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UNIVERSIDADE PAULISTA LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA ANA LETÍCIA DA SILVA GUILHERME ARAUJO DOS SANTOS KISSIA THAIS CHAVES DA SILVA JAMILLE CHRISTINA FARIAS LIRA MARCOS DOS SANTOS SILVA MARCELO RAMOS DE SOUZA RAIQUE DA SILVA E SILVA REGINALDO RODRIGUES PAIXAO O DESAFIO DO PROFESSOR DO GÊNERO MASCULINO EM EDUCAÇÃO INFANTIL NA CIDADE DE SANTARÉM SANTARÉM 2019 ANA LETÍCIA DA SILVA GUILHERME ARAUJO DOS SANTOS KISSIA THAIS CHAVES DA SILVA JAMILLE CHRISTINA FARIAS LIRA MARCOS DOS SANTOS SILVA MARCELO RAMOS DE SOUZA RAIQUE DA SILVA E SILVA REGINALDO RODRIGUES PAIXÃO O DESAFIO DO PROFESSOR DO GÊNERO MASCULINO EM EDUCAÇÃO INFANTIL NA CIDADE DE SANTARÉM Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Paulista – UNIP, como requisito obrigatório para cumprimento do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia. Orientadora: Prof.ª Simone Santana. SANTARÉM 2019 FOLHA DE APROVAÇÃO O DESAFIO DO PROFESSOR DO GÊNERO MASCULINO EM EDUCAÇÃO INFANTIL NA CIDADE DE SANTARÉM Aprovado em: _______________ Banca Examinadora: Prof.ª Orientadora: _____________________________/___/___/______ Prof.ª Simone Santana Universidade Paulista – UNIP Banca Examinadora: _____________________________/___/___/______ _____________________________/___/___/______ _____________________________/___/___/______ DEDICATÓRIA Dedicamos nosso Trabalho de Conclusão de Curso a todos os familiares e amigos que nos incentivaram nessa caminhada. Sabemos que não seria fácil, porém cada esforço foi pensando em um futuro melhor. AGRADECIMENTO Agradecemos em primeiro lugar a Deus, por ser a base de todas as conquistas alcançadas na vida. À nossa orientadora Simone Santana que nos orientou de maneira positiva e decisiva, e esteve conosco na busca pelo conhecimento enquanto acadêmicos. Aos que acreditaram em nosso potencial e estiveram somando conosco para a realização desta etapa de nossa vida. Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação. (Paulo Freire) SUMÁRIO RESUMO .......................................................................................................... 7 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 8 1. CONTEXTO HISTÓRICO ........................................................................... 10 2. O PROFESSOR DO SEXO MASCULINO .................................................. 13 2. 1. A questão salarial ................................................................................ 15 2. 2. O professor e a questão sexualidade .................................................. 16 2. 3. O homem e sua representatividade na família .................................... 18 2. 4. A Escola e o professor do gênero masculino ...................................... 19 3. METODOLOGIA ......................................................................................... 23 3. 1. Resultados .......................................................................................... 24 3. 2. Análise dos resultados da entrevista com acadêmicos UNIP ............. 27 3. 3. Análise dos resultados entrevista com professores ............................ 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 32 7 RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como tema “O desafio do professor do gênero masculino em Educação Infantil na cidade de Santarém” e vem abordar acerca das dificuldades enfrentadas no atuar do professor na Educação Infantil. Sabe-se que nos dias atuais são poucos os professores do sexo masculino exercendo sua pedagogia em salas de aulas infantis. A prática do ensinar dedicada ao infantil é uma área profissional exercida em maioria por mulheres no Brasil e isso também ocorre em outros países no mundo como Alemanha, Estados Unidos, Israel entre outros. Como em todos os setores profissionais se encontram dificuldades, no ramo educacional não seria diferente. Existe em grande parte um perceptível receio com relação ao professor do sexo masculino. Com esse tema em mãos podemos dizer que é complexo falar sobre este assunto pois envolve muitas áreas e muitos dilemas que são poucos discutidos na sociedade. Em nossa abordagem realizamos entrevistas com alunos da Universidade Paulista-UNIP, para identificar se estes já sentem alguma dificuldade na área pedagógica relativa ao tema. Também questionamos professores acerca de pré-julgamentos encarados no cotidiano educacional. No primeiro capítulo trazemos um breve contexto histórico acerca de como surgiram as primeiras instituições infantis. No segundo capítulo, relatamos as experiências e análise do que foi colhido juntos aos alunos e professores entrevistados. Com esta interpelação, visamos repassar que este profissional do gênero masculino é uma peça imprescindível no campo da educação de modo geral, mas em especial na Educação Infantil. Internalizar esse profissional como educador e transmissor de conhecimento fará com que o preconceito atual e os prejulgamentos sejam excluídos da sociedade e das futuras gerações. Palavras-chave: Infantil; professor; masculino; preconceito; prejulgamentos. 8 INTRODUÇÃO Esta pesquisa é de grande relevância pois aborda especificamente quanto à competência do professor do sexo masculino atuando na Educação Infantil, vindo a levantar a questão da segregação de gêneros dentro da atuação em diversos campos profissionais. Tomamos como campo de estudo a cidade de Santarém. É muito importante falar sobre esta problemática, tendo em vista que culturalmente somos levados a fazer diferenciação sobre o que o homem e a mulher podem ou não fazer. E no campo profissional não é diferente. No entanto, sabe-se que a busca do conhecimento, através de estudos e pesquisas pode ajudar a romper barreiras preconceituais, levando a uma sociedade mais justa e igualitária. A prática do ensinar dedicada ao infantil tornou-se com o passar dos anos quase que totalmente preenchida por mulheres, isso ocorreu de forma natural e devido a vários fatores históricos que delinearam para essa realidade. Esse fenômeno ocorreu no Brasil assim também com em outros países no mundo a partir do século XIX, como Alemanha, Estados Unidos, Israel entre outros. Pontua Vianna: Assim, desde o século XIX, pouco a pouco os homens vão abandonando as salas de aula nos cursos primários, e as escolas normais vão formando mais e mais mulheres. Essa característica mantém-se por todo o século XX, estimulada, sobretudo, pelas intensas transformações econômicas, demográficas, sociais, culturais e políticas por que passa o país e que acabam por determinar uma grande participação feminina no mercado de trabalho em geral. Tendência, aliás, observada também em muitos outros países11, inclusive da América Latina, entre eles Uruguai,Venezuela, México e Brasil (VIANNA, 2001, p. 85). Considerando a estimativa da ausência de pessoas do sexo masculino atuando em Educação Infantil, esta pesquisa vem propor um questionamento acerca desta realidade, levando a refletir quais os motivos que contribuem para que homens não se interessem em atuar nesta fase da educação de crianças em sala de aula, e se este desinteresse é próprio do homem ou reflexo do que a comunidadeescolar anseia. Quando se fala em Educação Infantil, vem logo em nossa mente, que as crianças vão ser educadas e cuidadas por uma professora porque os olhos estão totalmente voltados para elas. Só que não era para funcionar dessa forma, a oportunidade de atuação na área ofertada devia ser de igualdade perante homens e mulheres. 9 Pensa-se que um professor, não dará conta de educar e cuidar de uma criança, e até ter o mesmo cuidado que uma professora teria, não levando em conta a capacidade e o querer de cada um. Na docência masculina sempre há questionamentos se este terá os mesmos cuidados como atenção, afetividade e sensibilidade que as professoras e mulheres naturalmente têm com crianças. Sabemos que essa desigualdade ou falta de oportunidade inicia no estágio, quando o professor está procurando uma escola para estagiar, onde recebe várias negativas enquanto que as mulheres têm mais facilidade de aceitação. A dificuldade em conseguir estágio em Educação Infantil leva muitos aspirantes da Pedagogia a estagiar somente em anos iniciais, por ser mais fácil a aceitação da escola, deixando de lado a experiência na Educação Infantil. Esse preconceito pode ser desconstruído e aos poucos trabalhado um novo conceito que irá fazer com que as pessoas tenham um pensar diferenciado sobre ele. Através desta problemática almejamos desmistificar a ideia de que o homem não é um candidato de qualidade para atuar na Educação Infantil, buscando atenuar quaisquer tipos de segregação de gêneros, sexismo, preconceitos, estereótipos, barreiras que impeçam ou dificultem o ingresso de homens na sala de aula atuando na educação de crianças de 0 a 6 anos. 10 1. CONTEXTO HISTÓRICO Ao longo da história, homens e mulheres desempenharam papéis sociais distintos. A mulher era responsável por realizar as funções domésticas como cuidar dos filhos e educá-los enquanto o homem teria que trabalhar para promover o sustento da família. Ao longo de anos, o cuidar e a educação das crianças estiveram totalmente sob a responsabilidade da família e especialmente da mãe. Com a Revolução Industrial no séc. XVIII, iniciam-se extremas mudanças sociais e econômicas na Inglaterra que refletirão no mundo todo. Neste momento, as mulheres passam a integrar o mercado de trabalho, antes ocupado somente por homens que eram os principais provedores financeiros da família. No Brasil, como no resto do mundo não foi diferente, com a Revolução Industrial ocorreram mudanças na sociedade e as mulheres passaram a ocupar um espaço antes totalmente voltado à homens trabalhadores e vieram a ofertar mão-de- obra para a indústria. A mulher passaria a exercer uma atividade fora do domicílio, o que ocasionaria uma reorganização e mudança na rotina familiar, sendo antes era ela a principal responsável pelo cuidado e educação dos filhos, e agora passaria a ter também outro papel na sociedade em construção. Como algumas mulheres com filhos pequenos, agora operárias, tinham a necessidade de trabalhar e ter que deixá-los em segurança, bem cuidados e em um local adequado, surgiu a questão com relação onde deixar os filhos pequenos quando a mãe saísse para o trabalho. Sabendo as mães que seus filhos estavam bem, isso acarretaria em maior produção e aumento de lucros para as empresas, o que viria a ampliar ainda mais o mercado de trabalho para mulheres. Com o aumento da produção e lucro das empresas, os operários, homens e mulheres, passam a reivindicar um lugar seguro para deixar seus filhos, para poder trabalhar com tranquilidade. Por este motivo e para satisfazer a real necessidade dos trabalhadores, que agora reivindicavam este lugar às indústrias, surgiram as primeiras instituições infantis. No fim do século XIX, surgiu no Brasil a instituição creche decorrente da industrialização e urbanização no país. Nesse contexto, o intuito era liberar a mulher para o mercado de trabalho. As primeiras instituições direcionadas para o acolhimento infantil eram informais, e tinham um caráter assistencialista e geralmente ofertadas pelas fábricas, 11 pois foram criadas para assegurar cuidados que antes eram prestados por suas genitoras. O Estado não era responsável por fornecer recursos ou auxílio para promover uma educação para as crianças, pois estas ainda não estavam incluídas em um sistema educacional. Somente no período republicano é que encontramos referências à criação de creches no país. A primeira delas, vinculada à Fábrica de Tecidos Corcovado no Rio de Janeiro, é inaugurada em 1899, mesmo ano da fundação do “Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro” (CERISARA, P. 476, 2002). A Constituição de 1988 veio trazer a Educação a um outro nível, colocando-a em seu lugar no que diz respeito à importância na construção da sociedade, atendendo aos anseios do cidadão brasileiro. Esta política educacional veio para garantir o acesso à educação para todos, sendo essa de responsabilidade do Estado e da família. A Carta Magna de 1988 é vista como a constituição cidadã, pois vejamos que garante em seu art. 205º o direito à educação: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi aprovado em 1990 veio para reforçar a responsabilidade do Estado e da família em assegurar os direitos da criança e do adolescente, vindo a frisar em seu art. 4º: Art. 4. É dever da família, da sociedade, e do poder público assegurar, com absoluta prioridade a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (ECA, 1990). As Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em sua lei 9.394/96, surgiu com regulamentações nos diversos níveis de educação, garantindo ainda mais o que frisa a Constituição Brasileira nos princípios que dizem respeito à educação. Com relação à Educação Infantil, recebeu uma atenção especial e veio a estabelecer idade e finalidade para este atendimento, sendo esta a primeira etapa da educação básica, vejamos: 12 Art. 29. A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento intelectual da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Art. 30. A Educação Infantil será oferecida em: I – creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II – pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade (LDB, 1996). Formalizada, regulamentada e incluída a Educação Infantil no sistema educacional brasileiro como a primeira etapa da educação básica, o Estado ficou responsável por desenvolver políticas públicas que viessem a oferecer educação de qualidade para crianças em geral. Com a criação das escolas e centros de atendimento para a Educação Infantil, surgiram os educadores infantis. De maneira involuntária o espaço da Educação Infantil foi sendo ocupado por educadoras, em um primeiro momento por se entender ser uma luta de mulheres que ansiavam por um local onde deixariam seus filhos em segurança para ingressarem no mercado de trabalho, e por entender que o papel da educação de crianças pequenas era exclusivamente feminino, por demandar cuidados corporais e atenções que em princípio somente mulheres poderiam atender. Quanto aos requisitos para ser um educador infantil, a LDB informa em seu artigo 62, sobre a formação mínima sendo o curso Magistério para atuar nesta área de educação. Art. 62. A formação de docentes paraatuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal (LDB, 1996). Não podemos deixar de referir que o desejo e a vocação para ser um educador infantil são de grande importância, tendo em vista que para desenvolver o trabalho com louvor este fator é essencial. No entanto, em momento algum a LDB, ou qualquer outro referencial da educação, discrimina ou menciona como requisito que estes educadores sejam exclusivamente do sexo feminino. 13 2. O PROFESSOR DO SEXO MASCULINO Atualmente, as mulheres executam papéis que antes eram atribuídos somente a homens, em contrapartida, homens também desempenham atividades que já foram consideradas exclusivamente femininas tais como organizar a casa, cuidado e educação dos filhos. São poucas as pesquisas direcionadas sobre o estudo da presença do professor na prática da Educação Infantil, no entanto, devido a expressiva ausência do gênero masculino, se faz necessária essa reflexão tendo em vista que contribuiria para a desconstrução de preconceitos, tabus e quaisquer tipos de barreiras culturais sobre este assunto. No entanto, é notório que a cada ano cresce o número de estudantes homens que optam pelo curso de Pedagogia, o que acabará refletindo em uma presença gradativa da figura masculina nas escolas e em salas de aula, até mesmo pela realização de concursos públicos voltados a cobrir vagas destinadas à Educação. Já nas unidades infantis não é isso que vem ocorrendo e há registros do baixo ingresso de professores do gênero masculino nesta modalidade, ainda que muitos optem pelo curso de Pedagogia, têm dificuldade de se inserir no mercado de trabalho por este ser um campo ocupado quase em sua totalidade por mulheres. A expressão “divisão sexual do trabalho” vem sendo utilizada em dois sentidos distintos, sendo que o primeiro refere à distribuição desigual de homens e mulheres no mercado de trabalho, nos ofícios e nas profissões no decorrer do tempo, diferença associada à desigualdade na divisão do trabalho doméstico entre os sexos. No segundo sentido, busca-se revelar a sistematicidade dessas desigualdades no mercado de trabalho, analisando a forma como a sociedade utiliza tais diferenças para hierarquizar as atividades e, consequentemente, os sexos, criando um “sistema de gênero” com enfoque nas relações sociais entre os sexos (MONTEIRO; ALTMAMANN, 2014, p. 20). A Educação Infantil compreende a primeira etapa da educação básica e é dividido em dois ciclos o 1º creche que atende crianças de 0 a 3 anos e 2 º pré- escola que atende crianças de 4 a 5 anos de idade, é o início da infância e essa idade exige uma atenção especial e cuidados específicos. A criança por vezes irá cochilar no educandário, tomar banho, ir ao banheiro e essas necessidades terão que ser auxiliadas pelo professor/cuidador infantil. 14 Falamos sobre a importância da figura feminina na idade escolar infantil, justamente devido a mulher culturalmente representar a forma de afetividade familiar, sendo a mãe uma espécie de transmissora de afeto direto. Gonçalves e Penha apud Araújo e Hammes (2012), em seu estudo sobre “Professor homem na Educação Infantil: o olhar de acadêmicos e alunos egressos do curso de pedagogia” fala sobre a predominância do gênero feminino neste espaço de educação, no entanto em suas pesquisas revela que nem sempre as mulheres atuaram na educação de crianças: A Educação Infantil foi historicamente constituída como espaço de predominância do gênero feminino, sendo que um dos motivos refere-se ao fato de que mulheres há muitos anos serem associadas ao ato de cuidar e educar, conforme Araújo e Hammes (2012). Diante deste pensamento, tal atividade não deveria ser exercida pelo homem. Os referidos autores ressaltam quer no caso da educação de crianças maiores, ou o que atualmente é conhecido como anos iniciais do Ensino Fundamental, a realidade era diferente. Se voltarmos no passado na época Jesuítica percebemos que os educadores eram homens e as mulheres sequer podiam frequentar as salas de aula. Dessa forma não poderia se tornar professoras (PENHA; GONÇALVES, 2015, p. 174). Com a incorporação das mulheres no mercado de trabalho, este gênero foi natural e gradativamente se afirmando no Magistério e tomando de forma predominante o espaço na Educação Infantil. O professor do sexo masculino em busca de seu espaço na docência infantil vem se qualificando para demonstrar que é capaz de preencher os requisitos necessários, e nada impede que este possa estar lidando com crianças sem qualquer tipo de amparo no que diz respeito ao cuidar da criança. Devemos entender como o homem decidiu tornar-se docente em uma escola de Educação Infantil, conhecer as relações de seu gênero durante a jornada de construção social da identidade deste professor tendo em vista que é uma modalidade onde há muito preconceito da escola, dos pais e da sociedade. Os homens vêm buscando espaços profissionais que trazem maiores vantagens financeiras mediante isso as mulheres acabam ganhando o campo educacional. Para as crianças e para os pais o ser professora representa como uma extenção do lar, sendo que assume as práticas habituais do dia a dia. A naturalização da Educação Infantil como espaço feminino acaba por dificultar, a construção da profissão de professor de Educação Infantil. 15 Os homens que escolhem essa modalidade vão encontrando dificuldades na jornada de trabalho, já começando no estágio onde muitos desistem, pelo fato de não ter tido boas experiências, muitos nem ousam em tentar, optam pelo caminho mais viável, que é o da gestão entre outros ramos da Pedagogia. 2. 1. A questão salarial Um dos motivos pelo qual muitos professores do sexo masculino não escolhem a Educação Infantil tem relação quanto à questão salarial, que atualmente ainda é significativamente inferior em comparação à outras profissões. E esse é um dos principais motivos para um menor índice de atuação dos professores do sexo masculino em Educação Infantil. Com a baixa remuneração o profissional acaba se sentindo desmotivado a atuar na área educacional. Como os homens vêm buscando espaços profissionais que possam trazer maiores salários, as mulheres acabam sendo maioria no ramo educacional devido o inferior valor oferecido com remuneração pelo trabalho. Os profissionais do gênero masculina tendem a optar por profissões que resultem em salários mais significativos. Devido a isso, o ser professora representa de certa forma para a sociedade a continuidade das funções domésticas e cuidados fora de casa e, devido o espaço de certa forma cedido pelo homem ao não escolher a Educação Infantil, é “natural” que o espaço infantil seja ocupado predominante pela classe feminina. Os salários são baixos, até mais baixos que o das mulheres, nessa mesma modalidade de educação básica. Para falar a verdade o professor, tanto faz homem ou mulher é desvalorizado na parte salarial, o Brasil ao todo no ramo da educação é precário. Acredita-se que se os salários fossem maiores, as condições de trabalho fossem mais atrativas, quando dizemos em condições, falo quanto à forma de recepção em uma escola nova, a reação das pessoas ao verem um professor homem na sala dos pequeninos seria diferente. Não é só pelo problema financeiro, da baixa remuneração que os homens não buscam o Magistério. Vejo mais como um preconceito, um estereótipo social. Existem homens trabalhando no setor de serviços, às vezes portadores de escolaridade de segundo grau, trabalhando no comércio ou em escritórios que, considerando a sua jornada de trabalho, têm salárioinferior ao das professoras. Não é que eu considere o salário das professoras alto, não há como pensar assim. O problema é que parece, os homens não buscam o magistério porque tradicionalmente, essa é uma 16 profissão vista como feminina, “Lidar com criança é serviço de mulher”, em casa e na escola. É assim que pensam, na nossa sociedade, não só os homens, mas, o que é pior, as próprias mulheres (NOVAES, 1994, p.96). Na Educação Infantil existem paradigmas que não é preciso muito conhecimento, ou seja, menosprezando esse profissional, o fato é, que ser mulher, é saber cuidar de uma criança o suficiente e assim fortalecendo esse vínculo cultural do sexo feminino na Educação Infantil. São muito evidentes as preferências pelo sexo feminino tendo em vista que estão presentes nas escolas de Educação Infantil, e mesmo as escolas ainda sendo predominantemente femininas e os homens tendo preenchido pouco espaço, há uma grande necessidade de visibilizar essas questões. 2. 2. O professor e a questão sexualidade Quando um professor do sexo masculino assume uma sala de aula, principalmente da Educação Infantil precisa mostrar para a instituição e para os pais sua competência, habilidade e aptidão pela profissão, e mais importante que a sua sexualidade não trará perigos para as crianças. Os educadores do sexo masculino, de maneira geral, ainda não são bem vistos pela sociedade, existe um preconceito cultural, ainda que ele tenha uma boa metodologia de ensino, e que as crianças estejam aprendendo, o receio vem na parte da higiene da criança, que todos julgam ser “papel” das mulheres, isso acaba acontecendo pelo fato de existirem históricos de que outros professores já incorreram em práticas criminosas e algo como carícias inadequadas, assédios e até mesmo estupro. Mas temos que entender que nem todo ser humano é igual ou tem as mesmas intenções. Há muitos exemplos de professores homens que são amados e que desenvolvem um ótimo trabalho, mostrando ao contrário do que muitos pensavam ou especulavam. A principal formulação é que, em consequência de uma propalada preocupação com a pedofilia e a ocorrência de abusos sexuais, há uma “falofobia” que se expressa em relação à criança. A presença dos homens nas atividades de cuidado direto com bebês, a partir dos três meses de vida, e crianças até cinco anos de idade não é vista, via de regra, com bons olhos. Há, por parte da criança, uma impossibilidade de defesa, e uma ingenuidade que, associada ao afeto característico feminino, não podem ser postas em risco, assumindo-se que as mulheres são mais confiáveis para a realização da tarefa de educação e cuidado com os pequenos” (BARBOSA, 2013, p. 09). 17 Essa é a principal dificuldade enfrentada pelo profissional de pedagogia do sexo masculino, a qual vai se refletir em números, comprovando toda essa dificuldade desse profissional que por mais formado e preparado que seja se depara com esse antigo pensamento da nossa sociedade, onde só os homens podem oferecer perigo às nossas crianças, como se fossem o “lobo mal” causando possíveis estranhamentos ou preconceitos. O que está em questão não é acerca da capacidade deste em educar a criança, e sim no que diz respeito ao contato físico, o que pode ocasionar diversas interpretações. A maior preocupação dos pais é com relação a atual situação de violência no mundo em relação à abusos infantis e a expressiva atuação do homem nesse aspecto. Continua Sayão em sua reflexão: É indubitável a crença disseminada de um homem sexuado, ativo, perverso e que deve ficar distante do corpo das crianças. Em contrapartida, há formas explícitas de conceber as mulheres como assexuadas e puras e, portanto, ideais para este tipo de trabalho. No entanto, além de nossas crenças mais comuns e, muitas vezes préconcebidas, o que sabemos sobre como atuam professores em creches (SAYÃO, 2005, p. 6). O receio está diretamente ligado em relação ao professor atuante da Educação Infantil na sala de aula, sendo aquele que estará em contato direto e diário com a criança. Em outras esferas não gera qualquer tipo de desconforto. Sendo considerado normal a presença de homens na coordenação ou gestão pedagógica deste segmento de ensino. Alguns acontecimentos colaboraram para que a figura do homem represente “medo”, porém isso não quer dizer que o homem não seja um bom cuidador. Se em uma determinada escola o professor do sexo masculino comete o crime de abuso com um aluno ou qualquer outro tipo de assédio, e nesta mesma escola atuem outros professores do mesmo sexo, a comunidade escolar, consequentemente passará a ter um olhar negativo sobre o mesmo. Isso acontece pelo fato da generalização, isso não afeta somente a escola onde ocorreu o fato, mas também a sociedade, dependendo do fato ocorrido, causará um impacto local de amplo alcance. Vivenciando várias situações durante sua prática que levam a questões como preconceito, desvalorização do trabalho desse profissional e construções que envolvem toda a comunidade escolar, este profissional está no foco dos olhares 18 preconceituosos que irão duvidar da sua capacidade e sexualidade, provocando desconforto, constrangimentos e outras sensações, gerando questionamentos e pensamentos acerca de si mesmo, da sua escolha e da sua didática. Porém, o desejo, o carinho, amor e a vontade de romper barreiras e desigualdades fazem com que os professores do gênero masculino não desistam do trabalho com crianças pequenas e se dediquem e desempenhem com louvor o seu trabalho, dando ênfase ao cuidar, não deixando de lado o educar. 2. 3. O homem e sua representatividade na família No que tange à representativamente da mãe com relação às funções dentro do ambiente familiar, o homem não deixa de ter menos importância quanto à esta representatividade afetiva na família. Sendo que sua figura presente na Educação Infantil contribuiria e muito, levando-se em conta que muitas crianças não possuem referência de pai, ou quaisquer figuras masculinas em seu cotidiano domiciliar. Ainda que muitas crianças possuam apenas a figura de mãe como referência de família, não podemos dizer que a figura paterna não tenha importância nas relações sociais. A afetividade é um dos fatores para que o índice de professoras seja extremamente maior do que o número de professores na Educação Infantil. Sabe-se que o ser mãe é relativo ao cuidar, mas isso não quer dizer que homem também não tenha essa capacidade, nos dias atuais existem famílias em que o homem sendo ele pai, tio ou avó é além de provedor, o responsável por todo o encargo de afetividade que a criança irá receber. O índice de monoparentalidade onde o pai é o mantenedor e cuidador da família vem crescendo cada vez mais no Brasil e no mundo. A monoparentalidade masculina ainda é expressivamente menor que a feminina, mas já é uma realidade nos dias atuais. Oliveira (2009) falando sobre o conceito de família, nos leva a refletir sobre os vários segmentos que hoje encontramos, dentro dos quais a família veio a ter novos formatos, dentre eles a monoparentalidade onde o pai é responsável pelo cuidar e sustentar a família: Pode-se observar que a monoparentalidade masculina é significativamente menor que a feminina. Desta forma tem tido pouca visibilidade, pois sabemos pouco sobre essas famílias, e, não estudando sobre elas, temos nosso senso crítico e nosso senso comum, podendo vir a reforçar a ideia de que os homens não são capazes de cuidar de uma família (OLIVEIRA, p, 12, 2009). 19 Entender que o profissional da Educação Infantil do gênero masculino pode ser como espécie de “tio” para as crianças na escola assim como a professora uma “tia”, como assim é chamada por esses alunos ainda não é suficiente. É um necessário beneficiar o professor no sentido de dar o crédito. Deve-se trabalhar esse benefício, afim de superara ideia de que somente mulheres nasceram e estão preparadas para cuidar com excelência de nossas crianças. 2. 4. A Escola e o professor do gênero masculino É notório que a presença do educador masculino cause, em um primeiro momento, estranheza que muitas das vezes parte do próprio estabelecimento de ensino e por sua equipe técnica. Em um segundo momento, vemos que este desconforto emana dos pais que por ter que deixar seus filhos para frequentarem a escola sentem-se inseguros ao depararem com um professor homem na sala de aula, por estarem habituados a relacionar o papel de cuidador/educador infantil a uma mulher. Sendo assim, a dificuldade de se inserir no campo da Educação Infantil por objeção da comunidade escolar na qual está inserido é evidente. Conforme sentencia Sayão: São evidentes os preconceitos e estigmas originários que vêem a profissão como eminentemente feminina porque lida diretamente com os cuidados corporais de meninos e meninas. Dado que, historicamente, e como uma continuação da maternidade, os cuidados com o corpo foram atributos das mulheres, a proximidade entre um homem lidando com o corpo de meninos ou/e meninas de pouca idade provoca conflitos, dúvidas e questionamentos, estigmas e preconceitos (SAYÃO, 2005, p. 6). O preconceito presente culturalmente na sociedade impede que este professor seja considerado um profissional tão exemplar e merecedor do seu lugar na Educação Infantil, tanto em suas habilidades ao interagir com uma criança, quanto ao direcioná-la ao seu desenvolvimento integral em todos os aspectos, sejam eles físico, psicológico, intelectual e social. Hoje o medo e a desconfiança são fatores que caminham lado a lado com os pais dos pequenos. O profissional atuante tem que mostrar a cada dia que é capaz de fazer seu trabalho mostrando que sabe lidar com as críticas e os olhares preconceituosos da sociedade, dos próprios pais e muitas das vezes de seus próprios colegas de profissão. 20 Está mais que comprovado que homens e mulheres podem e têm direito ao exercício de qualquer profissão ou atuação. Existem mulheres que tomam conta da família e essa atividade também pode ser realizada pelo homem. Em pleno século XXI enquanto luta-se por igualdade observa-se este meio onde ainda existe desigualdade, onde a mulher é a mais favorecida nessa profissão, e o homem acaba ficando para traz sendo menos favorecido e tendo menos oportunidades de atuação na Educação Infantil. Essa profissão é vista com uma tarefa feminina onde há paradigmas que esse trabalho só pode ser feito por mulheres tendo em vista que o homem tem poucas oportunidades de mostrar o seu trabalho, uma vez que envolve o cuidar de uma criança pensa-se que o homem não dará conta de cuidar. As poucas oportunidades que o professor tem de atuar em sala de aula, se ele demonstrar um bom trabalho, esse tabu vai sendo quebrado e a sociedade em geral e corpo técnico escolar começa a aceitá-lo. Em uma escola particular é quase impossível o professor do sexo masculino atuar no meio, uma vez que funciona da seguinte maneira: a escola sendo privada e mantida pelo pagamento de mensalidade pelos pais, estes clientes influenciam e cobram que os professores que irão atuar na Educação Infantil nessa entidade privada, além e capacitados sejam do sexo feminino. Silva faz a seguinte reflexão: Esse profissional mesmo apresentado uma boa formação acadêmica dificilmente consegue trabalhar nessa área a não ser que seja através de concurso público, mesmo assim, tendo que lidar com preconceitos tendo que diariamente provar sua capacidade e “verdadeiras intenções” devido estar atuando junto a crianças de pouca idade. Enfrentando várias reações negativas dos pais, as críticas do corpo docente da escola, o modo como a sociedade o vê, e as questões relacionadas ao cuidar e ao ensinar (SILVA, 2014, p. 16). Quando se questiona sobre o motivo da ausência do professor na Educação Infantil, a resposta geral da comunidade interessada refere-se à incapacidade quanto ao cuidar da criança, sendo avaliado que a mulher é a mais indicada. A resposta referente à insegurança e desconfiança quanto a este educador existe e é explícita, no entanto, timidamente manifestada. O temor dos pais em pensar que algo de ruim pode acontecer ao seu filho, tendo como responsável da sala um educador do sexo masculino, se revela quando o responsável sabe que este professor terá o contato direto com a criança, pois este 21 entre tantas atividades na sala de aula será o responsável por levar a criança ao banheiro, para questões de higiene. Essa preocupação é repassada à gestão escolar, mediante a preocupação é existente pois trata da relação corpo da criança/corpo do homem adulto, presente em momentos de cuidados corporais. No entanto, quando se trata de uma professora este receio dificilmente irá ocorrer. Acerca dos questionamentos do corpo docente escolar, reflete Silva: O professor do sexo masculino que atua junto às crianças pequenas gera inicialmente estranheza e questionamentos no corpo docente escolar, tensões e reflexões acerca das razões que os motivaram a ingressar nesta função, fazendo-se necessário compreender as relações estabelecidas entre eles com os demais sujeitos das instituições e como a comunidade escolar percebe e convive com a presença desses sujeitos (SILVA, 2014, p. 17). Isto nos leva a questionar se algumas funções na instituição deveriam ser direcionadas somente ao sexo feminino, limitando ao professor somente a cuidar e educar dentro dos limites da sala de aula. A forma que as instituições avaliam seus docentes também pode ser um fator decisivo, seja uma instituição privada ou pública. Esta deveria adotar alguns critérios para a função professor na Educação Infantil focando no desenvolvimento pleno da criança. Toda ação educativa deve basear-se no crescimento cognitivo, físico, emocional, psicomotor e social da criança. O time determinante para este desenvolvimento é formado por pais e professores interessados, sabendo que devem estar ordenados nesta garantia. Esta união pode ser promovida através de encontros entre pais, professores e alunos. A concordância entre escola e comunidade escolar gera o entrosamento que ajudaria a quebrar barreiras, o que levaria a uma relação mais próxima e transparente, transmitindo segurança e esse é um fator principal para que pais não vejam temor em deixar seus filhos com este educador. As crianças até mesmo já estão acostumadas com a figura feminina na sala que e ao se depararem com uma pessoa do sexo masculino como professor reagem com um olhar diferente para o mesmo. Algumas são instruídas sobre o não contato direto com pessoas estranhas e, principalmente a não deixar que pessoas do sexo masculino, que não sejam as de sua própria confiança entrem em contato com seu corpo. Isso mostra o quanto, culturalmente, o prenconceito está enraizado na maneira de pensar da sociedade e é reflexo da violência que vivemos em todo o 22 mundo e da qual devemos nos proteger, mas que acaba refletindo a respeito desse profissional. Na sala de educação haverá situações onde as crianças irão pedir um abraço do professor e este, prevenindo-se de interpretações maldosas terá que ter estratégias para driblar esse afeto para evitar especulações ou interpretações duvidosas. A criança é sempre carinhosa e vários momentos o professor irá passar por essas situações, pois busca afeto e acalento, proteção e nessas horas como em todas as profissões exigem cuidados e respaldos resguardo, o professor tem que se sobressair, mostrando a postura de um excelente profissional conquistando assim, a confiança e a admiração de todos a sua volta no ambiente escolar. Tendo essa questão torna-se interessante compreender como os professores homens buscam se inserir nas escolas de Educação Infantil pois constatadaa discussão sobre o gênero masculino na docência com crianças pequenas mobiliza uma variedade de opiniões, atitudes e crenças em torno da aceitação ou recusa à ideia de que o trabalho com crianças pequenas em creches e pré-escolas possa ser desenvolvido por homens. 23 3. METODOLOGIA Em busca de obter informações acerca da situação do professor do sexo masculino, esta pesquisa realizou-se na cidade de Santarém-PA, e baseia-se na atuação destes professores na Educação Infantil (0 a 5 anos) nas CEMEI (Centro Municipal de Educação Infantil), EMEI (Espaço Municipal de Educação Infantil), UMEI (Unidade Municipal de Educação Infantil) e Escolas Municipais procurando levantar dados qualitativos e quantitativos a respeito da presença desses profissionais, através de solicitação de dados junto à Secretaria de Educação do Município e acesso a sites dos órgãos/entidades de domínio público de acordo com a Lei nº 12.527/2011, que determina o amplo acesso às informações. De acordo com dados levantados o município de Santarém conta com mais de 400 instituições de Educação Infantil em toda sua região, na zona urbana e rural do município. Dentre essas instituições são um total de 36 as creches e unidades infantis municipais que atendem crianças de 0 a 6 anos de idade. Para atender o público infantil professores foram admitidos através de contratos e mais recentemente por concurso público realizado pela Prefeitura Municipal de Santarém. Com o propósito de levantar questionamentos acerca da dificuldade do professor sexo masculino estar inserido de maneira democrática no âmbito do sistema educacional infantil, foram aplicados questionários junto aos professores e através de entrevistas exploramos acerca das dificuldades e situações com as quais confrontam-se habitualmente dentro e fora desta atmosfera escolar Buscando-se informações com acadêmicos em formação, foram elaborados questionários virtuais relevantes sobre o tema e aplicados junto aos cursantes dos 5º e 6º semestres da Universidade Paulista (UNIP), levantando questões acerca da motivação desses alunos em ingressar no Curso de Pedagogia. Foi relevante questionar também se estes sentem a existência de algum tipo de dificuldade para que homens atuem como professores na Educação Infantil. Os acadêmicos do curso de Pedagogia da UNIP, por estarem em reta final e por já estarem entrando em contato com o cotidiano escolar infantil, através de projetos em escolar e estágios supervisionados, têm uma relevante contribuição para esta pesquisa. 24 3. 1. Resultados Para enriquecer a pesquisa sobre o desafio do professor do gênero masculino na Educação Infantil, aplicamos questionários direcionados aos acadêmicos do 5º e 6º semestre da Universidade Paulista-UNIP, verificamos em uma amostra com 100 alunos de ambos os sexos, dentre os quais 82% do gênero feminino e 17% do masculino, já nos dando um parâmetro de que nosso público entrevistado tratava-se em sua maioria de mulheres, e os entrevistados tinham idades entre 19 a 45 anos. Questionamos em um primeiro momento acerca das dificuldades enfrentadas pelos acadêmicos dentro e fora da universidade, tendo em vista que já estão exercendo algumas atividades em núcleos escolares. Vejamos o gráfico sobre as dificuldades: Gráfico 1: Dificuldades enfrentadas dentro e fora da universidade Fonte: Acadêmicos do 5º e 6º semestre UNIP, 2019. Quando questionados se o professor do gênero masculino sofre preconceito na Educação Infantil, obtivemos a expressiva resposta em 93% sim e 7% não percebem preconceito com relação ao gênero do professor. Verificamos o gráfico obtido: Gráfico 2: O professor do gênero masculino sofre preconceito na Educação Infantil Fonte: Acadêmicos do 5º e 6º semestre UNIP, 2019. 42% 20% 33% 5% Preconceito Falta de vocação Tratamento com crianças Outros 93% 7% Sim Não 25 Sobre a área de atuação que pretendem trabalhar 65% dos entrevistados confirmaram que pretendem desempenhar suas atividades na sala de aula, 29% preferem estar na gestão escolar. Como verifica-se a seguir: Gráfico 3: Área de atuação Fonte: Acadêmicos do 5º e 6º semestre UNIP, 2019. Além da entrevista com os acadêmicos da UNIP, elaboramos um questionário que foi direcionado a professores atuantes nas diversas unidades infantis do município de Santarém/Pará, de onde foram extraídos alguns trechos relevantes acerca do tema apresentado. Como resultado quando perguntados se sofreram algum tipo de constrangimento pelo fato de ser do gênero masculino e trabalhar em Educação Infantil. Obtivemos o resultado: Gráfico 4: Sofreu Preconceito devido o gênero Fonte: Professores Educação Infantil, 2019. 65% 29% 6% Gestão Escolar Sala de Aula Outros 75% 25% Sim Não 26 Ao serem perguntados se o fato de ser do gênero masculino dificultou sua atuação no campo da Educação Infantil, obtivemos o seguinte gráfico: Gráfico 5: Dificuldades em atuar na Educação Infantil Fonte: Professores Educação Infantil, 2019. Em resposta ao questionamento sobre a visão da sociedade de o professor do gênero masculino ser menos capacitado que o feminino no cuidar de crianças, se estes compartilham dessa opinião. Tivemos o seguinte resultado: Gráfico 6: Capacidade no cuidar de crianças Fonte: Professores Educação Infantil, 2019. Este gráfico reflete a opinião do professor sobre a opinião da sociedade sobre a capacidade quanto ao cuidar da criança, sendo avaliado que a mulher é a mais indicada. A resposta tem forte influência acerca da insegurança e desconfiança quanto a este educador quando ingressa no mercado de trabalho almejando a esfera educacional infantil. 25% 75% Sim Não 80% 20% Sim Não 27 3. 2. Análise dos resultados da entrevista com acadêmicos UNIP Diante das informações colhidas através do questionário direcionado concluiu-se que em sua maioria os acadêmicos da UNIP, pretendem trabalhar com Educação Infantil correspondendo a 80% e expressaram o que os levou a escolher este curso foi vocação para ensinar totalizando 42%. Tivemos também o resultado de que 86% compartilham da opinião que a UNIP prepara os alunos de maneira igualitária para atuar na Educação Infantil independente do sexo do acadêmico. Sobre as dificuldades enfrentadas dentro e fora da universidade tivemos como resultado que 42% já sentiram ou passaram por algum tipo de situação considerada como preconceito. Outros 32% tem dificuldade no tratamento com crianças, referindo não saber lidar com situações como desobediência. Referem falta de vocação 32%, sendo que muitos pretendem trilhar por outros ramos que não o de Educação Infantil. Entre os outros motivos tivemos 5% alegando a desvalorização do professor no que diz respeito ao salário pago a este trabalhador e até mesmo dizendo ser pouco valorizado na sociedade. 3. 3. Análise dos resultados entrevista com professores Será que gênero masculino como educador/cuidador infantil é capaz de atuar em uma sala com crianças? O professor de Educação Infantil e Ensino Fundamental, que chamaremos de professor X, afirma que sim. Relata que há mais de treze anos de profissão em sua comunidade sempre fez o seu melhor porque ama o que faz. Os seus colegas de trabalho o abraçam e o apoiam assim como toda a comunidade. A sua escola fica em uma comunidade ribeirinha no Rio Tapajós que faz parte de Santarém e talvez pelo fato de estarem em uma comunidade onde existam pessoas amigáveis isso facilite seu trabalho e amenize a visão de desconfiança da sociedade. Mas, não está totalmente descartada essa possiblidade. Ele diz que fazendo sempre o melhor de si e tendo os cuidados como todo profissional que atua em uma área tão delicada e importante para a sociedade deveria ter, tem conquistadoainda mais a confiança das pessoas e isso ajuda para a quebra dessas barreiras que impedem o progresso desse profissional imprescindível para a sociedade. Um outro professor que chamaremos de Y relatou que o receio existe em partes e na verdade é no medo do homem cuidar de crianças, sendo que procurou 28 desde o início fazer a família confiar em seu trabalho, referindo essa conquista como um dos maiores desafios para se sentir bem em atuar na Educação Infantil. Informa que sua maior dificuldade ao trabalhar na Educação Infantil foi ganhar a confiança da família dos pequenos para poder desenvolver seu trabalho. Em uma das perguntas que fizemos ao professor, se a sociedade tinha visão que o professor do sexo masculino é menos capacitado para exercer a profissão do que uma professora do gênero feminino para cuidar de uma criança, ele não concorda totalmente. Porém, tem sua particularidade e complementa que existem certas atividades que a sociedade se habituou a pensar que o cuidar da criança é destinado à mulher, porém um homem como educador tem a mesma capacidade que a mulher. Em um outro caso, professor W relata que quando iniciou sua docência sentiu um pouco de receio da parte dos pais, pois de início trabalhou em uma turma de maternal. Explica que sempre buscou conhecer o universo infantil e aliar à sua prática docente. Refere que a sociedade acha que o gênero masculino tem menos capacidade de cuidar de uma criança, pois esse universo é predominantemente feminino. Os dados da pesquisa de campo mostram que o professor do sexo masculino sofreu e ainda sofre vários tipos de constrangimentos, pelo fato dos mesmos serem minoria na área da Educação Infantil, podendo assim aumentar as dificuldades pelo fato de ser uma situação incomum, um homem dando aulas para crianças de 0 a 5 anos. O trabalho com Educação Infantil é delicado e precisa do máximo de atenção. O profissional de educação não deve ser selecionado pelo gênero sexual ou qualquer outra característica senão a habilidade e formação. O homem evolui a cada dia no campo da Educação Infantil e a presença do professor em sala de aula pode causar desconfiança devido o índice de violência contra crianças e adolescentes. Porém, não podemos banalizar pois assim como existem profissionais despreparados também temos aqueles que honram a sua profissão. 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS Trabalhar na Educação Infantil requer disposição, paciência e um bom preparo cognitivo, com tantas obrigações nos perguntamos se realmente o homem pode equilibrar esse espaço com mulheres. E a resposta é Sim! Ser professor não consiste apenas na formação pedagógica, ser professor é gostar da área, se dedicar pelo futuro dos pequenos além de ter respeito por tudo e por todos, tanto homens como mulheres podem estar dentro desse perfil. Diante da pesquisa realizada abordamos um assunto muito criticado, professores homens são e podem ser cuidadores e educadores, o que faz toda a diferença é a preparação profissional, respeito. Ainda que lentamente o homem ganha respeito e espaço no campo da Educação Infantil. Sabe-se que ao escolher o curso de Pedagogia os desafios a serem enfrentados no decorrer da vida acadêmica são muitos e um dos detalhes para muitos do gênero masculino é deparar no primeiro dia de aula com um público praticamente tomado por mulheres. O professor do gênero masculino representa na Educação Infantil uma minoria e isso pode favorecer uma desvalorização do trabalho desse profissional e até alimentar julgamentos errôneos por acharem que o mesmo está invadindo um espaço dominado por mulheres. Então para que todo esse preconceito criado acerca do professor do gênero masculino seja quebrado o mesmo terá que mostrar o desejo, carinho, amor e a vontade de romper essas barreiras através de sua didática com muita dedicação ao desempenhar o seu trabalho. Uma das soluções cabíveis, seria que as instituições se preocupassem em contratar bons profissionais baseando-se em sua capacitação, suas práticas metodológicas, seu conhecimento e vocação e não pelo fato do gênero apresentado. No entanto, como os prejulgamentos sempre existem, deve-se a começar a trabalhar uma consciência na sociedade de que todos são iguais e por isso devemos respeitar as diferenças sejam elas quais forem, pois elas existem. A presença do gênero masculino na Educação Infantil está gradativamente tomando seu espaço no âmbito educacional, ainda que em passos lentos. Assim também como o gênero feminino vem trilhando batalhas e conquistando vitórias, ocupando áreas antes relacionadas apenas ao gênero oposto. E não é possível pensar que será fácil internalizar algo assim na sociedade, pois é um tema que 30 precisa gerar reflexões para que cada vez mais busquem conhecimentos, debates para que possa ser compreendido, pensando em todos os lados envolvidos para uma melhor progressão. Não podemos regredir nas conquistas alcançadas por diversas bandeiras para uma convivência mais harmoniosa, e se não quisermos uma sociedade onde algumas profissões são privadas por conta da cor ou gênero, entre outros, precisamos resgatar e trabalhar alguns valores. Se homens não pudessem atuar na Educação Infantil o curso de Pedagogia seria voltado apenas ao gênero feminino. Podemos pensar também que foi criada uma linha de opiniões em que homens e mulheres são desafiados a refletir sobre o contexto biológico, psicológico e social onde não podemos separar profissões de homens ou mulheres por conta de gênero do indivíduo, pois estamos falando de profissionais que foram capacitados durante a sua formação e estão aptos para exercer suas funções na escola seja ela na gestão ou docência. Levar em consideração o bom trabalho do docente e suas práticas educacionais é um dos principais motivos para a contratação de um profissional para o corpo técnico. O índice de docentes do gênero masculino que querem estar na sala de aula é baixo e especificamente na Educação Infantil é menor ainda, porém existem, bons profissionais que são conscientes que diariamente enfrentarão dificuldades, mas que esperam uma oportunidade para mostrar o seu melhor. Esses professores precisam de uma oportunidade para exercer a função e assim não restar dúvidas do que são capazes e merecem a confiança que deveria ser espontânea. A confiança tem que ser conquistada de todos os lados, corpo técnico escolar, família e professor. Pode não aparentar mas este é o primeiro desafio de todo docente do gênero masculino em Educação Infantil. Solucionar essa problemática será um processo dificultoso, uma vez que o medo se se ter um professor homem já está lá existente. Por conta de casos de abuso infantil relacionados com homens e crianças que aconteceram na sociedade, o medo é externado, o receio de se contratar um homem para sala de aula no meio da Educação Infantil aumenta cada vez mais. Precisa-se de uma discussão ampla onde todos lados possa exprimir suas opiniões de forma democrática: escola, pais, sociedade em geral e principalmente os professores. Na sociedade de hoje as pessoas acabam falando somente aquilo que as interessa e evitam falar sobre o estranhamento que a presença de um professor 31 homem em uma sala de Educação Infantil causa, pois as opiniões podem ofender ou constranger e falar abertamente sobre isso se torna arriscado quando exposto dessa maneira, no entanto necessário para que possam dirimir as desconfianças, medos e receios presentes na sociedade de forma cultural. É notório que todas as grandes conquistas foram alcançadas com muito esforço e determinação expondo ao máximo a causa para que todos formassem opiniões e lutassem a favor ou contra. Sendo assim expor “O desafio do professor do gênero masculino em Educação Infantil” é essencial para que estimulemos a reflexão social. Precisamos entender que estamos falandosobre a profissão de um cidadão onde privar ele de exercê-la por conta do gênero é também crime já que a Constituição Federal em seu artigo 5º diz prima em informar que todos somos iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza. Acredita-se que futuramente homens e mulheres terão o mesmo nível de confiança da sociedade. Pois a partir desta pesquisa mudamos nossa forma de pensar e passamos a respeitar ainda mais as crianças, os professores e a escola como um todo. Para finalizar, este trabalho possibilitou um entendimento mais amplo e compreender que homens e mulheres merecem respeito da sociedade, se a lei permite direitos iguais para ambos, devemos compreender de forma vigorosa. 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAUJO, Tiago Santos de. Vai ter professor-homem na Educação Infantil sim: Rompendo paradigmas. Tese de especialista em Educação Infantil apresentada à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/PUC. Rio de Janeiro, 2017. BARBOSA, Ana Paula Tatagiba. Há guardas nas fronteiras: discursos e relações de poder na resistência ao trabalho masculino na educação da infância. Tese Doutorado - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Serviço Social, 2013. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDB. Secretaria Especial de Editorações e Publicações. Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Brasília, 2005. BRASIL. Ministério da Educação. 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