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Avaliação Laboratorial da Função Renal Fernanda Gontijo Avaliação da Função Renal • Dosagem de creatinina sérica • Determinação da taxa de filtração glomerular • Dosagem de ureia sérica • Avaliação da integridade do glomérulo -Dosagem de proteínas na urina -Pesquisa de sangue na urina -Análise do sedimento urinário Creatina CREATININA (plasma) 2% • Creatinina é produto do metabolismo da creatina; • Creatina é produzida principalmente no fígado e no músculo; • Creatina: fornecimento de energia para a contração muscular; • Creatina livre (2%) é transformada em creatinina e excretada pelos rins. Creatinina É livremente filtrada pelos glomérulos; Avalia o ritmo de filtração glomerular; A dosagem de creatinina é utilizada para avaliar a função renal; As dosagens sérica e urinária da creatinina são usadas como indicadoras da função renal ↓filtração glomerular - ↑creatinina soro e ↓ creatinina urina A concentração de creatinina no sangue é inversamente proporcional à taxa de filtração glomerular (TFG) Creatinina Valores aumentados • Diminuição da função renal (perda de mais de 50% dos néfrons funcionantes); • Desidratação; • Choque; • Obstrução do trato urinário; • Doenças musculares. Valores diminuídos: • Debilidade geral; • Gravidez; • Massa muscular reduzida/ desnutrição. Creatinina Dosagem da Creatinina Valores de Referência Soro (método de Jaffé): 0,7 a 1,3 mg/dL (homens) 0,6 a 1,2 mg/dL (mulheres) Urina: 14 a 26 mg/Kg/dia (homens) 11 a 20 mg/Kg/dia (mulheres) Taxa de Filtração Glomerular TFG -Volume de plasma filtrado através dos glomérulos por minuto -Pode ser determinada através do cálculo do clearance renal de um marcador Clearance ou depuração renal -Volume de plasma do qual uma determinada substância é completamente eliminada pelos rins por minuto -Volume de plasma que fica livre da substância por minuto devido ao fato desta ter sido eliminada pelos rins Clearance Renal Marcador ideal para determinação da TFG por meio do cálculo do clearance renal -Concentração estável no plasma -Fisiologicamente inerte -Livremente filtrado pelo glomérulo -Não pode ser reabsorvido, secretado, metabolizado ou sintetizado pelo rim Clearance Renal Cl (mL/min) = V x U S V = Volume urinário por minuto (mL/min) U = Concentração de creatinina na urina (mg/dL) S = Concentração de creatinina no soro (mg/dL) Clearance Renal Clearance - número e tamanho dos glomérulos – superfície corporal Quando a superfície e corporal do paciente difere da superfície corporal de indivíduo de tamanho médio → correção do clearance pela superfície corporal • 1,73 = área de superfície corporal média (m2) • A = área de superfície e corporal do indivíduo (m2) Nomograma ou fórmula que relacionam altura e peso à área de superfície corporal TFG (mL/min/1,73m2) = Cl x 1,73 A Clearance Renal • Vantagens -Não sofre influência da idade, sexo, massa muscular, exercício físico, estado nutricional, ingestão de proteínas, drogas → variação corrigida através da determinação da creatinina no soro e na urina (creatinina aumentará ou diminuirá proporcionalmente no soro e na urina) ↑massa muscular → Cl não altera ↓filtração glomerular → Cl diminui Cl = V x ↑U ↑ S Cl = V x ↓U ↑ S Clearance Renal • Vantagens Mais sensível para detecção precoce da doença renal crônica → muitos indivíduos com DRC apresentam níveis de creatinina sérica na faixa da normalidade A creatinina sérica só se encontra elevada quando 50% ou mais dos néfrons estão comprometidos Clearance Renal • Desvantagem -Necessidade da coleta da amostra de urina de 24 horas → pouco confiável (realizada de modo inadequado pelo paciente) Taxa de Filtração Glomerular Estimada • TFG estimada através de equações baseadas na creatinina sérica → não é necessário coleta da amostra de urina de 24 horas e nem dosagem da creatinina urinária • Estas equações incluem outras variáveis, como sexo, idade, raça, peso corporal → correção das variações da creatinina sérica decorrente de variações da massa muscular Equação de Cockcroft-Gault Equação MDRD (Modificação da Dieta na Doença Renal) Equação MDRD re-expressa para creatinina calibrada Equação CKD-EPI (Colaboração Epidemiológica na Doença Renal Crônica) Equação de Schwartz – População Pediátrica Taxa de Filtração Glomerular Estimada Limitações das equações • Extremos de idade • Massa muscular acentuadamente grande ou pequena • Doenças da musculatura esquelética • Dietas não usuais com excesso ou escassez de creatinina (suplementação com creatinina ou dieta vegetariana) • Redução da massa muscular (amputações, desnutrição, atrofia muscular) • Obesidade mórbida • Introdução de drogas nefrotóxicas • Avaliação da necessidade de iniciar diálise • Doença renal aguda Determinar a TFG através do cálculo do clearance da creatinina Cistatina C • Marcador endógeno que tem se mostrado bastante promissor para a avaliação da TFG • Sintetizada por todas as células nucleadas uma taxa de produção constante → não sofre influência da massa muscular • Livremente filtrada pelos glomérulos, não é secretada pelos túbulos renais, embora seja reabsorvida • Uma vez reabsorvida, é completamente metabolizada pelas células epiteliais dos túbulos renais e não retorna à circulação sanguínea Taxa de Filtração Glomerular Estimada Equação CKD-EPI (Colaboração Epidemiológia da doença Renal Crônica) Cistatina C sérica ≤ 0,8 mgL: eTFG (mL/min/1,73 m2) = 133 x (cistatina C no soro/0,8)-0,499 x (0,996)idade x 0,932 (se mulher) Cistatina C sérica > 0,8 mg/L: eTFG (mL/min/1,73 m2) = 133 x (cistatina C no soro/0,8)-0,328 x (0,996)idade x 0,932 (se mulher) • Dosagem laboratorial da cistatina C -Imunoturbidimetria, imunonefelometria, ELISA VR: ≥60 mL/min/1,73 m2 Cistatina C • Vantagens -Não sofre influência da idade, sexo e massa muscular -Melhor marcador para a avaliação dos estágios iniciais da DRC, possibilitando a detecção precoce do declínio da função renal em grupos de risco para DRC • Desvantagens -Determinação laboratorial → muito caro Ureia: produto do catabolismo das proteínas Sintetizada no fígado (CO2 + amônia) 90% ureia é excretada pelo rim Excreção depende da hidratação e da taxa de fluxo urinário. Amônia Ureia Ureia http://www.falcettijunior.com.br/images/figado.jpg Ureia • A ureia é livremente filtrada pelos glomérulos, não é reabsorvida ativamente e nem secretada pelos túbulos renais • Contudo, uma pequena fração retorna ao plasma por difusão passiva (molécula pequena sem carga) • Indicador da função renal, principalmente pós-transplante, e da adequação da hemodiálise Correlações clínico-patológicas: • Nível aumentado de ureia no sangue: AZOTEMIA • Azotemia pode ser: pré-renal, renal e pós-renal • Pré-renal: relacionada com perfusão inadequada: dieta rica em proteína, catabolismo proteico elevado, reabsorção de proteínas sanguíneas após hemorragia gastrointestinal, desidratação e tratamento com cortisol • Renal: redução da filtração glomerular: IRA, DRC, glomerulonefrite, necrose tubular, nefrite intersticial, pielonefrite. • Pós-renal: obstrução do trato urinário: nefrolitíase, hipertrofia da próstata ou tumores. Ureia Ureia ↑ ureia (plasm) e ↑ creatinina (plasm): disfunção pré-renal ↑ ↑ ureia (plasm) e ↑ creatinina (plasm): disfunção pós-renal ↑ ↑ ureia (plasm) e ↑↑ creatinina (plasm): disfunção renal Azotemia pré-renal = > 20 mg de ureia /mg de creatinina Azotemia pós-renal = > 15 mg de ureia/ mg de creatinina Azotemia renal = < 15 mg de ureia/ mg de creatinina [ureia] plasm [creatinina] plasm 12 a 20 mg ureia/creatinina ->normal Ureia Correlações clínico-patológicas: Valores diminuídos: •Gravidez •Diminuição do consumo de proteínas •Insuficiência hepática grave •Desnutrição •Aumento: •Doença renal aguda ou crônica (glomerulonefrite, pielonefrite) Nefropatias Glomerulares Doença Renal do Diabetes • Resulta da deposição de Acúmulo dos produtos finais da glicaçãoavançada (AGEs) nos glomérulos devido a níveis glicemia mal controlados • A lesão à membrana glomerular decorre: -Espessamento da membrana basal -Aumento da proliferação de células mesangiais (suporte estrutural ao glomérulo e faz a fagocitose das substâncias estranhas ) -Redução do número de podócitos (restringir a passagem de proteínas do sangue para a urina) -Esclerose vascular (alterações estruturais e funcionais de pequenos vasos sanguíneos) Nefropatias Glomerulares Nefropatias Glomerulares Doença Renal do Diabetes Principais achados clínicos -Proteinúria glomerular - ↓TFG - ↓ Albumina plasmática Microalbuminúria Manifestação clínica mais precoce da doença renal do diabetes Nefropatias Glomerulares Síndrome Nefrótica • Aumento da permeabilidade da membrana glomerular devido a alterações nas cargas elétricas na barreira dos podócitos • Os glomérulos se tornam incapazes de reter macromoléculas, ocorrendo perda maciça de proteínas e lipídios • Caracterizada por proteinúria e lipidúria maciças, hipoalbuminemia, hiperlipemia e edema pronunciado Nefropatias Glomerulares Síndrome Nefrótica Achados laboratoriais -Proteinúria glomerular intensa (>3,5 g/dia) -Gotículas de gorduras na urina -Corpos graxos ovais -Células epiteliais tubulares renais -Cilindros epiteliais, graxo e céreos - ↓Albumina plasmática - ↑ Colesterol e ↑ triglicérides Nefropatias Intersticiais Pielonefrite • Inflamação do trato urinário superior, incluindo os túbulos e o interstício, causada por infecção bacteriana • Complicação frequente da cistite não tratada • Geralmente resulta do movimento de bactérias do trato urinário inferior para os rins • Pode acarretar lesão nos tecidos renais, comprometimento da função renal, hipertensão e até mesmo septicemia • Pode ser aguda ou crônica Sintomas -Febre -Disúria -Sensação de urgência para urinar -Urina fétida e concentrada -Sensação de mal-estar com arrepios, náuseas, e vômitos -Lombalgia Nefropatias Intersticiais Pielonefrite • Principalmente agente causador: Escherichia coli • Diagnóstico: análise do sedimento urinário e urocultura Achados laboratoriais -Bacteriúria -Piúria -Hematúria microscópica -Cilindro leucocitários -Cilindro bacterianos -Cilindros epiteliais -Células epiteliais tubulares -Proteinúria tubular Bacteriúria + Piúria + Cilindro Leucocitário e/ou Cilindro Bacteriano = Pielonefrite Nefrolitíase • Presença de cálculos na pelve renal, ureter ou bexiga Principais tipos de cálculos renais Oxalato ou fosfato de cálcio (75%) Fosfato amoníaco magnesiano (estruvita) (15-20%) Ácido úrico (5-10%) Cistina (1-2%) Fatores Predisponentes -Concentração aumentada dos constituintes dos cálculos -Alterações do pH urinário -Volume urinário diminuído -Infecção do trato urinário -Alterações anatômicas do trato urinário Nefrolitíase • Oxalato ou fosfato de cálcio -Distúrbios metabólicos de cálcio e fosfato -Dieta (ocasionalmente) • Fosfato amoníaco magnesiano -Infecções urinárias causadas por bactérias que metabolizam a ureia → pH urinário alcalino • Ácido úrico -Hiperuricemia → pH urinário ácido • Cistina -Cistinúria Doença Renal Aguda • Injúria renal com rápida perda da função dos rins • Características -↑creatinina e ureia no plasma -↓ TFG, podendo ocorrer oligúria (40 a 400 mL urina/dia) ou anúria (<40 mL urina/dia) -Acidose metabólica -Hipercalemia -Desequilíbrio hicroeletrolítico Doença Renal Aguda Pré-renal –deficiência na perfusão renal -Desidratação grave -Hipovolemia por trauma, queimaduras ou cirurgia -insuficiência cardíaca congestiva, embolia pulmonar -Aterosclerose ou estenose renovascular Renal -Glomerulonefrite aguda pós-estreptpcócica -Necrose tubular aguda causada por isquemia ou agentes nefrotóxicos -Pielonefrite aguda Pós-renal -Obstrução por tumores ou nefrolitíase Doença Renal Crônica • Anormalidades na estrutura ou função dos rins, presentes por um período superior a três meses, com implicações na saúde • Classificada de acordo com a causa, categoria da TFG e categoria da albuminúria Critério diagnostico TFG reduzida (por > 3 meses) -TFG < 60 mL/min/1,73 m2 e/ou Marcadores de lesão do parênquima renal (por > 3 meses) -Albuminúria moderadamente ou intensamente aumentada (≥30 mg/g de creatinia ou ≥ 30 mg/24h) -Anormalidades no sedimento urinário -Anormalidades eletrolíticas ou outras decorrentes de defeitos tubulares -Anormalidades detectadas por exame histológico -Anormalidade estruturais detectadas por exame de imagem -História de transplante renal Doença Renal Crônica Causas -Doença renal do diabetes -Pielonefrite crônica -Rins policísticos -Uropatia obstrutiva por tumores ou nefrolitíase Doença dos rins policísticos -Doença genética progressiva caracterizada pela presença de vários cistos em ambos os rins -Principais sintomas: hipertensão arterial, dor lombar, infecções do trato urinário, doença renal crônica Doença Renal Crônica Categoria TFG (mL/min/1,73m2) Descrição G1 ≥90 Normal ou aumentada G2 60-89 Levemente reduzida G3a 45-59 Levemente a moderadamente reduzida G3b 30-44 Moderadamente a intensamente reduzida G4 15-29 Intensamente reduzida G5 <15 Falência renal Na ausência de marcadores de lesão do parênquima renal, os estágios G1 e G2 não consistem em critérios para o diagnóstico DRC Categoria Albuminúria (mg/g de creatinina ou mg/24hs) Descrição A1 <30 Normal ou levemente aumentada A2 30-300 Moderadamente aumentada A3 >300 Intensamente aumentada Doença Renal Crônica O risco e a taxa de progressão da DRC dependem: -Causa da DRC -Nível da TFG -Nível da albuminúria -Presença de doença renal aguda -Idade -Sexo -Raça ou etnia -Pressão arterial elevada -Hiperglicemia -Dislipidemia -Tabagismo -Obesidade -História de Doenças Cardiovasculares -Exposição a agentes nefrotóxicos Doença Renal Crônica Alterações - ↓Capacidade de concentrar ou diluir a urina - ↓Capacidade de manter níveis normais de eletrólitos de H+ (homeostasia) - ↓Síntese de Calcitriol (forma ativa da vitamina D ) - ↓Síntese de Eritropoietina - Retenção de metabólitos Retenção -Potássio, ureia, creatinina, H+ , Fosfato, magnésio Excreção -Sódio, bicarbonato , cálcio, albumina Doença Renal Crônica Características Clínicas Hipertensão arterial (acúmulo de líquidos e ativação sistema renina- angiotensina devido à hiponatremia) Dislipidemia Anemia Distúrbio mineral e ósseo Desnutrição Edema Hipercalemia Uremia Complicações Acidose metabólica Desequilíbrio hidroeletrolítico Doenças cardiovasculares Doença renal terminal Grupos de Risco para DRC Avaliação da função renal deve ser realizada anualmente: Diabetes mellitus tipo 1 ou 2 Hipertensão arterial Idosos Obesidade História de Doença cardiovasculares História familiar de DRC Tabagismo Uso de agentes nefrotóxicos Ácido Úrico • Produto do catabolismo de nucleosídeos purínicos, adenosina e guanosina, principalmente endógenos Ácido Úrico • O ácido úrico é livremente filtrado pelo glomérulo, reabsorvido no túbulo contorcido proximal (98%), secretado no túbulo contorcido proximal (50%) e reabsorvido no túbulo contorcido distal (40%) • Excreção urinária de 6 a 12% da quantidade filtrada Hiperuricemia: ácido úrico sérico >7,0 mg/dL (homens) >6,0 mg/dL (mulheres) Ácido Úrico PRODUÇÃO ELEVADA Primária Idiopática Distúrbios metabólicos herdados Secundária Ingestão excessiva de purina Quantidade elevada de ácido nucleico (leucemia, mieloma, radioterapia, quimioterapia e trauma) Psoríase (↑renovação das células da pele) Hipóxia tecidual Pré-eclâmpsia (morte das células trofoblásticas da placenta) Álcool (↑ metabolismo purinas) EXCREÇÃO REDUZIDA Primária Idiopática Secundária Doença renal aguda ou crônica Reabsorção renal elevada Pré-eclâmpsia (↓filtração e ↑reabsorção renal) Ácidos orgânicos –lactato, acetoacetato, salicilato (competição com ácido úrico pela secreção tubular renal) Diuréticos tiazídicos (↑reabsorção) Síndrome de Down Gota • Precipitaçãode urato nos líquidos corporais supersaturados • Os cristais de urato se depositam nas articulações ou nos rins, gerando uma resposta inflamatória intensa • Pacientes com hiperucemia assintomática devem ser acompanhados devido ao risco de desenvolvimento de doença renal Manifestações clínicas da gota Artrite gotosa Nefropatia gotosa Nefrolitíase de urato Obrigada!
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