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Guia literatura infanto juvenil

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LITERATURA INFANTO JUVENIL 
Paula Denari 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 2019 
 
 
1 Literatura Infanto Juvenil 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
LITERATURA INFANTO-JUVENIL 
 
Objetivo 
Promover o estudo histórico do surgimento da Literatura Infanto-Juvenil no Mundo e 
no Brasil. Caracterizar os estilos de literatura Infanto-juvenil, tais como: poesia, romance, 
conto, peça teatral, história em quadrinho, história em cordel. Evidenciar a importância da 
Literatura Infanto Juvenil. Definir critérios para se trabalhar a Literatura Infanto-Juvenil nas 
escolas. Refletir sobre os métodos de ensino favoráveis à formação do leitor. Analisar 
criticamente o papel da escola na formação desses neo-leitores. 
 
Introdução 
A leitura sempre se fez importante em nossas vidas, já que por meio dela podemos 
aprender, ensinar e conhecer outras culturas. A literatura infantil, um dos primeiros elos 
entre o leitor e a obra literária, permite a viagem no mundo da imaginação, tão presente na 
infância, e, por meio dela, os pequenos leitores passam a ter nova percepção do mundo 
que os cerca. É esse o objetivo da nossa disciplina: refletir sobre esses aspectos que 
envolvem a literatura infanto-juvenil e sua importância na formação da criança. Para isso, 
dividimos nossa disciplina em seis temas: 
 
1. O que caracteriza uma obra infanto-juvenil? 
2. Estudo histórico da literatura infanto-juvenil no mundo e no Brasil 
3. A literatura infantil no processo de formação do leitor 
4. A relação da literatura com as demais artes como: cinema, música, artes visuais. 
5. O texto como ferramenta de autoconhecimento 
6. Análise e escolha de livros paradidáticos e literários a serem utilizados na sala de 
aula. 
 
Desenvolvimento 
Apresentamos a seguir os textos fundamentais para a compreensão das aulas, além 
de vídeos e outros materiais de apoio. 
 
 
 
 
 
 
 
2 Literatura Infanto Juvenil 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. O QUE CARACTERIZA UMA OBRA INFANTO-JUVENIL? 
 
A Literatura infantil é, antes de tudo, literatura, ou melhor, é 
arte: fenômeno de criatividade que representa o Mundo, o 
Homem, a Vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida 
prática; o imaginário e o real; os ideais e sua possível/impossível 
realização. (Cagneti,1996 p.7) 
 
Emprega-se a expressão Literatura Infantil às publicações que tenham em seu 
conteúdo formas lúdicas ou didáticas destinadas ao público infantil. Os especialistas 
consideram esta definição um tanto limitada, já que muito antes da existência de livros e 
revistas infantis, a Literatura Infantil já possuía uma tradição oral, transmitindo a expressão 
da cultura de um povo de geração em geração. Já para alguns teóricos, entre eles Peter 
Hunt, a literatura infantil pode ser definida a partir do leitor implícito - isto é, a partir do tipo 
de leitor que o texto prevê. Os principais traços do leitor implícito do texto infantil são: um 
leitor em formação e com vivências limitadas por força da idade. 
 
Assim sendo, a literatura infantil é um gênero literário definido pelo público a que se 
destina. Por outro lado, não é o público o responsável por essa caracterização, mas os 
adultos que definem qual a leitura adequada à criança e é, a partir desse juízo, que recebem 
a definição de gênero e passam a ocupar determinado lugar entre os demais livros. 
 
Dessa forma, o que é classificado como literatura infantil relaciona-se diretamente à 
concepção que cada sociedade tem de criança e infância. Sabemos, por outro lado, que 
esses dois conceitos não são estanques, uma vez que variam em diferentes épocas e 
culturas. 
 
Por exemplo, por volta do século XVI, a criança era vista como um pequeno adulto, 
os primeiros textos infantis eram adaptações ou resumos de textos escritos para os adultos. 
A linguagem era adaptada e eliminavam-se as reflexões que estariam acima do que eles 
consideravam possível para a compreensão infantil. Além disso, retiravam-se as situações 
de conflitos e realçavam as peripécias de caráter exemplar. Com isso, as obras eram 
esvaziadas em seu valor literário, mas atraiam o pequeno leitor. 
 
 
 
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Um ponto interessante nesta primeira etapa é que se percebeu que o texto deve ser 
adequado à competência linguística da criança, assim como às suas experiências de vida. 
 
Outra competência relevante ao se considerar literatura infanto-juvenil é a 
competência textual, da qual depende a relação entre texto e leitor que efetiva a leitura. 
Exemplo: um livro com muitas páginas, letras miúdas, pouco espaçamento, ausência de 
ilustração requer do leitor maturidade (competência) que uma criança pequena não tem. 
 
Apesar das mudanças ao longo do tempo, podemos definir, então, que um livro de 
literatura infantil constitui uma forma de comunicação que respeita a faixa etária do possível 
leitor, digo possível, já que nunca devemos determinar enfaticamente a que mãos o livro 
vai chegar. Além disso, atende aos seus interesses e respeita as suas possibilidades. A 
estrutura e o estilo das linguagens verbais e visuais procuram adequar-se às experiências 
da criança. Os temas são apresentados de modo a corresponder às expectativas dos 
pequenos e, ao mesmo tempo, superá-las, mostrando algo novo. E essa é a 
responsabilidade de nós, adultos, que elaboramos estas obras e funcionamos de elo entre 
o livro e esses pequenos leitores. 
 
Se os livros dirigidos às crianças são escritos por adulto, é ele que determinada os 
ensinamentos que julga, conforme sua visão, interessantes para criança. 
 
Para que o livro literário infantil atenda as expectativas da criança, Sosa (1978) pontua 
quatro elementos que servem de base de sustentação da literatura infantil: o caráter 
imaginoso, o dramatismo, a técnica do desenvolvimento e a linguagem. 
 
O livro interessante para criança deve recorrer ao caráter imaginoso: traduzidos em 
mitos, aparições da antiguidade, monstros ou realidades dos tempos modernos; exposto 
numa forma expressiva qualquer: lenda, conto, fábula, quadrinhos, etc.; descrito com 
beleza poética e ilustrações que mais sugerem do que dizem. (Sosa, 1978, p. 37). 
 
O dramatismo é assim, o segundo traço essencial dessa literatura infantil na visão de 
Sosa, “o drama é importante para a criança como tradução de seus movimentos interiores 
e quanto o pequeno leitor, nele, se sente viver. Invenção e drama são, pois, os dois pilares 
essenciais de toda literatura que serve aos interesses da criança, não importa a idade” 
(Sosa,1978, p.39). 
 
 
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A técnica de desenvolvimento é outro elemento importante da literatura infantil. “Na 
técnica, nos é dado admirar o modo como o autor desenvolve o entrecho dos 
acontecimentos ante a avidez do leitor.” (Sosa, 1978, p. 39). Alguns livros infantis são 
desprezados pelas crianças, pois apresenta em seus textos a puerilidade que chegam a 
aparentar a banalização da inteligência infantil, não preenchem as exigências intelectuais 
e sentimentais da criança. “A criança exige do adulto uma representação clara e 
compreensível, mas não infantil. Muito menos aquilo que o adulto costuma considerar como 
tal”. (Benjamin, 2002, p.55). 
 
A linguagem é outro ponto a ser considerado de importância vital para degustação da 
obra e que resume de certo modo a habilidade do autor. O leitor infantil requer uma 
linguagem simples, bem cuidada e agradável, para que não se torne um texto medíocre. 
“Quanto mais depurada a expressão, quanto mais simples e bela a entonação da 
linguagem, mais a criança apreciará a leitura, para qual se sentirá mais atraída. ” (Sosa, 
1978, p. 39) 
 
A literatura infantil apresenta diversas modalidades verbais e visuais. As melhores 
obras são aquelas que respeitam seu público,permitindo ao leitor infantil possibilidades 
amplas de dar sentido ao que lê. 
 
A mediação do professor é decisiva na relação que a criança irá estabelecer com a 
literatura infantil, pois a ele cabe escolher o livro, promover sua leitura e conversar a respeito 
na sala de aula. Também será tarefa sua ensinar a criança a manipular o livro como objeto 
e descobrir nele o que só com a visão e a manipulação é possível descobrir. 
 
A literatura infantil leva a criança à descoberta do mundo, onde sonhos e realidade se 
incorporam, onde a realidade e a fantasia estão intimamente ligadas, fazendo a criança 
viajar, descobrir e atuar num mundo mágico; podendo modificar a realidade seja ela boa ou 
ruim. 
 
E não podemos nos esquecer de que a literatura infantil é arte. E como arte deve ser 
apreciada e corresponder plenamente à intimidade da criança. A criança tem um apetite 
voraz pelo belo e encontra na literatura infantil o alimento adequado para os anseios da 
psique infantil. Alimento, esse, que traduz os movimentos interiores e sacia os próprios 
 
 
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interesses da criança. “A literatura não é, como tantos supõem, um passatempo. É uma 
nutrição. ” (Meireles, 1984, p. 32) 
 
 
 
CAGNETI, Sueli de Souza. Livro que te quero livre. Rio de Janeiro: Nórdica, 1996 
PAIXÃO, Carmem Montes. O ENCANTO DA LITERATURA INFANTIL NO CEMEI. 
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2009 
 
 
 
 
 
 
 
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2. ESTUDO HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL NO 
MUNDO E NO BRASIL 
 
– Como eram as edições naquele tempo? 
– Havia umas tantas galinhas velhas – Alves, Garnier, Briguiet – 
que de vez em quando botavam um livro. Uma edição de mil exemplares 
durava a vida inteira. Tudo feito ao molde português, o qual português 
também copiava o francês. Nós mudamos tudo. Arranjamos desenhistas 
para substituir as monótonas “capas tipográficas” pelas capas 
desenhadas – moda que pegou e ainda perdura. Os balcões das livrarias 
encheram-se de livros com capas berrantes, vivamente coloridas, em 
contraste com a monotonia das eternas capas amarelas das brochuras 
francesas. 
Monteiro Lobato (1956, p. 255) 
 
O livro foi durante muito tempo considerado como um símbolo mágico, pois permitia 
desvendar segredos. Ao longo da Idade Média, somente membros religiosos tinham acesso 
à leitura, o que possibilitava a eles o acesso às informações de caráter sagrado e profano. 
Sendo assim, o clero gozava de grande poder e prestígio. 
 
No século XVIII, a industrialização acelerou a modernização da sociedade: houve a 
migração da população do campo para a cidade, a classe operária se fortaleceu e a vida 
urbana intensificou-se. O livro passa a ser produto de consumo da sociedade capitalista e 
atinge, também, a massa popular. 
 
O capitalismo exige uma maior especialização da mão-de-obra, além da expansão do 
mercado consumidor na sociedade. 
 
Neste período, a história da literatura infantil começa, a criança passa a ser 
considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias e, 
assim deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que 
a preparasse para a vida adulta. 
 
Antes disso, a criança acompanhava a vida social do adulto e compartilhava também 
de sua literatura. 
 
 
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As primeiras obras publicadas que tinham como alvo o público infantil apareceu no 
mercado livreiro na primeira metade de século XVIII. Antes disso, apenas durante o 
classicismo francês, no século XVII, foram escritas histórias que vieram a ser englobadas 
como literatura também apropriada à infância: as fábulas, de La Fontaine, editadas entre 
1668 e 1964, por exemplo. 
 
Mas os escritores franceses não retiveram a exclusividade do desenvolvimento da 
literatura para crianças. A expansão deu-se simultaneamente na Inglaterra, país onde foi 
mais evidente sua associação a acontecimentos de fundo econômico e social que influíam 
na determinação das características adotadas. 
 
Já no século XVIII, surgem duas realidades: a criança da nobreza, orientada por 
preceptores, que lia geralmente os grandes clássicos; e a criança das classes 
desprivilegiadas que lia ou ouvia as histórias de cavalaria, de aventuras. 
 
Devido à concepção de infância que estava se constituindo, fez-se necessário 
“preparar” a criança para enfrentar mais tarde o meio social. A escola tornou-se, então, uma 
instituição legalmente aberta, não só para a burguesia, mas para todos os segmentos da 
sociedade e a literatura infantil vem, então, validar esse processo de escolarização. 
 
Podem-se observar duas tendências próximas daquelas que já influenciavam a leitura 
das crianças: dos clássicos, fizeram-se adaptações e do folclore, nasceu os contos de fada. 
 
No Brasil – No Brasil, a história da literatura brasileira para a infância começou 
tardiamente. Com a implantação da Imprensa Régia, em 1808, começam a ser publicados 
livros para crianças. Com a ideia de que o hábito de ler era importante para a formação do 
cidadão, começam a sistematizarem-se os primeiros esforços para a consolidação dessa 
literatura indicada ao público infanto-juvenil. 
 
É impossível falar sobre literatura infanto-juvenil brasileira e não inserir, neste quadro, 
Monteiro Lobato. O autor publicou, em 1921, Narizinho Arrebitado e, embora estivesse 
estreando na literatura escolar, já trazia em sua primeira obra as características de uma 
literatura infanto-juvenil: o apelo à imaginação, os diálogos dinâmicos, o enredo, a 
linguagem visual e concreta. 
 
 
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Pode-se dizer que Monteiro Lobato foi o pioneiro a pensar na literatura infantil 
enquanto algo que deveria ser estimulado na criança, de modo que ela adquirisse o hábito 
e o prazer pela leitura, não mais se a relacionando à obrigação pedagógica dos livros 
didáticos. 
 
Em decorrência do avanço da industrialização, da modernização econômica do país 
e do crescimento da escolarização da população urbana, houve o aumento na produção de 
obras para crianças. Pode-se dizer que foi nesse período que o mercado editorial, 
sobretudo o mercado voltado para o público infanto-juvenil, começou a se concretizar. 
 
Em 1922, pedagogos, influenciados pelo pensamento norte-americano, fundaram o 
movimento da Escola Nova o qual visava à escolarização de toda a população. As reformas 
ocorreram, mas não se desenvolveu um sistema de ensino eficaz. 
 
Neste período, a literatura infantil foi preferencialmente educativa. Mesmo Monteiro 
Lobato buscou inserir em suas obras tais elementos. O sítio do Pica-pau amarelo, por 
exemplo, representa a sociedade, ou ainda, o sistema educacional. 
 
Neste período, como se tornou obrigatória a frequência à escola, surgiram vários 
trabalhos traduzidos de qualidade, entre eles, As viagens de Gulliver. 
 
O cenário tecnológico atual mostra que o livro passou por transformações, mas 
ganhou concorrentes que têm atraído à atenção dos jovens, principalmente o videogame. 
Jogos desenvolvidos com cenário gráfico de cinema instigam crianças e adolescentes a 
partir de narrativas bem construídas e muito desafiadoras. Dessa forma, esses meninos e 
meninas participam, virtualmente, controlando as aventuras propostas. 
 
O livro é um produto intelectual de suporte menos moderno que os virtuais, porém é 
a forma mais completa de transmissão cultural. Por outro lado, como essa difusão é 
possível se os diversos veículos de comunicação dão pouca ou quase nenhuma atenção à 
literatura infanto-juvenil? Ou seja, fica evidente que o livro não está ligado à diversão das 
crianças e dos jovens. 
 
É preciso mudar esse quadrode desapego à leitura, pois estimular o leitor infanto-
juvenil é o primeiro passo para que ele seja um leitor ativo quando adulto. Com tantas 
 
 
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facilidades de acesso ao livro, bem como a diversidade de obras infanto-juvenis como 
temos hoje, chega a ser um desperdício a não-adesão das crianças e dos jovens ao mundo 
das letras. 
 
 
 
 
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3. A LITERATURA INFANTIL NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO 
LEITOR 
“O ato físico de ler pode até ser solitário, mas nunca deixa de ser 
solidário.” (Cosson, 2007, p.27) 
 
A partir da nossa epígrafe, podemos compreender que o ato de leitura sempre se 
estabelece entre pares, normalmente, entre o leitor e o autor. Esse diálogo, por outro lado, 
pode ser múltiplo e quebrar a lógica do tempo e espaço. Tanto que o bom leitor é aquele 
que, envolvido numa relação de interação com a obra literária, encontra significado quando 
lê, procura compreender o texto e relaciona com o mundo à sua volta, construindo e 
elaborando novos significados do que foi lido. Por essa razão, a leitura é um ato complexo. 
 
A leitura tem o poder de despertar em nós regiões que estavam 
até então adormecidas. Tal como o belo príncipe do conto de fadas, o 
autor inclina-se sobre nós, toca-nos de leve com suas palavras e, de 
quando em quando, uma lembrança escondida se manifesta, uma 
sensação ou um sentimento que não saberíamos expressar revela-se 
com uma nitidez surpreendente. (PETIT, p. 07, 2009) 
 
Na vida cotidiana, deparamo-nos com circunstâncias leitoras motivadas por situações 
de necessidade, prazer, obrigação, divertimento ou para passar o tempo. Assim, podemos 
afirmar que a leitura é fundamental para construção de conhecimentos e para o 
desenvolvimento intelectual, ético e estético do ser humano. É um ato, portanto, social. 
Tanto que para Freire (1998) a leitura não tem fronteiras, compreendendo todo processo 
de aprendizagem, e que o princípio se inicia no instante do nosso nascimento. O que ocorre, 
porém é que “o bloqueio dos rapazes em relação à leitura é uma questão fundamental que 
condiciona seu acesso aos estudos, mas também sua relação com a política” (Beaud, s. 
d.). Entenda-se política não como um ato partidário, mas um posicionamento cidadão. 
 
O acesso ao ensino da língua materna nas escolas, no entanto, não tem garantido a 
competência leitora e muitos não conseguem compreender/interpretar o que leem. 
Decodificar os signos não é o suficiente para ter-se familiaridade ou convívio permanente 
com a leitura. 
 
Também é preciso romper com o pré-conceito de que o hábito de ler está ligado ao 
poder aquisitivo do cidadão. Relaciona-se ao modo como as pessoas tratam a leitura, 
 
 
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individualmente, ou nas famílias, e também como ela é oferecida nas escolas. Muitas vezes, 
as famílias são rodeadas de livros, mas não veem necessidade, não possuem curiosidade 
e não têm iniciativa e estímulo para conhecê-los. 
 
A infância é o período mais adequado para o desenvolvimento da leitura, é necessário 
que se mostre à criança o que precisa ser construído por ela no âmbito da leitura. O adulto 
leitor tem a função de tornar possível a aprendizagem desta atividade. Para facilitar a 
entrada da criança no mundo da leitura e da escrita, o adulto deve ler para ela. 
 
Ouvir muitas e muitas histórias é importante para se tornar leitor e integrar-se num 
mundo de descobertas. Ouvindo histórias pode-se também sentir emoções importantes, 
como a raiva, a tristeza, o medo, a alegria, a insegurança. Enfim, ouvir narrativas é 
mergulhar em sentimentos e imaginações. “As histórias podem fazer a criança ver o que 
antes não via, sentir o que não sentia e criar o que antes não criava. O mundo pode se 
tornar outro, como mais significados e mais compreensões. ” (Peruzzo, p. 97, 2011) 
 
É preciso que o livro infantil seja agradável aos olhos e possua um texto encantador, 
estimulando o imaginário infantil. É preciso que, além da atração pelo objeto físico livro, a 
criança se apaixone pela história a qual ela vai atribuir sentido. 
 
Esses livros (feitos para crianças pequenas, mas que podem 
encantar aos de qualquer idade) são sobretudo experiências de olhar... 
(...) E é tão bom saborear e detectar tanta coisa que nos cerca usando 
este instrumento nosso tão primeiro, tão denotador de tudo: a visão. 
Talvez seja um jeito de não formar míopes mentais. (ABRAMOVIC, 
1995, p. 10) 
 
Se considerarmos que a escola tem como uma de suas funções primordiais a 
formação do indivíduo leitor é imprescindível que crie possibilidades que oportunizem o 
desenvolvimento do gosto pela leitura por intermédio de textos significativos para os alunos. 
 
Os livros infantis encontram na escola o espaço ideal para garantir atenção de seus 
leitores, mesmo que estes sejam utilizados como leitura obrigatória e usados como 
pretextos utilitários, informativos e pedagógicos. 
 
 
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Cabe à literatura infantil despertar o imaginário e a criticidade. Por isso, é tão 
importante no currículo escolar, já que o cidadão precisa apossar-se da linguagem literária, 
tornar-se seu usuário competente, mesmo que nunca vá escrever um livro. 
 
Nessa perspectiva, os contos infantis possibilitam o despertar de diferentes emoções 
e a ampliação de visões de mundo do leitor infantil. E nesse encontro com a fantasia, a 
criança entra em contato com seu mundo interior, dialoga com seus sentimentos mais 
secretos, confronta seus medos e desejos escondidos para seu crescimento. 
 
Por meio da projeção da criança nos contos infantis, ela vive intensamente seus 
conflitos, medos e dúvidas. A criança penetra nas narrativas durante a leitura e, por meio 
do imaginário, reconhece suas próprias dificuldades e aprende a lidar com elas, podendo 
assim, se reconhecer melhor e se conhecer como parte integrante do mundo que a cerca. 
Essas emoções podem repercutir na vida do leitor em vocações, rumos de vida, 
determinações futuras. 
 
Afinal, o que avaliza uma obra como livro infantil? Para muitos teóricos, é preciso 
exclusivamente da aprovação natural da criança. Para outros, ela também precisa 
preencher alguns requisitos, tais como: povoar a imaginação, estimular a curiosidade, 
divertir e, quem sabe, educar. 
 
O encantamento que a Literatura Infantil proporciona ao leitor permanecerá sempre e 
em todos os lugares. No entanto, problemas ainda não superados na apresentação dessas 
obras encontram-se nas práticas pedagógicas que ainda insistem em relacionar a Literatura 
Infantil a exercícios interpretativos ou pedagógicos. Sem ressaltar um dos aspectos mais 
importantes: o poder de imaginação que a Literatura Infantil proporciona e que seria o ideal 
na formação do leitor. 
 
Para que haja êxito no processo de formação de leitor, o educador deve ter clareza 
de sua metodologia com a literatura infantil em sala de aula, despertar questionamentos e 
promover a construção de novos significados. 
 
 
 
 
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4. A RELAÇÃO DA LITERATURA COM AS DEMAIS ARTES COMO: 
CINEMA, MÚSICA, ARTES VISUAIS. 
 
“A literatura existe através da linguagem, ou melhor, apesar da linguagem”. 
(Jorge Luis Borges) 
 
 A literatura, como toda arte, prescinde de significação, não pode ser contida porque 
alcança o inatingível, o imensurável. A literatura é a arte da palavra e faz da palavra o seu 
principal objeto, mesmo quando falamos das obras dirigidas às crianças. Elas nos retiram 
do lugar comum e nos transpõe para um universo onde apenas homens e mulheres dotados 
de subjetividade podem percebê-la. 
 
Gostar deliteratura exige desapego, afinal de contas, a literatura não serve para nada. 
Em um mundo utilitarista como o nosso temos a triste dimensão de imaginar que tudo 
precisa ser útil. Ao contrário, há coisas que dispensam funcionalidade, que existem apenas 
para embelezar a vida, para aguçar a sensibilidade de quem não se contenta somente com 
aquilo que é real. A literatura é fruição, é mergulhar no prazer que a leitura pode oferecer. 
O prazer estético que a literatura proporciona torna-nos mais atentos àquilo que é 
impalpável, torna-nos sensíveis às dores do mundo. E esse olhar sensível deve começar 
logo nos primeiros anos de vida, por meio da literatura infantil. 
 
Se, durante um período, o objeto livro passa a não ser atraente, as releituras para 
outras formas de arte pode ser um caminho para que esses meninos não se percam. 
 
Hoje, mais do que em qualquer outra época, observamos inúmeras adaptações de 
obras juvenis para o cinema. Esta relação que suscita discussões vazias como “o livro é 
melhor que o filme? ”, não focam no que é realmente fundamental: a convergência das 
artes. Com o avanço da tecnologia, é fundamental atrair os jovens para as páginas dos 
livros, e as adaptações para outros meios, pode ser um caminho. 
 
Harry Potter, John Green, muitos são os autores capazes de levar multidões para as 
salas de cinema e, mais importante do que questionar sua competência literária, é pensar 
em meios de vincular cada vez mais livros com outros meios. 
 
 
 
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Vários clássicos da grandiosa literatura brasileira ganharam versões 
cinematográficas. O filme pode não substituir a leitura do livro ou mesmo de um bom resumo 
para fazer a prova, mas ajuda a compreender e penetrar no universo da narrativa e ter um 
primeiro contato com a obra. Muitas obras literárias foram transformadas em filme, algumas 
até mais de uma vez. A maioria, de autores consagrados adaptadas para o cinema, podem 
servir de excelente recurso didático para desenvolver uma forma diferente de estudar. 
 
As relações entre a literatura – em especial a poesia – com as artes plásticas e a 
música são frequentes, mas difusas. Praticamente toda a obra poética infantil de Vinícius 
de Moraes foi musicada com grande sucesso. A literatura infantil melhor e mais 
adequadamente se expressa na poesia infantil. No poema infantil a musicalidade já se 
encontra nas próprias palavras e no modo de articulá-las nas frases, ou melhor, nos versos. 
 
Isso sem contar que há autores que tramitam por diferentes artes, além da literatura. 
Não somente pintores ou músicos que escreveram livros, mas de escritores de fato. 
 
Também podemos ressaltar o diálogo entre a literatura e os quadrinhos. Há, pelo 
menos dois elementos marcantes da natureza da literatura infanto-juvenil também 
caracterizadores da história em quadrinhos: o lúdico e o narrativo. Ambas se organizam a 
partir de dois aspectos: ludismo (jogo entre fantasia e realidade) e narrativa (uma estrutura 
composta de narrador, história narrada, personagens, ações, espaço, tempo, ambiente e 
foco narrativo, ou ponto de vista do narrador). Mas têm origem em épocas diferentes, e 
interesses estéticos diferenciados. 
 
Essa “literatura” tem a sua marca específica, a imagem, e nesse aspecto também se 
encontra com a literatura infantil que precisa privilegiar a imagem, a ilustração para chegar 
mais próximo do seu leitor mirim, que inicia seus primeiros contatos com o livro antes 
mesmo de atingir a fase de aquisição de leitura, isto é, antes dos cinco ou seis anos. E 
nessa fase desenvolve-se o domínio do concreto; interessa à criança a realidade concreta, 
palpável e pictórica. 
 
Os quadrinhos são uma manifestação característica da cultura de massas, e foram 
utilizados pelo jornal para conquistar leitores. Obviamente, grande parte dos teóricos rejeita 
pensar nos quadrinhos como uma forma de literatura. No entanto, as belas narrativas e a 
capacidade de envolvimento de diferente público leitor, não podem ser questionados. 
 
 
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A literatura é uma expressão artística, com a qual é possível associar outras formas 
artísticas, tais como, a música, o cinema, o teatro, as artes plásticas etc. Ao fazer esta 
relação entre a Literatura e as demais artes, ambas adquirem novo significado e dimensão. 
Quando o estudante experimenta essa miscelânea, amplia-se a sua formação holística, 
pois o torna capaz de compreender os vários níveis de uma leitura do fenômeno artístico. 
Essa prática de buscar harmonização dos vários códigos de arte pode funcionar também 
para ajudar a minar os artifícios que fazem da literatura uma matéria “tediosa” para os 
estudantes e desestimulante para os professores. 
 
A decisão de construir um diálogo entre várias expressões culturais, confere a 
qualquer dessas expressões uma abertura criativa que lhe favorece na sua dimensão 
artística e humana. A Literatura quando se permite dialogar com a fotografia, a pintura, o 
desenho, os quadrinhos, o teatro, o cinema ou a televisão transforma-se, revive. Do mesmo 
modo sai beneficiada dessa relação qualquer outra forma expressiva da cultura ou da arte. 
 
É fundamental, portanto, promover espaços em que os estudantes possam ter contato 
não-tradicional com a Literatura e, a partir daí, reconstruírem suas experiências com a 
leitura e a escrita. Isso também é tarefa da escola. Praticar a leitura e a escrita literária é 
colocar em exercício o máximo potencial de uso da linguagem, o que faz com que seja 
ampliado não só o universo linguístico daquele que o faz, mas todos os outros que vierem. 
 
 
 
 
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5. O TEXTO COMO FERRAMENTA DE AUTOCONHECIMENTO 
 
Depois de tanto estudarmos, fica clara a importância da Literatura Infantil na formação 
do indivíduo e no desenvolvimento da aprendizagem durante a infância. Ela tanto pode ser 
utilizada como instrumento de desenvolvimento da aprendizagem ou como aparato para 
alfabetização. No entanto, sabemos que este último é o modo mais habitual trabalhado na 
escola. 
 
É evidente que a literatura infantil é uma ferramenta fundamental na constituição do 
leitor. No entanto, ao ser utilizada de forma mecânica e com um único intuito de alfabetizar, 
pode provocar sérios danos à formação do indivíduo e a sua capacidade de interpretação 
seja literária ou da leitura de mundo. 
 
Se pensamos em literatura como uma necessidade universal, que precisa ser 
satisfeita, ela se torna um direito e fator indispensável da humanização. Logo não é possível 
haver equilibro psíquico sem o sonho. Como também não pode haver equilíbrio social, sem 
a literatura. 
 
O conhecimento das diversidades sociais e culturais; são de suma importância na 
modelagem do indivíduo, as quais ele pode adquirir em contato com a literatura Infantil. 
 
A literatura tem um papel formador de personalidade, de forma negativa ou positiva, 
no indivíduo; dependendo do retrato da sociedade. Além disso, pode servir de modelo para 
a construção da mentalidade de uma nova sociedade. 
 
A infância se caracteriza por ser o momento fundamental e primordial da aquisição da 
formação de conceitos e a literatura infantil torna-se um instrumento importante, sendo um 
meio de emancipação da manipulação da sociedade. À medida que são oferecidos padrões 
de interpretação, ele constrói seu meio e também sua formação. 
 
 A obra literária recorta o real, sintetiza-o e interpreta-o através do ponto de vista do 
narrador ou do poeta. Assim como leitor também pode dar outro sentido a partir do 
conhecimento já adquirido e das diferentes visões de mundo. 
 
 
 
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O aprendizado da leiturase dá a partir das experiências únicas, entretanto é preciso 
ir além deste contexto particular. A curiosidade é impulsionada no processo de aprendizado, 
vindo a se transformar em necessidade para “alimentar” o imaginário e permitir ao leitor 
desenvolver um autoconhecimento através de como e o que lê. “A leitura do mundo 
precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura 
daquela. ” (FREIRE, 1982). 
 
Desta forma, quanto mais o indivíduo lê sua própria realidade, melhor sua capacidade 
de interpretar e aprimorar o processo da leitura escrita. É através da leitura que ele irá 
conhecer novas realidade e culturas, juntamente sua leitura de mundo, ele será capaz de 
libertar-se das dos aparelhos ideológicos, e que muitas vezes levam a crer na sua 
incapacidade de pensar. 
 
Portanto, é necessário que o processo de leitura ocorra desde a infância e se torne 
contínuo pela vida de cada indivíduo. Que este se desenvolva em todos os sentidos, seja 
ele social, político, intelectual; através da palavra escrita e da leitura da realidade de mundo. 
 
A respeito da função do professor das séries iniciais, destaca-se que deve este formar 
leitores, leitores de obras, de mundo e de si mesmos. E em todos esses aspectos, o 
ambiente acadêmico tem falhado, mas precisa retomar tais objetivos como meta. 
 
Para Antônio Cândido, a literatura é manifestação universal de todos os homens em 
todos os tempos. Desde os mais remotos tempos que o homem tem necessidade de contar 
e ouvir histórias. A narrativa é tão fundamental na nossa vida que as novelas de televisão 
detêm os maiores índices de audiência. 
 
Mesmo dormindo, vivemos em uma grande narrativa, afinal, ninguém passa a noite 
sem sonhar, entregamo-nos facilmente ao universo fabulado. O sonho assegura durante o 
sono a presença deste universo independente de nossa vontade. 
 
A literatura confirma, nega, propõe, denuncia, apoia e combate. Age de forma 
dialética. Depende da realidade do indivíduo, ela pode ser fator de perturbação e risco, 
como pode o humanizar, mas essa entra em conflito com a de; “que a literatura possui uma 
força indiscriminada, e que nem sempre é desejada por alguns educadores” (CANDIDO, 
1989:113), por que foge ao controle. 
 
 
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A literatura infantil quando desenvolvida com a função do lúdico; interage na formação 
do indivíduo por si, pois a literatura traz o recorte do real, explicitado segundo o olhar do 
autor e composta dos significados da cultura que a compõem. Realizando o processo de 
transformação no interior do indivíduo, assim como age na função de equilibrar os conceitos 
que aleatoriamente ele vai adquirindo pela sua leitura do ambiente em que vive. 
 
Depois de expor a importância da literatura e mais propriamente a infantil, vemos a 
responsabilidade dos educadores de apresentarem, aos seus educados um vasto 
repertório literário. Estando alerta as ideologias e doutrinações, analisando primeiramente 
o material a ser trabalhado com criticidade e ao mesmo tempo com o olhar de um apreciador 
da pura arte. 
 
Saber identificar textos cativantes a universo infantil, também é uma arte, a qual só se 
alcança penetrando nesse mesmo universo, se o educador não lê, não busca descobrir a 
imensidão de literaturas que existe, não terá instrumentos e nem argumentos para trabalhar 
com seus alunos. 
 
 
 
 
 
19 Literatura Infanto Juvenil 
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6. ANÁLISE E ESCOLHA DE LIVROS PARADIDÁTICOS E 
LITERÁRIOS A SEREM UTILIZADOS NA SALA DE AULA. 
 
A literatura infanto-juvenil costuma ser questionada por alguns especialistas da área 
de literatura por ser colocada no limiar entre mercadoria e recurso pedagógico, estar numa 
zona de fronteira entre as várias disciplinas, chegando a ser considerada interdisciplinar, 
provocando disputas entre as áreas que pretendem tê-la como objeto de estudo. 
 
A literatura é entendida, nas escolas, como sinônimo de todo e qualquer tipo de leitura 
praticada no Ensino Fundamental. Na maioria das vezes, ela apresentada seguida de 
exercícios voltados à análise linguística ou, no caso do Ensino Médio, estudo dos estilos 
de época, feitos de maneira cronológica e segmentada. As aulas acontecem, geralmente, 
de uma a três vezes por semana, dentro da disciplina Língua Portuguesa ou Literatura, e 
são consideradas fontes de aprimoramento das habilidades de leitura e escrita. 
 
Dentro desse cenário, o papel do professor passa a ser questionado devido à falta de 
objetivos claros da leitura literária na escola. A instituição dificulta esse trabalho de 
mediador, pois é necessário usar totalmente o livro didático, que, como dito, contém 
fragmentos que descontextualizam os textos literários, desvirtuando, assim, a leitura dos 
jovens. 
 
Muitos são os livros infantis que possuem caráter meramente pedagógico, ou seja, 
buscam transmitir algum conhecimento escolar, afinal são produzidos especialmente para 
o ambiente escolar. É nesse segmento que garantem maior sucesso de venda e suprem 
uma demanda das instituições, que pretendem fazer da leitura literária uma forma de 
transmitir valores. Também se observa o uso de muitos livros paradidáticos considerados, 
pela escola, como literatura. 
 
O assunto torna-se mais complexo quando há necessidade de escolher “livros para 
jovens”, uma categoria de difícil definição. Os professores se veem ainda mais perdidos por 
terem que optar, algumas vezes, por livros sem ilustrações e com temáticas atuais, como 
sugerem algumas escolas. Mas por que os professores devem optar por livros sem 
ilustrações? E para que um tema moderno, se a literatura existe para mostrar diferentes 
realidades e ampliar a visão de seu leitor (ZILBERMAN, 1993)? Outro questionamento 
 
 
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bastante comum é se a escola deve usar as adaptações, que trazem implicitamente 
interpretações do texto original. 
 
Diante desses questionamentos na escolha das obras literárias na escola, é 
importante rever os critérios utilizados por professores de Português do Ensino 
Fundamental, ao indicar livros literários aos seus alunos. 
 
Nas séries finais dessa etapa, não são mais usados os “livros infantis” com ilustrações 
e textos curtos. As escolhas exigem outros critérios e ela cabe ao professor de Língua 
Portuguesa. Mesmo porque, nessa etapa, os alunos já têm professores diferentes para 
cada matéria e a visão que se tem desses indivíduos já não é mais tão global como nas 
séries iniciais. 
 
Como professores com formação em Letras, espera-se uma escolha não pedagógica 
por parte desses especialistas, e sim a opção por livros literários. Essa não é a realidade, 
muitas vezes, já que muitos professores não possuem o hábito de ler por prazer ou pelo 
estudo. Reflexo de um ciclo fracassado que se inicia na formação das crianças e chega ao 
Ensino Superior. 
 
O professor reconhece que a leitura deve ser valorizada socialmente, mas possui 
dificuldades ao ler conteúdos mais complexos o que não lhe permite desempenhar seu 
papel de mediador. Sem conseguir desempenhar esse papel é muito difícil atingir em sala 
de aula textos literários e mostrar as inúmeras possibilidades de leituras. 
 
A construção dos sentidos depende da ação do leitor, e, por isso, é muito interessante 
pensar no modo como ocorrem as escolhas e quais são os objetivos do ensino de literatura 
nas escolas. A meta seria formar leitores aptos à leitura literária, que exige uma 
reinterpretação, com a qual o leitor instaura um diálogo nessa obra sempre aberta, por meio 
de suas experiências e emoções vividas. 
 
Leitura e Literatura são formas de conhecimento e o gosto se forma na aprendizagem 
escolar. Por esta razão, é fundamental o papel do professor na interaçãoentre o texto e o 
leitor. Deve-se planejar estratégias de como trabalhar o texto literário de forma que o aluno 
seja envolvido em um processo que o levará a perceber que a literatura não se esgota no 
texto e sim, completa-se no ato de leitura. 
 
 
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Quando se trata do uso do livro para crianças em sala de aula, o professor deve estar 
apto: a escolha de obras apropriadas ao leitor infantil e ao emprego de recursos 
metodológicos eficazes, que estimulem à leitura, suscitando a compreensão das obras e a 
verbalização, pelos alunos, do sentido apreendido. 
 
A afirmação com a literatura infantil e por extensão, com todo o 
tipo de obra de arte ficcional desemboca, num exercício de hermética, 
uma vez que é mister dar relevância ao processo de compreensão, 
pois é esta que completa a recepção, na medida em que não apenas 
evidencia a captação de um sentido, mas as relações que existem 
entre a significação e a situação atual e histórica de leitor. (Mikaele 
Correia da Silva) 
 
Portanto, não é atribuição do professor apenas ensinar a criança a ler corretamente; 
se está a seu alcance a concretização e expansão da alfabetização, isto é, o domínio dos 
códigos que permitem a mecânica da leitura, é ainda tarefa sua o emergir do deciframento 
e compreensão do texto, através do estímulo à verbalização da leitura procedida, auxiliando 
o aluno na percepção dos temas e reses humanos que alteram em meio à trama ficcional. 
 
Assim, mesmo nas séries iniciais, podemos formar leitores críticos, pois o livro fornece 
condições para a compreensão de seu mundo interior e uma concepção crítica da vida 
exterior. Nesse sentido, a literatura infantil realiza sua função formadora; dar, propor ao 
leitor o “conhecimento do mundo e do ser”. 
 
Como professor, antes de pensar nas facilidades de trabalhos pedagógicos deste ou 
daquele livro, é preciso pensar no seu aluno como um cidadão e fazer escolhas que 
contribuam para suas descobertas de mundo e, acima disso, permitam diálogos autônomos 
com a obra literária. É preciso, antes de tudo, que o aluno se sinta parte não pacífica nesse 
diálogo com a obra. 
 
 
	LITERATURA INFANTO-JUVENIL
	1. O QUE CARACTERIZA UMA OBRA INFANTO-JUVENIL?
	2. ESTUDO HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL NO MUNDO E NO BRASIL
	3. A LITERATURA INFANTIL NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO LEITOR
	4. A RELAÇÃO DA LITERATURA COM AS DEMAIS ARTES COMO: CINEMA, MÚSICA, ARTES VISUAIS.
	5. O TEXTO COMO FERRAMENTA DE AUTOCONHECIMENTO
	6. ANÁLISE E ESCOLHA DE LIVROS PARADIDÁTICOS E LITERÁRIOS A SEREM UTILIZADOS NA SALA DE AULA.

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