão cumpridas ou extintas as penas impostas ao sentenciado, que assegura o sigilo dos registros sobre o processo e atinge outros efeitos da condenação. É direito do condenado, decorrente da presunção de aptidão social, erigida em seu favor. Facilita-se sua readaptação, concedendo-se certidões dos livros do juízo ou folha de antecedentes sem menção da condenação e permitindo-se o desempenho de certas atividades administrativas, políticas e civis das quais foi privado em decorrência da condenação. Obs.: o pedido de reabilitação só cabe em hipótese de ter havido sentença condenatória com trânsito em julgado. É inadmissível, pois, no caso de ter sido decretada a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva, ainda que intercorrente ou retroativa. Art. 93, CP: “A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao condenado o sigilo dos registros sobre seu processo e condenação”. Par. Único: A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da condenação, previstos no art. 92 deste código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo”. Obs.: como a reabilitação somente pode ser requerida após 2 anos do cumprimento ou extinção da pena, torna-se evidente que não pode ser extinta a pena em si. Na verdade, a reabilitação é destinada a suspender, em caráter condicional, os efeitos mencionados. Assegura-se apenas o sigilo dos registros sobre o processo e condenação e sustam-se os efeitos referidos no art. 92. O sigilo dos registros é automático a partir do cumprimento ou extinção da pena, ao menos em parte. Determina o art. 202 da LEP: “Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da justiça, qualquer noticia ou referencia a condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou outros casos expressos em lei”. O sigilo decorrente da reabilitação, embora mais amplo, não é absoluto, pois, conforme determina o art. 748, CPP, a condenação ou condenações anteriores não serão mencionadas na folha de antecedentes do reabilitado, nem em certidão extraída dos livros do juízo, salvo quando requisitadas por juiz criminal. O sigilo a que se referem as disposições legais deve ser preservado mediante a omissão da anotação quando da expedição de atestado ou folha de antecedentes ou certidão judicial, desde que não requisitada a informação pelo juiz criminal. O outro efeito da reabilitação é o de excluir os efeitos da condenação previstos no art. 92, vedada a reintegração na situação anterior quanto aos incisos I e II. Pode o agente, após a reabilitação, passar a exercer cargo, função ou mandato eletivo, mas está vedada sua reintegração na situação anterior. Na esfera penal, não se impede que o reabilitado se habilite a novo cargo ou função pública ou se candidate ao exercício do mandato eletivo, de qualquer natureza. Também recupera o reabilitado o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, com exceção dos relativos ao filho, tutelado ou curatelado contra quem praticou o crime. Nos crimes previstos na lei de falência, a reabilitação antecipa a cessação de efeitos específicos da condenação, entre os quais a inabilitação para o exercício de atividade empresarial, que, em princípio, duraria por 5 anos após a extinção da punibilidade. A reabilitação não extingue a condenação anterior para o efeito da reincidência, que tem disciplina própria e exige, para a extinção da condenação anterior como pressuposto da recidiva, o prazo de 5 anos a contar do cumprimento ou extinção da pena. Além disso, a própria lei determina a revogação da reabilitação quando ocorrer a reincidência.PRESSUPOSTOS Art. 94: A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde que o condenado: I – Tenha tido domícilio no País no prazo acima referido; II – Tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom comportamento público e privado; III – Tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida. Par. Único: Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários. (O CPP dispõe em seu art. 749 que “Indeferida a reabilitação, o condenado não poderá renovar o pedido senão após o decurso de 2 anos, salvo se o indeferimento tiver resultado de falta ou insuficiência de documentos”). Não é indispensável, assim, o cumprimento efetivo das penas impostas, bastando que estejam elas extintas por qualquer forma: decurso do prazo do SURSIS ou do livramento condicional, prescrição da pretensão executória, indulto, etc. Não se defere reabilitação sem a prova de que a pena tenha sido cumprida ou extinta. Conta-se o prazo da data da extinção e não do dia em que foi ela declarada nos autos. Tratando-se de pena de multa, conta-se o prazo a partir de seu pagamento ou da prescrição da pretensão executória da pena pecuniária. Na hipótese de não haver renúncia da vítima ou novação da dívida, é condição para reabilitação a prova de haver ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstrar a impossibilidade de fazê-lo. Importante: a lei penal não faz distinção entre o condenado reincidente e não reincidente no que se refere ao prazo indispensável para a concessão do benefício; em ambos os casos, é ele de 2 anos. Contagem do período de prova do SURSIS e do livramento condicional: não sobrevindo revogação, o transcurso dos prazos de período de prova sem condenação por outro ilícito penal ou pela prática de atos antissociais é indicio de recuperação do sentenciado. Pluralidade de condenações: nada impede limitar-se o interessado na reabilitação criminal apenas ao processo que entenda preencher os requisitos exigidos por lei, deixando para ulterior oportunidade os demais feitos a que tenha respondido e nos quais fora condenado. Apenas ao condenado é legitimo formular o pedido de reabilitação. No caso de sua morte extingue-se o processo, não cabendo a outras pessoas intervir (não se transmite aos sucessores a possibilidade de impulsiona-lo). Conforme o art. 743 do CPP, é competente para apreciar o pedido de reabilitação o juiz da condenação e não o da execução. Art. 743 “A reabilitação será requerida ao juiz da condenação, após o decurso de 4 ou 8 anos, pelo menos, conforme se trate de condenado ou reincidente, contados do dia em que houver terminado a execução da pena principal ou da medida de segurança detentiva, devendo o requerente indicar as comarcas em que haja residido durante aquele tempo”. Art. 744. “O requerimento será instruído com: a) certidões comprobatórias de não ter respondido, nem estar respondendo, a processo penal, em qualquer das comarcas em que houver residido durante o prazo necessário para a reabilitação; b) atestados de autoridades policiais ou outros documentos que comprovem ter residido nas comarcas indicadas e mantido, efetivamente, bom comportamento pelo prazo necessário para a reabilitação; c) atestados de bom comportamento fornecidos por pessoas em cujo serviço tenha estado; d) quaisquer outros documentos que sirvam como prova de sua regeneração; e) prova de haver ressarcido o dano causado pelo crime ou persistir a impossibilidade de fazê-lo”. Art. 746, CPP – “Da decisão que conceder a reabilitação caberá recurso de ofício”. Art. 749, CPP – “Indeferida a reabilitação, o condenado não poderá renovar o pedido senão após o decurso de 02 anos, salvo se o indeferimento tiver resultado de falta ou insuficiência de documentos”. REVOGAÇÃO Art. 95. A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do MP, se o reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa. Dois são os requisitos indispensáveis a revogação da reabilitação. O primeiro deles é a condenação do reabilitado como reincidente, por sentença com trânsito em julgado. Decorrido o prazo de 5 anos contados a partir do cumprimento ou da extinção da pena do crime anterior, a nova condenação não acarreta a revogação, pelo fato de não caracterizar a reincidência. O segundo pressuposto é o de que tenha sido o reabilitado condenado a pena que não seja de multa. A condenação a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos, causa a revogação. Revogada a reabilitação, os efeitos suspensos voltam a ter eficácia. Desaparece o sigilo dos registros e retorna o condenado a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela e a inabilitação para dirigir veículo. Não perderá o condenado, porém, novo cargo, função pública ou mandato eletivo, diante da revogação, já que o efeito previsto no art. 92, I, exauriu-se com a exoneração ou demissão dessas atividades exercidas quando da prática do crime que deu origem a condenação. QUESTAO - Acerca da concessão da reabilitação, considere: I. Ter domicílio no país pelo prazo de quatro anos. (ERRADA – o domicílio no país é pelo prazo de 2 anos); II. No cômputo do prazo de sursis não ter havido revogação. (CORRETA). III. Ter demonstrado efetiva e constantemente bom comportamento público e privado. (CORRETA). IV. Condenação a pena superior a dois anos, no caso de pena privativa de liberdade. (ERRADA – a reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva) V. Ter ressarcido o dano causado ou demonstrado a impossibilidade absoluta de fazê-lo. (CORRETA). Está correto o que se afirmar APENAS em: R= II, III e V.
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