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ECONOMIA Vanessa Foletto da Silva Lei da demanda e variáveis Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir o que são mercados competitivos. � Reconhecer a lei da demanda. � Identificar as variáveis que afetam a demanda por um produto (bem ou serviço). Introdução Neste texto, você irá estudar o campo da microeconomia conhecido como lei da demanda. Portanto, verá os principais determinantes da demanda por um bem, por parte dos consumidores, bem como suas variáveis críticas. Recomendamos que você faça uma revisão a respeito de gráficos, tabelas e equações. Mercados competitivos Existem diferentes formas das empresas se organizarem no mercado. Esse modo de organização, depende, principalmente, da quantidade de produtores e das características do produto em relação a sua homogeneidade. Essa relação é chamada de estruturas de mercado. A estrutura de mercado permite que se identifique qual a forma de atuação da empresa por meio do mecanismo de preços. Existem aqueles em que o controle sobre os preços é maior, mas também há aqueles que não possuem qualquer interferência sobre os preços, sendo definido pelas forças de mercado. O mercado é um ambiente em que uma determinada quantidade de bens ou serviços produzidos por empresários é oferecida por determinado nível de preços em certo período de tempo. Os consumidores se deslocam a esse mercado com o intuito de adquirir uma quantidade desses produtos, por um nível de preço que considerem adequado, maximizando a sua satisfação. Para os produtores, quanto mais alto for o preço, maior será a quantidade de produtos que se interessam em dispor no mercado, a fim de aumentar a receita. Esse fenômeno é o que denominamos lei da oferta. Para os consumidores ocorre o efeito oposto, quanto mais elevado for o preço do bem, menos quantidades serão desejadas. O poder de barganha que o produtor ou o consumidor têm sobre a determinação do nível de preços, depende da estrutura de mercado a qual o produto pertence. As estruturas de mercado podem ser de concorrência perfeita ou imper- feita. Exemplos de estruturas de concorrência imperfeita são: monopólio, concorrência monopolística e oligopólio. Já a concorrência perfeita, refere-se a um mercado em que o número de compradores e de vendedores é elevado, de modo que nenhum deles consegue influenciar o preço praticado. Considera-se, portanto, que neste mercado o preço é dado, devido à alta competitividade, ou seja, são empresas tomadoras de preços. Portanto, uma das principais características dessa estrutura é a aceitação dos preços. Outra característica do mercado competitivo, é a produção de bens homo- gêneos, ou seja, bens que são produzidos e são substitutos entre si, de modo que nenhuma empresa do mercado tem o poder de elevar o seu preço acima do que é praticado, pois os consumidores podem imediatamente demandar produtos dos concorrentes, por um valor mais competitivo. Assim, ao elevar o preço, o negócio pode ficar comprometido, levando, inclusive, à falência, uma vez que a demanda cai, prejudicando a lucratividade. Salienta-se que, na concorrência perfeita, há livre entrada e saída de empresas, a qualquer momento. Isso significa que não existem barreiras para a entrada, nem para saída. Assim, muitas empresas podem entrar no mercado, aumentando a concorrência, mas muitas podem fechar, saindo do mercado. Esse tipo de empresas são aquelas que não necessitam de elevado montante de capital inicial e nem elevados gastos para encerrar as atividades. Lei da demanda e variáveis66 Um exemplo de produtores pertencentes ao mercado de concorrência perfeita são os agrícolas. Seus produtos também são conhecidos no mercado por commodities agrícolas. Como esses produtos são negociados em bolsas mercadorias, seus preços são definidos pelo mercado internacional. Assim, um produtor não consegue praticar um preço mais elevado, pois outros pro- dutores estão ofertando a um preço mais baixo, que foi determinado pelo próprio mercado. Commodities, que significa mercadoria em inglês, possuem características homogêneas, são produzidos em larga escala e comercializados mundialmente. Já a estrutura monopolista é aquela em que existe apenas um produtor, não havendo produtos substitutos próximos. Quando um bem é substituto próximo, ou sucedâneo, significa que existem outros no mercado com características muito similares, permitindo a possibilidade de substituição no consumo de uns pelos outros, caso seja de interesse do consumidor, como no caso do fósforo e do isqueiro. Assim, os empresários monopolistas apresentam elevado poder de mercado em relação à formação de preços do seu produto. Um dos principais motivos para que isso ocorra são as elevadas barreiras à entrada de novos concorrentes no mercado. Barreiras à entrada podem ser as patentes, a necessidade de elevados montantes de recursos financeiros para abrir determinado negócio, os entraves burocráticos para atuar em determinado mercado, entre outros. Por vezes, o nível de preços pode ser controlado pelas autoridades políticas, de modo a evitar abuso nesse poder. Como exemplo dessa prática, podemos citar a indústria farmacêutica que, ao criar um determinado medicamento, 67Lei da demanda e variáveis e possuindo a patente sobre ele, é a única produtora a ter autorização. Nesse mercado, quanto maior for o preço praticado, menor será a quantidade de- mandada pelos consumidores. Na concorrência monopolística, existem muitos produtores de bens dife- renciados entre si, mas substitutos próximos. Isso ocorre porque predomina uma característica importante, que são as baixas barreiras à entrada. Dessa forma, os empresários dessa estrutura conseguem ter algum poder sobre os seus preços apenas se conseguirem diferenciar de alguma forma o seu produto, chamando a atenção do consumidor. Cita-se como exemplo as padarias, que podem diferenciar os seus preços por meio de diferenciais na prestação de serviços ou produzindo doces que apresentem diferencial no sabor. Do mesmo modo como na estrutura monopolista, apesar do menor poder de barganha do produtor a respeito da formação de preços, quando este é maior, menor é a quantidade demandada, devido à presença de bens substitutos próximos. A estrutura oligopolista é caracterizada pelos consumidores não apresen- tarem qualquer poder de barganha que seja capaz de influenciar os preços finais, pois existem poucos grandes produtores para muitos consumidores. As barreiras à entrada são um dos principais motivos para alta concentração dessas empresas. Outra grande característica desse mercado é a prática de preços similares, que são combinados entre si, de modo a que não haja concorrência via preços, resultando em ganhos para todos. Pode-se citar como exemplo dessa estrutura as empresas de telefonia móvel. Lei da demanda A demanda, que também pode ser chamada de “procura”, está relacionada ao desejo do consumidor de adquirir determinados bens ou serviços no mer- cado. O desejo aqui tratado significa apenas a intenção do agente econômico em consumir o produto, e não a efetivação do consumo, satisfazendo a sua necessidade. A lei da demanda ocorre quando os preços e as respectivas quantidades que são ofertados pelos produtores influenciam diretamente o desejo de con- sumir, ou seja, quanto maior for o preço do bem, menor será a quantidade que o consumidor deseja adquirir, coeteris paribus. Lei da demanda e variáveis68 Coeteris paribus é quando se realiza uma análise isolada das variáveis selecionadas, mantendo constante todas as demais variáveis. A função de demanda (a equação de demanda) é representada pela seguinte fórmula: Qdx = f(Px) Onde: Qdx (quantidade demandada do bem X) é função de Px (preço do bem X). O nível de renda, ou o poder de compra, representa uma restrição finan- ceira dos indivíduos. Quanto menor for a renda, ou poder de compra, menor será a quantidade demandada.Porém, quando a renda for maior, mais bens e serviços serão procurados. Assim, a medida que o preço de um produto aumenta, a sua quantidade demandada se reduz, refletindo uma relação inversa entre o preço e a demanda. Esses eventos são chamados de efeito substituição e efeito renda. � Efeito substituição: significa que o preço dos bens concorrentes pode levar os consumidores a substituírem alguns produtos por outros que apresentarem características muito similares. Quando o preço do bem X subir, a sua demanda pode cair, pois ele pode ser substituído por outro bem Y, que satisfaz o consumidor do mesmo modo, mas cujo preço é mais atraente. Em geral, trata-se de produtos que são encontrados em mercado de concorrência perfeita e que não apresentam diferenciação significativa para fidelizar o cliente. � Efeito renda: está relacionado à capacidade financeira do consumidor. Quando o preço do bem X sobe, o poder de compra ou salário real do consumidor cai, fazendo com que a demanda por este produto diminua. O tempo em que se deseja consumir, também influencia a intensidade da demanda em uma economia, pois considera-se que os desejos são diferentes nos distintos períodos de tempo. Por exemplo, no mês das crianças, a demanda por brinquedos é maior, ou no inverno a procura por ventiladores cai. 69Lei da demanda e variáveis Por meio desses conceitos, pode-se definir a demanda como: as quanti- dades demandadas (procuradas) por um determinado bem ou serviço, que os consumidores estão dispostos a adquirir no mercado em determinado período de tempo. Os preços definidos no mercado dependem da interação entre as forças de oferta e de demanda. O poder de barganha do consumidor e do vendedor sobre os preços vai depender da estrutura de mercado a qual o bem desejado pertencer. A relação inversa entre o preço do bem e a respectiva quantidade deman- dada (ou procurada), coeteris paribus, é representada pela escala de procura do Quadro 1. Preço do bem X ($) Quantidade demandada do bem X (unidades) 1,00 10 2,00 8 3,00 6 4,00 4 5,00 2 Quadro 1. Escala de procura. Conforme mostra o Quadro 1, a medida que o preço do bem X aumenta, a quantidade demandada desse bem diminui, significando uma relação inversa e negativa entre preço e quantidade, reflexo do efeito renda e o efeito substituição. Representando essa relação graficamente, temos a chamada curva de demanda (ou procura), conforme você pode observar na Figura 1. Lei da demanda e variáveis70 Figura 1. Curva da demanda. A curva de demanda, apresentada no gráfico da Figura 1, é formada pelas diferentes combinações de preços e quantidades que os consumidores estão dispostos a adquirir no mercado. Portanto, existe diferença entre demanda e quantidade demandada. A primeira refere-se a uma relação de longo prazo, em que pode ocorrer deslocamentos para a direita por influência de variáveis que veremos em seguida. Já a quantidade demandada trata-se de uma relação inversa de curto prazo, entre preço e quantidade demandada, em que se o preço do bem subir, o consumidor reduz a quantidade procurada. Por isso, a curva de demanda é negativamente inclinada, da esquerda para a direita. Determinantes da demanda O preço do próprio bem não é o único fator a influenciar a demanda de mer- cado. A lei da demanda indica as variáveis que podem afetar as quantidades demandadas por determinado produto, que pode ser um bem ou serviço. O preço dos bens concorrentes, a renda do consumidor, o seu gosto ou preferência, bem como de sua expectativa, representam as variáveis que impactam sobre 71Lei da demanda e variáveis a demanda em longo prazo. Neste caso, a função de demanda por um produto pode ser definida como: Qdx = f [P(x), P(y), R, G, E] Onde: [Qdx] – a quantidade demandada por um bem X é função: � do preço desse bem [Px]; � do preço de outro bem y [Py]; � da renda do consumidor [R]; � do gosto do consumidor [G]; � da expectativa futura do consumidor [E]. Essas variáveis são chamadas de fatores determinantes da demanda, e impactam de formas diferentes a curva de demanda, conforme você verá nos itens a seguir. � Preço do produto concorrente ou substituto: é aquele bem que apre- senta características muito similares a outro, de modo que os dois podem ser perfeitamente substituídos um pelo outro quando o preço não se mostrar atrativo para o consumidor. Por exemplo, a margarina e a manteiga: quando o preço da manteiga aumenta, diminui o interesse do consumidor pelo produto, que o substitui pela margarina. � Preço do bem complementar: são aqueles bens que dependem um do outro para o consumo, como a massa (para macarronada) e o queijo ralado. Quando o preço do queijo ralado, por exemplo, diminui, au- menta a sua demanda e também a da massa, pois está mais barato fazer macarronada. � Renda: para compreender como o nível de renda pode influenciar a demanda por um produto, é preciso destacar a existência de bens normais, bens inferiores, bens superiores (ou de luxo) e bens de consumo saciado. Os bens normais são aqueles que quando a renda sobe, a demanda por eles também se torna maior, como a carne. Já os bens inferiores apresentam queda na sua procura, pois devido a sua inferioridade, o consumidor pode adquirir outro de melhor qualidade, como passar da carne de segunda para a carne de primeira. Com relação aos bens superiores, um aumento no nível de renda leva a Lei da demanda e variáveis72 uma subida na demanda, pois com mais poder de compra é possível adquiri-lo, por exemplo, um automóvel de boa marca. Quanto aos bens de consumo saciado, são aqueles que mesmo que a renda suba, seu consumo permanecerá igual, pois são essenciais para a vida do consumidor, por exemplo, o arroz. � Gosto (ou hábito) e preferência do consumidor: o gosto, o hábito e a preferência do consumidor são influenciados pela cultura local e pela publicidade e propaganda, que impactam diretamente sobre o consumo de determinados bens ou serviços, de modo positivo ou negativo. � Expectativa do consumidor: a expectativa do consumidor em rela- ção ao preço futuro e à renda futura influencia a intensidade do seu consumo atual. Se a expectativa for negativa, significa que há um pessimismo em relação à economia, o nível de emprego e salários, bem como a repercussão sobre os preços de mercado, resultando em um consumo moderado, em caso de aumento dos preços e queda de sua renda. O Quadro 2 representa a relação entre essas variáveis e as alterações na demanda de mercado pelo bem x, considerando-o um bem normal. Variáveis Aumento na demanda do bem X (normal) Redução na demanda do bem X (normal) Preço de bens substitutos Aumento do preço de bens substitutos Diminuição do preço de bens substitutos Preço de bens complementares Redução do preço de bens complementares Aumento do preço de bens complementares Nível de renda Melhoria no nível de renda Queda no nível de renda Preferência do consumidor Aumento de preferência do consumidor pelo bem x Redução de preferência do consumidor pelo bem x Expectativa do consumidor Melhoria na expectativa de mercado Piora na expectativa de mercado Quadro 2. Determinantes da demanda. 73Lei da demanda e variáveis A Figura 2 representa a ocorrência de uma alteração na demanda, ou seja, na curva da demanda, devido a alguns dos fatores citados. Figura 2. Alterações na curva da demanda. O gráfico da Figura 2 reflete uma situação em que ocorreu aumento da demanda, influenciada por outras variáveis além do preço do bem X, por exemplo, aumento da renda do consumidor, melhoria na expectativa de mer- cado, maior interesse (preferência) pelo produto. Neste caso, há maior poder de compra e as pessoas estão dispostas a adquirir maiores quantidades do mesmo bem, coeteris paribus. Assim, a curva se desloca para a direita e para cima. Lei da demanda e variáveis74 1. Como observamos na teoria econômica, um consumidor pode ter o desejo de adquirirum produto influenciado por distintos fatores, como o seu orçamento pessoal, um período de tempo específico, a necessidade momentânea, entre outros. A teoria da demanda consagra algumas variáveis principais que podem influenciar a procura por um bem. Entre as alternativas apresentadas, assinale a que não interfere na demanda de mercado. a) Preço do produto (bem ou serviço). b) Preço dos bens substitutos. c) Preço dos bens complementares. d) Coeteris paribus. e) Renda do consumidor. 2. Marque a alternativa em que a teoria econômica indica corretamente a definição conceitual no que diz respeito ao mercado competitivo. a) É um mercado em que há muitos compradores e muitos vendedores, de modo que cada um deles exerce pouca influência sobre os preços de mercado. b) É um mercado em que os compradores têm livre acesso, mas existe um número limitado de empresas. c) É um mercado em que os compradores têm livre acesso, mas as empresas manipulam seus preços. d) É um mercado em que as empresas são manipuladoras de preço, concentrando cada vez mais o mercado. e) É um mercado que engloba todas as empresas do mercado, visto que no sistema capitalista as empresas sempre concorrem entre si. 3. Considerando a condição coeteris paribus, assinale a alternativa correta no que diz respeito a lei da demanda. a) Quanto menor for o preço de um bem, menor também será a quantidade demandada deste bem. b) O preço de um bem e a sua quantidade demandada são diretamente proporcionais. c) Os preços de um bem caem quando a sua quantidade demandada sobe. d) Existe uma relação inversa entre o preço do bem e a sua quantidade demandada. e) Uma mudança no preço do bem induz uma mudança na curva de demanda. 4. Marque a alternativa em que a teoria econômica completa corretamente a seguinte definição conceitual: a demanda de mercado por um bem é caracterizada por: a) um consumidor que deseja um bem, podendo adquiri-lo, vai a sua procura. b) todos os consumidores buscam um bem desejado, podendo adquiri-lo em determinado período de tempo. c) os consumidores desejam sem a necessidade de capacidade aquisitiva. d) os consumidores desejam e podem adquirir o bem, 75Lei da demanda e variáveis independentemente do período de tempo. e) a demanda de mercado por um bem ocorre no momento em que os consumidores adquirem o produto desejado. 5. Dada a equação de demanda: Qdx = 500 – 1,5.px + 0,2.py – 5.R, observe as alternativas a seguir e assinale a conclusão correta. a) Os bens y e x são complementares. b) Os bens y e x são substitutos. c) O bem x é um bem normal. d) A equação descreve o desejo do consumidor pelo bem x. e) A equação descreve apenas a demanda de um consumidor, sendo inconclusivo qualquer generalização. VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. Lei da demanda e variáveis76
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