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Valorização das línguas no contato linguístico

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Aula 8: Valorização das línguas no contato linguístico
Apresentação
Nesta aula, vamos discutir sobre as línguas em contato e como a hierarquia linguística interfere na valorização e escolha da língua a ser usada por indivíduos bilíngues. Falaremos também das línguas de herança e dos fatores que minimizam seu uso pelos herdeiros. Um dos motivos é o tempo de exposição às línguas, tendo em vista que as minorias utilizam a língua de herança apenas no ambiente familiar, enquanto, na sociedade em geral, usam a majoritária. 
É comum haver sobreposição de uma língua em relação à outra quando se relacionam. É comum também os empréstimos linguísticos, e a Libras tem muitos empréstimos oriundos do português, por ser a língua mais valorizada socialmente. Para formar uma sociedade bilíngue balanceada, é preciso considerar as línguas de forma igualitária.
Há vários níveis de falantes bilíngues, e os motivos que caracterizam sua proficiência são diversos. O período de aquisição da linguagem, o tempo de interação e a valorização linguística são alguns exemplos. Para se fortalecer e não perder seu bem cultural e linguístico, as minorias se organizam em movimentos de lutas e resistência. Somente assim conseguem preservar e transmitir seu legado cultural.
Objetivos
· Esclarecer que existem hierarquias linguísticas e que isso influencia na formação e nos níveis dos falantes bilíngues;
· Explicar a importância das línguas na formação de indivíduos bilíngues, considerando a Libras e o Português.
Valorização das línguas no contato linguístico
Nas fronteiras dos países, temos exemplos de línguas que estão sempre em contato. Um exemplo claro é o portunhol, você certamente já ouviu falar. É uma mistura do português e espanhol. É comumente usado nas cidades de fronteira entre o Brasil e os países vizinhos de fala espanhola. Assim como as línguas, as culturas também estão em contato, promovendo o hibridismo cultural. Nesse caso, temos:
"Uma fronteira geopolítica, social e cultural que afeta o modo que os sujeitos se relacionam com as línguas às quais estão expostas. Portanto, os sujeitos que estão inseridos nessas comunidades fronteiriças se significam pelas línguas que escolhem enunciar. - STURZA e TATSCH, 2016, p. 85.
Esse é um exemplo do contato linguístico em fronteiras. A escolha da língua de enunciação é um ato político. Os habitantes da região passam a usar as duas línguas e produzem uma interlíngua peculiar, mas a fronteira pode ser um espaço social, real e simbólico. Será que temos línguas em contato apenas em fronteiras? E como fica as minorias linguísticas?
Atenção: É fato que o Brasil não é uma nação monolíngue, pois há muitos outros idiomas falados no país. Como exemplo, temos as línguas indígenas, as colônias de pessoas de outros países que vivem no Brasil e as comunidades surdas, que fazem questão de preservar sua língua e cultura.
Houve momentos da história do Brasil que as línguas minoritárias eram desvalorizadas e a língua portuguesa propagada como a única oficial. Os grupos étnicos resistiram e continuaram não apenas a falar mas também a propagar sua língua, unindo-se em comunidades para se fortalecer diante do monolinguismo imposto. Nesse caso, a fronteira não é geográfica e sim social.
Dentro desse contexto, você sabe o que é língua de herança? Quadros (2017, p. 12) discorre sobre a língua de herança e a define como a "língua usada pelas comunidades locais (étnicas ou de imigrantes) em uma comunidade na qual outra língua é utilizada de forma mais abrangente".
Dentro de um grupo linguístico majoritário, há minorias que preservam sua cultura, assim temos indivíduos bilíngues que falam a língua do país e a língua da família.
Na família, fala-se uma língua, mas, no contexto social, é proferida outra. As pessoas que têm uma língua de herança, recebem um patrimônio cultural e linguístico, têm contato com as duas línguas e crescem como sujeitos bilíngues nativos, ou seja, adquirem as duas línguas simultaneamente. Mas será que essas línguas ocupam o mesmo espaço na enunciação? Possuem a mesma importância para os indivíduos bilíngues de herança? Existe uma hierarquia linguística?
É fato que a sociedade se organiza de forma hierárquica e as línguas também ocupam posições de destaque. A língua de quem domina predomina em relação aos dominados. Pense em situações em que uma língua se sobressai às outras. O inglês é uma língua de prestígio, escolhido como língua estrangeira a ser ensinada. O que motiva essa escolha? No Brasil, a língua oficial é o português, qual a posição dessa língua em relação às demais? O que você acha?
Hierarquias linguísticas
No Brasil, estabeleceu-se que a língua portuguesa é a única falada no país. Essa posição ideológica vem carregada de preconceitos contra as línguas minoritárias, o que provoca desigualdades entre elas. Mesmo que as pessoas adquiram as duas línguas simultaneamente, o contexto social interfere no desempenho linguístico dos falantes, gerando diferentes tipos de bilinguismo.
Ao considerar o estigma que se tem em relação às línguas minoritárias, é possível entender a escolha da língua de interação, sendo a que tem mais prestígio e é usada pela maioria.
Qual a importância das comunidades linguísticas?
A comunidade linguística é essencial para o fortalecimento, a preservação e a transmissão de uma língua. "Quando a criança percebe que a família atribui valor à sua língua e convive com um grupo social que valoriza e exalta essa língua, ela pode incorporar isso e se tornar bilíngue, tendo inclusive orgulho de seu uso". (QUADROS, 2017, p. 26).
O português é considerado a língua oficial do país desde a colonização dos portugueses. O monolinguismo sempre foi o que se procurou estabelecer, mas, em tempos de globalização, o multilinguismo tem sua importância. Atualmente, ser bilíngue é algo bom e isso não só fortalece como também estimula as línguas minoritárias. Quadros (2017) destaca, ainda, que as línguas passam a ser vistas como importante bem cultural.
Em relação à comunidade surda, foram criadas associações em todo o país que objetivam reunir os surdos com intuito social, político e esportivo. Nas associações, há uma identificação, o fator de união são os traços em comum, ou seja, ser surdo e usar a língua de sinais. Esse é um espaço de organização social e um lugar de luta com:
· Promoção de várias festas e encontros;
· Atividades esportivas, com campeonatos disputados entre federações diferentes;
· Atividade política, com manifestações e reivindicações.
As histórias e as línguas dos surdos foram preservadas em vários países devido à existência das associações.
As associações representam a união, o fortalecimento e a resistência dos movimentos contrários à comunidade surda. Nesses espaços, os surdos se conhecem, casam-se e têm filhos que passam a frequentar os mesmos locais, juntamente com seus pais. As crianças codas, filhos ouvintes de pais surdos, herdam o patrimônio cultural e, além dos pais, os surdos da associação também se tornam referências linguísticas. As crianças surdas, filhas de pais surdos, transitam nesse ambiente de forma natural, construindo sua identidade. Já as crianças surdas, filhas de pais ouvintes, têm nesse espaço um ambiente de aprendizado linguístico e cultural, o que não encontra no seio familiar. (QUADROS, 2017).
Os pontos de encontro e as associações são essenciais para o fortalecimento da comunidade surda, preservando a língua e a cultura.
A língua majoritária é a que tem mais prestígio social e influencia na preferência do falante bilíngue, enquanto a língua com menos influência é relegada a segundo plano, mesmo que seja a primeira a ser adquirida. Lutar contra essa hierarquia imposta pela sociedade requer união, por isso as minorias se organizam em grupos linguísticos, com objetivo de preservar seus valores culturais. No Brasil, temos várias comunidades linguísticas que resistem ao monolinguismo imposto.
Em relação aos surdos brasileiros, percebemos que eles também criaram associações com o intuito de se articular politicamente e preservar seusprincípios. Com o intuito de enfraquecer as comunidades surdas, proibiu-se o uso da língua de sinais, mas a união e a resistência fizeram com que os valores culturais surdos fossem preservados e repassados de geração em geração nas associações.
"Os espaços de encontro surdo-surdo servem para que os surdos se alimentem de suas raízes surdas e de sua língua e se fortaleçam para enfrentar os outros, no sentido de preservar a herança surda e sua língua". (QUADROS, 2017, p. 30). Os surdos sempre formam pontos de encontro para conversar, usar a língua de sinais livremente, fortalecer-se e lutar contra os ventos contrários.
Sempre haverá uma hierarquia linguística e, por esse motivo, as minorias precisam se organizar para preservar seus valores culturais e para propagar sua língua. Formar novas gerações bilíngues é um meio de garantir e valorizar as línguas, muitas vezes, esquecidas e até desprezadas. Conhecer mais de uma língua é vantajoso, é diferencial em tempos modernos.
É fato que as minorias linguísticas sempre estarão em contato com a língua dominante e haverá influência desta sobre aquela. Em relação à Libras e à língua portuguesa, percebemos que há muitos empréstimos do português para a Libras e isso é comum nas línguas que estão em contato.
Contato entre Libras e língua portuguesa
A Libras é a língua de sinais usada pela comunidade surda brasileira e é uma língua de modalidade viso-espacial. Em 2002, foi reconhecida no país, mas sua existência antecede e muito a essa data, pois os surdos sempre se comunicaram usando uma língua visual.
Antes mesmo de a língua de sinais ser proibida em todo o mundo, em 1880, os surdos brasileiros usavam a Libras em diferentes espaços sociais. Mesmo com a proibição do uso da língua de sinais nas escolas, os surdos continuaram utilizando sua língua nos pontos de encontro e nas associações.
O recente reconhecimento da Libras é resposta de lutas e manifestações da comunidade surda. O fracasso do método oral, o avanço das pesquisas em relação às línguas de sinais e os movimentos surdos culminaram no reconhecimento da Libras e de várias línguas de sinais em diversos países.
Saiba mais: A língua portuguesa é de modalidade oral-auditiva e considerada a língua oficial do país, usada, no Brasil, desde a colonização dos portugueses. Várias políticas trabalharam com o intuito de se ter uma única língua, e a maioria das informações são veiculadas nesse idioma. É a língua falada por toda a sociedade e ensinada nas escolas, mas não podemos dizer que é a única. O nosso país é plurilíngue, ou seja, vários idiomas são proferidos nessa grande nação.
Todas as línguas minoritárias estão em contato com a majoritária. Entre uma língua de prestígio e outra estigmatizada, qual delas será escolhida?
A Libras e o português são duas línguas que estão em constante contato e são de modalidades distintas. É comum ocorrer o empréstimo linguístico nas línguas em contato e percebemos vários empréstimos do português para Libras, como já dissemos anteriormente.
Nesse contato linguístico e, de acordo com as hierarquias, vemos a valorização do português em detrimento das línguas minoritárias. Devido à essa hierarquia, as línguas de sinais foram proibidas e apenas as orais eram consideradas línguas de fato. Coibir o direito de uso de uma língua, significa rejeitar as pessoas que falam esse idioma, pois a língua representa um povo, uma cultura.
Na Educação de Surdos, o português oral foi preferido por mais de um século. Os insucessos dessa metodologia, juntamente com as pesquisas sobre a língua de sinais brasileira, fizeram com que as reivindicações surdas ganhassem força, culminando no reconhecimento. Hoje há uma proposta de educação bilíngue, mas será que a Libras ocupa seu espaço nesse modelo educacional? Às vezes, a educação bilíngue está apenas na nomenclatura e não na prática.
Há uma relação de poder entre a Libras e a língua portuguesa, cada uma delas assumindo posições distintas diante dos usuários. Para os surdos, a preferida é a Libras, a língua portuguesa é vista de forma negativa, como algo difícil de ser aprendido. Já para os ouvintes, a percepção é contrária.
Surdos e ouvintes, embora façam parte de comunidades linguísticas diferentes, participam juntos de uma mesma cultura nacional. Essa relação faz com que haja influência de uma língua sobre a outra. O português e a Libras estão em constante contato e, por ser língua majoritária, o português influencia muito mais a Libras, tendo em vista que os surdos aprendem a modalidade escrita do português na escola.
Exemplo1
Devido ao contato com a língua portuguesa, vários sinais são influenciados por esse idioma, como, por exemplo, os sinais soletrados e aqueles que iniciam com a mesma configuração de mão que representa a primeira letra da palavra em português. O alfabeto manual é a representação do alfabeto da língua portuguesa e sua função é a de empréstimo linguístico, como soletrar nomes próprios e introduzir palavras na Libras que não possuam sinal correspondente, contribuindo, assim, com a formação de novos sinais e a expansão lexical. (RODRIGUES e BAALBAKI, 2014).
Enfim, essas duas línguas estão em contato e devem caminhar juntas em uma concepção bilíngue, mas ainda temos a sobreposição da língua de prestígio sobre a minoritária. Os surdos têm a obrigatoriedade, e também a necessidade, de aprender a língua portuguesa escrita, por ser majoritária.
Com o Decreto nº 5.626/2005, institui-se o ensino obrigatório de Libras nas universidades, nos cursos de Pedagogia, licenciaturas e Fonoaudiologia, porém um período curto de aulas só possibilita ao estudante ter noções da Libras e da realidade cultural dos surdos. A proporção de ensino não é a mesma para as duas línguas.
O ideal seria se a Libras fosse uma disciplina na escola, assim como o português. Os surdos a estudaria como L1, e os ouvintes, como L2. Nesse sentido, o português seria a L2 dos surdos e a L1 dos ouvintes. Acreditamos que assim todos teriam possibilidade de aprender as duas línguas e se tornar bilíngue de fato.
Bilinguismo na prática
A pessoa bilíngue possui fluência em duas línguas e faz uso delas conforme a situação comunicativa. O bilinguismo está ligado ao biculturalismo, pois a pessoa em contato com duas línguas também está conectada a duas culturas. A coexistência de duas línguas deve ser analisada a partir de diferentes fatores, como: 
A pessoa pode adquirir duas línguas simultaneamente na infância e, posteriormente, preferir uma delas. Isso acontece principalmente com as minorias, porque a sociedade ao redor usa uma língua diferente da família. Os falantes de uma língua de herança, que são considerados bilíngues, apresentam diferentes níveis de desempenho linguístico.
Níveis de Proficiência
Quadros (2017) destaca o bilinguismo balanceado e desbalanceado. Você já ouviu falar? Os bilíngues balanceados são aqueles que possuem fluência nas duas línguas. Por outro lado, o bilinguismo desbalanceado diz respeito a uma língua que se sobressai à outra em seu uso, o que impacta a fluência da pessoa. Vamos entender melhor essa questão em relação à Libras e língua portuguesa?
As relações entre a língua de sinais e as línguas de cada país impactam no desenvolvimento das crianças. No caso do Brasil, o contato da Libras e do português afeta o desenvolvimento bilíngue de diferentes formas. Alguns filhos ouvintes de pais surdos são fluentes em Libras e português. Outros compreendem a Libras, mas falam com os pais em português e alguns têm, até mesmo, dificuldade de comunicar-se com os pais, sendo sua primeira língua o português.
Esse bilinguismo desbalanceado se dá pelo fato de a língua oral ocupar mais espaço e tempo de interação do que a língua de sinais. A criança fica mais exposta à língua oral, no caso o português, resumindo a interação em Libras apenas ao ambiente familiar.
Muitas vezes, a língua de herança é a primeira a ser adquirida, mas acaba se tornando secundária, tendo em vista que a comunidade em geral usa outra língua, tornando-a primária para o falante. Em muitoscasos, a criança adquire duas línguas simultaneamente, mas sua exposição à língua majoritária é muito maior, tornando-se a preferida. Essas situações determinam o nível de proficiência de um falante bilíngue.
Há vários fatores que podem definir os níveis de proficiência de uma criança que seja bilíngue nativa em duas L1:
"Os fatores envolvem atitudes em relação às línguas, quantidade de exposição às línguas, níveis de interação nas línguas, as políticas linguísticas instauradas no país em que as duas línguas sejam usadas, ambientes linguísticos que podem favorecer ou comprometer o desenvolvimento bilíngue e assim por diante."
(QUADROS, 2017, p. 17).
Em relação à língua de sinais, como língua de herança, percebe-se diferentes níveis de proficiência devido aos fatores citados acima. Muitos possuem dificuldades na língua de sinais devido ao seu uso restrito, sem contar também que foi uma língua estigmatizada por séculos.
Quando se tem uma política monolíngue, a língua de prestígio ocupa o lugar principal e a língua de herança, ou seja, aquela usada apenas pela família, o segundo plano.
O preconceito linguístico é um forte fator que interfere no uso da língua de sinais.
A política monolíngue e a concepção preconceituosa da deficiência fizeram com que a língua de sinais fosse rejeitada e, mesmo com algumas conquistas, ainda vivenciamos esse olhar carregado de estigma.
O bilinguismo assimétrico está relacionado ao contexto em que a L1 é a língua minoritária. A criança usa sua língua de herança apenas no contexto familiar, e a L2 ocupa os demais espaços, provocando essa assimetria. É algo muito comum em relação aos filhos ouvintes de pais surdos, deixando a língua de sinais adormecida.
(QUADROS, 2017).
Enfim, temos vários níveis de bilinguismo como já relatamos. Há pessoas que aprendem as duas línguas simultaneamente, como nativos, e desenvolvem diferentes níveis de proficiência devido a fatores externos. Existem também os que aprendem a L2 em um ambiente formal, apresentando fluência em diferentes níveis.
Vivemos um momento importante de políticas educacionais bilíngue para surdos, mas compreendemos que, na prática, nem sempre o bilinguismo acontece. As línguas não caminham juntas, uma se sobrepõe à outra, mas a valorização das línguas deve acontecer para que sejam vistas de forma igual e não hierarquizada.
Conclusão
Em um país continental como o Brasil, é natural que se falem diferentes idiomas. Mesmo a língua portuguesa sendo a língua oficial, não podemos desconsiderar as outras que também são brasileiras: as línguas indígenas (muitas deixaram de existir assim como seu povo) e as línguas de sinais (sabemos que temos, pelo menos, duas catalogadas no país: a Libras e a Urubu-Kaapor).
Os surdos não estão concentrados em um espaço geográfico e sim espalhados; portanto, a Libras é a língua brasileira de sinais falada em todo o país. Os índios falam suas línguas nas aldeias, mas aprendem o português para interagir com a sociedade em geral.
Os surdos falam a Libras em suas comunidades, mas estão inseridos em diferentes contextos sociais. Essa é sua língua natural e precisam de acessibilidade linguística.
A Libras e a língua portuguesa estão em contato e uma influencia a outra. É fato que o português influencia muito mais a Libras, tendo em vista que esta é falada por uma minoria. A hierarquia linguística faz com que a Libras tenha muitos empréstimos do português, algo comum em línguas que se relacionam.
O fato é que os surdos são sujeitos bilíngues e biculturais, vivenciando duas línguas e duas culturas. Assim como os ouvintes têm diferentes níveis de bilinguismo em relação à Libras, os surdos também apresentam vários níveis de proficiência no português. A dificuldade que os surdos enfrentam para aprender a língua portuguesa escrita, não está relacionada à surdez, mas sim às metodologias de ensino.
Usar a mesma metodologia dos alunos ouvintes é um grande erro. Para os surdos, o português é a segunda língua e deve ser ensinada como L2, de forma visual e não oral. Estabelecer propostas de ensino que formem cidadãos bilíngues, de fato, é um desafio para quebrar as barreiras de comunicação entre os cidadãos brasileiros surdos e não surdos, para isso vamos valorizar as duas línguas.
Atividade
1. Discorra sobre hierarquia linguística, fale também da posição da língua portuguesa em relação às demais línguas existentes no Brasil.
A língua de maior prestígio social ocupa um lugar de destaque na sociedade e é amplamente usada. No Brasil, a língua oficial é o português, ocupando a centralidade nacional, mas não é a única. Tentou-se instituir o monolinguismo, mas é preciso levar em conta que o nosso país é plurilíngue e muitos idiomas são falados por minorias. Essa diversidade compõe a beleza da nação.
Parte superior do formulário
2. A hierarquia linguística promove desigualdade e interfere na formação do indivíduo bilíngue. Mesmo que a pessoa adquira as duas línguas simultaneamente, o contexto social intervém em seu desempenho linguístico. Discorra sobre os diferentes tipos de falantes bilíngues de herança da língua de sinais:
Bilíngue balanceado: Fala-se com fluência as duas línguas. Há filhos ouvintes de pais surdos que dominam tanto a língua de sinais quanto a Língua Portuguesa, tornando-se até profissionais intérpretes. Geralmente cresce em meio à comunidade surda, recebendo os valores linguísticos e culturais, orgulhando-se de fazer parte do grupo.
Bilíngue desbalanceado: Uma língua se sobressai à outra. A criança ouvinte, filha de pais surdos, fica mais tempo exposta à língua oral, a língua de sinais se resume ao ambiente familiar. Muitas compreendem os pais, mas falam com eles em português e algumas têm dificuldade de conversar com os pais. Mesmo sendo a primeira a ser adquirida, língua de sinais se torna secundária, ficando em segundo plano.
Parte inferior do formulário
3. Quadros (2017) destaca alguns fatores que podem definir o nível de proficiência de uma criança bilíngue nativa. Leia as frases e assinale V para verdadeiro e F para falso em relação às crianças ouvintes, filhas de pais surdos, (coda).
a) A criança fica mais exposta à língua oral, por isso essa língua se sobressai.
Verdadeiro
b) A criança pode interagir em qualquer ambiente social por meio da língua de sinais.
Falso
c) As políticas linguísticas do Brasil sempre valorizaram o desenvolvimento linguístico das minorias.
Falso
d) O ambiente de uso da língua de herança se restringe ao seio familiar.
Verdadeiro
e) A globalização incentiva o bilinguismo e isso favorece as minorias.
Verdadeiro
4. Complete os espaços com as palavras correspondentes.
No bilinguismo ASSIMÉTRICO, a L1 é a língua minoritária, por isso é usada apenas no ambiente FAMILIAR, e a L2, nos demais espaços.
A assimetria é provocada exatamente pelo uso desigual das línguas. O uso da L1 fica restrito à família, por isso a L2 torna-se a língua primária desses falantes bilíngues.
5. É comum haver empréstimos linguísticos entre línguas em contato. A Libras e a língua portuguesa são duas línguas que estão em convívio constante. Sobre isso, é INCORRETO afirmar que:
a) A Libras se utiliza de muitos empréstimos do português.
b) Sinais soletrados e que iniciam com a primeira letra da palavra em português são exemplos de empréstimo linguístico.
c) Os surdos aprendem o português como segunda língua e isso favorece o empréstimo do português para Libras.
d) A língua minoritária fornece mais empréstimos para a língua majoritária, por isso há muitos empréstimos da Libras para o português.
Geralmente, termos da língua majoritária ou de maior prestígio são usados como empréstimo nas demais línguas. No português, temos vários empréstimos do inglês e de outras línguas orais. Na Libras, temos empréstimos do português e de outras línguas de sinais.

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