Buscar

cultura periférica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

As primeiras periferias do estado de São Paulo começaram a se formar em meados dos anos 1940, tendo o crescimento acelerado nas décadas seguintes, em função do grande fluxo de migrações vindas de outras regiões do país, que buscavam uma qualidade de vida, com maiores oportunidades de trabalho e moradia. Os bairros e vilas localizados na periferia são popularmente chamados de favelas, que são um conjunto de moradias amontoadas e precárias, com falta de saneamento básico e infraestrutura, expondo os moradores há riscos de doenças e pouca segurança dos imóveis (frequentemente em risco de desmoronamento, inundação, incêndio, etc.). Todo esse crescimento demográfico também agravou a situação de violência e criminalidade, já que as favelas vivem o descaso e abandono do Estado, tendo que lidar com os problemas de formas próprias e sem auxílio. Considerando o entorno dessas submoradias, a precariedade também se manifesta na escassez da oferta de serviços públicos, com falta de equipamentos de saúde, educação, cultura, lazer e transportes, confirmando a exclusão da periferia enquanto parte da sociedade. 
As favelas, comunidades carentes e periferias são conhecidas por concentrar altos índices de criminalidade, mas também pelos movimentos artísticos, culturais, sociais e políticos de seus moradores, como forma de burlar a expectativa de que a periferia seja apenas um antro de marginalidade. 
Nos anos 1990, momento em que o hip-hop e rap davam voz à periferia por meio das letras de suas músicas, modo de se vestir e representações artísticas da realidade, surge também uma produção cultural impulsionada por esse movimento, sendo presente até os dias atuais. Com o surgimento dos espaços voltados a cultura, na década de 1980 e principalmente no final da década de 1990 foi possibilitado encontros que formariam uma rede e um tipo peculiar de movimento social, conhecido hoje como: cultura periférica.
"A chamada cultura periférica ou arte de periferia é composta de um conjunto de ações, tais como saraus com poetas e escritores moradores desses bairros, produções de audiovisual, músicas, grafites, danças, feiras culturais e etc, aproximando a arte de pessoas com acesso limitado à mesma." (Renato Souza de Almeida, 2015, Mobilidade em São Paulo) 
Essas diferentes ações culturais que acontecem nas periferias de São Paulo, há mais de uma década, caracterizam um novo movimento político na metrópole. Essas produções que normalmente ocorrem em espaços públicos, para perpetuar o ideal de arte como bem comum, trazem a perspectiva de que favelado/periferico não precisa "ser tirado da rua" mas sim, ocupar os espaços públicos, na disputa por reconhecimento enquanto arte e cultura. E a arte produzida a partir desse referencial é reveladora dessa realidade, representando a vida, denunciando e ressignificando a mesma.
"Por isso, nesse tipo de produção cultural não cabe a classificação de uma “arte pela arte”, porque ela é sempre arte comprometida com a realidade a qual se vive. Esse compromisso não é doutrinário ou ideológico, mas é conteúdo obrigatório nessas produções." (Renato Souza de Almeida, 2015, Mobilidade em São Paulo) 
Sendo assim, os aspectos comuns nas periferias, que geralmente são esses bairros distantes do centro, que têm população miscigenada, fazem com que essas identidades se façam presentes nas produções culturais. Assumir-se como “periférico” é assumir uma identidade que se desenvolve a partir desse conjunto de realidades.
"Não é muito tranquilo para um jovem morador da periferia assumir-se como “periférico”, pois essas áreas costumam ser rotuladas como violentas, paupérrimas, ‘rurais’ (num sentido bastante pejorativo do rural, pois estão no perímetro urbano mas não dispõem dos recursos e serviços que o restante da cidade usufrui) etc. A arte periférica produzida nas últimas décadas vem contribuindo para que se atribua um sentido positivo (e político!) à palavra “periferia”. Algo que era motivo de vergonha e omissão tornou-se orgulho e autoestima, sobretudo, para muitos jovens dessas regiões." (Renato Souza de Almeida, 2015, Mobilidade em São Paulo) 
O hip hop e como consequência, o rap, começaram a expor em seus temas o cotidiano periférico, trazendo a perspectiva da rotina nas favelas, mostrando que a possibilidade de identidade e de transformação é o próprio território mesmo sendo o motivo da exclusão e estigmas, criando assim, um elo comum. Desta forma, musicas de rap como “Da ponte pra cá”, "Fim de Semana no Parque" e “Periferia é Periferia” dos Racionais Mc’s frequentemente, retratavam as práticas culturais da periferia e suas possibilidades de lazer e cultura. Estas músicas e tantas outras mostram o cotidiano das periferias com suas contradições, conflitos e necessidades oferecendo um repertório para uma ressignificação da periferia.
O reconhecimento que a cultura periférica gera, não vem com um título universitário ou com cobertura da grande mídia, mas sim, de uma prática reconhecida por esse próprios produtores, por seus coletivos e por suas comunidades. Com isso, quem pratica esse ato visceral, também se refaz, se reconhece e contribui para a construção do outro, se posicionando no mundo e trilhando o caminho da sua identidade. Este processo artístico e cultural, facilita a percepção da condição no qual se insere, mas de forma muito diferente daquela veiculada pelos estereótipos. 
"Dessa forma, nesse contexto de pobreza e violência, incentivar a produção artística e manifestações culturais foi uma das respostas encontradas por essa população para aliviar seu sofrimento, criar coesão social e possibilitar um futuro. A arte surge então em algumas formas, como: pacificar, na tentativa de utilização dos espaços comuns como forma de fomentar a socialização e a coesão de indivíduos que convivem com o medo da violência. Valorização do local: a realização atividades no próprio bairro de moradia diminuía a dependência com relação ao centro da cidade, auxiliando na luta contra estigmas e preconceitos. Participação política: fundar coletivos foi uma forma de se organizar em meio à crise dos política e denunciar a realidade por meio da produção artística. Sobrevivência financeira e material: em um contexto de pobreza, a produção artística foi uma forma de ganhar renda sem necessitar inserir-se em atividades ilícitas. Reconhecimento: a produção artística serviu e serve para mostrar para a população que a periferia está viva aumentando a autoestima e confiança em nós-mesmo."- citação da citação (Por que a periferia foi fazer arte - por Tiarajú D’Andrea)
Reconhecer e perceber as ligações que a cultura periférica vem causando nas comunidades e principalmente nos moradores, é de suma importância, já que a produção artística acontece quase primariamente de forma coletiva. Esses movimentos que assumiram a responsabilidade de fazer da arte um instrumento de construção social, humana e cultural, também assumiu a tarefa de contar a própria história, sem pré-conceitos e estigmas sociais, fazendo parte do processo de reconhecimento, construído através de dificuldades e poesia.
FELIX, João Batista de Jesus. Hip Hop: cultura e política no contexto paulistano, 2000. 194 fls. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000. 12 metrópole e criar seu espaço onde para o resto da cidade parecia impossível.

Continue navegando