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FAMIG - FACULDADE MINAS GERAIS ANTROPOLOGIA E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO BELO HORIZONTE / MG 2020 ANTROPOLOGIA E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO Trabalho de Antropologia Jurídica BELO HORIZONTE / MG 2018 SUMÁRIO 1 A ANTROPOLOGIA E O DIREITO .............................................................. .…5 2 AS SOCIEDADES E O DIREITO..................................................................... 9 3 O HOMEM EM SOCIEDADE E A INFLUÊNCIA DO DIREITO. FAMÍLIA E COSTUMES: AS TRANSFORMAÇÕES.................................................................. 12 4 A RELIGIÃO E SUA INFLUÊNCIA NA VIDA E NO DIREITO............................15 5 CONCLUSÃO .............................................................................................. …18 6 CONCLUSÃO .............................................................................................. …18 7 REFERENCIAS ...............................................................................................19 5 1 A ANTROPOLOGIA E O DIREITO Para se fazer uma análise da antropologia no âmbito do direito, religião e na sociedade, é necessário que a Antropologia seja conceituada em todas as suas percepções. Dito isto, a Antropologia é a ciência que estuda o ser humano social, biológica e culturalmente, onde cada uma destas áreas possui uma abrangência única. A função do profissional do direito é adequar um determinado problema à norma, para que com isso possa ser possível a analise do problema, adequação na norma, considerando as questões relevantes, que são a religião e a cultura pra que o fato em questão seja adequado à norma de forma certa. Neste sentido, Reale afirma: O direito é uma ciência de cultura normativa e direta que tem o objetivo de buscar o que ocorreu no fato e adequar a vida social com o intuito de postular um fim, fazendo isso por meio das regras e normas, que em última recorrência é a justiça. Desta maneira, em diversas sociedades com diversas culturas pode ocorrer de antagonismos entre seu entendimento entre Justiça e Direito, e, desta forma, uma lei aplicada de forma correta em um local pode não atingir os mesmos efeitos em outro lugar, e neste caso acaba se impondo à necessidade de conhecimento sobre cada sociedade, sobre os mais aspectos variados. (REALE, 2002, p. 45-46) No Brasil, a diversidade cultural é alta e por este motivo é muito comum ocorrer vários entendimentos a respeito da Antropologia, pois devido a essa diversidade cultural, consequentemente há varias formas de vida e com isso as opiniões e entendimentos são as mais variadas. Por exemplo, o que no Sudeste do País é considerado crime, no Nordeste pode não ser considerado o mesmo, e tudo isso se deve ao entendimento diverso e com isso a aplicação da norma varia. Resumindo, o que uma sociedade entende como justo outras sociedades entendem como injusto. A Antropologia, em todos os sentidos, objetiva a analise do ser humano de todos os pontos de vista, desde sua formação biológica até a sua formação cultural, que são: crenças, costumes e seu comportamento). Tal analise tem a finalidade de fazer justiça, e segundo o autor Cavaliere Filho (1998) “as normas 6 têm obrigação de atingir os resultados esperados e elaborar os efeitos também desejados, onde os efeitos devem ser adequados à realidade a qual serão inseridas”. Com isso é possível afirmar que a Antropologia é a base para que a justiça ocorra, e com isso haja a ampliação da visão em relação a sociedade e a ciência. Ainda, é possível afirmar que através da Antropologia e a importância que esta ciência impõe sobre o Direito é uma brecha para que a analise do ser humano seja mais ampla sobre um fato ocorrido, e com isso seja possível compreender um fato claramente buscando sempre a melhor norma para adequação, e, ainda, que seja possível aplicar o direito e colocar a responsabilidade social nos indivíduos considerando sempre o todo. Uma análise antropológica permite que a individualização possa ser deixada de lado e que haja novamente a responsabilidade social de cada indivíduo. A mudança começar com a intenção de o ser humano querer mudar a sociedade em que vive. Neste sentido afirma Santos: Visados partindo do alto do drama, os direitos humanos não são completos e isso porque, ao mesmo tempo, não estabelecem ligação entre os indivíduos e o todo, ou seja, na medida em que se centram no que é meramente derivado, os direitos, em Vez de se centrarem no imperativo primordial, o dever dos seres humanos de encontrarem o seu lugar na sociedade e no todo. (SANTOS, 2008) Ainda neste enfoque, afirma também Farah e Valente (2005): Recoloca-se, nesta discussão, a problemática central abordada na Antropologia, onde pensar na humanidade formada por indivíduos que compartilham uma mesma e única natureza e veem isto como uma única coisa; por outra visão, entender e conceituar a natureza humana em relação à diversidade sociocultural produzida com sua marca de distinção e necessidade. (JUSNAVEGANDI, WEBSITE) 7 Contudo, qual a relação da Antropologia com o Direito? Um dos motivos para que o Estado exista é que este é responsável pela proteção, garantia de vida e considerado protetor da sociedade. Portanto, o Direito por ser um dos principais e mais importantes meios, é o responsável por dar legalidade para que o Estado possa exercer sua função quanto instituição do país. As normas e regras jurídicas servirão de norte para garantir que a sociedade viva em harmonia. Diante de todo o exposto, ao analisar o caminho que a Antropologia percorreu no Brasil, é inevitável perceber o processo de institucionalização ao longo do século XX, onde neste período que foram criadas e fundadas as Escolas de Sociologia e Universidades pelo país. Em relação a Antropologia no Brasil, discorre Melo (1999) a respeito: Ainda que a história da antropologia no Brasil recue ao final do século passado, com as pesquisas do médico baiano Nina Rodrigues, é usual ressaltarem, em sua cronologia, alguns marcos: o desenvolvimento da etnologia indígena – Darcy Ribeiro foi o fundador do Museu do Índio –; a publicação de Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, em 1993, inaugurando a chamada “antropologia da sociedade nacional”; o trabalho desenvolvido no Museu Nacional, a partir dos anos 30, por Luiz de Castro Faria e outros antropólogos; a reunião de fundação da Associação Brasileira de Antropologia – ABA, em 1953; e, por fim, a criação do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, em 1968. (Melo, 1999, p. 214). Com isso, é possível afirmar que o olhar para a Antropologia e a Educação e por consequência com o Direito deve ser analisado e percebido com uma visão diferenciada e deve ser entendida pelos profissionais do direito de forma clara. Para que a influencia da Antropologia seja notada no âmbito do Direito é preciso que, a priori, seja analisada a própria Constituição Federal do Brasil como foco especifico para a criação de tudo o que será estudado ao longo deste artigo, e consequentemente a criação das Escolas ao longo do século XIX. De acordo com Saviani (2011) “a formação dos campos pedagógicos no Brasil está diretamente ligada às ações jesuítas no Brasil e também das Igrejas Católicas da época”. 8 Somente após várias reformas, dentre elas merecendo destaque a reforma pombalina, o ambiente sofreu suas modificações, e isso foi possível devido as aulas régias da época. Ainda neste sentido, Saviani afirma ainda que “se contrapõem ao predomínio das ideias religiosas,e com base nas ideias laicas inspiradas no iluminismo, instituem o privilégio do Estado em questão de instrução”. (Saviani, 2011, p. 114) A Antropologia jurídica foi criada como uma das espécies da Antropologia Cultural e Social e surge no momento em que começam a surgir questionamentos sobre a eficácia das regras e, com isso, da existência do Direito. Portanto, assim como a Antropologia tem o objetivo de estudar e analisar o ser humano em suas diferenças, ou seja, estuda o indivíduo em seu caráter biológico, cultural e social, também busca no Direito explicar e analisar as normas. Segundo Reale: O profissional do Direito, antes de expor a problemática da norma, que é uma problemática de tomada de posição diante do fato, deve ser habilitado e analisar diretamente realidade social e a esclarecer a realidade social e explicar os seus elementos e processos, de acordo com a Sociologia e a Psicologia. (REALE, 2002, p. 264) Contudo, é preciso que haja uma análise antropológica para ampliar a dimensão mundial, garantindo a compreensão de natureza teológica sobre a aplicabilidade da norma ao fato. Diante disso, e ainda de acordo com Reale (2002) o Direito é uma ciência baseada na cultura normativa e direta que visa no que acontece de fato na vida em sociedade colocar um fim a ser alcançado. Desta maneira, afirma ainda Valente e Farah (2005): No meio de estudo da Antropologia é possível desenvolver um trabalho produtivo, principalmente no âmbito jurídico, ou seja, o campo do Direito, que muitas vezes não possui sensibilidade para mudanças nos direitos universais e de autodeterminação. O que não deixa de ser uma busca complexa e que deve ser enfrentada mesmo assim. (JUSNAVEGANDI, WEBSITE) 9 Concluindo, a importância da Antropologia para o Direito é muito forte e serve para aumentar a dimensão do mundo com o intuito de entender que não existem culturas superiores ou inferiores, e sim diferentes, que ao longo do tempo e espaço irão variar e o entendimento de que o que é diferente não pode causar desigualdade e que desta forma o Direito possa exercer sua função e papel na história. 2 AS SOCIEDADES E O DIREITO O ser humano somente consegue viver em sociedade e com isso surgem relações com outras pessoas, e estas relações, assim como qualquer outra, está propicia a conflitos, e o papel no direito quando isso ocorre o Direito se encarrega de resolver esses conflitos. E é por este motivo que surgiram as normas no Direito, para que seja possível acabar e resolver problemas que venham a surgir. Portanto, a função do Direito é organizar a sociedade e preservar sua função, evitando que conflitos sejam solucionados de forma involuntária, pois o indivíduo, por viver em sociedade, torna-se subordinado às normas criadas pelo homem. Ao longo deste capítulo serão apresentadas visões de filósofos, autores e pensadores que possuem opinião formada a respeito da sociedade e o direito. Partindo do filosofo Aristóteles, este afirma que só é possível conhecer a verdade se o homem sentir o mundo, ou seja, a verdade universal não existe e só poderia ser alcançada por meio de observação e explicações detalhadas. Ainda para o filósofo, esta observação a qual fala dever ser feita cautelosamente para que os fatos que acontecem ao longo da vida sejam analisados com prudência. Sobre o indivíduo, afirma Aristóteles em sua obra chamada “A Política”: É obvio que a cidade faz parte das coisas que há na natureza e que o homem é um animal politico de natureza, criado e destinado a viver em sociedade, e quem, institivamente, deixar de fazer parte de uma cidade, é considerado um ser superior ao homem. E por este motivo, este referido homem merece a censura cruel de ser um sem família, 10 sem lar e por isso sem leis. Pois este homem é ávido de combates, e como as aves de rapina, não é capaz de ser submetido a qualquer obediência imposta a ele. (ARISTÓTELES, 2010, p. 13) Portanto, o que há de diferente entre um homem e um animal é que o homem é considerado um bicho político, isto é, vive em sociedade e por isso tem o dever de administrar seus objetivos e interesses. Assim como Aristóteles, outro filosofo chamado Thomas Hobbes também discorre sobre o tema em questão, e afirma que existe diferença entre os seres humanos se visto de maneira física e espiritual. Discorre então o filósofo: Não é o bastante considerar que qualquer um pode, baseado nas diferenças, que reclame qualquer que seja o beneficio a que outro indivíduo possa também aspirar. Pois quanto à força corporal o mais fraco tem força o bastante para matar o que se diz o mais forte, seja por meio de conspiração, maquinação ou aliança com outros homens que se vejam também ameaçados. (HOBBES, 2998, p. 74) Esta afirmativa de Thomas Hobbes quer mostrar que o homem realiza contratos com o objetivo de organizar o Estado e a sociedade, fazendo com que houvesse consensos, acontecendo até de abrirem mão de seus benefícios. Além desses dois filósofos, Freud (2009, p. 37) também analisou o individuo e a sociedade e afirmou que o indivíduo é definido como “membro de um povo, tribo, classe ou instituição ou como elemento de um grupo de pessoas que, em um dado momento tem objetivo de se organizarem em um todo”. No entanto, se a sociedade tem como base a justiça, e, portanto, o Direito, para que seja possível realizar a analise entre o Direito e a sociedade é preciso saber o conceito de justiça. Segundo dicionário Aurélio: Justiça é a particularidade do que é justo e correto, como a respeito à igualdade de todos os cidadãos. [...] é o principio básico que mantém a ordem social através da preservação dos direitos em sua forma legal. [...] a justiça pode ser reconhecida por mecanismos automáticos ou intuitivos nas relações sociais, ou por mediação através dos tribunais. (AURÉLIO, 2018) 11 Ainda a respeito de justiça, Aristóteles em sua obra “Ética a Nicômacos” discorre o seguinte: A justiça é a observância do meio turno, contudo não de forma igual à observância de outras formas de excelência moral, e sem porque ela se relaciona com o meio turno, enquanto a injustiça se relaciona com os extremos. E a justiça, portanto, é a qualidade que nos permite afirmar que um indivíduo está predisposto a fazer, por livre espontânea vontade, aquilo que é justo. [...] A justiça por outro lado, está relacionada identicamente com o injusto, que é excesso e falta, contrário à proporcionalidade, do útil ou do nocivo. (ARISTÓTELES, 1999, p. 101) Contudo, a maneira errada de utilizar o Direito pode acabar com os direitos humanos. Isso porque, na época da 2ª Guerra Mundial várias pessoas foram mortas e presas por serem diferentes, sejam judeus, homossexuais, etc.; isso ocorreu porque na época, após os nazistas terem perdido a guerra, os alemães fizeram uso da própria lei para julgar e condenar pessoas inocentes. Isso quer dizer que a lei deve ser usada de maneira correta e com isso haverá justiça. A função do Direito é punir qualquer ato considerado errado ou criminoso, porém isso não significa que o Direito irá impedir que esses fatos ocorram. Os atos que ocorrerem contra a lei irá sofrer punição pela própria lei. O objeto deste procedimento é a proteção da sociedade. O Direito, portanto, é uma criação do ser humano e da sociedade, e o direito tem o objetivo de levar a justiça à sociedade, e se não houver sociedade consequentemente não haverá Direito e sem ele não teria ordem na sociedade. Diante deste contexto, discorre sobre o tema Dalmo de Abreu Dallari: A vida em sociedade apresenta notórios benefícios ao homem, porém, por outro lado, favorece a criação de uma série de limitações que, em certos momentos e em certos lugares, são de tal maneira numerosas e frequentes que chegam a prejudicar seriamente a própria liberdade humana. (DALMO,1971, p. 7) Nesse mesmo sentido, Alysson Mascaro também discorre sobre o tema da seguinte forma: O direito é uma maneira normativa e isso se deve, pois, os Estados têm a função de garantir a reprodução social tornando-se diferentes dos que dominam a sociedade, politicamente falando. Contudo não é 12 a norma que fez surgir o direito. A norma é uma maneira para que o direito se exprima, mas a forma de sua constituição e de sua operacionalização advém diretamente de estruturas sociais concretas. (ALYSSON, 2013, p. 66) Ainda segundo o autor: O direito é um fenômeno histórico, no decorrer de sua evolução houveram várias interpretações. Se os antigos romanos chegavam a dizer que o direito é uma arte, no mundo moderno não se diz o mesmo, porque o direito agora está mergulhando em formas sociais necessárias e procedimentos já impostos no começo. Desta maneira, se houvesse a tentativa de abordar fenômenos diferentes a ciência iria ficar prejudicada. (ALYSSON, 2013, p. 32) Diante de tudo o que foi exposto a conclusão que se chega é de que o Direito anda de mãos dadas a sociedade, não somente pelo fato do homem ter criado o Direito, mas pelo fato de a sociedade depender das normas e suas punições para que vivam em harmonia e que injustiças não aconteçam. 3 O HOMEM EM SOCIEDADE E A INFLUÊNCIA DO DIREITO. FAMÍLIA E COSTUMES: AS TRANSFORMAÇÕES Existem duas fontes do direito, que são as formais e as materiais, onde na primeira são constituídas pelas regras, normas e leis que controlam a sociedade, e todas essas normas vem das fontes materiais, ou seja, da positivação. De acordo com Nelson Rosenvald e Cristiano Farias: a família vai além das atividades naturais e biológicas, ou até mesmo de fenômenos culturais que podem ser classificadas até mesmo como as escolhas profissionais e afetivas, e tudo isto faz com que a família ultrapasse os limites e os laços de sangue ou parentesco; a família é, portanto, aquela que guia o individuo durante toda a vida e em momentos de escolhas e vivencias. (ROSENVALD, FARIAS, 2011, p. 517) Ainda neste sentido, os autores confirmam a teoria de que não pode haver uniformidade no âmbito familiar, pois não existe mais o conceito antigo de pai, mãe e filhos. Desta forma afirmam os autores: 13 É obvio que a multiplicidade e variedade de fatores não aceitem que seja fixado um modelo familiar e uniforme, sendo importante compreender a família levando em consideração os movimentos que levam à constituição das relações sociais no decorrer da vida. Os novos valores que norteiam a sociedade contemporânea sobrepujam e acabam, de forma definitiva, com a visão da família tradicional. A visão da família moderna é de um modelo descentralizado, democrático, igualitário e desmatrimonializado. (ROSENVALD, FARIAS, 2011, p. 517) Portanto, a Constituição Federal conceitua família como a base de toda sociedade e afirma ainda que a proteção da família deverá ser assegurada pelo Estado. Neste âmbito, Costa Junior (1999, p. 27) afirma que “a família alcança não só o marido e a mulher, que são unidos pelo casamento civil ou religioso, nas formas da lei, e os filhos, mas a família agora também se configura como união estável entre o homem e a mulher, que também constituem uma entidade familiar”. Contudo, desde a Constituição de 1988 a união estável já era reconhecida e aceita nos moldes do artigo 226, parágrafo 3º da Constituição, onde nela se afirma que “para efeito da proteção por parte do Estado, a união estável entre o homem e mulher é reconhecida e aceita como entidade familiar, e a lei, por este motivo, deve facilitar a conversão em casamento.” O que se quer fazer entender é que mesmo antes de existir a união estável nas normas da Constituição, e assegurados seus deveres e direitos, esse modo de comunhão já existia e já era vivida pela sociedade, pois somente a partir de tais transformações que haverá a regulamentação. Isso se deve também aos costumes e hábitos das sociedades que levaram o legislativo a realizar mudanças que beneficiassem e assegurassem mais ainda os cidadãos. De qualquer modo, a família sempre será considerada como uma instituição sagrada e necessária na sociedade e que sempre irá ter a ampla proteção do Estado. A Constituição, juntamente com o Código Civil afirmam e estabelecem a estrutura da família, porem sem a definir, pois como já visto não a conceito de família, pois no próprio meio do Direito a família tem uma extensão grande e 14 seus conceitos variam conforme o contexto que está sendo analisada. (GONÇALVES, 2010, p. 17) Ainda neste molde, Gonçalves vê de forma normativa o direito de família e discorre sobre os direitos de família como sendo os que são constituídos pois uma determinada pessoa faz parte de uma determinada família, que pode ser o cônjuge, mãe, filho, pai. De acordo com esse pensamento o autor discorre: Em conformidade com o seu objetivo e finalidade, as normas que possui o direito de família algumas vezes regulam as relações pessoais entre os cônjuges e em outros momentos entre os ascendentes e os descendentes ou até mesmo entre os parentes que não estão na linha reta de parentesco; em alguns momentos o direito regula também as relações patrimoniais que são desenvolvidas ao longo das relações na família; relações pessoais, assistenciais e patrimoniais são, desta forma, os três setores em que o direito de família atua. (GONÇALVES, 2010, p. 18) Contudo, antropologicamente falando, Luiz de Mello (2009, p. 326) afirma que é muito corriqueiro a não percepção dos laços que unem o marido e mulher não são necessariamente oriundos de laços sanguíneos, e podem ser laços de afeto ou afinidade que façam unir o matrimonio. Uma das bases da Antropologia é o conceito de cultura e este passa a ser discutido. Os antropólogos, em meados do século XX passam a questionar a visão ocidental dos que são considerados agora os civilizados e superiores culturalmente. Essa reformulação, por sua vez, começa a atingir não do o meio acadêmicos e sim busca combater a visão antiga de cultura. De acordo com o antropólogo Roberto da Matta é muito corriqueiro a associação direta entre a cultura e os individuo culto do erudito. Ainda segundo Roberto: Cultura aqui é equivalente a volume de leituras, a controle de informações, a títulos universitários e chega até mesmo a ser confundido com inteligência, como se a habilidade para realizar certas operações mentais e lógicas (que definem de fato a inteligência) fosse algo a ser medido ou arbitrado pelo número de livros que uma pessoa leu, às línguas que pode falar, ou os quadros e pintores que pode, de memória, enumerar. Nesse sentido, cultura é uma palavra usada para classificar as pessoas e, às vezes, grupos sociais, servindo como arma discriminatória contra algum sexo, idade, etnia, ou mesmo sociedade inteiras. (DA MATTA, 1986. p. 122). 15 Ainda neste raciocínio do antropólogo, o autor dispõe: O conceito de cultura, ou a cultura como conceito, permite uma visão mais consciente do próprio ser humano. Especificamente por dizer que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente existiam sociedades piores e melhores. Mesmo diante de formas culturais aparentemente irracionais, cruéis ou pervertidas, existe o homem e entendê-las é uma tarefa que é inevitável e que faz parte da condição do ser humano e viver em um universo marcado e demarcado pela cultura. Em outras palavras, resumidamente, a cultura permite que seja traduzido melhor a divergência entre o nós e os outros e, assim fazendo, devolver a nossa humanidade no outro e a do outro em nós mesmos. (DAMATTA, 1986, p. 127). Diante deste exposto, a cultura se torna uma grande criadora de muitas relações da vidasocial, e tais formas nem sempre serão percebidas no cotidiano, vez que ela modela as ações e certas formas de relações sociais que são impostas por alguns grupos ou certas sociedades. 4 A RELIGIÃO E SUA INFLUÊNCIA NA VIDA E NO DIREITO Muito antigamente, os grupos religiosos romanos afirmavam a respeito das religiões como um culto dos espíritos dos mortos e forças sobrenaturais. Com a evolução da sociedade, o que antes era uma religião domestica evoluiu para uma religião na cidade, e todas os cultos e manifestações religiosas que antigamente eram realizadas nas casas de forma discreta, passa a ser realizada em locais públicos e formais. Com isso os cultos começam a ser realizados pelos sacerdotes que foram formados em escolas especificas para essa finalidade. Os sacerdotes eram divididos em três categorias, chamados augures, que interpretavam a vontade dos seus deuses pela visão da natureza ou da leitura dos presságios. Outra espécie eram os flâmines, que tinham a função de se preocupar com o culto individual de cada deus. E por fim a terceira espécie era os feciais, que pediam aos deuses somente uma boa relação de exteriores em Roma. 16 Muito antigamente, por volta do século V a.c. a justiça era de uso exclusivo e de responsabilidade somente do Colégio dos Pontífices, que era na época uma instituição religiosa e aristocrática e que eram constituídas somente por patrícios e que fossem descendentes de fundadores de cidades que obtinham o conhecimento, interpretação e que soubesse aplicar realmente o direito. Nesta época o direito e a religião não eram vistas de maneira diferente, contudo o processo que faria a separação do que é direito e o que é religião foi muito demorado e com isso muitos aspectos culturais ainda eram muitos fortes enquanto essa separação não acontecia. Foucault (1996) afirma que na sociedade antiga, o juramento era uma forma própria de construir a verdade, de estabelecer a verdade jurídica, portanto. O Direito e Religião nesta época ainda poderia ser analisada e vista em alguns institutos jurídicos. Um deles é o casamento religioso que produz efeitos civis, e no Direito Civil o casamento religioso é considerado também casamento civil, e para isso deve ser estabelecido em um registro próprio e deve produzir efeitos desde a sua celebração, assim exposto no artigo 1.515 do Código Civil. Alguns autores afirmam que para que o casamento religioso gere efeitos deve ser celebrado e oficiado por ministros de confissão religiosa. Venosa é um dos autores que pensam desta maneira e afirma que: Não se admite que um casamento religioso seja celebrado em um terreiro de macumba, centros espiritas, seitas de umbanda ou qualquer outro meio de crendice popular, que não gerem a configuração de seita religiosa reconhecida como tal. (PEREIRA in VENOSA, 2006, p. 32) O alto índice de complexidade social com influência do intercâmbio cultural e das migrações acaba revelando que o Brasil apresentas várias religiões e que a Constituição Federal alcança todas essas religiões existentes. Com isso é possível afirmar que o que a Constituição Federal não restringe em relação ao casamento, o Código Civil também não pode fazer. Assim como a religião cristã, é preciso considerar a existência de muitas outras como: a mulçumana, judaica, umbandista e etc., e com isso é preciso também 17 observar e compreender as manifestações religiosas de modo geral, pois até os índios tem o direito de se manifestarem e seu ritual de casamento deve ser aceito. Certas ações do judiciário já estão caminhando para esta direção, como pode ser visto na seguinte passagem: Antônio Francisco Pereira (Juiz federal de Belo Horizonte) sobre os Sem-Terras: ‘E aqui estou eu, com o destino de centenas de miseráveis nas mãos. São os excluídos, de que nos fala a Campanha da Fraternidade deste ano. Repito, isto não é ficção. É um processo. Não estou lendo Graciliano Ramos, José Lins do Rego ou José do Patrocínio. Os personagens existem de fato. E incomodam muita gente, embora deles nem se saiba direito o nome. É Valdico, José Maria, Gilmar, João Leite. Só isso para identificá-los. Mais nada [...] Ora, é muita inocência do DNER se pensa que eu vou desalojar este pessoal, com a ajuda da polícia, de seus moquiços (casebres), em nome de uma mal arrevesada (obscura) segurança nas vias públicas [...] Grande opção! Livra-os da morte sob as rodas de uma carreta e arroja-os (lança-los) para a morte sob o relento e as forças da natureza. Não seria pelo menos mais digno – e menos falaz – deixar que eles mesmos escolhessem a maneira de morrer, já que não lhes foi dado optar pela forma de vida?’ (MARTINEZ, 2004, p. 38). No Brasil é necessário a implantação de uma República democrática com todas as suas consequências e isso levaria a construção de um Estado de Direito efetivo. A forma com que o Estado se comporta em algumas situações faz o individuo acabar se afastando da igualdade, pois este começa a se sentir mais importante do que os outros, e desta forma acaba considerando e afirmando que é um ser que está acima da lei. Negar o formal é a fundamental característica de quem não segue o Direito e as leis criadas por Ele. (MARTINEZ, 2004). É inegável, porém que seja percebido nas normas jurídicas algumas regras que possuem o mesmo fundamento das regaras vigentes nas Leis sagradas. No direito hebreu, por exemplo, as regras podem ser encontradas também. Contudo, essas singularidades sociais e culturais só começam a ganhar definições na ciência entre os séculos XVIII e XIX, e será neste período que a Antropologia irá ter outras explicações teológicas, artísticas, filosóficas e mitológicas. A priori, a Antropologia tem como objetivo entender as sociedades 18 que são consideradas primitivas, aquelas que estão fora das sociedades europeia e norte-americana. E, com isso, é por meio do olhar ocidental e etnocêntrico que a sociedade passará a ser vista. Nestes termos, alude Laplantine: as sociedades que são analisadas pelos primeiros antropólogos são sociedades longínquas às quais são atribuídas as seguintes características: sociedades de dimensões restritas; que tiveram poucos contatos com os grupos vizinhos; cuja tecnologia é pouca desenvolvida em relação a nossa; e nas quais há uma menor especialização das atividades e funções sociais. (LAPLANTINE, 2003, p. 14-15) No século XX, devido a grande expansão da civilização ocidental nas outras regiões do mundo, a Antropologia passa a ser encarregada de mudar o ponto de vista que as sociedades ainda tinham do “selvagem”, porém essa visão ia sendo apagada com a expansão da civilização ocidental. Dito isto, a religião sempre foi uma fonte de conteúdo, e até os dias de hoje reflete discussões em tribunais e muitos outros aspectos. A liberdade religiosa, portanto, é trada pela Constituição Federal de 1988 e é vista como um grande avanço na democracia que visa garantir o direito do indivíduo. O judiciário ainda apresenta muita dificuldade em decidir questões que abordem a liberdade de religião da sociedade e com o tempo construíram autonomia em relação a este assunto. 5 CONCLUSÃO O presente artigo buscou abordar temas da antropologia e relaciona-la com temas como a religião, sociedade e o próprio indivíduo. Mediante pesquisas em sites, bibliografias disponibilizadas e percepções de vários pensadores e autores a respeito do tema. Ao longo do artigo trabalhado foi possível analisar que o direito que teve início após a 2ª guerra mundial conseguiu permitir a criação de um movimento de expansão do Estado, que acabou por influenciar que na sociedade fosse possível a garantia de uma vida digna para vários grupos de sociedade que anteriormente eram vistos como “inferiores”. A Antropologia teve uma influencia 19 enorme, pois foi através dela que agarantia de uma vida digna pode ser sustentada e preservada e com isso os profissionais do Direito puderam começar a determinar ligações certas e devidas entre a universalidade das leis as particularidades existentes. No âmbito nacional, foi notado que a Constituição Federal de 1988 foi uma opção e tentativa de iniciar a prática de um movimento que interfira antropologicamente e internamente no âmbito jurídico do país. Contudo, isto não significa que haja uma ausência das divergências, pois afinal de contas a instituição, ou seja, o Estado, é representante dos interesses e de qualquer maneira e toda mudança é visível para todos os que foram antigamente criminalizados, descriminados e perseguidos por isso. Foi possível também analisar e perceber que apesar o Estado seu um país laico, no que se refere aos direitos e deveres do ser humano, não é possível questionar sobre a importância que a religião interfere sobre o cotidiano do indivíduo. No quesito religião ainda, foi possível entender que por mais que a Igreja Católica ainda seja muito presente entre a sociedade e ainda sirva de norte para muitos indivíduos e grupos, o país já consegue conviver e respeitar que há variadas formas de religião e que elas devem ser tratadas de forma igual e asseguradas seus direitos pelo Estado. REFERENCIAS ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos: Brasília: UnB, 1999. BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. CAVALIERE FILHO, Sérgio. Você conhece Sociologia Jurídica? Rio de Janeiro: Forence, 1998. DALLARI, Dalmo. Elementos da Teoria Geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 1979 20 FREUD. Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu. Trad. Renato Zwick. 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