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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Universidade Federal Fluminense
Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ
Disciplina: Literatura Brasileira III 
Coordenadora: Profª Flávia Amparo
AP1 – 2014.2
Aluno(a): _______________________________________________________
Polo: _______________________________ Matrícula: ___________________
Nota: _______________
Leia com atenção os textos e as questões da prova. Lembre-se do que estudou nas Unidades 1, 2, 3 e 4. Escreva as respostas de maneira dissertativa e fique atento à coerência, à coesão e à correção gramatical da sua escrita.
Texto 1 – O cortiço – Cap. III (Aluísio Azevedo)
III
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.
A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.
Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam -se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas. 
1- Seguidor da escola de Émile Zola, o romancista Aluísio Azevedo compôs romances em que o ambiente proletário da cidade do Rio de Janeiro torna-se o principal assunto das suas narrativas. 
Destaque no fragmento acima, retirado do romance “O cortiço”, traços do Naturalismo na prosa do autor, em especial os que intensificam as determinações biológicas das personagens. Justifique sua resposta a partir dos elementos utilizados no texto para enfatizar o homem como “produto do meio, da raça e do momento”.
O Naturalismo buscou trazer a ciência para o campo da ficção escolhendo um dado ambiente para efetuar a análise dos caracteres biológicos do homem. No caso de Azevedo, o cortiço é esse ambiente, onde se pode observar os comportamentos dos indivíduos, sob a influência do meio, da raça e do momento. No fragmento acima, verificamos que a aglomeração de pessoas nesse lugar insalubre e desfavorecido contribui para a adoção de certos comportamentos instintivos, muito semelhantes aos dos animais, o que se evidencia no próprio vocabulário usado para nomear partes do corpo das pessoas (casco, ventas e pelos), além de verificarmos o emprego de palavras como “machos” e “fêmeas”, para distinguir homens e mulheres. Além disso, as vozes das pessoas se confundem com as dos animais que habitam naquele ambiente, quase se tornando indistintas. Verbos como “fungando” e “fossando”, além de termos onomatopaicos como “zunzum”, passam a designar ações humanas, praticamente instintivas, e sons semelhantes aos dos animais. Também as atividades descritas no trecho estão mais ligadas às necessidades biológicas e fisiológicas (“As portas das latrinas não descansavam” e “despachavam-se ali mesmo, no capinzal”) do que às ações no campo racional ou atividades especificamente do universo humano.
Se por um lado o autor “animaliza” os indivíduos, por outro, personifica o ambiente, como se o cortiço fosse um ente vivo, como podemos notar em: “o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas”. De tal modo o ambiente assume o papel principal, que passa a nomear o próprio romance.
2- O indianismo no Brasil é uma manifestação singular de valorização da nacionalidade. De que maneira podemos dizer que os românticos brasileiros reinventaram a figura do índio para criar uma literatura legitimamente brasileira? Que autores românticos contribuíram com a legitimação do índio como herói nacional? Fale da importância desses autores para a nossa literatura. 
O índio, elemento nativo das Américas, torna-se, no Romantismo, o símbolo de um passado paradisíaco, anterior à chegada dos colonizadores, recuperando uma visão edênica da natureza americana e do homem puro, em pleno equilíbrio com a natureza. Essa visão idealizada do índio, baseada nos ideais de Rousseau (“O homem nasce puro, a sociedade é que o corrompe”), produz na literatura brasileira uma vertente denominada indianista, que concebe o indígena como herói nacional, símbolo e exemplo de força, caráter e virtude, o que, de certo modo, materializa o projeto de nacionalização da literatura brasileira, acrescentando traços autóctones para legitimar nossas origens e para recuperar nosso passado histórico, buscando reafirmar a nossa independência cultural. 
Os principais autores são Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e José de Alencar. Os três autores consolidaram o indianismo na poesia e na prosa ao inseri-lo como tema de suas obras, ao legitimar a visão idealizada e idealizante do índio e ao concebê-lo como herói nacional, criando um público que passava a apreciar essa retomada de um passado histórico e mítico. Podemos destacar as obras “O guarani” e “Iracema”, romances indianistas de José de Alencar, e “Os Timbiras” e “A confederação dos tamoios”, obras poéticas indianistas de, respectivamente, Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães.
Texto 2: A Moreninha – (Joaquim Manuel de Macedo) 
“Tu sabes, Augusto, que, concordando com algumas de tuas opiniões a respeito de amor, sempre entendi que uma namorada é traste tão essencial ao estudante como o chapéu com que se cobre ou o livro em que estuda. Concordei mesmo algumas vezes em dar batalha a dois e três castelos a um tempo; porém tu não ignoras que a semelhante respeito estamos discordes no mais: tu és ultrarromântico e eu ultraclássico. O meu sistema era este:
“1º. Não namorar moça de sobrado. Daqui tirava eu dois proveitos, a saber: não pagava o moleque para me levar recados e dava sossegadamente, e à mercê das trevas, meus beijos por entre os postigos das janelas.
“2º. Não requestar moça endinheirada. Assim eu não ia ao teatro para vê-la, nem aos bailes para com ela dançar, e poupava os meu cobres.
“3º. Fingir ciúmes e ficar mal com a namorada em tempo de festas e barracas no Campo.E por tal modo livrava-me de pagar doces, festas e outras impertinências.
“Estas eram as bases fundamentais do meu sistema.
“Ora, tu te lembrarás que bradavas contra o meu proceder, como indigno da minha categoria de estudante; e, apesar de me ajudares a comer saborosas empadas, quitutes apimentados e finos doces, com que as belas pagavam por vezes minha assiduidade amantética, tu exclamavas:
- Fabrício! não convém tais amores ao jovem de letras e de espírito. O estudante deve considerar o amor como um excitante que desperte e ateie as faculdades de sua alma: pode mesmo amar uma moça feia e estúpida, contanto que sua imaginação lha represente bela e espirituosa. Em amor a imaginação é tudo: é ardendo em chamas, é elevado nas asas de seus delírios que o mancebo se faz poeta por amor.
3- A partir da leitura do trecho do romance de Joaquim Manuel de Macedo, fale sobre a prática social registrada na narrativa e sobre as mudanças de mentalidade que o Romantismo impôs à sociedade brasileira, em especial pela mudança de ênfase nas relações amorosas e na imagem feminina.
O autor marca a diferença entre os modelos clássicos, cultivados pelos árcades, e os modelos românticos, que tendem à idealização da realidade. O culto à mulher e a ênfase sentimentalista produzem uma prática social baseada nos excessos de imaginação, no exagero amoroso e na deturpação da realidade. No trecho, verificamos os costumes do tempo relacionados ao namoro e à forma de lidar com as damas da sociedade, assim como as divergências de opinião entre dois jovens, no que concerne à maneira de tratar uma dama. Há uma crítica exposta no trecho aos excessos amorosos quando o narrador declara que os românticos tornam uma moça feia em bonita pela sua forma de representação da realidade, filtrada pela imaginação.
A oposição entre os dois personagens, Fabrício e Augusto, são evidenciadas na medida em que o primeiro se ergue contra os exageros românticos, em especial pela forma de tratar as damas da sociedade, tornando-as o centro das atenções dos rapazes, submetendo-os aos seus caprichos e vaidades. Fabrício, portanto, se lamenta por ter que seguir o novo sistema (ultrarromântico), uma vez que este se torna, além de dispendioso, extremamente desequilibrado e fantasioso, ferindo os padrões clássicos de beleza, de verdade, de racionalismo e de serenidade.
4- Leia atentamente o poema de Álvares de Azevedo, da Lira dos vinte anos:
Texto 3: É ela! É ela! É ela! É ela – Álvares de Azevedo
É ela! é ela! — murmurei tremendo,
e o eco ao longe murmurou — é ela!
Eu a vi... minha fada aérea e pura —
a minha lavadeira na janela.
Dessas águas furtadas onde eu moro
eu a vejo estendendo no telhado
os vestidos de chita, as saias brancas;
eu a vejo e suspiro enamorado!
Esta noite eu ousei mais atrevido,
nas telhas que estalavam nos meus passos,
ir espiar seu venturoso sono,
vê-la mais bela de Morfeu nos braços!
Como dormia! que profundo sono!...
Tinha na mão o ferro do engomado...
Como roncava maviosa e pura!...
Quase caí na rua desmaiado!
Afastei a janela, entrei medroso...
Palpitava-lhe o seio adormecido...
Fui beijá-la... roubei do seio dela
um bilhete que estava ali metido...
Oh! decerto... (pensei) é doce página
onde a alma derramou gentis amores;
são versos dela... que amanhã decerto
ela me enviará cheios de flores...
Tremi de febre! Venturosa folha!
Quem pousasse contigo neste seio!
Como Otelo beijando a sua esposa,
eu beijei-a a tremer de devaneio...
É ela! é ela! — repeti tremendo;
mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri cioso a página secreta...
Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!
Mas se Werther morreu por ver Carlota
Dando pão com manteiga às criancinhas,
Se achou-a assim tão bela... eu mais te adoro
Sonhando-te a lavar as camisinhas!
É ela! é ela, meu amor, minh'alma, 
A Laura, a Beatriz que o céu revela...
É ela! é ela! — murmurei tremendo,
E o eco ao longe suspirou — é ela!
Compare as concepções românticas presentes no trecho destacado do romance de Joaquim Manuel de Macedo (texto 2) e no poema de Álvares de Azevedo (texto 3). Em ambos podemos perceber que há uma temática em comum, que pode ser identificada a partir do conflito entre a realidade e a imaginação. Em que medida essa tensão traduz certo perfil romântico e se torna a principal característica do estilo em questão? Aponte nos dois textos os elementos que definem a mentalidade romântica da época.
Em ambos o textos verificamos que a mentalidade romântica passa a idealizar os elementos da realidade, em especial pelo subjetivismo, em que tanto o eu lírico quanto o personagem atribuem à dama traços idealizados, quando a realidade mostra o oposto. No poema, a fada aérea e pura descrita pelo poeta é uma simples lavadeira, embora ele admire até o ronco que ela produz como se fosse um som “mavioso e puro”. Há também uma projeção imaginosa a respeito da página secreta que a moça guarda no seio, que ele projeta como um poema que ela escreveu para ele, quando nada mais é do que um rol de roupa suja, condizente com o trabalho executado pela dama. 
A projeção dos desejos do “eu” no outro, revela uma distorção dos aspectos reais e a adoção do sonho, do excesso imaginativo. Também no romance o personagem critica a disposição imaginosa do amigo, revelando que ele é capaz de se deixar levar pelo delírio e pelas chamas de uma paixão, elementos nada práticos na vida material e cotidiana descrita pelo narrador, cujo principal objetivo é preservar os benefícios materiais. Tanto no poema quanto no romance, há a disposição de visões dicotômicas, que opõem a realidade e o sonho, o materialismo e o sentimentalismo, a aparência e a essência.
Boa Prova!

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