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ÍNDICE DO CAPÍTULO 6 LISTA DE FIGURAS 6.2 LISTA DE QUADROS 6.3 6 EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO 6.4 6.1 INTRODUÇÃO 6.4 6.2 DIFUSÃO TURBULENTA NA CAMADA LIMITE 6.6 6.3 EVAPORAÇÃO DE SUPERFÍCIES DE ÁGUA 6.14 6.3.1 Método aerodinâmico 6.14 6.3.2 Método do balanço energético 6.16 6.3.3 Método do balanço hídrico 6.18 6.3.4 Método combinado aerodinâmico-energético 6.19 6.4 EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL 6.22 6.5 EVAPOTRANSPIRAÇÃO CULTURAL DE REFERÊNCIA 6.24 6.6 EVAPOTRANSPIRAÇÃO CULTURAL 6.31 6.7 MEDIÇÃO DA EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO 6.32 6.8 EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS 6.38 EXERCÍCIOS 6.41 BIBLIOGRAFIA 6.44 Evaporação e Evapotranspiração 6.2 Lista de Figuras Figura 6.1 – Evaporação e evapotranspiração. Fatores e tipos ......................................................... 6.5 Figura 6.2 – Ilustração do sinal da covariância entre vz e qv ............................................................. 6.9 Figura 6.3 – Perfil vertical do vento sobre a água (A) e sobre uma cultura com 2 m de altura (B) .......................................................................................................................................................... 6.12 Figura 6.4 – Evaporação de superfícies de água (ΔE0 = 10 mm d -1 ). Fórmula do método aerodinâmico de Penman (6.28)....................................................................................................... 6.16 Figura 6.5 – Ilustração das variáveis intervenientes no balanço energético de um lago................. 6.17 Figura 6.6 – Peso da evaporação equivalente à energia radiante disponível à superfície. Fórmula do método combinado de Penman (6.43) .............................................................................................. 6.20 Figura 6.7 – Resistências do ar e da superfície evaporante (adaptada de Allen et al, 1998) ......... 6.24 Figura 6.8 – Tina da classe A do U. S. Weather Bureau................................................................. 6.33 Figura 6.9 – Tina Colorado.............................................................................................................. 6.34 Figura 6.10 – Evaporímetro Piche ................................................................................................... 6.35 Figura 6.11 – Abrigo meteorológico da estação meteorológica do IGIDL ..................................... 6.35 Figura 6.12 – Estação agrometeorológica da Herdade do Outeiro ................................................. 6.36 Figura 6.13 – Evapotranspirómetro ou lisímetro do tipo Thornthwaite-Matter ............................. 6.36 Figura 6.14 – Bateria de evapotranspirómetros (adaptada de Réméniéras, 1999) ......................... 6.37 Figura 6.15 – Distribuição da evapotranspiração real anual média em Portugal ........................... 6.39 Figura 6.16 – Distribuição da evapotranspiração real anual média em Moçambique (adaptada de Gonçalves, 1974).............................................................................................................................. 6.40 Figura 6.17 – Distribuição da evapotranspiração potencial anual média em Moçambique (adaptada de Gonçalves, 1974) ......................................................................................................................... 6.41 Evaporação e Evapotranspiração 6.3 Lista de Quadros Quadro 6.1 – Comprimento de rugosidade para o ar (adaptado de Eagleson, 1970) ..................... 6.11 Quadro 6.2 – Radiação solar média diária no topo da atmosfera (MJ m -2 d -1 ) ............................... 6.20 Quadro 6.3 – Insolação astronómica média diária (h) .................................................................... 6.21 Quadro 6.4 – Nomenclatura utilizada para valores diários de grandezas meteorológicas (adaptado de Doorenbos e Pruitt, 1977) ........................................................................................................... 6.27 Quadro 6.5 – Evapotranspiração cultural durante o período vegetativo ou durante um ano (adaptado de Doorenbos e Pruitt, 1977) ........................................................................................................... 6.31 Evaporação e Evapotranspiração 6.4 6 EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO 6.1 INTRODUÇÃO Em termodinâmica, o termo evaporação designa a mudança lenta do estado líquido para o estado gasoso de uma determinada substância. Em hidrologia, o termo evaporação é também aplicado ao fluxo de vapor de água através de um plano horizontal próximo da superfície da Terra num determinado lugar, por unidade de área do plano. Pode então escrever-se que vza qvE (6.1) onde E representa a evaporação (kg m -2 s -1 ), ρa, a massa volúmica do ar (kg m -3 ), vz, a componente vertical da velocidade do ar (m s -1 ), e qv, a humidade específica do ar (-). A evaporação tem também sido definida, de um modo mais geral, como a massa de água no estado de vapor, m, que passa de uma região da superfície do Globo de área A0 para a atmosfera num determinado instante, por unidade de tempo e de área. Será dt dm A 1 E 0 (6.2) e, fazendo dAqvdtdm vzA a0 percebe-se que a segunda definição corresponde ao fluxo médio de vapor de água numa região, por unidade de área da região. O integral do fluxo anterior, pontual ou médio numa região, ao longo de determinado intervalo de tempo, Δt, tt dtEE que tradicionalmente se representa pelo mesmo símbolo, E (kg m -2 ), é distinguido do fluxo pelos adjetivos que determinam o intervalo de tempo. Assim, por exemplo, designa-se por evaporação diária, evaporação mensal ou evaporação anual quando o intervalo de tempo é um dia, um mês ou um ano, respetivamente. Como se sabe, quando se considera que a massa volúmica da água líquida é 1000 kg m -3 , então, a altura de uma camada de água uniformemente distribuída sobre um plano horizontal exprime-se em mm pelo mesmo valor que a massa dessa camada por unidade de área em kg m -2 . Nos estudos hidrológicos adota-se tradicionalmente a unidade de comprimento, mm. Evaporação e Evapotranspiração 6.5 O fluxo vertical de vapor de água à superfície da Terra, evaporação, depende essencialmente da disponibilidade de água nessa superfície, da disponibilidade de energia para a mudança de estado termodinâmico da água e do movimento do ar e da sua capacidade para conter o vapor de água (Figura 6.1). O primeiro fator de dependência, disponibilidade da água à superfície, conjugado com as dificuldades com que se depara quando se pretende medir ou estimar a evaporação a partir de determinadas superfícies, tem levado à introdução de conceitos variados estreitamente relacionados com o fenómeno da evaporação. Assim, é usual distinguir-se a evaporação de superfícies livres de água, E0, e a evaporação da água do solo e da água intercetada e transpirada pela vegetação que eventualmente o revista. Designa-se a evaporação do segundo tipo de superfície, solo eventualmente revestido por vegetação, de modo mais ou menos denso, por evapotranspiração, ET. Figura 6.1 – Evaporação e evapotranspiração. Fatores e tipos Evaporação e Evapotranspiração 6.6 Faz-se notar que a evapotranspiração, como acima se definiu, depende também, além dos fatores anteriormente referidos, do tipo de solo e da sua cobertura vegetal, tanto em área como em tipo de vegetação, e do estado de desenvolvimento atingido por essa vegetação. Thornthwaite, em 1948, introduziu o conceito de evapotranspiração potencial, ETP, que definiu como sendo a evapotranspiração que ocorreria ao longo do tempo se nas mesmas condições meteorológicas e de energia radiante nunca houvesse deficiência de água no solo para a vegetação que o reveste. Para distinguir a evapotranspiração potencial da que efetivamente ocorre, ET, designa-se a últimapor evapotranspiração real. O conceito de Thornthwaite tem sofrido alterações e correções de precisão que parece terem por objetivo a aproximação da evapotranspiração potencial à evaporação de superfícies livres de água com pequena profundidade e grande extensão em área ou a restrição do conceito a determinado tipo de cultura vegetal. Assim, Penman (1956) sugeriu que a definição de Thornthwaite fosse modificada de modo a incluir a especificação da vegetação que reveste o solo, a qual deveria ser constituída por relva verde com altura uniforme cobrindo completamente o solo. Doorenbos e Pruitt (1977) sugerem o conceito de evapotranspiração cultural de referência, ET0, que definem como sendo a evapotranspiração de uma superfície extensa de relva verde, com uma altura uniforme de 8 a 15 cm, crescendo ativamente, cobrindo completamente o solo e sem restrições de água. Para uma determinada cultura, em função do seu estado de desenvolvimento e continuando a supor que a água do solo não é restritiva, Doorenbos e Pruitt sugerem a designação de evapotranspiração cultural, ETc. Pereira e Ferreira (1983) apresentam conceitos de base orientados para as culturas regadas e sugerem nomenclatura apropriada em língua portuguesa na perspetiva de criação de uma linguagem comum e seguindo sugestões da Food and Agriculture Organization das Nações Unidas (FAO) e da International Commission on Irrigation and Drainage (ICID). A avaliação da evaporação de superfícies de água e da evapotranspiração é indispensável ao planeamento e projeto de reservatórios e albufeiras para o aproveitamento de recursos hídricos e à definição das necessidades de água para rega das culturas agrícolas. Em média anual, cerca de 57 por cento da água que precipita sobre os continentes e cerca de 112 por cento da água que precipita sobre os oceanos é evaporada e reintegrada na circulação atmosférica. Neste capítulo, descreve-se de modo simplificado o fenómeno da difusão turbulenta na camada limite de uma atmosfera estável, os métodos aerodinâmico, energético, hidrológico e combinado para avaliação da evaporação de superfícies livres de água e métodos para a determina- ção da evapotranspiração potencial, da evapotranspiração cultural de referência e da evapotranspiração real. No Capítulo 13 descreve-se a metodologia a adotar para o cálculo da evapotranspiração cultural e para o cálculo das dotações de rega. 6.2 DIFUSÃO TURBULENTA NA CAMADA LIMITE A camada limite atmosférica, zona da atmosfera na qual o movimento do ar sofre a influência da superfície do Globo, que se estende até alturas da ordem do quilómetro acima da superfície, constitui o meio onde se transferem de e para a atmosfera livre que lhe está sobreposta entidades como o vapor de água, poeiras, fumos industriais e de incêndios florestais e como a quantidade de movimento, o calor latente associado ao vapor de água e o calor sensível associado à temperatura do ar. Evaporação e Evapotranspiração 6.7 O movimento do ar, dada a sua pequena viscosidade (μa = 1,79 10 -5 Pa s, na atmosfera- -padrão à superfície), ocorre essencialmente em regime turbulento, como se reconhece pelas rajadas de vento e pelos turbilhões visíveis na vegetação das searas. Assim, na análise do movimento pode adotar-se a metodologia de Reynolds, que considerava o movimento turbulento como a sobreposição de um movimento médio com um movimento de agitação ou de desvio da média. Considere-se uma grandeza f interveniente num determinado escoamento em regime permanente de ar. Num determinado instante, será fff com t tf t 1 f e t 0dtf onde f representa o valor médio de f num intervalo de tempo, Δt, suficientemente longo para que o valor médio não dependa do instante inicial (média móvel constante), e f , o desvio da média de f em cada instante. Considere-se um referencial com o eixo dos z vertical e os eixos dos x e dos y num plano horizontal e um movimento plano e uniforme de ar no sentido do eixo dos x (vy = 0). Dependendo apenas da coordenada vertical , z, será xxx vvv zzz vvv aaa aaa ppp vvv qqq TTT onde vx representa a componente na direção x da velocidade do ar (m s -1 ), vz, a componente na direção z da velocidade do ar (m s -1 ), ρa, a massa volúmica do ar (kg m -3 ), pa, a pressão a que o ar está sujeito (Pa), qv, a humidade específica do ar (-), e T, a temperatura do ar (K). Evaporação e Evapotranspiração 6.8 O fluxo vertical por unidade de área do vapor de água, evaporação, de acordo com a definição (6.1) será vvzzaa qqvvE e o seu valor médio no intervalo de tempo Δt será vzazavvazvzavza qvvqqvqvqvE (6.3) e, quando a atmosfera estiver em equilíbrio indiferente e se considere que ctez aa ctepzp aa 0zvz será vza qvE (6.4) Considere-se que a humidade específica média do ar, próximo da superfície, à cota z1, diminui com a altitude (Figura 6.2): 0 dz qd 1zz v então, as parcelas de ar que no movimento de agitação se desloquem para z1 vindas de baixo, 0vz onde a humidade específica é maior, provocarão um aumento da humidade em z1, ou seja, darão origem a 0qv Para essas parcelas de ar, será 0qv vz O resultado anterior também se aplica às parcelas que se desloquem para z1 vindas de cima. Efetivamente, para tais parcelas, a velocidade vertical de agitação será negativa e o desvio da média provocado na humidade específica em z1 será também negativo. Evaporação e Evapotranspiração 6.9 z vq vq 1z 0qv 0qv 0vz 0vz Figura 6.2 – Ilustração do sinal da covariância entre vz e qv Assim, pode esperar-se que a média do produto dos desvios, que é igual à covariância entre vz e qv, seja positiva: 0qv vz e, portanto, a evaporação média será também positiva (6.4). Pode também esperar-se, seguindo a metodologia anterior, que a média do produto dos desvios cresça com o aumento do gradiente de decrescimento da humidade específica com a altura. Esta hipótese coloca o fluxo do vapor de água, evaporação, no grupo de fenómenos descritíveis por uma lei do tipo fickiano. Assim, pode escrever-se que dz qd KE vva (6.5) onde Kv representa o coeficiente de difusão vertical turbulenta do vapor de água na atmosfera (m 2 s -1 ). De modo análogo obter-se-iam para os fluxos médios por unidade de área do mesmo plano horizontal da quantidade de movimento na direção x, zxM (kg m -1 s -2 ), e do calor sensível, H (W m -2 ), as expressões xzaxz vvM (6.6) TvcH zpaa (6.7) onde cpa representa a capacidade térmica mássica do ar (J kg -1 K -1 ), T, a temperatura do ar (K), e, adotando a hipótese da lei de Fick, Evaporação e Evapotranspiração 6.10 dz vd KM xmaxz (6.8) dz Td KcH hpaa (6.9) onde Km representa o coeficiente de difusão vertical turbulenta da quantidade de movimento na direção x na atmosfera (m 2 s -1 ) e Kh, o coeficiente de difusão vertical turbulenta do calor sensível na atmosfera (m 2 s -1 ). O fluxo de quantidade de movimento tem dimensões e atua no movimento do ar de modo análogo à tensão tangencial de Newton, provocada pela viscosidade do fluido, à qual o seu simétrico se sobrepõe. Por esse motivo, o seu simétrico tem sido designado por tensão tangencial aparente ou por tensão tangencial de Reynolds, τt (Pa), escrevendo-se: xzt M (6.10) Prandtl, em 1925, estabeleceu a hipótese do comprimento de mistura, segundo a qual seria dz vd dz vd l xx2at (6.11) onde l representa o comprimento de mistura (m). Como se reconhece de (6.8), (6.10) e (6.11) será dz vd lK x2m resultado que tem sido criticado porque, como se evidencia experimentalmente, o fluxo da quantidadede movimento não se anula quando a velocidade é máxima ou mínima, ou seja, quando o seu gradiente vertical é nulo. Segundo von Karman, o comprimento de mistura varia de modo aproximadamente linear com a distância à superfície. Será zkl (6.12) onde k se designa por constante de von Karman e tem o valor de 0,4. Prandtl estabeleceu ainda a hipótese, baseada na experiência, de que a tensão tangencial aparente na vizinhança da superfície seria constante, 0tt , ou seja, que o fluxo médio de quantidade de movimento seria independente de z. Nessa região, designada por película laminar, a transferência da quantidade de movimento processar-se-ia à escala molecular, e o regime do escoamento seria laminar. De acordo com tal hipótese pode escrever-se que zk 1 dz vd a 0tx e, integrando entre dois níveis designados por nível 1 e nível 2, Evaporação e Evapotranspiração 6.11 1 2 a 0t 1x2x z z ln k 1 vv (6.13) Da equação anterior obtém-se 2 1 2 1x2x2 a0t z z ln vv k (6.14) e, admitindo que a uma altura z0 da superfície a velocidade média do escoamento turbulento se anularia, então: 0a 0t xx z z ln k 1 zvv (6.15) A altura z0 é um parâmetro característico da rugosidade da superfície, do fluido e da velocidade com que este sobre ela se escoa e designa-se por comprimento de rugosidade. O comprimento de rugosidade aumenta com o aumento da altura das protuberâncias da superfície, e diminui com o aumento da velocidade do vento. No Quadro 6.1 apresentam-se valores de z0, determinados no contexto de estudos relacionados com a evaporação utilizando a equação (6.15). Quadro 6.1 – Comprimento de rugosidade para o ar (adaptado de Eagleson, 1970) Superfície Altura (cm) )m2z(v 22x (m s -1 ) z0 (cm) Água Lodo, lama Solo húmido Deserto Relva aparada Alfafa ou luzerna Relva alta Milho Cana-de-açúcar Mato Laranjal Pinhal Floresta caduca - - - - 1,5-4,5 20-40 60-70 90-300 100-400 135 350 500-2700 1700 2,1 - 1,8 - 2-8 1,9 1,5-6,2 - - - - - - 0,001 0,001 0,02 0,03 0,2-2,4 1,3-1,4 9,0-3,7 2-22 4-9 14 50 65-300 270 A influência da rugosidade superficial no perfil do vento tem também sido expressa através da utilização de um deslocamento d na origem das cotas, passando a escrever-se (6.15) do seguinte modo 0a 0t xx z dz ln k 1 zvv (6.16) Evaporação e Evapotranspiração 6.12 Na equação anterior (6.16), a velocidade média anula-se para uma altura acima da superfície 0zdz . Allen et al. (1998) e Pereira (2004) indicam que para a maior parte das culturas agrícolas com altura h se pode adotar h 3 2 d h123,0z0 Figura 6.3 – Perfil vertical do vento sobre a água (A) e sobre uma cultura com 2 m de altura (B) Na Figura 6.3 apresentam-se perfis do vento sobre uma superfície livre de água (A), calculado através de (6.15) com Pa048,00t e m10z 5 0 , e sobre uma cultura agrícola com 2 m de altura (B), calculado através de (6.16) com Pa5,00t , m3,1d e m25,0z0 . Eliminando a massa volúmica do ar entre as equações (6.5) e (6.10), com o fluxo da quantidade de movimento definido por (6.8), obtém-se dz vd dz qd K KE x v m v t (6.17) e, exprimindo as derivadas como diferenças finitas, considerando a tensão tangencial aparente constante e substituíndo o seu valor definido por (6.14), obtém-se a equação de Thornthwaite-Holzman (1939): 2v1v2 1 2 1x2x2 m v a qq z z ln vv k K K E (6.18) onde, na prática, considerando que a evaporação se faz de superfícies de água, se faz Evaporação e Evapotranspiração 6.13 1 K K m v que corresponde a supor que os fluxos de vapor e de quantidade de movimento obedecem ao mesmo mecanismo de transporte. Designa-se por razão de Bowen, B (-), o quociente entre os fluxos médios de calor sensível e de calor latente, o primeiro associado à temperatura das massas de ar difundidas verticalmente, e o segundo, ao vapor de água que elas contêm. Será El H B vw (6.19) Então, substituíndo os fluxos pelas suas definições (6.5) e (6.9) e as derivadas por diferenças finitas, obtém-se 1v2v 12 wv pa v h qq TT l c K K B (6.20) ou, recordando que a v p e q (6.21) então: 12 12 v h ee TT K K B (6.22) com vw apa l pc (6.23) Designa-se o coeficiente γ por constante de Bowen ou por constante psicrométrica e, tal como anteriormente, é usual sobre superfícies de água supor iguais os coeficientes de difusão que figuram em (6.22): hv KK Linsley et al. (1982) sugerem, no contexto de estudos de evaporação, que se considere a 3 p10665,0 (6.24) Nas restantes secções do texto, continuando embora a considerar os valores médios das grandezas que intervêm nos fenómenos, para simplificar a simbologia utilizada omitir-se-ão as barras com que nesta secção se representavam esses valores médios. Evaporação e Evapotranspiração 6.14 6.3 EVAPORAÇÃO DE SUPERFÍCIES DE ÁGUA 6.3.1 Método aerodinâmico A equação de Thornthwaite-Holzman (6.18) constitui a base teórica de um numeroso grupo de fórmulas utilizáveis para o cálculo da evaporação de superfícies livres de água, E0. Admitindo que a uma altura da superfície da água igual ao comprimento de rugosidade (z0) a atmosfera está saturada, fazendo z1 = z0, considerando Kv = Km e introduzindo as tensões do vapor de água do modo simplificado expresso por (6.21), obtém-se 20sw2 0 2 2x2 a a0 eTe z z ln v k p E (6.25) onde E0 representa a evaporação da superfície da água (kg m -2 s -1 ou mm s -1 ), ρa, a massa volúmica do ar (kg m -3 ), pa, a pressão atmosférica (Pa), ε = 0,622, a razão das constantes dos gases para o ar seco e para o vapor de água (-), k = 0,4, a constante de von Karman (-), z2, a altura a que se mede vx2 e e2 (m), vx2, a velocidade do vento à altura z2 (m s -1 ), e2, a tensão do vapor de água à altura z2 (Pa) z0 = 10 -5 , o comprimento de rugosidade sobre a água (m), T0, a temperatura da superfície da água (K), e esw, a tensão de saturação do vapor de água à temperatura indicada (Pa). Note-se que se admite que a temperatura do ar à altura do comprimento de rugosidade sobre a água (T0) é igual à temperatura da água. Designa-se por défice de saturação a diferença entre a tensão de saturação do vapor de água à temperatura da superfície da água e a tensão do vapor de água à altura z2, 2)T(sw ee 0 . A equação de Thornthwaite-Holzman, quando a massa volúmica e a pressão do ar forem respetivamente 1,23 kg m -3 e 1013,25 hPa e se tomar a altura de 2 m para z2, pode escrever-se do seguinte modo: 20sw2x0 eTev07,0E (6.26) onde E0 representa a evaporação da superfície da água (mm d -1 ), vx2, a velocidade do vento à altura de 2 m (m s -1 ), e 2)T(sw ee 0 , o défice de saturação (hPa). As equações anteriores, (6.25) e (6.26), definem a evaporação da superfície da água fundamentalmente em função da velocidade do vento e do défice de saturação, indicando portanto a seguinte forma geral para as fórmulas do método aerodinâmico: 20sw2x0 eTevfE (6.27) Evaporação e Evapotranspiração 6.15 cujos fatores foram explicitados por Dalton nos princípios do século XIX. Penman (1948), com base em estudos efetuados na Inglaterra, obteve 20sw2x0 eTev14,013,0E (6.28) com as grandezas expressas nas unidades da equação (6.26). Harbeck (1962), com base em estudos de evaporação em numerosas albufeiras dos Estados Unidos, com áreas inferiores a 120 km 2 , obteve 20sw2x 05,0 00 eTevA291,0E (6.29) onde A0 (m 2 ) representa a áreada albufeira e com as restantes grandezas expressas nas unidades da equação (6.26). Kohler (1955), com base em estudos de evaporação em tinas evaporimétricas da Classe A do U. S. Weather Bureau, com um diâmetro de 122 cm e uma profundidade de 25,4 cm, assente sobre um estrado com a altura de cerca de 15 cm, obteve 20sw2x0 eTev22,042,0E (6.30) com as grandezas expressas nas unidades da equação (6.26). Na equação anterior utilizou-se o perfil logarítmico do vento (6.15), desprezando os efeitos perturbadores da tina no referido perfil, para se obter a velocidade do vento a 2 m a partir da velocidade à altura de 0,15 m do bordo da tina utili- zada por Kohler. A comparação das equações de Thornthwaite-Holzman (6.26), de Penman (6.28), de Harbeck (6.29) e de Kohler (6.30) mostra que, para as mesmas velocidades do vento e défice de saturação, a equação que conduz a menor evaporação é a de Thornthwaite-Holzman (6.26) e que a evaporação diminui com o aumento da área da superfície da água. A reduzida evaporação estimável através da equação de Thornthwaite-Holzman (6.26) é motivada pelas condições admitidas na sua dedução de estabilidade atmosférica e de escoamento em regime uniforme. Nas outras equações, a determinação da função do vento, f(vx2), feita com base em dados de campo, contém implicitamente informação sobre instabilidades atmosféricas, conducentes a correntes verticais de ar por convecção térmica que aumentam a evaporação. Por outro lado, a barlavento de um lago de grandes dimensões o ar estará mais seco e a evaporação será maior do que a sotavento. Assim, a evaporação de pequenas superfícies será análoga à que ocorre a barlavento e, portanto, maior do que a evaporação (média) do lago. Evaporação e Evapotranspiração 6.16 Figura 6.4 – Evaporação de superfícies de água (E0 = 10 mm d -1 ). Fórmula do método aerodinâmico de Penman (6.28) Na Figura 6.4 representa-se graficamente a evaporação de superfícies de água definida pela fórmula do método aerodinâmico de Penman (6.28). Verifica-se que para ventos fortes e secos e temperaturas elevadas da água, condição que conduz a elevados défices de saturação, a evaporação calculada pela referida fórmula é muito grande e requereria enormes quantidades de energia para se manter um ritmo adequado de mudança para o estado gasoso da água da superfície. Caso a evaporação ocorra com dispêndio da energia térmica da própria água, pode esperar-se que a temperatura da superfície diminua, até que, eventualmente, acabe por congelar, o que implicará em drástica redução do seu valor. 6.3.2 Método do balanço energético O balanço energético de um lago faz-se com base no princípio da conservação da energia, como se exprime na primeira lei da termodinâmica, de acordo com a qual, a quantidade de energia fornecida num determinado intervalo de tempo a um sistema contribui para o aumento da energia do sistema e para o trabalho que ele realiza contra o exterior. Assim, o balanço energético de um lago de água líquida ( Figura 6.5) pode ser feito com base na seguinte expressão: 0vwn ElHQR dt dU (6.31) onde todas as grandezas, com excepção do tempo, se referem à unidade de área superficial do lago, e U representa a energia interna da água do lago (J m -2 ), t, o tempo (s), Rn, o balanço total de energia radiante (W m -2 ), Qθ, a energia térmica transportada por adveção pela água dos escoamentos superficial e subterrâneo, pela precipitação sobre o lago e a perdida com a água evaporada (W m -2 ), H, o fluxo de calor sensível (W m -2 ), lwv, o calor latente mássico de evaporação (J kg -1 ), e E0, a evaporação do lago (kg m -2 s -1 ou mm s -1 ). Evaporação e Evapotranspiração 6.17 Figura 6.5 – Ilustração das variáveis intervenientes no balanço energético de um lago Faz-se notar que na equação anterior se desprezou no cálculo da energia do lago a energia cinética de eventuais correntes lacustres e a energia potencial da massa de água do lago, as quais variam ao longo do tempo. Efetivamente, a energia cinética das correntes variará com a variação dos caudais afluentes e efluentes ao lago e, tanto a energia cinética como a potencial, com as variações da cota da superfície do lago. Desprezaram-se também as trocas de calor com o material exterior à fronteira submersa (Hs, Figura 6.5) e as transformações de energia química ou bioquímica que eventualmente ocorram e que deverão ser consideradas, sempre que atinjam expressão que se considere importante. A energia interna da água do lago é o integral estendido ao volume do lago da energia interna das massas elementares e, por unidade de área, será dVTc A 1 U wwv w 0 0 (6.32) onde A0 representa a área superficial do lago (m 2 ), V0, o volume total de água no lago (m 3 ), ρw, a massa volúmica da água (kg m -3 ), cw, a capacidade térmica mássica da água (J kg -1 K -1 ), e Tw, a temperatura da água no elemento dV (K). A energia térmica transportada por adveção é o fluxo de calor sensível através da superfície total do lago (superfície livre e superfície da fronteira submersa) associado aos escoamentos de água líquida de e para o lago, e incluindo, ainda, a energia perdida com a água evaporada, será 00wwpwwiwiw i w 0 ETcITcQTc A 1 Q (6.33) onde Qi representa o caudal de um escoamento superficial ou subterrâneo – positivo, se aflui ao lago, e negativo, se eflui do lago, (m 3 s -1 ), I, a intensidade da precipitação sobre o lago (m s -1 ), U Hs Q lwv E0 H Rn Evaporação e Evapotranspiração 6.18 E0, a evaporação do lago (m s-1), Twi, a temperatura da água nesse escoamento (K), Tp, a temperatura da água da precipitação (K), T0, a temperatura da água à superfície do lago (K) e o somatório se estende a todos os escoamentos de e para o lago. Conhecidas todas as outras grandezas, a evaporação do lago obtém-se por explicitação de E0 em (6.31) e, quando forem desprezáveis a variação da energia interna e a energia térmica transportada por adveção ou quando as duas grandezas se compensem, será HR l 1 E n vw 0 (6.34) ou, introduzindo a razão de Bowen (6.19), B1 R E n0 (6.35) onde wv n n l R R representa a água que, no sentido termodinâmico do termo, se evaporaria com a energia radiante Rn (kg m -2 s -1 ). Designa-se nR por equivalente em evaporação da energia radiante disponível à superfície. 6.3.3 Método do balanço hídrico Para a aplicação da equação (6.31), que representa o método do balanço energético, é necessário que se verifique o princípio da conservação da massa de água expresso pelo seguinte balanço hídrico: 000 i i 0 EAIAQ dt dV (6.36) onde V0 representa o volume total de água no lago (m 3 ), t, o tempo (s), Qi, o caudal de um escoamento superficial ou subterrâneo – positivo, se aflui ao lago, e negativo, se eflui do lago, (m 3 s -1 ), A0, a área superficial do lago (m 2 ), I, a intensidade da precipitação sobre o lago (m s -1 ), e E0, a evaporação do lago (m s -1 ). Por si só, o balanço expresso pela equação (6.36) permite a obtenção da evaporação quando todas as outras grandezas forem conhecidas. Será Evaporação e Evapotranspiração 6.19 dt dV A 1 IQ A 1 E 0 0i i 0 0 (6.37) A equação anterior mostra que para uma tina evaporimétrica, com paredes laterais de geratriz vertical, se pode escrever: dt dh IE0 (6.38) quando não se encher ou esvaziar artificialmente a tina (Qi=0) e onde h representa a altura da superfície da água na tina (m). 6.3.4 Método combinado aerodinâmico-energético Penman (1948), tendo por objetivo o cálculo da evaporação com base nas medições normalmente efetuadas em estações meteorológicas, estabeleceu a base para o método combinado aerodinâmico-energético. Essencialmente, ométodo de Penman consiste na reformulação da razão de Bowen (6.22) que, para os níveis 0 e 2 acima de uma superfície de água, se pode escrever: 20sw 20 eTe TT B ou, multiplicando e dividindo pela diferença entre as tensões de saturação do vapor de água às temperaturas T0 e T2, 20sw 2sw0sw 2sw0sw 20 eTe TeTe TeTe TT B e, adicionando e subtraindo e2 ao numerador da segunda fração, 20sw 22sw 2sw0sw 20 eTe eTe 1 TeTe TT B Então, recordando a fórmula geral do método aerodinâmico (6.27) e multiplicando o numerador e o denominador da fração entre parênteses por f(vx2), obtém-se 0 a E E 1B (6.39) onde 22sw2xa e)T(e)v(fE se designa por poder evaporante do ar (kg m -2 d -1 ou mm d -1 ), e Δ representa a razão incremental da tensão de saturação do vapor de água com a temperatura sobre a superfície (hPa K -1 ). Evaporação e Evapotranspiração 6.20 É usual calcular-se Δ pela tangente à curva da tensão de saturação do vapor de água em T2. Assim, como se sabe do capítulo sobre processos atmosféricos, sendo hPa 6,29T 15,273T67,17 exp112,6esw (6.40) obtém-se 12sw2 2 KhPaTe 6,29T 3044 (6.41) Utilizando a função do vento determinada por Penman para a evaporação de superfícies de água (6.28), será 22sw2xa eTev14,013,0E (6.42) Substituindo a razão de Bowen (6.39) na equação simplificada do balanço energético (6.35) e explicitando E0 (mm d -1 ), obtém-se então a equação de Penman para o método combinado: an0 ERE (6.43) onde nR representa o integral diário da evaporação equivalente à energia radiante disponível à superfície da água (kg m -2 d -1 ou mm d -1 ). Figura 6.6 – Peso da evaporação equivalente à energia radiante disponível à superfície. Fórmula do método combinado de Penman (6.43) Quadro 6.2 – Radiação solar média diária no topo da atmosfera (MJ m -2 d -1 ) Lat Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 60 3,48 8,29 16,82 27,36 36,31 40,55 38,33 30,51 20,17 10,60 4,43 2,26 55 6,18 11,29 19,65 29,39 37,25 40,83 38,94 32,14 22,76 13,58 7,21 4,77 50 9,09 14,30 22,34 31,24 38,10 41,11 39,50 33,63 25,19 16,51 10,15 7,58 45 12,11 17,26 24,87 32,89 38,79 41,28 39,93 34,92 27,42 19,35 13,16 10,56 40 15,15 20,15 27,21 34,32 39,28 41,29 40,17 35,99 29,46 22,08 16,16 13,61 35 18,18 22,91 29,35 35,50 39,54 41,09 40,20 36,82 31,27 24,65 19,13 16,68 30 21,14 25,54 31,26 36,43 39,57 40,66 39,99 37,40 32,84 27,06 22,00 19,71 25 24,00 27,99 32,95 37,09 39,34 40,00 39,54 37,72 34,17 29,28 24,77 22,67 Evaporação e Evapotranspiração 6.21 20 26,74 30,25 34,38 37,49 38,85 39,10 38,84 37,78 35,24 31,29 27,39 25,52 15 29,32 32,31 35,55 37,61 38,11 37,96 37,89 37,57 36,04 33,07 29,84 28,24 10 31,72 34,13 36,46 37,46 37,11 36,58 36,70 37,09 36,57 34,60 32,11 30,80 5 33,92 35,71 37,09 37,02 35,86 34,97 35,27 36,34 36,83 35,89 34,16 33,18 0 35,91 37,04 37,43 36,32 34,36 33,14 33,60 35,33 36,80 36,91 35,99 35,36 -5 37,66 38,10 37,50 35,35 32,64 31,10 31,72 34,07 36,50 37,66 37,58 37,31 -10 39,17 38,89 37,28 34,12 30,70 28,87 29,64 32,56 35,92 38,14 38,91 39,03 -15 40,41 39,40 36,78 32,63 28,56 26,47 27,37 30,83 35,06 38,33 39,98 40,51 -20 41,40 39,63 36,00 30,91 26,24 23,93 24,94 28,87 33,94 38,25 40,79 41,73 -25 42,12 39,57 34,95 28,97 23,76 21,25 22,36 26,72 32,57 37,88 41,33 42,69 -30 42,57 39,24 33,63 26,81 21,13 18,48 19,67 24,38 30,95 37,24 41,60 43,40 -35 42,76 38,63 32,07 24,47 18,40 15,64 16,88 21,89 29,09 36,33 41,60 43,86 -40 42,71 37,76 30,26 21,95 15,58 12,77 14,04 19,25 27,02 35,16 41,35 44,07 -45 42,42 36,64 28,22 19,29 12,72 9,91 11,19 16,50 24,74 33,75 40,86 44,07 -50 41,93 35,29 25,97 16,51 9,85 7,12 8,36 13,68 22,28 32,10 40,17 43,89 -55 41,29 33,74 23,53 13,63 7,04 4,48 5,64 10,81 19,66 30,25 39,31 43,59 -60 40,60 32,03 20,93 10,70 4,37 2,12 3,13 7,95 16,89 28,23 38,36 43,30 Quadro 6.3 – Insolação astronómica média diária (h) Lat Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 60 6,5 8,8 11,5 14,3 16,9 18,3 17,6 15,2 12,4 9,6 7,1 5,6 55 7,6 9,4 11,6 13,9 15,9 17,0 16,5 14,6 12,4 10,1 8,0 7,0 50 8,4 9,8 11,6 13,6 15,2 16,1 15,6 14,2 12,3 10,4 8,7 7,9 45 9,0 10,2 11,7 13,3 14,7 15,4 15,0 13,8 12,3 10,6 9,3 8,6 40 9,5 10,5 11,7 13,1 14,2 14,8 14,5 13,5 12,2 10,9 9,7 9,2 35 9,9 10,7 11,8 12,9 13,8 14,3 14,1 13,3 12,2 11,1 10,1 9,7 30 10,3 11,0 11,8 12,7 13,5 13,9 13,7 13,0 12,1 11,2 10,5 10,1 25 10,6 11,2 11,9 12,6 13,2 13,5 13,4 12,8 12,1 11,4 10,8 10,5 20 10,9 11,3 11,9 12,5 13,0 13,2 13,1 12,7 12,1 11,5 11,0 10,8 15 11,2 11,5 11,9 12,3 12,7 12,9 12,8 12,5 12,1 11,6 11,3 11,1 10 11,5 11,7 11,9 12,2 12,5 12,6 12,5 12,3 12,0 11,8 11,5 11,4 5 11,7 11,8 12,0 12,1 12,2 12,3 12,3 12,2 12,0 11,9 11,8 11,7 0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 12,0 -5 12,3 12,2 12,0 11,9 11,8 11,7 11,7 11,8 12,0 12,1 12,2 12,3 -10 12,5 12,3 12,1 11,8 11,5 11,4 11,5 11,7 12,0 12,2 12,5 12,6 -15 12,8 12,5 12,1 11,7 11,3 11,1 11,2 11,5 11,9 12,4 12,7 12,9 -20 13,1 12,7 12,1 11,5 11,0 10,8 10,9 11,3 11,9 12,5 13,0 13,2 -25 13,4 12,8 12,1 11,4 10,8 10,5 10,6 11,2 11,9 12,6 13,2 13,5 -30 13,7 13,0 12,2 11,3 10,5 10,1 10,3 11,0 11,9 12,8 13,5 13,9 -35 14,1 13,3 12,2 11,1 10,2 9,7 9,9 10,7 11,8 12,9 13,9 14,3 -40 14,5 13,5 12,3 10,9 9,8 9,2 9,5 10,5 11,8 13,1 14,3 14,8 -45 15,0 13,8 12,3 10,7 9,3 8,6 9,0 10,2 11,7 13,4 14,7 15,4 -50 15,6 14,2 12,4 10,4 8,8 7,9 8,4 9,8 11,7 13,6 15,3 16,1 -55 16,4 14,6 12,4 10,1 8,1 7,0 7,5 9,4 11,6 13,9 16,0 17,0 -60 17,5 15,2 12,5 9,7 7,1 5,7 6,4 8,8 11,6 14,4 16,9 18,4 Na Figura 6.6 apresenta-se o gráfico do peso da evaporação equivalente à energia radiante disponível à superfície em função da temperatura do ar e da pressão atmosférica. As pressões indicadas correspondem aproximadamente às altidudes de 0 km, 2 km e 4 km. Verifica-se que a influência da energia disponível para a evaporação aumenta com o aumento da temperatura do ar e com o aumento da altitude e que, por consequência, com os referidos aumentos diminui a influência do poder evaporante do ar. Como se sabe do capítulo sobre radiação solar, a energia radiante disponível pode ser decomposta na soma da energia de pequeno comprimento de onda, Rs, com a energia de grande comprimento de onda, Rl: Evaporação e Evapotranspiração 6.22 1sn RRR Penman considerou que o albedo da superfície da água para a radiação de pequeno comprimento de onda seria de 0,05. Assim, será H0 ' gs rbaI95,0I95,0R (6.44) onde gI representa a radiação global incidente sobre a superfície da água (W m -2 ), I0, a radiação solar no topo da atmosfera (W m -2 ), rH, a razão de insolação (-), e a e b são os coeficientes de Ångstrom. No Quadro 6.2 apresentam-se valores médios mensais da radiação solar diária no topo da atmosfera em função da latitude e do mês. No Quadro 6.3 apresentam-se valores médios mensais da insolação astronómica em função da latitude e do mês. Em ambos os quadros, as latitudes negativas referem-se ao hemisfério sul. Para o balanço da radição de grande comprimento de onda, na superfície da água, Penman determinou a seguinte relação: H2421 r90,010,0e08,056,0TR (6.45) onde σ = 5,670 10 -8 W m -2 K -4 representa a constante de Stefan-Boltzmann, T2, a temperatura do ar em z2 (K), e2, a tensão do vapor de água a esse nível (hPa), e rH, a razão de insolação (-). Na definição da evaporação equivalente, quando não se conheça a temperatura da superfície da água, pode considerar-se para o calor latente de evaporação um valor de 2,45 MJ kg -1 . 6.4 EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL Nesta secção do texto descrever-se-ão algumas fórmulas empíricas de utilização tradicionalna avaliação da evapotranspiração potencial, no sentido regional e sem especificação rigorosa da cultura agrícola com que se relaciona, definida por Thornthwaite. Penman (1950) relacionou a evapotranspiração potencial, ETP, com a evaporação de superfícies de água, E0, por análise de dados relativos a bacias hidrográficas na Inglaterra e nos países vizinhos da Europa Ocidental, através da seguinte expressão: 0EfETP (6.46) onde o fator f tem o valor 0,8 nos meses de verão (maio, junho, julho e agosto), o valor 0,6 nos meses de inverno (novembro, dezembro, janeiro e fevereiro) e o valor 0,7 nos restantes meses (março, abril, setembro e outubro). Evaporação e Evapotranspiração 6.23 Turc (1961) para as condições climáticas da Europa Ocidental apresentou a seguinte fórmula utilizável em períodos de 10 ou mais dias: 50 042,0 I 15T T 013,0ETP ' g (6.47) onde ETP representa a evapotranspiração potencial (mm d -1 ), T, a temperatura média no período (C), e gI a radiação global média diária incidente na superfície (MJ m -2 d -1 ). A fórmula anterior, quando a humidade relativa (U em percentagem) for inferior a 50 por cento, deve ser multiplicada por 70 U50 1 Thornthwaite (1948), para o clima de Nova Jérsia, costa oriental dos Estados Unidos, estabeleceu a seguinte fórmula, que se baseia essencialmente na temperatura média mensal e que tem tido utilização muito divulgada em regiões onde a temperatura média mensal é positiva: 0T,0 0T, I T10 N16ETP m m a m mm (6.48) onde ETPm representa a evapotranspiração potencial no mês m (mm), Nm, um fator de ajustamento em função do número de dias do mês e da insolação astronómica média diária no mês (-), mT , a temperatura média mensal no mês m (C), I, o índice térmico anual, e a, um expoente função do índice térmico anual. Arredondado a dois dígitos significativos, será 360 DH N mm0m onde Dm representa o número de dias do mês m (d), e H0m, a insolação astronómica média diária no mês m (h), definida no Quadro 6.3. O índice térmico anual calcula-se do seguinte modo: 12 1i miI onde Evaporação e Evapotranspiração 6.24 5,1 m m 5 T i representa o índice térmico mensal e 49239,0I10792,1I1071,7I1075,6a 22537 Quintela (1986) refere que as fórmulas de Thornthwaite e de Turc, fornecendo valores que são cerca de 50 por cento e 70 por cento da evaporação observada em tinas da classe A, parecem conduzir a estimativas respetivamente bastante por defeito e ligeiramente por excesso da evapotranspiração potencial em Portugal. 6.5 EVAPOTRANSPIRAÇÃO CULTURAL DE REFERÊNCIA Allen et al. (1998) referem que a fórmula de Penman-Monteith da FAO, que adiante se deduz, é atualmente recomendada como único método-padrão para a definição e cálculo da evapotranspiração de referência (ET0). Figura 6.7 – Resistências do ar e da superfície evaporante (adaptada de Allen et al, 1998) Monteith sugeriu que a resistência ao fluxo do vapor de água poderia ser bastante diferente da resistência ao fluxo do calor, rh, e que no fluxo do vapor de água haveria que considerar para lá da resistência aerodinâmica, ra, a resistência da superfície evaporante: solo, cutícula, estomas, folhagem (Figura 6.7). Assim, quando a superfície evaporante não fosse uma superfície livre de água, dever-se-ia considerar que hv KK . Então, exprimindo as resistências aos fluxos como variando inversamente com os coeficientes de difusão: h ah K z rr v v K z r Evaporação e Evapotranspiração 6.25 e admitindo que a resistência ao fluxo de vapor, rv, seria igual à resistência ao fluxo de calor, rh, adicionada a uma resistência característica da superfície evaporante, rs: sashv rrrrr pode obter a v a a v r r ET E 1 r r B (6.49) com a 22sw paa wv a r e)T(e c l 1 E (6.50) e retomando o balanço energético (6.31), com U = cte, 0Q e 0Hs , já adotado por Penman: a s an r r 1 ER ET (6.51) A expressão (6.51), quando aplicada a um solo bem humedecido, com o qual há trocas de energia, completamente recoberto por relva crescendo ativamente com uma altura h = 0,12 m, com uma resistência rs = 70 s m -1 , um albedo para a radiação solar As = 0,23 e uma resistência aerodinâmica 2x a v 208 r s m -1 , conduz à fórmula de Penman-Monteith da FAO para a evapotranspiração cultural de referência 2x 22sw2x 2 n 0 v34,01 e)T(ev T 90 )GR( ET (6.52) onde 0ET representa a evapotranspiração cultural de referência (mm d -1 ), nR , a evaporação equivalente ao balanço de energia radiante (mm d -1 ), G , a evaporação equivalente ao fluxo de energia para o solo (mm d-1), 2T , a temperatura média diária do ar a 2 m da superfície evaporante (K), 2xv , a velocidade média do ar (m s -1 ), swe e 2e , as tensões do vapor de água (hPa), e e , os fatores de ponderação já utilizados por Penman (hPa K-1). Na equação (6.52), a evaporação equivalente ao balanço da energia radiante, tendo em consideração a superfície evaporante, é Evaporação e Evapotranspiração 6.26 H2420H vw ' n r9,01,0e044,034.0TIrba77,0 l 1 R (6.53) ou, quando se conheça a radiação global à superfície, 'gI , 35,0 I I 35,1e044,034.0TI77,0 l 1 R g ' g 2 4 2 ' g vw ' n (6.54) como se obtém de ( 5.50 ), substituindo rH no último fator com a = 0,25 e b = 0,5. A evaporação equivalente ao fluxo de energia para o solo, que pode ser desprezada quando o intervalo de tempo é pequeno, 10 dias ou menos, é calculável para maiores intervalos de tempo por z t TT l c G 1ii wv s (6.55) onde cs representa a capacidade térmica volúmica do solo (J m -3 K -1 ), Ti e Ti-1, a temperatura nos instantes limites do intervalo de tempo (K), t , o intervalo de tempo considerado (d), e z , profundidade do solo afectada pela variação de temperatura (m). Quando não se disponha de melhor informação, pode considerar-se cs = 2,1 MJ m -3 K -1 e, para intervalos de tempo da ordem do mês, z 2 m. A temperatura do solo pode ainda ser considerada aproximadamente igual à do ar. Na ausência de dados de radiação, humidade e velocidade do vento, Allen et al. (1998) indicam como alternativa a fórmula de Hargreaves: wv 05,0 minmax0 l I )TT()8,17T(0023,0ET (6.56) onde 0ET representa a evapotranspiração cultural de referência (mm d -1 ), 2 TT T minmax , a temperatura média diária (ºC), minmax T,T , as temperaturas máxima e mínima diárias (ºC), 0I , a radiação solar no topo da atmosfera (MJ m -2 d -1 ), e 45,2lwv MJ kg -1 , o calor latente de vaporização. e alertam para o facto de que (6.56) tende a subestimar a evapotranspiração cultural de referência, quando o vento é forte (vx2 > 3 m/s), e a sobrestimar, quando a humidade relativa é alta. No texto restante desta secção, seguir-se-á a metodologia indicada por Doorenbos e Pruitt (1977) e por Frevert, Hill e Braaten (1983). As fórmulas que serão referidas, embora atualmente com utilização desaconselhada, tiveram larga utilização no passado e estão de acordo com as versões apresentadas por esses autores. Evaporação e Evapotranspiração 6.27 Quadro 6.4 – Nomenclatura utilizada para valores diários de grandezas meteorológicas (adaptado de Doorenbos e Pruitt, 1977) Grandeza Adjetivo Intervalo Observações Temperatura média (C) alta (quente) baixa (frio) >30 <15 2 T + T minmax Humidade relativa mínima (por cento) baixa média alta seco húmido <20 20-50 >50 <20 >70 Ocorre geralmente entre as 14 h e as 16 h decada dia Humidade relativa média (por cento) baixa média alta média-baixa média-alta <40 40-70 >70 40-55 55-70 2 U + U minmax Velocidade do vento (m s-1) fraca moderada forte muito forte <2 2-5 5-8 >8 Razão de insolação (-) baixa média alta <0,6 0,6-0,8 >0,8 Em variadas situações, não se dispõe de informação precisa sobre valores de variáveis meteorológicas, sendo usual a utilização de adjetivos como alta ou fraco para caracterizar tais variáveis. Doorenbos e Pruitt (1977), no seu relatório sobre evapotranspiração, precisam numericamente o significado de tais adjetivos no contexto do seu estudo. No Quadro 6.4 apresenta- se a nomenclatura utilizada por esses autores. O método de Blaney-Criddle para o cálculo da evapotranspiração cultural de referência é definido pela fórmula 8T46,0pbaTE BB0 (6.57) onde ET0 representa a evapotranspiração cultural de referência (mm d -1 ), p, insolação astronómica média diária em percentagem da insolação astronómica anual (percentagem), T, temperatura média diária no mês considerado (C), e aB e bB, os coeficientes de ajustamento dependentes da humidade relativa mínima, da razão de insolação e do vento diurno. O cálculo de p é feito através de 100 36512 H p m0 (6.58) onde os valores de H0m (h) se apresentam no Quadro 6.3 em função da latitude do lugar e do mês. Os coeficientes aB e bB são definidos por Evaporação e Evapotranspiração 6.28 41,1xx0043,0a 21B 54321B x0006,0x0066,0x066,0x07,1x0041,082,0b onde x1 representa a humidade relativa mínima (por cento), x2, a razão de insolação (-), x3, a velocidade diurna do vento a 2 m da superfície (m s -1 ), x x = x 214 , e x x = x 315 . A velocidade diurna do vento refere-se à velocidade média entre as 7 h e as 19 h. Conhecendo-se a relação entre as velocidades diurna e noturna do vento, rv, que pode variar entre 1 e 5, a velocidade diurna, vxd, calcula-se através da seguinte expressão: x v v xd v r1 r2 v onde vx representa a velocidade média diária do vento. De um modo geral, pode considerar-se que a velocidade diurna do vento é igual ao produto da velocidade média diária por 1,33, o que corresponde a considerar que a velocidade diurna é o dobro da velocidade noturna. Os menores valores de bB correspondem a humidades relativas mínimas altas, a razões de insolação baixas e a ventos diurnos fracos e os maiores valores, a humidades relativas mínimas baixas, a razões de insolação altas e a ventos diurnos muito fortes. Assim, para %100x1 0,0x2 1 3 sm0x obtém-se 98,0aB 41,0bB e para %0x1 1x2 1 3 sm10x obtém-se 41,2aB Evaporação e Evapotranspiração 6.29 55,2bB O método da radiação para o cálculo da evapotranspiração de referência é definido pela fórmula RH vw 0 R0 brba l I aTE (6.59) onde ET0 representa a evapotranspiração cultural de referência (mm d -1 ), I0, a radiação solar média diária no topo da atmosfera, (MJ m -2 d -1 ), Quadro 6.2, lwv = 2,45 MJ kg, o calor latente de evaporação, + , o peso da radiação equivalente à energia radiante (-), Figura 6.6, rH, a razão de insolação (-), a e b, os coeficientes de Ångstrom, e aR e bR, os coeficientes de ajustamento dependentes da humidade relativa média e do vento diurno. Os coeficientes aR e bR são definidos por 54 5 321R x0,0011x103,15x0,0002x0,045+x0,00131,06=a 0,3 = bR onde 1x representa a humidade relativa média (por cento), 2x , a velocidade diurna do vento (m s -1 ), 213 xxx , 2 14 xx , e 2 25 xx . Os menores valores de aR correspondem a humidades relativas médias altas e a ventos diurnos fracos, e os maiores valores, a humidades relativas médias baixas e a ventos diurnos muito fortes. Assim, para %100x1 1 2 sm0x obtém-se 62,0aR e para %10x1 1 2 sm10x Evaporação e Evapotranspiração 6.30 obtém-se 37,1aR O método de Penman para o cálculo da evapotranspiração de referência é definido pela fórmula an0 ERcTE (6.60) que, com a excepção do coeficiente c de ajustamento, é formalmente idêntica à equação de Penman para o método combinado (6.43). Contudo, dado que se trata da evapotranspiração de uma superfície de relva e não de uma superfície de água, é necessário considerar em nR o albedo e a emissividade da relva e, em Ea, o comprimento de rugosidade da relva. Assim, será H2420H vw ' n r9,01,0e044,034.0TIrba75,0 l 1 R e 20sw2xa eTev23,027,0E onde as variáveis têm o significado usual do método combinado. O coeficiente c é definido por 7 8 6 5 54321 102,9103,40097,0013,0068,0018,00028,068,0 xxxxxxxc onde 1x representa a humidade relativa máxima (percentagem), 2x , a evaporação equivalente à radiação solar global incidente na relva (mm d -1 ), 3x , a velociade diurna do vento (m s -1 ), 4x , a relação entre as velocidades do vento diurno e noturno (-), 435 xxx , 3216 xxxx , e 4217 xxxx . Os valores extremos de c correspondem a ventos muito fortes e são menores quando a humidade relativa máxima é baixa, a radiação global é pequena e a relação entre as velocidades do vento diurno e noturno é baixa, e são maiores quando a humidade relativa máxima é alta, a radiação global é elevada e a relação entre as velocidades do vento é alta. Assim, para %30x1 1 2 dmm3x Evaporação e Evapotranspiração 6.31 1 3 sm9x 1x4 obtém-se 34,0c e para %90x1 1 2 dmm12x 1 3 sm9x 4x4 obtém-se 36,1c 6.6 EVAPOTRANSPIRAÇÃO CULTURAL A evapotranspiração cultural (sem restrições de água) depende essencialmente do tipo de cultura agrícola, do instante do ano em que se faz a sementeira, do estado de desenvolvimento da cultura, do período de desenvolvimento vegetativo entre a sementeira e a colheita e das condições climáticas. No Quadro 6.5 apresenta-se de modo aproximado o intervalo de valores de evapotranspiração cultural durante o período vegetativo para várias espécies agrícolas. A evapotranspiração cultural varia ao longo do período vegetativo das culturas, sendo usual considerarem-se quatro estádios bem diferenciados em algumas espécies. Assim, por exemplo, para o trigo considera-se um estádio inicial, desde a sementeira até que o terreno apresente uma pequena cobertura (de cerca de 10 por cento) e a evapotranspiração é pequena, um estádio de desenvolvi- mento, até que o terreno apresente uma cobertura completa (de cerca de 70 por cento a 80 por cento), um estádio intermédio, até ao início da maturação e durante o qual a evapotranspiração atinge o valor máximo, e um estádio maduro, até à ceifa. A evapotranspiração cultural, ETc, calcula-se através do produto da evapotranspiração de referência, ET0, pelo respetivo coeficiente cultural, Kc, que varia com o estádio de desenvolvimento da cultura: 0cc ETKTE (6.61) Quadro 6.5 – Evapotranspiração cultural durante o período vegetativo ou durante um ano (adaptado de Doorenbos e Pruitt, 1977) Cultura ETc (mm) Cultura ETc (mm) Evaporação e Evapotranspiração 6.32 Abacate Alfafa ou luzerna Algodão Arroz Árvores caducas Banana Batata Batata-doce Beterraba Cacau Café Cana-de-açúcar Cebola Cereal Feijão 650-1000 600-1500 550-950 500-950 700-1050 700-1700 350-625 400-675 450-850 800-1200 800-1200 1000-1500 350-600 300-450 250-500 Hortícolas Laranja Linho Milho Nogueira Oleaginosas Sisal Soja Sorgo Tabaco Tâmara Tomate Toranja Vinha 250-500 600-950 450-900 400-750 700-1000 300-600 550-800 450-825 300-650 300-500 900-1300 300-600 650-1000 450-900Para a definição dos coeficientes culturais e cálculo de dotações de rega, remete-se o leitor para o Capítulo 13. 6.7 MEDIÇÃO DA EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO A medição da evaporação e da evapotranspiração é usualmente feita localmente, em estações meteorológicas e agrometeorológicas, através do método do balanço hídrico, com utilização de evaporímetros e de evapotranspirómetros. Os evaporímetros mais utilizados são constituídos por tinas ou tanques, dos quais se destacam a tina da classe A do U. S. Weather Bureau, a tina Colorado, o tanque GGI3000 e tinas flutuantes. A tina da classe A (Figura 6.8) tem uma forma cilíndrica, é feita de chapa de aço galvanizado, e assenta numa grade de madeira colocada sobre o solo, em geral arrelvado. A tina deve ser colocada a uma distância não inferior a quatro vezes a altura de qualquer obstáculo vertical que se encontre na sua proximidade. A grade de madeira impede trocas de calor entre a tina e o solo e permite uma fácil deteção de eventuais fugas de água. O diâmetro da tina é 121,9 cm (4 pés) e a altura é 25,4 cm (10 polegadas). A água na tina deve ser mantida de modo a que a sua superfície fique entre 5 e 7 cm do bordo da tina. Na sua vizinhança devem estar instalados um udómetro e um anemómetro. A medição do nível da água no seu interior é em geral feita com utilização de um hidrómetro provido de nónio, para maior rigor na medição, e a temperatura da superfície da água deve ser registada com utilização de um termómetro flutuante. Evaporação e Evapotranspiração 6.33 Figura 6.8 – Tina da classe A do U. S. Weather Bureau As medições efetuadas com as tinas da classe A são diferentes das estimativas da evaporação de um lago de pequena profundidade e grandes dimensões. Efetivamente, o efeito de oásis, a radiação nas paredes laterais da tina e o efeito de bordo condicionam a evaporação da água da tina. A barlavento de um lago de grandes dimensões, o ar está em geral mais seco do que a sotavento, porque à medida que passa sobre a superfície da água vai integrando o vapor e vai ficando cada vez mais saturado. A tina pode ser considerada como sendo um pequeno lago situado a barlavento. Assim, a evaporação da água de uma tina será sempre superior à que nas mesmas condições ocorreria em média, ao longo do percurso do vento, num lago de grandes dimensões. Designa-se este fenómeno por efeito de oásis. De modo diverso do que ocorre num lago, as trocas de energia numa tina da classe A ocorrem não só à superfície mas também nas paredes laterais e no fundo da tina. Nestas diferenças, assume relevância a radiação sobre as paredes laterais, que conduz a um aquecimento adicional da água e favorece a evaporação. Designa-se por efeito de bordo a alteração produzida na circulação do ar pela sobre-elevação que a tina, ou no mínimo o seu bordo, como ocorre em tinas enterradas ou flutuantes, produz na superfície do terreno ou do lago. Esta alteração traduz-se pelo aumento da turbulência do movimento do ar sobre a superfície da água, fenómeno que favorece a evaporação. Designa-se por coeficiente da tina, C, a relação entre a evaporação média que ocorre num lago de grandes dimensões e pequena profundidade, E, e a evaporação medida na tina, Et, ambos nas mesmas condições e num dado intervalo de tempo: tE E C (6.62) Evaporação e Evapotranspiração 6.34 Segundo Lencastre e Franco (1984), o coeficiente mensal da tina da classe A tem um valor médio de 0,7 e uma variação mensal entre 0,6 e 0,8. Para Portugal referem que se utilizam os seguintes coeficientes mensais: outubro e novembro: 0,7; dezembro a março: 0,6; abril e maio: 0,7; junho a setembro: 0,8. Figura 6.9 – Tina Colorado A tina Colorado (Figura 6.9) é do tipo enterrado, é feita de aço galvanizado e tem a forma de um paralelepípedo com 91,4 cm de lado e 46,2 cm de altura. A tina deve instalar-se de modo a que o bordo fique a 10 cm da superfície do solo. O coeficiente anual de uma tina Colorado varia entre 0,80 e 0,95. A tina GGI-3000 é do tipo enterrado, tem uma forma cilíndrico-cónica, e a parte cilíndrica tem uma altura de 60 cm com uma área de 3000 cm 2 na secção transversal. O valor médio do coeficiente anual de uma tina GGI-3000 é 0,80. As tinas flutuantes são utilizadas para medir em condições mais próximas das reais a evaporação em lagos, mas apresentam vários problemas, dos quais se destacam a amarração da tina, os movimentos associados à ondulação da superfície da água no lago e a eventual entrada ou saída de água em momentos de vento e ondulação acentuados. Segundo Quintela (1984), o coeficiente anual de uma tina flutuante aproxima-se da unidade. Nas estações meteorológicas tradicionais, no interior do abrigo meteorológico, onde se guardam os termómetros de máxima e de mínima, o psicrómetro e o barógrafo, é usual encontrar-se também o evaporímetro Piche (Figura 6.10). Essencialmente, o evaporímetro Piche é constituído por um tubo de ensaio dobrado perto da extremidade aberta que se encontra tapada com papel de filtro seguro com uma mola. O diâmetro do tubo situa-se entre 12,4 e 14,8 mm. Segundo Quintela (1984), a relação entre valores médios anuais da evaporação medida num mesmo local, em evaporímetros Piche e em tinas da classe A, varia entre cerca de 0,8 e 1,2. Evaporação e Evapotranspiração 6.35 Figura 6.10 – Evaporímetro Piche Na Figura 6.11 apresenta-se uma imagem da estação meteorológica do Instituto Geofísico Infante D. Luís (IGIDL), com a qual se ilustra um abrigo meteorológico. Entre outros instrumentos, podem ainda ver-se em primeiro plano vários tipos de udómetros e, ao fundo do lado direito, um pouco da instalação da tina da classe A. Figura 6.11 – Abrigo meteorológico da estação meteorológica do IGIDL Evaporação e Evapotranspiração 6.36 Recentemente, com o desenvolvimento das estações meteorológicas automáticas, podem instalar-se a custos suportáveis equipamentos como os da estação agrometeorológica da Herdade do Outeiro (Figura 6.12) com cujos dados se calcula a evapotranspiração cultural de referência (6.52). Figura 6.12 – Estação agrometeorológica da Herdade do Outeiro Embora não visíveis na Figura 6.12, a estação dispõe ainda de sensores de temperatura da relva e do solo a várias profundidades. Figura 6.13 – Evapotranspirómetro ou lisímetro do tipo Thornthwaite-Matter Evaporação e Evapotranspiração 6.37 Para o estudo da evapotranspiração potencial e da evapotranspiração cultural utilizam-se tradicionalmente evapotranspirómetros ou lisímetros, como o que se ilustra na Figura 6.13. Por vezes instalam-se os evapotranspirómetros em bateria (Figura 6.14) de modo a comparar resultados perante alterações que se produzam, por exemplo, no tipo de solo, no tipo de espécie cultural ou na dotação de rega. Figura 6.14 – Bateria de evapotranspirómetros (adaptada de Réméniéras, 1999) Como a evapotranspiração é obtida por aplicação da equação do balanço hídrico, é necessário medir os restantes termos da referida equação, em especial a precipitação, a água armazenada no solo e a água de percolação. Quando se permite a ocorrência de escoamento à superfície do solo, também este deverá ser medido, tanto o que eventualmente entra como o que eventualmente sai do evapotranspirómetro. Caso se pretendam estabelecer relações funcionais com os valores das variáveis meteorológicas que condicionam a evapotranspiração, torna-se ainda necessário medir essas variáveis. Evaporação e Evapotranspiração 6.38 6.8 EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS A distribuição espacial da evapotranspiração que ocorre em bacias hidrográficas em determinados intervalos de tempo é uma das grandezas hidrológicas mais dificilmente mensuráveis. Zonas urbanas, zonas agrícolas, terrenos incultos e superfícies de água, cujos conteúdos de água,declives, exposições solares e albedos são muito variados, constituem as superfícies de onde decorre a evaporação numa bacia hidrográfica e apresentam uma distribuição muito irregular. Mesmo que em alguns pontos da bacia hidrográfica se possa estimar com mais rigor a evapotranspiração, os instrumentos tradicionalmente utilizados na maioria dos locais de medição (tinas, tanques e evaporímetros Piche) apenas permitem estimativas aproximadas com recurso a coeficientes empíricos de ajustamento. Assim, com frequência, estima-se a evapotranspiração real em bacias hidrográficas com recurso ao balanço hídrico, à medição das outras variáveis que nele intervêm e, eventualmente, com utilização de modelos de processos hidrológicos. Apresenta-se na Figura 6.15 a distribuição em Portugal continental da evapotranspiração real anual média. Segundo Quintela (1967), a carta foi obtida a partir da carta da distribuição da precipitação anual média (Figura 4.33), subtraindo à precipitação o escoamento anual médio calculado a partir das relações entre o escoamento e a precipitação, que se descrevem no Capítulo 9, com a designação de relações regionais de Quintela. Estas relações dependem da temperatura média anual da região e do tipo de solo. Evaporação e Evapotranspiração 6.39 Figura 6.15 – Distribuição da evapotranspiração real anual média em Portugal Na Figura 6.16 apresenta-se a distribuição da evapotranspiração real em Moçambique. A carta é adaptada do trabalho de Gonçalves (1974), que a derivou a partir dum modelo de balanço hídrico na camada superficial do solo (método de Thornthwaite-Mather), semelhante ao que se apresenta no Capítulo 11, tendo o autor considerado valores de capacidade de campo variando entre 75 e 150 mm, conforme o tipo de solos predominante em cada região. No mesmo trabalho, foi traçado também o mapa da evapotranspiração potencial (Figura 6.17), calculado pelo método de Thornthwaite. A comparação do mapa da evapotranspiração real com os da evapotranspiração potencial e da precipitação em Moçambique mostra que a evapotranspiração real se aproxima da Evaporação e Evapotranspiração 6.40 evapotranspiração potencial em zonas de precipitação elevada, e fica limitada pela precipitação, quando esta é baixa. Figura 6.16 – Distribuição da evapotranspiração real anual média em Moçambique (adaptada de Gonçalves, 1974) Evaporação e Evapotranspiração 6.41 Figura 6.17 – Distribuição da evapotranspiração potencial anual média em Moçambique (adaptada de Gonçalves, 1974) EXERCÍCIOS 6.1 Sobre uma superfície de água líquida, a covariância entre a componente vertical da velocidade do ar e a humidade específica é 8 10 -5 m s -1 , o ar apresenta uma temperatura Evaporação e Evapotranspiração 6.42 média de 18 ºC, e a pressão atmosférica é 1,1 bar. Calcule o fluxo médio de vapor de água e a evaporação diária que corresponde a tal fluxo. 6.2 Num pátio fechado, onde o ar ocupa um volume de 500 m 3 , à pressão de 1000 mbar e à temperatura de 15 ºC, existe uma fonte da qual se evapora num dia um determinado volume de água. Com a energia utilizada na mudança de estado da água, calcula-se que a temperatura do ar do pátio poderia baixar cerca de 1 ºC. Nessas condições, estime o volume de água da fonte que se evapora. 6.3 Em determinado dia evaporam-se de um lago 3 mm de água. Sabendo que a área superficial do lago é 1 ha, que a sua profundidade média é 1 m, que a temperatura média da água do lago no início desse dia era de 20 ºC, que se pode considerar que a razão de Bowen é 0,5 e que o balanço da energia radiante de todos os comprimentos de onda teve o valor médio de – 142 W m -2 , estime a temperatura média da água do lago no fim desse dia. Considere que não ocorreu precipitação e que não ocorre transporte de energia por adveção em afluentes, por percolação subterrânea ou por condução através do fundo do lago. 6.4 Numa central térmica captam-se de um rio 40 m 3 s -1 de água para condensação do vapor utilizado nas turbinas. A jusante da central, para que na restituição a temperatura seja igual à da captação, instalou-se uma lagoa de arrefecimento. Estime a área superficial da lagoa, sabendo que nas condições mais desfavoráveis a temperatura da água na captação é 21 ºC, à saída da central é 35 ºC, o balanço da radiação de pequeno comprimento de onda é Rs = 280 W m -2 , o balanço da radiação de grande comprimento de onda é Rl = –132 W m -2 , a temperatura do ar é T2 = 20 ºC, a humidade relativa do ar é U2 = 60 por cento, e a velocidade do vento é vx2 = 2,5 m s -1 . Sugestões: - Considere a energia interna da água na lagoa (U) constante e correspondendo a uma distribuição uniforme de temperatura, suposta igual à média das temperaturas da água à entrada e à saída da lagoa. - No cálculo da energia transportada por adveção (Q), considere apenas os caudais de entrada e saída da lagoa, supostos iguais, mas com temperaturas diferentes. - Despreze os fluxos de calor através do material do fundo da lagoa. - No cálculo da água evaporada, utilize a fórmula de Penman para o método aerodinâmico. 6.5 Na secção de montante de um trecho de um rio introduz-se um caudal Q2 de água à temperatura T2 proveniente de uma central térmica. Sabendo que a montante o caudal natural é Q1 à temperatura T1, mostre que a temperatura T3 da água a jusante da zona de mistura é 3 2211 3 Q TQTQ T Q1, T1 Q2, T2 Q3, T3 Evaporação e Evapotranspiração 6.43 Considere que o regime do escoamento é permanente, que o balanço de energia de todos os comprimentos de onda e os fluxos de calor, sensível e latente, são desprezáveis e que não há trocas de calor com o fundo do trecho de rio em estudo. 6.6 O ar que circula a 2 m de uma superfície de água, com uma velocidade média de 2 m s -1 , apresenta uma temperatura de 25 ºC e uma humidade relativa de 40 por cento. Sabendo que o balanço global de energia radiante sobre a superfície é de 360 Ly d -1 e que a pressão atmosférica é de 1000 mbar, estime pelo método combinado de Penman a evaporação diária dessa superfície. 6.7 No Quadro seguinte apresentam-se os valores da temperatura média mensal (T) e da insolação média diária (n) em determinado local à latitude de 40 º N. Mê s Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov De z T (ºC) 5,1 6,0 8,5 10, 6 14, 3 18, 6 21, 7 21, 0 18, 0 13, 6 8,0 5,1 n (h) 3,9 5,2 5,7 7,8 10, 0 11, 6 12, 8 12, 0 7,8 6,2 4,6 3,2 Estime pelos métodos de Thornthwaite e de Turc a evapotranspiração potencial mensal e anual nessa região. Considere que os coeficientes de Ångstrom são =0.23 e =0.53 e despreze o efeito da humidade relativa na fórmula de Turc. 6.8 O balanço de energia radiante e o ar que circula a 2 m de uma superfície de relva com uma altura de 12 cm apresentam as características do problema 6.6. Estime pelo método de Penman-Monteith da FAO a evapotranspiração diária dessa superfície. Evaporação e Evapotranspiração 6.44 BIBLIOGRAFIA Allen, R. G., L. S. Pereira, D. Raes e M. Smith, Crop evapotranspiration – Guidelines for computing crop water requirements – FAO Irrigation and Drainage Paper 56, FAO, 1998. Bras, R. L., Hydrology. An introduction to hydrologic science, Addison-Wesley, 1990. Brutsaert, W., J. A. 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