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TEOLOGIA-DA-INCLUSÃO-Prof -Emilio-Figueira

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Prévia do material em texto

Prof. Emílio Figueira
TEOLOGIA 
DA 
INCLUSÃO 
 A TRAJETÓRIA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA HISTÓRIA 
DO CRISTIANISMO 
 
Considerando ser uma obra de cunho e importância social 
que pode beneficiar muitas pessoas nos meios religiosos e 
na sociedade em geral, por vontade do autor, esta versão 
digital passa a ser distribuída gratuitamente para todas as 
pessoas interessadas, independente de qual seja a 
dominação religiosa. É livre o seu uso para estudos, 
preparações de materiais religiosos e estudos teológicos, 
desde que citada a fonte. 
 
1 
 
EMÍLIO FIGUEIRA 
 Doutor em Teologia Histórica pelo 
 Instituto de Ensino Teológico de São Paulo 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEOLOGIA DA INCLUSÃO: 
A trajetória das pessoas com deficiência 
na história do Cristianismo 
 
 
 
 
 
 
FIGUEIRA DIGITAL 
SÃO PAULO 
2015 
2 
 
Edição e capa: Emilio Figueira 
 
Revisão: ANA SESSO REVISÃO LTDA. 
 www.anasessorevisao.com.br 
 
 
 
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL 
AGÊNCIA BRASILEIRA DE ISBN 
 
 
© 2015– Emílio Carlos Figueira da Silva 
 
TEOLOGIA DA INCLUSÃO – A trajetória das pessoas 
com deficiência na história do Cristianismo. Emilio 
Figueira. – São Paulo : Figueira Digital, 2015. 
 
 ISBN: 978-85-911079-8-8 
 
1. Teologia. 2. Cristianismo. 3. Inclusão. 4. Pessoas com 
deficiência 
 
 
É PROIBIDA A REPRODUÇÃO 
 
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, 
transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou 
gravações, assim como traduzida, sem permissão, por 
escrito, do autor. Os infratores serão punidos pela Lei no. 
9.610/98. 
3 
 
SOBRE O AUTOR 
 
Por causa de uma asfixia 
durante o parto, Emílio 
Figueira adquiriu 
paralisia cerebral em 
1969, ficando com 
sequelas na fala e 
movimentos. Mas nunca 
se deixou abater por sua 
deficiência motora e vive 
intensamente inúmeras 
possibilidades. 
Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção 
científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo e personal coach 
com formação em Programão Neurolinguística . 
Como escritor é dono de uma variada obra em livros 
impressos e digitais, passando de cinquenta títulos lançados. 
Ator e autor de teatro. Várias entrevistas na mídia e em 
jornais. 
Hoje com cinco graduações e dois doutorados, Figueira é 
professor e conferencista de pós-graduação, principalmente 
de temas que envolvem a Educação Inclusiva. 
Em seu site há vários artigos, crônicas, cursos e materiais 
gratuitos. acesse: www.emiliofigueira.com.br 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
“Deus me enviou ao mundo com uma deficiência já escalado 
para pesquisar, produzir conhecimento e ajudar na 
transformação de vidas de tantas outras pessoas com as 
mais variadas deficiências. Mas o que Deus não me contou é 
que eu iria de coadjuvante e espectador de tantas coisas 
positivas. De mudanças de mentalidades e atitudes. De ver 
crianças que hoje, mesmo com algum tipo de deficiência, 
estão começando a sua jornada neste mundo em uma 
realidade muito melhor do que aquela de quando comecei há 
quatro décadas”. 
 
 
 
 
 
A Deus, 
 
o principal motivo de ter 
nascido este trabalho! 
5 
 
AGRADECIMENTO 
 
 A Deus, pela presença maravilhosa em todos os momentos 
da minha existência, pela força que tem me concedido, 
pela inteligência para terminar esta tese de Doutorado em 
Teologia, primeiros passos de uma longa caminhada. 
 À minha família, presença sempre constante na minha 
vida. 
 À minha grande amiga, Aninha Pina, que desde o começo 
me incentivou e acompanhou o processo deste estudo. 
 Aos amigos e irmãos Helton Luiz Tavoni e Alan Rogério 
Moreli, por todos os nossos papos abertos. 
 À amiga de infância e dos nossos primeiros de reabilitação 
na AACD, Deise Tomazin Barbosa, pelo prefácio desta 
obra. 
 À amiga Ana Lúcia Sesso de Cerqueira César, pela revisão 
 Ao querido amigo Joaquim Teles, companheiro de 
psicologia e psicanálise, troca de materiais e de tantas 
ideias e conselhos profissionais. 
 Aos amigos Pr. Silas Costa e Pr. Rodnei Francisco Teixeira 
 Ao historiador Otto Marques da Silva, que foi pioneiro em 
dar uma história oficial às pessoas com deficiência. 
 À equipe da Rede Saci, em especial à amiga Ana Maria 
Barbosa e ao estagiário Felipe Salles Silva, por indicação 
de bibliografias. 
 A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram 
na realização desta obra. Os meus sinceros 
agradecimentos. 
6 
 
SUMÁRIO 
 
AGRADECIMENTO ......................................................................................... 5 
INTRODUÇÃO .............................................................................................. 15 
I – O ANTIGO TESTAMENTO: AS QUESTÕES DAS DEFICIÊNCIAS NO PRÉ-
CRISTIANISMO ............................................................................................ 23 
NOÉ: O PRIMEIRO REGISTRO BÍBLICO DE UMA PESSOA COM DEFICIÊNCIA ........... 24 
A CEGUEIRA DE ISAQUE POR 80 ANOS ........................................................... 27 
A DEFICIÊNCIA TEMPORÁRIA DE JACÓ EM DECORRÊNCIA DE UMA LUTA ESPIRITUAL
 ................................................................................................................. 31 
LIA, DESPREZADA, MAS RECOMPENSADA POR DEUS ........................................ 34 
MOISÉS: PROBLEMAS DE FALA E AUTOESTIMA ................................................ 36 
AS CAUSAS DAS DEFICIÊNCIAS ORIUNDAS DE CASTIGOS ENTRE OS HEBREUS ....... 46 
O MONTE SINAI E A QUESTÃO DA HANSENÍASE NA BÍBLIA ............................... 52 
O CÓDIGO DE HAMURÁBI E A SEVERIDADE QUE INSPIROU OS HEBREUS ............. 58 
REI ZEDEQUIAS, MAIS UM CASO DE CEGUEIRA COMO PUNIÇÃO .......................... 61 
OLHOS DIREITOS FURADOS DOS HABITANTES DE JABES ................................... 69 
ZACARIAS CASTIGADO POR NÃO TER ACREDITADO EM GABRIEL ........................ 71 
MEFIBOSETE: O PRIMEIRO CASO DE INCLUSÃO VEM DA BÍBLIA ......................... 74 
OS ESMOLANTES DA ANTIGA JUDEIA .............................................................. 79 
A BUSCA DA CURA ........................................................................................ 80 
A HANSENÍASE NO NOVO TESTAMENTO ......................................................... 86 
A BAIXA ESTRUTURA DE ZAQUEU .................................................................. 92 
III – CASTIGO E PECADO: PRINCIPAIS CONCEITOS BÍBLICOS SOBRE 
PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS E MUDANÇAS DE MENTALIDADES ......... 98 
DEFICIÊNCIA É FRUTO DO PECADO? ............................................................... 99 
JESUS E O INÍCIO DA INCLUSÃO .................................................................... 106 
O INCONSCIENTE COLETIVO E A DESCONSTRUÇÃO DOS ESTIGMAS RELIGIOSOS 112 
A HISTORIOGRAFIA DE OTTO MARQUES DA SILVA......................................... 118 
AS DEFICIÊNCIAS FÍSICAS COMO IMPEDIMENTO AO SACERDÓCIO CRISTÃO ........ 124 
SACERDOTES QUE QUEBRARAM A REGRA ...................................................... 130 
NICOLAU, AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS INTELECTUAIS E A INQUISIÇÃO ........ 133 
7 
 
RICHARD BAXTER, UM PASTOR ENTRE O MINISTÉRIO E SUAS ENFERMIDADES .. 144 
O ASSISTENCIALISMO DOS JESUÍTAS EM TERRAS BRASILEIRAS ........................ 148 
CATÓLICOS E PROTESTANTES SE UNEM CONTRA UMA “INQUISIÇÃO NAZISTA” NO 
SÉCULO XX ............................................................................................... 155 
A IGREJA CATÓLICA E SUAS POSSIBILIDADES DE INCLUSÃO ............................. 158 
V – CAMINHOS PARA A INCLUSÃO RELIGIOSA HOJE ............................. 168 
O PROTESTANTISMOPRECISA DESPERTAR PARA A QUESTÃO .......................... 168 
IGUALDADE DE OPORTUNIDADES, INCLUSIVE NA RELIGIÃO ............................. 173 
BARREIRAS ARQUITETÔNICAS ERAM MOTIVOS DE EXCLUSÃO .......................... 176 
“UMA TEOLOGIA DA DEFICIÊNCIA” .............................................................. 179 
REFLEXÕES SOBRE A CONVIVÊNCIA PLENA NA RELIGIOSIDADE........................ 181 
CONCLUSÕES ............................................................................................. 185 
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 189 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
PREFÁCIO 
 
 
 
Deise Tomazin Barbosa* 
 
 
 
alar de Emilio Figueira sem tecer uma rede de elogios sobre 
seu trabalho é tarefa impossível de ser realizada. Grande 
mestre, brilhante doutor, amigo e companheiro desde a 
nossa infância na AACD, faz com que pessoas que estejam ao seu 
redor sintam orgulho em tê-lo como parceiro de luta. 
Eclético e muito perspicaz, Emilio Figueira impressiona 
com sua peculiaridade. Sua sapiência se traduz em seus escritos e 
seu legado está marcado em suas obras publicadas como “O Que é 
Educação Inclusiva”, “Conversando sobre Educação Inclusiva com 
a Família”, ”Caminhando em Silêncio”, “Introdução à Psicologia e 
Pessoas com Deficiência”, e mais de cinquenta títulos. 
 
 
________________________ 
*Licenciada em Matemática e Pedagogia, Pós graduação lato sensu em 
Inteligência Multifocal e Psicanálise da Educação, Educação Especial Áreas da 
Deficiência intelectual, física, visual e auditiva (UNESP), Tecnologias da 
Informação e Comunicação Acessíveis (UFRGS), Psicopedagogia e MBA em 
Gerenciamento de Projetos (FGV). Mestre em Psicanálise e Educação Especial - 
UNESP. Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado, Libras, 
Braille e Sorobã. Tutora em curso de Pós graduação no curso de AEE (UNESP) e 
Tecnologia Assistiva (UFRGS). Assistente de Direção e Docente em Universidades 
públicas e particulares. Assessora e Consultora Pedagógica. Atuou na AACD como 
pedagoga e na Secretaria Municipal de São Paulo como professora itinerante de 
alunos com deficiência e formadora. 
F 
9 
 
A relação íntima com Deus e sua deficiência, fez com que o 
autor mantivesse o foco de seus estudos voltado ao 
desenvolvimento de uma sociedade humanitária e cristã. Não que 
fosse diferente se a deficiência não estivesse presente em sua vida, 
mas talvez a plenitude de suas obras não seria tão lógica não fosse 
sua trajetória humana. 
Sua deficiência fez com que passasse por momentos 
preconceituosos, porém, isso só o tornou mais convicto e 
determinado a buscar soluções para o trato com as pessoas com 
deficiência. 
Dotado de inteligência e capacidades que fogem ao nosso 
entendimento, Emílio sempre demonstrou grande paixão pelos 
estudos mantendo seu foco nas investigações históricas da pessoa 
com deficiência. Participar de alguns momentos formativos ao seu 
lado me deixa a vontade para tecer algumas linhas sobre essa 
grandiosa obra. 
A pesquisa se desenvolve em cinco partes, trazendo 
questões que tratam das deficiências do antigo ao novo 
testamento. Interessante reconhecer a visão de estudo que Emílio 
traz sobre a relação de castigo e pecado e do desenvolvimento da 
pessoa com deficiência no catolicismo, percorrendo caminhos que 
chegam à inclusão religiosa nos dias de hoje. 
Tais questões intensificaram o estudo por pesquisa 
bibliográfica baseada em referencial teórico demonstrando 
práticas transformatórias da evolução do ser humano com 
registros que contextualizam as passagens bíblicas, enaltecendo e 
abominando a deficiência e o impacto que o mundo cristão 
demonstra em relação à cura, pecado e castigo quebrando a 
prepotência e arrogância da divindade sobre o homem e tudo 
10 
 
mais que seja obscuro na visão histórica da passagem do 
deficiente pelo mundo cristão. 
Encontra-se nessa excelente obra, registros bíblicos de 
sacrifício e sacerdócio, impureza e pecado, pureza e castidade, 
defeito e perfeição. 
Partindo do pressuposto de que a linguagem do evangelho 
é uma fonte de referência na pacificação entre as pessoas e entre 
os povos, é possível se pensar na espiritualidade como um fator 
que promova a inclusão e não a exclusão, abrindo uma questão 
fundamental entre as comunidades religiosas que é a permissão 
da transformação de suas neuroses em direito à existência. 
Várias são as releituras realizadas sobre as escrituras 
sagradas, porém os critérios para sua interpretação são definidos 
por duas ciências: a Hermenêutica e a Exegese. Para que tal 
interpretação se torne correta é preciso que se apliquem essas 
“ferramentas” de forma consistente, diluindo os malefícios que 
uma má interpretação bíblica pode causar: discriminação, 
exclusão, preconceito. 
O preconceito é um juízo preconcebido, um 
desconhecimento pejorativo de uma pessoa ou grupo social e a 
discriminação é um comportamento de não aceitação. O 
preconceito para com as pessoas com deficiência vai desde 
acreditar que necessitam ser dependentes dos outros, são maus 
ajustados e infelizes, são "marcados" e menos inteligentes, são 
improdutivos, merecem compaixão e piedade, até acharem que 
estes estão sendo "punidos" por algum pecado. 
Se existe um lugar onde esse comportamento não deve ser 
aceito é a igreja, pois esta não deve estar alienada da sociedade e é 
o lugar onde a real prática dos princípios bíblicos como "Amar a 
11 
 
Deus de todo coração... amar ao próximo como a si mesmo..." 
(Marcos, 12:33) deve ser exercida. 
Ora, se a palavra de Deus deve estar ao alcance a todas as 
pessoas e Jesus foi inclusivo o tempo todo, constatação escrita no 
evangelho, por que então continuar pensando que a deficiência é 
uma doença e não uma condição? Coisa rara encontrar um 
deficiente que se lamente por causa da sua condição física. A 
limitação física, o estigma, a discriminação ao longo do tempo 
torna as pessoas resilientes. Sendo assim, natural se pensar que 
todos os cristãos são pessoas inclusivas, ou pelo menos, deveriam 
ser, porém não é o que se vê na sociedade contemporânea. 
Na obra Teologia da Inclusão, é possível se encontrar o 
processo religioso das pessoas com deficiência e a evolução da 
política inclusiva. A obra traz a interpretação bíblica através da 
Hermenêutica com o método analítico sintético a partir de uma 
consciência crítica dialética demonstrando as transformações 
reais da sociedade. Em termos metodológicos, foi desenvolvida 
uma pesquisa documental das escrituras e bibliográfica de textos 
que abordam o fenômeno apontado. 
O capítulo de abertura – O Antigo Testamento: As 
Questões das Deficiências no Pré-Cristianismo mostra a saga 
histórica do percurso do deficiente pela história da humanidade, 
fazendo um estudo sobre os registros de Noé, mostrando a 
cegueira de Isaac, a luta de Jacó, o desprezo de Lia e, pasmem com 
os problemas de fala de Moisés que afetaram por tempos sua 
autoestima. Em meio atos severos, punição, maldição, encontram-
se pessoas que exercitam a justiça e a bondade de forma amorosa, 
sem se incomodar com valores e preconceitos determinados por 
seu tempo, sem se omitir de tal sentimento de nobreza. 
12 
 
No Seu Capítulo – milagres e uma nova visão da pessoa 
com deficiência no novo testamento, Emílio Figueira analisa e 
debate a visão transformadora de Paulo e a busca da cura através 
da fé. Estudiosos dos usos e costumes dos povos afirmavam que a 
medicina contida nos evangelhos e mesmo nos atos dos apóstolos 
aceitavam três tipos de causas para as doençase para as muitas 
limitações e deficiências que afligiam os homens: o castigo pelos 
pecados, a interferência dos maus espíritos e as forças más da 
natureza, contra os quais o poder divino era o único remédio. Está 
em pauta, agora, a identificação dos possíveis caminhos da cura 
dos deficientes: os milagres realizados por Jesus. 
De sua pesquisa, o autor conclui que o melhor é se tomar a 
mensagem de fundo: não estigmatizar e deixar de lado a questão 
da plausibilidade do fato. 
O autor em seu capítulo III – Castigo e Pecado: Principais 
Conceitos Bíblicos sobre Pessoas com Deficiências e 
Mudanças de Mentalidades deu destaque ao debate incansável 
sobre a deficiência como fruto do pecado. A deficiência era 
atribuída a uma magia hostil ou à violação de um tabu e era tarefa 
do sacerdote descobrir as causas e estabelecer a magia certa para 
eliminar o mal. A causa podia ser interpretada por erro ou pecado 
cometido pela pessoa contra a divindade e era exigida reparação 
adequada. A pesquisa confirma que as ações e percepções 
praticadas de maneira incorreta, desobediente, era considerada 
violação de mandamento divino, ou seja, pecado. 
O autor faz ainda realiza um estudo sobre a terminologia 
“Pecado”, nos mais diversos segmentos: Judaico, Cristã, Católico, 
Protestante (evangélico), atribuindo a deficiência, as doenças, as 
fatalidades como consequências diretas de pecados cometidos, 
como se fossem castigo. 
13 
 
Referindo-se a planejamento de estudo sobre as 
deficiências ao longo dos tempos, é preciso manter o foco sobre as 
igrejas que lutam para manter a fé cristã, o que Emílio Figueira faz 
brilhantemente em seu IV capítulo - O “Caminhar” da Pessoa 
com Deficiência dentro do Catolicismo. O “castigo de Deus” era 
decorrente de sua ira, enviando sinais ao povo como os problemas 
mentais e as malformações congênitas, o que na realidade, era 
consequência de uma sociedade sem conhecimentos científicos e 
medicinais. A falta de planejamento urbano abriu caminho para 
epidemias e doenças mais graves. Mas a visão do povo voltada à 
ira celeste entendia a deficiência como uma falta de capacidade 
para a vida, devendo ser excluído de tudo, pois não poderiam 
realizar nada com dignidade. 
Fechando a Coletânea, o capítulo V - Caminhos para a 
Inclusão Religiosa hoje - mostra a igualdade de oportunidade, 
até mesmo na religião. O autor dá conta de resultados de sua 
pesquisa sobre a passagem do deficiente nos atos religiosos 
indagando agora sobre outro problema contemporâneo: as 
barreiras arquitetônicas dos templos religiosos. 
 No espaço de inovações/resistências às mudanças 
propostas/impostas, o autor rediscute o sentido de se manter 
pessoas com deficiências em nossos círculos de amizade a fim de 
quebrar mitos e preconceitos. Mostra que, ao ressignificar os laços 
de afetividade, paradigmas são quebrados permitindo que se 
possam ver as reais habilidades e capacidades das pessoas com 
deficiência, refletindo mais sobre a (re)construção de sua 
identidade nesse espaço de múltiplas tensões, e assim, 
compreender melhor, sua vida pessoal. 
Os leitores que compartilham preocupações relacionadas 
aos grandes desafios da inclusão, encontrarão na obra Teologia 
14 
 
da Inclusão, elementos significativos para a retomada e a 
discussão dos problemas em pauta. O autor, por sua vez, 
disponibiliza sua ferramenta investigativa e sua conclusão, 
abrindo-se ao debate, reequacionando as questões e adiantando 
hipóteses fecundas, aptas a sustentar novas buscas e novos 
projetos, de modo que a produção do conhecimento, nessa área, 
possa ter a necessária continuidade em busca de uma qualificada 
consolidação. 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 TEOLOGIA DA INCLUSÃO – Emílio Figueira 
www.emiliofigueira.com.br 
 
 
INTRODUÇÃO 
A TEOLOGIA DA INCLUSÃO COMO UM 
NOVO MINISTÉRIO 
 
“Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá.” 
1 Timóteo 4:13 
 
 
osso dizer que, mesmo antes de eu nascer, já tinha uma 
relação muito íntima com Deus. O primeiro grande milagre 
Dele na minha vida foi no meu nascimento. Foi um parto 
muito difícil, passaram-se muitas horas do momento de nascer, fui 
tirado à força. Mesmo assim, passei horas no balão de oxigênio 
lutando para viver. Deus me deu a vitória, mas deixou uma marca: 
paralisia cerebral, comprometendo minha fala e movimentos. 
Meus primeiros anos foram de inúmeros tratamentos e, 
por onze anos, praticamente todos eles dentro de uma instituição 
fechada. Quase ninguém acreditava em um futuro para uma 
pessoa nas minhas condições físicas. Deus decretou o contrário. 
Aos cinco anos de idade eu já estava alfabetizado. Recebi Dele o 
dom da escrita. Ainda muito novo nasceram os meus primeiros 
textos que deram origem a uma vasta e variada produção literária. 
P 
16 
 
 TEOLOGIA DA INCLUSÃO – Emílio Figueira 
www.emiliofigueira.com.br 
 
 
Deus me dotou também de uma paixão grande pelos 
estudos. Muitos cursos, descobertas em diversas áreas, 
desenvolvimento no jornalismo, na psicologia e na psicanálise. 
Toda essa minha inquietação levou-me para o universo das 
pesquisas, atuando em instituições renomadas e escrevendo 
quase noventa trabalhos científicos publicados no mundo todo. 
Foi uma caminhada de muitos obstáculos, de gigantescas 
montanhas, as quais Deus foi eliminando uma a uma. 
O meu principal foco sempre foram as questões das 
pessoas com deficiência, melhor qualidade de vida e sociedade 
humanitária que abrace a todos. Hoje, consideram-me uma das 
principais referências em Educação Inclusiva no Brasil. Deus me 
deu a graça de ser testemunha ocular, eu, que sou de uma época 
em que pessoas com deficiência viviam isoladas em instituições, 
assisto e contribuo com o meu trabalho, pesquisas e escrita para 
tantas mudanças positivas. 
Apaixonado principalmente pelas investigações históricas, 
já há uns vinte anos eu queria pesquisar sobre as pessoas com 
deficiência no Cristianismo. Minha intenção inicial era escrever 
um artigo de nove páginas. Só que eu era membro de uma igreja 
com bases fundamentalistas que não nos permitia estudar 
quaisquer outros livros religiosos, senão a Bíblia. Eu, mesmo 
tendo vontade de estudar mais sobre religião, respeitava os 
ensinamentos da igreja. Independente de ser certo ou errado, os 
18 anos que permaneci ali foram fundamentais para o meu 
nascimento, desenvolvimento e aprendizagem espiritual. Pude 
participar de incontáveis momentos maravilhosos na presença de 
17 
 
 TEOLOGIA DA INCLUSÃO – Emílio Figueira 
www.emiliofigueira.com.br 
 
 
Deus. Assisti obras e milagres na vida de muitos e na minha 
própria vida. 
Eu continuava a guardar anotações e materiais sobre as 
pessoas com deficiência e o Cristianismo. Sabia que um dia teria 
que escrever algo a respeito. Até que, em 2010, sofri uma grande 
discriminação por minha deficiência dentro da igreja onde eu 
estava, inclusive por pessoas do alto ministério. Não cabe narrar 
esse triste fato aqui. Só que minha permanência naquela igreja se 
tornou insustentável. Saí de lá com ainda mais certeza de que teria 
que fazer alguma coisa para que outras pessoas com as mais 
variadas deficiências não sofressem discriminações nos meios 
cristãos, como eu sofri. 
Passei meses sem congregar em qualquer igreja. Até que, 
em 10 de abril de 2011, manhã de um domingo ensolarado, entrei 
pela primeira vez em uma Igreja Batista, vindo de uma 
denominação predominantemente fechada em si mesma. Estava 
com a cabeça cheia de dúvidas, inseguranças, coração machucado 
por discriminações religiosas sofridas. Mesmo machucado, eu 
tinha certezade que era exatamente como fui concebido por Deus 
e Ele me amava, apesar da minha deficiência motora. E, ao entrar 
por aquelas portas, sabia que jamais poderia me afastar daquele 
amor! 
Na Igreja Batista percebi logo de início que tudo era 
diferente. Senti amor, vi o sorriso no rosto das pessoas. Fui 
acolhido. Com humildade. Uma semana se passou e no outro 
domingo foi muito forte a vontade de voltar. A mesma vontade 
que começou a me mover naturalmente, cada vez mais, sendo 
envolvido, acolhido e fazendo parte dessa comunidade cristã. Ali 
18 
 
 TEOLOGIA DA INCLUSÃO – Emílio Figueira 
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descobri um Deus amoroso, bondoso, Pai paciente... Um Deus 
como sempre procurei e no qual acreditei. Foi morrendo dentro 
de mim o Deus autoritário e punidor, com o qual convivi por 
muitos anos. Fui percebendo que a liberdade e expressão religiosa 
que eu procurava realmente existem. Que posso falar ou escrever 
abertamente as coisas de Deus, manifestar o meu amor por Ele. 
Crescia em mim a cada dia a vontade de estudar mais no campo 
teológico. Usar as linguagens de expressões que recebi como dom 
dos céus para escrever livros, contos, romances, teatro evangélico 
ou textos didáticos. 
Fascinou-me o modo de se pregar o evangelho em uma 
Igreja Batista tradicional. Eu, que vinha de uma igreja onde 
éramos até proibidos de ler livros religiosos, na Igreja Batista 
conheci a Bíblia empregada de forma didática, ensinada, estudada, 
discutida. Aulas aos domingos. Irmãos lendo outros autores e 
teólogos. Estudando, surpreendeu-me ver como o Novo 
Testamento fala de ensino, doutrina e exemplo. Jesus é chamado 
de mestre 42 vezes. As palavras relacionadas com ensino 
repetem-se mais de 175 vezes, quase sempre no sentido positivo. 
Só em 1 e 2 de Timóteo vemos mais de 50 referências de ensino, 
instrução, doutrina e exemplo, visando vidas mais consagradas e 
firmes no Senhor. A aprendizagem é o que orienta e motiva as 
outras três funções vitais e comunitárias da igreja local: Adoração, 
Comunhão e Evangelização. 
Enquanto na outra igreja era apenas mais um membro no 
banco, na Igreja batista eu fui incluído de imediato e, tempos 
depois, já tinha ministérios. Quis cada vez mais estudar e me 
aperfeiçoar como um Educador Cristão. Ao mesmo tempo, quis 
19 
 
 TEOLOGIA DA INCLUSÃO – Emílio Figueira 
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estar cada vez mais preparado, orando continuamente para que o 
Senhor Jesus ilumine minha mente e eu possa dar sempre o 
melhor nos Ministérios e cargos que Ele tem confiado em minhas 
mãos para o crescimento de Sua igreja, honra e glória. 
Graças a essa abertura, em 2012, bacharelei-me em 
Teologia pela Instituto de Educação Teológica de São Paulo, com a 
monografia: Entre a cruz e a clínica: Do aconselhamento pastoral 
ao atendimento psicológico nas igrejas evangélicas como uma 
nova proposta de ministério. 
Intensifiquei minhas pesquisas e análises sobre as pessoas 
com deficiência no Cristianismo. Por já ter mestrado em Educação 
Inclusiva e doutorado em Psicanálise, essa mesma instituição 
aceitou-me em seu Doutorado em Teologia e, o que era para ser 
um artigo de nove páginas, hoje se materializa em uma tese, 
apontando para uma nova caminhada e ministério nas 
comunidades cristãs. 
Hoje entendo que Deus me dotou de inteligência, inúmeras 
capacidades e permitiu aquela discriminação na minha vida para 
me libertar, me capacitar teologicamente e me usar como um 
instrumento em Sua obra. Peço a Deus que o meu amor e 
relacionamento com todos os meus irmãos cresça cada vez mais e 
que eu esteja sempre preparado para atendê-los em suas 
necessidades. Sobretudo, peço principalmente ao Senhor Jesus 
que multiplique minha saúde e capacitação para que eu possa 
trabalhar pela Sua obra até meus últimos dias, convicto de que, 
tudo o que eu fizer, ainda será muito pouco diante de todo o bem 
que Ele sempre fez e fará por mim. E posso testificar esse amor. 
20 
 
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*** 
 
Cabe aqui uma rápida explicação teórica e metodológica 
que foi utilizada na construção desta obra, fruto de minha tese de 
Doutorado em Teologia pela Instituto de Ensino Teológico de São 
Paulo, defendida em 27 de outubro de 2014. 
Sendo a função dos teólogos cristãos recorrer à exegese 
bíblica e à análise racional para entender, explicar, testar, criticar 
e defender o Cristianismo, testando a sua veracidade, 
comparando-o a outras tradições ou religiões, defendendo-o de 
críticos, corroborando qualquer reforma cristã, esta tese teve 
como base teórica a Teologia Histórica. Também conhecida como 
história da teologia ou história da doutrina, trata-se do ramo da 
teologia que busca investigar as circunstâncias históricas em que 
as ideias teológicas se desenvolveram ou foram especialmente 
formuladas. Uma investigação teológica que objetiva explorar o 
desenvolvimento histórico das doutrinas cristãs e identificar os 
fatores que influenciaram sua formulação, documenta as 
respostas às grandes questões do pensamento cristão e ao mesmo 
tempo procura explicar os fatores que contribuíram para a 
elaboração dessas respostas. Por um lado, é uma ferramenta 
pedagógica, tendo em vista que oferece informações sobre o 
desenvolvimento dos grandes temas teológicos, os pontos fortes e 
fracos das diferentes abordagens e os marcos mais notáveis do 
pensamento cristão, em termos de autores e documentos. Por 
outro lado, é uma ferramenta crítica, pois permite ver as falhas, as 
limitações e os condicionamentos de certas formulações 
doutrinárias, o que possibilita seu contínuo aperfeiçoamento. 
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Junto com a Teologia Histórica, utilizei a Hermenêutica 
Bíblica, que estuda os princípios da interpretação da Bíblia como 
uma coleção de livros sagrados e divinamente inspirados, 
abrangendo a relação dialética que visa substancializar os 
significados dos textos bíblicos. A hermenêutica bíblica não deve 
se afastar do texto bíblico, bem como não se abstém da 
problemática inicial do hermeneuta. Seu principal objetivo é o de 
descobrir a intenção original do autor bíblico. No caso dos textos 
da Bíblia, o leitor, ao menos racionalmente, não tem acesso direto 
ao autor original. Por isso é necessário aplicar princípios da 
hermenêutica (a ciência da interpretação) ao texto bíblico. 
No Cristianismo, essa interpretação é estudada e obtida 
através da Exegese, também utilizada nesta tese. A exegese tem 
práticas implícitas e intuitivas, sendo os textos sagrados os 
primeiros dos quais se ocuparam os exegetas na tarefa de 
interpretar e dar seu significado. Por isso, o termo “exegese” 
significa, como interpretação, revelar o sentido de algo ligado ao 
mundo do humano, mas a prática se orientou no sentido de 
reservar a palavra para a interpretação dos textos bíblicos. 
Como metodologia, trabalhei com a pesquisa bibliográfica, 
que permite ao investigador a cobertura de uma gama de 
fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia 
pesquisar diretamente. Sua vantagem aumenta ainda mais quando 
o problema da pesquisa requer dados muito dispersos pelo 
espaço, sendo indispensável nos estudos históricos; em muitas 
situações, não há outra maneira de conhecer os fatos passados 
senão com base em dados bibliográficos. 
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Esta pesquisa de caráter bibliográfico reuniu materiais 
(livros, artigos científicos, periódicos), obtidos já em um 
levantamentopreliminar em bibliotecas públicas e universitárias, 
em sítios científicos, por meio do meu acervo pessoal. Vale 
acentuar que, assim como qualquer outra modalidade de 
pesquisa, esta se desenvolveu ao longo de uma série de etapas. Na 
primeira fase, realizei a organização do material, já olhando para o 
conjunto de documentos de forma analítica, buscando averiguar 
trechos significativos dos documentos de acordo com o objetivo 
de investigação com leituras e fichamentos, ocorrendo algumas 
transcrições de trechos/dados utilizados posteriormente. 
Organizando o material e processando a leitura segundo critérios, 
utilizei o método analítico-sintético, unindo os anunciados do 
contexto principal referencial teórico (exposto no final desta 
obra) aos meus conhecimentos pessoais e observações. Na 
segunda fase, visando à compreensão do material coletado, 
trabalhei com o modo dialético, visando ser o ato de se conhecer a 
análise do processo de fenômeno um processo do conhecimento, 
realizada aquela a partir de uma consciência crítica, permitindo a 
elaboração de conceitos relativos às atividades do individuo e, 
portanto, estabelecendo previsões a respeito da transformação da 
realidade e da sociedade. 
 
 
 
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I – O ANTIGO TESTAMENTO: AS QUESTÕES 
DAS DEFICIÊNCIAS NO PRÉ-CRISTIANISMO 
 
 Antigo Testamento é composto de 46 livros e constitui a 
primeira grande parte da Bíblia cristã e a totalidade da 
Bíblia hebraica, os primeiros cinco livros – os Livros da Lei 
(ou Torá). Entretanto, a tradição cristã divide o Antigo 
Testamento em outras partes e reordena os livros dividindo-os 
em categorias; Lei, história, poesia (ou livros de sabedoria) e 
Profecias. Muitos séculos antes de Cristo, escribas, sacerdotes, 
profetas, reis e poetas do povo hebreu mantiveram registros de 
sua história e de seu relacionamento com Deus. Esses registros 
tinham grande significado e importância em suas vidas e, por isso, 
foram copiados muitas e muitas vezes e passados de geração em 
geração. 
A Lei compreende os primeiros cinco livros. Já os Profetas 
incluem: Isaías, Jeremias, Ezequiel, os Doze Profetas Menores, 
Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis. Os escritos reúnem o 
grande livro de poesia, os Salmos, além de Provérbios, Jó, Ester, 
Cantares de Salomão, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Daniel, 
Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas. 
Os livros do Antigo Testamento foram escritos em longos 
pergaminhos confeccionados em pele de cabra e copiados 
cuidadosamente pelos escribas. Geralmente, cada um desses 
O 
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livros era escrito em um pergaminho separado; como a Lei 
ocupava espaço maior, foi escrita em dois grandes pergaminhos. O 
aramaico foi a língua original de algumas partes dos livros de 
Daniel e de Esdras. Hoje se tem conhecimento de que o 
pergaminho de Isaías é o mais remoto trecho do Antigo 
Testamento em hebraico. Estima-se que foi escrito durante o 
século II a.C. e, por isso, se assemelha muito ao pergaminho 
utilizado por Jesus na sinagoga, em Nazaré. Foi descoberto em 
1947, juntamente com outros documentos, em uma caverna 
próxima ao Mar Morto. 
É no Antigo Testamento que iniciaremos a nossa saga de 
contar a história das pessoas com deficiência ao longo do 
Cristianismo! 
 
Noé: o primeiro registro bíblico de uma pessoa com 
deficiência 
 
Os primeiros cinco livros do Antigo Testamento estão 
repletos de regras e histórias. Inicia-se a Bíblia por Gênesis (nome 
que significa começo, origem ou criação), formando cinco 
pensamentos principais: 1 – O começo do mundo criado por Deus; 
2 – O começo do homem como criatura de Deus; 3 – O começo do 
pecado, que entrou no mundo através da desobediência do 
homem; 4 – O começo da redenção, vista nas promessas e tipos do 
livro e da família escolhida; e 5 – O começo da condenação, vista 
na destruição e punição de indivíduos, cidades e mundos. 
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No contexto do livro de Gênesis encontraremos o nosso 
primeiro personagem: Noé ou Noach (do hebraico, “descanso, 
alívio, conforto”). De acordo com Moisés, autor desses primeiros 
cinco livros, Noé era filho de Lameque, que era filho de 
Matusalém, que era filho de Enoque, que era filho de Jarede, que 
era filho de Malalel, que era filho de Cainã ou Quenã, que era filho 
de Enos, que era filho de Sete, que era filho de Adão, que era filho 
de Deus. Era casado Noéma (ou Namá – Na’amah – cheia de 
beleza) com uma mulher cananita e seus três filhos mais 
conhecidos foram Sem, Cam (ou Cã) e Jafé. Noé é mencionado pela 
primeira vez no capítulo 5, versículo 29, encerrando com sua 
morte, capítulo 9, versículo 29, com 950 anos. O relato conta que 
Noé viveu em uma época em que as outras linhagens humanas (a 
partir dos descendentes de Caim e dos próprios parentes de Noé, 
provavelmente) mostraram-se corrompidas. 
O nascimento de Noé é descrito pela Bíblia em palavras 
muito breves. Seu pai Lameque já sentia que Noé veio ao mundo 
com uma missão especial dada por Deus, pois, por ocasião do 
nascimento do filho, declarou: “29A quem chamou Noé, dizendo: 
Este nos consolará acerca de nossas obras e do trabalho de nossas 
mãos, por causa da terra que o Senhor amaldiçoou.” (Gn 5:29). 
A Bíblia não oferece mais detalhes sobre o nascimento e 
características físicas de Noé. No entanto, recorrendo a um 
documento escrito em linguagem “apocalíptica” (repleta de sinais) 
conhecido como “Livro de Enoque, O Profeta”, um trecho da obra 
diz: “Depois de algum tempo meu filho Matusalém escolheu uma 
esposa para seu filho Lameque. Ela engravidou e deu à luz uma 
criança cuja pele era branca como a neve e vermelha como rosa; 
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cujo cabelo era comprido e alvo como a lã e cujos olhos eram lindos. 
Quando os abriu iluminou toda a casa, como o sol; a casa ficou cheia 
de luz”. 
Enoque diz que Lameque, pai de Noé, ficou intrigado com a 
aparência do recém-nascido. Talvez até tenha duvidado da 
fidelidade de sua esposa. Foi procurar seu pai, Matusalém, a quem 
descreveu o menino, informando dentre outras coisas: “Parece o 
fruto dos anjos do céu; é de natureza diferente da nossa, sendo no 
todo diferente de nós”. (...) “Ele parece não ser meu, mas dos anjos”. 
Pelos relatos históricos, hoje podemos dizer que essas são 
características básicas de um albino. Noé devia realmente ser 
muito diferente dos primos, tios, avós e demais parentes, todos 
morenos e de olhos escuros. Foi uma diferença considerada 
problemática o suficiente para levar o avô Matusalém, já com 369 
anos de idade, a empreender uma viagem longa e cansativa para 
procurar seu pai, o patriarca Enoque, bisavô do recém-nascido, 
retirado do mundo “nas extremidades da terra”. 
Enoque diz em seu livro que analisou a questão com a 
sabedoria de seus muitos anos de vidas. Possuidor de um 
misticismo nato e informado por seus alegados contatos diretos 
com Deus, tranquilizou Matusalém, que voltou sabendo que o 
bebê era, de fato, filho de Lameque, que ele deveria ser chamado 
de Noé (consolo da Terra) e, com isso, ser preparado para eventos 
que culminaram com o dilúvio, 600 anos após. 
27 
 
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A obra Livro de Enoque, O Profeta1 comenta ainda que 
Lameque e sua esposa eram primos em primeiro grau, sendo “o 
tipo comum de consanguinidade em albinismo”.A cegueira de Isaque por 80 anos 
 
O grande patriarca hebreu Isaque talvez seja o homem que 
mais tempo viveu nessa deficiência. Seu nome é de origem 
hebraica e significa “ele sorri” ou “ele ri”. Descendente de Abraão e 
Sara, Isaque foi um dos três patriarcas do povo de Israel, junto 
com seu pai Abraão e seu filho Jacó. 
A história de Isaque começa a ser contada no capítulo 15 
de Gênesis, quando, mesmo em idade avançada, o Senhor promete 
 
1 Embora considerados uma obra apócrifa (do grego Apokryphos, significando oculto 
ou não autêntico), os escritos deste livro foram encontrados na primavera de 1947, 
quando um pastor árabe deixou cair um objeto perto das ruínas de Qumrán. Ao tentar 
recuperar o artefato, o religioso ficou surpreso ao se deparar com 20 grandes vasos 
dentro de uma espécie de câmara. Logo ele notou que seu objeto tinha quebrado um 
desses vasos, descobrindo que dentro deles havia vários rolos de pergaminho que 
traziam o conteúdo deste livro; assim eram descobertos os Manuscritos do Mar 
Morto. Eles apresentavam escrituras muito bem conservadas que, além de registrar 
todos os rituais e informações a respeito de um povo até então desconhecido, os 
essênios, traziam também vários evangelhos escritos por apóstolos que não tinham 
sido incluídos na Bíblia. Um desses pergaminhos guardava um texto incrivelmente 
interessante e revelador: O Livro de Enoque, o Profeta. Essa obra é de grande 
importância não somente em virtude da sua menção aos versículos 14 e 15 da epístola 
de Judas, mas também por ter sido citada por vários padres da Igreja Católica 
primitiva. Sabe-se que mais de 70 textos do livro de Enoque influenciaram não 
somente os diversos escritos do Novo Testamento como também as obras de 
Clemente de Alexandria, Tertuliano e Jerônimo. 
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um filho a Abrão. Sarai, sua esposa, não lhe dera filhos e, por isso, 
pediu que Abrão possuísse sua serva egípcia Agar, a fim de terem 
filhos por esse meio, nascendo uma criança de nome Ismael. A 
convivência entre eles não era agradável, o que ocasionou a 
partida de Agar e Ismael para outras terras. Ismael, embora filho 
de Abrão, não era o filho da promessa do Senhor. Quando Abrão 
atingiu 99 anos, apareceu o Senhor e mudou seu nome para 
Abraão e o de Sarai para Sara. Quando o Senhor disse que dentro 
de um ano lhe daria um filho, Abraão riu. O mesmo ocorreu com 
Sara quando recebeu a notícia, por estarem em idade avançada. O 
nascimento de Isaque está ligado ao riso e não apenas faz alusão 
ao sorriso de Abraão e de Sara, mas também pode ser uma oração 
implícita de que Deus sorrirá para o filho deles e será generoso 
com ele. 
Isaque protagonizou momentos marcantes do Antigo 
Testamento. Seu pai Abraão foi provado pelo Senhor quando 
Isaque ainda era criança, pedindo-lhe a sua vida como sacrifício: 
“E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem 
amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre 
uma das montanhas, que eu te direi.” (Gn 22:2). Tendo feito de 
acordo com o que o Senhor ordenou, pouco antes de sacrificar seu 
filho, um anjo bradou do céu e lhe disse: “Então disse: Não 
estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto 
agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu 
único filho.” (Gn 22:12). 
Mais tarde, casou-se com uma linda jovem mesopotâmia, 
Rebeca, que lhe gerou dois filhos do sexo masculino somente 20 
anos depois do casamento: Esaú e Jacó. Eram gêmeos, sendo Esaú 
o primogênito. Um homem rude, cheio de pelos no corpo e nas 
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mãos, tornou-se caçador, dedicado às atividades do campo e da 
guerra, enquanto Jacó era um homem simples e, como diz Gênesis, 
“habitante de tendas”. O pai preferia seu primogênito pelo que era 
e pelo que trazia das caçadas; Rebeca dedicava sua atenção e 
carinho a Jacó, protegendo-o sempre e mal imaginando que ele se 
transformaria no maior patriarca hebreu e que um dia receberia 
de Deus o nome de Israel (“o que luta com Deus”). 
Ao envelhecer e ficar cego, certamente isso foi peça 
fundamental para outra passagem bíblica. Sem enxergar, idoso, 
com suas faculdades debilitadas e preocupado com a 
possibilidade de morte iminente, Isaque chamou seu filho Esaú 
para ele apanhar alguma caça, a fim de receber sua bênção. 
 
“E aconteceu que, como Isaque envelheceu, e os seus olhos se 
escureceram, de maneira que não podia ver, chamou a Esaú, 
seu filho mais velho, e disse-lhe: Meu filho. E ele lhe disse: 
Eis-me aqui. 
E ele disse: Eis que já agora estou velho, e não sei o dia da 
minha morte; 
Agora, pois, toma as tuas armas, a tua aljava e o teu arco, e 
sai ao campo, e apanha para mim alguma caça. 
E faze-me um guisado saboroso, como eu gosto, e traze-mo, 
para que eu coma; para que minha alma te abençoe, antes 
que morra.” (Gn 27:1-4) 
 
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Para entender a densidade desse fato é preciso entender 
que essa bênção paterna não era um mero palavrório, mas um ato 
de peso que conferia a herança de um clã ao abençoado pelo pai. E 
os envolvidos sabiam muito bem que, uma vez dada, essa bênção 
não poderia ser retirada nem transferida a outrem, pois vinha de 
Deus! 
Enquanto Esaú estava caçando, Jacó, depois de ouvir o 
conselho de sua mãe, enganou seu pai cego propositadamente, 
passando-se por Esaú, obtendo assim, a bênção de seu pai, de tal 
forma que Jacó tornou-se herdeiro principal de Isaque e Esaú foi 
deixado numa posição inferior. Isaque enviou Jacó à Mesopotâmia 
para escolher uma mulher de sua própria família. Depois de 20 
anos trabalhando para Labão, Jacó voltou para casa e reconciliou-
se com seu irmão gêmeo. 
Mais tarde Isaque explicaria a Esaú o engano e daria o 
veredito final: “Então respondeu Isaque a Esaú dizendo: Eis que o 
tenho posto por senhor sobre ti, e todos os seus irmãos lhe tenho 
dado por servos; e de trigo e de mosto o tenho fortalecido; que te 
farei, pois, agora, meu filho?” (Gn 27:37). Nem o fato de ser cego e 
de ter-se enganado devido à deficiência visual levou Isaque a 
mudar sua posição anteriormente assumida. 
Isaque viveu até os 180 anos de idade e dessa vida toda 
passou 80 anos na dependência de Rebeca e de seus criados. Ele 
foi o único patriarca bíblico que não deixou Canaã, o único que 
não teve o nome mudado e o patriarca de vida mais longa. 
 
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A deficiência temporária de Jacó em decorrência de uma luta 
espiritual 
 
Já vimos que Jacó, ao se passar pelo irmão para obter a 
bênção do pai, Isaque, entrou em pé de guerra com Esaú. Sua mãe 
o aconselhou a sair de casa, prometendo chamá-lo de volta 
quando o irmão se acalmasse. Jacó, com idade entre 76 e 78 anos 
aproximadamente, foi para Padã-Arã, região da atual Síria. Como 
um homem muito errado na fé, traiu seu irmão (Gênesis, 25:33), 
enganou o pai (Gênesis, 27:23), fugiu da ira do seu irmão (Gênesis, 
27:41-44) e não teve boas relações com o sogro (Gênesis, 31). Mas 
Jacó tinha só um pensamento: vencer a qualquer custo, conseguir 
tudo que desejava. 
Morando em Padã-Arã, casou-se com duas jovens, Lia e 
Raquel. Após trabalhar 14 anos pelas esposas e mais seis anos 
pela família, Deus diz para retornar à sua terra. Ele parte com suas 
duas esposas, duas criadas, onze filhos, seus criados e respectivos 
rebanhos. Após fazer um pacto com Deus,que o ajudaria a voltar 
para a Terra Prometida são e salvo, já em viagem e rumando sul 
ao longo de uma rota que ficaria a leste do rio Jordão, a caravana 
chegou ao vale de Jaboque, um afluente do rio maior. Jacó tomou 
ciência de que o irmão estaria a caminho com um exército de 400 
homens e resolveu então mandar a família atravessar o rio para 
ali ficar em comunhão com Deus e passar a noite à margem norte 
do afluente. 
Mais tarde, naquela mesma noite, sozinho na margem 
meridional do Jaboque, em meio a essa crise aparentemente 
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grave, Jacó demonstrou coragem em um dos episódios mais 
enigmáticos da Bíblia. Sozinho e na escuridão, viu-se lutando com 
um estranho misterioso (Gn 32:22-32): 
 
“E levantou-se aquela mesma noite, e tomou as suas duas 
mulheres, e as suas duas servas, e os seus onze filhos, e 
passou o vau de Jaboque. 
E tomou-os e fê-los passar o ribeiro; e fez passar tudo o que 
tinha. 
Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um homem, até que a 
alva subiu. 
E vendo este que não prevalecia contra ele, tocou a juntura 
de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando 
com ele. 
E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: 
Não te deixarei ir, se não me abençoares. 
E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó. 
Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois 
como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e 
prevaleceste. 
E Jacó lhe perguntou, e disse: Dá-me, peço-te, a saber o teu 
nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E 
abençoou-o ali. 
E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: 
Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva. 
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E saiu-lhe o sol, quando passou a Peniel; e manquejava da 
sua coxa. 
Por isso os filhos de Israel não comem o nervo encolhido, que 
está sobre a juntura da coxa, até o dia de hoje; porquanto 
tocara a juntura da coxa de Jacó no nervo encolhido.” (Gn 
32:22-32) 
 
Enquanto, no versículo 24, Jacó identifica a criatura como 
“um homem”, no versículo 28 fica claro que ele lutou com o 
próprio Deus. Jacó precisava dessa experiência marcante com 
Deus que o fizesse mudar radicalmente, para demovê-lo de seu 
orgulho e quebrar sua prepotência e hipocrisia. Podemos deduzir 
que o objetivo da luta era quebrantar Jacó, mostrando-lhe ser uma 
criatura sem forças em si mesma. Jacó tinha um “eu” muito forte 
que demandou de uma luta de uma noite inteira, quando ele se 
recusava a ceder. 
Essa experiência com Deus, Ranauro e Limeira da Sá 
(1999) assim analisam: “Isto é muito sério, pois muitos entendem 
que Deus não pode servir-se de coisas dessa natureza no trato com 
as pessoas. Mas Deus usou uma ‘deficiência’ para marcar Jacó, para 
mudar sua história, para lembrá-lo constantemente de que ele não 
deveria sentir-se autossuficiente. Pode Jacó sentir vitória e derrota 
numa única situação. Dessa vez a bênção era dele mesmo, não 
precisou ser roubada nem tramada, mas houve um preço: a luta e 
um sinal, a deficiência na coxa. Quando se agarrou desamparado, 
recebeu o direito que havia tentado comprar (Gn 27:23) e a bênção 
que havia tentado (Gn 27:23). De fato sua vida mudou a partir daí e 
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veio ele a constituir uma grande nação. Seu novo nome – Israel – 
significa “príncipe”. Príncipe não por sua força, mas por sua 
fraqueza, como também por sua perseverança. Parece que, tocando 
em sua aparência, em sua força física, Deus conseguiu tocar em seu 
‘eu’ mais profundo. Crer na existência de um Deus-Pessoa, em um 
Deus pessoal, não implica crer que Ele pode, ainda hoje, agir assim 
com determinadas pessoas?” (pp. 72-73). 
Essa história fascinou gerações de judeus e cristãos. 
Matreiro, dúbio e às vezes amedrontado, o segundo filho de 
Isaque parecia um candidato improvável para incorporar e 
realização da promessa de Deus à nação de Israel. Notaremos, no 
Antigo Testamento e na tradição rabínica, que sua falibilidade 
humana foi, precisamente, o que ajudou a provar que a vontade de 
Deus, e não a iniciativa humana ou o mérito individual, foi a 
responsável por estabelecer os israelitas na Terra Prometida e 
moldar o destino da nação. 
Jacó retornou à terra de seus pais com 98 anos e ainda viu 
seu pai durante mais 22 anos, que morreu com 180 anos de idade, 
dez anos antes de Jacó ir ao Egito encontrar seu filho José. Jacó 
viveu 17 anos no Egito (Gn 47:28) e morreu com 147 anos. 
 
Lia, desprezada, mas recompensada por Deus 
 
Lia fora a primeira esposa de Jacó. A mais velha das duas 
filhas de Labão, ela não tinha a mesma beleza que sua irmã 
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Raquel. Por isso, fora uma mulher que sentiu o desprezo do pai ao 
ser usada em benefício dele. Esse foi só o início do seu sofrimento. 
Lia era desprovida de beleza. Em versões mais recentes da 
Bíblia, ela é descrita como tendo um “olhar terno” e nenhum outro 
detalhe sobre sua aparência física, quando é apresentada em 
Gênesis 29:16-17. Entre teóricos e historiadores é debatido se o 
adjetivo “terno” foi usado para significar “delicado e suave” ou 
“fraco”. Algumas traduções indicam que “olhar terno” pode 
significar que Lia possuía olhos azuis ou claros. Na Bíblia vulgata 
essa dúvida se acentua ainda mais em Gênesis 29:17: “Lia tinha os 
olhos defeituosos e Raquel era bela de talhe e rosto”. Olhos 
defeituosos? 
A história dela é marcada pela falta de consideração, de 
amor, de apreço. Seu pai a usou para ter mais dinheiro. Lia se 
tornou esposa de Jacó através de uma artimanha de Labão, que a 
colocou no lugar de Raquel na noite de núpcias. Ao se casar, tinha 
um marido que não a amava. Depois, sua irmã casou-se com seu 
esposo, cujo amor era maior por essa (Gn 29:30). O desprezo era 
tanto que Deus teve compaixão de Lia e a fez mãe antes de Raquel. 
Gerou seis filhos e uma filha para Jacó, enquanto sua criada Zilpa 
deu-lhe mais dois filhos, que também eram contados como de Lia, 
antes que Raquel fosso capaz de ter seus próprios filhos. 
Essa é a prova de que Deus sabia do sofrimento de Lia e a 
colocou em posição de vantagem em relação a Raquel. O Senhor se 
mostrou no controle de todas as coisas ao conceder filhos a Lia, 
deixou claro que, mesmo que Jacó não a amasse, Ele a amava, 
cuidava e ajudava a passar pelos sofrimentos. 
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Moisés: problemas de fala e autoestima 
 
O segundo livro da Bíblia, Êxodo, significando saída, ou 
partida, tem como palavra-chave a redenção demonstrada pela 
libertação do um povo escolhido, liberto de uma situação 
angustiante, a escravidão egípcia. O interessante é que o autor e 
personagem principal de Êxodo era Moisés, vítima de um sério e 
perturbador distúrbio da comunicação, que alguns estudos 
históricos apontam como uma acentuada gagueira, que afetou 
profundamente sua autoestima. No começo de sua história, 
Moisés, personagem predominante do Antigo Testamento, era 
tímido, humilde, buscando ficar na obscuridade. Mas foi 
justamente uma pessoa com essas características que Deus 
escolheu para uma grande obra. 
O problema de sua fala deve ter-se agravado em um 
momento de forte tensão em que ele, morando no deserto por 
muitos anos, decidiu levar seu rebanho ao monte Horeb para 
pastar. No meio da noite calma viu uma grande touceira de sarçapegando fogo, mas sem queimar. Aproximando-se com cautela, 
ouviu uma voz. Era o próprio Deus, chamando-o para a grande 
missão de vida: tirar os hebreus do Egito e conduzi-los à Terra 
Prometida. Parte desse diálogo, em Êxodo 4, acentua bem a sua 
deficiência e como Deus começou a instruir Moisés em sua futura 
missão: 
 
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“Então disse Moisés ao Senhor: Ah, meu Senhor! eu não sou 
homem eloquente, nem de ontem nem de anteontem, nem 
ainda desde que tens falado ao teu servo; porque sou pesado 
de boca e pesado de língua. 
E disse-lhe o Senhor: Quem fez a boca do homem? ou quem 
fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o 
Senhor? 
Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o 
que hás de falar. 
Ele, porém, disse: Ah, meu Senhor! Envia pela mão daquele a 
quem tu hás de enviar. 
Então se acendeu a ira do Senhor contra Moisés, e disse: Não 
é Arão, o levita, teu irmão? Eu sei que ele falará muito bem; 
e eis que ele também sai ao teu encontro; e, vendo-te, se 
alegrará em seu coração. 
E tu lhe falarás, e porás as palavras na sua boca; e eu serei 
com a tua boca, e com a dele, ensinando-vos o que haveis de 
fazer. 
E ele falará por ti ao povo; e acontecerá que ele te será por 
boca, e tu lhe serás por Deus. 
Toma, pois, esta vara na tua mão, com que farás os sinais.” 
(Ex 4:10-17) 
 
A reação de Moisés, naquele momento, foi no mínimo 
cuidadosa ao dizer: “Ele, porém, disse: Ah, meu Senhor! Envia pela 
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mão daquele a quem tu hás de enviar.” (Ex 4:13), sendo o 
verdadeiro sentido dessa frase no hebraico “envia outra pessoa”. 
Ele preferiu enfatizar a sua deficiência, não se atentando ao poder 
de Deus. Quando o Senhor disse em “ser a sua boca”, poderia livrá-
lo da sua dificuldade de dicção ou mesmo usá-lo, a despeito dela. 
As desculpas de Moisés nos demonstram, a princípio, sua falta de 
autoconfiança e uma fé momentânea. 
Ranauro e Lima de Sá (1999) acentuam que, “quando Deus 
comprometeu-se a ser com sua boca, não estava assumindo a 
responsabilidade de livrá-lo da dificuldade. Apesar dela, 
ressaltaríamos, Deus o havia escolhido. Na perspectiva de Deus, essa 
deficiência poderia até mesmo ter um propósito, ou simplesmente 
não interferiria naquilo a que Ele o destinara. Na narrativa bíblica, 
encontramos Deus tentando fazer com que Moisés levantasse seus 
olhos para ver a amplitude do significado de existência de pessoas 
com dificuldades semelhantes, e até maiores, o que está dentro da 
administração do Deus-Criador” (pp. 75-76). 
Deus contra-argumentou com o seguinte e forte 
questionamento: “E disse-lhe o Senhor: Quem fez a boca do homem? 
ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, 
o Senhor?” (Ex 4:11). O Senhor procurou encorajá-lo também por 
outros meios para enfrentar os desafios que se punham à sua 
frente, ou seja, os líderes hebreus e a corte do faraó, chegando a 
demonstrar que Ele estaria efetivamente ao seu lado. 
Moisés, cônscio de suas limitações quanto à desenvoltura 
em falar, levou Deus a indicar uma solução: o irmão de Moisés, 
Arão, seria seu companheiro de todas as horas, tanto para 
convencer os líderes hebreus quanto para falar ao faraó nas horas 
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aprazadas. Arão foi vital para o sucesso de todo o ambicioso 
projeto, uma vez que os planos, os comentários, as novas ações e 
providências, e mesmo os novos argumentos diferentes eram 
transmitidos por Deus a Moisés e este os repassava a Arão. Por 
sua vez, este não dispensava nunca a carismática presença de 
Moisés e tudo transmitia ao faraó e sua corte, aos líderes hebreus 
e ao povo, tendo desempenhado essa missão por muitos anos. 
Foram várias as tentativas frustradas de tirar o povo de 
uma escravidão cada vez mais opressora, levando Moisés a se 
queixar com Deus: “Moisés, porém, falou perante o Senhor, dizendo: 
Eis que os filhos de Israel não me têm ouvido; como, pois, Faraó me 
ouvirá? Também eu sou incircunciso de lábios.” (Ex 6:12). Deus 
continuou com a mesma orientação operacional até então 
adotada, indicando Arão mais uma vez como o seu porta-voz. 
Tudo o que se sabe a seu respeito está na Torá, ou 
Pentateuco (os primeiros cinco livros da Bíblia), e em algumas 
referências espalhadas pelo Antigo Testamento, sem nenhum 
registro primário fora das escrituras. Foi a personalidade de 
Moisés que uniu Israel através de sua história, exercendo uma 
variedade única de papéis: legislador, chefe militar e político, 
profeta e fundador de uma religião de estado. Ele é o profeta mais 
importante do Judaísmo, igualmente reconhecido pelo 
Cristianismo e Islamismo, assim como em outras religiões, sendo 
considerado um grande profeta pelos muçulmanos. É o grande 
libertador dos hebreus, tido por eles como seu principal legislador 
e mais importante líder religioso. A Bíblia também o destaca: “E 
era o homem Moisés mui manso, mais do que todos os homens que 
havia sobre a terra.” (Nm 12:3). 
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Mesmo com sua deficiência funcional de ordem bastante 
grave, Moisés assumiu o papel que foi a ele indicado e conseguiu 
sair-se bem da missão, com a ajuda permanente de seu irmão 
Arão e foi, sem dúvida, uma das mais fortes figuras de toda a 
história dos hebreus. 
 
Pessoas excluídas dos sacrifícios ou sacerdócio 
 
Os antigos hebreus (etnônimo possivelmente oriundo do 
termo hebraico Éber, significando “descendentes do patriarca 
bíblico Éber”) foram um povo semítico da região do antigo 
corredor sírio-palestino, localizado no Oriente Médio. O etnônimo 
também foi utilizado a partir do período romano para se referir 
aos judeus, um grupo étnico e religioso de ascendência hebraica. 
Acredita-se que, originalmente, os hebreus chamavam a si 
mesmos de israelitas, embora esse termo tenha caído em desuso 
após a segunda metade do século X a.C. Os hebreus falavam uma 
língua semítica da família cananeia, à qual se referiam pelo nome 
de “língua de Canaã” (Isaías 19:18). Esse povo, apagado pela 
grandeza de estados muito maiores, tecnologicamente avançados 
e mais importantes politicamente, foi responsável, contudo, pela 
composição de alguns dos livros que compõem a Bíblia, obra 
considerada sagrada por religiões ocidentais e orientais. 
Será no contexto desse povo antigo que descobriremos os 
primeiros registros de um olhar diferenciado no qual tanto a 
doença crônica quanto a deficiência física ou intelectual, e mesmo 
qualquer deformação, por menor que fosse, indicavam um grau de 
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impureza ou de pecado. Início de uma visão cultural que ainda 
ressoa nos dias atuais. 
Em Levítico, terceiro livro da Bíblia, parte do Pentateuco, 
sua autoria, tradicionalmente atribuída a Moisés, contém a Lei dos 
sacerdotes da Tribo de Levi, a tribo de Israel que foi escolhida 
para exercer a função sacerdotal no meio do seu povo. Nesse 
conjunto de normas e orientações para os sacerdotes, chegou a 
ser determinado por Moisés, capítulo 21: 
 
“Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: 
Fala a Arão, dizendo: Ninguém da tua descendência, nas 
suas gerações, em que houver algum defeito, se chegará a 
oferecer o pão do seu Deus. 
Pois nenhum homem em quem houver alguma deformidade 
se chegará; como homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, 
ou de membrosdemasiadamente compridos, 
Ou homem que tiver quebrado o pé, ou a mão quebrada, 
Ou corcunda, ou anão, ou que tiver defeito no olho, ou sarna, 
ou impigem, ou que tiver testículo mutilado. 
Nenhum homem da descendência de Arão, o sacerdote, em 
quem houver alguma deformidade, se chegará para oferecer 
as ofertas queimadas do Senhor; defeito nele há; não se 
chegará para oferecer o pão do seu Deus. 
Ele comerá do pão do seu Deus, tanto do santíssimo como do 
santo. 
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Porém até ao véu não entrará, nem se chegará ao altar, 
porquanto defeito há nele, para que não profane os meus 
santuários; porque eu sou o Senhor que os santifico.” (Lv 
21:16-23) 
 
Imediatamente após o êxodo do Egito, foi dada essa ordem 
a Moisés: “Santifica-me todo o primogênito, o que abrir toda a 
madre entre os filhos de Israel, de homens e de animais; porque meu 
é.” (Ex 13:2). Endossando isso, no tratado de Bechorot – a terceira 
mais longa das seis Ordens da Mishná, que aborda na sua maioria 
o serviço religioso no Templo de Jerusalém, os Korbanot ou 
“oferendas sacrificiais” e outros assuntos considerados ou 
relacionados a essas “Coisas Sagradas” –, são citados oito tipos de 
defeitos, inclusive a falta de orelhas, seu tamanho ou formato 
defeituoso, como impedimento para os serviços do templo. 
Uma importante obra paralela à Bíblia, História dos 
Hebreus2, do historiador Flávio Josefo, confirma essa 
 
2 A obra História dos Hebreus é outra fonte segura de pesquisa que temos paralela à 
Bíblia. Tendo atravessado séculos até os nossos dias, a história do povo judeu 
permanece como um fiel relato dos acontecimentos contidos nas escrituras. Esse livro 
traz a história de personagens dos evangelhos e de Atos dos Apóstolos, tais como 
Pilatos, os Agripas e os Herodes, e inúmeros pormenores do mundo greco-romano. 
Seu autor, Flávio Josefo, foi um historiador e apologista judaico-romano, descendente 
de uma linhagem de importantes sacerdotes e reis, que registrou in loco a destruição 
de Jerusalém, pelas tropas do imperador romano Vespasiano, comandadas por seu 
filho Tito, futuro imperador. As obras de Josefo fornecem um importante panorama, 
abordando a história judaica, principalmente o período que marcou a segunda maior 
tragédia dos filhos de Abraão – a destruição do santo templo no ano 70 de nossa era. 
Uma confirmação das promessas de Deus para o seu povo e o cumprimento de sua 
palavra em todos os fatos registrados em suas páginas. 
 
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determinação. No capítulo 10, sobre a lei que se refere aos 
sacrifícios, aos sacerdotes, às festas e outras solenidades, tanto 
civis quanto políticas, ele destaca: “Se entre os sacerdotes houvesse 
algum defeito corporal, ser-lhe-ia permitido estar com os demais, 
mas não poderia subir ao altar ou entrar no Templo. Eram 
obrigados a ser puros e castos não somente quando celebravam o 
serviço divino, mas em todo o resto de sua vida” (2004, p. 140). 
Mais adiante, capítulo 15, sobre as diversas outras 
observações legais do sumo sacerdote, Josefo revela como 
deveriam ser tratados aqueles que não podiam exercer tais cargos 
por terem deficiência: “Os que eram de família sacerdotal e não 
podiam exercer o sacerdócio, porque eram cegos, ficavam com os 
que estavam puros e não tinham nenhum defeito corporal. 
Recebiam a mesma porção que os levitas, que serviam no altar, mas 
estavam vestidos como os leigos, porque só aos que exerciam o 
serviço divino era permitido usar o hábito sacerdotal” (2004, p. 
1.340). 
Muitas vezes era até providencial uma deformidade para 
que a pessoa não viesse a ter um sacerdócio no futuro, conforme 
se encontra no livro décimo quarto, capítulos 23, 24, 25 e 26, 
Antiguidades judaicas, Parte I: “Esses bárbaros não se contentaram 
de saquear a cidade, devastaram também os campos, destruíram 
Marissa e não somente fizeram Antígono rei, mas entregaram-lhe 
Hircano e Fazael, acorrentados. Ele mandou cortar as orelhas ao 
primeiro, a fim de que, sobrevindo alguma mudança, ele fosse tido 
como incapaz de exercer o sumo sacerdócio, porque nossas leis 
proíbem conceder-se essa honra aos que têm algum defeito 
corporal” (JOSEFO, 2004, p. 1044). 
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Vemos na Bíblia que existem doze defeitos físicos 
aparentes, qualquer um dos quais desqualifica um sacerdote para 
o desempenho de suas funções (Lev. 21:16-23). Só que a 
“Halachá” (nome do conjunto de leis da religião judaica, incluindo 
os 613 mandamentos que constam na Torá e os posteriores 
mandamentos rabínicos e talmúdicos relacionados aos costumes e 
tradições, servindo como guia do modo de viver judaico) aumenta 
essa lista para 142, o que achamos desnecessário reproduzir aqui. 
Os defeitos físicos que desqualificam um animal para o sacrifício 
também são enumerados em Levítico, 22: 
 
“Nenhuma coisa em que haja defeito oferecereis, porque não 
seria aceita em vosso favor. 
E, quando alguém oferecer sacrifício pacífico ao Senhor, 
separando dos bois ou das ovelhas um voto, ou oferta 
voluntária, sem defeito será, para que seja aceito; nenhum 
defeito haverá nele. 
O cego, ou quebrado, ou aleijado, o verrugoso, ou sarnoso, 
ou cheio de impigens, estes não oferecereis ao Senhor, e 
deles não poreis oferta queimada ao Senhor sobre o altar. 
Porém boi, ou gado miúdo, comprido ou curto de membros, 
poderás oferecer por oferta voluntária, mas por voto não 
será aceito. 
O machucado, ou moído, ou despedaçado, ou cortado, não 
oferecereis ao Senhor; não fareis isto na vossa terra. 
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Também da mão do estrangeiro nenhum alimento 
oferecereis ao vosso Deus, de todas estas coisas, pois a sua 
corrupção está nelas; defeito nelas há; não serão aceitas em 
vosso favor.” (Lv 22:20-25) 
 
Tais defeitos são aumentados para 73 na Lei Rabínica, 
escritos rabínicos ao longo da história do Judaísmo, literatura da 
era talmúdica, em oposição à literatura rabínica medieval e 
moderna. Um defeito temporário desqualifica um sacerdote para 
sua função e um animal, para o sacrifício, apenas pelo tempo que 
durar. Consultando o verbete “defeito” da Enciclopédia Judaica 
(Jewish Encyclopedia, publicada entre 1901 e 1906 por Funk e 
Wagnalls, contendo cerca de 15.000 artigos em 12 volumes sobre 
a história dos judeus e do Judaísmo, hoje de domínio público), 
lemos o seguinte: “Defeito (Heb. mum) – Termo bíblico referente a 
um defeito físico ou ritual, que excluía uma pessoa do serviço do 
templo e tornava um animal impróprio para ser sacrificado”. 
Segundo a Lei Rabínica, por exemplo, um defeito físico do 
marido ou da mulher pode, em certas circunstâncias, até invalidar 
um contrato de casamento. De volta à Bíblia, o livro Levítico é 
contundente quanto aos homens com deficiências físicas, 
afirmando isso taxativamente, conforme destaque do capítulo 21: 
 
“Nenhum homem da descendência de Arão, o sacerdote, em 
quem houver alguma deformidade, se chegará para oferecer 
as ofertas queimadas do Senhor; defeito nele há; não se 
chegará para oferecer o pão do seu Deus. 
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Ele comerá do pão do seu Deus, tanto do santíssimo como do 
santo. 
Porém até ao véu não entrará, nem se chegará ao altar, 
porquanto defeito há nele, para que não profane os meus 
santuários; porqueeu sou o Senhor que os santifico.” (Lv 
21:21-23) 
 
 
As causas das deficiências oriundas de castigos entre os 
hebreus 
 
No contexto da história do povo hebreu, além das 
deficiências ou das deformações consideradas como 
consequências diretas de pecados ou de crimes, tais como a 
cegueira, a surdez, a paralisia, por exemplo, havia aquelas 
provenientes de acidentes, de agressões, de participação em lutas 
armadas contra inimigos do povo e as punições previstas em lei. 
Outras eram provenientes de marcas da própria escravidão: 
orelha ou nariz cortado, dedos ou a mão, olhos vazados. 
No quinto livro da Bíblia, Deuteronômio (palavra grega 
que significa “segunda lei” ou “lei repetida”), Moisés escreve as 
últimas palavras semelhantemente entregues durante os últimos 
sete dias de sua vida, não uma repetição da lei, mas sim uma 
aplicação dela em vista das novas condições que Israel 
encontraria em Canaã e devido à sua desobediência anterior. 
Moisés tinha nesses escritos o objetivo de levar Israel à 
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obediência, encorajamento e advertência. Deuteronômio é uma 
espécie de testamento do velho Moisés às bordas da Terra 
Prometida. Nele, capítulo 25, encontramos um castigo severo 
(amputação da mão) para um procedimento considerado 
altamente pecaminoso por parte da mulher: 
 
“Quando pelejarem dois homens, um contra o outro, e a 
mulher de um chegar para livrar a seu marido da mão do 
que o fere, e ela estender a sua mão, e lhe pegar pelas suas 
vergonhas, 
Então cortar-lhe-ás a mão; não a poupará o teu olho.” (Dt 
25:11-12) 
 
Os castigos ou penas por faltas contra as leis de Deus e 
mesmo de Israel eram por vezes muito cruéis e de caráter 
extremo. Eles correspondiam a alguma necessidade da época em 
que foram estabelecidos. O próprio Moisés elaborou muitos deles; 
no capítulo 13 do livro que disserta sobre os adoradores de outros 
deuses, “Para que todo o Israel o ouça e o tema, e não torne a fazer 
semelhante maldade no meio de ti.” (Dt 13:11). 
Dureza que também é repetida nas palavras de Moisés 
com relação à criação de filhos em Deuteronômio, 21: 
 
“Quando alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não 
obedecer à voz de seu pai e à voz de sua mãe, e, castigando-
o eles, lhes não der ouvidos, 
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Então seu pai e sua mãe pegarão nele, e o levarão aos 
anciãos da sua cidade, e à porta do seu lugar; 
E dirão aos anciãos da cidade: Este nosso filho é rebelde e 
contumaz, não dá ouvidos à nossa voz; é um comilão e um 
beberrão. 
Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que 
morra; e tirarás o mal do meio de ti, e todo o Israel ouvirá e 
temerá.” (Dt 21:18-21) 
 
Maldições sem fim são indicadas para os que não seguiam 
os preceitos e uma delas está em Deuteronômio, 28: 
 
“Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do Senhor 
teu Deus, para não cuidares em cumprir todos os seus 
mandamentos e os seus estatutos, que hoje te ordeno, 
então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão: 
(Dt 28:15) 
(...) 
O Senhor te ferirá com loucura, e com cegueira, e com 
pasmo de coração; 
E apalparás ao meio-dia, como o cego apalpa na escuridão, 
e não prosperarás nos teus caminhos; porém somente 
serás oprimido e roubado todos os dias, e não haverá 
quem te salve.” (Dt 28:28-29). 
 
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O livro de Juízes, que trata da história dos israelitas entre a 
conquista da terra de Canaã no final da vida de Josué até o 
estabelecimento do primeiro reinado, em seu contexto procurava 
levar o povo hebreu a melhor conhecer seus grandes heróis, tais 
como Otoniel, Aod, Baraque, Débora, Gideão, Jefté e Sansão, 
personagens que libertaram o povo da opressão constante dos 
inimigos e tentaram fazer com que esse mesmo povo observasse 
as leis estabelecidas. Juízes nos relata fatos que demonstram 
claramente que, na luta pela segurança do povo hebreu, às vezes 
era indispensável “passar a fio de espada” todos os homens 
aprisionados. No entanto, em Juízes 1, existe o relato de um caso 
de evidente “desencorajamento” permanente aos ataques aos 
hebreus, num severo castigo aplicado a um líder cananeu por uma 
das tribos de Judá: 
 
“E sucedeu, depois da morte de Josué, que os filhos de Israel 
perguntaram ao Senhor, dizendo: Quem dentre nós primeiro 
subirá aos cananeus, para pelejar contra eles? 
E disse o Senhor: Judá subirá; eis que entreguei esta terra na 
sua mão. 
Então disse Judá a Simeão, seu irmão: Sobe comigo à minha 
herança. E pelejemos contra os cananeus, e também eu 
contigo subirei à tua herança. E Simeão partiu com ele. 
E subiu Judá, e o Senhor lhe entregou na sua mão os 
cananeus e os perizeus; e feriram deles, em Bezeque, a dez 
mil homens. 
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E acharam Adoni-Bezeque em Bezeque, e pelejaram contra 
ele; e feriram aos cananeus e aos perizeus. 
Porém Adoni-Bezeque fugiu, mas o seguiram, e prenderam-
no e cortaram-lhe os dedos polegares das mãos e dos pés. 
Então disse Adoni-Bezeque: Setenta reis, com os dedos 
polegares das mãos e dos pés cortados, apanhavam as 
migalhas debaixo da minha mesa; assim como eu fiz, assim 
Deus me pagou. E levaram-no a Jerusalém, e morreu ali. 
E os filhos de Judá pelejaram contra Jerusalém, e tomando-
a, feriram-na ao fio da espada; e puseram fogo na cidade.” 
(Jz 1:1-8) 
Castigo violento também ocorreu com Sansão. Sua 
descrição na Bíblia hebraica corresponde a um homem nazireu, 
filho de Manoá, nascido de mãe estéril (Juízes 13:2) e que liderou 
os israelitas contra os filisteus. Ele era da tribo de Dã e foi o 
décimo terceiro juiz de Israel, sucedendo a Abdon. Sansão foi juiz 
do povo de Israel por vinte anos, aproximadamente de 1177 a.C. a 
1157 a.C. Distinguia-se por ter uma força sobre-humana que, 
segundo a Bíblia, era-lhe fornecida pelo Espírito do Senhor 
enquanto se mantivesse obediente ao senhor dos Exércitos. 
Subjugava facilmente seus inimigos e produzia feitos 
inalcançáveis por homens comuns, como rasgar um leão novo ao 
meio, enfrentar um exército inteiro e matar uma multidão de 
filisteus (depois de descobrir que foi enganado) para pegar suas 
roupas, pagando uma aposta. De acordo com Juízes 16, Sansão 
apaixonou-se por Dalila, uma mulher do povo filisteu, a qual o 
traiu entregando-o aos chefes de sua nação: 
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“E descobriu-lhe todo o seu coração, e disse-lhe: Nunca 
passou navalha pela minha cabeça, porque sou nazireu de 
Deus desde o ventre de minha mãe; se viesse a ser rapado, ir-
se-ia de mim a minha força, e me enfraqueceria, e seria 
como qualquer outro homem. 
Vendo, pois, Dalila que já lhe descobrira todo o seu coração, 
mandou chamar os príncipes dos filisteus, dizendo: Subi esta 
vez, porque agora me descobriu ele todo o seu coração. E os 
príncipes dos filisteus subiram a ter com ela, trazendo com 
eles o dinheiro. 
Então ela o fez dormir sobre os seus joelhos, e chamou a um 
homem, e rapou-lhe as sete tranças do cabelo de sua cabeça; 
e começou a afligi-lo, e retirou-se dele a sua força. 
E disse ela: Os filisteus vêm sobre ti, Sansão. E despertou ele 
do seu sono, e disse: Sairei ainda esta vez como dantes, e me 
sacudirei. 
Porque ele não sabia que já o Senhor se tinha retirado dele. 
Então os filisteus pegaram nele, e arrancaram-lhe

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