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0 FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ – FAESPI CURSO DE BACHARELADO EM PSICOLOGIA DANIELLA VILELA DE ABREU HAICKEL DE OLIVEIRA O APRESSADINHO, A CAIXA DE VIDRO E O POLVO O USO LÚDICO DO POLVO DE CROCHÊ COM PREMATUROS EM INCUBADORAS TERESINA – PI 2018 1 DANIELLA VILELA DE ABREU HAICKEL DE OLIVEIRA O APRESSADINHO, A CAIXA DE VIDRO E O POLVO O USO LÚDICO DO POLVO DE CROCHÊ COM PREMATUROS EM INCUBADORAS Monografia apresentada à Faculdade do Ensino Superior do Piauí – FAESPI como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de bacharel Psicologia. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Aurelina Machado de Oliveira. TERESINA – PI 2018 2 DANIELLA VILELA DE ABREU HAICKEL DE OLIVEIRA O APRESSADINHO, A CAIXA DE VIDRO E O POLVO O USO LÚDICO DO POLVO DE CROCHÊ COM PREMATUROS EM INCUBADORAS Monografia apresentada à Faculdade do Ensino Superior do Piauí – FAESPI como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de bacharel Psicologia. Aprovada em: _____ / _____ / 2018. BANCA EXAMINADORA _________________________________________________ Prof.ª Dra. Maria Aurelina Machado de Oliveira Orientadora Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI _________________________________________________ Prof.º Ddo. Welyton Paraíba da Silva Sousa 1º Examinador Universidade Federal do Rio Grade do Norte – UFRN _________________________________________________ Prof.ª Me. Karine Cardozo Rodrigues Machado 2ª Examinadora Faculdade de Ensino Superior do Piauí – FAESPI 3 AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Professora Doutora Maria Aurelina Machado de Oliveira, fonte de inspiração e parceira em empolgação. Desde o primeiro momento, você demonstrou encanto pelo tema, o que me fortaleceu no sentido de persistir mesmo diante das dificuldades. E agora no final, mostrou-se preocupada não só com este estudo, mas com minha saúde diante de tantas adversidades. Você me inspira! Obrigada! À minha Professora de Metodologia, Doutora Ruth Raquel Soares de Farias, que se revelou uma grande “caixa de fósforos” dе agradáveis surpresas. Com seus ensinamentos divertidos e despretensiosos despertou em mim a curiosidade e o interesse pela pesquisa. Obrigada! A Amara Rayane da Silva Santos, amiga, filha de coração, guia de espiritualidade, companheira de estudos e de aflições: obrigada! A Adonnys, também meu filho de meu coração, por ser uma eterna fonte de oportunidade de aprendizado para mim. Obrigada! A Lúcio, amigo e fonte de incentivo, que com seus abraços e demonstrações de carinho consegue me acalmar. Obrigada! Às meninas e mulheres fortes que me acompanharam nessa jornada que está se encerrando: Marliene, Fafátima, Sol, Cilene, Loura (Lourrany), Nicolle, Zenilde, Carol e Amanda. Partilharmos nossas aflições finais e percebemos que somos capazes, então: obrigada! À minha Coordenadora, Professora Mestre Karolyna Pessoa, por ter me suportado (tanto dando suporte quanto tolerando), nas alegria e nas tristeza, nas frustrações e nas realizações, nas irritações e calmarias. Suas palavras, nos dias finais da elaboração deste trabalho, foram muito importantes. Obrigada! À minha Professora, Especialista Myrla Sirqueira Soares, pelas palavras de motivação e pela crença de que eu conseguiria. Obrigada! Ao meu Professor, Mestre Kelvis Rodrigo Sampaio por ter me dado as primeiras orientações para este trabalho. Obrigada! À minha terapeuta, Psicanalista Leile Marise Costa, que me frustra, mas me acolhe, acompanha e ajuda a iluminar não só minhas recordações de infância, mas também o caminho que tenho à frente. Obrigada! 4 Aos meus amigos mais que caros, amados: Adriana, Cass ius e Hercyla. Sem o apoio de vocês este curso teria sido mais difícil de concluir. Obrigada! Ao meu amigo, companheiro, amor de uma vida, Claudio, que me conhece como poucas pessoas conhecem, e ainda assim me ama. Pela paciência durante esse período intenso de trabalho: obrigada! Aos meus filhos, Victoria e Vinicius, que são meus alunos e meus professores, meus amigos e inquisidores, mas que, acima de tudo, são meus grandes amores. Obrigada! À minha irmã, Rachel, que me deixa agora sem palavras para expressar a importância que tem em minha vida. Seja como irmã (um pouquinho) mais velha, como médica ou como chef de cozinha, você sempre me servirá de inspiração. Obrigada! E àquela que por toda minha vida desejou meu bem, zelou por mim, alegrou- se com minhas vitórias e, às vezes, preocupou-se com elas (quando decidi ingressar novamente na universidade e consegui), que fiz sorrir, mas também fiz chorar, que soube não só me educar como também soube servir de exemplo vivo de como ser verdadeiramente feliz, apesar das tristezas. Minha mãe: Vilemina, que em seus últimos 55 dias de vida fez surgir em mim a vontade de ser psicóloga e por isso hoje estou aqui. A ela meu maior e mais afetuoso agradecimento. Obrigada! 5 Todo prematuro tem direito ao tratamento estabelecido pela ciência, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Sendo assim, todo prematuro tem o direito de ser cuidado por uma equipe multidisciplinar capacitada a compreendê-lo, interagir com ele e a tomar decisões harmônicas em seu beneficio e em prol de seu desenvolvimento. Artigo IV - Declaração Universal dos Direitos do Bebê Prematuro 6 RESUMO O presente trabalho teve como o objetivo analisar os efeitos do uso lúdico do polvo de crochê com recém-nascidos prematuros. Revisão sistemática feita bases de dados Scielo, LILACS, MEDLINE e Google Acadêmico e nos sites Prematuridade.com e Spruttegruppen.com, em busca material acadêmico a partir de termos como polvo de crochê, recém-nascido pré-termo, prematuro, prematuridade, UTIN, UCINCa, UCINCo octo project, polvo de amor. Os artigos utilizados foram também selecionados a partir de critérios de inclusão como conterem qualquer das palavras-chave citadas associadas; estarem disponíveis Português, Inglês ou Espanhol; e que contemplassem o tema e os objetivos da pesquisa. Artigos que não contemplassem qualquer desses critérios foram excluídos. Predominaram artigos em Português e de pesquisas feitas em território nacional. Verificou-se que no Brasil é comum o uso de artefatos lúdicos em unidades de cuidados neonatais, entretanto o uso do polvo de crochê ainda não é amplamente difundido. Tal prática, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo onde é utilizada, carece de comprovação científica que corrobore efeitos percebidos pelos profissionais de saúde que trabalham em unidades de cuidados neonatais, quais sejam melhora das funções cardíaca e respiratória, saturação sanguínea, pressão arterial e ganho de peso do RN. Palavras-chave: Recém-nascido pré-termo. Prematuridade. Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Octo Project. Polvo de Amor. 7 ABSTRACT The objective of this study was to analyze the effects of playful use of crochet octopus with preterm newborns. Systematic review made databases Scielo, LILACS, MEDLINE and Google Scholar and on the sites Prematuridade.com and Spruttegruppen.com, in search of academic material from terms such as crochet octopus, preterm newborn, premature, prematurity, NICU, UCINCa, UCINCo octo project, octopus of love. The articles used were also selected from the inclusion criteria as they contain any of the associated cited keywords; Portuguese, English or Spanish were available; and that they contemplate the theme and the objectives of the research. Articlesthat did not meet any of these criteria were excluded. Predominated articles in Portuguese and of researches done in national territory. It was verified that in Brazil it is common the use of playful artifacts in neonatal care units, however the use of crochet powder is not yet widespread. This practice, both in Brazil and in other parts of the world where it is used, lacks scientific evidence to corroborate effects perceived by health professionals working in neonatal care units, such as improvement in cardiac and respiratory functions, blood saturation, blood pressure and RN weight gain. Keyword: Preterm Newborn. Prematurity. Neonatal Intensive Care Unit. Octo Project. Octopus of Love. 8 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 1 CRH Corticotropina 2 fFN Fibronectina 3 GMMS Gabinete do Ministro – Ministério da Saúde 4 IL-1 Interleucina 1 5 IL-1β Interleucina 1 Beta 6 IL-10 Interleucina 6 7 IL-10 Interleucina 10 8 LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde 9 MEDLINE Medical Literature Analysis and Retrieval System Online 10 MS Ministério da Saúde 11 NI Não Informado 12 NP Nutrição Parenteral 13 OMS Organização Mundial de Saúde 14 ONG Organização Não Governamental 15 PMMC Programa Método Mãe-Canguru 16 RDC Resolução de Diretoria Colegiada 17 RN Recém-Nascido 18 RNAR Recém-Nascido de Alto Risco 19 RNBP Recém-Nascido de Baixo Peso 20 RNPT Recém-Nascido Pré-Termo 21 SCIELO Scientific Electronic Library Online 22 SNC Sistema Nervoso Central 23 SNG Sonda Nasogástrica 24 SPA Substância Psicoativa 25 SOG Sonda Orogástrica 26 S/D/R Sucção/Digestão/Respiração 27 UTIN Unidade de Terapia Intensiva Neonatal 28 UCINCa Unidade de Cuidado Intermediário Canguru 29 UCINCo Unidade de Cuidado Intermediário Convencional 30 TNF-α Fator de Necrose Tumoral Alfa 9 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 Recém-nascido segurando polvo azul ........................................... 15 FIGURA 02 Recém-nascido com polvo colorido ............................................... 16 FIGURA 03 Recém-nascido com sonda nasogástrica ...................................... 26 FIGURA 04 Incubadora de Tarnier .................................................................... 30 FIGURA 05 Incubadora Lyon ............................................................................ 31 FIGURA 06 Recém-nascido em incubadora ..................................................... 34 FIGURA 07 Recém-nascido em posição do PMMC .......................................... 36 FIGURA 08 Recém-nascido em banho de ofurô ............................................... 38 FIGURA 09 Recém-nascido em rede de balanço ............................................. 39 FIGURA 10 Recém-nascido aconchegado ao polvo ......................................... 41 FIGURA 11 Recém-nascido com polvo azul ..................................................... 42 FIGURA 12 Recém-nascido segurando cordão umbilical ................................. 43 FIGURA 13 Polvos de crochê 1.......................................................................... 43 FIGURA 14 Recém-nascido com polvo rosa ..................................................... 44 FIGURA 15 Recém-nascido aconchegado a polvo verde ................................. 45 10 LISTA DE QUADR OS QUADRO 01 Fatores de aumento de perda e diminuição de produção de calor em RNPTs ......................................................................... 24 QUADRO 02 Marcos históricos do surgimento dos cuidados especiais ......... 28 11 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Distribuição das publicações em bases de dados 50 TABELA 2 – Distribuição das publicações por idioma 51 TABELA 3 – Quantidade de publicações por ano 51 TABELA 4 – Descrição por título, autor e ano das publicações selecionadas 52 TABELA 5 – Categorias temáticas e referências dos artigos 55 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 13 2 PREMATURIDADE ................................................................................... 16 2.1 CAUSAS .................................................................................................... 17 2.2 INDICADORES FISIOLÓGICOS ............................................................... 18 2.3 CUIDADOS ESPECIAIS COM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS ...... 19 2.3.1 Humanização em cuidados com prematuros ....................................... 21 2.3.2 Controle térmico ...................................................................................... 22 2.3.3 Nutrição parenteral e enteral .................................................................. 23 3 UNIDADES DE CUIDADOS NEONATAIS ................................................ 26 3.1 BREVE HISTÓRICO .................................................................................. 26 3.1.1 “Caixas de Vidro” – Como surgiram as incubadoras .......................... 29 3.2 LEGISLAÇÃO DE CUIDADOS NEONATAIS ............................................ 31 3.3 UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL – UTIN ....................... 33 3.4 UNIDADE DE CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS CONVENCIONAIS – UCINCo ..................................................................................................... 34 3.5 UNIDADE DE CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS CANGURU – UCINCa .... 34 3.6 TERAPIAS EM UNIDADES DE CUIDADOS NEONATAIS ....................... 34 3.6.1 Programa método mãe canguru ............................................................. 35 3.6.2 Banho de ofurô ........................................................................................ 37 3.6.3 Musicoterapia para prematuros ............................................................. 38 3.6.4 Terapia com rede de balanço ................................................................. 39 4 USO DE RECURSOS LÚDICOS EM UNIDADES DE CUIDADOS NEONATAIS .............................................................................................. 41 4.1 O USO LÚDICO DO POLVO DE CROCHÊ COM PREMATUROS EM INCUBADORAS ........................................................................................ 41 4.1.1 Octo project .............................................................................................. 42 4.1.2 Um polvo de amor ................................................................................... 44 5 ASPECTOS METODOLÓGICOS .............................................................. 47 5.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO .............................................. 48 5.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS .......................................... 49 5.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS ......................................... 50 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 51 6.1 DADOS CIENTOMÉTRICOS .................................................................... 51 6.2 CATEGORIAS TEMÁTICAS ...................................................................... 56 6.2.1 Prematuridade .......................................................................................... 58 6.2.2 Unidades de cuidados neonatais ........................................................... 60 6.2.3 Terapias com prematuros em incubadoras .......................................... 62 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 64 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 66 ANEXOS .................................................................................................... 72 13 1 INTRODUÇÃO Em março de 2017, alguns veículos de comunicação (emissoras de TV),bem como redes sociais (Facebook, Instagram, YouTube) trouxeram ao conhecimento do público o uso de um polvo de crochê com Recém-Nascidos (RN) prematuros, que estavam em incubadoras de Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) de hospitais em Brasília, no Rio Grande do Sul e em São Paulo (PREMATURIDADE, 2017). FIGURA 1: Recém-nascido segurando polvo azul Fonte: gcn.net.br Segundo as matérias, as equipes de saúde observaram que os polvos acalmam os RNs, que apresentam melhora nas funções cardíaca e respiratória, saturação sanguínea e pressão arterial; a presença do polvo possibilita ainda ganho de peso, uma vez que os bebês diminuem movimentos corporais, que levariam e perda de energia e poderiam levar à remoção de acessos, o que acarretaria atraso na evolução positiva dos quadros (PREMATURIDADE, 2017). Tal prática teve início na Dinamarca, através de um pai que solicitou à artesã Josefine Hagen, do blog En Elefant, que confeccionasse um polvo de crochê para sua filha prematura que estava na UTIN do Hospital Universitário de Aarhus. Os profissionais de saúde dessa unidade perceberam que após a inclusão do artefato na incubadora o bebê apresentou melhora em alguns sinais vitais como: funções 14 cardíaca e respiratória, pressão arterial e ganho de peso. A ideia, então, foi estendida a outros bebês, que também apresentaram resultados satisfatórios (SPRUTTEGRUPPEN, 2017). FIGURA 2: Recém-nascido com polvo colorido Fonte: hypeness.com.br Formou-se, então, a Organização Não Governamental (ONG) Spruttegruppen, integrada por pais de bebês prematuros, que criou, em 2013, o Octo Project, projeto que proporciona a distribuição gratuita de polvos de crochê para unidades hospitalares que queiram adotar a prática juntos aos bebês mantidos em incubadoras. O Octo Project ultrapassou fronteiras e tem sido replicado em outros países como Alemanha, França, Itália, Austrália e Estados Unidos (SPRUTTEGRUPPEN, 2017). A ideia chegou ao Brasil no início do ano de 2017, através da ONG Prematuridade, do Rio Grande do Sul, que aqui batizou o projeto de “Um Polvo de Amor”. Entretanto, assim como na Europa e demais continentes, aqui na América do Sul não há qualquer orientação padrão quanto à implantação do uso do polvo de crochê, nem qualquer pesquisa científica que corrobore os seus efeitos. O que há é a boa vontade de voluntárias que se propõem a produzir e doar os pequenos polvos, a assistência da ONG Prematuridade, que, na medida do possível, faz a intermediação entre as artesãs locais e as unidades de saúde interessadas, a disposição de profissionais de saúde de UTINs, UCINCas e UCINCos, que acolhem a ideia, e, por fim, a disponibilidade dos pais dos RNs mantidos em incubadoras. 15 Foi realizada uma pesquisa de revisão sistemática de literatura, tendo-se como objetivo descrever como recursos lúdicos cooperam para a recuperação de prematuros mantidos em incubadoras; mostrando que o uso lúdico de polvos de crochê com prematuros mantidos em incubadoras de unidades de cuidados neonatais (UTIN, UCINCa e/ou UCINCo) também tem ajudado na recuperação da saúde dos bebês. O uso lúdico do polvo de crochê pode representar uma nova forma de terapia em unidades especiais. Para tanto, devem ser observados todos os cuidados no manuseio do bebê e nos cuidados de esterilização e higiene do artefato antes de sua introdução à incubadora. Espera-se que este tenha sido o primeiro passo para incentivar pesquisas sobre os efeitos do uso lúdico do polvo de crochê com Recém-Nascidos de Alto Risco (RNAR), Recém-Nascidos de Baixo Peso (RNBP) e Recém-Nascidos Pré- Termo (RNPT). Para a Psicologia, trata-se de mais uma ferramenta na busca do bem-estar de pequenos que, já desde o nascimento, encontram-se em situação de fragilidade, sendo a cada dia expostos a situações invasivas, desconfortáveis e de sofrimento. 16 2 PREMATURIDADE O período gestacional é reconhecido como uma fase de profundas alterações fisiológicas e emocionais, como observam Oliveira, Sousa e Maia (2017). Não só o corpo da mulher, externa e internamente, modifica-se, mas a sua rotina e a daqueles que a cercam também. O estudo realizado para a avaliação e validade de conteúdo brasileiro da Cambridge Worry Scale pode verificar que a ansiedade e a preocupação com eventos futuros relacionados à gestação, parto e saúde do bebê, são sentimentos presentes nas mães, não importando, nos casos pesquisados, diferenças sociodemográficas de qualquer linha (GREEN et al., 2003 apud OLIVEIRA; SOUSA; MAIA, 2017). Na gravidez, dentre as preocupações mais frequentes relatadas, destacam-se: a possibilidade de o bebê ter algum problema médico, bem como a possibilidade de ocorrer um aborto espontâneo (GREEN et al., 2003, CARMINA MONGE et al., 2012, GRAÇA; FIGUEIREDO; CONCEIÇÃO, 2011 apud OLIVEIRA; SOUSA; MAIA, 2017). Posteriormente, acontecem as preocupações com o parto e com a interação com o bebê à proporção que se aproxima a data prevista para o nascimento (CARMINA MONGE et al., 2012, GRAÇA; FIGUEIREDO; CONCEIÇÃO, 2011 apud OLIVEIRA; SOUSA; MAIA, 2017). Por inferência, a prematuridade pode ser incluída entre essas preocupações sob três óticas, no mínimo: possibilidade de o bebê ter problemas médicos (saúde do bebê), o que ocorre desde o início com recém-nascidos pré-termo, já que demandam assistência e cuidados diferenciados; possibilidade de ocorrer aborto espontâneo, entendendo-se aqui por extensão, não o aborto, mas o parto antecipado (relacionado à gestação interrompida); e, por fim, preocupações com o parto, que podem ser entendidas, novamente, como sua antecipação. Portanto, desde o início da gravidez, a ansiedade e as preocupações a respeito de um parto prematuro cercam a gestante, e quando tal possibilidade se concretiza, os sentimentos de medo e incerteza, característicos da ansiedade, intensificam-se e se supõe que só diminuam com o passar do tempo e a saída do bebê, então fragilizado devido à antecipação do nascimento, da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal – UTIN. 17 Pode-se inferir, então, que a prematuridade traz consigo consequências ansiogênicas para a mãe, além, é evidente, de todo cuidado que demanda o prematuro. Para a Organización Mundial de la Salud (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – OMS) (2017), de um modo geral, é recomendável que os partos ocorram até a 39ª semana de gestação, quando, então, aconselha-se a indução. Os bebês nascidos até a 37ª semana são considerados prematuros assim classificados: prematuros extremos – menos de 28 semanas; de 28 a 32 semanas – muito prematuros; e de 32 a 37 semanas – prematuros moderados a tardios. Logo, a prematuridade é caracterizada pelo nascimento do bebê até a 37ª semana de gestação (FONSECA; SCOCHI, 2004), fato que o leva a necessitar de cuidados especiais que visam sua maturação fisiológica e equilíbrio de sua saúde. 2.1 CAUSAS Os fatores relacionados aos partos prematuros ainda hoje não puderam ser claramente determinados na maioria dos casos. Ramos e Cuman (2009) constataram que variáveis relacionadas ao aparelho genital feminino, alterações de placenta e líquido amniótico em excesso (polidrâmnio) são comuns, podendo o parto antecipado também ocorrer devido à idade da mãe (quanto mais jovem, maior o risco), infecções que ela venha a desenvolver ou ainda em caso de primeira gestação. Além dos componentes citados enumeram-se outras causas, a saber: desnutrição ou dieta inadequada, falta de condições de higiene, tabagismo, consumo de álcool e outras drogas, todos eles relacionados aos hábitos da gestante; reprodução assistida; histórico anterior de parto pré-termo (PPT), hemorragia anteparto; mioma, conização do colo – procedimento para biópsia do colo uterino; gravidez de gêmeos; anomalias do feto; pré-natal deficiente; excesso de peso ou baixopeso anterior à gravidez, havendo ainda a classe de fatores sociodemográficos como: baixo nível socioeconômico e educacional e etnicidade (RIO DE JANEIRO, 2017). Para Dória e Spautz (2011) a gestação de mulheres com mais de 35 anos também pode ser incluída no rol dos eventos propensos à prematuridade, assim como indicadores bioquímicos. 18 Contudo, apesar das causas acima citadas, podem coexistir outros precipitadores da finalização da gestação, o que faz com que a prematuridade não seja ocorrência exclusiva de grupo de gestante A, B ou C. 2.2 INDICADORES FISIOLÓGICOS Fatores de risco, entretanto, não podem ser visto como indicadores precisos de parto prematuro. Entretanto estudos foram capazes de identificar marcadores fisiológicos que podem indicar a antecipação do parto. Tanto o trabalho de parto a termo como o que ocorre antes de 37 semanas estão associados a um aumento de marcadores inflamatórios, como o Fator de Necrose Turmoral alfa (TNF-α), Interleucina I (IL-I) e Interleucina 6 (IL-6) e a uma diminuição de Interleucina 10 (IL-10) (anti-inflamatória) (DÓRIA; SPAUTZ, 2011, p. 2). Da mesma forma Bocking e colegas (1999 apud DÓRIA; SPAUTZ, 2011) apontam a elevada concentração de hormônio liberador de corticotropina (CRH) em parturientes com até 37 semanas de gestação. Segundo Bittar e Zugaib (2009) Dos possíveis marcadores bioquímicos conhecidos, podem ser citados: as interleucinas (6 e 8), o hormônio liberador da corticotropina (CRH), o estriol salivar, a fibronectina fetal e, mais recentemente, a proteína-1 fosforilada ligada ao fator de crescimento insulina-símile (phIGFBP-1). As interleucinas, o CRH e o estriol demonstraram baixas sensibilidades e baixos valores preditivos, além de não trazerem benefícios para a predição do parto prematuro (BITTAR; ZUGAIB, 2009, p. 204). Entretanto, estudos mais atuais demonstram que a presença de fibronectina fetal (fFN) (glicoproteína produzida pelo trofoblasto encontrada no material vaginal na primeira metade da gestação e na 35ª semana) é um importante indicador de trabalho de parto quando aparece fora dos períodos esperados (BITTAR; ZUGAIB, 2009). A fFN é responsável por pela aderência do blastocisto (embrião) à decídua (parte da mucosa uterina). Da 22ª semana até a 35ª a fFN desaparece, retornando apenas quando o organismo inicia a preparação para o parto ou quando há cisão de 19 membrana, incidência de fator mecânico, infeccioso, inflamatório ou isquêmico (BITTAR; ZUGAIB, 2009). Outro fator indicador de parto pré-termo é o aspecto do colo uterino. O exame pode ser feito através do toque ginecológico ou por ultrassonografia vaginal ou abdominal. Quanto menor o comprimento do colo, maiores as chances de ocorrência de parto, já que o afinamento cervical é uma das etapas iniciais do processo, indicando que o nascimento do bebê pode ocorrer num intervalo de quatro a oito semanas após sua detecção (BITTAR; ZUGAIB, 2009). 2.3 CUIDADOS ESPECIAIS COM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS O manual de Atenção à Saúde do Recém-nascido: Guia para Profissionais de Saúde (BRASIL, 2011) destaca que: no período neonatal, momento de grande vulnerabilidade na vida, concentram-se riscos biológicos, ambientais, socioeconômicos e culturais, havendo necessidade de cuidados especiais, com atuação oportuna, integral e qualificada de proteção social e de saúde (BRASIL, 2011, p. 11). A seguir constam algumas ações assistenciais de cuidado peri e neonatal que o Ministério da Saúde (BRASIL, 2011) considera essenciais: 1-Cuidados prestados com qualidade, integralidade, resolutividade e continuidade à gestante ao bebê; 2-Prática de ações de promoção integral da saúde e prevenção de agravos, para além das demandas colocadas; 3-Integração da rede de saúde e outros setores de assistência e desenvolvimento social; 4-Acolhimento prioritário do RN com intercorrência e da gestante com intercorrência e/ou em trabalho de parto; 5-Abordagem de risco para garantia de atendimento adequado - imediato e continuado - a cada criança e mulher que assim necessitarem; 6-Vigilância à saúde, entendida como ação que o serviço de saúde deve assumir em situações de mais alto risco, para minimizar danos; 7-Captação precoce e busca ativa para início do acompanhamento pré-natal; 20 8-Acolhimento imediato para o acompanhamento pré-natal, conforme protocolo e atenção humanizada; 9-Identificação e devido acompanhamento da gestação de alto risco; 10-Visita domiciliar à gestante que não comparece às consultas pré-natais; 11-Visita domiciliar à gestante no último mês de gestação; 12-Acolhimento imediato na maternidade, evitando busca de vaga quando em trabalho de parto e/ou em caso de urgências; 13-Garantia de acesso a leitos de alto risco e/ou cuidado intensivo para a mãe e o bebê pela Central de Regulação/Central de Leitos; 14-Atenção qualificada ao parto, entendida como: equipamentos, recursos humanos e acompanhamento adequados durante o trabalho de parto, utilização do partograma (rotina de parto composta por dilatação cervical, frequência cardíaca fetal, duração do trabalho de parto e sinais vitais), promoção do trabalho de parto fisiológico, direito a acompanhante para a gestante e puérpera durante o trabalho de parto (Lei Federal 11.108) e para o bebê, com garantia de alojamento conjunto, inclusive em caso de internação do RN, promoção do contato imediatamente após o parto entre mãe e-bebê saudável, estimulando o aleitamento materno logo na primeira hora de vida; 15-Avaliação do RNAR, no mínimo, duas vezes por ano durante os dois primeiros anos de vida, sendo recomendável permanecer acompanhado até o quinto aniversário, para avaliações de desenvolvimento cognitivo e de linguagem. Apesar de todos os cuidados elencados, a prematuridade ainda se destaca entre os fatores determinantes da mortalidade infantil no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde (2011) cerca de 6,7% dos nascidos vivos no país em 2008 eram prematuros. “A mortalidade neonatal representa cerca de 60 a 70% da mortalidade infantil e, portanto, maiores avanços na saúde da criança brasileira requerem maior atenção à saúde do RN” (BRASIL, 2011, p. 18). O nascimento prematuro dificulta a adaptação do RN à vida fora do útero materno. Imaturo em sua anatomia e fisiologia, o RNPT tem elevada possibilidade de comprometimento de seu crescimento e desenvolvimento, necessitando, de imediato, de cuidados especializados, tendo como foco a atenção integral e humanizada, visando sua qualidade de vida (PEREIRA et al., 2013). Nas UTINs, a instabilidade do quadro clínico do RNPT precisa ser cuidadosamente monitorada, e a sua incapacidade de manter-se em homeostase, 21 sem ajuda, pode levá-lo a permanecer em uma incubadora por meses (CRUVINEL; PAULETTI, 2009). O Ministério da Saúde, através da Resolução 7, de 24 de fevereiro de 2010, determinou serem equipamentos obrigatórios nas UTINs, entre outros: incubadora com parede dupla; equipamentos para monitoração ininterrupta de temperatura, frequências cardíaca e respiratória, pressão arterial não invasiva e oximetria de pulso. Tudo sob rigorosos cuidados de higiene e limpeza. O avanço tecnológico em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) tem contribuído para o aumento da sobrevida de recém- nascidos pré-termo (RNPT), porém, fatores como o aumento da quantidade de equipamentos e do número de procedimentos invasivos, a necessidade constante de luz, o ruído ambiente e a manipulação excessiva durante o cuidado ocasionam uma série de efeitos adversos que desencadeiam alterações no desenvolvimento dos neonatos, principalmente dos RNPT (PEREIRA et al., 2013, p. 1). Cruvinel e Pauletti (2009) ressaltam que a identificação de situações estressantes para o RNPT ou Recém-Nascido de Baixo Peso (RNBP) previne ou minimiza o aparecimento de complicações,sendo essencial para o seu desenvolvimento normal. 2.3.1 Humanização de cuidados com prematuros Entende-se por cuidado humanizado ao RNPT todas as ações que respeitem sua individualidade, garantindo atendimento tecnológico que vise a promoção de sua segurança, bem como o acolhimento de suas necessidades e de sua família, estimulando desde cedo o fortalecimento do vínculo entre a mãe e o bebê (CRUVINEL; PAULETTI, 2009). O cuidado humanizado promove uma melhor recuperação do RN, contribuindo para minimizar os efeitos causados pelo ambiente inóspito da hospitalização, especialmente aqueles percebidos nas UTINs, contribuindo ainda para uma participação mais ativa dos pais no processo de recuperação do RNPT (REICHERT; LINS; COLLET, 2007). Uma vez que o recém-nascido permaneça internado em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, ele estará exposto a 22 estímulos nociceptivos como dor, estresse, ruídos de equipamentos e conversas de funcionários, manuseio excessivo e procedimentos invasivos dolorosos (CRUVINEL; PAULETTI, 2009, p. 3). Compreende-se, assim, que o cuidado humanizado pode amenizar os efeitos decorrentes do desconforto inerente à internação em UTIN, incrementando não só a recuperação da saúde do RN, mas também promovendo maior contato e e interação dele com a família, especialmente com a mãe/cuidador(a). O acolhimento humanizado levou os profissionais de saúde e assistência social a repensarem suas relações com o RNPT, sua família e demais sujeitos envolvidos no processo de hospitalização. Entre as várias estratégias de cuidados, a manipulação mínima do RN pode ser destacada, como frisam Pereira e colaboradores (2013), o que auxilia na diminuição de gasto energético e de estresse. 2.3.2 Controle térmico Como mencionado no item 2.3, o RNPT nasce com imaturidade anátomo- fisiológica, o que, dentre outros fatores o impede de desempenhar bem a manutenção e regulação de sua temperatura corporal. Uma vez em Unidades de Terapia Intensiva Neonatais, os RNPTs são mantidos em incubadoras ou berços aquecidos, podendo ali ser mantido por vários dias e até meses (CRUVINEL; PAULETTI, 2009). O equilíbrio termogênico resulta da interação entre produção e eliminação de calor (BRASIL, 2011). No caso de RNPTs pode ocorrer desequilíbrio desses mecanismos, com aumento nas perdas e limitação na produção, conforme mostra a tabela abaixo: QUADRO 01 – Fatores de aumento de perda e diminuição de produção de calor em RNPTs FATORES DE AUMENTO DE PERDA E DIMINUIÇÃO DE PRODUÇÃO DE CALOR EM RNPTs AUMENTO DA PERDA DIMINUIÇÃO DA PRODUÇÃO Maior área de superfície corporal Menor estoque de gordura marrom Epiderme não queratinizada Menor resposta termogênica por hipóxia, restrição do crescimento intrauterino e doenças 23 Mais água extracelular (mais evaporação) Menor mobilização de noradrenalina e ácidos graxos livres Maior quantidade de tecido subcutâneo Consumo de O2 limitado por problemas pulmonares Menor capacidade de vasoconstrição cutânea Baixa temperatura ambiental Fonte: BRASIL, 2011 A pele do RNPT é mais fina que a de um recém-nascido a termo, sendo pobre em gordura subcutânea; seus pulmões também não conseguem trabalhar a contento para mantê-los aquecidos e tais fatores cooperam para que o controle térmico natural e fisiológico seja insuficiente para o prematuro (COSTA, 2009). A prematuridade é fator de alta morbidade e mortalidade neonatal (MIERZWA, 2007 apud COSTA, 2009), entretanto uma vez colocado em câmaras com controle térmico a taxa de sobrevida é aumentada (COSTA, 2009). A hipotermia no RNPT demanda importante atenção, já que se constitui em fator de risco para morbidade e mortalidade. Dessa forma, estratégias de prevenção de perda e diminuição de produção de calor contribuem para a melhora do seu prognóstico (BRASIL, 2011). Há pelo menos duas maneiras de promover o aquecimento do RNPT: por calor radiante ou incubadora. Um método não se sobrepõe ao outro e ambos podem ser feitos gradual ou rapidamente. O importante é que o reaquecimento seja cuidadosamente monitorado (medição de temperatura a cada 15 minutos) para evitar hipertermia, apneia, hipotensão e convulsões (BRASIL, 2011). 2.3.3 Nutrição parenteral e enteral Estima-se que as necessidades nutricionais de RNPTs sejam, senão superiores, pelo menos iguais às de um feto com a mesma idade gestacional. Entretanto, a imaturidade do sistema digestório pode dificultar a administração de nutrientes por via enteral, o que demanda o uso de sonda parenteral (intravenosa) (BRASIL, 2011). O desenvolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC), da cognição, do comportamento e do crescimento corporal podem ser comprometidos em caso de 24 subnutrição nos períodos iniciais e mais vulneráveis da vida, como é o caso de bebês prematuros. Assim, “horas, e não dias, é o tempo que se supõe que os RNPTs podem permanecer sem suporte nutricional” (BRASIL, 2011, p. 34). A nutrição parenteral (NP) é procedimento terapêutico essencial no tratamento intra-hospitalar do recém-nascido pré-termo (RNPT). A terapia nutricional do RNPT representa um enorme desafio, pois quanto menor o peso e a idade gestacional do recém-nascido (RN), maiores serão as suas necessidades nutricionais para atingir crescimento e desenvolvimento adequados. Os RNPT têm reservas reduzidas e maior imaturidade do trato gastrintestinal e de outros órgãos, sistemas e aparelhos, o que impossibilita a utilização da via enteral de forma exclusiva, especialmente nas primeiras semanas de vida. Assim, os avanços nos procedimentos relacionados à nutrição parenteral (NP), tais como o tipo de cateter utilizado, o treinamento e capacitação dos profissionais envolvidos e o desenvolvimento de novos insumos, aliados aos progressos na legislação, têm contribuído sobremaneira para elevar a segurança na utilização desta forma de terapia nutricional (SOUZA; TESKE; SAMI, 2008). Souza, Teske e Sami (2008) acreditam que quanto menor o RNPT mais rapidamente deve ser iniciada a Nutrição Parenteral (NP). Corroborando informações do Ministério da Saúde as autoras estimam que um RN com até 1000g teria capacidade para sobreviver, fora da assistência nutricional parenteral, por apenas 96 horas; já bebês com pesagem inferior precisam receber NP logo nas primeiras horas de vida (SOUZA; TESKE; SAMI, 2008). Uma vez estabelecido o bom funcionamento gastrointestinal, o RNPT poderá receber alimentação enteral, por sonda orogástrica (SOG) ou sonda nasogástrica (SNG). Recomenda-se, todavia, que o uso da sonda seja restrito e suspenso assim que possível, para que o desenvolvimento das funções de sucção/deglutição/respiração (S/D/R) sejam a contento (MEDEIROS et al., 2010) Alimentar o recém-nascido pré-termo (RNPT) com leite da própria mãe proporciona benefícios que geralmente estão relacionados às melhorias da imunidade, digestão e absorção de nutrientes. Porém, recém-nascidos prematuros podem apresentar dificuldades alimentares, principalmente na aceitação do seio materno (PEREIRA et al., 2010, p. 58) Assim, é importante que o RNPT seja estimulado a desenvolver habilidades de coordenação das funções S/D/R para que, o quanto antes, possa fazer a transição da nutrição enteral para o aleitamento materno (PEREIRA et al., 2010). 25 FIGURA 3: Recém-nascido com sonda nasogástrica Fonte: ideias.ufpe.br 26 3 UNIDADES DE CUIDADOS NEONATAIS Para Mendes (2010) a Unidade de Terapia Intensiva é o local destinado ao acolhimento de pacientes em estado grave, que necessitam de monitoramento constante e cuidados ricos em complexidade. A seguir traçar-se-á uma linha do tempo acerca dos cuidados intensivos, que começaram com a pioneira Florence Nightingale, passando pelas eras Dandy e Safar, até chegar aos dias atuais. 3.1 BREVE HISTÓRICO As guerras,apesar de notadamente trágicas, também constituem campo fértil para inovações, sejam elas bélicas, comerciais, políticas ou mesmo para o desenvolvimento de estratégias em saúde. A Guerra da Crimeia (1854), entre russos e otomanos, envolveu também potências como a França e a Inglaterra, e revelou ao mundo as ideias de uma mulher britânica, obstinada e à frente de seu tempo: Florence Nightingale (LOPES; SANTOS, 2010). Acompanhada de oito voluntárias, Florence Nightingale atuou no Hospital Geral e no Barrack Hospital atendendo 4.000 feridos. Ela dedicou-se a eliminar problemas de saneamento nos pavilhões, onde internos careciam de cuidados profissionais e sofriam com infestação de piolhos e frio. Focada em atingir níveis aceitáveis de higiene pessoal e ambiental, Florence conseguiu reduzir a mortalidade do local de 42% para 2%, marcando assim seu nome como sanitarista e administradora, dedicando atenção especial para cuidados com pacientes cirúrgicos e com a prevenção de infecções (BORGES et al., 2000). Considerada a fundadora da enfermagem moderna, Nightingale, com sua teoria ambientalista, traçou diretrizes que, até hoje, norteiam os cuidados intensivos em hospitais. A preocupação de Nightingale enfatizava a comodidade do paciente com as condições locais, como por exemplo, a iluminação, a limpeza, o sanitarismo, a ventilação, a temperatura, a atenção, o cuidado, os odores e os ruídos. Em seu intenso cuidado, ela priorizava o isolamento, uma dieta adequada, a individualização do cuidado, a redução do número de leitos por enfermaria, evitando dessa forma 27 contaminações cruzadas e a diminuição da circulação de pessoas fora do serviço em âmbito hospitalar, evitando, dessa forma, condições desfavoráveis aos pacientes (NIGHTINGALE apud MARTINS; BENITO, 2016, p. 154). O cenário de cuidados intensivos estava se desenhando. E no ano de 1926, em Baltimore (Estados Unidos da América), o médico Edward Walter Dandy cria a primeira unidade de cuidados intensivos no Hospital Johns Hopkins, com três leitos de atendimento em cuidados intensivos para pacientes em pós-operatório de neurocirurgia (MENDES, 2010). A era seguinte é conhecida como Era Safar, que leva o nome do médico austríaco Peter Safar, considerado o primeiro médico intensivista e criador do ABC primário em cuidados intensivos, tendo criado a técnica de ventilação artificial boca a boca e massagem cardíaca externa (MENDES, 2010). O quadro abaixo traz um resumo desse breve passeio histórico. Quadros 02 – Marcos históricos do surgimento dos cuidados especiais MARCOS HISTÓRICOS DO SURGIMENTO DE UNIDADES DE TERAPIAS INTENSIVAS – UTIs ERA NIGHTINGALE ERA DANDY ERA SAFAR Saneamento de Pavilhões Criação da primeira unidade de cuidados intensivos Primeiro médico intensivista Cuidados profissionais mais focados no paciente Atendimento diferenciado a pacientes em pós- operatório ABC de cuidados intensivos Cuidados com higiene pessoal (paciente e profissionais) e ambiental Criação da técnica de ventilação artificial boca a boca Foco no atendimento de pacientes cirúrgicos Criação da massagem cardíaca externa Foco na prevenção de infecções Fonte: MENDES, 2010. 28 Quando se pesquisa sobre o surgimento das UTI neonatais, mais uma vez a guerra, ou a possibilidade de sua ocorrência, está presente. Para Rodrigues e Oliveira (2004) a Europa, receosa com o crescente despovoamento e a incipiente vulnerabilidade diante de cenários bélicos, voltou seu olhar para os cuidados à saúde da criança (entre 1870 e 1920). Segundo as autoras, até meados do século XIX crianças prematuras e/ou com má formação congênita eram ignoradas pelos médicos, que as deixavam à própria sorte para que morressem (RODRIGUES; OLIVEIRA, 2004). Como já visto, foi uma guerra nos anos de 1850 que fez surgir as primeiras noções básicas sobre cuidados intensivos e higiene para com paciente graves, através das iniciativas da britânica Florence Nightingale (LOPES, SANTOS, 2010). A preocupação com novas guerras e com o envelhecimento da população europeia motivou um movimento que ficou conhecido como a gênese da medicina neonatal (RODRIGUES; OLIVEIRA, 2004). Pierre Budin, obstetra francês, é considerado o pai da Neonatologia (COSTA, 2009), pois foi o primeiro a demonstrar preocupação com os recém- nascidos pós-salas de parto. Em 1892, criou um ambulatório de puericultura no Hospital Charité, em Paris (AVERY, 1978 apud RODRIGUES; OLIVEIRA, 2004), sendo ainda de sua autoria os princípios e métodos que deram base à medicina neonatal (LUSSKY, 1999 apud RODRIGUES; OLIVEIRA, 2004). No final do século XIX, outras evoluções ocorreram no tratamento obstétrico e neonatal. As incubadoras estavam sendo utilizadas no tratamento de crianças prematuras com sucesso. [...] Os avanços médicos e tecnológicos da época propiciaram grandes transformações no cuidado neonatal durante e após o parto. Segundo LUSSKY (1999 apud RODRIGUES; OLIVEIRA, 2004), as fundações que antes eram designadas para prestar assistência a crianças abandonadas foram modificadas e transformadas em hospitais infantis, e os pediatras assumiram um grande papel no tratamento neonatal. Na primeira década do século XX, observa-se um aumento da contribuição dos pediatras para a ciência da medicina neonatal, estudos sobre a alimentação (natural e artificial) e a prematuridade foram realizados, e curvas de crescimento eram utilizadas para estabelecer demandas de energia. Após uma exibição, em Chicago, de lactentes prematuros em uma unidade de demonstração, organizada por Coney, o pediatra Julius Hess criou um centro para assistência aos lactentes prematuros naquela cidade (AVERY, 1978; DOWNES, 1992 apud RODRIGUES; OLIVEIRA, 2004). 29 Budin assinala três problemas básicos no cuidado com RNPTs: prevenção de doenças infecciosas; o controle térmico e a alimentação (COSTA, 2009). Estava criado o primeiro centro para cuidados de neonatos com necessidades especiais, hoje conhecido como Unidade de Terapia Intensiva Neonatal ou UTIN, onde uma equipe multiprofissional trabalha no sentido de reverter o quadro de saúde de recém-nascidos graves ou potencialmente graves. 3.1.1 “Caixas de Vidro” – Como surgiram às incubadoras Em 1878 o médico francês Stephane Etienne Tarnier, solicitou a um funcionário de um zoológico que o mesmo desenvolvesse uma caixa térmica semelhante a uma chocadeira de ovos de galinha (RODRIGUES; OLIVEIRA, 2004). Batizada de modelo Tarnier, essa primeira incubadora era feita de madeira, com uma parte superior projetada para alojar o recém-nascido, e uma inferior, onde eram acondicionadas botijas com água quente, que buscavam manter a temperatura do artefato aquecida. Vale destacar alteração posterior feita pelo aluno de Tarnier e também médico Auvard, que retirou as botijas e projetou um depósito para o acondicionamento da água (OLIVEIRA, 2004). FIGURA 4: Incubadora de Tarnier Fonte: madrimasd.com 30 Esse protótipo inicial de incubadora fez decrescer em 28% a taxa de mortalidade de bebês pesando menos de 2 Kg ao nascer (LUSSKY, 1999 apud RODRIGUES; OLIVEIRA, 2004). Há, entretanto, polêmicas acerca do original inventor da incubadora, mas o que se sabe é que a mesma ganhou destaque graças aos trabalhos desenvolvidos por Pierre Budin e seu aluno Martin Cooney (OLIVEIRA, 2004). FIGURA 5 Incubadora Lyon Fonte: mdrimasd.com Estima-se que as primeiras incubadoras instaladas no Brasil datam de 1908, quando da criação da Creche Senhor Alfredo Pinto, no do Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro, criado pelo médico Arthur Moncovo Filho. Na creche havia 21 leitos infantis e 2 incubadoras da marca Lyon, destinadas ao atendimento de crianças débeis e prematuras (RODRIGUES; OLIVEIRA, 2004). A criação desseserviço se deu [...] por Antonieta Morpurgo. A Lyon foi uma incubadora fundamentada nos princípios das primeiras incubadoras. Seu objetivo era manter o RNPT num meio aquecido na tentativa de simular um ambiente intraútero. A importação das incubadoras para o Brasil despertou críticas na área médica. Uma das críticas era a não utilização de incubadoras para RNPT, pelo fato do o Brasil ser um país de clima tropical. Os argumentos foram contestados pelos responsáveis pela importação das incubadoras alegando a oscilação de temperatura no Brasil, em alguns meses do 31 ano. Foi então demostrado que, no Rio de Janeiro, a temperatura atingia 12ºC-16ºC no inverno. Desse modo foi confirmado que, a condição térmica do ambiente era suficiente para provocar o resfriamento corporal do RNPT, desencadeando outras alterações corporais. Entre os anos 50 e 60 as incubadoras passaram a ser confeccionadas com uma parede de plástico transparente, uma ventoinha a fim de permitir circulação de ar passando pelo aquecedor e um sistema que permitia causar a umidificação através de um recipiente de água, além de aquecimento por convecção com controle da temperatura (RAMOS; SOUSA, 2017, p. 4). As incubadoras neonatais são câmaras com paredes (simples ou dupla) de acrílico, colchão com isolamento térmico, aberturas laterais para acesso manual ao RN, aquecidas por convecção e com controle rigoroso de fluxo de ar, umidade, oxigênio e som (COSTA, 2009). Segundo Costa (2009) As chances de sobrevida dos recém-nascidos prematuros aumentam quando eles são colocados em um ambiente em que são controladas a temperatura e a umidade relativa do ar. A incubadora neonatal é um equipamento médico assistencial que serve para manter a vida de bebês prematuros onde estes encontram condições semelhantes à existentes no útero materno (COSTA, 2009). Atualmente as incubadoras não só mantém aquecido o recém-nascido, como também monitoram com precisão suas curvas térmicas e umidificam adequadamente o ambiente para o RNPT (RAMOS; SOUSA, 2017). 3.2 LEGISLAÇÃO DE CUIDADOS NEONATAIS Optou-se, neste item, iniciar pela carta magna a apresentação dos dispositivos legais que se referem a cuidados com recém-nascidos. Desta forma, em seu artigo primeiro lê-se que “A República Federativa do Brasil [...] constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] II–a cidadania; III–a dignidade da pessoa humana” (BRASIL, 1988, p. 12). No mesmo dispositivo o artigo terceiro determina que “Art. 3o Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: [...] IV–promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (grifou-se) (BRASIL, 1988, p. 12). 32 No capítulo II (Dos Direitos Sociais), artigo sexto: “Art. 6o São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer [...]” (grifou-se) (BRASIL, 1988, p. 18) A Saúde tem diretrizes estabelecidas no Título VIII – Da Ordem Social – Capítulo II – Da Seguridade Social, Seção II – Da Saúde, que inicia com o artigo 196 discorrendo ser “A saúde é direito de todos e dever do Estado [...]” (BRASIL, 1988, p. 118). São dispositivos legais referentes atendimento humanizado em unidades de cuidados especiais neonatais – Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), Unidade de Cuidados Intermediários Canguru (UCINCa), e Unidade de Cuidados Intermediários Convencional (UCINCo), a saber: 1-Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, que regula o Sistema Único de Saúde – SUS (BRASIL, 1990); 2-Decreto 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta a lei do SUS e dá outras providências (BRASIL, 2011); 3-Portaria 371, de 07 de maio de 2014, que traça as diretrizes para a organização a atenção integral e cuidado humanizado ao RN no SUS (BRASIL, 2014); 4-Portaria 693, de 05 de julho de 2000, que orienta sobre a implementação do Programa Método Mãe Canguru (BRASIL, 2000). 5-Portaria 895, de 31 de março de 2017, que trata dos cuidados progressivos ao paciente crítico ou grave, alocado em UTIN, UCINCa e UCINCo, além de outras (BRASIL, 2017); 6-Portaria 930, de 10 de maio de 2012, que define diretrizes e objetivos relativos à organização do atendimento integral e humanizado ao RNPT, RNAR e RNBP, assim como os critérios de classificação e habilitação de leitos de Unidade Neonatal no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2012); 7-Portaria 1.683, de 12 de julho de 2007, que atualiza a Portaria 693/00. 8-Portaria 2.351, de 05 de outubro de 2011, que institui a Rede Cegonha, que assegura às crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis (BRASIL, 2011); 9-Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 07, da ANVISA, de 24 de fevereiro de 2010, que dispõe acerca de requisitos mínimos para funcionamento de UTIN e dá outras providências (BRASIL, 2010); 33 10-RDC 137, da ANVISA, de 08 de fevereiro de 2017, que altera a RDC 07/2010 (BRASIL, 2017); 3.3 UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL – UTIN O artigo 5º, da Portaria 930/12 define a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal como: Um serviço de internação responsável pelo cuidado integral ao recém-nascido grave ou potencialmente grave, dotado de estruturas assistenciais que possuam condições técnicas adequadas à prestação de assistência especializada, incluindo instalações físicas, equipamentos e recursos humanos (BRASIL, 2012, p.1). Para Reichert, Lins e Collet (2007), apesar da UTIN ser ambiente destinado ao tratamento e recuperação de RNPT, RNAR e RNBP, não deixa de ser barulhento, frio e desconfortável, bem diferente da cavidade uterina, que possui temperatura e filtragem de ruídos e promove o aconchego e bem-estar ao bebê. As UTINS estão categorizadas com tipo II e tipo III, como descrito nos artigos 13 e 14, respectivamente, da Portaria 930/12. FIGURA 6: Recém-nascido em incubadora Fonte: stacasa.com.br 34 Apesar de toda a equipe que cerca o RNPT, acredita-se que o mesmo possa sentir falta de contatos afetuosos, pois, como relatam Pereira e colaboradores (2013) poucas são as intervenções afetuosas a ele dispensadas. 3.4 UNIDADE DE CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS CONVENCIONAIS – UCINCo As Unidades de Cuidados Intermediários Convencionais ou Unidades Semi- intensivas destinam-se ao atendimento de RNs de menor complexidade de atendimento por serem considerados pacientes de médio risco (BRASIL, 2012). Podem funcionar de forma independente ou como unidades de suporte às UTINs (BRASIL, 2012). O artigo 16, da Portaria 930/12 elenca as condições de saúde de RNs que poderão ser atendidos sob cuidados intermediários convencionais (Anexo A). 3.5 UNIDADE DE CUIDADOS INTERMEDIÁRIOS CANGURU - UCINCa São unidades de serviços com infraestrutura física e material para adequado acolhimento de mãe e bebê para a prática do Programa Método Mãe Canguru (BRASIL, 2012). Ambos, mãe e bebê, receberão assistência por equipe de saúde devidamente treinada, capaz de prestar todo cuidado e orientação necessários ao pleno restabelecimento da saúde do RN e da mãe (BRASIL, 2012). A Portaria 930/12, que regula a instalação e manutenção das UTINs, UCINCo e UCINCa determina que só haverá Unidade Canguru onde também houver Unidade Convencional (BRASIL, 2012). 3.6 TERAPIAS EM UNIDADES DE CUIDADOS NEONATAIS Como exposto ao longo desse trabalho, as unidades de cuidados especiais neonatais são centros de excelência tecnológica e profissional no atendimento a recém-nascidos pré-termo, recém-nascido de alto risco e recém-nascido de baixo peso. Sabe-se, entretanto, que tais unidades também podem ser fatores geradores de estresse tanto para os bebês quanto para profissionais e familiares, como ensina Moreira, Braga e Morsch (2003): 35 O ambiente físico de uma UTI é, muitas vezes, estressantepara os bebês e suas famílias. Em geral, é muito iluminado e muito barulhento. Os equipamentos, os sons dos alarmes e as luzes piscando costumam gerar muita ansiedade na família, nos pacientes e até mesmo nos profissionais que ali trabalham (MOREIRA; BRAGA; MORSCH, 2003, p. 35) Assim, profissionais estão sempre em busca de recursos que possam auxiliar na recuperação dos pequenos internos. O Programa Método Mãe Canguru, o banho de Ofurô, a Musicoterapia e a Terapia com rede de Balanço são alguns destes recursos que serão brevemente explanados a seguir. 3.6.1 Programa método mãe canguru São muitas as formas terapêuticas utilizadas em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal e, entre as que buscam amenizar os efeitos do parto antecipado, atualmente no Brasil a que possui reconhecimento e indicação por parte do Ministério da Saúde é o Programa Método Mãe-Canguru, o qual conta, inclusive com uma cartilha amplamente divulgada e praticada nos hospital das redes pública e privada (BRASIL, 2011). A cartilha Atenção Humanizada ao Recém-nascido de Baixo Peso – Método Canguru – Manual Técnico (BRASIL, 2011) traz como objetivos principais do programa: a) promover, o quanto antes, a proximidade da mãe com o bebê, fortalecendo o vínculo afetivo; b) estimular, logo que possível, o reflexo de sucção ao peito, favorecendo o aleitamento materno e a contratilidade do útero; c) garantir o acesso aos cuidados especializados necessários ao pronto restabelecimento da saúde do recém-nascido. Segundo Azevedo (2008, p. 9) o Método Mãe Canguru é: Um tipo de assistência neonatal que implica o contato pele a pele precoce entre a mãe e o recém-nascido de baixo peso, de forma crescente e pelo tempo que ambos entenderem ser prazeroso e suficiente, permitindo, dessa forma, maior participação dos pais no cuidado ao filho (AZEVEDO, 2008, p. 9). No final da década de 70, os médicos pediatras colombianos Edgar Rey Sanabria, Hector Martinez Gómez e, posteriormente, Dr. Luís Navarrete Pérez, 36 buscavam uma solução para o problema de superlotação nas unidades de cuidados neonatais do Hospital San Juan de Díos, em Bogotá. Naquele período era comum encontrar dois ou até mais RNs em uma única incubadora (AZEVEDO, 2008; BRASIL, 2011). FIGURA 7: Recém-nascidos em posição do PMMC Fonte: secom.to.gov.br Inspirados na ideia da gestação marsupial, onde os bebês “amadurecem” em uma bolsa localizada na parte externa do corpo da mãe, os médicos imaginaram que prematuros com estabilidade clínica e cujas preocupações fossem apenas o ganho de peso e a regulação de temperatura corporal, poderiam ser aconchegados à suportes similares à bolsas dos marsupiais adaptados ao corpo das mães (CHARPAK et al., 1997 apud AZEVEDO, 2008). Assim, o bebê deveria ser aconchegado, verticalmente, entre os seios de sua mãe, mantendo contato pele a pele com ela, o que estimularia o vínculo e também a troca de calor corporal. A posição favorecia inclusive o aleitamento materno, essencial para bebês que precisam ganhar peso e desenvolver resistência (AZEVEDO, 2008). Azevedo (2008) ressalta que no Brasil, o método começou a ser praticado em 1992, em Santos-SP e, posteriormente, em 1993, no Instituto Materno Infantil de Pernambuco, obtendo resultados satisfatórios em ambas as instituições. O principal benefício secundário dessa terapia é o fortalecimento do vínculo mãe-bebê, já que 37 há contato direto, pele a pele, e diário entre os dois. Além disso, a amamentação, outro foco de campanhas do Ministério da Saúde, também é estimulada. Entretanto o Manual Técnico (BRASIL, 2011) traz como marco inicial o ano de 1997, quando o Instituto Materno‑Infantil de Pernambuco, atualmente Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, participou do concurso “Gestão Pública e Cidadania”, com o projeto social da “Enfermaria Mãe Canguru”. O certo é que em 05 de julho de 2000 a Portaria 693/GMMS (Gabinete do Ministro - Ministério da Saúde) instituiu o PMMC como Política Nacional de Saúde, sendo posteriormente revogada em 12 de julho de 2007, pela Portaria GMMS 1.683 (BRASIL, 2011). 3.6.2 Banho de ofurô O termo Ofurô tem raiz no japonês e significa banheira (WIKIPÉDIA, 2018), sendo caracterizado por ser mais profundo e mais curto que uma banheira convencional, permitindo um banho em posição fetal, com água até os ombros (WIKIPÉDIA – ENCICLOPÉDIA LIVRE, 2018). O banho de ofurô terapêutico para recém-nascidos é uma conduta humanizada, baseada na ideia de que a imersão do RN em água aquecida pode contribuir para a redução do estresse, perda de peso e tempo de internação (ATAÍDE et al., 2016). Criado na Holanda nos últimos anos da década de 90, a ofuroterapia tenta simular os estímulos do útero materno, ambiente líquido no qual o bebê se desenvolveu, resgatando no RN sensações prazerosas ali experimentadas (ATAÍDE et al., 2016). Com objetivos de reduzir o estresse, a ofuroterapia pode ser aplicada a RNPTs com estabilidade clínica, peso entre 1.250g e 2.500g, nutrição enteral plena e em processo normal de ganho de peso (GONÇALVES; SANCHEZ, 2017). 38 FIGURA 8: Recém-nascido em banho de ofurô Fonte: g1.globo.com/ Pelas orientações de Gonçalves e Sanchez (2017), a terapia é indicada para: reduzir a sensibilidade do RN, levando à diminuição da dor; relaxamento muscular; redução de estresse devido aos dois efeitos anteriores, diminuindo os níveis de cortisol; vasodilatação, que promove o aumento da circulação periférica; incremento da capacidade vital e do retorno venoso; e, por fim, promoção de sensação de bem-estar, devido à similitude com o ambiente do útero materno. 3.6.3 Musicoterapia para prematuros O poeta inglês Robert Browning uma vez disse “quem ouve música, sente a sua solidão de repente povoada” (PENSADOR, 2017). Talvez essa seja a sensação maior da música também ao recém-nascido em incubadora, ali tão só, mas cercado de ruídos, luzes e intervenções dolorosas. “A questão de se a musicoterapia deveria ou não ser introduzida no ambiente da UTIN deve ser tratada com muito cuidado e é dividida em duas partes: o benefício da musicoterapia para lactentes e o benefício para as mães” (ARNON, 2011, p. 1). Para os RNs os ganhos mais significativos foram ganho de peso, redução de comportamento de estresse e tempo de hospitalização e níveis elevados de 39 saturação de oxigênio. Já para as mães os poucos estudos demonstraram redução de estado ansiogênico e estresse (ARNON, 2011). 3.6.4 Terapia com rede de balanço O uso da rede de balanço em incubadora é um método humanizado de atendimento, que visa melhorar a recuperação da saúde do RN mantido em unidade de cuidados especiais (LINO et al., 2015). FIGURA 9: Recém-nascido em rede de balanço Fonte: prematuridade.com Para Guerin e Birk (2016) as redes de balanço constituem um recurso que vem se destacando no cuidado destinado aos RNPTs, cooperando para amenizar os efeitos da: Separação dos pais, manobras dolorosas, entre outras que enfrenta um prematuro na Unidade de Terapia Intensiva. Todos estes eventos levam a um esgotamento físico ou emocional, exaustão, com muito gasto de energia, que deveria ser poupada, pois sua escassez causa um impacto futuramente na qualidade de vida desses bebês. [As redes] são colocadas dentro das incubadoras, suspensas pelas extremidades se tornando um lugar onde os bebês dormem e descansam na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. O posicionamento na rede simula a postura que o recém-nascido se encontrava no útero materno (GUERIN; BIRK, 2016). Redução da perda de calor e do gasto de energia, o que leva ao consequente ganho de peso, a acomodação do RN em rede de balanço leva-o ao 40 relaxamento muscular, mediante a postura flexionada dos membros (similar à posição fetal),o que leva a respostas comportamentais de diminuição de choro e irritabilidade, provocando ainda estimulação sensorial (visual, auditiva e tátil) adequada por meio do balançar, melhora da frequência cardíaca e desenvolvimento neuropsicomotor (LINO et al., 2015). O RNPT acomodado na rede tende a demonstrar sinais de tranquilidade e segurança, uma vez que, acreditam Guerin e Birk (2016), ele se sinta mais aconchegado e menos estressado. Além disso, a redinha estimula os sentidos (visão, audição e tato) e aprimora os reflexos primitivos (CAVALARIA, 2009 apud GUERIN; BIRK, 2016). 41 4 O USO DE RECURSOS LÚDICOS EM UNIDADES DE CUIDADOS NEONATAIS Perrone (2015) ensina que através da brincadeira o organismo consegue atingir equilíbrio e compensação diante das frustrações, tensões e conflitos. Em hospitais, o uso de recursos lúdicos transforma um ambiente relacionado a choro, tristeza e medo, em local de risos, alegria e descontração. Assim, cada vez mais recursos lúdicos estão sendo acrescidos à unidade hospitalares, alcançando grande relevância na recuperação da saúde de crianças (BRASIL; SHWARTZ, 2015). 4.1 O USO LÚDICO DO POLVO DE CROCHÊ COM PREMATUROS EM INCUBADORAS No início de 2017 foram veiculadas notícias de que o uso de um polvo feito em crochê estava auxiliando na recuperação da saúde de prematuros mantidos em incubadoras. Segundo as notícias, uma vez em contato com os tentáculos espiralados e aconchegados ao macio corpinho do “bichinho” confeccionado em algodão, os RNs mantinham-se calmos, tranquilos, mantendo intactos acessos medicamentosos e de monitoramento (PREMATURIDADE, 2018). FIGURA 10: Recém-nascido aconchegado ao polvo Fonte: comunhão.com.br 42 Além da perceptível diminuição da agitação do RN, profissionais de saúde intensivista perceberam que houve incremento das funções cardíaca e respiratória, melhora da saturação sanguínea, pressão arterial e ganho de peso (PREMATURIDADE, 2018). 4.1.1 Octo project Diferentemente do Método Canguru o uso de um artefato de crochê junto a um RNPT não aconteceu com a intenção de promover bem-estar à criança. Segundo o site da ONG dinamarquesa Spruttegruppen a ideia surgiu através de um pai que solicitou à artesã Josefine Hagen, do blog EnElefant, que confeccionasse um polvo de croché para sua filha prematura que estava na UTIN do Hospital Universitário de Aarhus (SPRUTTEGRUPPEN, 2017). FIGURA 11:Recém-nascido com polvo azul Fonte: spruttegruppen.com Segundo a ONG SPRUTTEGRUPPEN (2017), após a devida esterilização, o polvo foi colocado junto a bebê e esta começou a dar sinais de melhora nas funções respiratória e cardíaca, saturação sanguínea e pressão arterial. Além disso, foi percebido que ela se mantinha mais tranquila, agitando menos braços e pernas, o que colaborava para manter todos os acessos em seus lugares. Supõe-se que por esse motivo, após um tempo, que não foi especificado, percebeu-se que houve também ganho de peso. https://www.spruttegruppen.dk/wp-content/uploads/press/Adrian2_til_brug_for_spruttegruppe_kvit_og_frit.jpg 43 A ideia, então, foi estendida a outros bebês, que também apresentaram resultados satisfatórios (SPRUTTEGRUPPEN, 2017). Formou-se, então, o grupo Spruttegruppen, integrado por pais de bebês prematuros, que criou, em 2013, o Octo Project, o qual tem sido replicado em outros países como Alemanha, França, Itália, Austrália e Estados Unidos (SPRUTTEGRUPPEN, 2017). FIGURA 12: Recém-nascido segurando cordão umbilical Fonte: arquivo pessoal Acredita-se que os bebês recordam e revivem sensações de conforto e aconchego quando seguram o tentáculo do polvo, pois, supõe-se, ele se assemelha ao cordão umbilical com o qual brincavam ou seguravam quando estavam no útero materno (PREMATURIDADE, 2017). O Octo Project, ou Projeto Polvo, consiste na disseminação do uso do polvo feito de linha 100% algodão, com pontos de crochê e preenchido com lã siliconada, que é colocado junto a bebês prematuros mantidos em incubadoras. Os voluntários engajados no projeto recebem as doações de artesãs crocheteiras e as encaminham aos hospitais que já utilizam os polvinhos (SPRUTTEGRUPPEN, 2017; PREMATURIDADE, 2017). 44 FIGURA 13:Polvos de crochê 1 Fonte: spruttegruppen.com Na Dinamarca o polvo de crochê, como alternativa de cuidado ao prematuro, vem sendo usado desde 2011, ainda que não haja qualquer dado científico da eficácia do método, e atualmente dezessete países da Europa adotam a prática, já tendo sido distribuídos gratuitamente pela Spruttegruppen mais de trinta mil polvos (SPRUTTEGRUPPEN, 2017). Número que não para de crescer. 4.1.2 Um polvo de amor A ideia chegou ao Brasil através da Organização Não Governamental Prematuridade, do Rio Grande do Sul, que chamou o projeto de “Um Polvo de Amor”. FIGURA 14: Recém-nascido com polvo rosa Fonte: spruttegruppen.com https://www.spruttegruppen.dk/wp-content/uploads/press/Maya_til_brug_for_spruttegruppe_kvit_og_frit.jpg 45 Entretanto, assim como na Europa e demais continentes, aqui na América do Sul não há qualquer orientação padrão quanto à implantação do uso do polvo, nem qualquer pesquisa científica que corrobore os seus efeitos. O que há é a boa vontade de voluntárias que se propõem a produzir e doar os pequenos polvos, a assistência da Prematuridade, que faz a intermediação entre as artesãs e as unidades de saúde interessadas, assim como orienta todo o processo de forma intuitiva. Pelos dados da ONG são mais de vinte unidades de cuidados neonatais (ANEXO A) utilizando o polvo (PREMATURIDADE, 2017), ainda de forma não padronizada e sem acompanhamento dos resultados; ou seja, tudo aqui, como no resto do mundo, está sendo feito sem base científica e é isso que se pretende mudar com este estudo inicial. Receoso com o abandono de métodos cientificamente comprovados como Programa Método Mãe Canguru o Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica 08/2017 (ANEXO B) que recomendava a utilização do polvo apenas como recurso lúdico e não como recurso terapêutico (BRASIL, 2017). A repercussão do uso do “polvo” facilita o uso de brinquedos nas incubadoras, resgatando o lugar do lúdico junto à esses bebês [...]. Por muito tempo a presença de pequenos presentes familiares/brinquedos trazidos para o bebê foi proibida , com o argumento de que poderiam comprometer o controle de infecções nas unidades neonatais. A presença do polvo resgata essa discussão. A utilização de brinquedos na unidade neonatal tem benefícios, podendo ser o polvo assim como girafas, sapos, ursos, bonecos, carros, desde que respeitadas as normas e protocolos de controle de infecção hospitalar de cada unidade (BRASIL, 2017, p. 1). Entende-se a preocupação do Ministério da Saúde, para que a prática não se torne uma fonte de riscos ao RN, uma vez que movidas pela empolgação as pessoas possam começar a produzir polvos com material diverso ao recomendado ou fora dos padrões de tamanho, o que pode comprometer a integridade física do RN (enlaçamento ou sufocamento, alergias respiratórias e/ou cutâneas). 46 FIGURA 15: Recém-nascido aconchegado a polvo verde Fonte: ficargravida.com.br Todavia é importante que pesquisas sejam desenvolvidas para que se possa orientar, assim como é feito com o Programa Método Mãe Canguru, a implementação do uso do polvo, criando orientações que abarquem desde a sua confecção, até a entrega definitiva para o RN em alta. 47 5 ASPECTOS METODOLÓGICOS Buscou-se com esse trabalho levantar as publicações existentes acerca do uso lúdico de polvos de crochê com prematuros em incubadora. Realizando-se buscas de referenciais teóricos publicados, os mesmos nortearam a pesquisa, contribuindopara a análise e organização dos dados coletados, além de terem fundamentado e dado base a todo o estudo, seguindo-se orientação de Costa e Zoltowski (2014), que destacam constituir-se a revisão sistemática em um trabalho crítico, reflexivo e compreensivo sobre a temática a ser pesquisada e avaliada. Para Guanilo, Takahashi e Bertolozzi (2010) a pesquisa sistematizada constitui-se de uma metodologia rigorosa que se propõe a identificar estudos sobre um tema específico, utilizando métodos explícitos e sistematizados de busca; avaliar a qualidade e validade desses estudos, e também verificar a aplicabilidade no contexto onde mudanças poderão ser implementadas. As mesmas autoras ressaltam ainda que os estudos sobre o tema selecionado poderão fornecer evidência científica que possibilitará a implementação de uma nova prática baseada em evidências (GUANILO; TAKAHASHI; BERTOLOZZI, 2010). MacLure et al. (2016) ressaltam quatro razões que fundamentam a pesquisa sistematizada: identificar, avaliar e interpretar evidências em pesquisas disponíveis sobre o tema escolhido; identificar intervenções eficazes e ineficazes sobre o tema; auxiliar na informação de práticas e políticas integradas e imparciais nas quais as evidências se baseiam; e identificar lacunas na literatura (acerca do tema escolhido) para informar estudos futuros (MACLURE et al., 2016). O estudo foi dividido em oito etapas: 1-Delimitação do tema; 2-Escolha das fontes de dados; 3-Escolha dos descritores para a busca; 4-Busca e armazenagem de artigos; 5-Seleção de estudos de acordo com critérios de inclusão e exclusão e análise de resumo; 6-Seleção de dados dos artigos selecionados; 7-Avaliação dos artigos; 8-Síntese e interpretação dos dados. As etapas não foram rigorosamente sequenciais, pois conversam entre si (MACLURE et al., 2016). Os dados do estudo para esta revisão sistemática foram selecionados através de pesquisas realizadas em bancos de dados com respaldo nacional e internacional, a saber: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da 48 Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), acessados através do portal bvsalud.org; Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Também foi utilizada a plataforma do Google Acadêmico, por conter monografias, dissertações, teses, leis, manuais e materiais diversos relacionados aos descritores utilizados. Por ser um tema novo, nessas bases não foram encontrados estudos científicos diretamente relacionados aos efeitos do uso lúdico do polvo de crochê com prematuros em incubadoras, por esse motivo, também foram utilizadas informações dos sites das Organizações Não Governamentais Prematuridade e Spruttegruppen, do Brasil e Dinamarca, respectivamente. As referidas ONGs são responsáveis pela criação e divulgação da ideia e trazem dados importantes sobre sua história, orientações para confecção do artefato, países que já adotam o uso, efeitos percebidos e quantidade de polvos distribuídos. Como já mencionado, não foram encontrados artigos científicos sobre o tema escolhido, então, a seleção de artigos científicos sobre os benefícios do uso de artefatos lúdicos com prematuros em unidades de cuidados neonatais, o que auxilia na compreensão dos possíveis efeitos que o uso lúdico do polvo de crochê pode trazer. Buscou-se ainda dados sobre os processos que envolvem a prematuridade e a complexidade da internação de um prematuro, estudando-se as unidades de cuidados neonatais e algumas terapias ali utilizadas. 5.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO Os critérios de inclusão estabelecidos para a seleção dos artigos publicados foram os seguintes: que contivessem (isoladamente ou cruzados) qualquer dos descritores do item 5.2 e/ou das palavras-chave citadas no resumo (e título) deste trabalho (para cruzamento foram utilizados os conectores ‘e’, ‘ou’; ‘and’, ‘or’, ‘y’ e ‘o’, para artigos em Português, Inglês e Espanhol, respectivamente); que estivessem disponíveis português, inglês e/ou espanhol; e que contemplassem o tema e os objetivos da pesquisa. Artigos que não contemplassem qualquer dos critérios citados foram excluídos. 49 5.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS Foram realizadas buscas, no período de março de 2017 a junho de 2018, nos bancos de dados e sites já citados (LILACS, MEDLINE, SciELO, Google Acadêmico, prematuridade.com e spruttegruppen.dk). Os descritores utilizados foram: polvo de crochê; projeto polvo; prematuridade; prematuro; recém-nascido prematuro; recurso lúdico; incubadora; Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e UTIN, Unidade de Cuidado Intermediário Convencional e UCINCo; Unidade de Cuidado Intermediário Canguru e UCINCa, Programa Método Mãe Canguru. Todos os termos em língua vernácula foram também pesquisados em inglês (crochet powder e crochet octo; octo project; prematurity; preterm newborn; recreational resource e/ou playful artifact; incubator; Neonatal Intensive Care Unit e NICU, Conventional Intermediate Care Unit e CICU; Kangaroo Internidiate Care Unit e KICU e Kangaroo Mother Method Program) e espanhol (pulpo de crochet; programa pulpo; prematuridad; recién nacido prematuro; recurso lúdico; incubadora; Unidad de Terapia Intensiva Neonatal e UTIN, Unidad de Cuidado Intermedio Convencional e UCINCo; Unidad de Cuidado Intermedio de Canguro e UCINCa; e Programa Método Madre Canguro). Os cruzamentos utilizados foram: polvo de crochê e/ou prematuridade/prematuro/recém-nascido prematuro/recurso lúdico/incubadora/ UTIN/UCINCo/UCINCa; projeto polvo e/ou prematuridade/prematuro/recém-nascido prematuro/recurso lúdico/incubadora/UTIN / UCINCo / UCINCa; prematuridade e/ou recurso lúdico / incubadora/ UTIN / UCINCo/UCINCa; prematuro e/ou recurso lúdico/incubadora/UTIN/UCINCo/UCINCa; recém-nascido prematuro e/ou recurso lúdico/incubadora/UTIN/UCINCo/UCINCa; recurso lúdico e/ou incubadora/UTIN/UCINCo/UCINCa; incubadora e/ou UTIN/UCINCo/UCINCa. Os cruzamentos também foram pesquisados em inglês e espanhol. 5.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS A análise do material coletado foi organizada através de categorização cientométrica e temática. Os dados das categorias cientométricas foram utilizados para estatísticas descritivas, apresentados em formato de frequências simples, considerando a quantidade de artigos encontrados base e sites, ano e título de artigo. 50 Quanto às categorias temáticas, utilizou-se a Análise de Conteúdo de Bardin (2009) para o agrupamento. As unidades de registro foram trechos dos artigos que contemplaram o tema uso de recurso lúdico com prematuros em incubadoras, como também as colocações feitas sobre o tema. Assim as unidades de registro foram agrupadas em 3 categorias temáticas, sendo elas: Categoria 1 – Prematuridade; Categoria 2 – Unidades de Cuidados Neonatais; e Categoria 3 – Terapias com Prematuros em Incubadoras. 51 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO A busca de produções com os descritores já citados levou a um total de 700.872 (setecentos mil, oitocentos e setenta e dois) artigos. Quando a busca foi feita cruzando os termos chegou-se a um total de 87.346 (oitenta e sete mil, trezentos e quarenta e seis) trabalhos. Após a realização da primeira seleção de artigos, apenas 84 (oitenta e quatro) permaneceram, entretanto, ao realizar todos os filtros, tomando por base os critérios de inclusão e exclusão, e considerando apenas os materiais que abordavam a temática e os objetivos do referido trabalho, ficaram um total de 49 (quarenta e nove) publicações, englobando monografias, dissertações, teses, artigos, livros (partes), trabalhos apresentados em eventos acadêmicos, manuais e rotinas de orientação em atendimento hospitalar, leis, portarias, decretos e publicações de órgãos públicos, especialmente do Ministério da Saúde. A seguir serão apresentadas as informações coletadas,
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