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2_n23_A CONSTITUIÇAO FEDERAL DE 1988 E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

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Prévia do material em texto

● JURÍDICA v. 12, n. 23, jan./jun. 2018 
 
 ISSN 1982-3924 
 
 
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E OS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS: MANUTENÇÃO DA COLETIVIDADE NO MUNDO 
MODERNO 
 
 
Ana Gabriela Dutra da Silva1 
Caroline Valentino Marins2 
Cristian Uill Rocha Barbosa3 
Juliana de Souza Lázaro4 
Oreonnilda de Souza5 
 
 
RESUMO 
 
 
A Constituição Federal de 1988 foi promulgada elevando a importante questão dos 
direitos fundamentais como garantia do princípio de isonomia. Para tanto, até que se 
alcançasse de forma expressa os direitos e garantias essenciais para a dignidade 
humana, foi impreterível que os direitos fundamentais protagonizassem inúmeras 
conquistas históricas, refletidas em suas dimensões. Assim, a Lei Maior de 1988 
desempenha papel primordial, nas relações entre indivíduos e Estado, ao se tornar a 
responsável por assegurar a garantia da solidariedade e fraternidade em uma 
sociedade na qual a inquietude e o tormento se instauram no indivíduo moderno. 
 
Palavras-chave: Constituição Federal. Dimensões. Direitos fundamentais. 
Modernidade. 
 
 
 
1 Mestre em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Londrina (2014); Graduada em Letras 
pela Universidade Estadual de Londrina (2011); Graduanda em Direito, atualmente cursando o 5º 
período no Centro Universitário de Rio Preto – UNIRP; E-mail: anagabriela.ds@hotmail.com 
2 Graduanda em Direito, atualmente cursando o 5º período no Centro Universitário de Rio Preto – 
UNIRP; E-mail: carol-k-3@hotmail.com 
3 Graduando em Direito, atualmente cursando o 5º período no Centro Universitário de Rio Preto – 
UNIRP; E-mail: cwrochab@gmail.com 
4 Graduanda em Direito, atualmente cursando o 5º período no Centro Universitário de Rio Preto – 
UNIRP; E-mail: jusouza_85@hotmail.com 
5 Mestre em Empreendimentos Econômicos, Desenvolvimento e Mudança Social, linha de pesquisa 
Relações Empresariais, Desenvolvimento e Demandas Sociais pela Universidade de Marília (2017); 
Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho pela UNIRP (2011); Pedagoga 
(UNIRP/2016); Professora pesquisadora vinculada ao Núcleo de Iniciação Científica do Curso de 
Direito – NICDir; Editora da Revista Eletrônica Jurídica da UNIRP – Universitas. Advogada. Membro da 
Comissão de Direito do Trabalho da 22ª Subseção da OAB/SP. E-mail: oreonnilda@unirp.edu.br 
36 
 
 
 Rev. Eletr. Jur. (on-line) 
 São José do Rio Preto/SP, 
 v. 12, n. 23, jan./jun. 2018. 
THE FEDERAL CONSTITUTION OF 1988 AND THE FUNDAMENTAL 
RIGHTS: COLLECTIVITY MAINTENANCE IN THE MODERN WORLD 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The Federal Constitution of 1988 was promulgated raising the important issue of the 
fundamental rights as a guarantee of the principle of isonomy. Therefore, until the 
essential rights and guarantees for human dignity were attained, it was imperative that 
the fundamental rights should lead to countless historical achievements, reflected in 
their dimensions. Thus, the Greater Law of 1988 plays a primordial role in relations 
between individuals and the State, as it becomes responsible for ensuring the 
guarantee of solidarity and fraternity in a society in which instability and torment are 
established in the modern individual. 
 
Keywords: Federal Constitution. Dimensions. Fundamental rights. Modernity. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 A Constituição Federal de 1988, após um período árduo de grandes prejuízos 
individuais e coletivos ocasionados por algumas das constituições anteriores, a 
exemplo das Constituições de 1937 e a de 1967, trouxe a importante questão dos 
direitos fundamentais como garantia do princípio da isonomia. 
Em 1937, com o golpe de Estado pelo Presidente Getúlio Vargas, outorgou-se 
uma Constituição de cunho extremista tanto pela direita quanto pela esquerda. 
Inspirada na Constituição Polonesa, seguia o modelo fascista, antiliberal, suprimiu 
direitos individuais e elevou o presidente como autoridade máxima, por isso o período 
é conhecido como a ditadura de Vargas (1937 a 1945). 
Outra Constituição outorgada, a de 1967, centralizadora, que conferia excesso 
de poderes ao presidente, época da ditadura militar, suprimiu inúmeros direitos sociais 
e individuais. 
Em 1988, com a promulgação da Constituição cidadã, estabeleceu-se o regime 
democrático e a garantia de direitos fundamentais – direitos individuais e coletivos, 
direitos sociais, direitos de nacionalidade, direitos políticos e os direitos relacionados 
37 
 
 
 Rev. Eletr. Jur. (on-line) 
 São José do Rio Preto/SP, 
 v. 12, n. 23, jan./jun. 2018. 
aos partidos políticos. Foi a primeira Constituição brasileira a fixar os direitos 
fundamentais antes da organização do próprio Estado. Sem dúvidas, uma grande 
evolução no Direito brasileiro, que, “por meio de suas instituições, teve de se adaptar 
ao novo cenário constitucional, reformulando conceitos, substituindo institutos e 
implementando o novo regime constitucional. E esta evolução há de ser constante” 
(TAVARES, 2017, p. 115-116). 
 É notório que, antes dos direitos fundamentais conceituarem-se como “um 
conjunto indispensável de prerrogativas” (GONÇALVES, 2012), uma existência digna 
e igual ainda não era assegurada formalmente para todas as pessoas. Desta forma, 
torna-se de extrema importância que o foco da análise seja mantido, de maneira mais 
profunda, nos direitos coletivos e sociais como forma de assegurar a igualdade entre 
os cidadãos. 
Para tanto, o presente artigo versará acerca da evolução dos direitos 
fundamentais juntamente com a transformação do indivíduo moderno ao longo dos 
séculos; da evolução histórica das constituições brasileiras até a Carta Magna de 
1988; e, em seguida, apresentará uma breve análise interpretativa do preâmbulo e do 
artigo 3º da Constituição Federal atual. 
 Torna-se de suma importância apontar que o presente estudo, em alguns 
momentos, extrapola o âmbito teórico-jurídico e também menciona, em seu 
referencial, autores da teoria literária. Tal método é utilizado para que o tema sobre a 
coletividade seja ainda mais aprofundado e para que a compreensão acerca das 
relações entre indivíduos, Estado e mundo exterior seja mais facilmente alcançada. 
Afinal, como discutido por Thais Rodegheri Manzano (2011 passim), não seria a 
própria literatura expressão máxima da sociedade de sua época e, 
consequentemente, exemplo verossímil dos direitos que acompanham a 
transformação histórica do ser humano? 
Ademais, ao longo do texto, as equiparações entre as evoluções dos direitos 
fundamentais – primordialmente os coletivos – e do próprio gênero romanesco – como 
representação do indivíduo – mostram-se amplamente possíveis ao se considerar que 
mesmo que “o direito não possa ser considerado uma práticaartística”, a maneira pela 
qual a prática jurídica é interpretada engloba “muitos dos parâmetros utilizados na 
análise de textos literários”, como já demonstrado por Ronald Dworkin (apud 
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SÁNCHEZ; SOARES, 2013, p. 257) em sua teoria acerca do “romance em cadeia”, 
na qual “as interpretações literária e jurídica são confrontadas”. 
 
 
EVOLUÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E CONTEXTUALIZAÇÃO DO 
INDIVÍDUO MODERNO 
 
 
 Os direitos fundamentais podem ser definidos como “uma categoria jurídica, 
constitucionalmente erigida e vocacionada à proteção da dignidade humana em todas 
as dimensões”. Por conseguinte, “possuem natureza poliédrica, prestando-se ao 
resguardo do ser humano na sua liberdade [...], nas suas necessidades [...] e na sua 
preservação” (ARAUJO; NUNES JÚNIOR, 2014, p. 153). Interessante apontar, ainda, 
que várias expressões são utilizadas para se referir a essa gama de direitos (direitos 
do homem, direitos humanos, direitos fundamentais do homem etc.), entretanto, de 
acordo com André Ramos Tavares (2017, p. 354), a expressão “direitos fundamentais” 
por englobar os direitos individuais, os direitos políticos, os direitos sociais, 
econômicos e os direitos de solidariedade é tecnicamente a mais correta, inclusive 
podendo ser utilizada em nível interno como em nível internacional. 
A Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece, em seu Artigo I da 
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), que todos os seres humanos 
nascem livres e iguais na dignidade e nos direitos, devendo agir uns com os outros 
em espírito de fraternidade, já que são dotados de razão e de consciência. Sendo 
assim, atualmente, para que seja assegurada uma existência digna e igual para todas 
as pessoas, a existência dos direitos fundamentais mostra-se essencialmente 
necessária (GONÇALVES, 2012). 
 Entretanto, é possível perceber que para que fossem viáveis, aceitos e 
constitucionalizados, foi impreterível que os direitos fundamentais protagonizassem 
inúmeras conquistas históricas, o que justifica a significância da menção de suas 
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principais dimensões6, sendo elas: Primeira Dimensão – Liberdades Públicas; 
Segunda Dimensão – Igualdade; Terceira Dimensão – Fraternidade7. 
 A primeira dimensão engloba os direitos civis e políticos e, segundo Luiz Alberto 
David Araujo e Vidal Serrano Nunes Júnior (2014, p. 159), é considerada 
 
 
[...] o primeiro patamar de alforria do ser humano reconhecido por uma 
Constituição. [...]. São os direitos de defesa do indivíduo perante o Estado. 
[...]. Trata-se de direitos que representavam uma ideologia de afastamento 
do Estado das relações individuais e sociais. O Estado deveria ser apenas o 
guardião das liberdades, permanecendo longe de qualquer interferência no 
relacionamento social. 
 
 
 É fundamental observar que tal abstenção de interferência do Estado é o que 
qualifica os direitos fundamentais de primeira geração como “liberdades públicas 
negativas” ou “direitos negativos” (ARAUJO; NUNES JÚNIOR, 2014, p. 159). Em 
relação a essa abstenção estatal, GONÇALVES (2012) atesta que os direitos de 
primeira dimensão estabelecem limites para o Estado, ao mesmo tempo que 
resguarda os direitos considerados indispensáveis ao ser humano. Sendo assim, tais 
direitos consolidam-se em “um não fazer do Estado em favor do cidadão” 
(GONÇALVES, 2012). 
Ademais, a autora reitera que o surgimento desses direitos se deu devido às 
revoluções ocorridas no final do século XVIII e foram protagonizadas pela nova classe 
que se consolidava – a burguesia (GONÇALVES, 2012). Tal fato é indissociável do 
paralelo de que a conquista dos direitos fundamentais de primeira dimensão 
acompanhou a tendência romanesca em voga no século XVIII. Afinal, tal tendência 
tinha como maior objetivo a glorificação do indivíduo situado em uma época na qual o 
individualismo era a estrutura da consciência de uma burguesia que construía uma 
nova sociedade e que, de modo consequente, se encontrava no mais alto nível de sua 
eficácia histórica (GOLDMANN, 1976). 
 
6 Há uma divergência acerca da nomenclatura a ser utilizada para se referir à evolução histórica de 
inserção dos direitos fundamentais, como aponta DIÓGENES JÚNIOR (2012), optaremos pelo termo 
“dimensão”. 
7 Importante mencionar que ainda há uma 4ª, uma 5ª e uma 6ª Dimensão em discussão atualmente por 
estudiosos como BOBBIO (2004) e BONAVIDES (2004), sendo elas referentes à Tecnologia, à 
Paz/Internet e ao direito ao acesso à água potável, respectivamente. No entanto, não as 
aprofundaremos no presente artigo. 
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Em outras palavras, é concebível notar como o ideal de liberdade que abrange 
os direitos individuais e políticos do cidadão no século XVIII, exaltado pela Revolução 
Americana (1776) e pela Revolução Francesa (1789), também aparece como a 
máxima no que diz respeito ao sentimento de libertação do próprio indivíduo 
representado pela personagem romanesca, como se pode notar no romance 
Robinson Crusoé (1719), de Defoe – o homem que sozinho, sem necessitar sequer 
do auxílio do Estado, vence até mesmo a própria natureza. Inclusive, é possível 
ratificar a questão ao se salientar que o homem moderno é um ser absolutamente 
autônomo, seu significado não depende mais simplesmente das instituições; sendo a 
personagem romanesca a representação do “grande anseio da civilização moderna: 
a absoluta liberdade econômica, social e intelectual do indivíduo” (WATT, 1990, p. 77). 
 Por sua vez, a segunda dimensão compreende os direitos econômicos, sociais 
e culturais, que revelam “uma etapa da evolução na proteção da dignidade humana” 
(ARAUJO; NUNES JÚNIOR, 2014, p. 159). Os direitos dessa dimensão apresentam 
uma preocupação com uma nova forma de proteção da dignidade, colocando o Estado 
em uma nova posição, diferente daquela que ocupava na dimensão anterior. 
Sendo assim, esses direitos exigem uma atuação prestacional do Estado, no 
que concerne à busca de superação das carênciasindividuais e sociais. 
Consequentemente, os direitos fundamentais de segunda dimensão são chamados 
de direitos positivos, em contraposição aos direitos chamados negativos na primeira 
dimensão, pois não reivindicam a abstenção estatal, mas sim a presença do Estado 
para que seja possível minorar os problemas sociais; afirmando, assim, sua 
participação ativa (ARAUJO; NUNES JUNIOR, 2014, p. 159-160). 
 A Revolução Industrial europeia, iniciada no final do século XVIII e que 
perdurou até a segunda metade do século XIX, impulsionou os direitos fundamentais 
de segunda dimensão, ocasionando uma “evidenciação dos direitos sociais, culturais 
e econômicos, bem como dos direitos coletivos, ou de coletividade, correspondendo 
aos direitos de igualdade” (GONÇALVES, 2012). Novamente, o paralelo entre a 
conquista dos direitos fundamentais e a literatura mostra-se evidente. No mesmo 
momento em que há uma necessidade de obtenção dos direitos coletivos, ocorre um 
declínio do individualismo com o advento do moderno capitalismo industrial. Tal 
acontecimento é muito bem retratado pelos romances que tentam resgatar o 
sentimento de comunidade antes abrigado pelo épico. Aliás, tal tentativa de retomada 
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do coletivo, seja em relação aos direitos fundamentais relacionados ao trabalho, à 
habitação, à saúde ou na crise existencial do indivíduo que se sente desamparado, o 
Estado desempenha papel fundamental, afinal 
 
 
A pátria deixa de ser uma comunidade, uma terra, algo concreto e palpável e 
se converte em uma ideia a que todos os valores humanos se sacrificam: a 
nação. Ao antigo senhor – tirânico ou clemente, mas a quem se pode 
assassinar – sucede o Estado, imortal como uma ideia, eficaz como uma 
máquina [...] (PAZ, 1976, p. 65-66). 
 
 
Os direitos de terceira dimensão, por seu turno, representam “uma nova 
convergência de direitos, volvida à essência do ser humano, sua razão de existir, ao 
destino da humanidade, pensando o ser humano enquanto gênero e não adstrito ao 
indivíduo ou mesmo a uma coletividade determinada (ARAUJO; NUNES JÚNIOR, 
2014, p. 160). Destarte, abarcam o direito à solidariedade e à fraternidade, o que 
constitui mais uma conquista da humanidade para ampliação dos horizontes de 
proteção e emancipação dos cidadãos, ou seja, o enfoque é o ser humano relacional, 
em conjunção com o próximo, sem a presença de fronteiras, sejam elas físicas ou 
econômicas (ARAUJO; NUNES JÚNIOR, 2014, p. 160). 
 Simultaneamente aos tradicionais direitos, o Estado passa a proteger outras 
modalidades de direitos “decorrentes de uma sociedade de massas [...], em que os 
conflitos sociais não eram mais adequadamente resolvidos dentro da antiga tutela 
jurídica voltada somente para a proteção de direitos individuais” (PINHO, 2010, p. 98 
apud GONÇALVES, 2012). Assim sendo, os direitos aqui conquistados sobrepujam 
os interesses individuais e passam a ter como preocupação a proteção do gênero 
humano, com enfoque no humanismo e na universalidade (LENZA, 2012, p. 960). 
 Mais uma vez, a analogia entre os direitos aqui adquiridos e a literatura se faz 
presente, visto que a Constituição se torna a responsável por assegurar a garantia da 
solidariedade e fraternidade em uma sociedade na qual a inquietude e o tormento se 
instauram no homem moderno e se refletem nas relações entre indivíduos, visto que 
a liberdade traz a responsabilidade de se fazer escolhas, mas a tomada de 
consciência da liberdade é acompanhada do receio de usá-la de maneira equivocada 
(FONTES, 2010 passim). 
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Essa insegurança do homem moderno é refletida na personagem romanesca 
denominada “herói problemático” (LUKÁCS, 2009), que se revela na ausência de 
correspondência transcendental entre alma e mundo exterior, o que acarreta “a 
solidão e a problemática do indivíduo”, o qual tem seus ideais ampliados ao mesmo 
tempo em que a totalidade se torna cada vez mais perdida (FONTES, 2010, p. 38). 
Dessa forma, a responsabilidade e importância dos direitos fundamentais 
constitucionalizados é novamente evidenciada para estabelecer limites não somente 
nas relações verticais, mas também, e principalmente, nas horizontais, afinal, “os 
direitos fundamentais nascem juntamente com o ser humano e estabelecem a 
convivência do homem em sociedade” (GONÇALVES, 2012). 
 
 
EVOLUÇÕES CONSTITUCIONAIS BRASILEIRAS 
 
 
 A Constituição Federal de 1988 demonstrou sua inovação em relação às 
anteriores, baseada em valores igualitários e humanistas, foi denominada 
“Constituição Cidadã”, visando à redemocratização do país, “estabelecendo como 
cláusula pétrea o voto direito, secreto, universal e periódico, bem como na priorização 
dos direitos fundamentais”, com substancial aplicação pelo legislador constituinte 
(NUNES JÚNIOR, 2018, p. 337). No entanto, até que o Brasil pudesse alcançar 
satisfatoriamente uma Constituição do Estado social, foi inevitável que as anteriores 
não contemplassem de forma plena e suficiente os direitos fundamentais. 
 Bonavides (2004, p. 361) distingue três fases históricas divididas de acordo 
com os valores políticos, jurídicos e ideológicos predominantes nas constituições 
brasileiras, sendo elas: 1) constitucionalismo do Império, com inspiração francesa e 
inglesa; 2) constitucionalismo da Primeira República, com a adoção do modelo 
americano, bem como do federalismo e do presidencialismo; e 3) constitucionalismo 
do Estado social, com a influência de Weimar e Bonn. 
 A primeira fase constitucional se inicia em 1822 e vai até 1889, com o colapso 
monárquico e, subsequentemente, o advento da república (BONAVIDES, 2004, p. 
362). A Constituição de 1824, outorgada na vigência de Dom Pedro I, apresentava 
como principais características a monarquia como forma de governo hereditário, 
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 São José do Rio Preto/SP, 
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obviamente; um novo poder além do Executivo, Legislativo e Judiciário, denominado 
Poder Moderador – o qual concedia ao Imperador “a chave de toda a organização 
política do Império” (BONAVIDES, 2004, p. 364); o catolicismo como religião oficialdo 
Império; o voto censitário, aberto e indireto; vitaliciedade dos senadores; e as 
capitanias existentes transformadas em províncias (LIMA, 2008). 
Nesse período, ocorreu uma disputa árdua entre radicais e conservadores na 
Assembleia Constituinte; a elite latifundiária escravista desejava limitar os poderes do 
Imperador; que, desejando obter o poder de veto sobre as decisões do Legislativo, 
dissolveu a Assembleia e outorgou a Constituição com a mais longa duração da 
história brasileira (65 anos). 
Ao mesmo tempo, consolidava-se o Romantismo no Brasil, um movimento 
literário que tinha como principal objetivo a criação de uma nova história brasileira por 
meio da criação de uma cultura própria, da busca por uma identidade e consciência 
nacional que se desvinculasse da portuguesa – o mesmo desígnio buscado pelos 
indivíduos com a Independência. 
No entanto, assim como a primeira fase constitucional brasileira não consegue 
se desvincular totalmente do poder do Imperador, os propósitos românticos também 
não são alcançados de forma plena em um contexto no qual a nacionalidade buscada 
não consegue se libertar dos modelos europeus, o que torna os ideais românticos 
saturados e, posteriormente, suplantados. 
É claro que, paralelamente ao movimento romântico, a carência de autonomia 
provincial e a falta de descentralização dos poderes acabam por culminar em uma 
desintegração política da monarquia, que foi substituída pelo sistema republicano 
governamental (BONAVIDES, 2004, p. 364). Afinal, com as rápidas transformações e 
com o surgimento de novos desafios atrelados à reorganização do mundo do trabalho, 
a Constituição de 1824 torna-se um descompasso a ser superado. 
O segundo período constitucional, após a proclamação da República, é 
marcado pelos valores e princípios de organização formal do poder, com uma forte 
influência do modelo norte-americano. O trabalho escravo africano foi substituído pelo 
trabalho livre do imigrante; afinal, “o novo Estado constitucional já não pretendia pois 
oscilar formalmente como um pêndulo entre as prerrogativas do absolutismo 
decadente e as franquias participativas do governo representativo”, transformando-
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 São José do Rio Preto/SP, 
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se, assim, em um Estado com a plenitude formal das instituições liberais explicitada 
na promulgação da Constituição de 1891 (BONAVIDES, 2004, p. 364-365). 
As principais características dessa Constituição são: abolição do governo 
monárquico; transformação das províncias em Estados da Federação; sistema 
presidencialista conforme o modelo americano; regime representativo; extinção do 
Poder Moderador, com a presença apenas dos Três Poderes; concessão de maior 
autonomia aos Estados da Federação por meio de constituições organizadas; 
abolição da vitaliciedade dos senadores; Presidente da República como chefe do 
Executivo; sufrágio aberto e direto, mas com restrição aos mendigos e analfabetos; 
duração de quatro anos para os mandatos; inexistência de reeleição; exercício do 
Poder Legislativo pelo Congresso Nacional; Estado laico; instituição do habeas 
corpus; e concessão de vitaliciedade aos juízes federais (LIMA, 2008). 
Sendo assim, fizeram-se presentes 
 
 
[...] todas aquelas técnicas de exercício da autoridade preconizadas na época 
pelo chamado ideal de democracia republicana imperante nos Estados 
Unidos e dali importadas para coroar uma certa modalidade de Estado liberal, 
que representava a ruptura com o modelo autocrático do absolutismo 
monárquico e se inspirava em valores de estabilidade jurídica vinculados ao 
conceito individualista de liberdade (BONAVIDES, 2004, p. 365). 
 
 
 Entretanto, os princípios fundamentais projetados da Constituição americana 
foram suprimidos pelos interesses da oligarquia latifundiária por meio da corrupção 
eleitoral (LIMA, 2008); o que, posteriormente, culminou no desmoronamento da 
Primeira República pela desmoralização oligárquica dos poderes (BONAVIDES, 2004, 
p. 366). 
Inclusive, o Realismo e o Naturalismo – movimentos literários da época – 
ilustram magistralmente o contexto com uma literatura de caráter mais objetivo e mais 
crítico da realidade brasileira. A representação do indivíduo da época é feita por meio 
de personagens totalmente influenciadas pelo ambiente sociocultural, ético e moral 
em que vivem, o qual só proporciona sentimentos como inveja, culpa, cobiça e desejo 
por ascensão social. 
Tais movimentos, subsequentemente, são sucedidos pelo Simbolismo, que 
espelha a crise de valores, a desconfiança e a desilusão em relação à ausência de 
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 São José do Rio Preto/SP, 
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progresso imediato refletida por uma sociedade arcaica e pré-industrial, na qual os 
direitos de igualdade e civilidade ainda não são garantidos a todos os brasileiros. 
Ademais, o pré-Modernismo também problematiza o Brasil republicano, 
buscando retratar a incapacidade da República de atender às necessidades das 
diferentes regiões brasileiras, o que resulta em um grande descontentamento por 
parte da sociedade. Posteriormente, a geração modernista de 22 tenta superar o 
descompasso entre a modernização e a sobrevivência de padrões considerados 
arcaicos por meio de um nacionalismo crítico. 
 Em uma época conturbada, a terceira fase constitucional inicia-se com o 
governo provisório de Getúlio Vargas por meio da Revolução de 30 e da criação das 
Cartas Magnas de 1934; de 1937; de 1946; de 1967; até culminar na atual 
Constituição de 1988. 
O novo texto constitucional de 1934 trouxe uma nova corrente de princípios que 
consagravam um pensamento divergente no que diz respeito aos direitos 
fundamentais da pessoa humana, ressaltando aspectos sociais ofuscados pelas 
constituições anteriores; aliás, é nessa Carta Magna que, pela primeira vez, o direito 
ao sufrágio é concedido expressamente às mulheres, por exemplo (PORTO, 2000). 
 Não obstante, é possível observar, já em 1934, o início de uma fase de grandes 
conflitos ideológicos, que resultaram na suspensão das garantias constitucionais por 
meio do estado de sítio, proclamado em 1935, por Getúlio Vargas. Como 
consequência, em 1937, uma nova Lei Maior foi outorgada com um incontestável 
caráter autoritário, pleiteando os interesses de grupos políticos dominantes (LIMA, 
2008). 
 Interessante apontar que, nesse período de profundas transformações e 
contradições nos campos político, econômico, social e cultural, as dúvidas e 
questionamentos do homem moderno se tornaram ainda mais evidentes, o que não 
poderia ser diferente, afinal o Brasil passava por um período de inseguranças 
ocasionadas pelo ápice do governo centralizador do regime do Estado Novo, que 
apresentava um forte vínculo com os ideais fascistas. Por conseguinte,a geração 
literária de 30 buscou estudar e compreender as cisões que marcavam a sociedade 
de um Brasil retrógrado e socialmente injusto. 
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Porém, e felizmente, com o ingresso do Brasil na II Guerra Mundial ao lado dos 
aliados, a sucessão do Estado Novo foi dificultada, o que ocasionou o seu declínio e 
sua extinção em 1945 (LIMA, 2008). 
 Logicamente que, devido à queda do regime ditatorial de Vargas, uma nova 
Carta Política era mais do que necessária para que se alcançasse uma 
redemocratização. Logo, por meio de uma Assembleia Constituinte, promulgou-se a 
Constituição dos Estados Unidos do Brasil em 1946; iniciando-se, assim, a Terceira 
República, que perdurou até 1964 com a chamada “revolução dos militares” 
(BONAVIDES, 2004, p. 367). 
 Torna-se pertinente frisar que a Carta Magna de 1946 teve fundamental 
importância no que diz respeito aos direitos fundamentais, visto que é considerada um 
progresso para a democracia com a inserção da igualdade de todos perante a lei; da 
inviolabilidade do sigilo de correspondência; da inviolabilidade da casa como asilo do 
indivíduo; da prisão somente mediante flagrante delito ou por ordem escrita de 
autoridade competente; e da garantia de ampla defesa do acusado (LIMA, 2008, n.p). 
 Entretanto, ainda que conquistados todos esses direitos após um período 
arbitrário, os chamados “anos dourados” da política desenvolvimentista de Juscelino 
Kubitschek não significaram, contrariando a generalidade, um bem-estar social para 
todos os cidadãos, o que se comprovou pelo aumento da desigualdade na década de 
50. Nas palavras de Mayara Faggion Grigoletto (2014, p. 4), nos Anos Dourados, 
 
 
Foi fato que a economia mundial cresceu muito [...], alcançando índices de 
empregabilidade, trocas, produtividade, industrialização, e urbanização 
realmente impressionantes. Desta maneira, foi fato também o grande 
aumento da concentração de capital; do tamanho das cidades; da 
deterioração ambiental; da dependência dos países periféricos; das 
desigualdades econômicas [...]. 
 
 
Para ratificar, a terceira geração modernista apresenta um cenário conturbado 
e profundamente fraturado, com rupturas e indefinições, avanços e recuos a partir de 
obras literárias que visam promover questionamentos acerca da identidade e do papel 
do indivíduo inserido em uma multiplicidade fragmentada da vida contemporânea. 
Guimarães Rosa, por exemplo, registra os valores culturais de uma população 
regional que sente seu cotidiano ameaçado pelo progresso. 
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Torna-se pertinente apontar, ainda, que posteriormente, até o Golpe Militar, o 
Brasil parece adentrar um “estado de graça”, visto que, tanto no âmbito jurídico, 
quanto no literário, é dificultoso encontrar aparato teórico minucioso acerca do 
período. As principais doutrinas, inclusive, aparentemente ignoram esse lapso 
temporal. Após a geração de 45, nas palavras de ROCHA (2002), “quando se iniciou 
o governo JK, na segunda metade da década de 50, fazia algum tempo que não se 
identificavam novos movimentos ou correntes literárias no Brasil. [...] as polêmicas 
pareciam ter cessado, e os manifestos, desaparecido”. 
A Constituição de 1967, por sua vez, marca o início da ditadura dos militares 
no Brasil, ampliando os poderes do Executivo em detrimento do Legislativo e do 
Judiciário, visto que o Poder Executivo tinha a liberdade de criação de Emendas 
Constitucionais sem a concordância dos outros poderes. Nas palavras de José Afonso 
da Silva (2005, p. 87), a Carta de 1967 “reduziu a autonomia individual, permitindo 
suspensão de direitos e de garantias constitucionais, no que se revela mais autoritária 
do que as anteriores”. 
 Além disso, em 1969, foi criada uma Emenda que aumentou o mandato 
presidencial para cinco anos; determinou eleições indiretas para governador do 
Estado; extirpou as imunidades parlamentares; estabeleceu a Lei de Segurança 
Nacional e a Lei de Imprensa. Inclusive, esta Emenda é considerada por parte da 
doutrina como um novo texto constitucional, o que é ratificado por Silva (2005, p. 87) 
na afirmação de que “teórica e tecnicamente, não se tratou de emenda, mas de nova 
constituição. A emenda só serviu de mecanismo de outorga, uma vez que 
verdadeiramente se promulgou texto integralmente reformulado”. 
É nítido que, com a ditadura militar, a censura à liberdade de expressão e 
opinião praticamente anula, por meio da coerção e da limitação, as várias 
manifestações artísticas de vozes discordantes (REIMÃO, 2014, p. 75). Tal ato 
censório é uma agressão à cidadania, o que leva a ações de resistência praticadas 
por alguns escritores, como Jorge Amado e Érico Veríssimo, leitores e anônimos que 
“atuaram com dignidade e em prol da liberdade, mesmo em tempos sombrios” 
(REIMÃO, 2014, p. 88). 
Infelizmente, foi apenas em 1985 que o poder estatal foi devolvido a um civil, 
assim, os valores democráticos foram aos poucos se restabelecendo aos brasileiros 
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e, com a Nova República, finalmente se extinguem as ditaduras militares em território 
nacional. 
Dessa maneira, a Constituição Federal de 1988 consolidou sua pertinência ao 
assegurar os princípios fundamentais inerentes à pessoa humana, tendo como base 
o princípio da dignidade da pessoa humana; o direito ao voto aos analfabetos e 
brasileiros maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos; repúdio ao racismo 
como crime inafiançável; posse permanente de suas terras aos índios; e novos direitos 
trabalhistas (LIMA, 2008). 
Evidentemente, não é por menos que a Lei Maior de 1988 é chamada de 
Constituição-cidadã por Ulysses Guimarães, visto que assevera as mudanças 
essenciais na legislação arbitrária, nas formas ilegítimas de representação e na 
estrutura federal com ampla participação popular em sua elaboração. Tal fase é 
definida pela extinção dos resíduos autoritários e pelo começo das transformações de 
caráter social, administrativo, econômico e político voltadas à realização plena da 
cidadania (SILVA, 2005, p. 88-90). 
O novo texto constitucionalnão poderia ser diferente, afinal os conflitos de um 
mundo globalizado e fragmentado, a urbanização caótica e o processo de dissolução 
das identidades resultantes de um contexto repressor precisavam ser superados pelo 
nascimento de uma esperança que fosse capaz de exacerbar o sentimento de 
coletividade no cidadão moderno. 
Por esse motivo, em relação ao valor incontestável dos direitos fundamentais 
presentes nas Cartas Magnas de 1934, 1946 e, principalmente, 1988, Bonavides 
(2004, p. 368) constata que 
 
 
[...] em todas essas três Constituições domina o ânimo do constituinte uma 
vocação política, típica de todo esse período constitucional, de disciplinar no 
texto fundamental aquela categoria de direitos que assinalam o primado da 
Sociedade sobre o Estado e o indivíduo ou que fazem do homem o 
destinatário da norma constitucional. [...]. 
[...]. 
O constitucionalismo dessa terceira época fez brotar no Brasil, desde 1934, 
o modelo fascinante de um Estado social de inspiração alemã, atado 
politicamente a formas democráticas, em que a Sociedade e o homem-
pessoa – não o homem-indivíduo – são os valores supremos. Tudo porém 
indissoluvelmente vinculado a uma concepção reabilitadora e legitimante do 
papel do Estado com referência à democracia, à liberdade e à igualdade. 
 
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Como visto, o processo de constitucionalização do Brasil foi gradativo, a 
elaboração de atos normativos capazes de limitar o poder do Estado tem sido 
essencial para garantia e efetividade dos direitos fundamentais. 
 
 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: PRIMAZIA DA COLETIVIDADE 
 
 
 Após anos de repressão e violações dos direitos humanos, a Constituição 
Federal de 1988 é promulgada como resposta à necessidade de uma Lei Maior 
comprometida “com os preceitos democráticos e com a proteção dos direitos 
humanos” (MIRANDA; STANSKI; STANSKI, 2013, p. 955). Por esse motivo, é 
considerada como “aquela que mais procurou inovar tecnicamente em matéria de 
proteção aos direitos fundamentais” (BONAVIDES, 2004, p. 547). Tal premissa está 
muito bem comprovada pelo próprio preâmbulo da Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988, o qual afirma que 
 
 
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional 
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o 
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de 
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia 
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução 
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 
 
 
 Assim, evidencia-se a incontestabilidade de que há somente uma interpretação 
possível para o preâmbulo constitucional – a de que a supremacia dos direitos sociais 
e individuais, da liberdade, da segurança, do bem-estar, do desenvolvimento e da 
igualdade e justiça é um bem indispensável para que se alcance uma sociedade 
fraterna, pluralista e sem preconceitos, na qual devem estar garantidos o 
comprometimento e a harmonia social com a solução pacífica das dissidências. 
ARAUJO e NUNES JÚNIOR (2014, p. 140) salientam que, apesar de estar expresso 
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que a promulgação ocorreu sob a proteção de Deus, “não significa que o Estado 
brasileiro seja religioso”. 
Além disso, no artigo 3º da referida Carta Magna, os objetivos ditos 
fundamentais da República Federativa são elencados, sendo eles: 
 
 
[...] 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais 
e regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
 
 
 Em relação a esse artigo, David Araujo e Nunes Júnior (2014, p. 146) sustentam 
que “o propósito é o de aparelhar ideologicamente o texto constitucional, revelando 
que todo o conjunto ordenamental que irá se levantar nos dispositivos subsequentes 
se prende à realização” desses objetivos básicos, que simplesmente traduzem a 
noção de justiça social. 
Para que essa questão se torne mais compreensível, é importante salientar que 
o inciso I atesta a necessidade do Estado de edificar os meios para que a democracia 
seja exercida, sempre visando o bem-estar, a qualidade de vida e a harmonia social. 
 A importância da garantia do desenvolvimento nacional está contida no inciso 
II, o que compreende o aperfeiçoamento do indivíduo, das propriedades e das 
instituições para que todas as áreas de atuação humana integrem o progresso da 
nação. 
 O inciso III, por sua vez, evidencia o objetivo da República de erradicar a 
pobreza e a marginalização ao adotar medidas governamentais que possibilitem uma 
igualdade de condições para todos os cidadãos, trazendo melhorias para as áreas da 
saúde, educação e emprego; possibilitando, assim, a redução das desigualdades 
sociais e regionais ao permitir que as classes mais pobres também tenham acesso às 
condições básicas da condição humana. 
 O inciso IV, por último e não menos importante, legitima o Brasil como um país 
de respeito ao afirmar, como objetivo fundamental, a consumação do bem coletivo, 
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acentuando que o preconceito e a discriminação são obstáculos ao respeito do direito 
do próximo, bem como das normas constitucionais. 
Torna-se relevante apontar, ainda, que os direitos fundamentais, por 
apresentarem rol exemplificativo (numerus apertus) aparecem ao longo de toda a 
Constituição de 1988 e, consequentemente, devem ser assegurados e respeitados 
pelas leis infraconstitucionais em consonância com os direitos e deveres individuais e 
coletivos, mais aprofundados no artigo 5º em cada um de seus incisos. 
Dessa maneira, situada na “era da ansiedade” (MANZANO, 2011, p. 74), na 
qual o indivíduo contesta a si mesmo e aos outros, em uma “desesperadaangústia”, 
ao viver “o tempo do pesadelo” (ROSENFELD, 1973, p. 81-83) como consequência 
de regimes ditatoriais, da globalização da economia, da urbanização caótica, da 
massificação da cultura e das inúmeras tentativas de favorecimentos de certas 
classes em detrimento de outras, a Constituição Federal de 1988 nasce como 
protagonista na manutenção da coletividade nas relações horizontais e verticais que, 
sem a presença de uma Lei Maior essencialmente democrática, apenas refletiriam a 
perda da totalidade do sentido imanente de comunidade. 
 
 
CONCLUSÃO 
 
 
 A partir do presente artigo, foi possível demonstrar como os Direitos 
Fundamentais do Homem referem-se aos princípios que resumem as concepções do 
mundo modificadas e conquistadas ao longo dos séculos, e que funcionam, 
primordialmente, como ferramentas para a concretização das garantias de uma 
convivência digna, livre e igual para todas as pessoas. 
 Além disso, distinguem-se três fases históricas divididas de acordo com os 
valores políticos, jurídicos e ideológicos vigentes em cada umas das constituições 
brasileiras, até que fosse possível alcançar o constitucionalismo do Estado social, 
representado rigorosamente pela Constituição Federal de 1988. 
 Portanto, conclui-se que a última Carta Magna, promulgada em 1988 e vigente 
atualmente no país, desempenha papel fundamental no que diz respeito à 
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manutenção da coletividade no mundo moderno para evitar, assim, por meio de uma 
eficácia irradiante, que o individual sobrepuje o coletivo nacional. 
No entanto, apesar dos direitos fundamentais pleitearem-se formalmente ao 
longo de todo o texto constitucional como garantia máxima da igualdade entre os 
indivíduos, surge o questionamento: a aplicabilidade desses direitos realmente tem 
ocorrido de forma satisfatória no plano material? Assunto significativo para ser 
discutido, todavia, em um outro artigo. 
 
 
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Informações de publicação: 
 
Recebido em 06/11/2017 
Aprovado em 07/05/2018 
Avaliado pelo método Double Blind Review

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