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JOHN LOCKE - SEGUNDO TRATADO SOBRE O GOVERNO - "PROPRIEDADE"- CAP V E "DOS FINS DA SOCIEDADE POLÍTICA E DO GOVERNO" - CAP IX

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Guilherme Serrano Rocha – Administração Pública – Diurno 
JOHN LOCKE (1632-1704) 
Ao se falar de John Locke e, ao escolher ao mínimo dois pontos de seus pensamentos para dissertar, deve-se, primeiramente, entender o que Locke representou e representa para a filosofia política. 
Em 1666, John Locke, foi médico e conselheiro de lorde Shaftesbury, um político liberal, que exerceu papel de mentor em sua carreira; de imediato já se percebe quais os ideais de Locke, posteriormente chamado de ‘’pai do liberalismo’’. É defensor da liberdade e da tolerância religiosa, além de apontar que todo conhecimento deriva da experiência. 
Esse trabalho se fundamenta em uma das grandes obras do Autor: ‘’Segundo tratado sobre o governo’’ e, basicamente, os dois pontos a serem trabalhados são: propriedade e dos fins sociedade política e do governo, respectivamente situados nos capítulos V e IX. 	 
De início, sua obra deixa claro que a primeira propriedade do homem é sobre si próprio; o ser tem o poder de fazer o que bem entende com seu corpo e isso não cabe a mais ninguém. 
Para Locke, a propriedade existe no estado de natureza, e pelo fato de ser anterior à sociedade é um direito natural do indivíduo que não pode ser violado pelo estado. 
Voltando ao estado de natureza, o autor indaga a concepção de que Deus deixou o mundo aos homens em comum e esses deveriam usufruir do mundo em seu benefício. Sempre que o ser utiliza do seu trabalho em algo que a natureza o deixou, isso se torna propriedade exclusiva dele, ou seja, caso o homem exerça sua força sobre determinada terra, ele pode cercar essa e deter o direito à mesma. Assim, a propriedade fundamenta-se no trabalho, e é por meio dele que lhe garante o direito de posse, somente por mérito individual, daquele que compra, produz e colhe os frutos produzidos. Porém, isso não quer dizer que não existe um limite: ‘’Deus não criou nada para que os homens desperdiçassem ou destruíssem’’ (pg 43); então, o homem só poderia ter o direito à propriedade caso trabalhasse na totalidade daquela terra, e se houvesse algum tipo de desperdício, seja por uma carne apodrecida etc., ele estaria ferindo o direito do outrem e estaria aberto a sofrer punições. 
Locke deixa claro que o trabalho é o principal diferenciador de valores, pois com ele o homem consegue criar coisas que o estado de natureza não concede: o que faz o vinho valer mais que água é justamente o trabalho empregado nele. O trabalho está acima da terra. 
Como já foi citado, não poderia haver desperdício, e essa é a entrada principal para a criação do dinheiro. O homem viu necessário a troca de bens não duradouros (que iriam estragar rapidamente) por algo duradouro, como ouro, diamante etc. Essa é a porta de entrada para a desigualdade; nessa concepção de propriedade para John Locke, não há maneira de se medir quanto vale o esforço do homem para produzir determinado produto em sua propriedade, logo, ao vender/trocar, ele poderá pedir o quanto quiser, acumular um certo capital e comprar sua propriedade onde fará o que bem entender sem se preocupar em ferir o direito do outro. A partir disso, não há mais o estado de natureza, pois o indivíduo não irá ter mais a propriedade garantida por um direito que Deus lhe concebeu; o dinheiro se sobressairá e logo se tornará o objetivo de quem cultiva, então, a acumulação de capital e consequentemente, de propriedade, fará com que o indivíduo se torne individualista, não pensando na produção para o coletivo, mas apenas para si mesmo. Isso se dá porque, no estado de natureza, ‘’havia poucos habitantes para o território e a ausência de pessoas e de dinheiro não dava aos homens a tentação de ampliar sua posse de terra ou de lutar por uma extensão maior’’ (pg 64), logo, não havia a necessidade da acumulação de capital, mas com a criação da sociedade e da vida em conjunto essa situação foi mudando. 
O outro ponto a ser evidenciado se trata ‘’dos fins da sociedade política e do governo’’, mas para se iniciar a discussão deve ser lembrado, suscintamente, outro capitulo da obra de Locke, que antecede o acima mencionado: ‘’o início da sociedade política’’ (capítulo XIII).Nesse capítulo, o autor deixa evidente que o ser troca o estado de natureza para viver em sociedade por meio, claro, de um acordo entre os homens; esse acordo visa a união em sociedade a fim de garantir uma vida confortável, segura e pacífica uns com os outros. Ao criar essa sociedade, os homens se tornam um só corpo, e esse deve ir em um só caminho, e isso só é possível por meio de uma democracia perfeita. Então, o indivíduo, livre, tem a escolha de viver em sociedade, ou ficar no estado de natureza; caso escolha a primeira opção, deve aceitar o que a maioria decide. Enquanto no estado de natureza existem vários governos (cada indivíduo segue as suas normas) na sociedade existe apenas um, regido pela maioria. 
O problema que Locke encontra nessa convivência em sociedade, é justamente o regime em que essa irá seguir. Quem irá governar? Ele faz a reflexão de que em famílias numerosas onde essas não queriam se misturar com outras, pelo fato de haver bastante terra, o líder era o pai. A partir disso, os homens, acostumados com uma figura paterna, na sociedade, aceitavam uma pessoa só os governando. Logo, a monarquia se tornará o regime político, tomado por poucas leis, com estrutura simples e clara. Porém todos sabem que o autor é totalmente contra o remine absolutismo monárquico e ele busca entender o porquê a sociedade escolhe deixar sua liberdade na mão de uma só pessoa. 
Feito isso, iniciarei a questão sobre o capítulo IX, que mostra os intuitos da sociedade política e do governo: 
Ao contrário de Hobbes, Locke afirma que o estado de natureza não é sinônimo de estado de guerra; diante disso, para o primeiro, o estado serve para controlar o caos da sociedade e é visto como o famoso ‘’Leviatã’’, já para o segundo, a sociedade não necessita de um estado totalmente controlador, ou seja, deve haver uma intervenção mínima, o famoso liberalismo. 
Já foi citado que o homem é livre no estado de natureza, então Locke se pergunta o porquê do ser se sujeitar à dominação de um poder. Ao entrar na sociedade, o homem busca a preservação da sua propriedade, já que o estado de natureza não é tão bom quanto parece. ‘’...ele carece de uma lei estabelecida, fixada, conhecida, aceita e reconhecida pelo consentimento geral, para ser o padrão do certo e do errado e também a medida comum para decidir todas as controvérsias entre os homens’’’, ‘’falta no estado de natureza um juiz conhecido e imparcial, com autoridade para dirimir todas as diferenças segundo a lei estabelecida’’, ‘’no estado de natureza frequentemente falta poder para apoiar e manter a sentença quando ela é justa, assim como para impor sua devida execução’’. Locke vê esses três fatores como fundamentais para a homem passar do estado de natureza para a sociedade; e a 
partir disso, pode-se dizer que a ideia de um estado de natureza sem um governo regendo o bem comum não funciona.

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